Tumgik
kjguccy · 4 years
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Quando eu era menor, em uma idade pequena demais para saber contar e gravar quantos anos tinha, lembro de ver meus pais se beijando. Eram três sutis beijos por dia:
O primeiro pela manhã quando meu pai entrava na cozinha ajeitando a gravata e minha mãe terminava de pôr o café na mesa.
O segundo era quando ele chegava do trabalho a noite e ela o ajudava tirar o casaco ainda na porta de casa.
O terceiro vinha após algumas horas, pouco depois do fim do jantar, pouco antes de eu ser levada para dormir.
E eu me questionei se aquilo era amor.
Mais tarde, ao completar oito anos, um garoto da mesma idade se declarou a mim. Ele tinha em mãos uma pequena carta dobrada e uma flor solta.
Peguei ambas, com mais curiosidade do que qualquer outro sentimento. Analisei cada sutil detalhe, como o papel estar dobrado perfeitamente em quatro; ponta com ponta, e a linha marcada cruzando o meio da folha na horizontal e vertical. Sua letra grande, apesar de cheia de garrancho, deixava nítida a tentativa de uma boa caligrafia. Já a flor era bem viva, lembro dele dizer que a escolheu por ser rosa como minhas bochechas.
Pela segunda vez na vida, me questionei se aquilo era amor.
Sem pensar mais, ergui meu olhar e perguntei:
— Você sabe o que é amor?
— Amar é ficar nervoso para ver a pessoa e mesmo assim querer vê-la todos os dias.
Pensei um pouco naquela resposta.
Aquilo era amar? Não foi bem o que vi entre meus pais durante todos meus anos de vida. Minha mãe não parecia nervosa para vê-lo, e em outras eu podia ver o suspirar cansado junto do revirar de olhos do meu pai quando a ouvia chamar pela centésima vez da cozinha, não parecia que isso era querer vê-la a todo instante.
Então o garoto não me amava, ou meus pais não se amavam.
Agarrei-me na primeira suposição e devolvi a carta, levando para casa apenas a flor e o questionamento ainda sem resposta concreta.
Aos dez anos presenciei uma briga dentro de casa, meu pai gritava com minha mãe e ela respondia no mesmo tom. Um em cada cômodo e eu sentada na cozinha comendo uma fatia de bolo. Não entendia a razão, não acompanhava a lógica e nem os argumentos embaralhados.
De tardezinha meu avô me buscou e passei a noite na casa dele. Quando minha vó veio certificar se eu dormia aproveitei a deixa e questionei:
— Vovó, o que é o amor?
Se calou por alguns segundos quais contei serem exato sete, sentou-se na beira da cama e respondeu:
— Amar é você querer estar junto mesmo com todos os defeitos. É enfrentar problemas juntos, mãos dadas e um sorriso no rosto.
Aquela resposta me pareceu convincente, afinal, ela estava com meu avô há anos seguindo aquele pensamento.
O problema veio na tarde seguinte quando eu voltei para casa e não encontrei meu pai. E ele não voltou no dia seguinte, nem no outro, e nem no próximo. Cansada de esperar, encontrei minha mãe lavando a louça do jantar:
— Mamãe, o que é amor?
Ela congelou, eu senti o frio que veio dela no mesmo instante, a água correndo pela pia quase vazia.
— Amar é deixar partir, porque nem sempre o amor é suficiente.
Naquela noite eu fui pra cama e perdi o sono enquanto tentava entender como amor era permanecer e deixar partir simultaneamente. Adormeci.
Aos quinze anos cansei de buscar respostas naquele nicho confuso e decidi sair de casa.
— Mãe — comecei a pegando de surpresa com a pequena mala embaixo dos braços — estou partindo pro mundo. Não posso mais pregar meus olhos durante a noite até que eu entenda o que tudo isso significa. Crio olheiras tão profundas que não me reconheço mais em muitas manhãs; mas hoje compreendi, só entenderei quem sou assim que minhas dúvidas forem esclarecidas.
Com um olhar carregado de compaixão, me fez um lanche bem incrementado, colocou dentro de um saco de papel junto de um suco e permaneceu no portão até que me visse sumir no horizonte. Sei disso pelo peso do seu olhar em minhas costas, pois para trás não ousei olhar.
Andei por muito tempo embaixo de Sol, embaixo de Lua. Até que encontrei uma pequena flor sozinha na beira da estrada.
Era azul, tão azul que quase não notei a borboleta da mesma cor pousada em suas pétalas. Curiosa, me abaixei diante de si e questionei.
— Borboleta azul, o que é amor?
A resposta veio de imediato.
— Amar é liberdade, amar não fere suas asas delicadas e não te impede de conhecer o mundo. O amor é tão perfumado quanto uma rosa, mas não se engane; o amor não tem espinhos.
Dito isso, alçou vôo que mais parecia uma dança e sumiu de vista. Continuei andando.
Embaixo de nuvem, dentro de neblina. Distraída, tropecei em uma pedra no meio do caminho.
— Desculpe-me, pequena pedra. Não a vi.
— Tudo bem, tudo bem...
Ela parecia cansada, até mesmo chateada, como se ninguém nunca notasse sua existência. Preocupada, me abaixei ao seu lado.
— Pequena pedra, o que é amor?
Ela demorou tanto pra responder que cogitei ter adormecido.
— Amar é ser fortaleza, é entender que alguns trancos vão vir e você não pode trincar suas paredes por isso. Amar dói, às vezes se tropeça sobre ele.
Não respondi, mas com muito cuidado a peguei em mãos e levei para um lugar seguro.
Continuei minha jornada, embaixo de chuva, embaixo de arco-íris. Até que no horizonte meio tremido pelo calor avistei um posto de beira de estrada.
Corri até lá, ele caía aos pedaços, estava sujo e parecia quase abandonado. Quase, pois sentado em uma cadeira encontrei um senhor muito magro com barba por fazer mascando o cabo de um trigo.
— Boa tarde, senhor.
— Boa tarde, menina.
— Senhor, o que é amor?
Ele me encarou antes de um suspiro exausto.
— Eu não sei.
— E não deseja saber?
— Já desejei, e muito. Mas cansei, sentei por aqui e sigo meus dias dessa forma.
— E está satisfeito com isso?
— Você acostuma.
— Não me acostumaria com isso! Cansei de esperar a resposta, estou eu mesma atrás dela.
— Devia dar a volta e voltar para casa, ou ficar por aqui, seria bom um pouco de companhia.
Me irritei com tamanha ousadia, peguei a mala no chão e segui minha jornada batendo os pés.
Não muito tempo depois, quando o Sol caiu e a Lua surgiu, ouvi um barulho vindo de um monte de arbusto. Parei, senti medo. Entretanto saltou de lá um gato magricela que imediatamente enroscou em minhas pernas.
Ri, me ajoelhei e acariciei seus pêlos o escutando ronronar.
— Gatinho manhoso, gatinho manhoso... Seria você capaz de me explicar o que é o amor?
— Amar é um mistério como a madrugada, mas o encontro todas as noites pelos telhados. Amar é frio, porque acontece na calada da noite, e nem sempre ele vai estar ali ao amanhecer.
Não sei se ele iria falar mais algo, paralisou com as orelhas atentas e correu na direção de um som qual não fui capaz de ouvir junto. Estiquei as pernas e continuei meu caminho.
Andei muito, andei dias. Até que cansei de andar.
Caí de joelhos com lágrimas nos olhos e ergui os braços para o céu azul. O calor gritava e o Sol castigava.
— Sol quente, Sol fervente, o que Diabos é o amor?!
Meu grito podia ser escutado a quilômetros, e eis que uma voz grossa ecoa:
— Pequena garota, inocente garota. Amar é o que aquece o ser humano no inverno mais rigoroso. 
— Mas o amor não é frio, imenso Sol?!
Ele não respondeu, e assim decidi seguir a jornada.
Eu já me encontrava cansada, cansada de andar, cansada de falar e cansada de acumular respostas desconexas que se contradiziam. Foi na noite de lua crescente que eu decidi que era hora de voltar.
No fim das contas o senhor do posto estava certo, e eu odiava admitir aquilo.
Quando parei pronta para retornar, algo distante chamou minha atenção: um brilho. Um brilho diferente de qualquer outro brilho que encontrei nos anos de vida.
Caminhei sem pressa até ele, a medida que me aproximava pensei ser uma estrela cadente que caiu do céu. Depois pensei ser uma constelação inteira. Logo após parecia um enorme planeta. E por um instante acreditei fielmente ser o próprio universo.
Somente quando parei diante daquele esplendor, vi que era você.
Meus olhos fixaram sobre os seus, minha respiração se igualou com a sua, e o sangue correu pelo meu corpo de uma forma que jamais senti.
Eu não precisei perguntar nada, e ainda assim quando sua mão tocou sobre a minha tive a resposta que precisava.
Durante tantos passos todos me diziam o que era amar, mas nenhum me dizia o que era o amor. Seu calor me vez ver que o amor é o sentimento mais puro que podemos encontrar, que ele liga a mente e o coração ao mesmo tempo que os confunde, pois o amor é bagunçado assim mesmo.
Seu abraço me mostrou que todos aqueles que vieram antes estavam errados, e que amar era algo imenso demais para ser definido em poucas linhas. Me disse entre sussurros que ninguém pode definir a forma que eu amo, além de mim mesma.
Me mostrou que amar é belo como o vôo de uma borboleta azul no deserto a perder de vista. Amar é proteger do frio rigoroso e do calor escaldante.
Amar é o que eu permitir ser, então eu decidi que dali em diante a minha definição de amar seria você.
Então você me pergunta:
— O que é o amor?
E eu finalmente posso responder.
— O amor é um ponto de luz no meio da escuridão. É a esperança quando tudo parece ter acabado. O amor é gargalhada gostosa cortando o silêncio da noite, é toque quente na pele fria. O amor tem cheiro de casa, não importa onde esteja. O amor tem um sorriso lindo e olhos que o acompanham quando surge no rosto. O amor bagunça a cozinha e te deixa de cabelo em pé, mas também te acalma de uma forma que ninguém nunca acalmou. E dentre tantas coisas, mas acima de tudo: não adianta eu te explicar o que meu amor é, pois só vivendo em minha pele pra entender como ele é capaz de agitar o corpo e acalmar a alma apenas com um toque.
Amor é você, e amar é querer preservar o que existe de mais belo no seu ser, pois é único. Pois é o próprio universo.
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kjguccy · 4 years
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|| Torta holandesa e lírios amarelos (spirit&AO3)
Onde Jongin era um anjo perdido em meio os homens, e Jennie apaixonada por cada detalhe que o compunha.
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