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Que Haja Cactos
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Surtos, Músicas e Letras subjuntivas ao subjetivo
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quehajacactos · 3 years ago
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Greta: Sobre o casamento da Filologia e de Gabriela Guimarães
vitaque cum gemitu fugit indignata sub umbras (Virgílio em Eneida, XI, 831).
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Marciano Capella, no quinto século da era comum, nos deixou uma grande poesia alegórica sobre casamento entre a Filologia e Mercúrio (o Hermes romano). A metáfora dentro dos versos é que o imortal mensageiro divino, a comunicação entre pessoas e deuses, ama essa moça mortal, representação de todo o conhecimento humano. Eu, por outro lado, serei igualmente metafórico e mais pretensioso neste texto. A pretensão que somente a modernidade permite: elimino o deus da história e proponho um casamento homossexual. Declaro Gabriela e a Filologia casadas. 
A primeira das noivas, além de uma cara amiga, é uma poetisa (poesia aqui admite o sentido mais lato de produção literária, isto é, inclui a prosa). Você pode ver mais escritos dela em Homerapoesia (ou no tumblr). Sempre achei essa brincadeira com o nome de Homero muito sagaz, já que só pode existir uma Safo. Aqui, porém, tratarei apenas de sua primeira publicação em livro, Greta (link para comprar o volume).
Mas antes de falar do livro de Gabriela, falo da outra noiva. A partir de vagas lembranças das minhas leituras filológicas, menciono dois conceitos importantes: desejo e fragmento. Um precisa do outro, pois somos impelidos a completar um quebra-cabeças incompleto ou, quando nos deparamos com alguma ruína, alguns escombros, imaginamos como teria sido aquela construção inteira. Nessa (mal)dita cultura ocidental, lacunas nos impelem a paixões.
E por falar em paixão, é sempre lícito comentar a etimologia da palavra filologia: phílos + lógos, isto é, a afeição pelo discurso. Se você achou que lógos era só conhecimento, recomendo que lembre da palavra diálogo. Então desejo, afeição, amor, amizade, qualquer palavra nesse campo semântico vincula-se à filologia e seu “poder”: preencher a falta pela evocação da presença.
GRETA, o resultado das núpcias
Assim, voltemos ao livro, publicado pela editora Urutau em agosto de 2020. A orelha de Leila de Aguiar Costa traz um belo texto sobre Gabriela e o livro, no entanto, eu não estaria escrevendo isto não fosse o prefácio Corpo fechado contra, por Leonardo Gandolfi. Não entenda errado, não é como se eu fosse só falar do prefácio do livro, seria algo meio tonto, mas ele é central para entender o meu ponto. Afinal, é nele em que a palavra filologia apareceu e gatilhou as ideias vindouras. 
Visto que fui latinista nos últimos anos, a “deriva etimológica” de descriptio - “abrir o que está hermeticamente fechado” (p.11) - evidentemente me cativou, mas não só isso. A própria filologia é meu objeto de pesquisa atualmente. Daí, retomando e sobrepondo várias teses de Hamacher, a filologia se explica pela ausência, pelo que não foi dito e as constantes tentativas de explicar essa falta. Logo, é infinita. É a linguagem da linguagem, a interpretação de um código pelo código, metalinguagem à enésima potência, tornando-se, portanto, adequada à literatura. 
Sobre a obra, ela está dividida em quatro seções (Cripta, Coro Phantasmagoria, Ao redor da mesa, Ariel a teus pés). Comentarei todas, mas demorarei na minha favorita, Coro Phantasmagoria. Aprofundemo-nos nessa gruta finalmente.
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CRIPTA
 Essa primeira seção conta com 6 poemas e dentre eles destaco o segundo, “A descriptio do espaço”, porque ele evoca uma magia repleta de experiência, nostalgia sensível por excelência. Diria eu que para os seres abjetos nascidos na metrópole, o diálogo é menos intenso, mas não impossível. As imagens lá postas: O misticismo que há na vida simples dos antepassados, lembranças infantis que subsistem em nós, netas e netos, ainda que hoje elas só possam ser acessadas por meio da memória. Também porque pude lê-lo antes de sua publicação de fato. 
Encerrando, o último poema, “Como uma haste fixada nos chãos”, registra poeticamente a esperança da semana anterior de encontrar milhares de pessoas unidas contra uma única seguida da dor e da amargura que viria no dia 27 de outubro de 2018 - o dia em que foi consumada a calamidade civilizatória e social que o Brasil viria a entrar. Dia 28, recordo-me de um dia cinza, muito cinza, em que era quase impossível pensar em contra-atacar, seguíamos apenas cantarolando que a espada que luta contra o mal morre com a lâmina cega. 
CORO PHANTASMAGORIA
Os primeiros poemas dessa parte já explicitam a relação com a escrita, que é um possível registro da passagem efêmera da existência. Aqui fica demonstrada a filologia que mencionei acima.
Antes, porém, destaco ser a palavra fantasma relativamente próxima à fantasia. O sufixo grego [-ma] carrega sentido de produto, parte de algo maior. Assim sendo, nossa relação com fantasmas é resultado de nossa fantasia, que, também em grego, pode significar aparição, manifestação.
Seguindo, o trabalho do filólogo pode ser explicado, grosso modo, nessa lida com quem já morreu e a interpretação do que o agora morto disse antes de morrer, tornar manifesto e aparente seu discurso. Apropriando-me dos versos de Gabriela, diria que o filólogo é:
“O porta voz de um fantasma publica o próprio corpo pulsão da escrita da morte” (2020, p. 27)
Embora eu saiba que aqui, a persona poética claramente se refere ao trabalho de poeta. Contudo, ouso aproximar ambas as coisas, filologia e poesia, já que elas realizam tarefas discursivas e imaginativas, isto é, por meio das letras, criar imagens que aproximam seu interlocutor de um significado anterior, invocar pela evocação. Não consigo descrever algo mais poético do que a filologia. 
Adiante, mais um poema que falará do caráter fragmentário - ou ausente - do discurso:
“A primeira vez que vi um papiro estava vazio. É fatal não reconhecer, não espere que alguém venha aqui e te abrace” (p. 29)
Por pouco, esse não é o meu favorito. O poder existente nesse último verso é sublime. Não arrisco em compartilhar inteiramente a minha interpretação, posso me expor demais, mas fazer com que a existência e a vida sejam vazias pela falta de outrem é um desperdício, por isso temos que contribuir nesse mundo da melhor maneira possível, para que não seja em vão e, quando fantasmas nos tornarmos, que nossos discursos continuem inspirando.
Segue então meu favorito, “Tentava dizer joana d’arc”. Cada palavra ali, cada verso, por mais objetivo que fosse, senti que falava comigo, sujeito; os versos finais (p. 31): “ele acabará, o mundo acabará. / a sua cartografia, essa relíquia entregue aos sóis / e aos invernos, não servirá de nada”.
Além disso, em I (daí começa a sequência numerada) os versos “Séc VII / se estabelece a medida tempo”, me fizeram pensar se coincidência existe, porque o texto que traduzo é exatamente sobre o tempo em uma obra do século VII. A ciência do cômputo já existia há muito tempo na história humana, mas realmente nesse século houve vários trabalhos sobre o tema, mas não vem ao caso.
A ilusão e o jogo em II são dignos de nota também: palavras despertam imagens, no espaço em branco da folha, você insere o que ali foi descrito. Em diante, as imagens começam a ficar mais férteis e os textos mais curtos, por exemplo uma “Narrativa Épica” (p. 36) de duas palavras. 
Um coro de fantasmas e a poesia para morte arrematam em XI e XII, respectivamente, pergunta e resposta sobre amar. A conjuração de memórias que tão poucas palavras trazem são senão mais uma vez reflexo de nosso desejo por um lado e do alheio fragmento por outro. Finalmente, na conclusão dessa poderosa seção, um brinde ao grupo de poetisas de Gabriela, ou melhor, seus restos mortais: 
“Já amamos a morte, aos ossos de sylvia plath aos cabelos de ana cristina césar” (p. 44).
AO REDOR DA MESA
Há poucas coisas tão universais quanto o é o existencialismo, por isso “entre o ser e o nada, você” (p. 53) é um verso para quem já se deparou com o vazio do existir. Contudo, sei que há coisas inimagináveis, não-poderosas ou não-objetos-de-desejo, para mim nessa seção. A aura feminina de Greta é patente a começar pelo título, mas igualmente com as ilustrações (comento a seguir). Ainda, o próprio vazio ou vacuidade é uma característica essencialmente feminina, segundo aprendi num curso de filosofia chinesa. A masculinidade, pelo contrário, possui a posse, completamente antinaturais somos então nós homens que preenchemos violentamente a ausência. Além disso, mencionando o “o Eu poético viril”, há algo consistentemente presente na poética de Gabriela: a readequação de fragmentos, logo uma ressignificação, evidenciando que uma mesma sintaxe pode ser reinterpretada em outros contextos, como se vê com “não espere que alguém venha aqui e te abrace”, já mencionado antes. 
Breve interlúdio: em um dos registros mais antigos da língua italiana, em sua transformação a partir do chamado “latim vulgar”, o chamado L'indovinello veronese, dizia ser o escritor alguém que ara e semeia o prado branco (um papiro vazio) com sementes pretas (as letras). Isso nos leva às ilustrações, de Gabriel Mendes, um caro amigo.
Sobre elas, os traços sutis-mas-fortes  endossam e reforçam o caráter de pouca presença. Em fundo preto com linhas brancas (como se imagem e texto fossem opostos complementares), figuras femininas surgem: uma garota tendo seu cabelo trançado, depois outra (?) com uma trança mais longa e levitando, corações etc. A minha ilustração favorita é a que abre a seção Ariel a teus pés, Joana D’Arc na fogueira. A forma dos traços é semelhante a outra ilustração contida nas primeiras folhas (ver acima), aludindo a uma vulva.
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ARIEL A TEUS PÉS
Sylvia Plath e Ana Cristina César unidas por meio do título dessa última leva de poemas. Encerrando o livro, minha predileção pelo último poema “Livro: o desaparecimento da mulher que digita” se faz por dois motivos: o primeiro deles é pelo finale ideal ao tema principal da obra, a ausência que traz o mistério inebriante, nesse caso pela “morte do autor”.  Também, o mistério como representado na releitura de "América Invertida” (1943), de Joaquín Torres García, a qual propunha que nosso norte deve ser o sul. Essa suposta inversão curiosa também aparece nos versos “cabelos enraizados no céu”. O segundo motivo está no verso final “No brasil não tem montanha”.
FIM
Afirmações certeiras como essa deveriam nos contentar ao invés de buscar significados mais profundos em fragmentos, em hagiografias, em enigmas etc. Todavia, não fosse isso, não teríamos poesia, nem filologia, consequentemente, não haveria Greta para entrar.
Finalmente, Greta é uma ótima leitura para quem é entusiasta do verso e da prosa poética, mas não só, não só. E, Gabriela, como de praxe, diz muito em muito pouco. No primeiro aniversário do livro, essa foi minha tentativa de ampliá-lo mas não encerrá-lo, pois é impossível - já dissemos: o amor pelas palavras é infinito. Também essa singela contribuição é feita sabendo que logo mais virão não só outros comentários, ensaios e resenhas sobre Greta, bem como muitos novos trabalhos de Gabriela, tornando meu discurso obsoleto e fantasmagórico. 
Post Scriptum 1: Não contribui no crowdfunding para a versão assinada pela autora, pois tinha a esperança que conseguiríamos nos encontrar presencialmente na UNIFESP antes do meu fim de graduação… Triste engano, havia um genocídio em curso.
P.S.2: Mais uma vez, como lhe escrevi no correio elegante em junho de 2019: sucesso em suas poesias! 
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quehajacactos · 3 years ago
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After storm, Jubilee - A review of Jubilee (2021), by Japanese Breakfast
Do you know when you’re trying to discover new songs and artists, but apparently nothing seems to please you? That was the path until I came to an amazing discovery two weeks ago. I explored a lot of playlists and new releases lists on Spotify until the moment I stopped on an album called Jubilee. The beautiful cover got me (you can check below by yourself) and the play button was pressed.
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The following text elaborates a little on Jubilee (2021). The picture of the cover was published in March on the singer’s profile on Instagram with the following caption: “Jubilee. Out 6.4.21. 🍊”. Proving her words, the album was released on the date and is the third studio album under the label Dead Oceans from the indie rock project Japanese Breakfast (2013-) led by Michelle Zauner, a “Korean-American musician, director, and author” born on March 29 in 1989 in Seoul, South Korea.
On the album, Zauner said to Pitchfork: “After writing two albums and a book about grief, I feel very ready to embrace feeling” And to Rolling Stone:
After spending the last five years writing about grief, I wanted our follow up to be about joy. For me, a third record should feel bombastic and so I wanted to pull out all the stops for this one. I wrote ‘Be Sweet’ with Jack Tatum from Wild Nothing a few years ago. I’ve been holding onto it for so long and am so excited to finally put it out there.
Contextualizing, the first albums: Psychopomp (2016) and Soft Sounds from Another Planet (2017) were made during a tough moment in Zauner’s personal life, when her mother was undergoing cancer treatment and, unfortunately, passed away. I checked  these albums on my own and, indeed, the aura was different when compared with the newest one, lyrically and musically. Moreover, I’d say that Jubilee is following the tendency of nostalgia, as we can see in Arctic Monkeys’ Tranquility Base Hotel and Casino (2018), The Weeknd’s Blinding Lights (2020) and Dua Lipa’s Future Nostalgia (2020) and even in some songs of Lady Gaga’s Chromatica (2020).
Also, the album length is 37’3”, that is, it fits absolutely in a routine, even an agitated one. As you listen, it’s highly probable that you feel it passed in a blink of an eye - not only as a distraction, the variety of styles in each song is really marked and noticed. We are now moving to impressions and comments on some selected songs, which were the album singles, respectively: “Be Sweet”, “Posing in Bondage” and “Savage Good Boy”.  By the way, the whole tracklist:
Paprika
Be Sweet
Kokomo, IN
Slide Tackle
Posing in Bondage
Sit
Savage Good Boy
In Hell
Tactics
Posing for Cars
The album opens really well with “Paprika'', a kind of marking for the transition in the aura, in which joyfulness is perceived from the very beginning. An available text on group’s Spotify profile and an Amazon’s product description explains more on the album “concept” (quote marks because it’s not a conceptual album, but there’s sort of a main theme, a geist): “From the moment she began writing her new album, Japanese breakfast's Michelle Zauner knew that she wanted to call it jubilee. After all, a jubilee is a celebration of the passage of time-a festival to usher in the hope of a new era in brilliant technicolor…”. It really elucidates on that aura.
Just overviewing some other songs: “Kokomo, IN” has nostalgic vibes also, a little sadness could be noted, but there's a hopeful mood in a while; “Slide Tackle” is delicate, even rhythmically rapid, and beautiful; “In Hell” is worthy of our attention because the contrast between melody/rhythm and lyrics’ content; in the end, “Posing for Cars” is the lengthier song, with six minutes, and it isn’t a problem, because the guitar solo that closes the album is pretty amazing, reinforcing Zauner’s origins in indie/alternative rock genre. After all, this mixture of various sounds, styles and genres’ influences reflects emphatically what the best exists in the new indie and alternative music scene and in this new project of Japanese Breakfast, or in their own consideration: “inner pop star with her desire to stay ‘extremely weird’ and walks us through her new album track by track”.
Be Sweet 
Specifically on “Be Sweet”, the videoclip directed by Zauner herself, supports the mentioned trendy nostalgia and it’s very clever once it fits perfectly with the line “I want to believe”, a motto of the TV Show X Files. Likewise, we can note that neon and the yellow color is predominant in this group’s work, by reason of its bliss. At the same time, the energetic percussion rhythm combined with the bass’ ubiquitous presence, the subtle guitar and the echoed synthesizer brings that old feeling. Lyrics, in fact, are sweet and soft, nothing more to add, just listen by your own count! ;)
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Posing In Bondage 
By the title and some verses, “Posing In Bondage” seems to be a song about sex, but is more than that - even I didn’t entirely reject the ambiguity. Indeed, the song goes dense and deep - instruments included - in the affection between two lovers. The persona singing is evidently apart from the one she loves and the absence, the lack, arouses the desire for “Closeness”, “Proximity” and “Bondage”. The melodic gap between the one-word-lines is permeated with a huge Grimes’ Genesis and Björk spirit. By the way, that same Spotify text says (my emphasis): “Inspired by records like Björk's Homogenic, Zauner delivers bigness throughout big ideas, big textures, colors, sounds and feelings”. Coincidentally or not, Homogenic was Björk's third album.
Savage Good Boy
Finally, “Savage Good Boy” (a live version, but it’s recommended to see the videoclip either, because it’s a sequence for Posing In Bondage) can be defined as unpretentious, a bit funny, but a critical song. Since I brought up Miss Anthropocene, that is, Grimes’ name, the lyrics talk about kinds of Elon Musk (then Mr. Anthropocene?), and other eccentric billionaires. Actually, according to Zauner, the composition was made after a headline she read on over-wealthy people buying “billion-dollar bunkers”. Look at the last chorus, which catches and summarizes the song theme: 
“I want to make the money 'til there's no more to be made And as the last ones standing, we'll be tasked to repopulate And as you rear our children, know it's the necessary strain They're the stakes in a race to live”. 
The future is in the hands of X Æ A-12!
Ending the discussion, Japanese Breakfast's newest album was an amazing discovery and it’s a right choice if you want to listen to good new indie music and enjoy a satisfying moment. Children, make it up to the album, I know it’s certainly better than just reading about it here! All in all, after the searching storm for something interesting and new, I came to a rainbow, in other words, Jubilee, combining different musical experiences as the rainbow has its sorted colors, turns your moment rejoicing.
References:
https://pitchfork.com/features/profile/japanese-breakfast-interview-jubilee-crying-in-h-mart/
https://en.wikipedia.org/wiki/Japanese_Breakfast
https://genius.com/albums/Japanese-breakfast/Jubilee
https://www.rollingstone.com/music/music-news/japanese-breakfast-jubilee-album-sweet-1133320/
https://music.apple.com/nz/album/jubilee/1553364590
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quehajacactos · 3 years ago
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Uma playlist de uma música por dia até o fim do ano
   Texto rápido, improvisado e feito para testar escrever um post sem o nosso modelo (sem a badarosca do html, amém). Talvez algumas cores, fontes e outros detalhinhos de nossa autoria se percam. As imagens são consideravelmente aleatórias.   
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   Eu, Gabriel, há um mês, comecei uma playlist no YouTube e no Spotify chamada Uma música por dia até o fim do ano (23/06 a 31/12/21), e o nome não poderia ser mais autoexplicativo, como se fosse um diário musical. Quanto ao processo de escolha, é relativo: costumeiramente, eu ponho a música na lista no fim do dia; uma música capaz de sintetizar e representar boa parte da jornada. Há, porém, alguns momentos em que eu insiro a música no começo do dia, pois desejo que ela estabeleça a tônica.
   Antes de dar corpo a esse texto breve, explicando o porquê de algumas músicas, vale notar que há bastante coisa diferente. De funk BR à declamação de poema em latim, de sertanejo noventista ao alternativo mais recente, de Tim Maia a Rubel e assim vai. Não é uma tentativa de ser (me perdoem o palavrão) eclético, é somente para ressaltar a diversidade de músicas que há por aí, mas é inegável que eu tenho minhas preferências (rock, música brasileira ;)).
   23/06 - Homem, Lupe de Lupe.
   A música de abertura da lista é da banda que certamente é a minha mais ouvida nesse ano. Homem é do primeiro EP da banda e foi escolhida por dois motivos: 1) estava aprendendo a tocá-la no violão naquele tempo, sob a ajuda e tutorial da Rayane (com quem escrevi o texto anterior) e 2) estive refletindo sobre as coisas que perdemos para sempre, mas dentre essas coisas, principalmente as pessoas, especificamente os amigos.
   28/06 - Be Sweet, Japanese Breakfast.
   Uma descoberta maravilhosa que fiz depois de procurar um bocado por música nova. Tive que fazer uma review sobre o álbum Jubilee dessa banda para uma das matérias da faculdade, então é possível que eu aproveite o texto e poste aqui também, só tem que traduzir. Sobre a música, é uma gracinha.
   02/07 - What a Life, Scarlet Pleasure.
   Trilha de um filme muito bom que assisti naquele dia, Druk - Mais uma Rodada.
   07/07 - Into the Storm, Gojira.
   Escolhi só para ressaltar o caos que está sendo o final do curso, mas não tem outra escolha exceto se jogar na tempestade e tentar sair vivo.
   12/07 - Pandemia, Vitor Brauer.
   E não só ela, incluo por extensão a música do dia 14/07, HOMEM DA INJEÇÃO II, de Rubel. A razão é que fui vacinado nesse dia. Fora lixo!
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   Por fim, ainda estou escolhendo a de hoje, 23/07. Provavelmente, pela quantidade de coisas que eu tenho que fazer e disposição que estou para encará-las é Harder, Better, Faster, Stronger - Daft Punk, clássico de 2001. Inclusive, ainda me é um pouco difícil aceitar o fim do grupo. Até o próximo!
   P.S.: Vou virar influencer - ou algo parecido com isso -, me sigam em @gaquinoddm no Instagram. Em agosto, já existem dois textos semiprontos para serem postados.
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quehajacactos · 3 years ago
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Lula, o melhor e mais autêntico do novo rock nacional
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Capa por Suzanne Horta. Disponível em: <https://lupedelupe.bandcamp.com/album/lula-2>
Caralho bicho, cês são louco de fazer... mas tá certo, tem que fazer mesmo, foda-se, vocês já fizeram tanta coisa aí que... sei lá... a galera comenta, acho que tem mesmo que meter esse nome e... se vocês não fizerem ninguém vai fazer então manda ver... do caralho. - Caetés ft. Fernando Dotta, Lupe de Lupe (2021).
Ex-Trator/Introdução
O interlúdio de 36 segundos na voz de Fernando Dotta, do selo Balaclava Records, explica a razão de o texto anterior estar ultrapassado. Isso porque o disco vinha sendo divulgado com o nome de Trator, e chocou tanto a nós, Rayane* e Gabriel, quanto aos demais fãs da banda Lupe de Lupe, uma vez que o álbum foi revelado com seu nome original, Lula; um verdadeiro plot-twist. 
Para começar, Lula conta com 16 faixas, sendo três faixas compostas (logo, cantadas) por cada um dos cinco integrantes mais o interlúdio e totalizando uma hora de extensão e duração. 
Muitas coisas mais podem ser ditas acerca do álbum, coisas essas explicadas pela própria banda (recomendamos fortemente a leitura) e percebidas por nós durante a nossa sessão de audição no Spotify no lançamento inclusive. Um exemplo: o fato muito peculiar de as músicas serem mais -  tal qual o ex-presidente - democráticas e pop. Pop pois as músicas são mais curtas e influenciadas por ritmos brasileiros, de forró a reggae. Ou ainda, nas palavras da própria banda, "palatáveis", ou seja, o grupo se reinventa e quiçá “amadurece” seu som, mas sem perder a vívida essência.
Ademais, o nome do álbum se justifica porque há, em algumas faixas, áudios aleatórios de Luiz Inácio ao fim. A capa do álbum mantém o trator - esperamos que não tenha sido superfaturado-, apesar da (re)renomeação. Mais, cidades de todas as regiões do país foram escolhidas, tornando o álbum uma espécie de guia turístico - ou uma aula de geografia, se você pesquisar cada cidade -, bem como conectando toda essa terra continental por meio da música.
Assim sendo, Lula é o Norvana dos sons da banda de BH, já que une todas as tribos, ou seja, é um ótimo pontapé inicial para ir além de Gaúcha e Eu Já Venci. Lembramos que aqui só serão tratadas as músicas que não foram singles - se quiser saber das impressões sobre eles, de novo o link. Finalmente, partamos nessa viagem e conheçamos o Brasil, ou melhor, Lula (eis o link para ouvir o álbum completo no YouTube, mas também está disponível em outras plataformas como Spotify, Bandcamp).
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PELOTAS
G: Pelotas traz, no ritmo do baião, o que a música brasileira contemporânea tem de melhor: a romantização de um relacionamento abusivo. Brincadeiras à parte, a composição de Renan Benini, baixista da banda, conta um causo muito alegre e envolvente do eu-poético e suas aventuras amorosas nas festas de baião. 
Com todo esse cenário e propósito, é impossível não querer dançar ouvindo, que ao permitir a entrada de outro ritmo popular nos instrumentos a torna tão contagiante. Também, não se imaginar naquela situação é difícil, já que os primeiros versos descrevem o começo da conquista e do puxar pra dançar, “atarracados” e “arroxados” com uma imageria belíssima: Danço girando igual roleta de cassino/ (...) / Só no embalo até você se apaixonar / Te levo aos céus, ver estrelas caindo / Faço um pedido só pra ver você sorrindo / Te rodo até você podеr se aconchegar, oh
Até que vem o cativante refrão sobre a palavra da amada ser ordem, além da mudança de personalidade e hábitos que o sujeito faz “pra ser o seu amante”. As repetições do refrão tornam a música ainda mais atraente à dança.
Ao fim da faixa, temos a primeira delas que contém um áudio do ex-presidente operário: E depois eu deveria me mancar e parar de falar, mas eu não paro de falar. Tal fala reforça as ideias das linhas iniciais sobre a tensão entre ser um “enxerido despojado” e não ser o “tímido calado”.
SOROCABA
R: E ele voltou - talvez não seja a música normal que vai te agradar. Vitor Brauer entrega aquilo que a banda tem de mais legal, na minha opinião: sua voz, que não agrada a todos, e as guitarras ora melódicas, ora caóticas.
A priori, Sorocaba parece tratar de um antigo relacionamento, entretanto, vai se desdobrando sobre ocorridos, verdadeiros ou não, na vida do compositor rodando pelo Brasil. A música carrega uma mensagem de que, apesar de todas as situações, o importante é ser livre.
A verdade é que eu virei um chato / Mas é porque eu acho / Que às vezes por causa de alguma coisa / A gente tem que ser chato. Nessa onda de isenção - “Nem de direita, nem de esquerda.” -, vendem a ideia que não devemos reclamar do caos brasileiro. Muito pelo contrário, devemos reclamar daquilo que não nos satisfaz ou representa. Pensando no momento político-social que estamos, a voz é aquilo que motiva a luta, sem a voz, Lula - tanto o álbum, quanto o político - não teria essa força. 
Não vou deixar, não vou deixar Não vou deixar e ver o pau quebrar E não falar E não cantar
SALVADOR
R: A música mais longa do álbum, com 5:07 - nada comparado a outras da banda, como Carnaval - é uma das minhas favoritas. A cadência lembra a de uma marchinha de carnaval, com um começo calmo mas alegre.
Já na letra, vemos a relação familiar, sugestivamente parece ser uma guarda compartilhada, mas o foco fica na felicidade em estar com a filha Cristina: "A vida na estrada é infeliz" / Cê me diz / Queria ver a filha / "Ela vai ser atriz de novela" / Espero que ela não tenha o seu nariz.
Eu acho muito bela a relação dos adultos com bebês, as expectativas e alegrias bobas apenas com a presença do novo morador desse planeta. É, talvez, a relação mais pura, afinal, um bebê não pode te oferecer nada em troca. Entretanto, o problema começa quando as expectativas e alegrias se tornam cobranças e pesos na vida dos filhos, como aparece ao final da música.
A transição entre alegre e calmo para desespero e sofrimento é muito sútil e rápida. É interessante notar como aquele momento de êxtase com a filha encobria uma relação que já era ou viria a se tornar problemática, as questões masculinas nas relações afetivas, casamento ou paternidade.
Toda desgraça na minha vida faz sentido Eu não fui homem, só era masculino É mais que justo pelo mal que fiz a minha Elis Nem lamentei e Cristina foi embora
UBERLÂNDIA
R: Pode o baterista de uma banda ser um gênio? Cícero surpreende com suas composições no álbum: Coromandel, Maceió e Uberlândia. Essa contém frases paralelísticas e “intermusicalidade”.
A faixa é bem romântica, um amor de perdição causador do sofrimento no eu-lírico. Veja bem, imagine aqueles dias que não se levanta da cama, perde-se a fé no amor e outras tantas lamentações. Ainda, o ritmo não é dançante, como outras do álbum, mas ele serve bem para aquele batuque com o pé ao menos. Nota-se que, apesar da composição ser de um baterista, a bateria segue um padrão com algumas viradas, mas não encontraremos solos magníficos.
Amor perdido, é um amor perdido que nunca sai do meu pensamento. Amor perdido, é um amor perdido que ainda causa mui sofrimento Há dias na vida, que a gente pensa que não vai conseguir Há dias na vida, que é bem melhor deixar de tudo e fugir
 Impossível não notar a imitação com Não Creio em Mais Nada, canção de um dos maiores compositores românticos, Paulo Sérgio, nesses dois últimos versos. Uberlândia me passa a impressão de não termos controle do destino, assim esse desespero, de não controlar nem nosso futuro ou amor, que leva à vontade de desistência. Eu, Rayane, aposto que em algum momento, entre 2020 e 2021, você pensou em largar tudo para evitar dor de cabeça e frustração. Normal. Quase um sentimento patriótico brasileiro.
CONTAGEM
G: Das três letras de Jonathan Tadeu para o álbum, essa é, indubitavelmente, a mais reflexiva. Mas calma, não chega a ser triste, não só as guitarras arrastadas, o baixo sóbrio e a percussão a la samba clássico, mas também o canto e letra trazem o tom de melancolia e austeridade. 
É tarefa árdua comentar essa faixa, precisamente por sua profunda síntese, Contagem é o que é, e pode ser mais. A história ali relatada trata de vizinhos, e um deles está decidido a sair de Contagem para melhorar de vida. O outro vizinho, por outro lado, está ciente de que isso não basta para melhorar. Veja-se na canção (a ênfase é minha): 
Nos churrascos de domingo lá em casa Você aparecia com os seus filhos E me dizia que em breve tudo iria ficar bem Quando vocês saíssem de Contagem Mas sair de uma cidade não é nascer de novo Eu juro que eu tentei te avisar Eu juro que eu tentei te avisar Meu vizinho sеm nome
É certo que você conhece alguém que acredita nessa mudança profunda do ser, como se nascesse de novo, por meio da mudança territorial. Considero e partilho da opinião da persona que isso não basta para mudar também.
Na saída, temos mais um áudio de Luiz Inácio: Qual é a grande preocupação que eu tenho? É você permitir que a máquina te conquiste... sabe, o meu medo é esse, é que a máquina conquiste a gente. Qual a possível relação disso com a letra?
PORTO VELHO
R: “Porque você é pó, e ao pó voltará." Gênesis 3:19.  Confesso que foi um processo gostar dessa música, em razão da sua difícil interpretação, talvez por conta dos versos curtos. Todavia, sintetiza os desesperos e questionamentos humanos, do nascimento ao obliterar.
Destaco, também, o carácter religioso de Porto Velho, que está bem relacionado às dúvidas existenciais da humanidade. “Pois pai, Deus pai” aparenta ser uma súplica desesperada - vocalmente, também - a Deus por respostas. Outrossim, a conclusão: somos banais, aos poucos deixamos de existir, mesmo sem respostas. É válido lembrar que a presença da religião nas letras da banda é comum, principalmente em Vocação. 
MACEIÓ
G: Maceió me divide. Ao mesmo tempo, acho uma experiência muitíssimo interessante pela evidente influência do reggae, o que causa uma musicalidade massa, via ritmo e melodia, mas a letra me cativa pouco. E isso é curioso, porque a letra também é dúbia e recorre a antíteses - mas clichês ao extremo, como o amor enquanto prisão, do sonho que não se deve acordar, a amada que domina os sentimentos etc. De qualquer modo, “bicho… vá à lua!”.    
SANTA MARIA
R: A canção que mais alegrou meu coração na primeira vez que ouvi. Obrigada, Jonathan Tadeu, por essa música leve, com letra juvenil.
Santa Maria fala sobre um grupo de amigos em situações simples e cotidianas, como festas e mensagens no whatsapp. Mas é na simplicidade da faixa - tal qual a simplicidade das amizades - que está o encanto. 
Diferente de Contagem, aqui os personagens querem sair da cidade, tratando isso como algo natural. Assim, a nostalgia da cidade e das amizades se misturaram no coração dessa “gangue”. Isso é tão Lupe de Lupe, pensando que apenas Jonathan e Vitor permaneceram em Minas Gerais. 
No solo final, que dura pouco mais de 2 minutos - a meu ver, o mais bonito, pois deixa essa reflexão sobre a amizade. Só penso que faltaram palavras de Lula para encerrar com mais força. 
NATAL
Antes de ouvir essa, recomendo ouvir Timidez, do grupo Cavalo de Pau, porque eu, Gabriel, tenho a hipótese maluca de que há uma parte igual da melodia. No mais, a vibe transmitida por Natal é massa demais - a melhor, sem mais. Que nem Coromandel, é uma música para quem quer ser feliz com alguém, “mesmo sem ser perfeito”. Faltam músicas sobre relacionamentos felizes nesse país, essa é a grande verdade.
Nós percebemos nessa faixa a metáfora ou a tentativa de aproximar a vida cotidiana de um casal a atitudes políticas, como se a amada e o país fossem uma entidade só. Evidência disso pode ser vista em: conheço seus problemas / conheço seus sentimentos e Pois a mudança só vai vir / Se a gente se levantar. Como se a mensagem nas entrelinhas fosse a de que devemos entender as imperfeições de nossos campos afetivos para nos tornarmos não só indivíduos melhores, mas também seres sociais melhores.
Para mim, Rayane, ela é a melhor do álbum e digo o porquê: Forró e rock, nessa mescla rítmica, é algo completamente novo. A canção é animada de verdade; consigo imaginar pares dançando em uma noite de festa. 
BRASIL NOVO
G: Encerrando o álbum, Brasil Novo (PA) faz o jogo de palavras óbvio com o título. O “exílio”, aparentemente, torna intensas as composições sobre a terra natal, basta lembrarmos do clássico escolar Canção do Exílio (1848), poema de Gonçalves Dias. Embora Gustavo Scholz não esteja exilado, só com a filha na Austrália, a comparação pode ser feita haja vista onde gravou seus vocais e guitarras. 
O tom geral de Brasil Novo é o da esperança tímida, segundo noto. O cenário de imagens trágicas e de tristeza é contraposto por imediatos versos otimistas e de luta. Honestamente, sinto vontade de chorar com essa música, pois me faz atento da realidade em que estamos inseridos, porém que há chance de mudança por meio da insistente resistência. 
Essa bela e tocante música encerra bem Lula, novo álbum da banda mineira Lupe de Lupe, tal qual - e com a mesma mensagem - Vocação (2018) encerra-se com Lâmina Cega: não perca a esperança, venceremos. O solo de guitarra final é incrível e sensível, acompanhado de batuque e pandeiro à moda brasileira. Então, o último áudio: “Se havia alguém no Brasil que duvidasse que um torneiro mecânico, saído de uma fábrica, chegasse à presidência da república, 2002 provou exatamente o contrário" - Luiz Inácio ‘Lula’ da Silva em seu discurso de posse, em 01/01/2003. Aplausos e fim.
Considerações Finais
Nossa conclusão é que esse álbum entrega uma renovada Lupe de Lupe, uma experiência diferente de todos os demais álbuns anteriores da banda, tão boa quanto. Por fim, dizemos que não brilha só uma estrela, mas cinco. Poderia ser a nota, mas nos referimos aos rapazes e seu trabalho nesse novo lançamento. Um sucesso e, sem dúvida, um dos destaques da música independente brasileira nesse ano. Foda.
Os respectivos Top 5 (incluindo os singles). 
Gabriel: Natal, Cabo Frio, Coromandel, Brasil Novo e Contagem.
Rayane: Natal, Goiânia, Uberlândia, Salvador e Santa Maria (mas eu sou indecisa, logo, poderia ser qualquer uma, exceto Maceió).
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*Rayane é estudante de Letras na Universidade de São Paulo (USP). Mais, é uma grande interessada em música brasileira (mas não só, não só) e literatura, além de uma excelente e estimada ex-aluna.   
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quehajacactos · 4 years ago
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Os singles de Trator, de Lupe de Lupe
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“Tem que acreditar, é o que eu falo, tem que acreditar. Um dia cê chega lá” - Vitor Brauer em Eu já Venci (Ao vivo, 2015).
Aviso: Faz tempo que não escrevo, então tá ruim mesmo. Tenho total ciência disso, mas foi só para não perder a oportunidade.
A banda mineira Lupe de Lupe está para lançar um álbum no dia 18 maio de 2021, quase três anos depois do lançamento de Vocação (2018). O disco foi intitulado Trator e cinco singles (o link leva para uma playlist no Spotify) foram lançados entre março e abril para apresentar o novo trabalho do barulhento e visceral grupo. E é quanto aos singles que me proponho a apresentar impressões e comentários no texto que se segue.
Os singles foram lançados quinzenalmente, começando por Goiânia em 1 de março. Daí vieram, respectivamente, Cabo Frio, Fortaleza, Resplendor e Coromandel. Lembro-me de que a partir do lançamento da segunda música já tinha notado o padrão e “conceito” (soa ruim falar isso hoje em dia) de Trator, o que foi confirmado com a terceira e as demais: todas as faixas seriam nomes de cidades.
Ainda, acho um veículo um tanto inusitado e inadequado para uma tour pelo país, no entanto propício e adequado à Lupe de Lupe e seu estilo, por vezes, agressivo. Antes de chegar propriamente ao tema desse texto, relatarei brevemente a minha experiência com a banda, experiência iniciada em 2018, mais especificamente dia 17 de maio de 2018, “uma quinta-feira comum” e meu aniversário.  
Contextualizando, em 2018, o primeiro single lançado para o álbum Vocação foi O Brasil Quer Mais. Aquilo foi a coisa mais diferente que eu já tinha ouvido até então, me encantei de cara. Não esperava uma pedrada daquela nos ouvidos, do tipo que deixa sangrando mesmo. O zunido ainda persiste. Imagina eu, contente em minha bolha ideológica, ter que ouvir que parte da culpa do cenário assombroso que se desenhava naquele ano era também meu e dos meus pares; foi sublime. Se implicar no problema, fazer a tal da autocrítica. Vale conferir essa música (antes ou depois de ouvir as novas), porque - e explicarei adiante - há vestígios do passado nesse presente, por exemplo: a capa do single de O Brasil Quer Mais são dois trabalhadores em um trator. Não descarto a possibilidade de mero acaso, contudo no segundo ato da mencionada canção, chamado A Punição, a história ali relatada parece continuar em Goiânia.
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Enfim, partimos para conhecer essas cinco cidades de uma vez. No entanto, a lista não seguirá a ordem de lançamento, mas sim minha ordem de preferência; Mais um último aviso: Sei que eu poderia apresentar mais a banda, as faixas mais conhecidas, os integrantes, aquela estrutura tradicional de texto informativo, mas não o farei. Comentarei o que achar necessário ao longo do texto e que vocês descubram o resto aí na internet.
CABO FRIO
O baixista do grupo, Renan, mais uma vez encanta com sua poética simples, por vezes até juvenil, completamente justificável em Cabo Frio, como se verá. Que fique claro, porém, que essas qualificações não são pejorativas. Digo isso por conta de Gaúcha, maior sucesso da banda, do grande álbum Quarup (2014). O número de visualizações e reproduções dessa é superior quando comparado a outras músicas da banda. A melodia devagar e ritmo suave no começo, envoltos pelas letras e palavras de amor inocente e bobinho tinham tudo para tornar Gaúcha de fato o sucesso que foi.
Voltando a Cabo Frio, segundo Renan, o lugar é uma utopia, onde “todos os amores vão”, não importando a condição, ou seja, “nem ficar rico/ tão pouco ser da cena”. Em tempos tão performáticos quanto o atual, de status e stories, um lugar livre de tais coisas é de fato almejável. O baixista e compositor fala sobre as aventuras vivenciadas ali na adolescência com um sentimento único de nostalgia positiva. Como era de se esperar, o baixo que segue na canção é o excelente destaque, evidentemente, e, para os mais atentos, tem até alusão à Legião Urbana, a qual de fato era a banda de jovem dos anos 90 em “E é claro que o sol…”.
GOIÂNIA
Saindo dessa bela atmosfera litorânea, adolescente e emocionada, paramos em Goiânia, na qual, pelo contrário, é um distopia de “tiro, abuso e morte na encruzilhada”. O começo repetitivo e aparentemente despretensioso de Goiânia, bem como a humorada e difundida expressão “passar pano para alguém” fazem a música soar tranquila e inofensiva.
Vitor Brauer, contudo, entrega uma crítica feroz e caoticamente enérgica à cidade, da qual foram geradas tantas duplas, que espalharam sua palavra por meio de seu templo, a Villa Mix. Dupla também é a vida das duplas, pois “de um lado os hits de sucesso/do outro a raiz do retrocesso e esse furo”, o que pode nos levar a pensar, por exemplo, em Rodolffo, cantor sertanejo e ex-BBB. Sabemos sua canção, Batom de Cereja, ter alcançado um sucesso estrondoso, mas também dos comentários “chucros” feitos durante seu tempo no programa.
A diss, “literalmente traduzida por canção de insatisfação”, pode ser sobre ele ou quaisquer duplas sertanejas. Personalizar é menos importante. É pertinente notar, por outro lado, como a “dupla cancelada” também seria possível de servir ao casal Salma e Mac, respectivamente, cantora e guitarrista da banda indie goiana Carne Doce. Mais poderia ser dito acerca dessa treta, mas eu não sou bem informado, nem fofoqueiro. Ressalto somente que, quando a música foi lançada no Youtube e as especulações sobre quem seria a tal dupla começaram, muitos comentários mencionando a dona de Amor Distrai (Durin) e Artemísia apareceram e, horas depois, sumiram. Para evitar confusão, claro. Eu vi, mas prefiro que tudo passe pelo verniz de uma suposição.
Também, eu disse que Goiânia parecia ampliar um assunto discutido em O Brasil Quer Mais:
Outro dia um músico que foi exposto no facebook Me procurou pra saber porque eu disse pra não gravarem com ele Se eu conheço a menina, se eu conhecia ele Se eu sou um justiceiro ou sei lá o que E resolveu me ameaçar e me ameaçar pra que?
E suponho, juntando por A mais B somente, que o músico em questão está diretamente relacionado ao “cara que você defendeu”, você, nesse caso, a mencionada dupla. Todavia, é sempre lícito lembrar do caráter universal do fazer poético/musical, não só delimitado a uma determinada circunstância, mas também a situações futuras e fora do nosso conhecimento atual, principalmente sabendo que “nada se perde/ tudo se transforma/ menos em você/ Goiânia”.
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Imagem disponível em: <https://www.botequimdeideias.com.br/flogase/lupe-de-lupe-ao-vivo-no-showlivre/>
COROMANDEL
Deixando a capital de Goiás para trás e indo ao triângulo mineiro, chegamos em Coromandel. O alto astral volta aqui, prometo. Inclusive, isso é Lupe de Lupe, de acordo com minha experiência: ternura, amor, ataque, caos e energia alternadamente justapostas, uma fusão de sensações. Em Coró, Cícero, baterista, com participação de Fernando Motta, outro artista da assim chamada Geração Perdida de Minas Gerais, imprime redenção e festa nessa canção. Tem festa melhor do que a de casamento? Sim, mas essa descrita parece igualmente boa. 
A alegria transmitida nessa música, honestamente, me livrou de pensamentos depressivos por uma semana, vejam o efeito! “Fiz merda demais/ Fiz merda sim/ Mas ninguém nasceu para ficar sozinho/ E eu voltei” me fez acreditar que a vida vale a pena ser vivida sim, ao contrário do que diz a rede social mais nojenta existente, o Twitter, e seus passarinhes. 
Por fim, o riff principal tem esse espírito meio rock adolescente dos anos 2000, que, em minha opinião, é perfeito para a abertura de um anime shounen. Só ficou o desejo de beber um gole de Coromandel, me perder e me achar lá. 
FORTALEZA
Não fosse Coromandel, essa seria minha terceira. A música é boa, ainda que fale de amor. Aproveito para explicar porque não gosto de canções de amor. É rápido: já tem muita, é um assunto batido e cria muita idealização, problemática na maioria das vezes. Logo, aquelas músicas que tratam do tal sentimento e me agradam certamente têm algo diferente. Esse é o caso de Fortaleza.
Esse amor terreno de Jonathan Tadeu, guitarrista, e ao mesmo tempo capaz de despertar um sonho agradável como lá descrito me fizeram dar uma chance de que ainda existe forma de expressar o amor sem muita firula e outras coisas desagradáveis e desnecessárias. Em outras palavras, verdadeiro mas simples.
RESPLENDOR
Para fechar a viagem, Resplendor. Serei breve e a razão é simples, eu não entendo a música. Veja, mesmo que concorde ser sua parte musical, isto é, instrumental, muito bonita e agradável, as reflexões e as imagens por meio da linguagem criadas pelo Gustavo Scholz, guitarrista, igualmente admiráveis e cativantes, a letra em seu conjunto não me diz algo que me toque e me faça chegar a uma conclusão satisfatória… Vai ver, claro, a intenção era essa experiência de versos rápidos e justapostos, porque eu apenas a senti, mas não a entendi. Mas isso sou eu.
Bom, galera, estou com as expectativas altas para o Trator, a ser lançado daqui três dias (escrevo em 15/05), e essa turnê por diversas cidades terminando em Brasil Novo, nome de um munícipio sim, mas sinto que tem coisa mais aí nesse título. 
Encerrando pelo propósito, quanto aos singles, meu conceito final é que todos são bons e a Lupe de Lupe ofereceu-nos mais uma vez obras estimáveis. Dito isso, é válido conferir também, tanto se gostarem quanto se não, os álbuns anteriores e outras músicas para além dessas.
P.S.: Eu, Gabriel, tenho alguns textos já rascunhados e algumas ideias. Em breve, tentarei trazê-los. Tem sobre poesia, literatura, música, política e outros surtos. Abraço!
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quehajacactos · 4 years ago
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20 ANOS DE KID A
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Radiohead é aquela banda inglesa, com mais de 30 anos de carreira e nove álbuns de estúdio e, que mesmo assim é mais conhecida por Creep, seu primeiro single. Sua música é, por vezes, definida como “alternativa” e é cultuada sobretudo por millennials. Além disso, quanto a nós, Larissa e Gabriel, a banda é um ponto em comum, o que permitiu muito da nossa aproximação e amizade. Seguindo, a experimentação é uma marca muito positiva do grupo e que permite que seu som soe sempre excêntrico. Apesar da consistência sonora nos três primeiros álbuns (Pablo Honey, The Bends e Ok Computer) é a partir do Kid A, nosso homenageado em virtude do vigésimo aniversário, que essa característica foi elevada à enésima potência, definindo o som da banda desde então.
Nossa experiência Eu conheci Radiohead na época em que a MTV ainda era o canal 32 da TV aberta. Eu assistia diariamente, assim como o Gabriel, que, no entanto, foi introduzido à banda um tanto mais tarde pelo seu amigo Caldeira, com quem foi ao show em 2018. Aliás, nós dois fomos ao show, mas não nos conhecíamos, estávamos em lugares diferentes no local do evento. Uma terrível coincidência!
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O Álbum
Kid A, o nome do primeiro ser clonado, a primeira das crianças, que talvez tenha inspirado a Grimes e Elon Musk a escolherem o nome de sua filha, X Æ A-12. Brincadeiras à parte, sabe-se que após o lançamento e ingente sucesso de Ok Computer (1997), a banda passou por maus bocados. Cada um dos membros tinha ideias para o aguardadíssimo sucessor da obra de arte do grupo britânico. Mesmo com as incertezas no “como fazer”, decidiram por uma mudança severa na musicalidade, abandonando as três guitarras (típicas dos álbuns anteriores) e inovando com instrumentos de música eletrônica.
O que parecia um suicídio, quer dizer, uma transformação radical que poderia levar muitos fãs, entusiastas de Radiohead e críticos musicais a largar a banda, foi, na verdade, um acerto. Foi então que Kid A recebeu o Grammy de Melhor Álbum Alternativo e uma indicação para Álbum do Ano, além de suas músicas e o disco em si ficarem entre os mais ouvidos e prestigiados de 2000. A estratégia comercial foi ser anticomercial, quer dizer, o disco não contou com nenhum single lançado previamente, apenas alguns trechos curtíssimos em intervalos da MTV. A curiosidade atiçada contribuiu para seu sucesso. A capa, igualmente, possui um contexto interessante, somado ao que o próprio artista Stanley Donwood afirmou, ou seja, ter sido inspirado pela violência da guerra do Kosovo e os sentimentos que esta lhe causou. Talvez ousemos dizer que a virada do milênio tenha influenciado em algo também, o pessimismo quanto ao “progresso” da sociedade emana não só das músicas, mas também de sua arte visual. Nas palavras de Stanley: “A ideia assombrosa das montanhas era que elas fossem essas paisagens de poder, a ideia de torres e pirâmides. Era sobre um certo tipo de poder cataclísmico existente na paisagem”. Inclui-se no processo artístico o uso de facas (e palitos) para as pontas agudas. Para mais informações pertinentes recomendamos (infelizmente só em inglês): KID A, The Greatest Left Turn In Music History.
Impressões sobre o Kid A
Ambos concordamos que “Everything in Its Right Place” abre muitíssimo bem o álbum e dá a tônica (ou não, uma vez que uma das técnicas utilizadas nas composições foi a ausência de tons definidos) do que vai vir a seguir na obra e até no álbum seguinte, o Amnesiac (2001). O caráter “dadaísta” já na primeira música antecipa a quem ouve que estará diante de algo díspar.
Ainda, lembramos-lhes de uma curiosidade não tão relevante: The National Anthem é o nome do primeiríssimo episódio de Black Mirror, mas a música em si será abordada posteriormente pela Larissa com minúcia e atenção. Outra digna de menção é How to Disappear Completely, cujo nome faz referência a um livro que leva quase o mesmo título, e geralmente faz parte das playlists mais tristes e depressivas imagináveis, bem como é recorrente no Tumblr.
Músicas que gostamos e destacamos
Gabriel: Mesmo que toda a obra apresente essa proposta diferente dos trabalhos anteriores, a volta das guitarras em Optimistic é bela, tornando singular até o que lhes é típico, embora o contexto/plano de fundo seja de fato único. Da mesma forma, o tema apresenta uma contradição atrativa: O tal otimista, aqui tratado por “essezinho aí”, está cercado por um ambiente horrível. Essezinho aí consegue enxergar todos os problemas, causados principalmente pelo “mercado”, e mantém-se indiferente. A música é riquíssima, com referências a Nietzsche e Orwell por exemplo, porém nosso tempo é parco para dar conta de tal infelizmente, por isso recomendo ouvi-la muitas e muitas vezes para retirar o sabor “feio-mas-bonito” de cada verso arranjado em seu todo.
Idioteque: Sendo sincero, essa música é um dos retratos mais fidedignos de toda a aura do álbum. A arte da capa de aspecto sublime, isto é, assustador e belo ou escuro e claro ao mesmo tempo, retrata grandes montanhas de gelo em um cenário quase distópico e no trecho:
Ice Age coming Let me hear both sides [...] Throw it in the fire
O tom paradoxal e angustiado de versos repetidos cada vez mais altos revela o geist, o espírito, do fim dos anos 90/começo dos 2000 quanto às mudanças climáticas do mundo e suas perspectivas (alarmista e negacionista). Por fim, a sonoridade caótica, “monótona” e computadorizada (“faster Jonny!”) usando samples das primeiras músicas eletrônicas situa muito bem essa energia de desespero que a música cultiva e traz, como que de volta às paranoias do Ok Computer. “Isso realmente está acontecendo!”
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(por Ron Ginzburg, In: Pinterest)
Larissa: The National Anthem: Foi apenas enquanto pensava no que escrever sobre essa música que notei que, assim como ocorreu com Motion Picture Soundtrack, também passei a admirá-la mais ouvindo uma versão ao vivo. Eu havia recentemente descoberto como baixar vídeos do YouTube e minha família havia adquirido uma televisão com entrada USB. Acredito que lendo essas duas informações, você que está lendo, já deve ter imaginado que eu baixava todo tipo de vídeo musical, colocava em um pendrive e o conectava à televisão, mas caso você não tenha pensado nisso, confirmo que era o que eu fazia. Existe um concerto da banda, no Rock Am Ring (2001), que muito me agradava. Não sei se continua sendo o caso, porque já vi vários outros depois desse e há muito não o revisito. Inclusive, alguns anos depois, em uma visita a uma livraria de São Paulo, acabei comprando um DVD com a gravação desse show. Mas bem, o que acontece é que, na época, a música que abriu o show foi The National Anthem, o que me fez prestar mais atenção nela. Não é que eu não gostasse dela antes, mas sem dúvida gostava menos do que hoje em dia. Motion Picture Soundtrack é a faixa que encerra o Kid A e, por certo tempo, passou por mim, despercebida. O que mudou isso, foi uma apresentação de 1995, gravada em uma rádio holandesa. A música, à época, levava o nome de Crazy (My Beautiful Angel) e foi apresentada aos ouvintes em uma versão acústica. Como boa fã de demos e versões alternativas que sou, quando me deparei com essa, tive que escutar imediatamente e, como resultado, passei a ouvi-la religiosamente. Além da melodia, que é decerto diferente daquela do álbum, a letra também o é. Essas pequenas diferenças me fizeram revisitar Motion Picture Soundtrack diversas vezes, cada vez a admirando mais a partir da comparação com Crazy (My Beautiful Angel). 
“I’ll see you in the next life…”
Full Album
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quehajacactos · 4 years ago
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MINHA CURADORIA DE VOCALOID
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Eu, sob a vigilância da cara Larissa (conferir o último texto dela é uma obrigação), relato-lhes muito brevemente minha experiência com Vocaloid. Não pretendo gastar tempo e palavras explicando minuciosamente o que são Vocaloids. No entanto, grosso modo e para fins de compreender alguns elementos desse texto, são bancos de vozes representados por personagens, os quais não necessariamente possuem uma personalidade própria. 
Isso é relevante porque explica o motivo da produção com Vocaloid ser tão vasta e numerosa, senão incalculável, extremamente democratizada. Esses “bonecos” são então preenchidos pela música que cantam naquele instante e os resultados são constantemente surpreendentes e novos. Dessa forma, aqui estarão presentes recomendações curadas por mim. 
Voltando à minha vivência, me foi apresentado por um grande amigo chamado Marcos Vinícius Trevisan Tavares, que também me ajudou um tanto na escrita, no longínquo ano de 2011. Desde então, venho consumindo Vocaloid principalmente por mediação dele. Mas ainda assim, intitulo este texto como “Minha curadoria” porque recomendaríamos músicas diferentes. Então, selecionei somente três produtores, são eles: Mothy (Akuno-P), Utsu-P e Pinocchio-P. 
MOTHY
Começando, Mothy foi o primeiro recomendado pelo bravo amigo. Iniciou-me com uma parte da saga Evillious Chronicles (EC), a Seven Deadly Sins. Não consigo me recordar qual música exatamente foi a primeira, mas acredito que tenha sido (e já começo a recomendação por ela) Madness of Duke Venomania (2010), cantada por Gakupo, um vocaloid um tanto esquecido e que trata do pecado da Luxúria. Seu “conceito” pode parecer um pouco inferior quando comparado às músicas da Gula ou da Ira, por exemplo, mas vale conferir mesmo assim.
Voltando à EC, ressalto ser uma história longa e complicada que durou 10 anos, sendo encerrada no ano passado. Mais de 70 músicas compõem a saga, ou seja os gêneros das músicas são secundários ao “conceito”, ou seja a narrativa é o fim maior. A cronologia é confusa e não corresponde às suas ordens de lançamento. 
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Contudo, para iniciar um pouco do que promete a história sugiro uma música. Chrono Story (2011), cantada por Megurine Luka, tem posição central na história pois e inicia a parte dos pecados acima mencionada e a própria jornada dessa personagem importantíssima (a saber, Elluka Clockworker), além de encerrar o começo, do pecado original.
UTSU-P
O melhor modo de definir ou apresentar Utsu-P é lidando diretamente com suas obras, porque apesar de manter consistência no gênero metal, ainda encontramos outras influências aqui e ali, isto é, não há pureza, ainda mais com o último álbum (Renaissance, 2019), perfeito e adequado ao nosso tempo (experimentos com eletrônica, enfim).
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Para iniciar, recomendo a minha favorita: Mikusabbath (Algorithm, 2014). Essa pedrada, para não chamar somente de música, confronta a própria produção musical com Vocaloid, o J-POP e a cultura otaku em geral. Não há nada de especial nem significado nisso tudo, como a vida... 
Outra é There’s no Disorder in Train Schedule (Moksha, 2013). Cantada pela GUMI, Utsu-P nos faz refletir sobre a sociedade e, em algum nível, como fomos corrompidos tanto pelos valores de produtividade ou tanto pela moral da positividade, revelando a tal “apatia metropolitana”... NÃO RIA!
Por fim, Adult’s Toy (PTSD, 2016) conta com os vocais de Kagamine Rin, a música em si é incrível, porém a razão de tê-la colocado aqui é outra: os primeiros segundos nos fazem lembrar de algo, um tanto familiar… Não direi o que é, mas sim, é isso mesmo. 
PINOCCHIO-P
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SLoWMoTIoN (2014) é o grande destaque desse produtor. A razão de tal fama pode ser explicada pela leveza da melodia, no entanto com um conteúdo altamente reflexivo, uma aguda metáfora. Quem diria que uma febre abre espaço para tanto pensamento existencial?
A próxima, Ultimate Senpai (2019), está aqui pois é, potencialmente, minha favorita; uma dose de autoestima e ser chamado de “senpai” por Hatsune Miku é tudo que precisamos de vez em quando. Aliás, por falar nela, ao contrário de Utsu-P que varia com outras vocaloids eventualmente, Pinocchio tem uma preferência clara. 
A terceira e última, Nobody Makes Sense (2017), revela o que eu gosto tanto nesse artista, sua arte. Os vídeos musicais (MV), as canções (notem que ele próprio canta alguns versos) e seus conteúdos são orgânicos (por exemplo, no álbum Human). Pinocchio mostra como ele, mais uma vez, consegue ser sensível com o seu fazer musical, mesmo em um tempo de tanta imersão com a tecnologia.
MENÇÕES HONROSAS 
Antes do fim, listo outras músicas interessantes e variadas (variedade essa que Mikusabbath critica), as quais podem agradar diversos tipos de público, desde o mais “devasso” (Ifuudoudou…) ao mais “família” (Popipo), são elas:
Soap Lagoon e Ergonomic Hero, do produtor Masa Works DESIGEN;
Sand Planet, de HACHI, que é a música (belíssima) oficial da comemoração de 10 anos da Hatsune Miku;
Retomando o conceito de histórias distribuídas em várias músicas temos a Bad End Night Series (2012), vale a pena conferir. Ao contrário das 70 da EC, essa contém só 4 músicas;
Embora de autoria da Grimes, há uma versão interessantíssima de Oblivion (2012) com a Vocaloid Miku. Mostra um outro fenômeno do nicho de usar, como instrumento, para cantar músicas de artistas reais (o que é real?);  
E por fim, Party x Party (2014), uma daquelas que reúne diversos personagens vocaloids em uma narrativa musical.
Para encerrar, digo que esse texto teve o intuito de ser simples e realmente servir como uma apresentação mediada e curada. As músicas aqui mencionadas não cobrem a infinidade de gêneros, estilos e meios de se produzir com Vocaloid, mas pode ser um começo para uma imersão maior, inclusive em outros produtores, outras músicas, etc.
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quehajacactos · 4 years ago
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Set My Heart On Fire Immediately + ALLES IN ALLEM
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No dia 15 de maio de 2020, dois discos esperados por dois grupos de fãs distintos foram lançados. São eles ALLES IN ALLEM (AIA) da banda alemã Einstürzende Neubauten e Set My Heart On Fire Immediately (SMHOFI) do estadunidense Perfume Genius.
Os álbuns não conversam entre si. A realidade dos artistas é diferente e os gêneros musicais nos quais foram enquadrados também o são. Em 1980, quando os alemães iniciavam sua carreira, Mike Hadreas, o nome por trás de Perfume Genius, ainda não havia nascido. Em 2007, quando lançaram seu último disco, Alles wieder offen, Hadreas estava em vias de começar a publicar suas canções no MySpace e seu primeiro disco apenas seria lançado anos mais tarde, em 2010. 
Então por que fazer uma resenha desses dois álbuns juntos? Ora, aproveitando a coincidência de suas datas de lançamento e o fato de que são artistas que costumam experimentar bastante dentro de seus respectivos gêneros, a pergunta a ser respondida deveria ser “por que não escrever sobre ambos ao mesmo tempo?”. Além disso, salvo as particularidades que tornam esses artistas únicos, em seus últimos lançamentos, eles compartilham de certos elementos musicais que talvez pudessem ser ignorados, dada a distância temporal entre eles e seus papéis no cenário musical. Portanto, olhá-los lado a lado, não fará nenhum mal. 
Comecemos pelos singles. Para seu décimo segundo disco, Einstürzende Neubauten nos deu os singles Ten Grand Goldie, que abre o AIA, e uma faixa homônima. A primeira, além de ser a mais agitada, conta com instrumentos e samples incomuns, mas tão esperados nas canções da banda de industrial. Já a faixa que leva o nome do álbum é bem mais serena, os vocais demoram a entrar, o instrumental é menos excêntrico e carrega uma melodia bela e suave.
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O quinto disco da carreira do Perfume Genius, SMHOFI, traz Describe como primeiro single. É uma canção que pode ser dividida em duas, na qual uma metade faz lembrar o rock dos anos 90, apenas um pouco mais distorcido e, a outra, um ambient puro e etéreo, preenchido por vezes com sussurros. On The Floor, o segundo single, é uma das tantas músicas que apesar de despertarem o desejo de dançar, abriga versos com temas que, em outras situações, talvez fizessem chorar. Isso se torna um pouco mais perceptível ao ouvir a ponte e o outro da canção, que entregam parte da emoção com vocais um pouco mais sentimentais.
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Vale dizer que não há nada tão animado quanto a estadunidense On The Floor ou a alemã Ten Grand Goldie nos discos. Digo isso porque antes de ouvir o álbum do Einstürzende Neubauten, esbarrei em um comentário em um fórum musical no qual um fã alertava outro quanto a não esperar algo como o primeiro single em AIA. Não me recordo de ter lido algo assim em relação ao SMHOFI (para esse, serve como medidor o seu segundo single), mas é uma verdade que vale para os dois discos.
Em AIA, levando em conta o contexto dessa publicação, destaco Seven Screws e Tempelholf. As duas canções têm elementos clássicos comuns ao chamber pop, além de uma intensidade doce e sensível. Assim, talvez com alguns ajustes, coubessem no repertório do Perfume Genius. Zivilisatorisches Missgeschick e Taschen também devem ser mencionadas, já que são como irmãs menos enérgicas da já citada Ten Grand Goldie, pois exemplificam muito bem a excentricidade do Einstürzende Neubauten. 
No disco do Perfume Genius, as canções Leave e Borrowed Light se sobressaem, comparadas ao AIA. Aliás, é dessa primeira que sai o título do disco. Essas faixas têm a mesma energia de Tempelholf, que assim como Borrowed Light, é uma faixa de encerramento. 
O que os artistas têm em comum é experimentar, contudo mesmo isso não quer dizer que estão presos à experimentação. Ambos, de suas próprias maneiras e sendo fiéis às suas características mais fortes e detalhes que os tornam o que são, aproveitam, desde seus primeiros álbuns, tanto do silêncio quanto de sons súbitos e fortes, de distorções e vocais pouco comuns. 
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quehajacactos · 5 years ago
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OBSOLESCÊNCIA
O “fim” absolutamente humano de Ozzy Osbourne
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Eu posso dizer ter sido absolutamente acidental meu contato com Ozzy Osbourne há dois meses e umas semanas. Estava no YouTube, como quando estamos passando canais na televisão, e me deparei com um título “Ozzy Osbourne, impossível não amar” do Júlio Victor. Cliquei e, para minha surpresa, o vídeo era produzido por um canal que amo e respeito absolutamente, o Antídoto.
Algumas das coisas que pretendo descrever podem ser oriundas desse vídeo que mencionei acima ou de outros reviews gringos que acabei vendo acerca do álbum. No entanto, tentei manter a minha opinião o mais original possível, quando assim não o for, avisarei.
Fica como recomendação o tal vídeo do Júlio (feat. Antídoto), é realmente bom e foi a partir dele que fui pesquisar as novas músicas do Ozzy, ou  melhor dizendo, do novo álbum, a começar por Straight to Hell… É aqui que começa esse texto sobre o Ordinary Man (lançado em 21 de fevereiro de 2020), somado às reflexões musicais e intervenções relativamente subjetivas.
O texto não dá conta de todas as informações acerca da produção, da banda, isto é, os músicos envolvidos, ou outras coisas que possam lhes interessar, por isso, sempre recomendo a pesquisa individual a partir dos vídeos que fiz menção. Mas algo já muito notável são alguns músicos que participam como Duff McKagan, Slash, Chad Smith, Tom Morello, entre outros de renome.
STRAIGHT TO HELL
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Straight to Hell abre o álbum com o que se espera do dito Prince of Darkness… construindo o clima de assombro, com um coro anunciando o que está por vir, quase como uma tragédia, e logo se segue a guitarra, adequada ao gênero (comentarei sobre as guitarras adiante).
“Alright now!”
Ainda durante o riff principal, ouvimos pela primeira vez aquela voz familiar e que, em minha opinião, não canta bem. Em outro vídeo, o mencionado Júlio Victor fala sobre o fato de o Ozzy não possuir grandes habilidades vocais no início da carreira. Eu não poderia concordar mais. Inclusive, isso é algo que gosto muito, a suposta falta de técnica. Fico imaginando se perderíamos um Ozzy nesses programas vexatórios e horrendos como The Voice, X Factor, etc (fodam-se todos esses). Há algo de belo em “não cantar bem”, torna orgânico e próximo, quiçá humano. Aliás, é mais sobre o que é cantado, ou ao menos deveria ser.
Essa primeira sentença é uma referência clara à Sweet Leaf [Master of Reality (1971) - Black Sabbath]. Essa “intertextualidade” ou ainda “autotextualidade” é parte da premissa de Ordinary Man: a história de si.
Seguindo, estamos diante de um som agressivo (o vídeoclipe que reforça esse caráter) com uma letra simples e assustadora, terror típico de outras composições: “I will make you scream, I will make you defecate” ou o próprio refrão “We’re going straight to hell tonight”. Para primeira música do álbum, a volta de Ozzy em dez anos de hiato, não é nada mal. O tema e o próprio instrumental são familiares aos fãs e mesmo àqueles que só tinham algumas impressões do que esperavam ouvir.
Quanto ao instrumental, a guitarra principal vem de Slash e o baixo de Duff McKagan, ambos conhecidos de nós por conta de Guns N’ Roses. Penso que tal fato deixa a música menos heavy metal do que poderia. Com muito pouco esforço, reconhecemos o hard rock familiar a esses dois.
ALL MY LIFE
    Nessa faixa, mais calma que a anterior, afirmo estar mais evidente aquela premissa, sendo os temas principais do álbum a história autoconsciente e a predição do fim. Ambas as coisas relacionadas à vida de Ozzy, mas gostaria de propor que pensássemos além, pois foram estes temas que me fizeram gostar tanto desse álbum. Cada vida é diferente, mas certas coisas são universais, que podem ocorrer em diferentes momentos da vida; e esse álbum conversa diretamente comigo (e apostaria que não só comigo) nesse momento.
Não bancarei o saudosista a todo momento aqui, outrossim condeno tal atitude, porém ressalto que o solo antes do último refrão lembra um pouco os timbres das músicas mais antigas [especialmente No More Tears (1991) e Ozzmosis (1995] e clássicas do nosso prestigiado.
Esse tom memorioso da música, como se remontando às origens (da carreira solo, não necessariamente com o Black Sabbath), é como alimentar o próprio espírito do rock e do heavy metal, alimentar isso em si é como ser jovem para sempre, uma vez que o gênero está velho e próximo da obsolescência (explico isso melhor em Under The Graveyard e It's a Raid).
Para seguirmos em frente, destaco os versos da ponte entre os refrões: Heaven can take me / But no one can save me from Hell again / You'll never erase me / I'm back on the road again
Ele voltou, consciente de sua história e é isso que ele se propõe a (re)apresentar a todas e todos. 
GOODBYE
A introdução, ao meus ouvidos, remonta ao seu clássico Iron Man, certo? No mais, a música me cativa pouquissimamente, contudo de modo algum quer dizer que seja ruim. Pode soar monótona a princípio, contudo é de se surpreender sua progressão e suas variações… Ela continua o tema da memória e acrescenta a solidão, ou melhor, a autonomia forçada. No fim, são vocês por vocês, minhas caras e meus caros.
Além é claro do tom de despedida natural que há na vida... No céu tem chá?
ORDINARY MAN
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A faixa que dá nome ao álbum… Tentarei ser breve, porque essa composição é incrível. O som é uma balada, a marca clara da parceria com Elton John, que somada ao rock de Ozzy, torna-se épica e monumental, digna de ser eleita o título de toda obra.
Com um tema tão presente e consistente (há aqueles que julgarão até enjoativo e entediante a repetição), essa música bastaria para sintetizar a ideia das duas anteriores, acerca da história e da carreira. Apesar disso, prefiro pensar que ela encerra esse arco de três músicas belissimamente, o piano de Elton John é mais do que adequado para a letra desta música,  atribuindo-lhe o tom intimista e reflexivo. 
"Many times I lost the control / And try to kill my rock and roll", momento em que a voz do Rocketman (não assisti ao filme, mas sei de modo raso do que se trata) aparece; além desse, outros versos tem um caráter profundamente humano da composição, aqui conhecemos as "entranhas" de sujeitos melancólicos a partir da retrospectiva da própria vida. O vídeo mais recente também é bom para entendermos isso.
O fato é que, com tal obra, é impossível morrer como um homem comum.
UNDER THE GRAVEYARD
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Aqui, encontramos o momento de maior aproximação com a morte e o fim. Como tocamos no assunto de humanização na música anterior, essa que se segue é o ponto máximo de tal. Com uma letra profunda e mórbida, somos postos diante de sentenças (quase no sentido original da palavra, sententiae, proposições intelectuais simples e marcantes) em versos, que nos fazem refletir sobre o ocaso da vida. 
Nada é tão humano quanto a morte, podemos ser diferentes de muitos modos e maneiras, mas o término do caminho é o mesmo. 
Uma vez que trata da morte, retomo o que comecei sobre a obsolescência (ver acima): Grandes nomes do heavy metal e seus gêneros relacionados ou derivados estão envelhecendo, cada vez mais próximos do fim natural. Isso em partes será levado com eles, depende muito de quem vai ficar aqui e dar continuidade aos legados. Contudo, acredito que não deva ser de forma nostálgica, deve-se inovar, tomando-os como modelo. O rock precisa disso para não ser esquecido após sua morte. Ozzy sabe disso e passou a mensagem.
Por fim, duas coisas: o videoclipe (link no título) retrata um dos momentos mais dramáticos e frágeis da vida do artista, fragilidade essa que com respectivas particularidades, torna mais próxima a identificação, papel essencial da arte; e, à parte o vocal, musicalmente, infelizmente, a faixa comove pouco. Não há muito que dizer mesmo sobre. 
EAT ME 
    Voltando para animar o álbum, Eat Me vem com outra energia, um pouco mais despretensiosa e descontraída (não tanto como se verá adiante). O baixo é evidente, bom e ousado, mas pouco independente, seguindo a mesma linha das guitarras - vale o destaque ainda assim.
No entanto, antes de seguirmos, gostaria de propor uma outra interpretação: quase como um desafio de um vaso ruim que não quebrou: lembremos de Memórias Póstumas de Brás Cubas ou outros momentos da literatura em que estão tratados os vermes que comerão o cadáver (a carne dada aos vermes, segundo uma etimologia interessantíssima, mas não verdadeira). Ozzy lança uma última provocação audaciosa a eles (talvez nós…), como se quisesse dizer “É isso aí, morri, foda-se, terão de me engolir!”. 
TODAY IS THE END
A descrição de um cenário apocalíptico em The sun is black / The sky is red … The kids are running / As fast as they can / And it feels like today is the end com o instrumental e o vocal melódicos podem significar duas coisas: primeiro, uma falha e incoerência de fato; ou, por outro lado, a serenidade de quem já esteve diante do inferno (como boa parte das músicas anteriores reforça) e está vendo só mais um. 
Considero o tema do fim próximo já estava muito bem encerrada em Under the Graveyard, sinto que essa música é como um filler. Sublinho, apesar disso, que é uma música interessante e bem “moderna”. A melodia é bela e fica na memória, algo realmente mais pop (talvez o maior sinal da parceria com Andrew Watt, que já produziu com Justin Bieber, Camila Cabello, Cardi B, etc. e que o próprio Metal Madman afirmou que adoraria fazer um outro novo trabalho).
A partir desse termo “moderno” lanço mão de uma outra tese acerca desse álbum, a saber, a de que ele é uma aposta para chamar a atenção de pessoas mais jovens, que só ouviram falar de Ozzy Osbourne pelos por parentes ou amigos mais velhos. Com esse som mais leve e melódico, Ozzy não está excluindo ninguém do seu raio. Desenvolvo isso, porém, adiante.
SCARY LITTLE GREEN MEN
“O que essa música está fazendo aqui?”. São palavras da minha cara amiga Larissa Souza - anjo com quem já escrevi um outro texto, dessa vez sobre Depeche Mode. Se Eat Me não foi descontraída o suficiente, Scary Little Green Men veio para tal função. Vejam por vocês mesmos… A letra �� ainda assim interessante, mas não sei…
HOLY FOR TONIGHT
O Carpe Diem que um bom poeta deve ter, ou nesse caso, algo como um carpe noctem. A música não é longa, mas a repetição do refrão, que já é repetitivo, passam essa sensação de uma extensão enfadonha… E isso me parece ruim. 
IT’S A RAID
Fiquem em casa! Trancados por sete dias (ou mais)...
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Essa faixa “encerra” o álbum de maneira ótima, como começou: enérgico e agressivo. Uma verdadeira ring composition. O álbum se salva aqui depois de uma sequência difícil de lidar. 
Além de tudo isso, ela traz uma novidade para todos: a parceria com Post Malone. Não me deterei em explicar quem é o tal, mas são nomes que não esperávamos ver juntos. Apesar disso, It’s a Raid não é a primeira parceria de ambos os cantores. Ela data desde o Hollywood’s Bleeding (2019), álbum do rapper americano, na música Take What You Want.
A questão toda dessa faixa é que o Ozzy está se divertindo aqui, como apontado num outro review. Aquela energia, como na primeira música, como em seus clássicos Crazy Train ou Bark at the Moon, nos mostra como o cantor gostaria de se despedir efetivamente após ter relembrado a vida, a carreira e a morte vindoura, fica o recado para que nos lembremos dele enquanto o enérgico pioneiro do heavy metal.
Como já dito (a ideia é da mencionada Larissa), alimentar o espírito ‘rosqueiro’ de alguém é mantê-lo jovem para sempre, Ozzy Osbourne veio se reapresentar para aqueles que já o conhecem e o acompanharam, aqueles que conhecem todas as seis décadas e fases da sua carreira, mas tão importante quanto, veio se apresentar àqueles que não o conhecem e passar adiante tal espírito.
Fuck you all! (ops)... “I love you all” - Ozzy Osbourne
por Gabriel Aquino
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quehajacactos · 5 years ago
Text
ENJOY THE [SILENCE] QUARANTINE
ELES ABRIRAM OS ANOS 90 COM CHAVE DE OURO. PARABÉNS PELOS 30 ANOS, VIOLATOR, VOCÊ É UMA ESTRELINHA QUE BRILHA, BRILHA E BRILHA.
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    A razão de ser desse texto não poderia ser outra senão a quarentena. Explicamos: nós havíamos planejado ir ao Madame Underground Club Patrimônio Cultural e Histórico™ celebrar o especial daquela noite de 20 de março, que pretendia comemorar os 30 anos do álbum Violator, do Depeche Mode.    A Larissa foi a responsável por me apresentar a obra do grupo britânico, tendo, inclusive, feito o convite para irmos ao Madame em um outro especial da banda, que aconteceu exatamente três meses antes daquele no qual queríamos ir.     Retomando, desde 16 de março, aqui em São Paulo, devido a isso tudo que vocês já sabem, o evento foi cancelado para ficarmos em casa, e “dançarmos juntos depois”, como o Madame sugeriu em uma publicação em sua rede social. Porém, para não deixarmos o aniversário passar em branco, decidimos ouvir o disco juntos e escrever sobre.
WORLD IN MY EYES
Larissa: O álbum é tão bom que a primeira é boa e é a que eu menos gosto. Gabriel: Chama seu par para dançar juntinho e é isso aí.
   A popularidade do Violator pode começar a ser compreendida a partir dessa música. Como primeira faixa, ela já nos situa no que estamos em vias de encontrar: um Depeche Mode mais dançante que em seu álbum anterior (Music for the Masses - 1987), mas igualmente transgressor.  Usamos esse termo com diversos sentidos, mas queremos destacar a sua acepção pecadora e, consequentemente, tentadora a princípio.      World In My Eyes é um grande convite para o “flerte fatal”. A expressão pode parecer um pouco anacrônico para o ano de 2020 e até mesmo para 1990, mas ele compreende o tema da letra:
Let me put you on a ship
On a long, long trip
Your lips close to my lips
[…]
Let me show you the world in my eyes
   Entretanto, o instrumental também contém isso, diríamos até que a nocividade é reforçada pela letra e não o contrário. O ritmo e toda a composição são envolventes e o momento do refrão é o aviso tardio, uma vez que já estamos seduzidos e atraídos em todos os sentidos.
SWEETEST PERFECTION
G: “Guitarrinha” braba!
    Uma música perfeita em si. De um começo simples, mas com grandes pretensões. Dizemos isso porque, ao longo de quatro minutos e quarenta segundos, acompanhamos a sua evolução desde o primeiro verso acompanhado por poucos instrumentos, sutis.      Inclusive, sutileza é um termo caro para apreciar essa música, não somente quanto ao instrumental, como também nos versos ao descrever a relação com a perfeição ou o algo perfeito, na tentativa de mantê-la inviolada:
And I hardly dare to touch
For fear that the spell may be broken
    Essa quase dependência a que nos referimos está contida nos versos que se repetem, mas cada um com intensidade diferente, em crescente. E a tal repetição, somada à intensidade, nos remete a uma certa obsessão, não?
PERSONAL JESUS
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G: REACH OUT AND TOUCH FAITH!… Gosto muito. L: Carregou o Violator.
    Quanto a mim, Gabriel, depois de Enjoy the Silence e Strangelove, esta delícia foi o que me atraiu a Depeche Mode. Vale lembrar que Personal Jesus foi o primeiro single do disco, sendo absoluta e forçosamente, uma decisão acertada.     A razão está na mistura dos sons synthpop com um rock mais enérgico, até um pouco country e blues (o videoclipe reforça essa proposição) … o que explica muito da sua popularidade e também o porquê de existirem tantas versões dessa música (Johnny Cash, Def Leppard, Marilyn Manson, etc).
HALO
L: O crime compensa. G: É.
    I give in to sin 2.0.    Talvez essa seja a música que mais deixa explícita a dualidade tão fortemente presente no Violator. Além da execução e andamentos fodas, a mensagem é clara e sintética, de forma alguma, porém, rasa - pura e absolutamente.     Seria essa a deixa para Policy of Truth?
WAITING FOR THE NIGHT
L: O que é a noite para você? G: A mimir.
    Essa música parece se apresentar como uma cançãozinha de ninar synthpop no começo. É uma excelente quebra no clima transgressor que vinha sendo construído desde a primeira faixa. No entanto, apesar de sua doçura, a música ainda carrega consigo uma certa aura sombria.     Depois de ouvir sobre mundos e paredes sucumbindo em Halo, Waiting for the Night nos conforta e nos prepara para a próxima faixa. Assim, vamos da tranquilidade ao silêncio.
ENJOY THE SILENCE
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L: A Blue Dress que o Dave Gahan cantou? G: “Eles zeraram tudo com esse final” - Larissa durante a volta da UNICAMP, 2020. 
    Enjoy the Silence é tudo. A ode por excelência do Depeche Mode, do synthpop, hino de uma época inteira… É a música que você vai querer ouvir quietinho, dançar sozinho, dedicar a quem você ama, postar a letra na sua rede social, colocar na festa da família ou mostrar para aquele/a amigo/a que não conhece a banda (fazendo ele/a perceber que conhece, sim)…     São inúmeras as possibilidades, porque é assim mesmo que essa canção se apresenta, multidimensional em sua simplicidade, se é que ela pode ser chamada de simples. No entanto, na versão completa, logo após o fade out toda essa construção se altera, ou melhor, a ela é acrescentado um novo universo em potencial.      Ressaltamos, também, que o instrumental que se segue, por não mais ser tão delicado, abre muito bem as portas para a música que vem em seguida e sua mensagem.
POLICY OF TRUTH
G: Favorita do álbum!
    Esse riff principal que cativa e fica na memória, de energia relativamente ousada e cínica, instiga à sedução e seus jogos, bem como nos alerta de seus perigos:
You’ll see your problems multiplied
    Por sinal, o fato de que essa música vem logo após Enjoy the Silence, a qual fala sobre como as palavras são desnecessárias e podem machucar, é perfeito. As duas caminham, de certa forma, pela mesma trilha. A diferença é que a primeira é mais suave no som e no que é cantado, e a segunda é mais sensual e dura, quase repreensiva. Logo, notamos ser a consistência do álbum patente com essa faixa, que foi o terceiro single.
BLUE DRESS
G: Essa música é bonita, sim!
    Blue Dress é um dos presentes que o Martin Gore nos dá colocando sua voz em alguma faixa inteira, neste disco, ela é a segunda. A letra é bastante despretensiosa, e até onde os olhos podem enxergar, a temática também o é: um homem feliz em somente ver a pessoa amada se vestir.     Nesta canção, reside a mesma magia presente em Enjoy the Silence. As duas, com suas melodias magnéticas, vão direto ao ponto. Tratam do prazer nas pequenas coisas, mantendo os versos transparentes e sucintos, chegam ao fade out… e, então, entregam finais que mudam tudo o que ambas poderiam ter sido.     O mais prazeroso é ouvir como os instrumentais são bem menos suaves que aquilo que a música nos havia mostrado até então. Como deve ser compor músicas como essas duas, com um primeiro “fim”, e ainda considerar “não está pronto, falta algo no final”?
CLEAN
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    É possível extrair de Clean, um sentido de estar limpo muito mais amplo que o de não mais usar drogas, aquele que já conhecemos, principalmente por meio do contexto da banda. É como a liberdade de não ter mais vínculo a algo que te impedia de seguir a vida tomando suas próprias decisões.     No entanto, como tudo aqui tem dois lados, notem o “sometimes” na letra, não só pelo seu significado, mas também por quão sombrio ele soa. Essas características da palavra apontam para a realidade da instabilidade em estar limpo, são, e salvo. Você está, até não estar mais.     Certamente há discos que terminam melhor, mas que outra música desse álbum o encerraria com mais acerto que Clean?
    Em Violator, as músicas passam por temas divergentes entre si, quando postas assim, lado a lado, vemos que elas se complementam mais do que se anulam em seus desencontros. O mesmo acontece no nível breve de uma única canção, quer seja verso a verso ou em sua melodia.     Talvez seja isso uma das maiores marcas do disco, que não somente possui sons inesquecíveis e belíssimos, mas também trata de temas subjetivos, evidentemente, como a insegurança e a culpa, de forma compreensiva. Depeche Mode indubitavelmente alçou notáveis níveis em seu sétimo álbum.     Do mesmo modo, os singles são uma excelente porta de entrada tanto para o disco, quanto para a banda, pois vemos a maturação e evolução desde as obras anteriores. Icônico e idílico em si, o Violator foi a assinatura de um trabalho limado, mas que não se desconecta do alvo e objetivo popular.
#VamosPecar
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