Tumgik
cortezzias · 22 days
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O QUE ACONTECEU COM ARTHUR NOMURA COOPER? (2021)
"Uma coisa ruim aconteceu com você, Cooper."
"Uma coisa ruim aconteceu com todo mundo," retorquiu, rápido e impassível como uma arma disparando.
"Não. Antes de tudo isso. Antes mesmo de você vir morar aqui, talvez," Brian abaixou a cabeça, fitando as ondulanções do fio do telefone.
O silêncio se esticou na ligação. Do outro lado, apenas o som suave do respirar. Estava tão quieto em ambas as casas que podiam ouvir um ao outro assim. Brian fechou os olhos e imaginou um mundo onde poderia escutar até as batidas do coração de Arthur do outro lado da linha.
"...Não é nada pessoal contigo, Brian. Não contei nem pras minhas melhores amigas. Cheguei perto com o Dariel, mas só isso. Não sei por que tá perguntando, na verdade."
"Cê é meu amigo. Nosso amigo. É só que... não sei explicar. Às vezes você parece incomodado com isso. Tá tudo bem se quiser falar sobre, mesmo que seja uma conversa difícil."
Todas essas palavras eram verdadeiras, mas a verdade mais profunda estava ocultada pela polidez. Queria poder dizer: por quê? Por que nunca falou sobre? Mesmo depois de todos esses anos?
Por que ser incognoscível, Arthur? A realidade é que eu sinto muito. Sinto muito, Arthur. Por tudo, por qualquer coisa que tenha sido. Sinto mais por isso do que por você não confiar em ninguém para falar sobre; você tem suas próprias razões.
Mas deve ser solitário. Você precisa saber que quando estiver pronto, estaremos aqui. Quero conhecer seu suspiro de alívio.
Não falou nada disso. Porém enquanto esperava a resposta, pensou se Arthur estaria no escuro em casa também. Pensou em seus olhos cor de breu — como o breu cercando Tennant agora — com sua típica expressão taciturna. Não, é uma expressão não nomeada. A de alguém que guarda um segredo profundamente. Guarda um silêncio em si.
"...Certo. Obrigado. Por se importar."
Brian assentiu, apesar de que o outro não poderia ver.
"Arthur. Já te chamaram de incognoscível?" questionou por impulso.
Na resposta foi como se pudesse ouvir o pequeno sorriso dele:
"Talvez não de forma tão sucinta, e não em palavra tão bonita."
(Editado em 2024)
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cortezzias · 1 month
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— Pra onde você vai vestido desse jeito?
Bebericadas na caneca de café interrompidas, Raven olhou para baixo, tentando descobrir se havia alguma coisa diferente de como se viu no espelho cinco minutos atrás. Confuso, a resposta veio no mesmo tom da pergunta:
— Trabalhar?
Era o primeiro dia de aulas depois das férias, e o tempo tratava de começar a esfriar, a preparação para o outono. Antes disso, fim de trimestre caótico e daí a quentura do verão. Kalfr já devia estar começando a se esquecer como seu esposo se parecia quando ele queria parecer um professor respeitável. De preto da cabeça aos pés, as mangas da camisa foram roladas até os cotovelos, mostrando antebraços com pelos escuros, e a elegância da calça social era interrompida quando a vista chegava nos coturnos velhos e pesados. Reluzia a fivela do cinto vintage que lhe deu de presente nem fazia tanto tempo, no dia dos namorados. Talvez se o caimento das peças fosse menos lisonjeiro, não teria feito aquela pergunta.
Kalfr assistiu seu esposo tirar mais alguns pelos de cachorro da camisa.
— Pois fique já sabendo que ninguém vai prestar atenção na sua aula.
— Eles não são como você. A gente se vê de que horas?
— Só antes do turno da tarde começar — fez uma careta. — Puta merda, sério. Esse horário ficou uma bagunça.
— E isso é tudo culpa do Morton.
Sabendo que os minutos corriam para a saída do outro, Kalfr pensou vagamente que bastaria ele se ajoelhar no chão, segurar no cinto e olhar para cima, que ele já estaria meio caminho andado para o sucesso. Raven tinha um sério problema de não conseguir resistir a ele. Seria rápido; com sorte, ele nem chegaria tão atrasado para a primeira aula. E então Kalfr não precisaria passar sua manhã livre pensando no que queria ter feito.
Mas Raven checou o relógio da cozinha, declarou estar em cima da hora e de repente estava indo embora com um selinho de despedida. No resto desse dia, quando Kalfr tinha um pequeno espaço de tempo para se entediar, vinha a sua mente um brilho, uma serpente prateada se retorcendo em fivela. E a certeza de que colocaria as mãos nela assim que chegassem juntos em casa.
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cortezzias · 2 years
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alaska arlet + the reason why you’re so afraid and at the same time attracted to monsters is because you’re a little like them.
text at cygnus / julia sarda / interaction at officer’s overlook / wintersong, s. jae-jones / text at cygnus / dark places, gillian flynn / interaction at officer’s overlook / the hour of the star, clarice lispector / julia sarda / all the flowers kneeling, paul tran
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cortezzias · 2 years
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— too long I roam in the night, I’m coming back to his side to put it right. (…) let me have it, let me grab your soul away.
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cortezzias · 5 years
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eu e minha esposa (outubro de 2019) (incompleto)
Zero
Quero me desculpar a todos que me leem nesse momento. Não sou escritor. Nem mesmo sou um bom leitor para compensar minha falta de escrita. Mas tenho um coração e sou um tentador e segundo ela isso já basta.
Ela. Lenny, Silene, minha esposa. Obrigado, eu amo você.
Um
Às vezes moléculas se esbarram com outras moléculas e formam uma coisa inteiramente nova a partir de algo que já existia, o que de certa forma faz a coisa nova não ser tão nova assim. Essa é uma lei da transformação química, em que nada se cria nem se destrói. Porém não tenho certeza se saí inteiro depois da noite em que a conheci. 
Havia algo de enervante no silêncio dela.
Aquela pequena mulher de olhos de dia nublado. Será que ela chove, eu havia me perguntando mais tarde em casa, será que seus relâmpagos também são quietos e seus trovões mudos. Ela falava pouco e eu menos ainda.
Quando você desse um passo à frente, perceberia que o caos estava espiando pelas mínimas brechas dela: na linha d’água dos olhos, debaixo da língua, acomodado na clavícula ossuda. Ela era uma aterrorizante caixa de Pandora e a própria Pandora ao mesmo tempo, com os dedos repousando sobre a tampa. O desastre e o gatilho da catástrofe unidos no mesmo corpo. Esperando.
Por uma questão de sorte, quando quase todas as pessoas retiraram-se da festa, ela olhou para mim. E viu-me, com seus grandes olhos de coruja sábia, viu-me. Naquele exato momento, fui desconstruído, tornei-me algo transparente e minha alma se acanhou porque nunca antes alguém a olhara. Posso dizer que é um pouco apavorante ser visto, uma vez que ao ser percebido pelo outro, você finalmente se percebe.
Em vinte e cinco anos eu não tinha entendido a profundidade do meu ser. E então, por um segundo, eu entendi.
Um horror apoderou-se de mim, uma inquietação que esperou mais de vinte anos para despertar. Pandora abriu a caixa de minha alma e uma reação química que demorou mil e um anos para acontecer finalmente se realizou. Achava que eu era irrequieto, e então provei da verdadeira angústia.
Quando cheguei em casa, compreendi que isso também era amor.
Dois
Não fui atraído por Lenny meramente por causa da sua aparência. E não me apaixonei porque sentia amor por ela, mas sim porque a temia. Ela ocupava espaço de um jeito diferente no cômodo e nos olhava — nos olhava como se secretamente soubesse. Do quê? Não sei. Acho que ela nunca vai me contar.
— Você sabe qual é o som do vazio? — ela perguntou-me certo dia.
Não sabia. Eu queria responder: você sabe qual é o gosto do medo? Você sabia que ele rasteja, que ele respira, que ele vive em paredes com infiltração e debaixo do meu travesseiro, que quando você deita do meu lado direito ele prontamente se deita do meu esquerdo?
Três
Tenho medo de ti ou tenho medo de mim? Acho que o medo é a nossa criança. Às vezes acho também que ele vive no seu útero, o qual você diz ser seco e lamentável como terra queimada ou terra esquecida, então deve ser nossa única chance de ter um filho.
Somos duas criaturas que nasceram para acabar em si mesmas ou só continuar a linhagem mediante um milagre. Terra infértil, terra árida com plantas de galhos retorcidos. Mas para mim está tudo bem.
Quatro
— Silene, o que você sabe?
Ela continuou pondo os pratos na mesa sem pressa alguma, depois arrumou os talheres entediadamente. Por fim, direcionou a atenção para mim, olhos cinzentos não fazendo o menor caso de minha cólera emergente. (Cólera. Gosto dessa palavra, seu uso dela me fez utilizá-la mais também.) Enfim, ela disse:
— Sei do que sobre o quê? — ela enxugou as mãos no pano de prato com indiferença. — Sei de nada, ora.
Mas eu sei que você sabe de alguma coisa. Você sempre soube. Você é pedra antiga, carrega até os conhecimentos milenares. E assim que ri de nós.
Eu estava começando a sentir minhas estranhas querendo se revirar. Uma náusea me subiu enquanto buscava recuperar a razão, a qual já havia perdido. Não lembro muito desse dia, não consigo dizer a vocês o que me levou àquele estado (um estado de culminância, como ela diria), mas aconteceu. 
Só queria poder explodir em choro e uma raiva que nunca aprendi a ter direito.
Comemos o jantar em silêncio. A carne estava mal passada (ou era impressão minha?) e sentia o sangue dos animais mortos na minha boca. Mastigava o medo deles e o meu próprio. A casa cheira a silêncio. Minha esposa toma duas pílulas antes da refeição. Tenho que me esforçar para não deixar que a náusea culmine, seria lamentável vomitar.
Minhas mãos ainda estão tremendo quando colocamos os pratos na pia.
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cortezzias · 5 years
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o oceano dentro de michel (2018)
o coração dele doía imperdoavelmente junto com os pés. na hora, ele não teve escolha além de se levantar e sair correndo depois de ouvir cruéis palavras que não esperava receber. o vento bateu contra o rosto com rastros de molhado, dando a ele uma sensação ardente e afiada. só sabia um lugar onde sua mente e espírito poderiam levá-lo agora.
este era o lugar de onde ele veio, de onde as lágrimas dele vieram também: a areia, o mar. certa vez, conversando com uma senhora de olhos tempestuosos na praia, ouviu que tinha um micro oceano dentro dele, e quando chorava, essas lágrimas vinham desse oceano pessoal. estava dentro de sua alma e o dele em particular era interessante: muito sereno, porém pode te devorar. nele há a força de emoções infinitas demais para se alojarem nas profundezas de si.
quando sentiu o cheiro do mar respirou tudo que aqueles pulmões falhando pelo choro conseguiriam, não temia a maresia. um horizonte sem fim o cumprimenta. caminhou até onde a água beijava a areia e ajoelhou-se. e quando a água o beijou também, soube que feridas se tratavam com sal. concedeu à natureza que fosse lavado de dor e vergonha, banhado na antiguidade do mundo e sabedoria. sua memória não poderia ser apagada, mas ainda poderia ser curado. 
andou mais em direção à água e logo metade de seu corpo estava submerso. uma onda se agiganta diante dele. michel a encarou e não havia mais lugar para medo, então fechou os olhos e permitiu que ela o atravessasse, quebrasse em cima dele e ele quebrasse debaixo dela. as lágrimas do oceano dele encontraram as lágrimas do oceano do mundo. o sopro brisa-mar cantou silenciosamente uma canção de esperança.
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cortezzias · 5 years
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escuridão viva
1. o que acontece às 11 da noite, segundo capítulo
2. a cidade não dorme e eu também não, parte 2.1
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cortezzias · 7 years
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um beijo com um soco [incompleto]
ou ainda: 
O Big Bang Ocorre De Novo
ou ainda:
Beije os nós dos dedos, por favor
Era um caos. Eles eram um caos.
Uma bagunça aparentemente irreversível que começou com um estouro: uma mão cujos dedos se cravaram na pele alheia para então a irmã desta se levantar e, sem nem mesmo antes beijar os nós das falanges para romantizar o ato, afundar-se contra a face que tanto estava a dar-lhe nos nervos.
Não foi refrescante o suficiente.
E como para toda ação há uma reação, o agressor fora igualmente atingido. E o outro também não foi gentil o suficiente para encostar os lábios na dobra dos dedos.
A partir daí, um colapso aconteceu.
Em algum lugar, o Big Bang acontecia de novo.
Quando foi socado novamente com força o suficiente para ter as costas encontrando o chão, Raven nem pôde pensar que já havia um tempo que não sentira a sensação da boca encher-se de sangue e aquele gosto metálico brincar na sua língua. O mundo piscou escuro rapidamente umas poucas vezes e fechou os olhos fortemente, só os abrindo quando sentiu um peso, como uma sombra sobre si.
Óbvio que ainda não seria o suficiente.
Houve mais golpes, e no terceiro ou quarto conseguiu ver seu rosto direito - o rosto daquele que tirava seu ar. No mau sentido. Qualquer pessoa poderia escrever um poema ou frase genérica sobre como olhos azuis lembravam o céu ou águas calmas mas Raven Magni era alguém que viu fúria em olhos azuis e nunca, nunca queria escrever algo do tipo porque são o céu e o mar numa tempestade impiedosa com raios e ah meu deus por algum motivo ele quer se afogar na água mais gelada e cruel.
Por causa disso, não demorou para que a situação virasse
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cortezzias · 8 years
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óculos
Havia recebido o objeto já fazia algumas horas, mas se negou a ficar com ele por mais de 15 segundos e se focar no quanto tudo era, na realidade, nítido e não embaçado. Nathaniel poderia olhar para as árvores e ver como as folhas podem ser bonitas quando são um amontoado ao invés de um borrão verde. Poderia ler algumas passagens do seu livro favorito — ou do roteiro que estava decorando — e se sentir aliviado por não ter que forçar sua visão para isso. Poderia apreciar detalhes que passavam despercebidos ou que simplesmente não tinha paciência para passar mais tempo do que deveria tentando decifra-los. Poderia, poderia, poderia...
''Algum problema? Por que não sai daqui já com ele?'' A oftalmologista questionou quando o viu guardando o óculos na sua caixinha própria.
O garoto apenas lhe sorriu enigmaticamente. Não queria explicar. Sequer valia a pena.
Quando saiu da clinica, mandou uma mensagem de texto:
[txt] recebi os oculos e to indo ai
[txt] continua torcendo pra eu nao tropeçar durante o curto percurso ate o carro numa pedra, cair de cabeça e morrer
Felizmente durante aqueles poucos dias quase cego essa hipótese mencionada foi muito repetida, mas não aconteceu. Ainda que acontecesse, provavelmente teria um desconto no velório. Ou no caixão. Arthur havia feito pelo menos 3 piadas sobre isso e não tinha certeza se poderia ser algo sério ou não no final.
Ele não tropeçou numa pedra no caminho. Sua mãe olhou-o de canto quando sentou-se no banco do passageiro, perguntando-se silenciosamente o mesmo que a médica. Sabia disso, e também lhe deu aquele sorriso, mais uma vez não se preocupando com explicações.
Foi atendido na porta da casa por justamente quem queria.
— // —
Folgadamente, como de sempre, Nate se deitou de barriga pra baixo na cama do moreno enquanto ele se sentava na cadeira giratória.
''Onde está seus óculos? Não sei por qual motivo não os usa. Achei que estava cansado de estar perdido no mundo aí.''
''Eu estou.'' Respondeu, abafado. Depois falou mais uma vez, porém sem a cara enterrada na almofada. Presumia que o semblante de Arthur devia estar confuso, então sentou-se para explicar e pegar a caixinha na bolsa a tiracolo no chão.
''Veja bem,'' uma risada nasal rápida partiu do outro. Ele prosseguiu: ''Para resumir, só queria que você fosse a primeira coisa que enxergo direito nesses últimos tempos.''
Uma pausa.
''Ah. Que bonitinho. E dramático. Fala como se tivesse passado anos cego de verdade.'' Brincou, assistindo-o procurar na bolsa. Arthur repuxava os cantos da boca em um sorriso pequeno, contudo muito lisonjeado. Ficou meio sem graça, assim como todas as vezes que o outro era tão direto dessa forma. ''Mas vá, ponha.''
O loiro assentiu e acatou a ordem logo, uma vez que já estava com o óculos em mãos.
Piscou enquanto se acostumava novamente, e o mundo se abriu para ele mais uma vez no leque de detalhes que era. Bem, ao menos os detalhes do mundo que era o quarto do mais novo. Só que não era nisso que estava pondo seu foco.
Uma ótima ''volta definitiva ao mundo sem borrões''.
''Cara, como você é bonito. Eu devia ter procurado a doutora no mesmo dia que havia dado problema.''
''Jesus Cristo.''
''É sério. Eu acho que me esqueci que você era tão lindo assim.''
''Diz isso porque ficou séculos sem ver minha cara direito.''
''Acho que está sendo dramático. Fala como se eu tivesse passado anos cego de verdade...''
Mais uma risada vinda de Arthur, sendo depois acompanhada depois pela de Nathaniel.
''Ainda assim, é realmente um colírio natural. Aposto que se tirasse os óculos estaria pelo menos 5% menos astigmático...''
''Isso é bem embaraçoso.''
''Certamente. E bem verdade, também.'' Piscou o olho esquerdo, fingindo um flerte desajeitado.
''Você não cansa mesmo...''
''...De olhar pra você? Não.'' Piscou desta vez o olho direito, o sorriso se alargando. ''Ok, vou parar pois temo que fique tão constrangido que a possibilidade de vir aqui e quebrar o óculos novo nas próprias mãos seja tentadora.''
''Bem, acho que tens visão do futuro.'' Disse enquanto se levantava e ia de encontro ao loiro. Não estava sério sobre isso, obviamente. Parado a frente da cama  onde estava ele, levantou a mão como se fizesse menção de que pegaria nas hastes para tira-lo do rosto de Nathaniel, o qual reclinou-se para trás, esquivando logo. Deu um passo a frente e tentou de novo, mais uma vez não obtendo sucesso. Na terceira, Nate já teria quase se deitado, se não fosse a parede atrás de si. Encostou-se nela com ar de vitória pela desistência de Arthur, que meneava a cabeça, aceitando sua  suposta derrota.
Até que ele inclinou seu esguio corpo em direção a ele, e por um momento, Nate achou que perderia pois estava isolado naquele pequeno espaço de cama-parede-Arthur. Agarrou-se a almofada que estava no colo e fechou os olhos, virando a cara para o lado.
Recebeu um singelo beijo na bochecha.
Abriu os olhos e riu.
E ele estava tão perto, mais uma vez com o sutil sorriso. Um sorriso para ele. Sabia que se estivesse sem os óculos muito provavelmente não poderia apreciar aqueles pequenos, ainda assim grandes, detalhes de sua face daquela forma. Aquelas pequenas linhas verticais dos lábios meio rachados e pálidos. A forma da ponte do nariz. Os cílios que deixavam seus olhos ainda mais bonitos. E era tão lindo, tão lindo.
Não tinha certeza de quanto tempo havia ficado o encarando, mas foi o suficiente para Arthur baixar um pouco a cabeça. Desviou o olhar — agora também tinha ficado acanhado.
Só sabia que agradecia às pessoas que inventaram os óculos.
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