Tumgik
becomingthaina · 4 years
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Deixa.
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Deixa pra amanhã essa cisma.
Joga pela janela essa necessidade de ser. Deixa para amanhã a obrigação de sorrir . Melhor que hoje o sorriso lhe escape aos lábios.
Deixa para amanhã a dor e a ilusão, deixa para amanhã sofrer dor de coração.
Deixa que hoje seus pés molhem no mar e os dedos afundem na areia; Permita ao vento beijar seus cabelos. Deixa hoje essa mão entrelaçar na sua e o perfume lhe invadir as narinas.
Quero provar secretamente dos seus lábios.
Deixe para amanhã as preocupações, os grilos e as dúvidas. Deixe para amanhã as explicações, os apelos, o medo e tudo que te assusta.
Hoje vamos namorar sob a luz da lua.
Dançaremos ao som de nossos risos, brincaremos feito crianças o brinde à vida.
Nossa preguiça hoje se esticará na rede, vai tamborilar nossa música, vai pedir por sossego. Deixa para amanhã essa resposta engasgada na garganta.
Tire os seus sapatos, fique um pouco aqui e descansa. Me conte seus segredos. Juro que quero ouvir.
Deixa para amanhã esse pensamento que te rouba o tempo. Hoje, por favor, deixa o rádio ligado.
O amanhã já não sei. Deixe o amanhã para amanhã.
Me sorria em silêncio e me olhe nos olhos. Veremos o dia virar noite e ficaremos acordados nos alimentando de nós até que o amanhã vire hoje.
(texto de 17 de fevereiro de 2013)
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becomingthaina · 4 years
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Mapa do meu nada
Se você diz que é necessário razão, não entendeu nada
Não entendeu as trilhas dessa estrada, os pedaços de terra, as quedas e os desvios. Não entendeu o quanto se carrega um pouco de cada um de nós, o quanto se deixa, o quanto se toma. Não entendeu os arrepios na espinha, nem o conforto da alma ou o sorriso do espírito.
Se você espera placas de direção, não entendeu o poder da decisão.
E vai ficar sempre a esperar que se desenhe em néon as respostas que você mesmo precisa encontrar.
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becomingthaina · 4 years
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Quereres
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Parece que você me olha por entre as janelas do quarto.
São apenas os raios de sol entrando desavisados toda manhã, mas sinto o calor do sol como se fosse as suas mãos matinais me chamando para acordar. É curioso que eu me veja assim, olhando para o nosso passado como um vitral de cores desvanecidas. 
Nem sei se você enxerga essas cores da mesma forma. Talvez nem sequer pense em mim.É algo que nunca vou saber. Não vou descobrir se e como passeio por entre suas lembranças. Digo a mim mesma que é impossível que você nunca lembre de mim - não por alguma auto-importância, mas porque sempre lembramos de todo mundo que escreveu linhas da nossa vida.
Então me digo que suas lembranças de mim serão boas. 
Mas você está aqui, saiba. Como uma sombra a cada passo que dou, sussurrando que poderia ter sido diferente. Me dizendo que eu deveria ter me arriscado e fugido com você. Me pergunto como teria sido: se nos amaríamos, satisfeitos da decisão que tomamos, seguindo por estradas de terra batida, perfeitamente satisfeitos com a nossa condição. Ou teríamos nos tornado fantasmas do que desejamos, se esquivando um do outro, ao qual nem olharíamos no rosto?
Sinto seu olhar. Sinto seu toque. Às vezes ouço você me chamar. E me pergunto se pediria para que você ficasse dessa vez.
É por isso que eu escrevo. Quero te dizer que não peço. Não peço para que fiques. Peço para que vás, de novo, que me deixes livre. Não quero sua memória acorrentada a quem sou, não quero sentir uma análise cotidiana das decisões que tomei. Vá! Se não ficou quando tinhas a chance, se não voltas se é o que queres, então vá.
Não me deixe presa ao que não foi.
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becomingthaina · 5 years
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Ciao, bello
Eu vou chorar um dia só, eu vou chorar. E sofrer um dia só, eu vou sofrer. Vou censurar teu nome e teus apelidos Arrancarei de mim meu próprio abrigo Vou atirar pela janela o velho retrato E farei juras de amor ao vento
Vou chorar pelo amor desperdiçado e pelas carícias prometidas e idealizadas; Vou chorar pelo que eu já sabia e me frustrar pelo o que já esperava; Mas vou chorar, bello, porque você veio e se foi;
E se foi com a mesma facilidade com a qual entrou e tratou de não me dizer meias palavras. Se foi como um gato pulando para outro muro, sem barulho e sem receio.
Eu vou sofrer meio segundo por todos os milésimos que fui tua aposta, teu objetivo e objeto do teu querer. Vou sofrer antes de dar a partida e lembrarei da cidade que me prometeu. Das simplicidades que me deu e dos cuidados que supus ter feito. Lembrarei de tudo, mas lembrarei também do seu passo manso saindo da minha vida.
Do estalo dolorido de te ver dobrar a esquina.
Você, que ainda é um menino, despertou muito mais do que almejou. Talvez bem mais do que tenha merecido. Você me fez lembrar do que ainda tem dentro de mim  e por isso, nós dois nunca teremos um fim.
Espero que guarde de mim muito mais do que suas frustrações bem mais do que suas mentiras  e um tanto do seu desejo.  Vou-me com um pulo manso e um pouco doído de gato ferido, mas também com a destreza.
Fique bem, cariño. Seja bom, bello. E se lembre de mim, professor.
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becomingthaina · 7 years
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Sobre vivência
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Sempre duvidei de histórias que complicam demais, que dão voltas e voltas. Duvidei por tanto tempo daquilo que não fazia sentido, dos sentimentos controversos e das noites de tempestades, que não me vi naufragando em seu peito, me entrelaçando entre os cabelos do seu corpo. Não percebi que seu calor me aquecia entre lençóis matelassados, não diferenciei sua pele da minha.
As línguas vorazes preenchendo os espaços, o gosto da sua boca e do seu suor. Talvez eu tenha confundido o sal da sua pele com as lágrimas que derramei sem me dar conta. Fui entregando pedacinhos de mim aos poucos, e eles se foram com tanta devoção que não me preocupei em segura-los um pouco mais comigo.
Ainda posso ouvir sua voz no pé do meu ouvido e os arrepios que subiam minha espinha com sua respiração tocando a nudez do meu pescoço. Podíamos ficar horas nos olhando no silêncio, no escuro, de olhos fechados. Podíamos nos tocar mesmo há quilômetros de distância. As suas mãos sempre pareceram perfeitas para guardar as minhas.
Os raios de sol que iluminavam nossos sorrisos passaram a ser ecos de uma fotografia antiga. Eu poderia gritar ao vento as palavras que não pronunciei para você, poderia catar os pedaços de mim que restaram no seu rastro. Me recuso a manchar de lágrimas o mesmo rosto que você beijou. Me recuso a olhar para trás com a esperança de um moribundo.
O que de você ficou comigo? Me pergunto se fui capaz de impacta-lo, marcar sua vida. Ao tocar outra mulher, conseguirá olhar para ela e não ver minha sombra sobre seu corpo, não lembrará da minha nudez exposta sob seu olhar ou sua vida seguirá como se eu não existisse? Me pergunto, num silêncio esquisito, na dúvida que nunca será calada se você é capaz de olhar para nós com o mesmo encanto nostálgico que eu mesma reproduzo. Me sinto tola em sentir que ocupa na minha vida um espaço que não terei na sua.
Ainda que o amor tenha ido, ou se vá, ainda que eu nunca mais seja tua e que nossos caminhos se desencontrem de vez, gostaria de saber que você sentirá saudades dos beijos e dos meus braços ao seu redor. Que saberá que te guardei em mim e te dei minhas mais sinceras versões, e se elas não foram suficientes, ao menos minha risada fará falta nas suas histórias. O quanto de mim ficou em você?
O espaço da cama, outrora ocupado, será refeito, apagado, transformado. Da mesma janela que entrou os raios solares que te aqueceram virá a brisa de uma estação nova e o tempo será rei da minha própria despedida. Trocarei as peças das roupas, os lençóis e mudarei a cor do cabelo. Poderei segurar muitas mãos e me aquecer em outros corpos.
Mas o quanto de você ainda restará em mim? Não serei capaz de te apagar. Não serei capaz de me convencer a fazê-lo. Seguiremos, eu não te amarei mais, nem sofrerei, passarei meus dias a não lembrar, mas não tenho dúvidas de que o que eu senti será sempre o tormento daquilo que nunca terei.
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becomingthaina · 7 years
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Pois não me culpes
Talvez te faça bem rir de mim. Caçoar, rotular, minimizar. Talvez, nos seus pensamentos mais sinceros me vejas deste modo: fora do padrão. Fora do seu padrão. Daquilo que te ensinaram, daquilo que te fizeram pensar. Confesso que isso pode me magoar, não porque ri, mas porque me coloca dentro de um saco ao qual não pertenço. Suas risadas nada mais são do que desinformação. Enquanto me chama de x, ignora o quanto posso ser outras letras. Ignora o todo de mim que sou. Mas eu continuarei a ser o que sei, aquilo que vejo no espelho e na alma. E sei que continuarei a suscitar em tantos outros mais as mesmas confusões que causei em ti: não são todos nesse mundo que entendem. Não são todos que conseguem ver um prisma tão cheio de cores. Mas te garanto, não se amargure, pois não é minha culpa seu destempero. Sua facilidade em se deixar dominar. Não é minha culpa se te encaixas tão bem naquilo que não deveria se encaixar. Não é minha culpa. Não me culpes pelo seu formato quadrado, retangular e desfacetado. Não me culpes por não poder me igualar a ti. Só tenho culpa daquilo que de fato faço e não sou eu quem te desenho. Quando no futuro olhares para mim talvez entenda que eu estive fora do meu tempo, estive a ver o que de fato valia a pena. Eu tentei te contagiar, mas não foi minha culpa se você se prendeu tanto no olhar do outro. Quando olhares para mim no futuro, me tire do saco onde me pôs e entenda que eu tive razão. Eu tive razão em meio a sua falta de noção.
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becomingthaina · 8 years
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O quê seria de mim
Apesar dos seus olhos me expondo dessa forma, apesar desse seu ar de incerteza, ainda estou aqui. Ainda me mantenho firme na esperança de que me diga o que fazer.
Não teria encontrado essas verdades, não teria dito não para mim mesma. Não esqueço o que me trouxe, mas não sossego com o que tenho. Não sei o que pode sair de dentro do meu peito, angustiado, moribundo. Sinto como se estivesse esmagado, pressionado contra uma parede invisível de decisões e incertezas.
Como devo contar todos esses anos? Seguro a sua mão e imploro para não soltar porque sei que posso cair. Rolar por todas essas confusões e todos os fracassos que parecem me seguir. Peço que fique não porque amo suas confusões, mas porque não controlo as minhas.
O que vejo hoje sobre mim, será uma sombra do que fui? O resvalar do que sou hoje poderá ser chorado amanhã. Mas ao olhar por dentre as ruas, entre os caminhos e esquinas, me perco antes mesmo de seguir. Pode cair a chuva ou o asfalto chiar com o sol, ficarei aqui, me prendendo às poucas raízes que tenho, temendo o que há de vir.
Cheguei até aqui por cambaleios, tropeços, sacodes. A prisão de ar, com janelas por onde pular e por onde só vejo escuro. Olhos vendados, mas sua mão segue aqui. Tateio pela sua segurança, sua certeza. Tateio pedindo e implorando seu consolo. Quero encontrar em você o que não vejo mais em mim. Preciso me ater ao que você acredita porque meu coração suplica por ajuda.
As lágrimas não desafogam, o redemoinho não pára. O ar parou no esôfago. O bolo alimentar na traqueia. Parageusia. Já tive certeza, já torci pelo tiquetaquear do passar das horas. Só me restou você. Continuo te olhando, o reflexo que me atormenta. Continuo pedindo sua voz. 
Me diga para onde ir.
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becomingthaina · 8 years
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Castelo de Areia
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Rasgue as letras das cartas, das canções. Despedace os elementos, os suspiros, as ilusões. Desespere os sorrisos, desfaça os abraços. Já dizia o poeta que quando vira nó, já não é laço.
Se ela sabia de alguma coisa era que estava tudo errado. Não deveria ser aquele sentimento, nem mesmo aquele inchaço no rosto. Depois de todos os passos no escuro, as caminhadas insólitas, o sentimento de medo e rejeição, depois de todas as lágrimas, as dúvidas e as ofensas. Depois de tanto se debater no labirinto, havia encontrado a saída. Lá estava, acessível.
Poderia sair. Nada a impedia. Não se sentia nem mesmo aterrorizada pelos pegadas deixadas. Tampouco seria medo. Era dor. A dor pura e dolorida de quem se sente exausto, com lágrimas sufocando a respiração, o conhecimento torturante de enxergar o que não queria. Era sentir que as paredes ruíam, que as estruturas estavam abaladas, que os cupins já invadiam tudo. Ficar ali era desastre certeiro. Como fora o primeiro passo. Nunca duvidou da fragilidade de cada parede, mas procurou acreditar que era possível fazer morada. Seria bom fingir que não via as rachaduras. Nos dias de sol, ria tão alto e livre que fechava os olhos e ignorava as frestas nas telhas.
Não era os dias ensolarados que a torturavam, eram as tempestades. Chuvas finas. Garoas. Chuvas de verão. Chuviscos. Qualquer água era capaz de derrubar uma por uma e criar uma enxurrada. Qualquer chuvinha encharcava o labirinto e a deixava enxugando o gelo. O sentimento de impotência. De uma força com a qual não tinha chance. Ventos de areia que vinham queimar seus olhos, levando consigo qualquer lógica, deixando no ar as premissas inválidas. Ventanias de areia como tempestades de fogo.
A ardência da areia batendo sobre a pele.
A sensação posterior da queimadura.
Todo o castelo se desfazendo.
Ela podia sair  com a porta a sua frente. A porta que sempre esteve ali. A porta que nunca estivera escondida. Ela podia sair. Mas com lágrimas nos olhos, ela teimava em fincar seus pés na areia. Sabendo que na próxima ventania, na próxima nuvem, desmoronaria.
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becomingthaina · 9 years
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Irremediável amor
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Subi na moto e dei a partida, sem pena. Sei o que deixava para trás, pensei naquelas coisas todas, nos momentos, nos ardores, nos desejos. Encaixotei tantos deles na mesma caixa que as minhas coisas que reconheço cada nuance. Desprendi das paredes do seu quarto e das paredes da minha alma pedaços de nós. Não desfiz o que existia, não dei as costas ao que aconteceu.
Você pode não entender agora, mas a minha ida será boa. Quando acordarmos amanhã, seremos melhores, seremos nós mesmos. O que nos uniu era como um tira bem fina, um pedaço de quê? Quem eu seria com você, quem serei eu se ficar na porta da sua casa olhando para o passado? Seus perfumes, seu nome, seu jeito de me jogar no lençol ainda estarão amarrados a pessoa que sou, naquilo que sinto e que vivo, mas eu não estarei amarrada neles.
Quero esquecer o modo como você gritou, o modo como você chorou como um menino ao me ver sair. Vivemos nós dois como adolescentes rebeldes, entre brigas e sexo de perdão. Queríamos sempre nos ferir para depois nos curar, seduzidos pela paixão turbulenta. Você sabe tão bem quanto eu que tirar essa manta com meu cheiro vai te fazer bem, que te liberar das sociais que você detestava, que acabar com as cenas na rua vão fazer nós dois melhores.
Você me questiona porque eu não choro e eu só consigo te dizer que não sinto tristeza por fazer o que preciso. Não me apego ao que não tem apego, não trituro sentimentos. Eu vou e você fica. E seguimos caminhos separados. Agiremos como adultos uma única vez. Você me esquecerá, me odiando, me difamando, me denegrindo e eu seguirei sabendo que você um dia irá me perdoar e se perdoar. Um dia irá parar de dizer meu nome e de beber comigo na sua mente e construirá para nossas boas lembranças um lugar no seu passado.
Seguir em frente. E um dia talvez a gente se encontre na rua e consigamos sorrir um para o outro, sem medo de que isso se torne um martírio. Sem ironia, sem sarcasmo, sem ressentimentos. Então aí, estaremos curados.
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becomingthaina · 10 years
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Amor de Carnaval
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Ela acordou cedo no sábado, lavando os cabelos com o melhor de seus xampus. Trançou os cabelos com fitas coloridas que lhe caíam as costas. Pôs sua blusa de alça branca e sua jardineira quadriculada junto das sapatilhas brancas, pegou sua cesta de palha e se olhou no espelho. Desejou colher um amor entre muitos amores. Percorreu os blocos, cantou as músicas, sorriu os sorrisos e brincou a diversão das ruas apinhadas, dos rostos calorosos, da animação em pompa. Viu os bêbados e os equilibristas, mas não o seu amor. Voltou para casa se prometendo que no dia seguinte encontraria o seu príncipe.
No domingo de carnaval, ela acordou ainda mais cedo, sacudida por uma boa xícara de café com leite. Corou a si mesma com uma tiara de Princesa, avolumou os cabelos lisos para que se tornassem mais cheios e pomposos, pôs o mini vestido azul remetendo a Cinderela, junto da meia arrastão branca e sua inseparável sapatilha branca. Pôs os braços em volta dos braços de sua melhor amiga, vestida de Minnie, e as duas se jogaram nos blocos daquele dia. Dançou o frevo e o maracatu, o axé, o samba e a MPB. Sorria quando a amiga se encontrou nos braços de desconhecidos e riu das conversas divertidas e vazias de tantos outros que se aproximavam. Fugiu do beijo de todos os sapos, e nada do seu príncipe. Chegou em casa com histórias divertidas, pés doloridos, suor na pele, mas o coração ainda solitário.
Na segunda-feira, se deixou dormir mais um pouco antes de colocar sua fantasia de noiva. Colocou o vestido branco de renda, o véu comprado semanas antes na alfândega, as sapatilhas brancas (agora quase pardas) e se maquiou com perfeição antes de tirar a própria foto e jogar nas redes sociais com a legenda "Procura-se um noivo", somada a "rsrsrs" mas a vontade real de que pudesse ter algum amor para esquentar seu coração no final do dia. Se perdeu entre as músicas conhecidas do bloco preferido, se rendeu ao encontro de uma animação verídica e quente, deixou escorrer o suor sobre o vestido branco, brindou e brincou com as pessoas em sua volta. Mas no fim do dia, reclamou a sua solidão.
Na terça-feira, vestiu-se de Colombina. Um último pedido aos céus pelo seu Pierrot. Fez sua maquiagem de rosto branco, olhos cruzados e a gota caindo dos olhos. Fez a boca de boneca e pôs suas sapatilhas quase cinzas. Não se olhou no espelho pedindo um amor naquele dia. Seis Pierrot apareceram para ela, mas olhando de soslaio para eles, ela recusou todos. Recusou a fantasia do palhaço, as cantadas sem graças e as exigências inclusas em suas conversas vazias. Choveu naquela tarde e ela se deixou lavar pela chuva abençoada. Divina. Chuva de Carnaval.
Na quarta-feira de cinzas, ela se vestiu de Mulher Maravilha. Longe da vontade de encontrar um amor, percebendo que seu amor era ela mesma. Não lhe era apraz beijar os médicos, palhaços, príncipes, sarados sem blusa do carnaval, nem iria somar se saísse por aí esquecendo a alegria carnavalesca apenas por um homem sem rosto. Se vestiu para si mesma. Feliz por estar onde estava e viver seus dias do jeito que queria. Gracejou a oportunidade de dizer não aos que achavam que teriam o sim, agradeceu pelo sol e chuva de todo dia. No fim da quarta-feira, de sapatilhas pretas, pernas exaustas e sorriso exaurido, chegou em casa ciente de que tinha encontrado o melhor amor de carnaval possível: o amor próprio.
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becomingthaina · 10 years
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Queria te dizer...
Aconselho a ler ouvindo Ed Sheeran - Thinking Out Loud
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Quando te conheci, você tinha aqueles belos olhos verdes que pareciam me comer aos pouquinhos, como se saboreasse a experiência. E depois, meu amor, você colocava a sua mão sobre a minha e me escutava por longos minutos e nos encaixávamos um no outro para poder olhar para o teto, deitados no tapete da sala. E ficávamos calados ouvindo a respiração do outro até que adormecíamos.
Me lembro do dia que você segurou em meu rosto e secou as lágrimas doloridas que eu derramava e disse que estava tudo bem, que você estava ali e que nada de mal me aconteceria. Você nunca soube o quanto significou para mim te ter ali, saber que eu não estava sozinha. 
Mesmo nas nossas brigas, tudo que eu queria era que você entendesse o que fazia comigo. Eu gritava para tentar ser ouvida, pelo desespero de te perder, de você não entender. Sei que você ficava chateado pelas minhas chatices, mas no final, você sempre sentava ao meu lado no sofá e deixava que eu encostasse a cabeça em seu ombro.
Rimos tantas vezes, embolados na coberta, com as testas coladas, segurando a taça de vinho dividida, bêbados pela loucura e a ternura de amar quem nos ama, na loucura de ser feliz, achando que nada poderia nos atingir, sabendo que existia um céu enorme acima da gente, cheio de estrelas que serviam de testemunhas de nossa simplicidade complicada, fazendo jus a nós. E sempre foi tão certo, sempre foi tão suficiente. Assim como quando eu estava emburrada lavando a louça daquele jantar de quinta e você me surpreendia abraçando minha cintura e beijando meu cangote, com sua barba por fazer roçando em minha orelha e dizendo alguma gracinha para mim.Você sempre soube que minha resistência a você era pífia e por mais que eu reclamasse, minha raiva já tinha dissipado.
A primeira vez que te vi, você estava tão acomodado, tão bem, correndo no calçadão, sem fones de ouvido ou óculos de sol, compenetrado na atividade de viver. Meu amor, você era tão natural e tão simbólico, achei que você poderia ser uma ilusão. Mas você sorriu para mim, percebendo aquele ser destoante sentado, com um blusão de mangas rasgadas cobrindo um short curto e colado, com um livro entre as pernas e os óculos de sol no cabelo. Eu não queria aquela cerveja que você me pagou, mas a aceitei porque eu queria você.
A cada dia você me tornava alguém melhor. Uma versão melhorada de mim mesma, mais feliz e em plenitude, do tipo que dá de ombros para qualquer besteira e que te fazia rir com meus ataques de fúria ou implicância. Nos seus braços eu sempre agradeci por ser eu mesma. Os dias claros, as noites chuvosas, as vezes que fiquei no escuro chorando por uma discussão, o dia que você beijou meus olhos enquanto eu dormia e me acordou com o sorriso mais sincero que eu já vi... Tudo aquilo foi tão eu e você.
A vida simples como deve ser. Você e eu, como estava escrito. Não trocaria nada, por nenhum dinheiro e por nenhum sonho naufragado. Encontrei em você aquilo que meu coração sempre quis e nem sabia. Mesmo quando nosso tempo acabar, quando eu ou você tivermos que ir, estaremos um com o outro. De alguma maneira, de alguma forma.
Meu amor. Meu amor. Obrigada por me amar. Por ser você. Por estar aqui. E por ter permanecido.
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becomingthaina · 10 years
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Pensamentos frouxos de quem não sabe amar
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Ele olhou em meus olhos e disse me amar. Eu congelei porque não sei amar, não sei responder com uma frase tão forte um sentimento tão confuso, incerto, indeciso. Fiquei lá parada, olhando para ele e tentando me lembrar de que eu precisava dizer algo. E enquanto eu pensava, percebia que nele a certeza também ia se esmorecendo. Não a certeza de me amar, mas ter me dito. Estava lá, bem claro em seus olhos, na maneira que seus músculos tensionaram e relaxaram, fatigados. Ele se arrependia de ter aberto a boca. E ao mesmo tempo estava triste porque eu não abri a minha.
E eu continuei sem falar nada. Continuei olhando assustada, olhos esbugalhados, sentada na mesa da cozinha, com o pão mordido ainda em mãos, atônita. Ele que estava de pé, ainda no lugar onde revelara seus sentimentos, me perguntou se eu não ia dizer nada. Não respondi. Deu pane em mim, no sistema todo, não ia sair nada além daqueles sons incongruentes de quem está pensando no que dizer. Ele deu de ombros e me deu as costas, foi embora. Eu deveria ter dito alguma coisa, mas o quê? Ele iria embora de qualquer jeito e eu tinha a sensação estranha de que era melhor ele ir pelo vazio, que era melhor ele ir embora porque eu fiquei quieta.
Demorou ainda muito tempo depois que ele se fora para que eu saísse da posição inerte segurando o pão e olhando o nada. Quando finalmente me recuperei, havia perdido a fome. Deixei o pão de lado, me levantei e olhei a sala vazia. Tinha ainda o perfume dele impregnado no ar. Sem saber o que fazer, sentei no sofá e liguei a televisão. Não estava assistindo, mas o barulho que ela fazia preenchia o espaço vazio na minha cabeça. Deitei e fechei os olhos. Eu o amava? Ah, certamente não. Ele era uma pessoa irritante. Quer dizer, irritante mesmo. Ele não gostava que eu não dormisse direito. E também queria que eu parasse de fumar nas festas. Ele praticamente arrancava o cigarro dos meus dedos. E eu só aceitava isso porque no fundo ele estava certo, mas era irritante.
Depois, ele era muito legal. Legal demais. Era um pouco doentio o fato de que eu nunca me cansava da presença dele. Quer dizer, tirando as vezes em que ele me irritava. Mas a gente podia passar horas deitados do lado um do outro olhando o teto. Sem falar nada. Só na respiração. E ele tinha aquela coisa que segurar nas minhas mãos enquanto andávamos na rua. Mas até aí tudo bem, porque embora eu reclamasse, eu até gostava. E quando eu me descabelava em um choro desesperado, por qualquer que fosse o motivo, ele dava aquele sorriso travesso de quem me acha engraçada, encostava a sua testa na minha e dizia alguma coisa realmente inteligente, alguma coisa que eu realmente precisava ouvir e limpava as minhas lágrimas com o polegar.
Mas fora isso, não tinha nada demais entre nós dois. Claro, tinham os beijos. Os beijos dele tinha um gosto familiar, um gosto de canela no chá durante uma chuva fina no final da tarde. Gosto de aconchego. Era como se nos seus braços eu conseguisse conforto, como aquele colchão velho que já tem o formato do nosso corpo. Ou roupa de dormir da nossa mãe quando a gente é criança. E colo de pai quando eles nos carregam depois de uma tarde inteira brincando no parquinho. Mas o dele é ainda mais diferente, é como deitar na grama e deixar o sol ainda sonolento aquecer seu corpo numa tarde de primavera. O beijo dele tem gosto de saudade, daquele tipo que ainda nem acabou e já estamos triste com o final próximo.
Confesso: ele tem aqueles olhos brincalhões que parecem sorrir junto com o sorriso. E quando discutimos, parece que eu posso me afogar no lago escuro que se tornam aqueles olhos. Ele tem pintinhas no pescoço, quase como sardas. Tem aquelas covinhas na bochecha que eu sempre achei que vieram com o hábito de sorrir. E os cabelos dele tem cheiro de sabonete. E as suas mãos são tão grandes que quase engolem as minhas e são ótimas para cafuné. 
Mas não é amor. O monte de sensações na boca do estômago não tem nada a ver com amor, nem mesmo o coração apertado quando eu sei que o magoei, como agora. Não é amor só porque quando estou com ele, as coisas parecem encaixadas. Isso é só química. E nossos sonhos muito iguais e coerentes na verdade me deixam muito nervosa. Quando descobri que pensávamos igual em quase tudo que queríamos para o futuro, quase saí correndo de aflição. Só não saí porque ele sorriu e eu achei que seria um desperdício de um sorriso tão acalentador. E depois ele havia me beijado contra a parede e eu literalmente fiquei sem fôlego para correr.
Abri os olhos. O apartamento estava vazio. E isso era dolorido. E eu queria desesperadamente ligar para ele. Mas dizer o quê? E porque me faltou a voz? Na tv, um casal de novela se beijava. E eu, sem querer, pensei que aquilo ali também não era amor. Que todas aquelas teorias de amor que a gente ouve, estão longe de significar qualquer coisa. E se o amor for diferente para as pessoas? Olhei pela janela e vi uma lua linda. E aquela lua linda quase me sussurrava... Quase me dizia, que o amor não vem com manual de instruções. Quando olhei a porta, ele tinha voltado. Lá estava ele em pé, a porta aberta. Lá estava eu, deitada no sofá.
Sorri, pesarosa, triste, mas pedindo desculpas. Acho que ele entendeu. Não foi preciso dizer mais nada. Ele me conhecia para saber que enquanto ele estava fora e eu estava no silêncio, eu entendi que podia ser amor. E eu teria que descobrir e ele também, mas que eu estava disposta a isso se ele estivesse.
A porta se fechou e ele dividiu o sofá comigo. E a lua.
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becomingthaina · 10 years
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Conselhos
Se quer saber, não tenho medo do fim. Tenho medo que as coisas nunca acabem. Tenho medo de edifícios feitos de sonhos mortos, de ciclos viciosos e torturantes, da falta de adrenalina, de batimentos cardíacos, de uma morte enfeitada de vivência. Tenho medo é de te olhar nos olhos e ver uma rigidez infringida, de encontrar cacos de menino onde deveria haver um homem.
Não preciso me adequar as regras que me são impostas. Não preciso driblar a vida como se tivesse medo da próxima esquina. Os melhores tons estão escondidos debaixo de pilhas de lixo. As jóias para existirem precisam ser lapidadas. Então faça essa sua barba para lapidar seu sorriso. Faz tempo que não vejo seu sorriso, menino.
Onde está aquela criança que eu tão facilmente encontrava em você? Risada fácil, bom humor, um jeito de olhar o mundo diferente. Agora vejo uma cápsula vazia, uma carcaça maltratada pelo estilo de vida. Por que, para você, crescer significou a infelicidade? Por que você não pode abrir os braços e aceitar essa brisa deliciosa, fechar os olhos e apenas respirar?
Apesar do que dizem, não há urgência. Cada pé ante pé, um passo de cada vez, um pouquinho e um pouquinho. Tira essa gravata se ela te faz tão mal, dispa essa carapuça do que deve ser feito e descubra o que você precisa fazer. Encontre um sonho, dance uma dança, conte um conto. Mas do seu jeito. Na sua ordem. A vida espera na esquina, eu sei, o tempo passa rápido para os que têm pressa e mais rápido ainda para os que o ignoram.
Mas encontre a si mesmo e não tenha medo do que há de vir. A felicidade é para poucos e a felicidade é agora.
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becomingthaina · 10 years
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Confluência de nós dois.
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Ela correu para os seus braços e ele pôde sentir o cheiro de seu perfume e a maneira como a pela dela parecia queimar sobre a sua. A sua respiração ao seu cangote, a maneira como ela colocava a mão em sua nuca, o jeito como ela sorria sem graça, com os cabelos presos em trança... Tudo era tão perfeito que ele tinha medo de que não fosse nada do que parecia. Como ela poderia gostar desse cara de barba, cabeludo, desgrenhado, que gostava de falar de amor e não tinha nem posses e nem dinheiro. Como ele, tão desapegado, se viu tão apegado a uma menina tão perfeitinha. Mas ele, que nunca tivera vontade de mudar, que nunca pensou que pudesse querer ser um cara certinho, que trabalha de segunda a segunda, agora se via pensando em como seria chegar do trabalho e encontrar com ela. Poder deitá-la numa cama de lençóis brancos, de poder acordar com os raios do sol tocando a pele dela com ternura, permitindo que ele observasse enquanto ela calmamente dormia. Ele sempre achou que viver de amor e música, era como uma vida hippie, mas com ela ali em seus braços, ele só pensava que viver de amor e música era permitir que essas duas coisas tão necessárias e tão intocáveis inundasse a vida comum e cotidiana.
Abraçou ela pela cintura e a rodou enquanto ela reclamava, embora feliz, dizendo que estava tonta. Quando eles pararam, ela sentou na grama e gargalhou até perder o fôlego. Ele, embasbacado, só conseguia olhar e sorrir. Queria tanto tê-la junto de si, queria tanto merecer o amor dela e o seu sorriso todos os dias.
Ela nunca pensou que seria apaixonada por um cara assim. Quando se conheceram, numa cafeteria, e precisaram dividir a mesma mesa, viu nele apenas uma pessoa que aparentava ser bacana. Mas a conversa foi fluindo e quando se deu conta, reparava em como ele coçava a barba quando estava sem graça ou como batucava os dedos na mesa de madeira, conseguindo soar melódico mesmo assim. Descabelado, com um ar de quem não se importava com padrões, bebendo um café tradicional apesar de tantos sabores possíveis. Não era o tipo de cara a quem ela dava ouvidos. Já esperava que dele fossem vir discursos vazios, defesas descabidas e falta de raciocínio. O seu pré conceito fazia com que ela colocasse todos no mesmo pacote simplesmente pela aparência. Até aquele dia nunca conhecera ninguém que criasse uma exceção. Mas ali estava ele, rindo enquanto ela reclamava do açúcar mascavo e da falta do açúcar refinado, lá estava ele falando sobre 'Caetano' e o seriado americano, sem nem passar perto da revolução cubana. Lá estava ela reparando nos olhos profundos que ele tinha. Lá estava ela se apaixonando.
E quando deixaram a cafeteria e rumaram para o ponto de ônibus para fugir da chuva, ela desejou beijá-lo e descobrir como seria a barba malfeita tocando em sua pele. E pela proximidade pôde sentir o perfume seco que ele usava. Então ele segurou sua mão, com a mesma sutileza de uma respiração, tão natural. Ela sentiu o coração palpitar forte. Se beijaram um pouco depois, com a velhinha olhando para eles com desaprovação e susto. E tudo que ela conseguiu fazer foi sentir como se estivesse fora da gravidade.
No dia que ele resolveu visitar a família dela e tornar tudo aquilo oficial, sabia que estava longe de ser o que eles queriam para a filha, mas ele sentia tudo que era necessário. E embora ela não tenha pedido que ele mudasse dele e constantemente dissesse o quanto gostava do jeito dele, naquele dia ele ajeitou os cabelos e cortou a barba direito. Naquele dia sua calça não estava presa apenas pelo cinto. E apesar de todos seus receios, a família toda pareceu aceitar. E quando ele deixou sua casa, resolveu que queria ela para sempre. 
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becomingthaina · 10 years
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Um branco, um xis
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Ele não era o príncipe que ela idealizara, não era o cara que ela quis enxergar. De tudo que ela se enganou, foram os sentimentos dele que mais a atormentaram, foi a falta do carinho e do apego, a facilidade com a qual ele desfez todos os laços. Ela não conseguia entender onde havia parado todos os planos, todas as conversas, todos os encontros que eles haviam tido. O mel virou fel com a mesma facilidade que eles viram um no outro o que desejavam.
Quando ela deixou que ele entrasse em sua vida e bagunçasse seus sonhos, refazendo todas as suas projeções de vida, ela não esperava que a tormenta fosse ser sua companheira. Não se achava assim tão boba para confundir seus sentimentos e observações com um romance casual, acreditou sempre que era capaz de lidar com rapazes aleatórios com a mesma facilidade com que escolhia uma fruta na feira. Se baseou em uma vida de coração quebrado, promessas descumpridas e dignidade refeita. Disse a si mesma que já tinha vivido todo a desilusão possível por uma pessoa e se chamou de sabichona. Tola.
Abriu a porta para a sua presença e fez da alma coração só para transformar problemas em soluções, manteve-se fiel a si mesma porque já havia passado da fase de se adequar, mas jurou que mudaria seus defeitos para que ele não fosse embora. Acreditou tão piamente que era para sempre, viu nele tantas vezes o cara ao seu lado, que se apegou na esperança de não precisar fazer jogos. E por mais que sofresse com a indiferença que ele demonstrava, acreditou que não poderia ser o fim. Mas o fim se aproximava e ela sabia. Ela sabia porque ele a ignorava. Sabia porque ele a evitava. Sabia porque ele não era mais o mesmo. Mudava de maneira visível aos seus olhos.
Em sua ânsia cretina de mantê-lo, ela o afastou. E ele se afastou cada vez mais. Quis tanto dar certo, que ajudou a dar errado.
E como um cristal delicado se quebra, sua paciência também se quebrou. E com lágrimas encharcando seu rosto, ela também se despediu. Sua condição de mulher, sua dignidade imposta e seu caráter sobrepujado permitiram que ela se olhasse no espelho com orgulho de si. Não pelos enganos cometidos, mas pela coragem de ter se permitido. Viver e depois reviver. Ela catou com humildade todos os cacos e escondeu eles de quase todo mundo, e se prometeu que não se permitira sofrer. Mas sofreu.
Porque um amor que se vai é como o golpe que vem. Mas assim como a noite vira dia e depois de uma tempestade há a bonança, ela se viu por fim reerguida. Com passos que não mais vacilavam e gargalhadas que não mais se escondiam. Era capaz de dançar sem se culpar e de olhar em outros rostos sem procurar por vestígios dele. Era sincera consigo ao dizer que o amara. E de fato o amou. E não negaria a pessoa que ele era. Mas também não se iludiria ao continuar a ver nele o homem que ele nunca viria a ser.
E como brisa suave numa tarde primaveril, a vida trouxe de forma mansa um novo rosto. Um novo corpo. E um amor menos juvenil.
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becomingthaina · 10 years
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Não mais uma de amor
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Eles nunca foram do tipo de casal que finge afinidade ou que esconde seus problemas. Eram simplesmente felizes, verdadeiros e sinceros. Quando se olhavam e os olhos brilhavam, era carinho sendo exposto e compartilhado. Porque eles poderiam tentar se adequar àquela sociedade, aos mandamentos invisíveis que deveriam seguir. Mas Joana e Marcelo queriam mais de si e dos dois. E se deixavam controlar apenas pelos batimentos cardíacos acelerados, pela sensação de conforto no coração quando se deitavam sob a grama e olhavam para o céu. Quando sentavam no sofá e se deixavam encaixar perfeitamente. Sorrisos plenos. E se deixavam guiar por aquela saudade apertada no peito.
Não concordavam em tudo. Às vezes, Joana, com sua fúria feminina e sua áurea leonina, saía batendo os pés, enquanto colocava sarcasmo em sua voz, irritada por Marcelo não enxergar algo que era tão óbvio. Por outro lado, Marcelo era teimoso como uma mula e cismava em se ater aos ideais de menino, muitas vezes não queria ouvir opiniões mesmo quando eram para seu bem, se empertigava quando se sentia contrariado e quando percebia que estava sendo soterrado por argumentos que ele não podia combater, se calava e era fim de papo. Eles queriam "matar" um ao outro naquelas vezes e sempre se xingavam mentalmente. Só que seus momentos de raiva, sempre perdiam o efeito e eles voltavam a ser, naturalmente ou depois da bandeira branca de um deles, o casal agarrado no tapete enquanto assistiam a um filme qualquer.
Se conheceram numa tarde de domingo monótona e chuvosa. Ela estava esperando sua carona debaixo de uma marquise, tentando se proteger da chuva fina que molhava seus sapatos. Ele estava voltando para casa depois de sua corrida rotineira, agradecendo pela chuva que caía. Ele percebeu Joana ainda de longe, se encantou pela maneira que ela parecia se misturar à parede, se esquivando da água espirrada pelos carros desatentos que passavam pelas poças. Se colocou na marquise ao lado dela, encharcado da cabeça aos pés. Ela o olhou com desconfiança, mas ele sorriu. Um sorriso aberto e caloroso que fez com que Joana derretesse. Depois daquela tarde tudo mudou.
Mas como são as coisas. Como o destino parece brincar com nossas vidas como se fossem apenas fios embolados de uma cama de gato. Eles se amavam tanto, se queriam tanto e imagina o quanto tinham a viver... Naquela noite, entraram no carro cantando juntos a música que tocava no rádio. Antes de Marcelo ligar o motor, se beijaram ternamente e Joana colocou seu braço no encosto do banco dele de modo que ela pudesse mexer em seu cabelo enquanto dirigia. Marcelo saiu da garagem ainda cantando e sorrindo por causa dos agudos desafinados que Joana adorava dar. Pegaram a linha rápida pouco depois, satisfeitos por ela se encontrar vazia. Ele colocou sua mão direita na coxa de sua namorada, como costumava fazer, e eles seguiram calmos, certos de que chegariam no aniversário de seu amigo em pouco tempo.
Mal podiam imaginar que nunca chegariam. No meio do caminho, outro carro se dirigia para a mesma rua que eles, cantando os pneus. Entrou pela contramão, estava furioso e adulterado. Marcelo não viu o carro vindo. Era um cruzamento, a preferência era dele e a rua estava calma. Joana ao seu lado começava a falar sobre o show do Caetano que ela queria tanto assistir, gesticulava enquanto fazia sons de prazer antecipado. Marcelo ria. Quando o carro bateu na lateral do carro, bem ao lado da porta do motorista, os faróis preencheram cada espaço do carro de Marcelo e Joana, como fagulhas de luz e vidro que flutuavam acima dos dois. Ele a olhou, milésimos antes da batida e viu em seu rosto o terror do reconhecimento de que algo estava errado. Como reflexo, tentou se jogar para protegê-la. Do quê ele não sabia.
O carro capotou algumas vezes pela rua vazia, chamando atenção dos poucos transeuntes, fazendo com que as luzes dos apartamentos em volta se acendessem. Os bombeiros chegaram rápido, mas era tarde. No carro, Joana e Marcelo tinham ido. Há muitas explicações para o que acontece depois, há quem diga que não há nada e outros que digam que há tudo. Independente de explicações, há o que não se pode negar: quando foram tirar os corpos dos restos do carro, Joana e Marcelo tinham as mãos dadas. O outro motorista sobreviveu. Uns arranhões, uma vida vazia, livre do remorso pela máscara da embriaguez. 
De Marcelo e Joana restou gargalhadas ecoando pelas memórias dos amigos, das declarações fáceis de amor que eles se faziam, o diploma recém adquirido dela pendurado na parede, o anel de noivado que Marcelo levava consigo no carro. Restou o apartamento vazio, cheio do amor dado e retribuído que um dia fora seu recheio. Os amigos, cheios da ausência dos dois, se apegaram a teoria de que eles estavam juntos, ainda gargalhando e ainda felizes. Se apegaram aos corpos de mãos dadas como uma prova de que o amor deles resistia. De Marcelo e Joana restou uma vida inteira que eles não puderam viver.
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becomingthaina · 10 years
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Poesia de pessoa.
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                                    Se ele soubesse. Se ele tivesse o mínimo conhecimento do quanto os seus olhos percorriam o seu rosto, o quanto sua mente passeava pelo seu sorriso, idealizando encontros, conversas. Ela se sentia tão boba, querendo quem não podia ter. Querendo o que estava além de seus desejos. Quando que ele olharia para ela? Até as pessoas sabiam. Até as pessoas sabiam o quanto era inútil os suspiros. Mas ela se apaixonava por ele todos os dias, a cada risada que ele dava - e não era para ela -, a cada vez que ele demonstrava uma opinião que a agradava - que ele nem sequer se importava -, a cada segundo que ele se sentava daquele jeito insolente de quem passa pela vida com estilo e deixando sua marca - e que ela sabia, apesar dele estar alheio, que a marcara tão profundamente - ela sentia que podia continuar apaixonada por ele, em suas ilusões, em suas projeções, para sempre.
Ela era tão acostumada a ser invisível. Sua presença sempre era indiferente. Seu cabelo era errado. Sua postura não a fazia se destacar, seu corpo era mediano, nada parecia agradar. Ela não se sentia nem um pouco especial. Mas suspirava por ele, que em qualquer das multidões poderia ser visto, que tinha aquela voz rouca e suave que a deixava aturdida mesmo a distância, mesmo sem nunca ser dirigida à ela. Apaixonada em segredo, se agarrando a poder observá-lo de longe, em poder pelo menos amar, ainda que nunca fosse correspondida. Sua amiga, embasbacada com a cisma fora logo direta em dizer que deixasse de sandice, que ninguém ama sem conhecer. Talvez, ela pensou, talvez não se ame sem conhecer, mas quem disse que ela não o conhecia?!
Porque, embora não dissesse em voz alta, ela achava que ela o conhecia muito bem. Escondia em seu íntimo a sensação de que se era possível conhecer muito alguém em apenas observar, em ler seus pensamentos traduzidos por gestos, falas, olhares. Ele era especial, disso ela sabia. Era ela, afinal, que mal e porcamente existia. Foi num dia de outono, quando as folhas caíam ao seu jeito pelo chão, que ele esbarrou nela na entrada do complexo. Ela, sempre imperceptível, era feita de matéria tal qualquer coisa, afinal, e não podia ser ignorada ao ser esbarrada. E foi quando ele ao se virar para pedir-lhe desculpas, acabou olhando em seus olhos. E eram olhos profundos.
Que ela não chamasse a atenção, não há como negar; que ela não tivesse a energia mais vivaz ou magnética, também não; mas seus olhos, aqueles olhos cheios de uma melancolia plácida, aturdidamente brilhante e enérgico, olhos vorazes e perspicazes, eram como um poço profundo. E ele não pôde deixar, ao uma vez mergulhar naquele olhar, de percebê-la. Então se deparou com uma beleza comum, e se perguntou porquê nunca a vira. Pois não era apenas os olhos. Ele sentiu que ela tinha poesia entranhada em todas as células. E ainda que todos pudessem duvidar, bastou que um esbarrão, um simples acaso da vida, fizesse com que ele enxergasse nela tudo que não enxergava em mais ninguém.
E de que adiantaria todas as outras qualidades, assim nem tão importantes, se ninguém tinha um rosto tão ferozmente angustiante e significativo? Com olhos mergulháveis e lábios que pareciam clamar por serem beijados?! Ele, no fim, que queria apenas desculpar-se e ir, desculpou-se e ficou. Ficou e quis saber mais. E se apaixonou. E passou ele a observar atentamente, em segredo, as cores dela, seus tons e nuances. E tempo depois, percorreu em silêncio, com seus dedos musicais, os traços do seu rosto e deu-lhe um beijo épico. E de tudo que as pessoas duvidavam, de todas as impossibilidades, nada restou. Apenas surpresa dos outros e felicidade deles. Que as coisas não precisam de sentido, mas de significado. E amor não é razão. 
Num mundo tão cheio de iguais, fora sua beleza contida, segredada, só dele, que a fez ser tão atrativa. Fora os olhos que guardavam aquilo que nos demais era exposto a todos. Fora o fato dela ser poço e não janela.E eles se apaixonavam todo dia. Se apaixonavam sem segredo. E de fato ela a conhecia e ele era para ser seu, ela para ser dele. E assim, tão simples e natural como o nascer do sol, ela e ele se viam. Se apaixonavam. E se viviam tal qual poesia.
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