❝ ... FOR HE WAS BORN WITH AN 𝓪𝓷𝓰𝓮𝓵'𝓼 𝓼𝓶𝓲𝓵𝓮 AND THE 𝕕𝕖𝕧𝕚𝕝'𝕤 𝕖𝕪𝕖𝕤.❞ Louis Dieudonné de Bourbon, 24 y/o. Aderem.
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Tudo tinha ocorrido rápido demais; o zunido do braço monstruoso rasgando o ar em sua direção, a colisão deste antes mesmo que Louis conseguisse sequer abrir a boca para gritar pela mulher. O tórax explodiu de dor quando as garras rasparam através das finas vestes, arrancando-lhe pedaços ao desviar do impacto no último segundo. Não havia se dado conta de ter atingido o chão, ou de ter perdido a espada durante a queda, mas tratou de rolar sobre o flanco para se erguer o mais rápido possível antes que a sorte desistisse de trabalhar em seu favor. Marchas grosseiras ecoavam desajeitadas pelas escadas da ala oeste, mais e mais ogros surgindo como se pudessem farejar o iminente fracasso da dupla. Portanto, agarrava-se ao chamado da morena como se a vida dependesse disso, e com certeza dependia, o desespero imprimindo uma última descarga de adrenalina. “No momento, chèrie, até o fim do mundo!”
“Bem, isso podia ter sido muito pior, acredite.”
Buscou apoio contra a madeira envelhecida da portinhola ao perceber o mundo latejar, arder e girar, o corpo não mais que uma confusão de calafrios. “Ferido?” Pôs a mão no peito em instinto, recuando com a dor. Talvez tivesse cantado a sorte cedo demais. “Oh. Aparentemente sim.” O calor úmido e viscoso mantinha um fluxo lento através dos restos da camisa, mas Louis se limitou a oferecer um riso cansado à anilen em uma tentativa de ignorar a urgência em sua voz — não entendam mal, ele amava ser o centro das atenções, mas não naquele ângulo. Perder não lhe caía bem, não iria admitir isso. “Essa é nova. Eu te deixo nervosa, Kaimana? Não se preocupe, não pode ser tão ruim. Ele mal me toc-”. Por um segundo, engasgou com as próprias palavras. Ela disse o quê? Arqueou as sobrancelhas em descrença, o desenho de um sorriso indecoroso nos lábios ante a sugestão feita. Sim, o suor frio começava a escorrer pelas têmporas, os olhos mal conseguiam focar na inacreditável companhia e a única coisa que o sustentava em pé no momento em falsa postura solene era a porta: mas ele não iria deixar a oportunidade de provocá-la passar. “Uau. Não sabia que você curtia esse tipo de coisa. Fico lisonjeado, mas honestamente, mulher, se quer tanto me ver sem roupas há momentos mais propícios para isso. Além de que, por mais tentadora que possa ser a ideia para você” revirou os olhos, endireitando o torso, “é casimira.” Era casimira. Respirou fundo, arriscando verificar o estado em que o ferimento se encontrava. Definitivamente perder não lhe caía bem. Uma sombra cruzou o rosto. “Ao menos a cor ressalta meus olhos.” murmurou amargo, “É, arruinada. Não vejo porque não. Fique à vontade, belle, temos tempo.”
Boom.
Sentiu o sorriso congelar, a explosão à distância um pequeno lembrete de que ainda não estavam seguros. Agarrou o braço de Lua com força, o indicador por cima dos lábios pedindo que ficasse em silêncio enquanto arrastava ambos os corpos o melhor que podia em direção a parede oposta, a respiração descompassada um mau sinal. “Certo.” sussurrou, “À vontade, mas longe da porta. Acho que estou fedendo à prato principal com essa merda de ferimento.”
FLASHBACK — 𝒕𝒉𝒆 𝒐𝒏𝒍𝒚 𝒘𝒂𝒚 𝒐𝒖𝒕 𝒊𝒔 𝒕𝒉𝒓𝒐𝒖𝒈𝒉.
Ao ouvir os gritos distantes no campo, Kaimana jamais imaginaria estar prestes a ver o nível de caos que vira. Era o tipo de cena a qual Aether não lhe informava no momento de inscrição no instituto, mas mesmo sua eu de onze anos teria ficado instigada em meter-se numa luta daquelas. Decisão essa que, frustrantemente, não funcionou sequer para sua eu da atualidade. Esgotada da luta fracassada com os ogros, ainda corria com @lleroisoleil pelo subsolo do castelo quando foram novamente atacados. ❝Bourbon, achei uma saída, me segue!❞ Gritou para o improvável companheiro de batalha assim que este se libertou de uma das criaturas e ela pôde visualizar uma entrada mais escondida dali. Com sorte, conseguiram ser mais velozes e entrar antes de serem percebidos. O fôlego — ou a falta dele — era audível, a respiração acelerada dos dois ressoando pelo local ainda desconhecido, o coração batendo forte pela adrenalina liberada de segundos atrás e da última hora inteira.
Estava pronta para sentar-se ali no chão mesmo, quando seus olhos bateram na mancha vermelha crescente no tórax do rapaz. ❝Você… eles… te feriram?❞ O tom, claramente nervoso, não lhe era costumeiro, tentando de alguma maneira manter o controle na própria voz. Engolia em seco a cada palavra dita. Alguns minutos atrás, ele não estava assim. ❝Me deixa ver o ferimento, Louis.❞ Conseguira retomar o foco e não se deixar levar por pensamentos subjetivos demais, não era como se suas emoções fossem ser de alguma utilidade naquele momento — e nem em qualquer outro, também. Respirou fundo, antes de dizer: ❝Olha, vai ter que cooperar comigo. Ou tira essa camisa ou vou ter que rasgá-la… e não do jeito que você quer.❞ Claro que Kaimana tinha de cortar logo o Bourbon, sabia que uma possível piadinha ou provocação estava por vir e, não era à toa, o detestava por isso. A relação dos dois se resumia a uma troca de farpas infindável, era uma distância segura de alguém que com certeza lhe seria uma fonte de problemas a qualquer sinal de abertura. Nesse instante, no entanto, a preocupação era de apenas mantê-lo vivo. Que morresse numa luta justa com ela outro dia, pensou ironicamente. ❝Vai me deixar fazer o torniquete ou não, Majestade?❞
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WHEN THE TRUTH HUNTS YOU DOWN.
— TAREFA 05.
Essa task foi uma montanha russa de indecisões na minha vida: não sabia se postava, se fingia que nunca tinha acontecido, se guardava pra mim KKKKK Mas, após encher a paciência de MUITA GENTE e com o apoio incrível principalmente de @sorenotsore, @itsautumnstein e @sxweselton... POSTADO NOS 45 DO SEGUNDO TEMPO. Esse pov começa com uma continuidade desse post aqui com @ikaimana tw: posts de qualidade duvidosa hm kk... brincadeira klnflsfdl tw: sangue, tw: violência subentendida, tw: morte
☀ I
Por um momento, nada havia.
E então, das sombras o mundo se reconstruiu novamente, peça por peça enfim rodeando-o num labirinto de adornos dourados. Os corredores de mármore se estendiam sombrios, vozes antigas que entoavam distantes e desarmônicas pelos diferentes cômodos servindo-lhe em desagradável companhia. Sentia que devia reconhecê-las, reconhecer o que diziam, mas já fazia tanto tempo. Não percorria aquele trajeto desde…
“... é demoníaco!” A voz desafinada do homem ecoou direto em sua mente. Parou em meio à escuridão, e como mágica, uma única porta surgiu entreaberta diante de si.
“Já disse para falar baixo, Armand, não vou pedir novamente.”
“E por que deveria? O povo merece a verdade.” “O que o povo merece, cardeal, é um rei. E sugiro também que não se esqueça de que neste momento está se dirigindo a sua rainha.”
Sentiu o sangue gelar sob as veias com a súbita realização do que estava acontecendo, o tom frio e urgente de sua mãe naquele momento uma memória que jamais conseguiu se libertar. Não. Tentou girar os calcanhares, se afastar às pressas da cena que iria se desenrolar diante de seus olhos mais uma vez. Não ficaria mais um segundo ali. Contudo, o corpo não respondia aos seus comandos, pelo contrário. Não! A mente gritava, o rosto cada vez mais próximo da fresta iluminada. As duas figuras trajadas de preto circulavam ao redor da sala de estudos do rei consternadas.
“O povo já tinha um rei, Majestade.”, Armand respirou fundo, realizando o sinal da cruz sob o rosto antes de continuar. “E agora ele está morto.”
“Desaparecido.”, ela retorquiu, um fiapo de desespero perceptível sob a fachada austera.
“Há anos! Estamos em um funeral, Ana, quando vai aceitar? Sabe o que o garoto… aquilo é, as coisas que ele… o risco que representa a todos nós. Pense no que aconteceu ao rei! Que Deus nos proteja, é uma aberração, não deveria existir.”
“Presume que não considero o que ele é, o que representa? Sei mais do que você sequer imagina.” Os olhos dela se perderam em meio à papelada rabiscada na mesa redonda que se interpunha entre ambos, a expressão horrorizada. “Mas, para melhor ou para o pior, ele carrega o nome Bourbon e é isso o que ele será. Um rei Bourbon. Não podemos nos dar ao luxo de perder isso. Ele nos é útil, Armand.”
“Minha senhora…” O velho hesitou e como se pudesse finalmente sentir sua presença virou o rosto em sua direção, os olhos vidrados em desgosto. “O que ele é, é uma ameaça.”
Tentou responder, mas algo fechava sua garganta, chumbava seus pés na mesma posição submissa em que se encontrava. Ele não era dono de si mesmo, não ali. A porta fechou com um estrondo, desvanecendo na escuridão trêmula a se alimentar vagarosamente de qualquer facho de luz e estreitava sua passagem.
Um estalido alto ressoou e tornou a perceber o passar do tempo, as memórias derramadas como um balde de água fria sobre os ombros arrancando a consciência do breve estupor vivenciado. Não estava na França, não era mais uma criança. E com certeza não teria chances de processar o que tinha acabado de acontecer antes de ser engolido pela escuridão novamente. Precisava ir embora daquele lugar, onde quer que estivesse. Um calafrio correu pela nuca ao se sentir estranhamente exposto.
Algo brincava com ele.
Soube o momento exato em que aquilo tinha aparecido. Sua presença reverberou pelo caminho torto que restava, enquanto tudo ao redor parecia ficar um pouco mais acordado. Analisou a imensidão titilada das sombras, em vã tentativa de encontrar o que por ali espreitava. No entanto, ao contrário do previsto, pelo canto dos olhos conseguiu notar algo tomar forma no final do extenso corredor iluminado.
Ficou lívido.
A figura não era inteiramente humana, ao mesmo passo em que parecia tentar se aproximar da humanidade em diferentes níveis. E falhava. Mas esse não era o pior. “O que foi, Louis? Minha aparência não lhe agrada?” As palavras serpenteavam através dos sentidos febris, ecoando em conjunto com seu horror pelo espaço. Olhos vermelhos vazios encaravam-no divertidos, as feições angulares distorcidas em um sorriso animalesco. Imediatamente buscou pelos óculos em seu próprio rosto, percebendo sua ausência. A princípio, terror e repulsa o deixaram sem palavras, entretanto tinha a impressão de que ele tinha entendido perfeitamente, e, com certeza, estava lisonjeado. Atordoado demais para gritar, acompanhou vacilante os passos que o outro dava em sua direção. “Quem é você? O que é você?”
“Esse não é o mais importante agora. Definir-se é limitar-se, como bem sabe.” Não era real. Não podia ser real. Ignorou o som inconfundível e perturbador da própria voz, desviando o rosto do escrutínio alheio.
“Lou...is”, a criatura cantarolou em reprimenda, “do que tanto se esconde? Para que tanto constrangimento, tanto medo... Não percebe que é assim que o dominam? Sua falta de esclarecimento é auto imposta, criança. Compreensível, imagino. Até mesmo o mais audacioso... humano”, cuspiu a palavra em desagrado “teria medo de si mesmo. O terror é o que os governa — reação comum a seres primitivos quando confrontados com o desconhecido. Mas as coisas que não seriam capazes de realizar se ao menos tivessem... Ah, qual a palavra? Coragem?” Hesitou em falsa reflexão, um sorriso malicioso rasgando a face ao encontrar a resposta. “Dignidade.”
Armadilha. Era palpável, conhecia aquela rodear de palavras, a entonação jocosa de um mercante. Mesmo assim, algo nele parecia responder ao que tinha diante de si quase instantaneamente. Não conseguia evitar pensar: se é uma armadilha, o que aquilo tinha a oferecer em troca?
“Parece saber muito sobre coragem para alguém disfarçado sob a aparência de outra pessoa.”
“Poderia dizer o mesmo de você.” Cerrou os punhos, a risada zombeteira tão semelhante a sua, e ainda assim, perdida em vida, um reflexo da raiva explícita que sentia. “O que posso dizer? Estou farto de mim hoje; além do mais, a quem o grande Louis Dieudonné daria ouvidos... senão a si?”
☀ II
Ninguém nunca tem medo do escuro.
Os passos eram abafados no solo úmido coberto de musgo, e Louis se perguntava o que mais percorria nas entranhas da floresta de maneira imperceptível. A escuridão, sabia, era sempre cheia de murmúrios inexplicáveis, porém havia algo no ambiente depois daquele dia que fazia sua imaginação viajar para lugares vis.
Não, as pessoas temiam o que as trevas poderiam trazer. Em seu caso, nada particularmente bom. E mesmo assim, obviamente, ele parecia não ter aprendido a lição. Há quem diga que existam apenas duas opções quando confrontado com o abismo: ou corra dele, ou mergulhe. Louis sempre mergulhava, não havia hesitação. Não, se havia algo com que podiam contar era que o homem sempre jogaria o bom senso pela janela dada a menor oportunidade. O que o trazia àquele momento. Apoiava a mão contra os curativos no tórax com cautela, enquanto a outra permanecia com a lâmina em riste, atento à qualquer possível ameaça.
Merlin estava com medo, era claro, todas as regras e pretensas proteções apenas paliativos; e o que quer que o mago tanto temesse estava preso em Aether junto com eles sob a maldita redoma.
O pensamento de que talvez o que tivesse ocorrido no sótão, as lembranças e as ilusões que o encurralaram e à Kaimana numa trama psicológica doentia, fosse algo intimamente ligado ao que tentavam encontrar cruzou sua mente mais do que uma vez. Os relatos das vozes que muitos aprendizes pareciam compartilhar terem escutado contendo uma semelhança perigosa com o que ele próprio tinha experimentado. Com apenas uma única diferença.
A direção dos ventos mudou abruptamente de maneira pouco natural, como se tudo ao redor começasse a responder a um mesmo ritmo e ficasse um pouco mais vivo. A sensação era familiar. Algo tinha surgido e o observava. Girou o corpo, procurando em agitação qualquer indício, qualquer... Um grito estridente emergiu da vegetação mais densa, não muito distante de onde estava.
Soren. O coração deu um salto descompassado, esquecendo momentaneamente do que deixava para trás ao correr em sua direção. Ou seria…
Não.
☀ III
“Não é possível que não tenha visto…” A voz da criatura sibilou. “Acredita mesmo na ingenuidade de seus pais? Na bondade de seus atos… A célebre dinastia Bourbon, que se manteve por séculos graças a seus atos clementes… Está pensando no conto errado, garoto.”
Sentia a cabeça latejar, tentando fazer sentido do que quer estivesse acontecendo à medida que tomava nota das sombras se aproximando perigosamente de seu corpo.
“E quanto a você? Imagina ser o único segredo deles? O que mais escondem? O que mais não te permitem?”
“Do que está falando?”
“Bem, sei tanto quanto você.” Ele adicionou, a ironia banhada em sua voz. Era demais.
“Que jogo doentio é esse? O que esperava conseguir com isso?” gesticulou para o outro, a raiva e a confusão cegando qualquer lógica que pudesse ter para tentar sair daquela situação. Só queria alcançá-lo e resolver com as próprias mãos.
“Vamos lá, não há problema nisso! Todos amam um pouquinho de atuação. Diria que a sua está bem mais verdadeira que muitas realidades que conhecemos.”
Quanto mais andava, mais distante parecia ficar, sentiu a falta de fôlego e tropeçou. Estava cada vez mais tonto, e mais cansado.
“Você está errado.”
“As perguntas que têm feito é que estão erradas. De qualquer forma, não deveria existir algo como certo ou errado: você tem boas razões para algo, ou não. Não é isso que pensa? Como defenderia seu caso? Como definiria seus desejos mais profundos, então?”
“Merde, o que diabos você quer afinal?”
“O mesmo que você. A verdade. Liberdade... E um pouco de diversão no caminho também.”
“Eu não compartilho nada com você, pode ter certeza disso.”
“Eu vi seus pensamentos, garoto, não me trate como um tolo. Ainda que não tivesse, a perversão é algo que se escreve no rosto de um homem, se sente no próprio respirar, não pode ser escondida.”
“Falando sobre perversões agora? Achei que tinha dito não existirem ações morais ou imorais.”
“Eu? Não disse absolutamente nada. Olhe mais perto.”
E então finalmente o alcançou no inalcançável final do corredor.
Uma moldura em pedra bem desenhada separava ambos, como um portal. Estendeu a mão receoso e encontrou apenas o toque gélido do vidro, todos os movimentos refletidos — a monstruosidade que parecia imitar sua pele olhando em choque de volta para si, à espera.
Estava conversando com o próprio reflexo o tempo todo.
☀
IV
O grito se repetiu desesperado, mais alto. Estava perto.
Corria entre as árvores mais rápido do que conseguia pensar, a respiração em arquejos pesados ao sentir o esgarçar lento e dolorido dos pontos costurados no peito.
“SOR-” Para seu crédito, Louis não vacilou. Escorregou os pés contra a terra molhada tentando travar os passos e permanecer quão imóvel fosse possível diante da cena. A cabeça, o tronco e as asas de águia, em contraste as patas dianteiras e cauda de um leão não permitiam espaço para dúvidas: o corpo estendido no chão em agonia era de um grifo. Lembrava vagamente as histórias que os soldados costumavam lhe contar quanto às diferentes criaturas mágicas que estes enfrentavam. Grifos, eles diziam, eram criaturas que simbolizavam e tinham como propósito a proteção de algo, as lendas sempre alegavam que ao encontrar um grifo também tinha encontrado seu destino — fosse ele a morte, ou uma grande riqueza. A aparência do que tinha encontrado era a de que alguém havia tentado a sorte contra ele.
Os ossos do peito em quilha estavam expostos, marcas de dentes afiados que tinham dilacerado carne, músculo e ligamentos sem qualquer precisão clínica. Era puro instinto. Devia ser uma morte rápida, ao que tudo indicava, mas no cenário de sangue, pena e sujeira, um líquido azul se misturava borbulhante e chamava sua atenção. Parecia reagir de forma a retardar a morte do grifo, enquanto lhe infringia dor. O que poderia ter causado esse dano? Não conhecia veneno natural assim, e por mais que receasse admitir, devia ser um ataque premeditado. Por que?
O animal lhe encarou em súplica e gritou novamente. E então ele soube. Independente de qualquer circunstância, a motivação por trás era a simples e pura crueldade. Ele morreria de qualquer forma, não sem antes desejar que acontecesse logo. Aproximou-se lentamente do corpo, levantando a lâmina contra este. Segundos pareciam se transformar em minutos, enquanto o grifo apenas abria a envergadura das asas e fechava os olhos pela última vez. A dor findou. Engoliu em seco, soltando a respiração que mal percebia ter prendido em primeiro lugar. Sem que notasse, no entanto, novos olhos observavam-no com atenção.
☀ V
Louis já teve momentos melhores.
Até mesmo respirar se provava uma tarefa difícil, sentindo cada músculo do corpo dilacerar com o ato. Apertou os olhos, ecos da risada fantasmagórica confundindo-se com o burburinho frenético dos alunos em busca de ajuda na movimentada ala hospitalar. Ali não tinha a menor percepção de tempo, sua consciência flutuando entre estados mais distantes que somente o acordar e o dormir. Os delírios febris apenas pioravam, tinha certeza disso. O que mais justificaria as malditas vozes que se multiplicavam, gritavam e chamavam em seu sono?
“Não é possível que não tenha visto…” A voz da criatura sibilou.
E antes que percebesse, sombras irromperam pelas cortinas finas do lugar, mergulhando seu frágil estado na inconsciência, e novamente, na sala de estudos do rei. Dessa vez, no entanto, estava na presença de seu dono.
Ele trajava cinza. Eram roupas simples para um rei em comparação com as conferidas e descritas a ele desde sua tenra idade. No entanto, muito semelhante às vestes do quadro em tamanho real que tinha do homem em seus aposentos, a imagem constante daquele a sempre lhe creditarem à morte antes mesmo de saber reconhecer que ele deveria ser o seu pai. Diziam ser aquele o grande rei Louis XIII, o Justo, mas sequer isso poderia afirmar com certeza sobre o homem. A imagem era amedrontadora, olhos frios que pareciam seguir e antecipar seus movimentos por toda a parte. Por isso não associou de imediato o homem diante de si, uma bomba-relógio prestes a explodir, ao do quadro e imaginário francês.
“... Pai?” Testou a palavra inseguro. Sabia que devia ser mais uma de suas alucinações, afinal, o rei francês estava morto.
Desaparecido, o eco de uma voz retorquiu divertida em sua mente. O homem o ignorou, olhando para ambos os lados com desconfiança antes de checar mapas de Mítica e rotas desenhadas neste. “Majestade.” Tornou a insistir, a voz mais firme que anteriormente.
“Precisamos contatar Merlin. Agora!” Os mosqueteiros reais surgiram à porta, carregando muitos dos papéis com desenhos esquisitos que o rei lhes incumbia.
“O que precisa contar ao Merlin? O que aconteceu?”
“Tem algo aqui… Imagino que seja tarde demais.” Constatou que o rei segurava firme uma pequena caixa enquanto refletia, decidindo por fim correr até um dos cofres da sala para resguardá-la.
O escurecer do aposento ocorreu em um piscar de olhos, uma onda de sussurros e gritos justapostos crescendo cada vez mais e mais.
Então todas se silenciaram.Uma única chamou sua atenção, seu pai. “Há muito que não sabe ainda. Isso é só um sonho, Louis. Mas você sabe onde me encontrar. Venha até mim.”
E foram engolidos pelas sombras.
☀
VI
Estava ali.
Todo esse tempo sabia ser o lugar onde deveria chegar, com o qual vinha sonhando, cravado por trás de suas pálpebras como tatuagem. Não conseguia fugir disso. O que era, o que deveria ser. Tudo começava e terminava ali. Encontraria o rei. Seria melhor, seria mais.
Já esperava as curvas e ângulos desenhados na parede da gruta cinza com algum líquido seco e pungente, era a imagem vista. Jamais imaginaria a energia que emanava do lugar, no entanto. Havia algo pesado no ar, uma espécie de antecipação pulsátil a mantê-lo ali, em guarda para qualquer mudança. E ela veio.
Um vento quente roçou seu rosto, e por cima do farfalhar de folhas secas ouviu o som de um longo assovio acompanhado de uma movimentação entre os pinheiros. Procurou pela fonte de cima a baixo por um tempo, a destra com a lâmina apontada em múltiplas direções por segundo. Até que percebeu, não estava entre as árvores: era uma das árvores. O ser a surgir ora se assemelhava a vegetação rasteira, ora aos diferentes arbustos, se camuflando entre a paisagem exceto pelos esquisitos olhos verdes e as garras pontiagudas. “O que pretende fazer com isso? Me cutucar?” A voz da criatura correu suave junto com a brisa. A única coisa que conseguiu fazer de início foi evitar correr, pois sabia que se o fizesse as chances de ser imediatamente seguido eram altas.
“Era você. Eu o senti.” Não abaixou a adaga, apesar de entender que sim, em seu estado provavelmente só seria capaz disso. Daria seu jeito.
O som do estalar de madeira alcançou seus ouvidos, e Louis sentiu como se essa fosse a risada da criatura. “Há forças mais poderosas e perigosas que um Leshy por aqui, humano. Mas você está certo em dizer que sentiu algo, apenas não a mim.” O Leshy se aproximou reduzindo em tamanho gradualmente até alcançar sua altura. “A mesma força que atacou meu amigo, a quem você assistiu nos últimos momentos. É com essa que deve se preocupar.”
“E com você não?”
A criatura hesitou, parecia estar dividida com a resposta que queria dar. “Não hoje. Tenho uma dívida com você, pelo que fez pelo grifo.”
Abaixou a adaga por um breve segundo dada a confusão. Como assim o que tinha feito pelo grifo? “Aquilo não foi nada. Não digo isso por educação ou porque eu queira retirar sua dívida comigo, estou muito satisfeito em manter nossa trégua, acredite. Mas, realmente não foi algo que fiz por isso.”
“Surpreendente, vindo de você.”
“Vindo de…”
“Eu vou lhe dar uma dica, garoto, e entenda da maneira que lhe convém.” Leshy o interrompeu, os ventos se agitando ao redor deles. “Seres como eu, ou o grifo, estamos aqui por um motivo. Guardamos essas regiões, protegemos de motivações em nome de um bem ou um mal maior. Não acreditamos nesse tipo de coisa, somos parte da natureza. Aquele a quem deve temer sabia disso e precisava de você para alcançar o que acredita que será em seu favor. Essa será a sua ruína.”
“Quem é essa criatura?”
“Não posso dizer.” Uma série de flores voaram em sua direção, o tom do Leshy repleto de zombaria. “De qualquer forma, minha dívida está paga. Você pode sair daqui com vida caso deseje concluir o que veio para fazer. Terão consequências e você precisará aceitá-las. Consente?”
“Quais consequências?”
“Não posso dizer. Consente?”
Percebeu tarde demais que nada de frutífero sairia daquela conversa. “Mon ami, não costumo realizar contratos sem entender os termos. Do jeito que pergunta, faz parecer como se eu pudesse recusar.”
“Você pode.”
Mas ele não podia. A escolha já havia sido feita antes mesmo de saber de sua existência. Imaginava ser uma armadilha e estava disposto a pagar o preço.
“Consinto.”
“Uma pena. Espero que volte a me surpreender, humano.”
De onde o Leshy levantou, o solo começou a se dissolver gradualmente, até enfim denotar um brilho prateado no fundo da fissura. Enfiou as mãos na terra, cavando quando necessário até segurar firme entre os dedos um metal frio.
Uma chave.
Ergueu o objeto contra a luz da lua, reconhecendo nele os mesmos caracteres que tanto observou em suas visões nos pergaminhos pertencentes ao pai.
O imponente rei francês estremecia toda vez que consultava seus escritos, e agora, Louis também tremia.
Virou a atenção para o céu, caminhando de volta para a trilha em direção ao castelo. Ainda precisava encontrar Soren.
A lua iluminou sua silhueta uma última vez antes de sair da clareira e adentrar a mata fechada. Curiosamente, mais do que uma sombra tinha sido formada.
Para o bem ou para o mal, Louis Bourbon tinha lançado os dados.
#aethertask#não sei se tem mais tw faltando!!#postei e saí correndo#pov#task 5#grito que ainda to editando meu pov eu não paro nunca#tw: sangue#tw: violência#tw: violência subentendida#tw: morte#acho que a formatação ficou meio cagada amigos mas....#em breve edito KKKKKKKK
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(𝐅 𝐋 𝐀 𝐒 𝐇 𝐁 𝐀 𝐂 𝐊) — 𝐭𝐡𝐞 𝐦𝐚𝐭𝐜𝐡 𝐨𝐟 𝐭𝐡𝐞 𝐜𝐞𝐧𝐭𝐮𝐫𝐲.
ikaimana:
Treinar próximo ao Lago Encantado era algo que, desde seu primeiro ano em Aether, trazia-lhe uma sensação de paz e tranquilidade. O silêncio, a distância dos demais aprendizes, a água calma. Longe de ser violenta, considerando o controle absoluto em que Kaimana se permitia — e se obrigava — a permanecer, a água também permaneceria daquela forma. Em mais um dia de seus treinos, a garota replicava sozinha movimentos de Muay Thai à beira do lago, os quais já sabia de cor, mas seria eternamente perfeccionista em julgar a si mesma nos detalhes. Ter alguém se aproximando não era algo costumeiro, pareciam sempre entender o momento de quietude da filha de Moana, o que não fora o caso naquele momento. ❝Então acha que me venceria num combate?❞ Ainda tentando compreender se era de fato um tom de desafio ou não, interrompeu os golpes no ar e ergueu uma sobrancelha em curiosidade, se aproximando de quem proferira as palavras intrigantes. Poderia ser apenas uma brincadeira vinda de tal aprendiz, quem poderia dizer? ❝Posso te ensinar também, se não souber lutar.❞
“A morte joga dados com o destino de todos os soldados, Majestade, apenas precisa aprender a virar a sorte a seu favor.”
Um sorriso triunfante e sombrio se insinuava sobre os lábios, qualquer fragmento de consciência adormecido e imerso num frenesi de pura violência. Havia algo na forma com que as lâminas golpeavam o ar, cada movimento sincronizado com as rajadas frias do vento, que faziam-no se sentir verdadeiramente vivo. O tinir do aço ressoou alto pelo campo ao chocar ambas espadas num passo em falso, o impacto que percorreu pelos músculos do braço criando um pequeno momento de hesitação. Puxou o ar para os pulmões em lufadas curtas e pesadas, o olhar percorrendo os arredores com curiosidade pela primeira vez. Não sabia ao certo o porquê de ter se dirigido para aquele lugar, afinal, costumava preferir o ginásio onde sempre poderia contar com uma espécie de público para seu show. No entanto, assim que se dera conta tinha encaminhado a dupla para as proximidades do lago. – Vamos lá... Eu não preciso de sorte. Sabe que eu venceria qualquer um. – Falou cedo demais. De algum modo, e ele não diria azar, Louis sempre atraía o indesejado para si. Imaginava ser algum tipo de piada para o Narrador vê-lo pagar pela própria língua mais uma vez – Ren já bem dizia ser essa sua melhor qualidade, como seu pior defeito também. Reconheceu o tom provocativo da voz de imediato, antes mesmo de se dar ao trabalho de girar o corpo em sua direção. – Uau! Primeiro, bom dia Kaimana, como vai? Você, é claro, gentil como sempre. – O meio sorriso treinado em seu rosto morreu aos poucos ao analisar a morena de cima a baixo, as sobrancelhas arqueadas. – Depois, chèrie, seja sincera: está apaixonada por mim? Me seguindo como uma sombra por aí, tentando chamar minha atenção... Quero dizer, se é o que sente só falar. –
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A dose da poção regenerativa que tomou surtiu pouco efeito sobre os ferimentos, saberia disso mesmo que o enfermeiro não tivesse avisado com pesar na tarde anterior que não havia o bastante em estoque para lhe oferecer. Caso conseguisse reunir forças o suficiente para responder naquele momento, teria mandado todos ali à merda. Como não saber que precisava de mais? Sequer conseguia respirar sem sentir que dilacerava o corpo, os sonhos febris que iam e vinham dificultando ainda mais o discernir entre o que era real do que… Apertou os olhos, os flashes do ocorrido no sótão cruzando os pensamentos, ecos da risada macabra confundindo-se com o burburinho agitado dos alunos. “Saxa.” Soltou a respiração aliviado ao reconhecer a voz, o corpo pequeno colidindo contra o seu. Tentou não recuar com a dor lancinante do contato, feliz de sentir a loira perto de si. Ela era real. Estava ali agora, não no sótão, não no cenário que insistia em visualizar como uma fotografia plantada no inconsciente. “Melhor agora, ma belle.”. E era, ao menos em parte, verdade. O humor não estava dos melhores, mas Saxa costumava ter esse efeito sobre ele sempre que estava por perto, como um jorro de energia. “Mas pelo tom de sua voz imagino que minha aparência seja o reflexo perfeito de como tenho me sentido.”. Reflexo. Um arrepio percorreu o corpo. O que tinha acontecido? Não saberia como começar. “Não que eu tenha como saber, de qualquer forma. Há quem diga que o que os olhos não veem, o coração não sente.”. Quem quer que dissesse isso com certeza não tinha a porra de um rasgo no peito, porque se havia uma coisa que fazia naquela maca era sentir, e nenhum fechar de pálpebras evitaria isso. Em algum momento de seu mal estar na noite passada retiraram-lhe os óculos que Soren furtivamente trouxe para si, e Louis não ousou abrir os olhos desde então — preocupado com o que poderia tornar a ver, ou pior, o que outros poderiam ver nele. “Obviamente, ogros.”, concluiu amargo, o indício de um sorriso cínico nos lábios. “Só… Só estou cansado, chèrie, é isso.”. As palavras se arrastavam, resquícios de tremores da última febre ainda presentes. “E você? Por que está aqui? Algo aconteceu com você?” Virou o rosto na direção da voz dela instintivamente, como se fosse adiantar de alguma coisa. “Merde. Consegue ver algum par de óculos perdido por aí?”
৴ ˙ ˖ this 𝐬𝐭𝐚𝐫𝐭𝐞𝐫 are〘 𝐜𝒍𝒐𝐬𝒆𝒅 〙with @lleroisoleil
Todos os ferimentos vividos no ataque aos ogros tinham se curado em poucas horas, quando Merlin trouxe todos de volta, suas costelas estavam reparadas, seu braço inteiro, e cortes e queimaduras já estava cicatrizadas. Isso não queria dizer que não seria bom ser vista na enfermaria, mesmo que como uma forma de despistar os seus poderes. Encontrou vários colegas de casa mas nenhum deles chamou sua atenção até a pele bronzeada do príncipe se destacar na multidão. “Louis?” Ela arfou, correndo até a maca do moreno, passando os braços ao redor do pescoço alheio. “Você está bem? O que houve?”
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itsautumnstein:
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Nada naquele diálogo fazia sentido. Autumn precisava de um tempo maior que o considerável para assimilar a realidade depois de acordar, principalmente agora, atingida por uma bela ressaca de vinho — e, mais tarde, moral. No entanto, o sonho que tivera e a chuva de palavras terríveis demais para serem repetidas — era com o Draco, ew! — tornaram impossível qualquer acordar tranquilo. ❝‘TÁ ME CHAMANDO DE VOYEUR, FA MEILI?❞ Sua reclamação era ofendida e válida, claro, mas o que esperar de uma discussão sobre dar no mato? Qualquer derivação vinda a seguir seria tão absurda quanto. ❝O problema é com quem foi e claro que foi meu sonho, tenho cara de tarada por acaso?!❞ Levantou-se da cama ainda em meio à discussão, totalmente alheia ao fato de que esta não se encontrara vazia após sua saída. Os cobertores estavam mais cheios do que o normal, roubara travesseiros da cama de Lou ou Newt durante a noite e não lembrava? ❝E ÓBVIO QUE SEU CABELO 'TAVA DIREITO, MEILI, QUANDO ELE NÃO 'TÁ DIREITO?❞
Mal dera fim à parte mais sem pé nem cabeça daquela cena e, bom, o horror aconteceu. Um movimento repentino em sua cama fizera Autumn soltar um grito agudo de susto — não o suficiente para apagar, ainda bem! —, susto esse que só aumentou ao notar de quem se tratava. Ah não. Não, não, não, não, não. Como eles mal se falavam e agora Qili estava ali… daquele jeito? Enquanto se perdia completamente numa discussão de língua totalmente fora das suas capacidades de raciocínio, enfim voltou seu olhar para as próprias vestes e outro grito agudo pôde ser ouvido. Estava com a camisa dele?! Aquilo só podia ser um pesadelo, estava num loop de pesadelos, tinha certeza. Infelizmente, as palavras que a amiga dizia eram… específicas demais para ser apenas fruto da sua mente. ❝QUE TE FODER O QUÊ, CRIATURA? EU NEM SEI O QUE ELE 'TÁ FAZENDO AQUI, EU NÃO LEMBRO NEM DE TER FALADO COM O QILI!❞ Justificou-se exasperada, pois era uma surpresa para ela própria toda a cena diante de si. Ela e Qili…? Mas… como?! ❝Qili, pelo Narrador, você lembra de alguma coisa? Eu e você… A gente… Não…? Não, né?!❞ A tentativa de formular frases era totalmente frustrada naquele momento, questionando o rapaz apenas por sua própria negação do que havia acabado de constatar e não era uma constatação nada, nada boa.
Louis gostava de se considerar um homem que carregava poucas certezas. Era mais fácil praticar malabarismos com as surpresas que a vida sempre se incumbia de jogar em suas mãos quando tinha um código moral flexível o suficiente e baixas expectativas de como o dia iria transcorrer. Mas aquela manhã em particular durante sua silenciosa caminhada da vergonha de volta ao castelo – passarela compartilhada com outro punhado de alunos que fingiam sabiamente não notar a existência uns dos outros, se permitiu algo que com sua sorte jamais poderia fazer: se sentiu inclinado a ter esperanças. Erro de principiante, sim, ele sabia. Aderem estava em alvoroço, o saguão permeado de cochichos abafados e pequenas aglomerações aqui e ali que aumentavam conforme se aproximavam do... Revirou os olhos, ocupando as mãos com seu transmissor em falso interesse. Seu quarto, claro. “...Tava gritando que eu dei no mato...!” Sentiu quando todos os olhares ansiosos do abarrotado corredor se viraram ao mesmo tempo para si. É, eles não facilitavam. Abanou uma das mãos em descaso, a atenção fixa no transmissor. – Vamos lá, circulando. Isso aqui não é um show… ainda. – Semicerrou os olhos ao escutar gritos e trocas em mandarim. – Se continuarem aqui vão ter que pagar entrada, e eu tenho métodos não muito agradáveis para cobrar cada um de vocês. – Imaginava que das duas uma, ou sua expressão estava combinando com seu belíssimo humor para que as palavras tivessem algum impacto, ou ele só estava acabado o suficiente para que as pessoas tivessem pena. De qualquer forma, se afastaram o bastante para que abrisse a porta do quarto sem dificuldades.
Queria deixar claro novamente, poucas coisas o surpreendiam. Mas poucas coisas eram tão esquisitas quanto Meili de moletom, Autumn acordada e Qili seminu… Espera, Qili? Não, não. Qili seminu? Por dois segundos esqueceu que estava com a porta e a boca abertas, fechando ambas num único movimento. Click. O flash da câmera de seu transmissor disparou pelo cômodo iluminando o rosto do ralien de forma pouco natural. – Oops, esqueci que estava ligado. Desculpe, mas você não entende quantas morreriam para ver isso, mon ami. Considere como pagamento por ser meu lençol aí em suas mãos. E em outras partes também. – Viu-se respondendo imediatamente, certo de que ele não deveria estar sendo tão sincero quanto suas intenções de escambo com a imagem do irmão de Meili. Mas era, de fato, seu lençol. – Inclusive se eu fosse você consideraria me vestir, meio frio lá fora. E podemos ver que, sabe, que você já está com frio o bastante aqui dentro. – Circulou os dedos na direção do peitoral do homem sugestivamente, as sobrancelhas arqueadas. Por fim bateu as mãos uma única vez, o rosto retorcido numa careta cansada. – Ora, ora. Olha só para nós: dividindo memórias, compartilhando traumas... Já poderíamos formar uma família. Então, vamos lá, a pergunta que todos de Aderem querem respondida: mas que porra? – Umedeceu os lábios, respirando fundo o suficiente antes de suspirar, sentando-se na beirada de sua cama. – Garotas, não tínhamos combinado? Sem confusões antes das seis da manhã, lembram? –
#lou só queria chegar no quartinho dele na encolha e sofrer com a ressaca moral FJDLKGJLGHLDF MAS NÃO.#qili aponta esse farol aceso pra lá pfvr#@fameili#@itsautumnstein#@tigerwxrrior#gente vou me retirar pois estou virada e sofrendo com homeoffice D: mas amanhã volto e posto tudo q to devendo juro jurado
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FLASHBACK :: ❝ just my soul responding❞
itsautumnstein:
Nem a maior das reclamações seria capaz de impedir as ações de Autumn naquele momento. A teimosia era uma característica sua que nem Aurora e Philip em anos de tentativas foram capazes de controlar. Se ela estava decidida a realizar alguma coisa, a realizaria. E foi exatamente essa a sua convicção diante dos protestos exasperados do amigo, um sorriso travesso no rosto quando a taça retornou às mãos deste completamente vazia. ❝Ferme ta gueule, Louis! Tu sais que je parle français aussi.❞ Reclamou e aquele, talvez, tenha sido seu último vestígio de total lucidez. Em instantes, era como se o vinho subisse lentamente dos seus pés até a cabeça, a sensação de formigamento tomando conta de si, os pensamentos sóbrios se esvaindo. Que sentimentos… curiosos. Estava tão feliz assim segundos atrás? Com certeza estava bem feliz agora, pelo menos. ❝Faço ideia sim… Eu tomei a melhor coisa do mundo! Você não ‘tá sentindo qu—❞ Sua fala mal começara e fora interrompida da forma mais brusca possível, também a mais inesperada: basicamente um desabamento de um certo francês por cima dela. E, não bastasse tal acontecimento, o terreno não era lá muito propício a quedas, fazendo com que os dois rolassem até uns bons metros de distância dali. A risada de Autumn era a trilha sonora da cena, gargalhando enquanto os corpos giravam por toda aquela grama. Seu corpo parou por cima de Lou e só então o riso deu uma trégua, o sorriso divertido ainda no rosto. ❝Ah, oi… vem sempre aqui?❞ Não conseguiu segurar a piadinha diante da cena, considerando a novidade da situação em que se encontravam, soltando outro risinho. A garota, já totalmente sob os efeitos da inebriante bebida, admirou o rapaz, que agora parecia ter uma pele brilhante, quase reluzente. Segurou seu rosto com as duas mãos e soltou: ❝Lou, você é bonito, hein? Acho que eu nunca vi seu rosto tão de perto.❞
Uma série de palavras elaboradas poderiam ter sido utilizadas para explicar o que sentiu ao ser impulsionado barranco abaixo graças a seu mais querido amigo àquela noite, e de muitas outras também, o vinho. “Et tu, Brute?” talvez fosse uma delas, mas já estava acostumado com os puxões de tapete do acompanhante, era seu charme. E vocês sabem como é – Louis sempre falava a primeira coisa que lhe vinha à cabeça. –Sacrè...merde!– Aterrissaram com um baque abafado na terra úmida, os corpos entrelaçados em uma bagunça de folhas, gravetos e peças de roupas desalinhadas. A agitação do festival estava perdida alguns metros antes... e acima, os únicos sons que ecoavam no ambiente sendo os risos da loira e o fluxo do regato ao lado: e Lou podia jurar que brandiam na mesma sintonia, conectados, circulando por seus sentidos. Deixou a cabeça tombar contra a grama com um suspiro, as mãos se ocupando em ajeitar os óculos no rosto. – Olha para nós... As más línguas diriam que tenho uma pequena queda por você, princesse. – O sorriso arteiro à tiracolo era o reflexo perfeito do que a colega de quarto exibia. – Não é bem o meu lugar favorito, mas acho que estou começando a mudar de ideia. – E o pior de tudo é não era de todo brincadeira, alguma coisa tinha mudado. Seria incapaz de dizer quando ou como, mas enquanto descansava os braços ao redor do quadril da mulher (extremamente consciente de cada parte do corpo colado ao seu, diga-se de passagem), sabia que não podia culpar apenas o inebriado bom senso. Até porque nunca tinha tido um, para começo de conversa. Havia um tempo que se sentia suscetível à ela — como um mergulhar tranquilo em águas conhecidas num dia de verão. Ansiava por isso. Porra, tanto que estava até se sentindo poético agora. As mãos deslizaram devagar pelas suas costas, o tecido frio do vestido acompanhando seus movimentos. Respirou fundo ao alcançar os fios ondulados entrelaçando os dígitos ali o suficiente para que aproximasse ainda mais seus rostos, a voz não mais que um sussurro. –Hm? Você também não está nada mal, belle. – Assistiu o sorriso de Autumn com certa desconfiança, analisando a mulher como a um jogo de sete erros, alguma pequena parte de sua consciência apitando sem parar que aquilo era um erro. Por esse pequeno instante seus olhos apenas se fixaram nos castanhos dela e não havia nada senão silêncio. Bem... era Calanmai, non? Uma das mãos segurou o queixo dela devagar, deixando o suspiro escapar com um leve roçar entre seus lábios. O rio se agitou com uma ventania súbita e ele escutou o som do respingar contra pedras, e então sorriu. – Nada mal mesmo. –
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itsautumnstein:
Certo, Autumn precisava admitir que a hora havia chegado. E por hora chegando, ela queria dizer: sede. Passara a noite inteira evitando e evitando bebidas das mais variadas, pois sabia que nenhuma no Calanmai estava segura. Não queria arriscar beber demais e possivelmente apagar ali mesmo, mas… as consequências eram necessárias de se lidar naquele momento. Sua boca estava seca, a garganta implorando por qualquer líquido que fosse escorrendo por ela. Avistar Lou não só lhe fez abrir um sorriso, como este se tornou maior ainda com a taça que o rapaz tinha em mãos. Era agora. ❝Precisando muito disso ainda, Lou, meu raio de sol, razão da minha vida?❞ A pergunta era retórica e o ar divertido, pois a resposta não a importava, imediatamente tomando a taça de sua mão e fazendo-a secar num único gole. Os efeitos viriam em questão de instantes, isso já era óbvio. ❝Tem mais de onde isso veio? Me junto à vocês na mesma hora se a resposta for sim.❞
– O que… Autumn? Non, non, non, NÃO! – Tarde demais. Puxou a taça de volta das mãos da loira, estudando o conteúdo restante que era… nada. Não era conhecido por ser um homem de poucas palavras ou particularmente sutil, mas imaginava que a expressão em seu rosto não dava abertura para qualquer dúvida sobre o que estava sentindo: choque, curiosidade e... mais choque. – Merde alors, femme folle... – Arqueou uma das sobrancelhas, impressionado com o tom das palavras da Stein. De todas as pessoas do mundo, imaginava que ela seria a última a arriscar a consciência no Calanmai. Afastou com certa dificuldade a imagem mental da princesa desacordada na vegetação densa e escura, rodeada de Pixies felizes com o prato cheio para travessuras que ela oferecia. Parfait. Isso acabaria sobrando para ele de alguma forma, sentia isso. – Autumn, você faz alguma ideia do que acabou de tomar?! – Louis ficou de pé com um pulo, o mundo girando alguns graus antes que pudesse encarar o Fae ao seu lado e gesticular lentamente com a taça em sua direção, cochichando com o sotaque arrastado – … Ou melhor, você sabe o que ela acabou de tomar? Porque eu honestamente não… Uou. – Cerrou os olhos com força, cedendo por um curto segundo à tontura que ameaçava acometer todos os seus sentidos de uma vez, o riso solto quando o corpo caiu contra o da garota.
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bornoftheocean:
Rey era uma princesa amigável, tranquila e que se orgulhava de levar conversas com a maioria dos aprendizes em Aether, entretanto ainda possuía um ar extremamente controlador. Essa faceta de sua personalidade poderia de fato ser maior e só não era graças a sua criação por Kida que era um espirito muito mais livre do que a própria filha. Na noite em questão, Rhea estava decidida a não ingerir nada que pudesse comprometer gravemente seus sentidos, afinal estava em um momento politico delicado em Atlantis. Com sua taça de vinho normal sendo levada aos lábios mais uma vez, a atlante olhava a energia caótica que emanava do francês com certo grau de curiosidade. – Obrigada, mon chérie. – agradeceu caminhando até ele. – Mas estou tentando me manter estável nesse evento.
Reconheceu de imediato a voz de Rhea, apesar dos olhos ainda estarem se ajustando à escuridão e à… bien, ao que tinha ingerido. Tentou acenar para a princesa, mas os dedos não obedeceram ao comando – Maaademoiselle Thatch! – O tom entusiasmado saiu mais alto e arrastado do que tinha planejado e não conseguiu evitar rir disso. – Rheeea Thatch. Um nome lindo, para uma plus belle princesse. Não... há de quê. – Veja bem, não era de seu feitio se esquecer de ofertas à garotas bonitas, ao contrário do que Soren e Rae afirmavam. Mas ele realmente não conseguia lembrar o que tinha dito antes para ela, não importava o quanto vasculhasse a memória atrás de pensamentos que provavelmente associaria a mulher. Ordem alfabética, então. Aaatlantis, Anilen, Bonita, C...alanmai? Calliope. Fechou a expressão com a lembrança da constante companhia de Thatch e, com certeza, o motivo de nunca ter buscado se aproximar da filha de Kida. – Escolha peculiar de dia para se manter estável, ma chèrie. Logo hoje, quando os heróis finalmente se libertam das amarras do Narrador! – Desvencilhou o corpo do aperto do Fae, tropeçando de encontro a princesa. – Algum motivo em específico para isso? –
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Magia, em ampla escala, era tão próxima de desejos quanto fogo e fumaça. Criaturas que a tinham como matéria-prima não poderiam ser nada menos que voláteis, levadas por emoções e ego... E não havia nada melhor e mais desastroso que isso. Não tinha como se sentir mais em casa. Os avisos sobre aceitar bebidas de estranhos não podiam ser aplicados aqui então, certo? É claro, sorriu solícito sem pensar duas vezes antes de levar o vinho aos lábios, uma névoa sutil de anis ao redor da taça confundindo parcialmente os sentidos enquanto o Fae deixava uma trilha de marcas em seu pescoço. Merde, não enxergava nada com os óculos naquela escuridão. — Onde é que...? — Os olhos tilintaram ao cruzar com os de x, pendendo a cabeça para o lado em interesse — O que foi? Perdeu alguma coisa? — Testou, arqueando uma das sobrancelhas, o meio sorriso debochado nos lábios. — ... Ou gostaria de se juntar à nós? —
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Louis meneou a cabeça, abrindo um meio sorriso enigmático ao se aproximar. — Uma ideia muito louca? Minha especialidade, alguns diriam. — Murmurou simplesmente, ciente de que o sotaque francês já se arrastava entre as palavras mais do que o normal. — Isso depende, mon ami. Não é só por ser louca que sua ideia vá ser interessante, acredite em mim. Principalmente qualquer ideia que acompanhe esse brinde dos Fae. — Gesticulou lentamente para o copo nas mãos do homem, as sobrancelhas arqueadas sugestivamente. — Fazendo promessas que não pode cumprir? Ao menos faça alguma que não tire a graça da coisa. —
- Olha, eu tenho uma ideia muito louca, mas eu preciso saber se você topa sem ter nenhum tipo de medo ou outra coisa que pode não funcionar para que essa brincadeira, saia de forma excelente! E aí? Você topa ou está com algum medinho? - Perguntou, com um tom de voz bem animado depois de ter tomado alguns goles do vinho que estava sendo servido. - Eu prometo que não vamos ter nenhum problema, o que acha? -
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Como você nunca ouviu falar que LOUIS DIEUDONNÉ d'Herblay DE BOURBON é um descendente direto de ARAMIS LOUIS XIII (Os Três Mosqueteiros)? Ele tem 24 ANOS e foi escolhido para a CASA ADEREM há um certo tempo. Pode ser carismático e leal, mas há momentos em que se mostra trapaceiro e pretensioso. Recomendo que não o confunda com AVAN JOGIA porque isso já trouxe confusões o suficiente!
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Se o Lago fosse uma entidade senciente, provavelmente estaria rindo deles agora. Estavam lado a lado em frente a superfície escura e tremeluzente das águas encantadas em silêncio sepulcral, algo incomum para o trio. O estado dos gêmeos contrastava o ânimo maníaco do francês. – Excelente. – Louis espalmou as mãos e sorriu. – Alguém quer fazer as honrarias? –
... moments before the disaster
Dramático como sempre, Ren obviamente seria de Anilen.
Mantinha uma distância segura da árvore que sustentava a cabana a alguns metros acima do chão, camuflado de qualquer olhar curioso pela vegetação espessa da Floresta Assombrada. Faltavam poucos minutos para o toque de recolher e Soren decididamente parecia empenhado em estragar seus planos e bom humor, atrasado para o encontro que ainda não tinha ideia de que ia acontecer. Tamborilava os dedos contra a perna imaginando se realmente não devia ter contatado a loira antes -- questão de logística: ambos dormiam dentro do palácio, e assim talvez não estivesse sozinho agora naquele lugar. Assim que avistou o moreno, no entanto, afastou a ideia da mente com um sorriso ferino distorcendo suas feições. Tudo dentro dos conformes. Não hesitou em puxá-lo em sua direção para debaixo do braço, tentando carregar o corpo relutante de Fitzherbert em direção ao palácio. — Planos para hoje, mon ami? Non? Ah, imaginei… Dormir realmente é superestimado. Mas eu vim salvar sua noite do fatídico tédio. O que acha de me ajudar a arranjar alguns pedidos mágicos sem limitações no Lago Encantado? Qualquer coisa que o coração desejar. — Não diria à Soren de quem conseguiu as informações, ou os detalhes destas. Provavelmente se soubesse sabiamente não lhe daria ouvidos, e pelos seus cálculos eles não tinham tempo para isso. Bem, a recompensa valia o risco, esse era o importante. Puxou as lentes dos óculos para baixo para que pudesse enxergar melhor as expressões do amigo, complementando sem que este pudesse retorquir. — E o que você ganha com isso? Ora, um pedido é claro. Não sei ainda como funcionam as regras, mas se for algo como o Gênio, faria sentido: três pedidos, somos três. A matemática bate. Mas não acha um pouco egoísta de sua parte, huh? Não ajudar ton frère apenas pelo amor em seu coração? Tudo bem, não seja por isso, eu te perdoo. Apenas se for acordar e buscar Rae. Sim, eu sei. Sou misericordioso. Agora vá. — Eles não conseguiriam dar dois passos sem a mulher, isso era um fato. Louis e Soren eram duas bomba-relógio ambulantes e Aurae o proclamado bom senso de ambos. Sabia também que o único capaz de arrastá-la para fora do castelo sem muitas explicações era seu irmão gêmeo — sua reputação com a ralien já estava há muito manchada. Não que a de Soren também não estivesse, mas ao menos não seria o alvo imediato de sua irritação e seu conhecido gancho de esquerda.
#começa a inter das trigêmeas e bruxa onilda#LKSJSDFSJDHF#só os encrenqueiro online#@sorenotsore#@erhardouthere
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— Pardon? — Estreitou os olhos ao medir a figura esguia da Diamandis diante de si de cima a baixo com incredulidade. O riso de escárnio ecoava através do amplo ginásio ao retornar o florete à bainha, os movimentos soltos em pretenso descaso à atenção atraída. Seria uma longa aula. Calliope era seu karma, tinha certeza disso. — Esqueci que tínhamos uma profissional aqui. — Posicionou uma das mãos por poucos momentos sobre o ombro esquerdo da morena e pendeu a cabeça para o lado em falsa análise, o tamborilar de dedos agitados ainda no cabo da espada — É claro que você diria isso, princesse. — Fez uma careta cínica, o sorriso debochado escapando de seus lábios. Não conseguia desvencilhar a agitação crescente que sentia sempre que estava próximo a herdeira, ela era um maldito pesadelo. — Nunca faz nada que não digam para fazer, non? Sempre seguindo perfeitamente o código de condutas e regras. Mas um bom espadachim sabe a diferença entre se ater à aparências e vencer. — Respirou fundo, bagunçando os cabelos antes de expressar um meio sorriso travesso. — Mas obrigado por se preocupar com a minha saúde, Callie. Não sabia que se importava, assim você me emociona. — Puxou a máscara de proteção para baixo, os óculos escuros chocando com a rede de aço do uniforme.
—— A sua postura está um horror. Você está ciente disso, não está? —— A reclamação da princesa logo fora ouvida, encerrando um silêncio um tanto quanto desconfortável. —— Se quiser arrumar uma lesão hedionda para a sua coluna, então, continue desse jeito aí mesmo… —— Mesmo preocupada com os outros, nunca fora um exemplo de gentileza ao fazê-lo. Sua querida mãe tentava lhe ensinar sempre a se portar com mais amor, contudo, a princesinha era prática e objetiva demais para levar os conselhos de Cinderella para a sua rotina de modo satisfatório. —— …mas é melhor parar e ver o que está fazendo de errado. Sério, hérnia é uma mazela difícil de ser consertada pelas fadas enfermeiras.
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A R A M I S ♰ Chevalier René d`Herblay, Mousquetaire du Roi. A N N E ♕ Infante d’Espagne, Archiduchesse d'Autriche, Reine de France
(for nellgwyne)
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– Sei que estou aqui agora, chèr… – Hesitou momentaneamente em falsa compenetração, fazendo estalar a língua na parte interna da bochecha - … E que tenho criado um certo hábito de frequentar as redondezas também. – Complementou amargo ao gesticular com floreios para o cômodo amplo e virou a cabeça, os olhos escondidos por detrás das lentes pretas fixos na figura loira. – Mas juro que não está nos meus planos continuar assim, apesar dos seus constantes esforços em me manter aqui. – Um dos cantos da boca se curvou para baixo de maneira quase imperceptível ao arquear as sobrancelhas sugestivamente. – Se quer tanto a minha companhia, mon coeur, é só pedir. – Inclinou o corpo para frente próximo ao ouvido de Anette, o desenho de um sorriso indecoroso nos lábios ao murmurar casualmente – Nunca diria não à você. – O riso gaiato escapava dos lábios ao se afastar novamente. – É claro, dependendo do que você pedisse. –
─── eu acho que eu estou de detenção pelo resto do ano, então eu pensei em começar a organizar algumas atividades recreativas, né? não fica ninguém lá com a gente mesmo, salvo quando aparece algum monitor de surpresa. eu comecei esse negócio super legal de vender comidinha por exemplo, e podemos todos fazer jogos. se você não tá na detenção eu recomendo que você fique, eu adoro companhia.
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Esgotamento era uma boa palavra para descrever seu estado físico. E já que estava se sentindo propenso à diagnósticos e definições: provavelmente o mental também. Emocional? Não ousaria atiçar a atenção do querido Narrador, já tinha problemas demais sem ajudinhas maiores. – Merde. – Esfregou os olhos por debaixo dos óculos escuros com gestos apressados e entrecortados, apoiando os ombros contra a parede fria do corredor em um baque abafado. Era o quinto dia consecutivo desde os recentes acontecimentos que se sentia assim, como se estivesse mais atento a sinais que alegremente ignoraria em dias normais. Sentia-se desvanecer. – Chega! Chega desse barulho agora! – Mas o quê… Teve poucos segundos para considerar o assunto antes de segurar o corpo da mulher que se chocou contra o seu, uma chuva de papéis circundando o ar ao redor deles. – Meili? – Louis aquiesceu com a resposta atravessada desta, os braços caindo junto ao próprio corpo ao levantar o queixo e encarar a morena com intensidade. – Uau. Bem, aparentemente alguma coisa já que estamos interagindo assim. – Estava acostumado com rompantes do tipo dirigidos à si, se fosse ser sincero, mas nunca imaginaria partir dela. Buscou os materiais da Fa sem tirar os olhos dela, o reflexo dourado que irradiava de suas íris acendendo uma preocupação em si. Conhecia mágica assim com intimidade. – Seus olhos. Reparou como estão? Petite… Posso ajudar com alguma coisa? –
Claramente incomodada com o falatório na sala, Meili sentia uma dor de cabeça incomum e extremamente irritante. Em dias normais, a poção dada pelas enfermeiras seria o suficiente, mas nem mesmo o frasco inteiro do remédio havia resolvido a sua questão. A brisa leve começava a se alterar conforme a impaciência da chinesa ia crescendo, bagunçando os papéis por cima da mesa de desavisados. A cada segundo, não mais conseguia reconhecer as vozes, ouvindo somente o assobio do vento aumentando em seus ouvidos. —— Chega! Chega desse barulho agora! —— Acabou gritando ao tampar as orelhas, com as íris douradas brilhando para quem quisesse ver. A ventania parou no mesmo momento e, de súbito, a morena enfiou todas as coisas na mochila para sair correndo. Seu plano falhou quando esbarrou em alguém, derrubando vários livros e anotações no chão. —— O que foi agora, inferno?!
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