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Marginal Mente
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A Revista A Revista Marginal Mente fala dos assuntos da periferia, usando na escrita a estilística do dialeto suburbano, logo como já disse o escritor Ferréz: "Quando um pobre não entende uma palavra, não acha dicionário na favela. Eu quero que os boys sintam o mesmo. Se o cara não trinca não vai, ele não vai entende, acabou." . A revista tem sua linguagem própria . Não utiliza da escrita formal burguesa para se expressar, pelo menos não de forma majoritária.
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Marginal Mente entrevista Conflito Cotidiano.
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(Na foto, da esquerda para direita, Mano Fróes, ex integrante Káli e Smile.)
Durante a primeira edição do Cultura de Rua Fest, a Marginal Mente bateu um papo com o grupo de rap Conflito Cotidiano, grupo oriundo do bairro Vera Cruz 2, região Oeste de Goiânia.  Na entrevista com os integrantes, Smile e Mano Fróes, eles contam como o grupo nasceu, suas pretensões artísticas e projetos futuros. FaVera tá na casa, FaVera Hoje, FaVera amanhã, FaVera pra sempre! Confere aí. Tey! 
Entrevista
Marginal Mente – Como nasceu o grupo Conflito Cotidiano? 
Smile – Bom, o grupo nasceu em meados de 2014, na brincadeira inclusive, começamos fazendo um freestyle, eu e a antiga integrante do grupo, a Kalí, aí surgiu uma música, dessa música a gente foi criando outras e outras, e resolvemos formar um grupo. Após nossa primeira apresentação na ocupação do MTST, do Maternidade Abandonada, em Aparecida/GO, conhecemos o Mano Fróes, que também já fazia alguns sons, chegou agregando com a gente, e hoje a gente caminha nós dois nessa. A mana Kalí não faz mais parte da formação, mas as vezes ela faz algumas participações. 
Mano Fróes - A agregação também foi pra gente ter mais autonomia, tenho as aparelhagens pra gente dar um jeito de fazer um beat, pra gente dar um jeito de gravar, escutar e tal, foi massa, eu entrei nos beats e aprendi muito do rap com eles, das rimas, do treinamento, então foi muito bom tanto pra um quanto pra outro, e acabou somando, acabou dando liga, ele foi me mostrando as letras e foi virando. 
“As nossas músicas falam bastante das periferias, da exclusão, da exploração, da violência contra os jovens periféricos negros, contra os jovens periféricos brancos, que também acontece, não na mesma proporção, mas também acontece.”  Smile
Marginal Mente – Quais os assuntos que vocês consideram mais urgentes a se abortar nas letras de vocês?  
Smile – Urgentemente, acho que um dos pontos mais importantes seria a politica. Mas como geralmente é um assunto que quase todo MC fala disso, a gente tenta colocar, encaixar em algumas músicas, as vezes quando vem inspiração. Mas eu também não tenho muito critério pra escrever, geralmente eu começo a escrever de uma palavra, aí vai virando a história, vai criando perna, braço, cabeça e etc. 
Mano Fróes - O bom da soma das pessoas é que, cada um pensa diferenciadamente, a pesar da finalidade ser quase sempre a mesma, passar uma mensagem importante. Eu entrei muito com mensagem do amor, gosto muito da mensagem do amor, do amor ao próximo, ficar tranquilo, ajudar e tal. Só que não pode ser diferente também de você lutar pela política. 
Smile – As nossas músicas falam bastante das periferias, da exclusão, da exploração, da violência contra os jovens periféricos negros, contra os jovens periféricos brancos, que também acontece, não na mesma proporção, mas também acontece. E contra toda autoridade, contra toda opressão que oprime nosso povo, tentando criar todos os dias, por mais que seja difícil, tentando criar uma visão de mudança pra nos mesmo, se não conseguirmos mudar o todo, pelo menos o nosso meio, a nossa volta, a gente tentar mudar e incentivar, tentar gerar autoestima nessas pessoas, para que a gente possa mudar pelo menos o nosso cotidiano, onde acontece geralmente os conflitos.  
Mano Fróes -  E a luta junto com o amor é a essência disso tudo, da mudança.
  “Eu boto fé que muita gente tá se segurando em ideologias, cada um na sua, cada um se segura na parte que te agrada mais, uns Gangsta, uns love.”   Mano Fróes
Marginal Mente – No momento vocês estão trabalhando em algum lançamento? Em algum projeto futuro? 
Smile – No momento estamos trabalhando no clipe da música que lançamos recentemente a "Eu Sou" e a anterior que participou de uma coletânea a "Salve Quebrada", provavelmente vai sair no fim do ano e ser lançando no FaVera. Mas tem trabalho também, o Alex tem o trabalho solo dele, eu tenho o meu, e tem novos trabalhos também vindo do Conflito, agora a gente tem mais um show marcado e depois desse show o foco é produção.  
Mano Fróes -  Como tá rolando mudanças no Conflito, a gente tá correndo atrás de novas músicas, pra cada vez mais a gente estar com um repertório novo. 
Marginal Mente - Vai vir novidades então? 
Smile - Bastante, clipe esse ano vai vir pelo menos uns 3. 
Mano Fróes -  E os Clipes todos feitos pela galera do role, do Vera Cruz, cada um evoluindo e procurando sempre fazer parte. 
Marginal Mente – Onde será esse show? 
Smile - Lá no Vera Cruz, Favela Resiste, dia 02/06, na praça da feira do Conjunto Vera Cruz 2. 
“Cara, ambição mano... Primeiramente, eu, no meu caso, o primeiro passo é conquistar o respeito da quebrada”.  Smile
Marginal Mente – Como vocês veem o momento do rap GO 062? 
Smile – Em ascensão econômica muito grande, e decadência em conteúdo. 
Mano Fróes - Eu boto fé que muita gente tá se segurando em ideologias, cada um na sua, cada um se segura na parte que te agrada mais, uns Gangsta, uns love, tem gente que tira um ao outro, já vi post na internet falando que todo mundo é MC agora. Pô, acho isso foda porque que todo undo não pode seguir seu sonho? MC Champions a gente já viu no YouTube, o cara faz umas rimas muito engraçadas, mas o cara tá vivendo o que ele quer. 
Smile – O problema não é fazer engraçado, o problema é ofender alguém, a partir do momento que você faz o som e não ofende ninguém, de forma alguma, tudo bem, tá a batida, sua poesia poder ser engraçada, pode ser melódica, pode ser romântica e tudo. Na minha opinião não atingindo o próximo já é o primeiro passo. E ultimamente eu ouço falar bastante que rap de mensagem é chato, ficou nos anos 80, nos anos 90, mas o rap que passava aquela mensagem, que levava autoestima e levava uma visão pro moleque de periferia foi que ergueu o rap nacional, mano, se o rap de mensagem é chato, é regressão, tamo regredindo com muito orgulho, com muito amor no peito. 
Mano Fróes - Vejo muita Diss, o povo fala Diss né, Discursão, e parece que a importância deles, o foco deles, é ficar olhando rap dos outros, ficar criticando e botar isso em música, que importância isso tem?  
Smile – Tem Diss que tem o contexto, e tem uma ferida pra tocar, pra enfiar o dedo, mas algumas... Nem só Diss, mas as aleatórias mesmo que não fala de nada e sempre acaba tirando a mina, desvalorizando a mina da quebrada e etc. 
“Acho que esse é motivo principal do nosso som, do meu som, é dar uma ideia positiva e tentar ajudar o próximo, levar o amor e tal.”  Mano Fróes
Marginal Mente – Onde vocês almejam chegar com o trabalho de vocês? Quais as ambições artísticas de vocês? 
Smile – Cara, ambição mano... Primeiramente, eu, no meu caso, o primeiro passo é conquistar o respeito da quebrada, do lugar que você vive, conseguir afetar aquelas pessoas, porque você afetando seu meio, você abre um campo muito mais amplo, porque se você não faz a mudança no lugar onde você vive, você vai fazer onde? O que o seu rap vai ser? Vai ser mais um hit tipo Anitta? Ou vai ser um som que vai levar mais conteúdo, novas experiencias de vida? Vai levar um caminho novo a seguir pra molecada? Pros menor da quebrada, saca? O primeiro patamar, o primeiro sonho é esse, depois o que vier é lucro. 
Mano Fróes - Realmente a verdade é essa, mandar uma mensagem, uma mensagem nossa, que afete a todos também, pensar em todos e mandar uma mensagem positiva, acho que esse é motivo principal do nosso som, do meu som, é dar uma ideia positiva e tentar ajudar o próximo, levar o amor e tal, esse é o principal motivo, se chegar além... 
Smile - Até o bordão é Conflito Cotidiano levando autoestima através das rimas. O nosso foco é levar autoestima para que as pessoas não deixem de lutar, por mais que a vida seja complicada, seja difícil, a gente é explorada todos os dias, a intenção é injetar ânimo e auto estima nessas pessoas para continuar de cabeça erguida durante suas vidas, suas trajetórias. 
MM – Quais são suas referências?  
Smile – Praticamente minha maior referência no rap é o Eduardo, sem dúvidas. Mas rap goiano, vou falar um pouco do rap goiano, pra não ficar fugindo daqui, em Goiânia tem muita gente boa, A Máfia, Raquel Reis, Relatos da Leste, Skina 21, A Tropa, Rajada de Raciocínio, e por aí vai, minhas influencias daqui, no demais Eduardo sempre foi referencia, RZO sempre foi referência, Racionais sempre foi referência. Tem uns e outros que a gente gosta, do atual momento, mas eu prefiro falar dos manos daqui. 
Mano Fróes - Eu não tenho muitas influencia, eu sou muito eclético, desde o início, eu comecei fazendo rock, o Smigou também, depois o Reague. Então a influência mesmo é muito geral, a palavra de cada estilo me influencia. 
MM – Mada um salve pra favela. 
Smile – Um salve pra pra favela, pricipalmente pra FaVera Cruz, Vera Cruz 2, é nóis, salve favela, aqui tamu em casa, representando nossa quebrada, pode crê!? 
Mano Fróes - Um salve aí pra quem sempre apoiou, que deu palavras de apoio, deu forças pra continuar nesse rolê, e é isso que dá forças pra gente, é a união, é por aí, é sempre um abraçar o outro, a união é a força mesmo. 
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Cultura de Rua Fest
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No último sábado, dia 19, aconteceu no Cepal, no Setor Sul de Goiânia, o evento Cultura de Rua Fest. O evento que teve sua primeira edição, reuniu atrações do punk rock e do rap goiano, foram elas: RPR, Wu Thang Thug, Skina 21, Coflito Cotidiano, Gerações Perdidas, Desastre, WxCxM e Baba de Sheeva. O evento foi totalmente gratuito. A Marginal Mente colou na grade e trouxe pra vocês uma entrevista com os produtores do evento Gil Célio, do Coletivo Ocupem as Ruas, e o Smile, produtor do evento e integrante do Vozes do Guetos. Confiram a entrevista logo abaixo. 
ENTREVISTA
Marginal Mente – Como surgiu o coletivo "Ocupem as Ruas"? 
Gil Célio - O Coletivo "Ocupem as Ruas" surgiu no final de 2015, mano, da iniciativa de fazer um rolê, tipo, rolou um rolê, deu certo, foi no grande hotel, no Centro, na 3 com a Goiás. Deu certo o primeiro e rolou umas facilidades para conseguir novas datas pra fazer rolês lá, tanto que acabou rolando 15 edições seguidas lá no grande hotel, todo mês, parou de rolar no grande hotel direto depois que mudou a prefeitura, a secretária de cultura. Eles só abriam o espaço pra gente, mas o som, todo o corre era nosso, eles só permitiam que a gente estivesse ali. É um role totalmente independente, com essa ideia de fazer role de graça, na rua, aberto pra todo mundo, independente de classe, de gênero, tribo, independentemente de qualquer coisa, idade, tudo sabe. 
Marginal Mente -  E como surgiu a ideia de fazer o Cultura de Rua Fest? 
Gil Célio - O Cultura de Rua Fest, o Smigol, a gente fez um rolê, a gente fez um ensaio aqui no Cepal, não deu nada, aí a gente pensou "Véi, aqui tem possibilidade de rolar coisa maior e mais massa, saca?". Aí eu e o Smigol trocou ideia inbox, no Face Book, aí o Smigol deu a ideia "Pô vamos fazer uma coisa maior, eu consigo autorização, conheço uma pessoa que ajuda a gente". Aí  a gente já teve a ideia juntar bandas de rock com grupos de rap, fazer o role de graça aqui pra galera, e fazer uma parceria entre dois coletivos, o Vozes do Gueto que já realiza uma pá de eventos massa lá no Vera Cruz, nas periferias, e nos do Ocupem as ruas que tá sempre no corre de fazer os role de graça em qualquer espaço público da cidade. 
“Basicamente, é tipo isso mesmo, é por amor, não dá pra esperar recompensa num bagulho que você não vai cobrar nada.” Smile
MM - Vocês tiveram o apoio de alguma instituição para realizar esse evento?  
Smile (Smigol) - A gente teve da secretária municipal de cultura, da prefeitura de Goiânia, do JCONEN que ajudou a gente com as liberações, com os alvarás, a gente agradece muito a Lucia, a Lucia Rodrigues que sempre faz esse corre visando fortalecer os movimentos culturais periféricos, ela sempre está ajudando um ou outro nas quebradas, fazendo a cultura acontecer nas quebradas. E é claro a Marginal Mente haha! 
Marginal Mente -  Haha Tamu Junto! 
Marginal Mente – Como é ser produtor cultural em Goiânia, sobretudo ser produtor cultural que direciona seu trabalho para as periferias? 
Gil Célio - Cara, você tem que fazer por gostar, mano, e nunca esperar nada em troca, nada de volta. Você dedica sua energia, você tira grana do bolso as vezes, você tem que gostar, curti ver a galera feliz ali trocando ideia, porque você não vai ter retorno, saca? Não dá pra viver disso, não dá pra você ganhar nada com isso, de grana. Dá pra você satisfazer todo aquele stress do meio de semana, da rotina de trabalho, chega no fim de semana você encontrar seus amigos, tomar uma, fumar um baseado, curti um som que você acha massa, isso aí que é a recompensa, tá ligado? 
Smile (Smigol) - Basicamente, é tipo isso mesmo, é por amor, não dá pra esperar recompensa num bagulho que você não vai cobrar nada. Aqui o preço é ver o sorriso da galera que vem pra curti, a galera que interage, a galera que chega no mike, no microfone aberto e solta uma poesia, é conhecer pessoas diferentes, pessoas novas, colocando essa pessoas pra interagir nesse meio, mostrando pra pessoa, tipo, "você pode", todo mundo pode, não é preciso de muito, é preciso só força de vontade pra fazer acontecer. 
Gil Célio – A gente depende apenas de nós mesmo, por mais que role apoio de alvará, da prefeitura, aqui é um espaço público, saca? Na real a gente tem direito a isso aqui independente de alvará, de documentação qualquer, esse alvará serve pra polícia não chegar aqui e bater na gente mano, prender o som e levar todo mundo preso. Esse alvará é pra isso, porque na real é a gente que paga o som, a gente que faz o corre das bandas, a gente que conversa entre si, a gente que faz tudo, fica o apoio que a gente consegue, que é um papel. 
Smile - E mesmo com esse papel, já aconteceu em edições do Vozes do Gueto, na 4º, não tenho certeza, mesmo com o papel eles queriam forçar o termino do evento, alegando que o som estava alto, e era 6 horas da tarde, sem nexo, só porque era um evento voltado ao público jovem, negro e periférico, na periferia, isso é tudo que eles não querem, o pobre consciente sabendo dos seus direitos e contestando as autoridades e os donos do poder. 
“A gente depende apenas de nós mesmo, por mais que role apoio de alvará, da prefeitura, aqui é um espaço público, saca? Na real a gente tem direito a isso aqui independente de alvará.” Gil Célio
MM – Como vocês veem o atual momento da cultura em Goiânia, e as formas com que os editais estão sendo distribuídos? Está mais acessível para a galera periférica pegar o dinheiro pra fazer seus eventos ou não? 
Gil Célio - Cara, pra mim esse bagulho de edital, de incentivo à cultura, é bom que exista, mas pra mim assim é um lance que eu ignoro. Véi, não vou paga pau pra ninguém, eu não quero ter uma vida burocrática, pra receber algo em troca. Pegar uma grana pra fazer uma coisa só sendo que eu poderia fazer com essa grana muitas coisas o ano todo. Sei lá, é nóis por nóis mesmo, a gente é capaz de fazer tudo que a gente precisa que aconteça nas nossas vidas. 
Smile – Totalmente concordo com a visão do mano Gil Célio, mas tem um ponto negativo nessa história, porque se eu não quiser usar, alguém vai usar de uma forma ou outra. E aqui em Goiânia em questão de cultura, ela tá na mão de quem? Ela vai pra mão dos cantores sertanejos, vai para as mãos dos eventos que organizam isso. 
Gil Célio - Vai pros grandes e grandes festivais, tipo, já direcionado, tem uma galera que sempre ganha, esses festivais tipo Bananada, Goiânia Noise, Vaca Amarela, entre outros grandes festivais aí, essa galera sempre ganha, além de vários patrocínios que ajudam eles a fazer esses festivais, o povo paga com imposto e ainda paga caro pra entrar no evento. Pra mim evento público, evento de graça é isso aqui, aberto pra todo mundo, só chegar e fazer acontecer. E a gente custa ter uma autorização pra estar aqui. 
 “E que nunca morra a cultura do "Do it Yourself", Faça Você Mesmo, porque só assim que a cultura periférica, marginal, como é o punk e o rap vai ter visão, se não for assim é muito difícil.” Smile
Smile – O mais foda é usar grana publica pra ganhar mais grana. Eu penso de uma forma, de qualquer forma as nossas cotas que viriam desses projetos não seriam as mesmas, porque resumindo, a cultura em Goiânia é Sertanejo, Sertanejo e nada mais, o que acontece é apenas um grão de areia em volta de tudo isso, em questão de verba, eventos e etc. Mas a gente tem sim que criar meios de pegar esses recursos pra não ficar justamente monopolizado nas mãos de alguns, porque também é dinheiro da gente, eu penso dessa forma, que é dinheiro nosso pra eventos que nem vamos escutar. 
Gil Célio - Na real, não é nada isso que a prefeitura tá fazendo pela gente, é um espaço público e simplesmente a gente deveria chegar e fazer acontecer. 
Smile - E que nunca morra a cultura do "Do it Yourself", Faça Você Mesmo, porque só assim que a cultura periférica, marginal, como é o punk e o rap vai ter visão, se não for assim é muito difícil se não for um artista ou outro que já esteja apadrinhado, que tenha um posto musical considerado, a abertura pra quem tá começando seus projetos musicais é muito difícil. Se não fossem projetos de rua, projetos que a galera organiza entre eles mesmo, pra mostrar seus amigos que tem banda, seus amigos que fazem um som no rap, isso nunca vai acontecer, se for depender de projetos, isso nunca vai acontecer, a não ser o faça você mesmo. 
MM - Já emendando nisso, qual a ideia que vocês mandam pra aquele molequin que tá querendo fazer uns rolê em sua quebrada? Dá algumas orientações de como realizar alguns eventos culturais. 
Gil Célio - Pra mim, é acredite em você e faça você mesmo. Coliga com seus amigos que você bota fé, que tem ideias comparadas com as suas, bota quente, começa a fazer acontecer. Se quiser fazer um som começa a aprender a tocar alguma coisa, se tiver uma ideia passa a escrever, se quiser produzir alguma coisa, se tiver alguma caixinha conversa com um brother. Tem um lance de grana, mas hoje a gente comprou cerveja pra vender e passa a caixa de contribuição voluntária pra pagar o aluguel do som, e é assim que vai, é autossustentável, o negócio é andar com suas próprias pernas, não espere nada de ninguém, porque ninguém vai fazer nada por você. 
Smile – No Vozes do Gueto, a gente deixou aberto pra quem quisesse contribuir, ajudar de alguma forma, pra realmente estar interagindo com aquilo, saber como acontece, pra ver que não tem nada demais envolvido naquilo, que é só a força de vontade de querer fazer mesmo. Acho muito importante abrir espaço pra mais pessoas participarem, vê como funciona, ter os contatos da galera que fortalece o role em questões de som estrutura e etc, pra fazer isso proliferar, para que possa virar uma coisa itinerante em todas as quebradas em todos os lugares da cidade. A PRAGA, role de rua A PRAGA! 
MM - Haverá outras edições do Cultura de Rua Fest? 
Smile - Bom, mano, como o bagulho foi feito bem em cima mesmo, igual te falo, o bagulho é super espontâneo, bora fazer bora fazer, essa foi a primeira, eu super quero fazer outras principalmente aqui. Mais organizado, daqui uns dois meses, três meses. 
Gil Célio - Tipo, foi a primeira né!? Essa daqui nasceu de um ensaio que a gente fez aqui, foi de boa, ninguém reclamou, foi espontâneo mesmo, de parceria, de amizade, eu e o Smigol a gente é parceiro desde a época das punkeirage do Smigol, o bicho é brother fodido, eu gosto desse cara pra caralho, aí quando o bicho chegou dando ideia eu já botei fé na hora. Mano, se isso der certo, se pintar as autorizações da mesma forma que pintou hoje aí, a gente faz mano. 
MM – Manda um Salve pra favela. 
Gil Célio - Um Salve pra todos, esse role aqui é pra geral colar mesmo, do hard core, do punk, do metal, a galera do rap a galera do funk, homossexual, negro, branco, pobre rico, é todo mundo mano, o role é todo mundo junto, é fazer acontecer, sem interesse de status, sem interesse de grana, é real, é verdadeiro. 
Smile -  E respeito acima de tudo, ele falou tudo que eu queria falar, é isso aí, é um role aberto, pra todas as classes, pra todos os gêneros, pra quem quiser chegar, chegando com respeito e respeitando o próximo é o que interessa. Aí bate cabeça, toma sua pinga, fuma seu back e é isso memo.  
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Dá o papo Skina 21
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Salve malandragem. Hoje quem colou na grade foi o mestre de cerimonia Skina 21. Cria do Vera Cruz 2, região oeste de Goiânia, hoje ele reside na tão cantada CL Aparecida. Na entrevista logo abaixo o rapper nos contou um pouco da sua origem e trajetória, seus planos futuros e seus sonhos. E pra essa entrevista não passar silencioso, no final terá uma música, aquela pedradinha de leve, tá ligado!? Confere a entrevista aí, porque tá pesada fiel.
ENTREVISTA
Marginal Mente - Porque o nome Skina 21?
Skina 21 - Skina 21 vem de uma esquina onde eu morei, ali na zona oeste Vera Cruz 2, onde os amigos se reuniam pra tocar violão e conversar.
Marginal Mente - Quem é o Fabricio?
Skina 21 -  O Fabrício é um jovem que com 11 anos ganhou as ruas de Goiânia, com sua caixa de engraxar eu ia pro calçadão ver os manos dançar break, isso foi em meados de 91. Eu já era do hip hop e não sabia.
Marginal Mente - A quanto tempo você trampa com rap?
Skina 21 - Eu trampo com rap, hip hop a 15 anos, antes com o nome “Segundo Ato” que era Dj Zup, Jeff Preto e FB neguinho. Hoje eu sou solo e adotei o nome Skina21, me incorporei a rua onde eu morava no conjunto Vera Cruz 2.
“Me motiva a escrever rap, a vida que já tive no passado, e o que eu vivo hoje no presente.”
Marginal Mente - Você vive somente de música?
Skina 21 - Vivo de música hoje.
Marginal Mente - O que o rap é pra você???
Skina 21 - Eu venho do hip hop, e o rap foi a mudança de tudo no brasil em 1982, antes escutávamos funk antigo, o rap de hoje pra mim, representa mudança, identidade e cultura.
MM - O que te motiva a fazer rap?
Skina 21 - Boa pergunta. Me motiva a escrever rap, a vida que já tive no passado, e o que eu vivo hoje no presente. Ver esta revolução no brasil nos dias atuais. Sobre política, sobre sistema isso que me motiva a escrever o rap.
MM - Você é militante em movimentos sociais?
Skina 21 – Sim, sou militante ativista do hip hop, faço parte da CONEN - .Coordenação Nacional Entidade Negras e sou filiado ao partido dos trabalhadores, PT.
“Eu quero chegar no coração de cada mano, de cada mina, com minhas mensagens positivas, este é meu foco.”
Marginal Mente - No momento você está trabalhando em algum lançamento?
Skina 21 - estou trabalhando no meu novo EP, “Vestir Minha Camisa” já com um tempo de gravações em estúdio. Estou com o lançamento “A Vida e Bela, parte 2” que estou abordando mensagem de motivações pros jovens, pros adultos. Tá vindo bem recheado de mensagens.
MM - Como está a cena do Rap062?
Skina 21 - a cena 062 tá a mil como nunca teve igual, vários lançamentos saindo aí.
MM - Como está o rap nacional?
Skina 21 - O rap nacional está com muitas reviravoltas né, de grupos que estão parando e outros que estão ainda no movimento, pra mim está meio complexo, mas tá bonito.
MM - Como é ser um homem negro no Brasil?
Skina 21 - Essa pergunta... ser negro no brasil é muito difícil, tem muitos preconceitos por cor, por escolhas. Nóiz pretos, sofremos em todas as vezes, sofremos até no nosso social, por ser negro. O racismo é pra gente idiota, sem conhecimento algum.
MM - Onde você almeja chegar com seu trabalho?
Skina 21 - Eu quero chegar no coração de cada mano, de cada mina, com minhas mensagens positivas, este é meu foco.
MM - Manda um salve pra favela, passa a visão aí.
Skina 21 - quero mandar um slv aqui, pra todos e todas do hip hop, e quem não é também. Quero desejar que conheçam o movimento hip-hop, quero desejar pros manos, pras minas que nunca desistam dos seus sonhos, por mais alto que seja. Quero agradecer aos pretos, as pretas, as casas, os movimentos sociais, as casas de santos, minha família, aos amig@s e é isso, vamos caminhar pra luta. Fim...
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Marginal Mente entrevista Caseiro
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(Na foto acima, Dam á esquerda, VH á direita)
Hoje, quem tá na casa é grupo Caseiro, grupo de rap goiano, nascido em 2014, composto pelos integrantes Dam (Daniel) e VH (Vitor Hugo Lemes). O grupo que integra o coletivo WU-KAZULO, traz em suas músicas um eu lírico em constante conflito com sigo mesmo e com os modos de existir ou de sub existir na nossa contemporaneidade. Isso acompanhado de inúmeras referencias, técnicas poéticas, jogos de palavras, colagens bem selecionadas e vídeos de animação psicodélicas ilustrando suas músicas. Sem tem uma coisa que pode ser afirmado com toda certeza, é que o trabalho do Caseiro não é obvio, não é previsível. É simples sem ser simplório, é artesanal com alto grau de sofisticação. Bom, as demais conclusões você mesmo, parça leitor, pode tirar após conferir a entrevista logo abaixo, acompanhada de 4 sons do Caseiro, e 1 um vídeo clipe do mais recente trabalho solo de VH, o EP intitulado “Pele Negra Mascaras Brancas”. Pega a visão aí!
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ENTREVISTA
Marginal Mente - Porque o nome “Caseiro”?
Dam - Porque é um nome que reflete o início de todo MC, ou grupo de rap underground. Quem começa debaixo geralmente inicia fazendo tudo em casa. Home Studio, mixando no pc com as caixinhas do computador. Resolvi fazer disso a identidade pra levar essa característica junto, além de ser um nome fácil.
Marginal Mente - Como vocês definem o som de vocês?
Dam - Eu defino como a fórmula certa. Temos jeitos diferentes de escrever, porém temos as mesmas inspirações e base no rap. WU-TANG, Síntese, Atentado Napalm, referências e jogos de palavras. Embora tenhamos aprendizados diferentes, a gente consegue se encaixar com nossas diferenças.
VH - Então, como o Dam já salientou e a gente acaba ouvindo bastante por aí a ideia de que é um som muito underground, que até lembra Quinto Andar e tal... E é, em alguma medida, muito autêntico também. Começamos juntos no rap, ouvindo as mesmas coisas e muito embora temos formações diferentes, existe muito em comum, por exemplo o amor pela música e vontade de realizar, de dizer.
“Eu procuro falar sobre o interno em razão do externo. Como o mundo nos afeta”
Marginal Mente - Vocês vivem somente da música? É possível viver de Rap em Goiânia?
Dam - Não. Goiânia ainda é um ovo até pra música em si, quem dirá o rap. Eu sou estagiário.
VH - Ainda não, quem sabe um dia... Temos trabalhado pra que o trampo se torne cada vez mais profissional e alcance mais pessoas. O Daniel, por exemplo tem a marca do Wu-Kazulo, tem o projeto de um programa de rádio de rap em Goiânia, eu tenho meus trampos com poesia e literatura, o Valderundestein, o pretopoetapreto e algumas coisa pra publicar. Entretanto, ainda é muito difícil viver de arte em Goiânia, principalmente se você vem de um lugar que claramente destoa (com perdão da ironia) da grande maioria de espaços elitizados na cena cultural da city.
“Eu aspiro tocar as pessoas, falar com elas, entende? Da mesma forma que sendo preto, filho de mãe solteira, pobre, quando você ouvia Racionais, por exemplo, na infância, você se identificava”
Marginal Mente - Nas letras de vocês o que é mais urgente a se falar?
Dam - Eu procuro falar sobre o interno em razão do externo. Como o mundo nos afeta. Jogo de palavras, metáforas são apenas formas de expressar. Desde retratar o cotidiano do jovem pobre/preto até falar de escolhas, depressões, amor e afins. Não tem limites pra poesia.
VH - Meu processo criativo, talvez até inconscientemente, acaba por mobilizar muitas referências. Então eu falo de coisas que me tocam, que me afetam de algum modo. Gosto muito de literatura, música, cinema, da mesma forma que a filosofia tá muito presente na minha vida, então isso acaba refletindo nas composições, porque acredito que a arte e a cultura são também formas de emancipação dos indivíduos. Só que embora isso apareça bastante, é importante ter em mente a história do rap, como música negra, como música de protesto, como instrumento de subversão. Ou seja, existem demandas importantes a serem abordadas, urgentes, como você bem colocou. Então a opressão que emerge das mais variadas formas, pela polícia, pelo Estado, pela burocracia, pelo racismo, pela economia, pela tradição, o machismo institucional,  a violência arquitetada e etc. é sempre pauta. As questões raciais tem me mobilizado cada vez mais também. Por fim, acredito que a principal questão remete à responsabilidade do MC com a cultura, o peso que tem um mic como possibilidade de que venham à tona os discursos historicamente silenciados.  
Marginal Mente - Onde vocês almejam chegar com o trabalho de vocês?
Dam - Eu particularmente quero entrar na cena atingindo outros públicos, diferente dos que já estão na cena do rap. Como fazer isso? Não sei, mas sei lá. Não tem limites pra música, queremos chegar em todo lugar.
VH - Eu aspiro tocar as pessoas, falar com elas, entende? Da mesma forma que sendo preto, filho de mãe solteira, pobre, quando você ouvia Racionais, por exemplo, na infância, você se identificava em alguma medida por encontrar um discurso que falava quase que diretamente com você, e você acabava por se sentir representado, em alguma medida. É um pouco isso, logicamente em menor escala, mas a inspiração é essa.
“Eu particularmente acho que a cena está se dividindo em vertentes singulares. Alguns eu acho que estão regredindo, outros estão indo no caminho certo.”
Marginal Mente - Quais as vantagens de integrar um coletivo como o WU-KAZULO?
Dam - Facilidade no trabalho. A gente grava muito no estúdio WKZL.
VH - Sem contar que temos a oportunidade de aprender muito com uns monstros da cena.
Marginal Mente - Qual a visão de vocês sobre o momento do Rap Nacional?
DAM - Eu particularmente acho que a cena está se dividindo em vertentes singulares. Alguns eu acho que estão regredindo, outros estão indo no caminho certo. É bom para nós pois sabemos o ritmo do jogo, e podemos fazer nossa própria vertente.
VH - Evidentemente é um momento de expansão. Muita coisa vem sendo produzida em larga escala, e fica até difícil acompanhar a cena totalmente. Ao mesmo tempo que o rap tem alcançado outros espaços, o que em alguma medida é importante, existe a preocupação com o modo com que esses discursos aparecem. E sem dúvida tem muita gente produzindo muita coisa foda por aí, seja no bom e velho underground, seja no mainstream. Acho que o lance é perceber os benefícios dessa expansão e saber pesquisar
Marginal Mente - Qual a visão de vocês sobre o momento do Rap Goiano?
DAM - Ainda é muito novo, então creio que é o momento certo para chegarmos e mostrarmos do que somos capazes. Vamos conquistar nosso espaço gradativamente e no tempo certo.  
VH - Talvez refletindo um pouco o cenário nacional e internacional, a cena em Goiânia também tem se expandido. Muito gente produzindo, fazendo em prol do movimento e sem dúvida muita gente boa, dividida em vários seguimentos e vertentes. Porém, há ainda muita coisa a ser discutida, revista e problematizada, os espaços por exemplo. Talvez nos falte por vezes uma certa maturidade pra algumas coisas, mas as várias propostas de disseminação do movimento devem ser enaltecidas.
Marginal Mente - Vocês estão trabalhando em algum lançamento?
Dan - Estamos com o EP Caseiro no projeto aí, vai ser moldado do 0. A mixtape do VH foi o pontapé inicial. Vamos chegar com tudo nessa cidade.
VH - Como o Dam falou, tamo lançando progressivamente no canal do Caseiro no youtube a mixtape "Pele Negra, Máscaras Brancas" que é inspirada no livro homônino do filósofo negro e argelino Frantz Fanon, e é também meu primeiro trabalho autoral como MC. É um trampo que se propõe a discutir não só o racismo, a descolonização do pensamento, a resistência e a marginalidade em seus mais variados âmbitos, mas circundar também a temática da amplidão não só da música, como da arte e da expressão negra, de modo geral. Existe essa preocupação com fazer um trampo que se proponha autêntico, saca? Desde a criação da arte da capa e dos  instrumentais até o cuidado com cada colagem... E principalmente, existe uma preocupação com o que tá sendo dito. Esse é um pouco do conceito da mix, daí  cada faixa acompanha uma ilustração do Bergkamp Magalhães - que  assina também a arte da capa, e um pequeno release. Inclusive saiu ontem o primeiro clipe, Marginal Latina, produzido pela A Casa de Vidro e filmado pelos brothers Eduardo Carli e Ramon Ataíde. Essa é a quarta faixa e essa semana saí um som com o A Jay Ajhota, também no canal. A maioria das produções é assinada pelo Saggaz, do Wu-Kazulo, que tá por conta também da mix e da master e tem também produção do Adriel Vinícius, que chega pesado numa track e o clipe deve sair logo mais. Gravamos algumas faixas no estúdio da NEO, mas a maioria foi no estúdio do Wu-Kazulo. Daí tem som com a Luz Negra, com o Dam, com o Coiote K'ment, Dough Bee, Saggaz e mais algumas novidades. Estamos trabalhando em alguns clipes e logo mais já tá disponível a mixtape na integra.
Marginal Mente - Manda um salve pra favela, dá a o papo aí?
DAM - Queria deixar um salve pro WU-KAZULO, toda região noroeste, e geral que acompanha nosso trabalho. Chegamos pra somar na cena e vamos mostrar muito rap do bom ainda. Caseiro tá em casa
VH - Por fim mano, salve favela! Um salve pras margens, pra todos aqueles que são marginalizados e oprimidos na condição de qualquer minoria que seja, dentro de uma estrutura hegemônica e elitista que se propõe universal mas nunca se ligou aos nossos universos. Resistamos! Viemos pra tomar de assalto cada vez mais, ocupar os espaços que são nossos por direito e sermos ouvidos! "É tudo nosso, nada deles!"
SONS
1 - DIAS PASSADOS
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2 - CATACLISMO
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3 - CONTO DE ONDE AS ÁGUAS CORREM NO TETO
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4 - SUAVE É A NOITE
"Suave é a Noite" é a terceira faixa da mixtape "Pele Negra, Máscaras Brancas" e foi uma das primeiras faixas gravadas pelo Caseiro.  chega agora com uma nova roupagem, com  prod. do Saggaz Beats e vídeo e ilustrações produzidas por Berkamp Magalhães.  
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5 - VH - "Marginal Latina" Feat. Bergkamp, Video-clipe de Eduardo Carli e Ramon Ataide.  ( Quarta faixa da mixtape "Pele Negra, Máscaras Brancas", do VH )
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Marginal Art’s entrevista Joice Santos
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Marginal Mente: Quantos anos você tem?
Joice Santos: 28, virando pros 29 em menos de um mês
Marginal Mente: Conte-nos quem é Joice Santos?
“Se “ser” é o que é imutável, eu sou mineira, sou filha das águas, minhas afetividades não são normativas, o meu corpo é político, a minha estética é manifesto, eu sou mulher negra, sou prolixa e ainda desesperada por tirar meus pés do chão.”
Joice Santos: Eu sofro com essa pergunta desde o ensino médio, acho! Filosofia, no colégio em que estudei nessa época, era matéria extra, opcional, sem nota e fora do horário regular das aulas... em resumo, eram encontros semanais em roda com um estudante de períodos medianos de Filosofia que deu de enfiar na cabeça de uns 10 adolescentes do segundo ano teorias sobre “ser” e “estar”. A gente só precisava cumprir créditos adicionais – eu estudava em um colégio federal, era aquela fase embrionária das faculdades interdisciplinares e dessa coisa toda do próprio estudante montar sua grade de matérias, acho que eles só estavam testando – e existiam opções desde esportes à aprofundamentos matemáticos, mas estava eu lá na Filosofia, fundindo meu cérebro pra sempre com a lógica de que o ser é mutável e o que é mutável não é, apenas está!
Eu já fui muita coisa. Acho que queria ser aeromoça quando pequena... pra tirar os pés do chão, viajar, conhecer muitos lugares e não ter amarras. Fui o estereótipo da Regina George por boa parte da adolescência e isso rendia associações extremamente risíveis, mas que podem ser problematizadas por toda uma vida. Fui produto de uma cultura estética esmagadora que alisa o cabelo de crianças negras a partir dos 4, 5, 6 anos e não para nunca mais. Cumpri o checklist completo da adolescente rebelde, problemática e desviante e, ao mesmo tempo, fugi da norma e das estatísticas pra uma garota negra periférica e de família desestruturada.
Mãe professora, pai operário, separados oficialmente – e se odiando – desde os meus 12 anos, que é quando eu saí do interior do Rio e fui morar em Juiz de Fora (MG), que é minha terra de verdade. Foi em Juiz de Fora que eu me criei, literalmente, aprendi e entendi o conceito de família, amor, respeito, amizade, consideração, identidade, individualidade e coletividade e apreendi tudo isso muito mais nos amigos que fiz nas ruas do que dentro de casa. Em Juiz de Fora eu caí sem paraquedas no universo da moda e descobri o quanto as imagens tem poder. Fiz tecnólogo, uma especialização, deu aulas de história da moda, desenvolvi coleções para confecções, fui vitrinista, assistente de produção em desfiles, tive uma marca de roupas. E tudo porque fiz um pedido de bolsa errado no Prouni... eu queria mesmo era Psicologia, mas me confundi naquela coisa toda de renda familiar e não deu. A faculdade de moda era particular, a mensalidade não era tão alta assim por ser o 1º curso superior desse tipo na cidade e o meu desespero de fazer uma faculdade era enorme, então fui ficando. A universidade federal veio depois, quando eu já estava engatando o estágio no 1º emprego oficial e a ficha do que eu estava fazendo em um curso de Artes demorou pra cair. Eu só vivia correndo entre cumprir o mínimo de créditos pra não perder a matrícula e chegar no horário no trabalho. Até que ficou demais e eu parei. Liguei pro meu pai, pedi ajuda, disse que precisava terminar aquilo de algum jeito. Fiquei 1 ano e meio só estudando e vivendo finalmente a faculdade. E foi quando eu me voltei pra ilustração. Antes era só... “ilustração de moda”: garotas altas, muito magras, brancas, de preferência. Estar em uma universidade federal, viver isso – o campus, as pessoas, as militâncias – fez com que eu me percebesse em essência e tangenciasse questões que nunca me haviam saltado aos olhos com tanta potência. Os corpos desviantes, as estéticas, a negritude, as definições do feminino, a normatividade. Tudo isso é fundamento no que escoa em mim em forma de ilustração.  
Se “ser” é o que é imutável, eu sou mineira, sou filha das águas, minhas afetividades não são normativas, o meu corpo é político, a minha estética é manifesto, eu sou mulher negra, sou prolixa e ainda desesperada por tirar meus pés do chão.
 Marginal Mente: Você é artista visual a quanto tempo?
Joice Santos: Eu comecei a expor minhas produções a cerca de 1 ano.
Antes eram colaborações em produções de amigos e pilhas de projetos engavetados! Eu não achava que era bom, que era suficiente.
 Marginal Mente: Porque retratar a mulher negra?
Joice Santos: Porque é quem eu sou. Porque precisa. Porque a gente merece.
Não tem como se orgulhar, se reconhecer, se espelhar quando não tem espelho, quando não tem representatividade.
Eu não tô dizendo que sou eu a responsável por esse desbravamento, saca? Tem uma lista imensa de gente de calibre fazendo isso e eu não tenho pretens��o de me comparar. Eu só tô engrossando o coro dos descontentes! Porque eu quero chegar num rolê artístico e ver meu corpo lá, ver minha cara lá, minha pele, minhas manchas, minhas marcas, meus pelos, meu cabelo, meus volumes. Eu quero saber que eu não sou a única, que existem mais de mim, que eu não tô sozinha e que alguém achou isso que eu sou tão interessante que resolveu representar. E eu quero ver isso sempre, de várias maneiras, em vários lugares. Quero não precisar ir numa exposição feita por mulheres negras, sobre mulheres negras, pra ver mulheres negras... nem negros, nem corpos plurais. Eu quero que o mundo entenda que nós existimos e pare de nos tratar como exceção, porque nós não somos exceção, exceção é a capa da revista sem marcas, sem volumes, de manequim 36 e cabelo liso.
A gente precisa se ver. Eu preciso me ver. Preciso sentir isso ao meu redor e quero que outras pessoas sintam também.
 Marginal Mente: Qual sua análise da forma que a mulher negra é retratada nas artes em geral?
Joice Santos: Eu ia dizer que “não é”, porque eu estava pensado na pintura clássica e ali a gente não encontra muitas representações da mulher negra como um ser humano – é algo muito mais próximo do objeto ornamentativo ou do animalesco. Você poderia me citar Debret, mas o Debret nos leva ao ponto das artes em geral: é o olhar sobre exótico encrustado de signos que distanciam essa figura do seio da sociedade. Com raríssimas exceções, a representação do negro ainda é a representação do outro que nada diz sobre mim, eu não reconheço como meu semelhante e, sendo assim, eu o excluo do meu universo ou olho pra ele, numa distância segura, de maneira estereotipada.
Os avanços midiáticos que vemos acontecer atualmente são fruto de décadas de militância e ocorrem, em parte, porque não há mais como conter a troca de informação e a conexão entre pessoas com um mesmo propósito ao redor do mundo.
Especificamente sobre a tv e as novelas no Brasil, que são fonte essencial na formação da opinião, da cultura e da ética de parte significativa da população, as representações das mulheres negras deram alguns passos à frente e isso ajuda, é claro, mas é o mínimo que esperamos.
De maneira geral, as representações de empoderamento e equidade estão sim mais numerosas, mas ainda as percebo restritas ao ambiente já “desconstruído” de quem as produz. É quase antropofágico as vezes e penso que precisamos de mais mecanismo pra acessar de maneira insistente quem ainda nada de bom grado no mar dos estereótipos.
Em resumo, ainda há muito que se conquistar.
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Marginal Mente: Como você vê a visibilidade das mulheres artistas?
Em ascensão. Com muitos percalços, mas em ascensão. Porque tem vários pormenores nessa titulação: ser mulher, ser artista, ser mulher-artista... isso causa um arrepio doloroso na espinha de uma sociedade que é patriarcal e baseada em bens de consumo de obsolescência programada. O nariz da “família tradicional” torce por completo, mas nós resistimos.
 MM: A pouco tempo você expôs seu trabalho em Goiânia numa exposição restrita a mulheres negras, qual a relevância desse tipo de evento?
Joice Santos: Representatividade. Visibilidade. Empoderamento.
Como eu disse antes: eu quero me ver, saber que tem outras como eu e quero que outras como eu sintam isso também. Porque isso nos fortalece, nos dá identidade e dignifica a nossa existência. Reunir artistas negras é enriquecedor para as próprias artistas e para o público. Todo mundo ganha porque, não fosse isso, talvez estivéssemos isoladas, tendo nossas produções tratadas como exceção e acreditando nisso. Eu queria mesmo é que não fosse necessário, que ser mulher e ser negra fosse só mais uma especificidade de artistas interessantes que podem ser encontradas nos mais diferentes espaços dedicados à Arte ou não. Mas ainda é, então que bom que existe.
“Representatividade. Visibilidade. Empoderamento. “
 MM: Atualmente você trabalha em alguma exposição individual?
Joice Santos: Tenho produzido algumas sereias negras em lápis grafite e aquarela na mesma pegada da “Corpos Coisificados” que esteve em Goiânia e testado modificações digitais pra essas e outras ilustrações anteriores. Esse tem sido meu foco ultimamente – essa interação do manual com o digital.
Estive em Minas recentemente para produzir alguns sketchbooks com essas ilustrações e espero disponibilizá-las para venda on line logo (por enquanto estão disponíveis apenas na Casabsurda 703... que é um lugar incrível, aliás)!
Fora isso, pretendo voltar a produzir roupas ainda esse semestre. Me distanciei bastante dessa área nos últimos tempos, mas o suporte do vestível me agrada muito.
Tudo pode virar exposição no fim!
MM: Quanto custa uma obra sua?
Joice Santos: Depende muito do tamanho, da complexidade, das horas de trabalho, do material e, principalmente, da tiragem.
A reprodução de uma aquarela em A3, sem limite de tiragem pode ser vendida a 20,00. Uma aquarela original, sob encomenda, nesse mesmo tamanho e sem reprodução poderia ser acima de 400,00.
MM: Como as pessoas reagem ao seu trabalho?
Joice Santos: Eu não tenho como te responder isso!
“No fim, eu tenho um universo muito ligado à música e ao espaço urbano, então tudo que coloca o corpo, o corpo da mulher e, em especial, o corpo da mulher negra, em interação com essas questões me interessa.”
MM: O que é um estudo desassistido sobre corpos coisificados?
Joice Santos: Essa série começa a acontecer na retomada da minha produção de ilustrações. Inicialmente eram apenas estudos de corpos mesmo... um exercício de formas e volumetrias corporais, luz e sombra, essas coisas. Em meio a isso, resolvi revisitar ilustrações e estudos acadêmicos antigos sobre corpos e estéticas. Foi aí que notei que, por mais que eu questionasse academicamente os padrões corporais e estéticos, minhas ilustrações não refletiam esses questionamentos. Então comecei a retratar corpos memoriais; fui buscar na minha memória e nos referenciais mais pessoais os corpos e estéticas que quase nunca são retratados e, mais que isso, são rechaçados por serem como são.
É um estudo desassistido porque não parte de referenciais fixos, estéticas ou figuras icônicas. Sou eu e minhas referências pessoais retratando mulheres possíveis, sem me apoiar numa identidade visual renomada. São mulheres orgulhosas e em paz com seus corpos; corpos estes que são tratados como objetos defeituosos e a serem retocados por um mercado de consumo que se incomoda – e não lucra – com mulheres satisfeitas com suas marcas e volumes. Para esse mercado – e para a sociedade que o alimenta – esses corpos não podem ter potência positiva, então é preciso diminuí-los, reduzi-los a mercadorias substituíveis... coisificáveis.
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 MM: Quem são suas referências?
Joice Santos: De Rosana Paulino à Carol de Niterói. De Angélica Dass a Wilson Tibério. De Chimamanda Ngozi a Lupita Nyong’o e Will Smith. Os Gêmeos, Nina Simone, Luna Aabenhaim, Marina Abramovic, Yossi Loloi, Mc Tha, Patrícia Avelino, Emicida, Flora Matos, Berna Reale, Orlan, Rincon Sapiência, Glória Groove, Froid, Baiana System, Rico Dalassan, Omar Duro, Pekena, Negahamburguer, Oprah, Djamila Rlibeiro, Nátaly Neri...
No fim, eu tenho um universo muito ligado à música e ao espaço urbano, então tudo que coloca o corpo, o corpo da mulher e, em especial, o corpo da mulher negra, em interação com essas questões me interessa.
 Marginal Mente: Sua formação é em moda. Como a moda dialoga com suas obras e como suas obras dialogam com a moda?
Joice Santos: No início de tudo, eu cumpria uma “fórmula de bolo”... porque existe esta fórmula, o “desenho de moda”. Poses padrão, altura padrão, proporção padrão. Eu só repetia.
A partir do momento em que fui tomando consciência de mim no mundo, olhando pra dentro, me conhecendo e me compreendendo melhor, o que tentei fazer foi pensar fora da caixa. É claro, existe um padrão – em quase tudo na vida, mas também existe muita coisa acontecendo além disso e muita coisa muito magnífica que confronta o padrão. E eu penso em corpos o tempo todo, em como o corpo pode ser um estandarte do sujeito. E a moda tem isso também. A moda precisa do corpo pra existir. É o corpo que a carrega, seja pelas passarelas ou pelas ruas. Têm pessoas, muitas pensando, criando, produzindo estéticas a partir de um determinado conceito, mas nada disso é efetivo se o sujeito que habita o corpo não vestir a ideia. O que possivelmente tangencia a minha produção e moda é o questionamento da ordem em que essa interação se dá: é a moda que veste o corpo ou o corpo que veste a moda? Dá pra questionar isso de diversas formas. Algumas pessoas apresentam corpos plurais nas passarelas. Algumas pessoas protestam ou fazem performances. Eu retrato mulheres negras satisfeitas com a própria aparência.
  “Acredito de verdade que Arte é política, mesmo quando não quer ser. Tudo que se produz em nome da Arte levanta uma bandeira.”
MM: Conte-nos um pouco do seu processo criativo.
Joice Santos: Basicamente, defino uma temática e deixo as coisas fluírem. Alguns amigos dizem que esse é o caminho mais doloroso, mas é como eu gosto de trabalhar... ver as formas e as sombras se definindo conforme o processo acontece. Se é, por exemplo, um rosto que me proponho a fazer, isso é tudo que sei quando começo a ilustração. As linhas de expressão, o formato dos olhos ou da boca, isso vai se desenvolvendo conforme a harmonia do todo. Pra uma produção mais eficiente, eu deveria ser mais metódica, mas não é assim que eu sou. As vezes vejo alguém na rua, ou um detalhe que me chama atenção em alguma imagem e parto disso. O resultado final eu nunca sei. Não tenho esboços de nada. Não sou boa em fazer a mesma imagem duas vezes e, sinceramente, gosto disso. Nada é muito igual na vida mesmo.. por que minhas ilustrações seriam?
 MM: Você nos contou que foi dentro da universidade publica que conseguiu se enxergar e se orgulhar se uma negra. Pode nos detalhar esse processo? Como a universidade te ajudou?
Joice Santos: Bom... acho que, principalmente, várias situações confluíram, mas, de qualquer forma, a universidade teve papel essencial nisso tudo.
Eu venho de uma família materna afrodescendente que, como a grande maioria, tem o embranquecimento como meta estética, então eu alisei meu cabelo dos 6 aos 24 anos. Além disso, eu não convivia com uma cultura de empoderamento ou mesmo que tivesse alguma conotação positiva em relação a negritude. Meu pai ainda usa negro e preto + adjetivo pejorativo como forma de xingamento e no intuito de ofender as pessoas. E isso é extremamente incompreensível pra mim porque, afinal, não dá pra não notar que a minha mãe é negra, que eu sou negra, e ele não se casou obrigado – pelo contrário, ao que consta. Eu não tenho memória de ouvir dentro de casa ou nesse seio familiar materno se quer a palavra “negro”. Quando o senso chegou ao meu colégio, eu sabia intuitivamente que deveria marcar “pardo” nas opções de cor porque ser negro não era legal e eu, bem, eu nem era tão negra assim! Não havia muitos negros nos colégios pelos quais eu passei e, de qualquer forma, a maioria não fazia parte do meu convívio cotidiano. A cultura que eu compreendia não pautava a minha pele ou os meus traços étnicos – provavelmente sim, na verdade, mas eu simplesmente não enxergava. O racismo-nosso-de-cada-dia, velado e disfarçado de gosto ou opinião, passa isento por mim. Eu não me via como negra. O estágio que não virou emprego não podia ser uma questão de aparência... talvez eu só fosse mesmo inexperiente e a outra garota, um pouco mais velha, rostinho e cabelos de boneca de porcelana, talvez ela fosse melhor. O afeto negado era só gosto, nada a ver com a minha pele. Talvez sim. Talvez não. Não dá pra dizer que eu tive uma lista infindável de situações que, quando revisitadas, notei que eram racismo puro. Ao mesmo tempo em que eu não me enxergava como negra, eu dei a sorte de conviver com um número vasto de pessoas para as quais o tom da minha pele não era um fator de distanciamento ou exclusão. Acontece que isso não é o suficiente. Acontece que isso é o mínimo que a gente espera de pessoas não-negras. Faltava ainda eu descobrir que ter a cor que eu tenho, ter os traços faciais que eu tenho, que ousar expor os meus cabelos naturais, tudo isso me colocava diante do mundo sob uma perspectiva de agressividade e repulsa.
O fato de eu não gostar de “parecer com todo mundo” me levava sempre a buscar estéticas que falassem mais sobre a minha identidade do que sobre a tendência do momento. Isso foi o que me levou, lá pelos 24 anos, a cortar o cabelo 3 vezes num período de um mês e meio até não ter mais pra onde cortar. No fim, eu tinha um cabelo alisado, raspado na nuca e nas laterais, com a raiz crescendo e eu sem saco de pagar uma nota pra retocar aquela miséria de cabelo que ainda existia no topo da minha cabeça. Então um amigo viu um vídeo sobre dreads de lã, achou que eu ia gostar, me propôs de testarmos e 3 meses depois, quando eu tirei aquela lã toda, eu tinha um black em ascensão e eu ficava só me perguntando como é que eu não tinha visto isso antes! Era o meu cabelo, de verdade! E eu nunca tinha visto como ele era! E ele era incrível!
Esse período coincide com o período em que eu consigo passar um tempo maior na universidade pra além da correria entre trabalho e sala de aula. Então eu conseguia finalmente conhecer as pessoas, conversar com elas, me reconhecer nas suas dores e alegrias, entender do que tudo aquilo que eu senti até ali se tratava, dar nome aos bois, descobrir grupos de estudos, absorver empoderamento, enxergar os problemas, pensar soluções.
A UFJF tem inúmero problemas, mas a diversidade cultural e a vontade de que ela continue acontecendo – e cresça cada vez mais – não é um deles, pelo contrário, é uma militância geral que toma corpo nos mais diversos âmbitos, desde ações sociais e culturais à reivindicação de matérias que contemplem uma formação menos eurocêntrica. Referência é o que a universidade pública me proporcionou. Eu sei que nem todas as universidades são assim. Eu sei que o campus e a comunidade acadêmica são uma bolha. Mas, na minha percepção, o que a gente precisa é expandir essa bolha cada vez mais; mostrar pra outras pessoas que é possível, que elas não estão sozinhas nos seus questionamentos e dúvidas e incertezas e que não é utopia, que há exemplos, que dá pra fazer, que dá pra ser e que é lindo quando a gente se conhece.
 MM: Como é ser uma mulher negra no Brasil?
Joice Santos: É difícil. Eu sei. Você sabe. É senso comum. E negar isso não é inocência, é crueldade. Nós morremos mais, temos menos acesso à saúde, educação e direitos, estamos nas estatísticas da pior maneira possível. O nosso corpo sofre mais, é mais julgado, é mais medido. A nossa mente sofre mais. Estamos mais desamparadas. Não é simplesmente ser mulher num mundo machista. É ser mulher negra. Há pouco mais de 100 anos tinham estudos clínicos que “comprovavam” nossa inferioridade humana, nossa incapacidade manter laços afetivos ou de aprimoramento intelectual, nossa insensibilidade à dor – afinal, não tínhamos lá muitos sentimentos – e apetite sexual voraz. É pouco mais que 4 gerações atrás, então retirar isso do imaginário das pessoas e faze-las entender o tamanho desse absurdo ainda é complicado porque essa ideia se sedimentou com verdade inquestionável traduzida em estereótipos que a mídia lucra em reforçar da mulata fogosa, da ama subserviente e instintivamente protetora, da periférica sem instrução e raivosa.
Nós lutamos. Matamos mil leões por dia pra termos o mínimo de respeito. Nós tentamos não sucumbir. Nos apoiamos. Criamos bolsões de alento e respiro no sufocante do cotidiano. É isso que fazemos e, até onde sei, não temos pretensão de parar.    
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 MM: Pra você a arte deve ser mais plástica, política ou indiferente?
Joice Santos: Acredito de verdade que Arte é política, mesmo quando não quer ser. Tudo que se produz em nome da Arte levanta uma bandeira. Até ser indiferente, não se envolver, é uma bandeira. E por mais que o autor diga que não, a história se encarrega de dar sentido, enxergar conexões, criar teorias. No fim, toda manifestação artística é política.
 MM: Manda um salve pra favela.
Joice Santos: Salve!
Mais obras da artista no Instagram
Link: https://www.instagram.com/tudocomlimao/?hl=pt-br
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Moda & Picadilha com Gabrielle Medeiros
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No “Moda & Picadilha” de hoje, pauta da revista dedicada a falar da beleza, da realeza, do style, do swag do nosso povo periférico, batemos um papo com a afro empreendedora Gabrielle Medeiros. A goiana de 19 anos, moradora do Setor Central, rompeu com os padrões eurocêntricos na moda. Quando se viu com dificuldades de conseguir emprego, começou seu próprio empreendimento no segmento da beleza negra. Hoje, está muito bem obrigada, dia após dia consolidando seu espaço. Abaixo, entrevista com Gabrielle Medeiros. Confere aí seus “Não toca no meu cabelo”.
Marginal Mente: Quem é Gabrielle Medeiros?
Gabrielle: Eu sou uma mulher negra há 5 anos, pois até então eu não me via e nem me impunha como tal.
Marginal Mente: Há quanto tempo você faz esse trabalho?
Gabrielle: Eu trabalho como a rastafari há 2 anos e meio.
Marginal Mente: O que te levou a ser empreendedora no segmento de beleza negra?
Gabrielle: Trabalhei 3 anos em um salão onde eu fui embranquecida por dentro e por fora, perdi totalmente minha personalidade e pude perceber o quanto é doloroso quando passei novamente pelo processo de transição. O intuito principal do meu trampo seria facilitar esse processo doloroso pra manas pretas que estão passando por essa transição. Kkk e o amor que eu tenho pelo cabelo afro, é lógico.
“Trabalhei 3 anos em um salão onde eu fui embranquecida por dentro e por fora, perdi totalmente minha personalidade e pude perceber o quanto é doloroso quando passei novamente pelo processo de transição.”
MM: Qual o perfil da sua clientela?                          
Gabrielle: A maioria das clientes são negras, às vezes algumas pessoas brancas me procuram pra trançar kkkk péssimo.
MM: Quais tipos de tran��a você faz?
Gabrielle: Trança nagô, raiz, box braids e penteados pra cabelo crespo.
MM: Quantos clientes você atende por semana?
Gabrielle: No mínimo 2 clientes por semana.
MM: Quanto custa seu trabalho?
Grabrielle: 150 mão de obra das box braids, 50 nagô (raiz).
MM: Você já vive somente desse trabalho?
Gabrielle: Sim, meu sustento.
MM: Você atende em local fixo?
Gabrielle: Atendo onde for melhor pra cliente, na minha ou na casa dela.
MM: Pra quem deseja contratar o seu trabalho, quais as formas?
Gabrielle: Contato: 62 992229357
Instagram: ursulla_rastas
Facebook: Gabrielle Medeiros
“Desde o principio eu sofri muito com meu cabelo curto. E as pessoas, sei lá, ninguém me informou que eu podia mais do que aquilo. A galera sempre me impunha.”
MM: Você pretende expandir seu negócio? Onde você deseja chegar com ele?
Gabrielle: Esse ano tenho planos de ter um lugar fixo e abrir um mini Studio pra cabelos afro, tô juntando uma grana pra poder adquirir mais coisas pra Studio. Quero poder contratar manas pretas trancistas aqui de Goiânia pra trampar comigo, já tenho uma parceria com uma preta.
MM: Você disse que seu trabalho é facilitar o processo de transição, você passou por transição? Se sim, explique-nos como foi.
Gabrielle: Foi doloroso, não tive apoio de família e nem de amigo, a minha mãe me ofereceu dinheiro pra que eu passasse alisamento, ao decorrer do tempo que eu fui conhecendo pessoas negras que foram muito influentes nessa minha trajetória. As pessoas nunca me informaram que eu poderia colocar um rastafári. Desde o principio eu sofri muito com meu cabelo curto. E as pessoas, sei lá, ninguém me informou que eu podia mais do que aquilo. A galera sempre me impunha. Não era relaxamento, mas eram produtos que definiam os cachos, que abriam os cachos sempre, sempre, sempre...
MM: Como você vê o espaço das mulheres negras no mercado de trabalho?
Gabrielle: É um espaço que está sendo conquistado aos poucos. Por exemplo, eu fiquei um ano e meio desempregada e eu tenho vários cursos, ensino médio completo, eu fui atrás de vários empregos, fiz várias entrevistas, as oportunidades são mínimas, mínimas, mínimas. E todos os cargos que me submeteram eram cargos totalmente inferiores a qualquer trampo. E quando a gente não acha uma solução ou a mulher preta se vira com os dons que graças a deus me foram concedidos ou você vai procurar um Call Center da vida, qualquer coisa do tipo. Mas é um bagulho a ser conquistado ainda.
MM: Como você vê o momento da negritude em Goiânia?
Gabrielle: kkkkk essa nem vou responder.
MM: Você falou em transição, de alguma forma você tem que fazer algum tipo de preparação psicológica nas clientes?
Gabrielle: Sim!!!!! Muitas das vezes eu as acompanho durante toda a transição até completa-la. Tem uma cliente que a gente começou o processo de transição há 2 anos, foi uma das primeiras clientes e eu a conheci no colégio. Começou a conversar sobre, ela disse que não tava satisfeita com o cabelo dela, eu tava começando meu processo de trabalhar com as tranças, aí eu fui conquistando, hoje ela consegue usar o cabelo dela afro, até a gente tem um acompanhamento, eu vou a casa dela pra fazer as tranças, porque a mãe dela não deixa ela sair. Então tem todo um acompanhamento, desde o primeiro processo até hoje eu acompanho essa mina e outras.
MM: Mande seu recado pras manas negras de Goiânia. Passa a visão!
Gabrielle: NOIS MULHERES NEGRAS SEMPRE UMAS PELAS OUTRAS! O FORTALECIMENTO VEM DA NOSSA UNIÃO!!! NUNCA SE ESQUEÇA DA SUA MANA PRETA!!! SEMPRE ELOGIE UMA PRETA!
MM: Manda um salve pra favela.
Gabrielle: Um salve pra toda galera preta que sabe de onde veio e por que veio.
Abaixo, fotos de alguns trabalhos de Gabrielle Medeiros.
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Sergio Vaz: Manifesto da Antropofagia periférica
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A Periferia nos une pelo amor, pela dor e pela cor. dos becos e vielas há de vir a voz que grita contra o silêncio que nos pune. Eis que surge das ladeiras um povo lindo e inteligente galopando contra o passado. A favor de um futuro limpo, para todos os brasileiros.
A favor de um subúrbio que clama por arte e cultura, e universidade para a diversidade. Agogôs e tamborins acompanhados de violinos, só depois da aula.
Contra a arte patrocinada pelos que corrompem a liberdade de opção. Contra a arte fabricada para destruir o senso crítico, a emoção e a sensibilidade que nasce da múltipla escolha.
A Arte que liberta não pode vir da mão que escraviza.
A favor do batuque da cozinha que nasce na cozinha e sinhá não quer. Da poesia periférica que brota na porta do bar. Do teatro que não vem do “ter ou não ter...”. Do cinema real que transmite ilusão. Das Artes Plásticas, que, de concreto, quer substituir os barracos de madeiras. Da Dança que desafoga no lago dos cisnes. Da Música que não embala os adormecidos. Da Literatura das ruas despertando nas calçadas.
A Periferia unida, no centro de todas as coisas.
Contra o racismo, a intolerância e as injustiças sociais das quais a arte vigente não fala.
Contra o artista surdo-mudo e a letra que não fala.
É preciso sugar da arte um novo tipo de artista: o artista-cidadão. Aquele que na sua arte não revoluciona o mundo, mas também não compactua com a mediocridade que imbeciliza um povo desprovido de oportunidades. Um artista a serviço da comunidade, do país. Que armado da verdade, por si só exercita a revolução.
Contra a arte domingueira que defeca em nossa sala e nos hipnotiza no colo da poltrona. Contra a barbárie que é a falta de bibliotecas, cinemas, museus, teatros e espaços para o acesso à produção cultural. Contra reis e rainhas do castelo globalizado e quadril avantajado. Contra o capital que ignora o interior a favor do exterior. Miami pra eles ? “Me ame pra nós!”. Contra os carrascos e as vítimas do sistema. Contra os covardes e eruditos de aquário. Contra o artista serviçal escravo da vaidade. Contra os vampiros das verbas públicas e arte privada. A Arte que liberta não pode vir da mão que escraviza.
Por uma Periferia que nos une pelo amor, pela dor e pela cor.
É TUDO NOSSO!
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Marginal Mente Indica – Corpo Delito
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Chega as telas de Goiânia o filme documentário CORPO DELITO (2017), dirigido por Pedro Rocha. O filme esta em cartaz no Cine Cultura até o dia 23/12, todos os dias na sessão das 21 hrs. A entrada tem preço popular de 8 dolinhas, 4 pra estudantes.
O documentário aborda a vida de Ivan Silva, que após puxar 8 anos na tranca ganha o direito de sair em regime semi aberto sob o uso da pulseirinha, o famoso relógio do Ben 10, no tornozelo. O documentário acompanha Ivan em sua rotina, confinado em casa sob monitoramento.
O filme mostra como cada simples e singelo momento, como por exemplo, assistir uma partida de futebol  em companhia de um amigo, vivendo em uma pseudo liberdade, pode ser doce, valioso, quando se viveu 8 anos na jega. Mas até quando isso é o suficiente?
Ivan é um típico malaco da quebra, cheio de vida, frito, comunicativo, com uma vida a recuperar, e logo começam a aparecer os conflitos internos: quebrar ou não quebrar a pulseira? Em uma conversa com um braço, no radin Ivan diz, “Você acha que eu não penso em quebrar essa pulseira toda hora, mas eu já paguei 8 anos. Você acha que eu quero voltar pra lá??” Uma vida sobre a ameaça da punição
O documentário mostra o lado mais coercitivo do sistema, mostra uma audiência de praxe onde Ivan tem que assinar o papel todo mês para se manter em liberdade. De frente com o juiz Ivan não tem nenhuma chance, a todo o momento é interrogado pelo juiz com perguntas que induzem a resposta, a todo o momento é acusado do que fez, e lamentavelmente abandonado até por sua própria defensora.
Tudo é negado, qualquer momento raro e simples de lazer. Durante um desande dos amigos de Ivan, sem flagrante, sem qualquer atitude suspeita, um enquadro dos vermes. Pra sua segurança é claro.
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A estética do documentário é muito pica, gravado em fortaleza, o sotaque e a linguagem dos envolvidos na vida de Ivan que aparecem no filme, não pode ser deixado  de lado, também não pode ser deixado de lado os cortes de cena nada obvio, hora no tribunal, hora tomando banho, hora brincando com a filha, hora conversando com sua mãe um assunto nada a ver com o tema do filme. A naturalidade com que tudo acontece faz com que o espectador se sinta em dentro da vida de Ivan, nenhuma das pessoas que aparecem no filme parece assustado ou acanhado frente as câmeras.
A trilha sonora com certeza é outro ponto forte, com musicas do cotidiano de Ivan e amigos, que vai do brega ao rap, tudo muito característico da quebra, da região. Mas com certeza seu tem uma musica que fala tudo sobre o que Ivan vive e deveria trincar no filme, essa musica seria “Em Favor do Réu...”, do Síntese que diz “Em favor do réu não existe um lúcido”.
 Título: Corpo Delito
Direção: Pedro Rocha
Elenco: Ivan Silva, José Neto, Gleiciane Gomes mais
Gênero: Documentário
Nacionalidade: Brasil
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MARGINAL MENTE INDICA – DUAS VEZES SENZALA
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(Na foto, um dos Atores Sociais do Doc, Luan Marcelino)
Duas Vezes Senzala é um cine documentário dirigido por Gustavo Pozzatti. O filme aborda o racismo na perspectiva do gênero e da sexualidade. Daí surge o nome Duas Vezes Senzala: o sujeitx é oprimidx primeiramente por ser negrx e depois por ser LGBT. Agora, o filme chega ao evento “Ponta de Lança”, promovido pelo Coletivo Babilônia, que possui a proposta de trazer à tona a negritude, falar sobre vivências e representatividade.
O filme teve sua estreia no dia 4 de junho, durante o  DIGO 2017 (Festival Internacional de Cinema da Diversidade Sexual e de Gênero de Goiás), onde foi premiado na categoria Melhor Filme pelo Júri Popular e ganhou o troféu Menção Honrosa.
Após sua estreia, o filme circulou por alguns locais do estado de Goiás como Teatro Zabriskie, Espaço de Convivência da Universidade Federal de Goiás, Faculdade de Museologia da Universidade Federal, Escola Superior de Educação Física e Fisioterapia do Estado de Goiás, Secretaria de Direitos Humanos e Políticas Afirmativas, 5º Cinemão / Mostra dxs Bi, das Gay, dxs Trans e das Sapatão, no FestCine 2017, CINEdebate - Jovem Negro Vivo, dentre vários outros, chegando a circular fora do estado no PLURAL - Festival da diversidade de Araçatuba - SP.
O filme está disponível no YouTube. A próxima exibição coletiva será dia 08/12 às 17h, no Espaço Sonhus Teatro Ritual / Colégio Lyceu, no Centro de Goiânia (GO). Abaixo, segue link do filme e do evento “Ponta de Lança”. Segue também um breve bate papo com o diretor do filme Gustavo Pozzatti. Curti aí, suas Mente Marginal. Tey!
Título: Duas Vezes Senzalas Doc / 25min / Goiânia-GO / 2017 Direção: Gustavo Pozzatti
Link: https://www.youtube.com/watch?v=TisJc4eWtLk
Ponta de Lança: https://www.facebook.com/events/513714188991772/
 Entrevista
 Marginal Mente - Como surgiu a ideia de fazer esse Doc??
Gustavo Pozzatti - A ideia do documentário surgiu através da minha perspectiva como estudante de cinema, de que no cenário do audiovisual pouco se discute questões de gênero, sexualidade e questões raciais, principalmente quando se fala em protagonismo negro, não conseguimos nos ver na mídia em geral. Além de ter tido uma grande inspiração dos próprios atores sociais, alguns dos quais eu já conhecia e que sempre levantavam questões sobre ser LGBT negro no Brasil.
Marginal Mente - Como foi o processo de seleção dos atores sociais que participam do Doc?
Gustavo Pozzatti - Eu convidei alguns amigos dos quais eu já tinha contato pra participar do documentário e outros eu fui conhecendo através de amigos enquanto buscava LGBT's negros que pudessem me contar suas vivências. Não houve de fato uma seleção, mas sim pessoas que se dispuseram abertas a participar do filme e fizeram de tudo pra que ele acontecesse.
Marginal Mente - Como você percebe a abertura para discutir esse assunto proposto pelo Doc por pessoas não negras?
Gustavo Pozzatti - O documentário, desde o inicio, tem tido uma boa receptividade de todas as pessoas, é claro que ele tende a ser mais acolhido por pessoas negras, principalmente LGBT's, porém, ele tem levantado uma discussão da qual as pessoas ainda não haviam prestado tanta atenção, e isso tem de certa forma expandido o assunto racismo e LGBTfobia para outras áreas que não só a ofensa física e verbal, para pessoas das quais ainda não tinham se aprofundado sobre a questão racial, sexual e de gênero juntas em um só filme.
Marginal Mente: O filme foi premiado no Digo 2017, qual a relevância disso e vocês pretendem participar de outros festivais?
Gustavo Pozzatti: O DIGO foi de extrema importância para o documentário, tendo em vista que todo o cronograma de produção foi baseado no festival, para que o filme estivesse nele, e ter ganho os prêmios foi de muita importância pra que o filme tivesse visibilidade, além do festival ter levado o filme para várias exibições até mesmo fora do estado. Festival com temática LGBT são extremamente necessários, e precisam de maior apoio, visto que outros festivais raramente aceitam filmes com temática LGBT dentro de suas grades de programação. Agora que o filme está no YouTube não enviamos ele pra nenhum outro festival, esperamos apenas que ele chegue a todas as pessoas necessárias através da internet.
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Exposição Mulheres Negras – Arte, Luta e (R)existência
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Aconteceu no ultimo dia 18 de Novembro, o lançamento da "I Mostra Mulheres Negras Artistas”, uma exposição realizada e composta por mulheres negras. O lançamento aconteceu na Casa Coletiva Jardim Aberto, Setor Sul, Goiânia. O evento foi idealizado por Nutyelly Cena e produzido por Nataly Mendes - Produtora da La Herida,  ambas alunas do curso de Museologia (UFG).
Participaram do evento expondo suas obras as artistas Hariel Valensi (GO), Joice Santos (SP), Mabelle Collage(GO). O evento contou também com pocket show com o grupo goiano RetalhaVento, performance Julia Assis e Marianna da Conceição (GO) e Camomila Negra (GO) com a performance “Desembranquecendo”, que trata a questão racial de forma performática, pontuando como o racismo trata o corpo da mulher negra. Em seu depoimento pessoal durante a performance, a artista conta: “Quando eu tinha entre 12 e 13 anos, coloquei um espelho entre minhas pernas pra ver minha buceta, ela não era branca e rosada... eu a rejeitei.” E por alguns minutos seguiu compartilhando seus processos de auto reconhecimento como negra e seus processos de desembranquecimento.
A exposição abriu espaço também para as AfroEmpreendedoras Negras com espaço pra quem quisesse mostrar seu negocio e comercializar seu trabalho.
Em entrevista realizada com a idealizadora da mostra, Nutyelly  Cena,  quando indagada do porque realizar uma exposição somente com mulheres negras a mesma disse “O intuito foi mapear a produção artística de mulheres negras. Para isso, sentimos a necessidade de dar visibilidade, tendo em vista um cenário artístico que invisibiliza a produção de mulheres, sobretudo das mulheres negras. A exposição é composta por mulheres negras artistas, cujo objetivo é dar espaço, mesmo que mínimo a essas artistas. Outro dado significante é sobre o não uso de uma curadoria. A exposição foi realizada na perspectiva de mulheres negras. Assim, contribuímos de maneira relevante para a valorização da produção artística dessas novas artistas. Essa exposição é uma das estratégias que encontra-se para afirmar um espaço de fala e escuta as mulheres negras, consideradas subalternas na nossa sociedade.”  E quando indagada sobre a realização de outras edições dessa exposição respondeu “A La Herida, vem realizando desde a sua criação exposições coletivas e individuais de mulheres artistas. Se terá outras edições dedicada a mulheres negras artistas produzida pela La Herida? É algo a ser planejado. Mas acredito que é importante firmar um fomento á estratégias que firmam esses espaços como formas de reparo a parcela da população negra historicamente invisibilizada.”
A exposição ainda esta aberta e ficará até o dia 02 de dezembro, sendo gratuita sua visitação. A Casa Coletiva Jardim Aberto fica na Rua 91 N°332 Setor Sul. Para maiores informações:  https://www.facebook.com/laheridagaleria/.
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QuilomBox e a experiência da Batalha da FREEcção
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Na foto acima Representantes de Goiás: Iodenis - Ativismo Anistia Internacional, Eduardo - Coeltivo NATividade, Bruno - Batalha da FRREcção
“buscando a emancipação de corpos e mentes com o trabalho no chão, na favela, na perifa, de noite, de dia, feriado e fim de semana, no noiz por noiz!”
(Por Bruno Borges, 21 anos, estudante de Direção de Arte na UFG, membro da Batalha da FREEcção e voluntário da Anistia Internacional.)
O QuilomBox surge como uma necessidade, que é dada para a campanha Jovem Negro Vivo da Anistia Internacional que questiona a indiferença da sociedade e sobretudo o poder público sobre os dados alarmantes de homicídio no nosso país.  (Conheça a campanha: https://anistia.org.br/campanhas/jovemnegrovivo/)
Foram meses de trabalho, de entrega e de luta para que esse não fosse somente mais um material de essência colonizadora e tutelada, mas sim construído desde o início por aqueles e aquelas que realmente faz sentido na luta por sobrevivência. O QuilomBOX chegou! Não para ser "a" saída para o genocídio que nos mata, mas para ser "uma" das ferramentas que nos impulsiona a resistir. Começou desde o início com coletivos do Rio de Janeiro, Brasília, Salvador e Belém e nesse último encontro havia mais de 12 estados e 60 pessoas para a entrega do material. Luta diária, onde respiramos potência, lutamos contra o racismo e estamos aí solidificando redes, buscando a emancipação de corpos e mentes com o trabalho no chão, na favela, na perifa, de noite, de dia, feriado e fim de semana, no noiz por noiz!
No mês da consciência negra, sabemos que nossa resistência se faz durante todo o ano, assim aproveito para desejar muito poder, protagonismo, oportunidades e luta para o povo preto!
A Batalha da FREEcção adentra nesse encontro a partir de um convite feito pelo grupo de ativismo da Anistia Internacional em Goiânia por já termos feito trabalho juntos, assim fomos representando o estado de Goiás junto com o Coletivo NAtividade e o próprio grupo de ativismo da Anistia. Tivemos todo o apoio necessário, passagens, alimentação, hospedagem no Centro da Cidade do Rio de Janeiro, durante as atividades discutíamos e planejamos o uso do material de acordo com a nossa realidade, além de debater o extermínio da juventude preta, nossa atuação, troca de experiência ente nós, integração... foram 4 dias bem intensos e extremamente produtivos!  
Ficou curioso para conhecer esse material incrível em educação em direitos humanos? Fique sabendo que ele é extremamente acessível e você pode baixa-lo e trabalhar ele onde você quiser, quando quiser e como quiser, acesse: https://anistia.org.br/campanhas/quilom-box/ , preencha o formulário do mapa colaborativo e terá acesso ao drive com o material.
na foto abaixo passeio na Pequena África durante o QuilomBox
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Entre o Moonlight e o Oscar: o que nos faz pensar
(Por Daniel Alves Lopes, mestre em educação, licenciado em filosofia. Foi professor de filosofia no sistema prisional de Bangu e no Instituto Federal. Atualmente, é professor em Samambaia/DF).
 O Oscar de melhor filme concedido ao Moonlight demonstrou que, apesar de todo esquecimento proposital de temas ligados à negritude, essas questões continuam vindo à tona e, inclusive, incomodando.
Os diversos burburinhos em torno da vitória do filme revelou o que todos sabem: o quanto a sociedade se incomoda com a possibilidade de discutir a respeito do racismo, da homofobia, da intolerância de modo geral.
Após dois mandatos de Obama, o primeiro presidente negro eleito nos Estados Unidos da América (EUA), um candidato reacionário assumiu a cadeira presidencial. E foi exatamente nesse contexto em que o filme em questão foi agraciado com o prêmio considerado mais importante no cinema.
Com um filme de baixo orçamento se comparado com os seus concorrentes, o enredo representa o avesso da imagem dos EUA estampada nas vitrines do mundo. Aliás, o enredo trás à tona tudo aquilo que tentam fingir não existir por lá, como periferia, negros, homossexualidade, drogas ilícitas, problemas sociais.
Quem não assistiu ao filme deve estar imaginando que trata-se de algo violento, com tiros e efeitos especiais. Longe disso. O filme retrata a violência com uma certa crueza mas, também, sem deixar de lado a poesia.
Escrito e dirigido por Barry Jenkins, Moonlight ganhou o Oscar de melhor filme. E o que isso significa? Quer dizer que o mundo ainda respira, mesmo com tanta intolerância. Representa um tapa na cara de uma sociedade hipócrita e decadente.
A repercussão no Brasil merece ser mencionada. O brasileiro de classe média, aquele que bateu panela nos Fora Dilma da vida, foi assistir ao filme americano do ano. Saiu da sala de cinema decepcionado. Esperava um enredo encenado por maioria de atores brancos, uma narrativa em que ficasse clara a imponência do american way of life. No entanto, nada disso aconteceu, mas ele não pôde sequer vaiar o filme, já que foi o ganhador do Oscar.
O brasileiro médio acabou ficando numa sinuca de bico e restou a ele reclamar pelos cantos. A vitória de Moonlight ecoa para além das fronteiras do entretenimento ou das críticas especializadas. A repercussão chegou nos lugares mais distantes. O “lado b” dos EUA ficou escancarado. A realidade cotidiana da população negra foi exposta tanto em sua crueza quanto em sua beleza e, ironicamente, foi agraciado com os holofotes.
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Meu skate não é enfeite!
Me vieram muitas maneiras de iniciar este texto, que seria  a primeira coisa realmente publica que  eu escreveria, pensei em diversas formas  de texto pra que parecesse interessante para o púbico da revista e não se prendesse aos moldes academissistas que  me cercam todo o tempo, foi então  que eu percebi que um texto de qualidade não necessariamente teria de seguir os moldes monolíticos  da academia, escrevo  desde que me entendo por gente e quando este  tema me chegou  eu me identifiquei porque primeiramente eu falaria sobre o protagonismo feminino e outra porque   esse protagonismo seria no skate, um esporte que sempre me trouxe uma   perspectiva de liberdade indescritível. Toda a ideia desta matéria surgiu a partir de uma pesquisa realizada  pela Jordana Luz  hoje aluna da Universidade  Federal de Goiás, que na época  foi um dos requisitos pra conclusão  do seu ensino médio, ativa na cena cultural goiana ela  apresenta um recorte histórico e social do skate feminino tanto na cena goiana como na cena nacional, partindo desta base parti para o trabalho de campo  e então conheci as meninas  do Atrevidas Crew (@crewatrevidas) que fortaleceram explicando a cena   feminina em Goiânia e outros pontos que serão  abordados aqui.
As origens do skate não são claras mas sabe se que em 1959 o primeiro skate fabricado em série foi o Roller Derby em 1959 mas tinha rodas de metal  o que ocasionou diversos acidentes, sendo assim  o esporte demorou a se popularizar, na década de 60 o esporte estava totalmente ligado ao surf, em 1972 as rodas de poliuretano revolucionaram o esporte; na década de 80 o skate caminha junto com a juventude  na onda do “ faça você mesmo”  as rampas de madeira na rua, o skate toma um caráter de contra cultura. Durante todo esse processo de criação e adaptação do esporte o feminino é raramente citado como na maioria das construções históricas os papeis femininos são   negligenciados ou restringidos ao ambiente privado.
“Ao problematizar a pouca visibilidade feminina dentro do skate, não quero mostrar aqui que as mulheres desde o princípio existem dentro do skate(...). (Avelar,2016, pág. 21) ”
Essa pequena parte retirada do trabalho da Jordana traduz bastante o sentimento deste texto eu não quero aqui estabelecer uma cronologia exata das mulheres no esporte, e sim   abordar os porquês que levaram a invisibilidade ou até impossibilidade das meninas nele, como disse anteriormente essa perspectiva de anulação do papel feminino não se restringe apenas ao skate ou até mesmo apenas aos esportes em geral esse é um caráter comum a sociedade patriarcal ao qual pertencemos. As justificativas da inviabilização da mulher no skate  surgem de inúmeros pontos desde que o esporte é “radical” demais para criaturas assim frágeis como nos, Joana D’Arc  e outras tantas são aqui um exemplo de  fragilidade (só que não) que a nos é designada no momento da  concepção, Simone de Beauvoir  vai dizer em um de seus textos que  não se nasce mulher torna-se, ou seja  a percepção sobre o que é ser mulher não do ponto de vista biológico e sim social é uma construção, podemos perceber isso claramente quando uma garota é impedida ou ridicularizada por exercer atividades ditas masculinas, isso ocorre porque  as construções sociais impõe padrões aos indivíduos e fugir a esta expectativa os coloca na linha de tiro por romper padrões pre estabelecidos.
Mesmo com as impossibilidades  as minas  sempre foram presentes nas mais diversas modalidades praticadas, embora as categorias femininas sejam bastante atuais, o primeiro registo de mulheres aqui no nosso Br   data de 1999  e foi feito por skatistas paulistas, mas as mulheres já competiam desde a década de 80  sem categorias especificas e sem  patrocínio, todos os materiais encontrados como fonte de registro do protagonismo feminino no  esporte é feito  por homens o que na maioria das vezes faz com o foco não seja exatamente a contribuição das minas pra cena. Com os anos 2000  a modernização dos equipamentos  e a cena  ganhando reconhecimento    visibilidade   em grandes mídias as minas também com muita luta conseguiram se profissionalizar  e hoje disputam nacionalmente embora as desigualdades  em premiações patrocínio e visibilidade ainda sejam gritantes.
Gyn city não foge à regra nacional, a  presença feminina mais  visível  na cena é recente  mais agora as meninas se sentem mais a vontade de  se juntar e criar sua própria Crew, as meninas do Atrevidacrew  que foram base pra construção da minha ideia a respeito desse  pequeno esboço sobre o  protagonismo feminino nesse esporte que  caminha com a juventude a mais de meio século, as perspectivas  regionais não são mais fáceis que no restante do pais muito pelo contrário embora Goiânia seja a capital   do estado  abriga proporções menores de cultura de rua   em relação a capitais como São Paulo  onde   as práticas urbanas são mais recorrentes, a falta de  patrocínio   pesa pra que a categoria feminina se profissionalize e tenha  praticantes equiparadas com o masculino que claramente tem mais que o dobro de participantes em campeonatos  regionais, é comum  que os patrocínios se acumulem em um competidor enquanto as minas tem que se financiar pra participar das competições e se manter no circuito mas mesmo assim  grandes nomes surgem do skate feminino a cada ano e caso houvessem  incentivos as possibilidades triplicariam e  o skate  feminino se tornaria mais forte do que já é atualmente.
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Entrevista com Tom Loker Igare Brasil
O time da marginal mente colocou no Shock Frontal Battle Bboying. Confere aí a entrevista com o produtor do evento Tom Loker. As fotos já estão no blog. Confere a entrevista na integra logo a baixo. Saudações Marginal Quebrada!
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Marginal Mente – Quando você começou a dançar e o que te levou a dançar?
Tom Loker Igare Brasil – Eu comecei a dançar em meados de 90, 93, 94, vendo grupos de dançarinos da época dançando nos Rock’s Rua, foi onde eu me incentivei com eles, me inspirei.
Marginal Mente – Quais as mudanças que o Break gerou na sua vida?
Tom Loker Igare Brasil – gerou muitas mudanças através de oportunidades, de não ir pro lado errado, as drogas, o crime, e ter a oportunidade de conhecer outros países, hoje eu tenho a oportunidade de ter andado em mais de 40 países, através do Break Dancing, através da cultura Hip-Hop.
Marginal Mente – É muito falado que as décadas atrás era muito difícil dançar Break porque era muito discriminado pelas pessoas, marginalizado. Como está essa questão hoje?
Tom Loker Igare Brasil – Hoje até tá tendo uma visão melhor, mas ainda tem bastante preconceito. Mas hoje em dia tem as academias, as escolas de dança que tem os seus professores que estão passando esse fundamento dos quatro elementos, do que é o Break pra rapaziada.
Marginal Mente – É possível viver dessa dança?
Tom Loker Igare Brasil – No Brasil não, no Brasil não, que eu conheço não. Eu mesmo não consigo viver da dança nem da cultura Hip-Hop, vivo do meu trabalho, se fosse viver do hip-hop eu tava passando fome.
Marginal Mente – Quem são seus ídolos nessa arte?
Tom Loker Igare Brasil – Olha, meu ídolo mesmo… Eu não tenho assim um ídolo especifico mesmo. Meu ídolo é Deus mesmo que me da força e sabedoria pra seguir nessa arte. Assim uma pessoa específica não tem.
Marginal Mente – Como surgiu a ideia de realizar esse evento?
Tom Loker Igare Brasil – Assim, quando a gente dançava, quando dançava antigamente, eu tinha sonhos de participar de eventos, aqui no Brasil e em outros estados, aí tendo essas oportunidades de viajar pra fora eu tive a ideia de fazer qualifiers, eliminatórias, no sentido de levar um brasileiro pra representar o Brasil lá fora. A gente sabe que as dificuldades são muito grandes, financeiras, pra um dançarino chegar, numa final mundial. Então esse foi o objetivo, tem parcerias com outros produtores. Esse foi um dos principais objetivos, tentar exportar talentos brasileiros pra outros países, e a forma mais fácil foi através das eliminatórias, nesse evento hoje o campeão vai pra Porto em Portugal, representando o Brasil e toda a América Latina.
Marginal Mente - Vocês receberam quantas inscrições de competidores e bailarinos?
Tom Loker Igare Brasil - São 64 competidores na modalidade individual, 1 deles vai sair daqui hoje e vai representar o Brasil no dia 18 de Março de 2017.
Marginal Mente – São todos de Goiânia?
Tom Loker Igare Brasil – Não. Tem gente de Brasília, Manaus, Belo Horizonte, São Pulo. Goiânia, Anápolis, Canedo, região metropolitana em geral.
Marginal Mente – Fala um pouco sobre como funciona as batalhas, quais são os critérios de avaliação?
Tom Loker Igare Brasil  - As batalhas elas são batalhas mata-mata. Duas entradas pra cada dançarino, onde os jurados escolhem o melhor em cada competição, eles avaliam criatividade, musicalidade, fundamento. Porque a dança ela tem seus passos básicos, sua evolução, então os jurados avaliam isso, e após cada entrada, 2 entradas de cada dançarino, o resultado é feito na hora.
Marginal Mente – Eles tem quanto tempo pra desenvolver sua dança?
Tom Loker Igare Brasil – 2 entradas de 1 minuto. Cada um faz uma entrada de 1 minuto, o outro vem com a resposta e o outro dá a última resposta e assim sucessivamente. 2 entradas pra cada competidor.
Marginal Mente -  Como você conseguiu realizar esse evento? Você recebeu algum tipo de apoio?
Tom Loker Igare Brasil – Não teve apoio nem do Estado, nem do Município, somente de alguns parceiros pequenos empresários que acreditam. A gente faz contando muito com inscrições bilheterias pra realizar. O governo, o município, infelizmente não apoiam cultura. E esse trabalho que a gente faz aqui a gente resgata muito jovem que tá na droga, que tá no crime, então assim… a gente faz por amor mesmo, mas não é fácil.
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Batalha de B-Boys Shock Frontal
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MC Who?
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Livro Hip-Hop Cultura de Rua
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MC Who? Quem somos nós?
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Marginal Mente – MC Who? Você é de onde?
MC Who? - São Paulo, capital.
Marginal Mente – quando começou sua caminhada dentro do Hip-hop?
MC Who? - 82… no começo dos anos 80, no final dos anos 70, meu irmão já levava os discos pra casa e a gente já ouvia, devagar a gente já sentiu a chegada desse novo estilo falado, foi quando a gente teve contato com o primeiro disco todo de rap, Kurtis  Blow, em 1980, considerando aí King Tee, Rapper's Delight, e aqui em primeira mão que tá no livro um que chama Pigmeat Markham, é um humorista, em 68 ele já gravou um Rep “Here Comes The Judge”, tá lá no livro.
Marginal Mente – vocês começaram a produzir esse livro quando e levaram quanto tempo pra executar?
MC Who? - Nos começamos em final de 2014 e começo de 2015 foi tomando consistência, o incentivo saiu, né, isso é um edital de incentivo a cultura chamado “VAI” do governo municipal, então começou o processo de construção do livro.
Marginal Mente – O livro foi escrito em parceria entre você e o Kaseone?
MC Who? - Na verdade o Kaseone foi o proponente, proponente lá dentro da perspectiva é o representante legal, mas a concepção ideológica, científica, histórica, metodológica foi minha, no sentido de propor a quebra da hegemonia narrativa de São Paulo. Porque? Se eu proponho, é uma questão de coerência, 84 como um marco histórico pra nós, que era a exibição do filme Beat Streat, que trouxe toda informação a cerca dos 4 elementos que chamo hoje de tradicionais, seria no mínimo pretensioso a gente falar que o Beat Streat sendo exibido no Brasil inteiro só nós de São Paulo saímos dançando, pintando e cantando. Então é hora da gente fazer um passo atrás nas narrativas e dar espaço pras narrativas das outras praças pra quebrar uma narrativa hegemônica, desnecessária, porque hoje mesmo eu publiquei “Hip-hop é tão poderoso que une além dos credos” nos temos islâmicos, nos temos raízes africanas, nos temos evangélicos e católicos, todos sobre as bençãos da cultura Hip-hop, então o Hip-hop tem esse poder. Então nesse primeiro eixo o livro ele já existia como projeto mas ele não tinha proposições de sistematização da cultura, isso eu trago pro projeto que era um projeto que eu já tinha, que eu somei com essa proposta que já existia antes através do Kase, que era trazer o documento fotográfico né, iconográfico dessa faze né. Então eu aproveitei pra propor pra criar proposições e sistematizações pra nossa cultura por um motivo muito simples, NÃO PRECISAMOS MAIS DA TUTELA DE UMA ACADEMIA BRANCA, BURGUESA, CENTRALIZADORA PRA CONTAR A NOSSA HISTÓRIA, NINGUÉM VAI MAIS CONTAR NOSSA HISTÓRIA, NOS MESMOS PODEMOS CONTAR NOSSA HISTÓRIA . Basicamente é isso.
Marginal Mente – O livro cita algumas cidades como Fortaleza, Goiânia, São Paulo. Como funcionou essa pesquisa, você trabalharam o hip-hop em algumas cidades que selecionaram?
MC Who? - Na verdade nos fizemos uma lista inicial, depois fomos eliminando por viabilidades, então nos contatamos algumas cidades e quem respondeu com mais rapidez, até porque existe um prazo, planejamento que o edital exirge, então os primeiros que chegaram foi o que nos priorizou pra colher, mas nos temos aí nas filas várias narrativas. Agora é importante dizer o seguinte, a metodologia disposta em eixos, quando eu propus foi exatamente pra criar o que? Camadas narrativas que se entrelacem e se fortaleçam e de densidade, consistência, tanto na parte da oralidade que nos é tão importante, mas também a documental, tão tem várias questões, tem a questão o Power Movie, por exemplo é Goiânia, existe a filmagem, existe os primeiros movimentos, existem narrativas de pessoas de outras praças que garantem que Goiânia fez isso. Então isso é um exemplo pra você vê que se você der espaço de narrativas pra outras cidades, tem o hip-hop como uma linguagem, não predominante mas importante pra juventude, você vai ver esse dialogo narrativo, entre todas as praças, todos os territórios.  
Marginal Mente – Eu escuto muitas, digamos… brigas, um de um elemento criticando o outro. Como estão o hip-hop hoje? São quatro irmãos que não se bicam muito?
Mc Who? - Não, na verdade os elementos se afastaram um pouco porque o hip-hop ele precisa de um fio condutor, o fio condutor é convivência comunitária, é consciência de sermos uma cultura diaspórica de matriz africana, com sua tradição… sua espinha dorsal na oralidade, nos precisamos conversar mais, conviver de maneira mais comunitária. Esse exemplo aqui é muito importante, aqui nos temos aqui um evento de Break, certo? Mas não poderia ter aqui um Live Paint do grafite? Não poderia ter um microfone aberto do rep, certo? Aí tá lá os DJ’s e tudo, quer dizer, os DJ’s estão sempre nesta perspectiva, transitam mais, até porque sem a musica não existe, mas nos precisamos visar o evento e foi sugerido, encaminhado pra organização aqui que a gente volte a contemplar os 4 elementos. E agora importantíssimo, como a gente não tá de chapéu atolado, eu já falei pra você que a gente não vai precisar mais da sistematização branca, burguesa, centralizada, eurocêntrica, então nos temos isso, qual a nossa cosmo visão? É Ubuntu. Baseado nela que é a questão comunitária, a questão da convivência dos laços de afeto, nos também temos que intender que as novas gerações tem novas demanda, novas demandas novos elementos, nos não precisamos agredir os tradicionalistas, os tradicionais que querem que são apegados nos 4 elementos, mas também não podemos dizer não pras novas gerações com os novos elementos que estão se fortalecendo, então o livro tem uma sistematização do seguinte, a gente chama os 4 elementos de iniciais, fundantes, alicerçantes, tradicionais, seminais, esses são imutáveis foram eles que criaram a primeira cena urbana. A hora que Col Hawkins vai pra rua, quando ele coloca os dois toca discos sound sistem dele, atrás dele tinha um muro com grafite, na frente tinha um cara dançando Break e na outra frente um cara improvisando, então esses são tradicionais. Agora o Beat Box que era segundário, hoje evoluiu tanto que merece o status de ser um elemento. O conhecimento depois de 30 anos a gente precisa sistematizar, então ele é um elemento importante, agora se ele é o quito ou se é o décimo, essa coisa toda eu não vou entrar em nenhum mérito, a gente poderia até fazer um grande fórum nacional e a gente debater. Os saraus, os spoken word, a poesia falada, a literatura marginal, tudo isso são filhos reforçados do tecido cultural periférico negro/mestiço operário que o hip-hop criou, isso Sérgio Vaz fala.
Marginal Mente – Qual a sua relação com a academia?
MC Who? - A minha relação é de amor e ódio. Porque a academia é racista, principalmente a que eu frequento a PUC de São Paulo, eu já tirei 60 créditos lá, 30 em Ciências Sociais, mais 30 em Gerontologia e eu nunca sou qualificado. Aí sabe o que eu falei: Nem quero! Porque eu já sou doutor no hip-hop, eu já sou reportado pelo meu povo como se fosse um doutor, e isso não me faz diferente deles. Eles só reconhecem meu esforço de estudo, reconhecem as sistematizações que eu proponho, elas tem coerência, elas tem fundamentação, elas não passam mais tanto pela bibliografia  europeia, branca, eu procuro agora, a minha grande saga é ir atrás da literatura diaspórica, africana, a fundamentar as minhas proposições então aí rumo a Fanon, rumo a outros grandes teóricos negros que já confrontaram essa hegemonia da Europa. Mas é isso, nos temos planos, eu tenho planos pros próximos anos de montar grupos de estudo, já está a caminho isso. E assim, pra sintetizar memo porque quem manda no hip-hop somos nos, você pode pegar um monte obra no hip-hop feito pela academia que eu chamo de “Tese Drone”, são teses que sobrevoam nossos conceitos e nossas vivencia e as nossa teses, as narrativas dos nossos mestres que nunca passaram nem na porta da universidade, que são mestres e doutores eu chamo de “Teses de Becos & Vielas” porque é quem anda no beco e na viela, não sobrevoa com drone as nossas regiões, não dialogam, não se envolvem ali. Acabo pra eles, nos apropriamos e não vamos devolver mais, porque não é deles, é nosso.
Marginal Mente – Recentemente passamos por um movimento de ocupação nas escolas. Onde que entra o hip-hop nesse movimento? De que forma ele pode ajudar? Teve algum local em SP que o movimento hip-hop foi atuante?
MC Who? - Sem dúvida. O Mano Brown foi a fábrica de cultura dar apoio a invasão. Eu me disponibilizei várias vezes pros secundaristas, pra fazer as formações. Tudo isso é absolutamente valido porque você chama da ocupação, é exatamente isso, é ocupação de um espaço que é nosso e sistematizado por um sistema de ensino arcaico do século retrasado que veio lá da Ucrânia que não tem nada a ver com a gente, esse negócio de enfileirar esses garotos, um atrás do outro pra ser doutrinado pra um mundo neoliberal de competição, sem afeto, só que ser melhor que o outro, passar por cima dos outros e etc. Não é isso, nossa excelência vem do afeto, não dessa competição desregrada desse modelo que não é nosso, que é europeu, que é capitalista. Então basicamente é o seguinte, eles já começaram a nos desconstruir, assim a grande falácia história é essa libertação de 1888, porque até 1930, 1940 nem cidadão a gente era, aí com a falta de mão de obra que a gente vai carregar lenha nas rodovias, que a gente vai desentupir chaminé, que a gente vai vender galinha pro outros, porque? Porque se você não tivesse vínculo com uma família branca você não era cidadão 1940, de lá pra cá nos viemos brigando pra mudar essa situação. Agora, como eles fizeram isso? Como eles nos desconstruiriam? Eles fizeram a coisa mais desgraçadamente de cartesiana que tem que é separar a cultura da educação, não existe essa separação, cultura e educação são irmãs gêmeas, siamesas que se retroalimentam o tempo todo, a aula é chata, enfadonha, inacessível, desgraçada, aquilo é desgraçado, aquilo tá condenado ao fracasso, já é um fracasso consumado. Agora, arte ela amplia o cognitivo, ela chama as pessoas ao conhecimento, as relações de afeto. Então nos temos que ocupar, nos temos que mudar e nos temos que promover as ocupações das escolas pela  cultura, nos precisamos de aparelhos cultural mas ele não precisa ser construído ele precisa ser ocupado e ganhar outra dinâmica, e as escolas cumprem essa possibilidade elas estão na comunidade, elas podem ter acesso as comunidades, as comunidades podem ter acesso a ela, se apropriar dela pra fazer toda manifestação cultural que vai fortalecer o processo de educação e aprendizado.
Marginal Mente – Você falou que consegui realizar esse livro através de uma lei de incentivo. Como anda esse mecanismo de incentivo a cultura? Como você isso especificamente com o hip-hop?
MC Who? - Retroagindo. Uma coisa que nem conseguiu consolida ele já está sendo degenerado, porque as forças mudaram, nos estamos entregues a um governo que não tem nenhuma perspectiva social, esse FORA TEMER é a coisa mais certa que a gente tem que lutar, e nos temos que recuperar o espaço que nos conquistamos, que já tá sendo tirado né. O ministério da cultura ele tá sempre na berlinda agora, ele era estratégico em gestões anteriores, que tinha uma visão da importância da cultura, agora eles sempre acham que a cultura para o povo não tem importância, que dizer, os pontos de cultura, toda aquela obra a contribuição entre criticas, as mudanças operadas pelo Gilberto Gil, enfim. Lá mesmo em São Paulo você vê 130 milhões pra OSESP, aí quando fala que vai 2 milhões pra semana do hip-hop pra 3 mil pessoas todo mundo solta foguete, o desfalque do teatro municipal falam 15 mas parece que vai bater em 23 milhões esse desfalque, o maestro, assim um maestro no país mestiço ganhava 500 mil na OSESP e vai pra prefeitura ganhar 250 mil, nos estamos precisamos de deuses desse da cultura dita erudita, nos precisamos de cultura erudita porque ela não contempla a maioria da população, eles tem que ser contemplados sim mas na proporção que eles existem, quantos cabem lá na OSESP? Quantos cabem nessas câmeras, cameratas e etc. Tudo isso é muito válido, mas europeu, quero espaço pra nós da periferia irmão, quero dinheiro pra nóis, chega de dinheiro pra esses caras aí, inclusive eles tem dinheiro, eles não precisam de dinheiro do estado, 130 milhões? 60 milhões? … (eu ia falar um palavrão.)
Marginal Mente – Fala um pouco dos seus outros trabalhos, seu trabalho de MC.
MC Who? - então meu trabalho de MC ele tá, não recordo tempo e espaço, ele tá lá entre 84 e 89, ele tá ali. Eu não vou poder fazer isso, eu nem consigo, mas pessoas estão pesquisando nossa trajetória, como em 84 nos fomos os primeiros a misturar Jazz com Rep, tem muita gente que procurando. Meu parceiro o falecido Cassius Franco, em 80 ele foi o primeiro ele foi o primeiro a se converter a Islamismo e fundar a não do Islã no Brasil, foi capa do Jornal A Folha de São Paulo por isso, promoveu uma serie de operações hoje o Islã é uma realidade que cresce, né, não to fazendo aqui apologia eu dizendo aqui as mudanças que a gente propôs pra quebra dessas questões hegemônicas. A gente era considerado o Rap Hadcore, a gente tinha a mesma verbi do protesto do Punk, que a gente tinha esse dialogo com o Punk muito franco, nos nunca tivemos problemas de gangue com os Punks, é isso nos fazíamos essa diplomacia com as outras gangues, careca, tudo, a gente era amigo de todo mundo, eu, Cassius, JR Brown e todos esses músicos que o livro contempla a contribuição deles pro hip-hop como o Escovo, Akiron, Nazi, André que eram do rock e da musica do pós punk paulista, nos conseguimos esses contatos e esses apoio deles porque a gente convivia nesses territórios que nos ofereciam como segregado, escola de samba é do caramba mas é um jeito de segregar o negro ali naquele território, os bailes black é do caramba mas é um jeito de segregar ali, pelo menos na minha época era assim, nos não nos quebravamos essa segregação indo pra casas que eram ditas de undergroud, entendeu? Nóis levava pra lá.
Marginal Mente – E qual o nome do grupo?
MC Who? - O grupo se chamava “O Credo” o simbolo é esse aqui (foto mostra Tommie Smith (USA), vencedor da competição e John Carlos (USA), terceiro colocado nos 200 metros da prova de atletismo de 1968 na Cidade do México, os atletas estão com os braços levantados e punhos fechados, simbolo dos Black Panthers), essa era a nossa postura desde aquela época.
Marginal Mente – Como você vê o Rep hoje, essa nova escola?
MC Who? - Então o Slow da BF que é meu amigo do Rio de Janeiro tem uma definição muito interessante que inclusive muita gente compartilha, MC é o cara que tem compromisso com o hip-hop e como toda a nossa tradição, o rapper é o cara que lança mão do estilo, ele pensa de uma maneira mais egoica, o rep é egoico, meu nome é MC Whoo? W H O é uma pergunta, quem somos nós? Nos temos sempre que está questionando isso. Essa coisa de “EU”, os rapper’s tudo na época de eu sou foda, eu faço, eu subo, eu desço, esse monte de diss que tem agora, enfim, é um incentivo a criatividade mas se você perde a mão fica muito complicado, então o rep é isso, o rep tem que tá sempre se policiando, não que ele tenha que perder a sua verbi a sua dinâmica, mas ele tem que saber que ele tem compromisso com o povo, com o território e com uma ideologia. Então tem alguns caras hoje que lançam mão do estilo que não tem compromisso nenhum com nóis, mas beleza eu não sou o dono da arte, a arte ela tem essa dinâmica, mas do hip-hop é difícil alguns caras serem né? A gente sabe disso.
Marginal Mente – Quais os próximos trabalhos que vem por aí?
MC Who? - Então, essa metodologia proposta, é exatamente pra criar o máximo de narrativas possíveis, quanto mais contemplarmos a nossa oralidade, mais tecidos, é como se fosse uma trama, uma das poucas coisas da academia que vale trazer pra cá é essa coisa da complexidade, a complexidade é composta em tecidos, então você vai propondo, propondo e quebra linearidades são também egoicas, mitológicas. Sabe quantos caras pode sentar ao lado do Sabotage? Você que é de outra geração vai ficar assustado, pelo menos uns 4 ou 5  e duas meninas estão aí, com certeza, uma delas é a Dina Di, certo? Nos temos várias pioneiras que tem que ser contempladas, a gente caminha pra uma equidade de gênero, existe uma nova ordem da geração de gênero que o rap tem que conscientizar que o hip-hop tem que conscientizar, eu tenho enumeras amigas grafiteiras, rapper’s, tudo, aí tem que fortalecer, um salve pra Preta Rara minha parceira também que a gente tem trocado muita ideia. E é isso são esses tipos de convivência que nos temos que incentivar, eu sempre quando eu abro minhas formações, que eu to com as feministas eu digo assim: pô o Palestino, o Árabe, os caras tudo bota as mulheres pra dá tiro, aí quando chega em casa você quer que ela racha o aluguel, aí você não quer que ela fala nada? Nos temos que rever as posturas aí irmão
Marginal Mente - Quais são essas ações afirmativas, formativas que você propões?
MC Who? - Primeiro a gente dominar a sistematização da nossa cultura, isso é fundamental, que aí não precisa de mais ninguém, isso é fundamental. Promover esse dialogo da nova ordem das gerações de gênero, porque é estratégico, é no mínimo inteligente a gente ser unido e mais forte, é muito burro se a gente fizer o contrário, todas as colônias se fortalecem porque o dinheiro gira de 14 a 18 vezes dentro da colônia, nos não conseguimos, assim, se o negão vender o mesmo preço lá do outro cara, ele não vai, não compra, temos que fortalecer os nossos, compra minha camiseta caramba, entendeu? Eu quero compra a sua bata, o seu trabalho, nos precisamos nos fortalecer, dá ordem ao nossos pensamentos que foram oprimidos.
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