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"Por que- Por que eu? Por que-"
Um nome capaz de alterar a percepção de toda uma história. Um rosto combinado ao toque responsável pelo eriçar dos pelos do braço. O que deveria assustar pedindo um momento de curiosidade. Deixar que a mente e o coração pensassem em algo mais cálido do que a morte eminente. Maryland estava a pouco de ceder completamente, de acreditar em cada palavra que saía dos lábios. Acompanhando quase sem pesquisar, dardejando da linha ocultada pela barba para a sinceridade brilhante dos olhos escuros. Ah, ela se considerava uma excelente juíza de caráter, mas um dom daquele poderia continuar como desenvolvido após perder os sinais mais óbvios? Ela sugou o lábio inferior e o mordeu com força, brincando com a sorte de que ele não se romperia. "Eu não sabia o que eram vampiros até o Halloween. Ou qualquer outra criatura." Porém, tão cedo quanto conseguiu essa informação, o esquema lucrativo dos pais adotivos acrescentou uma camada extra de dificuldade. Karan, Mary já se corrigia mentalmente, tinha um início, meio e fim. Cada um dos ensaios sem partes ocultas, as mensagens trocadas sem exibir um erro. Cada momento, cada gesto, cada risada por serem quase descobertos, cada suspiro aliviado quando a envolvi num abraço. E com o tratamento, aquelas memórias esquecidas voltavam - ou melhor, o feitiço só ajudava a ação do colar, repelindo quem já tinha feito mal a si. "Queria achar difícil o que eu vou fazer agora. Queria... Não queria que fosse tão fácil." E a machucaria profundamente, dependendo da resposta que tivesse. Das condições que sairia daquele possível último encontro.
Os dedos ao redor do pingente não foram gentis ao puxar a pedra para baixo e forçar o rompimento do cordão de ouro. Maryland sentiu quando a proteção caiu ao redor de si, como uma segunda pele que se acumulava ao redor dos pés. Deu um tempo, segundos para que espalhasse, antes de erguer as pálpebras pesadas de um choro acumulado dentro de si. Seu rosto expressava demais, exposta, do que queria e ansiava; do que a delicadeza sentida por aquele cacho nos dedos de Karan. "Não foi pelo meu sangue?" Amargo, polvilhado de ansiedade. Receoso, adoçicado com esperança. Maryland entrava naquele domínio não dito do homem, invadindo a bolha do espaço pessoal a ponto de perceber que a respiração não era normal. De que não recebia o calor da proximidade de volta e isso não diminuía sua vontade de testar. De ter certeza que não era coisa da sua cabeça. "Promete que nunca foi isso?" A distância reduzida também diminuindo o volume da voz, essa não passando de um sussurro. Ah, mas ali parecia que gritava. Dos olhos precisando correr de um para o outro porque ficava difícil manter abertos naquela posição. Sua mão pousada na dele sobre a mesa, para ter o equilíbrio de pés em ponta e diferença de altura descartada. "Karan." Murmurou perto demais, o movimento raspando nos lábios dele no mais suave toque. Talvez ela estivesse no meio do seu último gesto em vida - pensamentos dramáticos. Empurrando de lado o temor para completar, elar os lábios num beijo cálido de respiração suspensa; como se fosse a primeira vez. A Juma se afastou alguns centímetros, testemunhando a provação que iniciara.
"Karan." Olhos escuros eram fixos aos dela, mesmo quando vacilavam para qualquer outro canto que não a própria face. Uma pequena parte de si desejava ouvi-lo dos lábios de Maryland, ansiava--- a necessidade em esconder a identidade dissipada trazia um novo sentimento à superfície: de revelar-se. Ele deixou com que a musicista falasse, estóico, pés irrevogavelmente colados ao chão por ouvir as batidas descompassadas e o cheiro inconfundível de medo. Mas o vampiro sabia ter mais por trás daquilo. Afinal, o vivia também. O silêncio durou até a deixa da última pergunta--- passos femininos em sua direção, fechando a distância, outrora convidativos para encontrarem-se em puro afeto. E então, Karan balançou a cabeça de um lado para o outro, a genuína e forte honestidade contida no olhar compenetrado. Sério. Resoluto. A linha dos lábios sem a curva característica do sorriso que lhe parecia sempre presente dava lugar a uma de suas faces mais realista, desconhecida por Maryland. A face de um homem cheio de profundidades e certezas. "Meu nome é Karan." Frisou. Iria explicar-se, dada a oportunidade, com frases curtas e movimentos humanos em fluidez. "Maryland..." A destra percorreu os fios cacheados, enquanto Karan escorava-se pelo quadril na mesa do escritório. Depois, juntou-se com a esquerda e por fim pousou aos lados do corpo nas bordas amadeiradas, indicando que não sairia dali. Que se demoraria, que não atentaria contra a mulher. "De fato, há muito sobre mim que lhe é desconhecido. É... Algo necessário para a sobrevivência minha e de meu clã. É algo que desejo partilhar com você, quando o momento for oportuno. Serei brutalmente honesto, para que não pense estar lhe escondendo nada--- mas peço que me ouça em integridade." Karan apertou os lábios por dois instantes, clara e cuidadosamente escolhendo as palavras seguintes. A dificuldade em confrontar aquilo se traduzia na sutilidade da sobrancelha franzida e o tom de voz tingido de paixão. "Quando lhe conheci, estava cumprindo meu papel como Nikhil. Havia encontrado os funcionários do teatro no clube, e resolvi me arrastar após todos saírem. Pensei em fazer algo que eu e Nikhil compartilhamos em termos de prazer: dançar. Beber. Conhecer pessoas interessantes." A sombra de um pequeno sorriso apareceu nos lábios, mas não se demorou. "E então nos esbarramos. Nunca havia lhe visto antes, pois eu saberia. Sim, Maryland, seu sangue é cheiroso, mas não foi o principal motivo para querer lhe conhecer melhor." Dedos tamborilavam na madeira. Se tivesse um coração funcional, este estaria ligeiramente acelerado ao revirar tantas memórias. "Você me fez sentir algo que há muito não... Sentia. Pense o que quiser, mas há espontaneidade em seu jeito. E beleza em como você vê a vida, e seus desafios. Foi refrescante por um momento ser apenas um homem cortejando uma mulher." Karan umedeceu os lábios. "Jamais alterei suas memórias. Se são o que são, é porque assim aconteceram." Fazia menção também ao sentimento compartilhado. O olhar divagou por dois instantes, como se estivesse incomodado com tamanha sinceridade saindo dos próprios lábios. "Curiosamente, também nunca menti nas pequenas trivias compartilhadas. Gosto de calor. Gosto de ler, ainda que há pouco que não tenha ao menos folheado... Gosto de música. Da sua voz. Do seu cabelo. De como olhava para mim. Nunca menti sobre isso--- e quanto ao sangue: jamais me ocorreu que você não entendesse o que estava acontecendo. Meu afeto é genuíno." Karan falava sério, e ainda que parecesse outra pessoa, talvez exalasse ao fundo as semelhanças com Nikhil. Inspirou pela primeira vez desde que começara a falar, deixando-se inebriar pelo cheiro da mulher. "Me perdoe, Maryland. Talvez fosse algo mais fácil se em outra vida, com um corpo como o seu. Mas sou grato à minha condição por diversas coisas... Inclusive, por poder lhe conhecer."
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O suave ruído da porta fechando atrás de si fez o corpo travar na posição por um instante. A cabeça mexendo-se só um pouco, como que para confirmar o que tinha sentido, e desistindo do giro completo rapidamente. Aquilo não deveria ser um problema, não agora. Foco. Sentindo o peso voltar a mão, seus dedos pressionaram com mais força a caixinha, meio que numa tentativa de disfarçar que tremia. Seu coração não deveria descompassar assim quando entendia o que via, alvoroçando-se todo num alívio da saudade que não deveria ter crescido. Ele é um vampiro! A lembrança piscando, de seus dedos perdendo-se nos cabelos escuros e a pontada de dor antes do êxtase. "Eu entendo a minha situação, Nikhil. Todos os dias, para ser bem precisa, sou lembrada da minha situação. Seja num hospital, seja fora dele." Vampiro, nunca se esqueça disso. E mesmo não falando nada, era impossível que ele não soubesse do que estava falando. Maryland sequer nutria uma esperança de que ele não tivesse comprado uma remessa dela em outro momento, quem sabe até a usado. Porém, ao criar aquela linha do tempo, seu rosto se contorceu numa careta e o peito apertou, aflito. Assim como aquela decisão não autorizada por si. Seus olhos arregalaram e ela arfou, assustada. A musicista recolheu em si, apertando a pedrinha aquecida por cima das roupas, seu amuleto enviando os sinais de que lidava com um vampiro. "O que- Eu não preciso de um rastreador, nem um protetor. Nem um- Eu não entendo." Porque seus pensamentos voltavam para o mesmo lugar, não importando de qual ponto tinha saído. Sempre caindo naquela pergunta absurda sem resposta, que tirava o ar e a empurrava, suada e ofegante, dos pesadelos em recorrência crescente. "Por que- Por que eu? Por que-" Não, não era essa a pergunta, mas ela se aproximava. Tanto a voz como seus passos ao adentrar o espaço daquele que achou ter conhecido e encontrou ainda mais mistérios. "Você já mexeu- Em qualquer momento, você já-" Maryland mordeu o lábio inferior para conter o choro ao mover o indicador e apontar para a cabeça, para os pensamentos que implorava para serem ainda dela. Apenas dela. "Foi tudo por-." Não conseguia continuar... Não queria continuar até que... Até que soubesse.
Olhar as árvores e a perene imutável neblina pela enorme janela do escritório servia como uma distração. Mãos para trás, a destra segurando o punho da esquerda, dedos friccionando ligeiramente a pele procurando por um pulso que não existia há... séculos. Seu coração não estava batendo, Karan tinha de se lembrar a todo instante, ainda que durante as alucinações pudesse sentir o peito vibrar. Suor se acumulava na testa e sumia ao mais suave toque de dígitos. Nada daquilo era real, mas sentia-se humano outra vez. Jurava perceber o sangue percorrendo as veias, a sensação simplesmente--- aterrorizante. E talvez estivesse inerte há tempo demais, pois quando ouviu e notou a movimentação do lado de fora, o Sol começava a se pôr. Olhando para baixo, sobrancelhas grossas arquearam-se ao ver do segundo andar... Maryland, marchando para dentro de sua casa sem o conhecido cheiro, possivelmente oculto com um dos amuletos como os seus. Imediatamente a mão largou o pulso e foi ao encontro do peito, uma sensação horrível atingindo-o sem precedentes. O vampiro aguardou dolorosamente cada passo que ecoava no chão de madeira, olhos fechados para manter-se centrado, para expulsar aquele frágil estado humano... Passos subindo as escadas, virando à direita... E quando pensou que não aguentaria mais, um de seus subordinados abriu a porta para revelá-la. Karan virou-se, íris escuras para não causar desconforto. Bem-vestido como sempre, os cabelos imaculadamente desgrenhados, mas no rosto faltavam traços de carisma. Aquele olhar autoritário foi mais do que o suficiente para informar que gostaria de privacidade, a porta enfeitiçada se fechando e inibindo qualquer som de sair. "Maryland." Disse, enquanto caminhava por detrás de uma enorme mesa de madeira a passos lentos até sua frente, escorando-se pelo quadril no tampo. Não foi preciso que ele perguntasse o motivo da visita (que há tanto era esperada, mas as circunstâncias indicavam que não seriam nada perto de qualquer profundo anseio próprio). "Fique com o presente." Karan tentava ignorar a sensação de algo se remexendo por dentro. Contraindo e liberando, jorrando sangue e... Adrenalina. Ansiedade. Então era assim que ela se sentia? Piscou algumas vezes, sobrancelhas se franzindo. "Eu acredito que você não entenda a gravidade da sua situação. Esse anel tem o símbolo do meu clã. E do meu sobrenome. Nenhum outro vampiro ou criatura irá lhe fazer mal enquanto usar..." Karan suspirou, a destra passando aberta pelos fios cacheados. Ao menos não os que possuíam tratados. "Mas não posso garantir sua segurança a todo momento. Então fiz um amuleto para me chamar em qualquer urgência... Sei que não confia em mim. Mas eu nunca quis lhe machucar." A face impassível dava lugar finalmente a algo mais suave, quase imperceptivelmente. "Por favor, Maryland... Se não quiser usar, guarde-o no bolso, só... Fique com ele. Prometo jamais cruzar seu caminho novamente--- a menos que você precise de minha ajuda."
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FLASHBACK. Pós Baile das Sombras.
O pedido entrava de um jeito tão errado pelos ouvidos de Maryland que uma careta começou a se formar. Linhas pronunciadas entre as sobrancelhas, lábios enrugados em irritação. E o gelo. Uma massa polar poderosa acumulando-se sobre a cabeça erguida em altivez. Não deveria estar tão confiante. Não quando tudo ficava cada vez mais óbvio, mais claro, impossível de pensar de outro jeito que não o real. Aquela ilusão em que tinha se metido (enrolado, abraçado e fechado os olhos!) ruía com mais velocidade que as cartas daquele castelo precariamente montado. Uma olhada para cima, uma respiração mais pesada, algo mais brusco do que piscar e tentar entender. Talvez conseguisse ver outro ângulo. Talvez não estivesse olhando mais fixamente para a boca de Nikhil, procurando presas afiadas. Talvez não estivesse realmente flexionando e se fechando em si, pronta para um ataque que o corpo já esperava. Porque era sempre assim, não era? Limpa, arrumada, bem alimentada, conduzida e entregue. E ela nem estava acordada para ver se a porta era amarela. "Não me toque." Maryland puxou a mão de perto assim que sentiu a diferença de temperatura, colocando mais um passo para trás no completo afaste. Aquela lembrança, aquele fato, foi a última gota para o copo transbordar. Seus dedos apertavam o frasquinho com força, tremendo tanto que era impossível- Não sabia, não entendia. Suas memórias conflitando e criando novas misturas, novas colagens. O rosto dele no seu, a mão segurando o rosto; e violência ao puxar os cabelos e tomar o que não pertencia. As risadas mal contidas depois de quase serem pegos no teatro com salas escuras demais para enxergar um palmo à frente do nariz. Aperto férreo no pulso, puxando para voltar à mesa. "Você não me falou. Em nenhum momento, você não- Você não falou." Era para ter me levado para o hospital! Era... Era para gritar, para exigir respostas, mas... A cabeça balançava e ela ia para trás. Seus olhos arregalados juntando lágrimas não derramadas. Era- Não era? O lábio inferior mordido, a sensação esquisita. Como tinha passado de segurança para completa vulnerabilidade em segundos? Como podia algo tão sólido transformar-se em vidro estilhaçado? E aquele medo, aquela agonia de não saber o que aconteceria. "Quero- Você me m- Eu quero ir para casa." E se ele tentasse mais alguma coisa, Maryland não hesitaria em sair correndo. O que ela tinha a perder? Quando ele tinha o poder de alterar sua memória, de transformar tudo ali num pesadelo e fazer de novo? E de novo, e de novo, até acertar? "Sozinha."
[flashback]
"Acalme-se, Maryland." Karan utilizava de toda a tranquilidade adquirida de séculos para lidar com o turbilhão de perguntas. Esperou que ela passasse pelos aqueles estágios de confusão, e ergueu-se da cama. Uma profunda inspirada de ar com a mão espalmada, para demonstrar que iria explicar tudo--- que havia entendido que ela precisava de mais. Talvez não fosse necessário protegê-la de tantas informações... Mas a cautela ainda brotava no timbre ao fundo das palavras, como se fosse algo delicado. Humanos eram propensos a choques daquele tipo, tinha de se lembrar. "Eu não estou mentindo. Você caiu no meio da multidão. E se machucou. Nada tão grave, não para alguém com quantidades normais de sangue no corpo. Encontrei você desacordada, e lhe trouxe para minha casa... Não era seguro em qualquer outro lugar." Os olhos tornaram-se meio distantes enquanto ele se recordava do ocorrido. Algo como medo passando pelo semblante sempre tão composto, endurecendo. Escolhera, porém, omitir a segunda parte: a de que sim, Maryland era um alvo. Não de Lúcifer ou dos atacantes, mas de grande parte das criaturas bebedoras de sangue de Arcanum. Karan preferiria lidar com aquilo em segredo, por debaixo dos panos. "É meu, claramente." Ele explicou, apontando para o frasco sem expressar qualquer emoção grande demais, como se estivesse falando de algo rotineiro, quase achando curioso ter de esmiuçar as entrelinhas. O sangue era dele, pois era inimaginável lhe oferecer o de qualquer outra pessoa. "Ouça, Maryland, quero que você o guarde. Foi o que usei para lhe curar, fechar suas feridas, como eu disse... Não há nada tão poderoso quanto sangue de vampiro." Uma mão deslizou pela barba e depois caiu para tocar a de Mary, empurrando gentilmente o frasco para perto da mulher. "Guarde com cuidado, leve sempre com você. Não use muito de uma vez, caso precise."
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FLASHBACK
A expressão de Tymotheos permaneceu a mesma, sem reação. Uma informação que já sabia. Mas não se deixava enganar pela simplicidade do vampiro. Os punhos recuperados escondiam as marcas das lutas, dos favores trocados no subsolo do Oitavo Pecado em troca do frescor do sangue vivo. O híbrido revirou os olhos e assentiu com graça. "Não acho que Miguel saiba o que quer da vida a essa altura do campeonato. Ele não sabe, seus subordinados não sabem, ninguém acaba sabendo. É um milagre, ou uma simulação bem cruel, que ainda exista alguma ordem por aqui." Não precisava ser um gênio para associar certos acontecimentos com algumas criaturas de Arcanum. Ainda mais quando gostava de ouvir e incitar outros a se gabarem de seus feitos. "A vida está excitante, Vlad? Quem foi o último a colocar um calorzinho na sua vida?" Deu de ombros, a mão abanada no ar como se afastasse a ideia. "Quinta sessão da asa de um feérico, lágrimas de tristeza pós término, unha do dedo do meio do pé direito. O mais esquisito foi o cacho de uma videira pós-ressurreição. Ah, claro, sangue. Ela gosta de pedir sangue."
[ FLASHBACK ]
"Por enquanto." Ergueu uma sobrancelha. "Veja bem, se um humano consente para a doação de sangue, deveria ser algo permitido. Uma bolsa aqui ou ali não mata ninguém. No entanto, Miguel quer nos manter fracos. Sangue sintético não é o mesmo que sangue humano, nos mantém na linha." Não revelaria, é claro, que havia o mercado de sangue humano e que era comum para alguém como ele matar por sangue também. O comentário de que sangue sintético os deixava fracos, incluindo ele, também era proposital. Qualquer um que quisesse tirar vantagem deste fato se revelaria logo. Ignorou o comentário do maior sobre filmes, preferindo não deixar clara a sua opinião sobre quem era incapaz de ver um filme –– um pensamento nada positivo, é claro. "O que são seres imortais se nunca experimentarem a morte vez ou outra? Torna a imortalidade um pouco mais excitante." Deu de ombros. Ergueu as sobrancelhas, curioso com a proposta. "Que coisas esquisitas?"
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Tymotheos lembrou de cada um dos 'crimes' de seu repertório. Cada alma retirada, das caçadas frutíferas, os riscos no código penal que descumpria com orgulho. Chegou até a apoiar o cotovelo no balcão, a mão em punho segurando o queixo enquanto espremia os olhos claros numa fina linha. Ela não sabia da missa a metade. A risada aliviou a tensão e o híbrido balançou a cabeça em negação. "Com todo o respeito, nunca ouvi tanta merda junta. Arcanum literalmente nos sequestra do mundo 'real' e eu? Me alistar? A situação na força está tão ruim assim?" A imagem da polícia desta cidade amaldiçoada era estranha demais para sequer iludir de que faria parte. Seja pela dificuldade de seguir ordens superiores (sendo um alfa com a maiúsculo) seja pelo descontrole inerente de sua natureza (piorado pelo vampirismo). Ergueu a mão para pedir uma dose dupla da bebida mais forte - cerveja queimaria antes mesmo de chegar ao estômago. "Na teoria... Tão reconfortante. Não é melhor testá-las com algo próximo desses extremos aí? Um demônio recém feito, um feérico vingativo. Um híbrido de vampiro e lobisomem próximo da lua cheia?" A sobrancelha arqueada esperava um entendimento do que falava sem falar, porém, a paciência do Corvinus era curta. Não era adepto de enrolar para falar as verdades. "O que aconteceu, das moedas, não fez muito bem para mim não. Preciso da cela para o pico da lua. Hm, por favor?"
"Ah, é disso que te chamam é?" ela terminou a cerveja, fez um sinal para o barman para pedir a próxima e empurrou a garrafa vazia para junto das outras. Hoje não era uma noite de moderação. "Como cidadão de Arcanum, o seu dever é aproveitar a sua vida e deixar esse tipo de coisa para as autoridades. Ou você quer se alistar?" O tom de Marisol era divertido quando ela cutucou o braço dele com o dedo e indicou o tamanho de Tymotheos com um gesto vago. "O seu uniforme provavelmente teria que ser feito sob medida, mas eu acho que tem orçamento suficiente pra isso. Eu não ia me incomodar de ter um cara do seu tamanho do nosso lado pelo menos." Mantenha seus amigos perto e os seus... ah, sei lá. Quem poderia dizer se Tiny era de fato um inimigo, ou só um desocupado com boas intenções? A cidade estava cheia de ambos, e era melhor não antagonizar recém-chegados por pouca coisa. Até onde Rosa sabia, Tiny era novo demais em Arcanum para estar envolvido com as coisas que ela investigava, e aparentemente ocupado demais para ser responsável pelo que aconteceu no Baile das Sombras. Quanto ao desfile... bem. Eles ainda estavam investigando isso. "Na teoria, elas foram feitas para resistir lobisomens enfurecidos e vampiros antigos, sem falar em bruxos poderosos. Só precisamos dos nossos suspeitos. E já que você não vai entrar numa delas tão cedo... aceita uma cerveja? Aproveita que eu estou de bom humor."
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FLASHBACK
Antes da mudança de categoria, Tymotheos teria se empertigado como um pavão a menção do nome da família. Orgulho exalando do peito aberto, sorriso quebrando a expressão presa na carrancuda em pedacinhos mais amistosos. Agora? Seus sentidos apitavam em ameaça. O híbrido levantou da cadeira, esticando seu porte grande demais. "Probabilidade de 100%, porque eu sou a porra de um Corvinus." Não tinha dito nomes, o estranho não associou nada além do mais básico do mais básico. Medindo-o dos pés à cabeça, aceitou a realidade sem grandes desvios. Se a notícia de que estava 'vivo' parecesse escapar de Arcanum, daria conta desse aí. Ou morreria tentando, confirmando o que já sabiam. "Tymotheos Corvinus." E nada mais. Sem o título de futuro chefe de clã, de alfa verdadeiro entre seus irmãos. "O que você quer? Se for gracinha, encorajo a continuar o seu caminho." O lábio superior repuxou em espasmo, revelando o brilho de um canino agudo que tinha se prolongado. O cheiro ainda o deixava estranho, franzindo o cenho como se pudesse descobrir o segredo apenas encarando fixamente. "O que... O que andou fazendo para ter esse cheiro?"
"porta do guarda-roupa?" a referência demorou um tempo para ser discernida, ainda não havia se acostumado com obras do último século com perfeição. assentiu, confuso, antes do cenho franzido vagar por tymotheos. piscou algumas vezes, achando que seus olhos pregavam algum tipo de pegadinha. ele parecia com um de seus irmãos. pior, a memória ainda recobrava para seu filho, numa das poucas ocasiões em que o vira depois de adulto. mas não era seu filho. sabia que ele havia morrido. quando a expressão não poderia ficar mais séria, ele balançou a cabeça duas vezes e riu, seco, sarcástico, pois tinha quase certeza do que se tratava. "qual o seu nome? porque se meu olfato não falha, você cheira como um maldito corvinus. qual a probabilidade?" o sotaque era tão forte que era quase difícil de discernir, matej sentia um conflito de emoções que extravasavam pela fala.
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Sonhos Lúcidos. O doce no prato era chamativo e convidativo, colocando saliva acumulada na boca da musicista. Visões do Futuro. Os redemoinhos do café escuro eram encobertos por uma nuvenzinha delicada. Duas opções e nenhuma conseguindo 100% de certeza dela. E nem era pelo... Pela... Pela traição na moeda mágica, presa embaixo de um copo no quarto, mas... A atualidade era tão confusa quanto amedrontadora. Maryland virou o rosto para Elias. "Qual você escolheria? Felicidade de um sonho sem perigos ou saber o futuro com uma chance de não conseguir evitar?" Seus olhos se estreitaram, um sorriso abrindo automaticamente no rosto afogueado. O frio de fora começava a dar espaço para o quentinho do café, deixando-a ruborizada. "Olha, se essa frase virar o título da próxima coluna do Arauto, vou pedir honorários."
convocado: @eliasms
local: Café dos Sonhos
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Separado por alguns metros, Tymotheos se preparava física e psicologicamente com a possibilidade de ser amaldiçoado. Nos bolsos, alguns amuletos e quinquilharias, presentes de outros bruxos com quem tivera um contrato de trabalho. Mas Evie? O céu, e o inferno, era o limite. Sua exigência do novo passo na relação não era, nem um pouco, aceito pelo híbrido. Razões? Não faltavam, mas... A coragem vacilava ao sinal da Tenda da Bruxa, agitando o peito em suspiros de irritação e resignação. Era só não flertar. Não trazer aqueles detalhes de lençóis amassados e pernas entrelaçadas. Era só não ser um filho da puta. Girando os ombros, os passos começaram. Antes de arrependimento, a mão guiou para dentro, já preparada para defesa imediata de objetos arremessados. "Eu venho em paz." Contudo, não a enxergou logo de primeira. O híbrido levantou o nariz e farejou o ar, guiando-se pelo rastro da bruxa.
convidado: @wantsallfab
local: Tenda da Bruxa
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FLASHBACK
A raiva faiscante entrou em um novo patamar facilmente alcançável. Tão simples que Tymotheos controlava-se para não chegar ali, não transformar aquele lugar num dependente de tudo. O silêncio reinava em sua mente, sufocando cada pensamento na mais pura e fria reação disponível a um monstro. Aquele... Aquilo não era exatamente um homem, tampouco algo respeitável entre os lobisomens. A aura provocava medo, crescendo em que estava próximo sem que percebesse, até que a estranheza condensava o suor frio e arrepiava todos os pêlos do corpo. Nem a transformação híbrida parecia funcionar quando os pelos recuaram e as garras exibiram-se em unhas curtas demais. O cabelo loiro, areia em uma tez levemente bronzeada, parecia feita de gelo. Da chama tão forte que era minúscula, azul brilhante como seus olhos. Tantas mudanças físicas, não é? Temperamento e postura diferentes, comedidas e rígidas, para afogar o caos interno de suas emoções. Tymotheos queria gritar, gritar. Colocar para fora a mágoa daquela traição, o abandono da família em seu luto do lado de fora, da impossível tarefa de sair correndo e se livrar. Deixar cair em si de que não tinha salvação, de que cada sonho era envolvido em camadas e camadas de pura ilusão para não levá-lo à loucura. Ele nunca voltaria para casa. Ele nunca seria aceito de volta. E aquele objetivo o vinha colocando no caminho, empurrando para frente, ligando-se tão irreversivelmente àquele aos seus pés que... aquele corte... O deixou perdido. Tymotheos não ficava perdido, o lobo recusava a nova programação. Então... Crescia, transformava o sangue em lava cristalizada, o caótico no anjo do juízo final. Ele se aproximou do mais novo e ergueu a mão, indicador e dedo do meio, encaixando o nariz torto entre os dedos. Quebrando. Puxando para voltar ao lugar e curar corretamente. "Acabei." A voz rouca era firme, gélida, distante. O polegar conferindo o último ajuste antes de soltá-lo de vez. Uma última vez. "E é Tymotheos para você." Sem despedidas, o híbrido conferiu apenas que tinha entendido a sua mensagem quando deu as costas e foi embora. Não para a cidade, para o convívio das outras criaturas. Foi para dentro da floresta, para qualquer lugar que comportasse a pressão que crescia dentro de si, ao ponto de explodir.
FINALIZADO
[flashback]
TW: sangue.
Se Nate não estivesse tão acostumado com a transformação de Tiny, provavelmente estaria em completo pânico. Ainda que sangrando (e perto de um meio-vampiro que agora lhe desprezava em certa proporção), não se sentia em perigo. Talvez fosse a dormência alcoólica proporcionada pelas muitas e muitas cervejas e a recorrente falta de juízo. Talvez ele devesse temer. Mas algo dentro de si lhe dizia que Tiny não lhe mataria ali, ainda que pudesse. A mão esquerda dominante tentava estancar o sangue que jorrava do nariz enquanto a direita tateava o chão, mole pelo impacto, tremendo, procurando virar uma alavanca e impulsioná-lo para cima. Se continuasse deitado, o perigo era sufocar-se com a hemorragia. Então, ele tossia, cuspia, grunhia, até conseguir. A pose meio sentada de cabelo e roupas sujos e amassados formando provavelmente a imagem mais deplorável da década, o nariz torto e com um calo remendando-se... Dolorosamente na posição errada. E Nate ria. Ria, mesmo que as lágrimas descessem dos olhos, embaralhando a visão, num misto de choro e histeria convulsiva, até Tiny começar a falar sobre o dia em que se conheceram. A risada parou, e pouco a pouco o rosto foi tornando-se mais sério, a lembrança invadindo os pensamentos como um intruso não convidado. Forçando-o a ver uma versão de si que parecia tão distante e inalcançável. Fazendo-o sentir-se podre, impuro, quebrado. Nate cuspiu um último coágulo de sangue, finalmente conseguindo equilibrar-se o suficiente para sustentar o rosto e observar Tiny. A triste e cruel coincidência retorcendo o intestino em pura agonia. "É engraçado que..." Começou a falar, após um longo minuto de silêncio. "Eu sempre ouvi os uivos da minha família, lá do lado de fora. Sei que eles não tão aqui, mas esse inferno--- essa merda de lugar me fazia ouvir eles. E foi por isso que eu te encontrei naquele dia." Uma risada sem muito humor, olhos azuis caindo para as mãos ensanguentadas, vibrando. "E você..." Se tornou a minha família, Nate diria, mas o choro silencioso fechava a garganta e estrangulava as palavras. Quando conseguiu falar de novo, sentia também raiva. De tudo, de todos, de si. Lentamente ergueu-se, obrigando os músculos doloridos funcionar. "Já acabou, Tiny? Já acabou de provar o seu ponto? Esse é o meu valor? Um murro no nariz? PORRA! É SÓ ISSO QUE EU MEREÇO?"
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Deveriam existir problemas sobre Maryland Juma quando seus olhos reconheceram Bruno na rua. Uma miríade de ramificações das últimas escolhas e acontecimentos, fiozinhos finos ao redor do pescoço, que desapareceram assim que a mão foi levantada em cumprimento. "Não, você não está." Preocupações direcionadas para ele, apenas ele. Seu cenho franzindo ainda mais ao segurar as mãos geladas de Bruno, conduzindo-o para longe do meio-fio e dos carros que passavam. Não era uma crise de ausência. Mesmo que ficasse desnorteado depois, aquilo... Aquilo parecia diferente. "O que aconteceu, Bruno? O que aconteceu?" Não conseguiu evitar repetir o que dissera, insistindo que permanecesse ali no presente. Maryland ergueu uma mão para segurar no rosto alheio, seus dedos afastando os cabelos da testa.
I CAN'T SAVE ME // WITH @calymuses (MARYLAND)

Bruno poderia pensar que seus inúmeros e diários episódios o preparariam para momentos como esse, mas a verdade é que, mesmo com todas as vezes que vagara sem rumo e sem consciência, ele nunca havia se sentido tão perdido. Piscava e era como se pisasse em Arcanum pela primeira vez; os edifícios e ruas tão familiares de repente se mostravam completamente desconhecidos, como se nunca os tivesse desbravado antes. O pânico do desconhecido subia pela sua garganta e o fazia querer gritar, mas seu autocontrole o continha. De qualquer forma, andava pelas ruas, perdido e suando frio, os olhos azuis frenéticos procurando por algo familiar ─ até que a viu. Com passos rápidos se aproximou de Maryland, um rosto amigo e conhecido em meio a tanta confusão, e confessou baixo: "Mary, estou enlouquecendo. Por favor, me ajude a fazer parar."
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Se provocasse algo ruim, pediria desculpas depois. Agora, os dentes fechando no lobo da orelha da bruxa, Tymotheos tinha apenas um pensamento em mente. Olhando ao redor, garantindo que não tinha virado o objeto de atenção dos outros frequentadores, ele decidiu que estava farto daquele lugar. Do sangue sintético, da obrigatória socialização, das luzes irritantemente baixas daquele cantinho no bar. O híbrido desceu do banco sem abrir espaço, um gemido meio rosnado escapando da garganta quando os joelhos dela esfregaram em uma parte incomodada de si. "Vou te levar pra casa." O grunhido ainda estava ali, arrastando a voz numa rouquidão de ansiedade e expectativa, beirando à primordial necessidade inerente dos lobisomens. Estava perto da lua cheia, mas não o suficiente para ser um animal ao carregar nos ombros e sair em disparada. Tymotheos pegou pela mão e entrelaçou os dedos, gentilmente conduzindo porta afora. "Passo pelas preliminares sem esforço algum, Evie, e te mostra exatamente como quero ser pago." Uma promessa. Uma resolução de palavra (quase) honrada e que começaria assim que fechasse as portas da caminhonete, com a mão subindo pelo joelho da mulher.
FINALIZADO
Os olhos da mulher sempre foram expressivos, falando mais do que suas palavras jamais poderiam expressar. Não era necessário muito para que o brilho de seu sorriso alcançasse aqueles olhos quando ele estava por perto. "Como poderia ver qualquer outro se minha atenção está focada em apenas no que me importa?" perguntou sinceramente mantendo aquele cafuné gostoso. O toque físico era, de longe, sua forma mais clara de mostrar carinho e talvez aquela fosse a época em que mais pudera por para fora aquela forma de se expressão. Era complicado para quem queria sempre parecer forte estar naquela posição, disposta a abrir seu peito a alguém, mas o que poderia fazer? Precisava tentar. "Uma semana apenas?" perguntou quase que ultrajada, ele não teria entendido seu pedido? Mas logo ela entendeu onde ele estava querendo chegar, e seu coração, como sempre, cedeu à suavidade da maneira como ele a tratava. Seus olhos se fecharam por um momento e o sorriso surgiu espontaneamente em seus lábios. Sentiu o toque suave em seu rosto e um arrepio gostoso percorreu sua espinha, enquanto seus dedos, quase sem querer, desceram e apoiaram em sua bochecha, trazendo-o mais perto de si. Ela o olhou com uma intensidade silenciosa, quase como se quisesse que ele soubesse mais do que suas palavras poderiam dizer. "Tymotheos..." sua voz não saiu mais que um sussurro. Ela precisou de muito autocontrole para não tomar os lábios dele para si naquele momento. "Vamos ver se o senhor passa das preliminares. Quem sabe eu queria... efetivar o serviço?"
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darkling to alina:
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A sede, universalmente aceita entre os vampiros como inexorável e exigente, não dava trégua para o parco controle de Tymotheos sobre o próprio corpo. A urgência de sentir novamente aquela doçura cobrindo a língua e aquecendo a garganta capaz de fazer as chamas das pernas reduzirem a pequenas brasas. Carvão semi-morto, esquecido na churrasqueira que um dia floresceu com seu autocontrole. O corpo curvado ganhando altura conforme saía do chão com auxílio de uma árvore, seiva branca manchando as unhas negras que eram cravadas na casca dura. "Pode não estar me provocando hoje, Jinx, mas seu sangue definitivamente não está ajudando no seu caso." Agradecia, com certo alívio, a humanidade do próprio tom. Ou melhor, arrependia-se pela esperança daninha quando a primeira onda varreu cada terminação nervosa de seu corpo. A transformação exigia seu preço de novo, arrepiando cada pelinho. Enrugando cada pedaço de pele. Formigando a camada mais interna da derme que pedia a libertação. "Foda-se a sua cabeça." Animalesca, revoltada. A voz puxada para aquela criatura de dentes afiados e selvageria implacável. Fumaça apareceu diante do rosto com a baforada, calor demais condensando pesadamente a respiração cadenciada. Quando Tymotheos ergueu sobre as duas pernas, um dos olhos tinha se tornado preta. A íris azul-celeste brilhante em aviso. "Ajuste a porra da sua atitude e comece a correr, fadinha. Ou serei o último a colocar o nome naquela sua listinha."
era lua cheia, a fase favorita de jinx. havia algo sobre estender as asas e pairar iluminado pela luz inebriante daquele belo satélite, hábito que a perseguia desde que entrara em arcanum. ali, ela parecia tão imensa, colossal. e aninhada num galho de um pinheiro, distraía-se com os próprios pensamentos, os motivos particulares que a arrastaram ali. sentia-se estranha. em um segundo, um ambiente inundado de pessoas esvaziava-se em sua frente. interlocutores desapareciam em meio a fala... deixando para trás uma feérica, confusa, que descobria segundos depois que nada daquilo era real. as pessoas nunca haviam desaparecido. sua mente estava ruindo? a moeda pesava toneladas em seu bolso, e a arremessou mais uma vez sobre a copa das árvores, ainda que soubesse que ela tornaria. mas o ato provou querer puní-la, e imediatamente a visão escureceu. o pânico se instaurou em um milissegundo, esvaziando seus pulmões. levantou-se de supetão, o instinto a carregando para uma queda livre. pôde sentir seu coração congelando, era o pesadelo vívido: você está caindo, e então acorda. mas ela não acordava, e suas asas não pareciam bater. expira. como mágica, a memória muscular retorna, e ela paira sobre o ar. a descida violenta rendera arranhões em galhos, folhas presas sobre o cabelo. exasperada, jinx deixou o peso recair sobre o chão. logo ela, que costumava ser aquela quem desenhava ilusões como aquelas, se via perdendo os sentidos tão facilmente. e fora desatenta ao ponto de relaxar em noite de lua cheia em meio território de lobisomens, fato que só constatara ao ouvir os barulhos crescentes. tinha se erguido, mas sequer usava sapatos. então reconheceu a origem dos sons, algo que fez seu estômago embrulhar.
a imagem era terrível, por si só. era fácil de presumir o que havia acontecido, mas não era a sua preocupação. na verdade, constatava aos poucos que havia se machucado, no fundo sabia que não conseguiria ir embora voando tão facilmente. e tinha o pior detalhe, os arranhões em seu corpo. seria a última de suas histórias? ela engoliu em seco. a mente não havia se recobrado suficientemente para aquilo, então ela apenas cambaleou para trás. "não dê nenhum passo. eu-." ela olhava para os lados, tentando decidir entre o risco iminente e os possíveis que encontraria rumando a pé pela floresta. "fuck." não conseguia organizar os pensamentos, sentia-se como se compartilhasse o próprio cérebro com mais alguém. as mãos foram em direção às próprias têmporas, antes de se erguerem de novo para o lobo. "eu não consigo ir embora agora. eu preciso de alguns minutos. minha cabeça..."
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Força de vontade... A ferrenha disposição de defender pontos de vista ou honras de inominável grandeza de espírito. Cada um de seus assíduos frequentadores carregavam alguma coisa, uma regra clara, um norte para não ceder completamente aos encantos. E, no fim da noite, encontravam-se esparramados na cama que prometeram não deitar. Asmodeus amava a destruição do espírito, E Tomillus embarcava no mesmo deleite sádico em ser ele o instrumento de tamanha tortura velada. Suas ideias, o poder influenciava e quanto mais demorava... Mais ele sentia os batimentos crescerem, alarmando-se; culminando numa descarga tão absurda de prazer que o ar saiu de si em forma de suspiro. "Não é a primeira vez que fico numa posição dessas." Equilibrou-se na ponta dos pés para não ter o fôlego cortado. Contudo, a suavidade que encaixou a mão ao redor do antebraço transformou em negrume. Ardência num feitiço contra vampiros e influência no brilho dos olhos de ébano. "Porém, não a aprecio embaixo do meu teto sem a minha permissão. Por que não tira a pata e mostra respeito, híbrido? Coloque-a aqui, sim? Como alguém de respeito." A mão livre estendeu em cumprimento, mas ficou apenas alguns segundos. Já estavam do lado de dentro, a porta automática cerrando a luminosidade natural de fora para florescente do Oitavo Pecado. E, seguro de si, não temeu dar as costas para o gigante. "Você perguntou sobre dia e ano, parece perdido. Meu caro, alguém o descongelou das geleiras? Um neandertal a procura de casa?"
para matej, o olfato era o sentido mais familiar. costumava confiar mais nele, as vezes, que em seus próprios olhos, herança dos dias de maldição. e ainda sim, sentia que esse mesmo sentido favorito lhe falhava, incapaz de distinguir aquele aroma. um demônio? não. ainda não. era bem treinado em distinguir esses, o aroma inconfundível de enxofre que ficava ao fundo, como a nota final de um perfume diabólico. demônios eram excelentes parceiros de bebida. não, ali era... um bruxo? um humano? e sem colocar um ponto final nessa ideia, não conseguia também decidir outra, se a atitude o compelia ou o afastava. quase se esquecera do sangue em suas mãos, ou da coceira crescente da sede em sua garganta. quase. ele deu um passo, como se estivesse fora do controle, refém de seus próprios músculos. e mais outros dois, ouvia extremamente atento. a ideia de fugir da polícia, por se dizer, nem havia lhe corrido a cabeça. esquecera-se de onde estava, o único lugar no mundo que conseguira forçar milhares de criaturas a seguirem leis estritas. ele dispensou a ideia, lembrando-se de um lenço em seu bolso para se desfazer do excesso de sangue. mas levantava a sobrancelha, avaliando o estabelecimento. não entrava, mas também não havia ido embora. até o momento, sem pronunciar uma única palavra, como se sustentar uma linha de pensamento e não acatar todas as sugestões dele estivessem consumindo toda sua energia. ah. os anos de prática giraram as engrenagens, ele sabia o que era agora. um bruxo, não? talvez fosse o motivo das vozes. talvez não fosse nada exatamente um produto de sua cabeça. ele avançou, mas diferente dos outros passos, não em curiosidade. a paranóia dissolvendo em fúria, incentivada pela fome. a mão encaixando-se sobre o pescoço da mesma pobre vítima que se dispusera a responder sua pergunta. "é você, não é? fodendo com minha cabeça." o grunhido, as presas expostas. a situação parecia ter evoluído em milissegundos. mas ele não efetuara.
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BEN BARNES as GENERAL KIRIGAN Shadow and Bone S01E06 "The Heart Is an Arrow"
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A mão de Tomillus ergueu antes mesmo da outra fazer som. O gesto acalmando os seguranças disfarçados do Oitavo Pecado, um sinal de que não estava em perigo. Aquela criaturinha não teria chances de lidar com eles tendo o bruxo no primeiro lugar da fila para eliminá-lo. "Há tanto poder no anonimato, não é? Cubra sua identidade, fale o que quiser e não seja julgado pelas ideias. Até onde a braveza vai cobrir a realidade? De que é um grande covarde? Você, assim como eu, não tem problema nenhum em assumir a fama que a ti pertence." O dedo girou a borda do copo e aquela fração minúscula, quase invisível, desprendeu do poder de seu mestre. Asmodeus agia através do bruxo, apimentando a atmosfera luxuriosa de seu lugarzinho na Terra. "O que você teria feito- Ou melhor, o que teria assumido caso fosse o autor principal desses... Não sei nem como descrever. Costumava colocar as cabeças dos meus inimigos nas estacas ao redor do castelo. E moedas do medo? Não superam uma imersão nos meus poderes. O que tomaria como seu, Saffi?" Respondia a pergunta com uma própria. Aquela que tinha deixado sem querer no poço aquecia no fundo do bolso, um lembrete bem exigente da atenção bem equilibrada. "Precisa ser um pouco mais específico sobre esses rumores. Aqui é tão fácil ouvir diversas versões do mesmo assunto. Lúcifer vem tomando as rédeas da situação, não? Miguel está há tanto tempo no poder e não faz nada satisfatório. Uma visita e a cidade perde o equilíbrio... É hora de Arcanum conhecer um novo soberano."
"Exatamente!!!" Saffi estapeou o balcão à sua frente, antes de ser rapidamente distraído pela bebida oferecida e perder o raciocínio do seu argumento. Não precisava de muita coisa para agradar o feérico, e um ouvido emprestado que lhe pagasse drinks pela noite era mais do que o suficiente para ocupar a sua atenção. Ainda mais quando concordavam com as suas opiniões. "É um encrenqueiro que não tem nada de bom na vida e achou o palco pra montar o circo dele. E, porra, se for pra associar alguma coisa à gente, podiam pelo menos ter certeza que nós fizemos isso. A Corte dos Gritos se orgulha das suas obras, sabe? A cidade precisa de uma chacoalhada de vez em quando, e pelo menos a gente não faz tanta bagunça quando lobisomens e vampiros." A menção à Miguel quase fez os olhos de Saffron saltarem das pálpebras, tamanha a força com que elu rolou os olhos. Aquele ali era outro que não queria fazer o seu trabalho direito. Tomillus estava cheio de argumentos corretos hoje à noite, Saffi devia passar mais tempo no Oitavo Pecado. Proprietários aceitavam gorjetas? "Ugh, Miguel ser um imprestável bunda mole é notícia de ontem. Agora até o Lúcifer tá se envolvendo? ...você acha que os rumores estão certos? Sobre as moedas?" ele deixou a curiosidade pairar pela conversa enquanto voltava para o seu copo.
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A passada lenta era proposital. Suas mãos atrás das costas, dedos entrelaçados, colocavam um quê de pensador ao dispensar o olhar para as janelas. Rostos de diversas idades, olhos multicoloridos, picos de magia em corridas espontâneas. Tomillus analisava o ambiente e escolhia, tinha uma ideia do que enfrentaria quando aceitava o convite para se sentar. Abriu os botões do pesado sobretudo antes de sentar (um feitiço simples de aquecimento em ação). "Ora, não é óbvio? Quando vais para um restaurante, não pede comida? Flores numa floricultura?" A respiração fazia uma fumaça suave e ele a mantinha assim, pronta para ser usada de chamativo caso olhinhos curiosos assomassem pelo caminho. O bruxo jogou o tornozelo sobre o joelho adjacente, os próprios de obsidiana brilhando misteriosos. "Almejo a paternidade. Achar uma criaturinha como eu, entende? Sem os privilégios de ter nascido numa família funcional, nem uma comprometida. Seria muito egoísmo da minha parte não repassar a benção que recebi com a minha própria adoção."
"I'M HERE FOR BUSINESS ─ NOT PLEASURE" // WITH @calymuses (ASMODEUS)
Maggie ergueu os olhos do livro que lia em seu momento de descanso, a dúvida evidente nos olhos angélicos de quem não fazia ideia do que aquela pessoa poderia querer consigo. Naquele momento se sentava em um dos bancos do jardim do orfanato, vazio àquela hora do dia já que as crianças estavam em horário de aulas. "Não consigo imaginar que tipo de negócio o senhor estaria procurando em um orfanato, senhor Tomillus." Seu tom era formal e educado, mas a recusa em chamar o homem pelo nome de seu irmão estava ali; não importava o quão poderoso aquele bruxo poderia ser, Ithuriel ainda era, em essência, um anjo guerreiro. Não se curvaria a tentativas de intimidação. "Mas por favor, sente-se. Me diga o que precisa e, se estiver ao meu alcance, verei o que posso fazer."
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