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Feliz 2025
Depois de um Natal deprimente, sem comemorações, de molho em casa devido à peste, passamos a virada entre amigos e gatos, comendo MUITO bem, fazendo tiragens de tarô e conversando sobre passados, futuros e expectativas.
Minhas metas de ano novo sempre envolvem escrever mais — e eu sempre acabo descumprindo isso ao longo do ano. Entretanto, nada me impede de renovar os votos para mais um ano de descumprimento e autoflagelação, porque a base de todo bom ano é a desobediência e a culpa judaico-cristã ocidental…
Decidi fazer esta postagem mais caótica com base em todas as obras com as quais interagi nesses primeiros dias de ressaca e letargia.
Comecei o ano terminando a leitura de “A Pequena Sereia e o Reino das Ilusões” (The Surface Breaks), da escritora Louise O’Neill, com tradução de Fernanda Lizardo.
Vou ser franca: esperava mais — muito mais — de uma tentativa de abordagem feminista de A Pequena Sereia.
A protagonista, Gaia/Muirgen, não tem quase nada de profundidade ou nuance. Ela é linda (algo que é repetido à exaustão), tem a voz mais melodiosa do mundo, vive de obedecer a todos ao seu redor e sofre do início ao fim. Existe muito pouca diferença entre o patriarcado do mar e o patriarcado da terra, o que deixa a história extremamente tediosa.
Eu sou da opinião de que apontar misoginia e contradições do patriarcado por si só não torna um livro feminista. Até é possível criar uma história boa com foco no sofrimento das mulheres; taí O Conto da Aia — e tantos outros — que vão por esse lado e mostram que dá, sim, para falar de desgraça sem cair no melodrama barato.
A questão é que a personagem principal não parece aprender muita coisa ao longo de sua jornada… exceto bem no finalzinho, quando urge um monólogo lacrador para mostrar que ela tirou uma lição de todos os horrores sofridos (ugh). E poderia ter sido muito catártico, mas pelo modo como a narrativa (não) se desenvolve, nada do que ela diz soa como a conclusão lógica da evolução de uma mulher criada em um mundo de misoginia internalizada e prejudicada ainda mais por escolhas e circunstâncias desesperadas.
Acho que o livro ser em primeira pessoa não ajuda, pois Gaia tem tiradas que não fazem sentido do ponto de vista dela, supostamente limitado por uma vida inteira de confinamento (físico e ideológico) no fundo do mar.
Créditos onde créditos são devidos: reli o conto “A sereiazinha“, de Hans Christian Andersen (tradução de Silva Duarte, diretamente do dinamarquês), no qual a história se baseia, e reconheço que O’Neill tentou aproveitar ao máximo os elementos do original… mas acho que talvez o fato de se ater demais a eles acabou sendo prejudicial para lidar com os temas que ELA queria desenvolver.
Manter a paixão por um humano como motivação principal da sereiazinha, por exemplo, se torna um problema, pois a autora parecia muito mais interessada em tratar do mistério do desaparecimento da mãe da protagonista, o que poderia ter rendido uma investigação feminista mais interessante. Também ao optar por manter o aspecto de deterioração e dor das pernas humanas (algo fiel ao original), a exploração que a autora tenta fazer do prazer que a sereiazinha descobre no próprio corpo acaba se tornando quase incoerente.
Queria muito ter gostado, mas não gostei. Mas também parte da culpa é minha, por me apaixonar pela capa linda, com ilustração da artista colombiana Paola Escobar, e pelo projeto gráfico caprichado da DarkSide, que sempre me pega de jeito…
A primeira série do ano foi Manual de Assassinato para Boas Garotas, da Netflix, que maratonei num dia só.
Até mais ou menos o terceiro episódio a narrativa me prendeu bastante, mas eu tinha expectativas maiores em relação às resoluções.
Quando uma história me promete um caso não solucionado reaberto por uma personagem, espero pelo menos duas coisas: 1) uma boa motivação da pessoa que resolveu investigar e 2) uma investigação satisfatória, que se baseie no talento e na inteligência da protagonista.
Não posso falar pelo livro no qual a série foi baseada, mas a Pippa protagonista da adaptação não tem nem um motivo convincente nem um método interessante de obter informações sobre o assassinato/desaparecimento da Andie. A maioria das descobertas acontece por pura sorte ou porque os outros personagens milagrosamente contam tudo para a menina.
O fato de ela ser uma “boa garota” não cria grandes conflitos, o que é um desperdício da premissa, porque é justamente o que poderia diferenciar esse de tantos outros dramas de crime.
Uma das cenas que mais me incomodou foi quando Pippa chega num hotel e tenta exigir do recepcionista os nomes de hóspedes de um certo dia, o que obviamente o funcionário se recusa a revelar. Ela não é da polícia, não é jornalista e nem sequer conhece o recepcionista; é uma adolescente aleatória com ar de enxerida que nem ao menos pretende se hospedar no lugar. O que esperava conseguir?
Acho que para alguém apresentada supostamente como uma “boa garota”, inteligente, estudiosa, a personagem recorre com facilidade demais a invasões e estratégias arriscadas — sem mencionar a total falta de tato ou noção nas “entrevistas” com testemunhas e envolvidos.
A meu ver, claro que uma personagem detetive adolescente precisa de algumas limitações para ser crível (como a limitação de autoridade, o que restringe o acesso dela a informações); no entanto, ela também precisa de características que equilibrem as desvantagens, seja uma certa inventividade, ou capacidade de observação, ou algum tipo de qualidade social ou aspecto de inteligência emocional que justifique as testemunhas revelarem o que revelam a ela.
Enfim, achei as personagens e a trama meio frustrantes.
O primeiro filme do ano foi Love at First Sight, de 2023, que aparentemente também foi baseado em um livro de 2011 de Jennifer E. Smith: “The Statistical Probability of Love at First Sight” (A probabilidade estatística do amor à primeira vista).
Assisti às cegas, sem saber nada do enredo, e me surpreendi positivamente: ele é mais focado nos diálogos e no drama dos personagens do que nas ações e reviravoltas da história.
Acho que seu maior charme é ser despretensioso. Ele se propõe a falar de amor, despedidas, ordem e caos, e o faz sem grandes desvios de rota, sem muita complexidade narrativa.
Recomendo assistir assim mesmo como eu assisti: sem expectativas e sem saber muito do que se trata, focando mais nos personagens e em seus momentos.
O primeiro jogo do ano foi/está sendo o Witchy Life Story. Apesar de eu estar jogando no Switch, ele tem versão para PC, e acredito que os controles até fazem mais sentido lá, já que há um cursor.
É um jogo daquele tipo “aconchegante/cozy”, com foco na narrativa de uma bruxa (ou bruxo ou bruxe, considerando que você pode escolher seus pronomes) aprendiz que é mandada para Flora, uma cidadezinha cujos habitantes precisam de ajuda para realizar um certo festival.
As escolhas de respostas para os diálogos não são muito variadas, porque apesar da personalização inicial o jogo parece ter uma narrativa bem fixa e linear.
Além da parte de romance visual com escolha de diálogos, há a mecânica de quebra-cabeças das poções/óleos/amuletos/incensos. Você tem um jardim com ervinhas que precisam ser regadas, podadas e adubadas regularmente, e é com elas (e os recipientes comprados na única loja da cidade) que serão preparados os “encantamentos” do jogo, encomendados diariamente pelo elenco de personagens.
Eu ainda não avancei o suficiente para ter uma visão mais ampla da história, mas acho que funciona bem para relaxar e curtir uma narrativa simples de amadurecimento com temáticas de magia e bruxaria.
Infelizmente não tem uma tradução para português.
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Bom, acho que já deu para perceber que não busquei nada muito intelectual para esses primeiros dias. (Embora esperasse mais da leitura e da série, mas enfim…)
Na maioria das vezes passo por essas histórias sem ter muito com quem conversar, até porque é muito raro assistir/ler/jogar as coisas na época do lançamento mesmo. Não me importo de perder o timing; já aceitei que é parte da minha personalidade fazer tudo a passos de tartaruga. Ainda assim, gosto de registrar minha opinião — e de pesquisar a opinião dos outros a respeito da obra, dependendo do meu nível de obsessão…
Apesar de não me orgulhar muito das minhas escolhas de mídia ou das minhas avaliações, fico pensando que não criei esse blog para ser uma página profissional nem uma vitrine dos meus méritos incríveis como escritora e leitora e crítica e pensadora etc., mas principalmente como registro pessoal, e registros precisam ser autênticos.
Então um brinde a um 2025 mais autêntico — com uma Maru que come queijo em vez de fazer resoluções, assiste a obras despretensiosas, lê livros decepcionantes e emite opiniões preguiçosas de vez em quando.
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O oitavo tentáculo do polvo
Era uma vez uma velha que lavava roupas na praia quando apareceu diante de si um enorme polvo. Ele estendeu um gordo tentáculo em sua direção quase como que tentando a mulher a cortá-lo.
A velha prontamente o decepou, levando-o para casa e comendo-o com satisfação.
No dia seguinte, ao ir novamente lavar suas roupas no mar, o mesmo polvo veio e lhe estendeu outra perna. Isso se repetiu por mais cinco dias — até que chegasse no oitavo tentáculo.
A senhora retornou à praia na intenção de levar a cabeça do polvo consigo desta vez. Ele a esperava como sempre, com o único tentáculo que restava estendido.
A mulher se adiantou para cortá-lo e, num piscar de olhos, o polvo saltou em cima dela, enrolou o tentáculo restante ao redor de seu pescoço e a arrastou consigo para as profundezas do oceano.
(Distrito Minamitakaki, Nagasaki)
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Esse é um dos meus contos folclóricos japoneses preferidos, e achei que nada seria mais apropriado do que traduzi-lo e publicá-lo na noite de Halloween.
Eu o descobri pela tradução da Fanny Hagin Mayer do folclorista japonês Kunio Yanagita, no The Yanagita Kunio Guide to the Japanese Folk Tale, volume que é uma tradução do Nihon mukashibanashi meii 『日本昔話名彙』, compilado pelo Kunio Yanagita em 1948 e editado pela editora da NHK.
Felizmente consegui encontrar (e baixar!) a obra escaneada no repositório da Biblioteca da Dieta Nacional japonesa, aqui: https://dl.ndl.go.jp/pid/1124179/1/95.
Infelizmente, a qualidade dos scans não é muito alta, o que dificulta reconhecer as letras (até porque são usados ideogramas já obsoletos).
Ainda assim, achei que seria legal deixar a transcrição do japonês aqui, para quem quiser dar uma olhada (tendo em mente que talvez alguns kanjis estejam errados).
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蛸の足の八本目
昔婆が海邊で洗物をして居ると、すぐその前に大きな蛸があらはれて、これ��切れと云はぬばかりに一本の大足をさし出した。婆は早速その足を切取つて帰り喜んで食べた。翌日も又洗物をして居ると昨日���蛸が足を一本切り取らせかうして七日間續いたが八本目のことである。婆さんは今日こそ、頭も一緒にと
ってやらうと思つて出かけて行くと、蛸はいつもの通り残つてゐる一本の足を出して待つて居た。さうして婆さんがその足を切取らうとすると、急にその蛸がをどりかゝつて來て、残りの一本の足を婆さんの首に巻つけ海の底に引つばつて行つた。
―――長崎県南高来郡―――
日本放送協会 編 ほか『日本昔話名彙』,日本放送出版協会,昭和23. 国立国会図書館デジタルコレクション https://dl.ndl.go.jp/pid/1124179 (参照 2024-10-31)
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Nem todo ruído é ruim
Talvez você não odeie ASMR, não.
Ao mesmo tempo que o termo ASMR parece ter se espalhado e popularizado pelos Instagrams e TikToks da vida, com unboxings e publicidade (disfarçada ou não), vejo uma onda de pessoas que dizem odiar esse tipo de vídeo.
Muita gente reclama nos comentários: “abre esse pacote de um jeito decente“, “que coisa irritante essa edição” etc. Para falar a verdade, eu não discordo totalmente deles. Mas também acho que as pessoas que fazem esse tipo de marketing não entendem fundamentalmente o que é ASMR e o que tornou esse gênero de vídeo popular, pra início de conversa. E, claro, tamboriladas e barulho de plástico amassado não são os meus gatilhos.
Sim, isso aqui é uma defesa do ASMR. Meu objetivo não é fazer ninguém gostar, mas entender do que se trata e talvez até refletir sobre seus próprios “gatilhos”.
ASMR é uma sigla para “autonomous sensory meridian response” (resposta meridional sensorial autônoma), que nada mais é do que uma sensação de relaxamento, prazer, cócegas diante de “gatilhos” visuais ou auditivos. Esse potencial audiovisual deu origem a um gênero de vídeos com essa etiqueta. Só que, como tudo no capitalismo tardio, também virou pretexto para exibir alguma embalagem de produto sendo aberta com um tamborilar irritante de dedos, que não causa relaxamento a ninguém (mas talvez ajude no engajamento do ódio).
Na verdade, existem centenas de categorias de gatilho, desde imagens como a de areia escorrendo por uma ampulheta, passando por barulhos de pingo de chuva num telhado, até gatilhos mais situacionais, como a experiência de receber algum tipo de atenção pessoal de uma pessoa, como de uma maquiadora ou de um alfaiate ou de uma médica fazendo o tão famoso exame do nervo cranial.
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[A criadora coreana Latte ASMR é uma das veteranas da comunidade. Nesse roleplay, ela simula uma maquiagem no seu rosto, um dos tipos mais comuns de vídeo.]
Muito do deboche que eu vejo em relação ao ASMR também ocorre porque, como tudo na internet, ele já foi cooptado pela regra 34: existem vídeos de roleplay com apelo erótico, claro. O que na verdade é muito natural para um fenômeno que lida com estímulos sensoriais, mas obviamente incomoda (ao menos na frente dos outros) uma certa parcela puritana.
Por outro lado, nem todo estímulo sensorial é sexual por natureza, e acho que muitas pessoas perdem de se divertir e se descobrir por medo de passar vergonha diante dos outros, por medo de serem vistos como estranhos ou pervertidos ou qualquer coisa assim.
Na verdade, eu sou da opinião de que todo mundo gosta de ASMR — porque todo mundo gosta de sentir algum tipo de prazer proporcionado por um estímulo externo.
A maioria só não sabe que isso tem um nome, e talvez não conheça muito bem os próprios gatilhos (da mesma forma que muitos não sabiam até pouco tempo que existia uma palavra para fobia de padrões regulares de furos, a tripofobia).
Talvez você ache vergonha alheia aqueles vídeos em que uma boca cheia de gloss sussurra palavras de afirmação no microfone. Vídeos com fonemas isolados (como o célebre sksksk) ou de objetos apertados, tocados, tamborilados me causam mais irritação do que relaxamento. Sabonetes sendo cortados com estilete me dão agonia. Faz parte. Tem muita gente daquelas milhares de visualizações que não só adora como também alega que as imagens ou sons ajudam a reduzir a ansiedade delas.
Eu particularmente adoro sussurros e voz baixa. Se for em outros idiomas, então, inclusive nos que eu não entendo, melhor ainda. Mas não é qualquer sussurro ou voz baixa; tem toda a atmosfera relaxante, a entonação de quem fala.
Acredito que a maioria das pessoas sabe qual é a sensação, mas devido a alguma experiência no mundo não virtual.
Apesar de não ser religiosa, durante um curto tempo minha mãe me levava a um centro espírita. Eu odiava os discursinhos, o ambiente não me comovia em nada… e daí vinha a hora do “passe” ou “imposição de mãos”, que deve ter alguma explicação religiosa que eu ignoro. A sensação (talvez a expectativa) de uma pessoa aproximando as mãos do seu rosto, sem tocá-lo, enquanto você fecha os olhos… ali eu sentia essas cócegas misteriosas e achava agradável. Inclusive, sabendo hoje sobre ASMR eu fico pensando quantos fenômenos sensoriais pouco estudados cientificamente são explorados pelas religiões e ganham um status mágico.
Também me recordo das visitas à biblioteca, com pessoas falando baixo e ruídos de páginas folheadas, de lápis riscando o papel. De idas à cabeleireira — coisa que os vídeos da categoria de “roleplay de atenção pessoal” tentam reproduzir, com o microfone estrategicamente posicionado para parecer que a pessoa está realmente lavando, secando e penteando o seu cabelo. E quem nunca conheceu uma pessoa cujo mero tom de voz funciona como um copo de leite quente?
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[Aqui Ben Barnes lê um trechinho de Shadow and Bone em estilo ASMR, totalmente ciente do quão sedentas são as leitoras.]
Para além dos gatilhos audiovisuais simples, hoje em dia existe muita exploração criativa dos ASMRs situacionais, em que os criadores investem em cenários e narrativas para tentar conseguir um efeito de imersão maior, às vezes trazendo uma experiência quase cinematográfica. Você pode assistir a um vídeo simples de uma pessoa simulando uma maquiagem no seu rosto e conversando como se fosse sua amiga próxima, ou pode assistir a um cenário de filme noir, em que você é a testemunha entrevistada. Nesse modo POV, de visão em primeira pessoa, você pode ser uma pessoa qualquer, um objeto futurístico ou uma criatura mágica sob o escrutínio de detetives, elfos — e até da dona Dimitrescu.
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[Aqui a ASMRtista francesa do Moonlight Cottage ASMR cria todo um cenário de filme noir em que você é uma testemunha.]
E também existe uma outra categoria de vídeos ASMR que eu amo: pessoas fazendo tarefas manuais e explicando coisas em minúcias. O estímulo sensorial é acrescido do interesse no assunto e até do interesse no idioma.
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[Aqui o artista japonês do canal Carm ASMR explica sobre a arte do bonkei e monta 2 paisagens em miniatura.]
Enfim, analiso o meu amor por esses vídeos como uma forma de me conectar com a voz humana. Eu sou uma pessoa fundamentalmente sozinha e silenciosa, e às vezes sinto falta de ouvir alguém falar, ainda mais de forma delicada e calma. Sem dúvida, um roleplay não é a mesma coisa que um amigo perguntando como foi seu dia, ou um namorado mexendo no seu cabelo e consolando você por um péssimo dia no trabalho. No entanto, quando o objetivo do vídeo é um estímulo sonoro ou visual, pouco importa se se trata de realidade ou não; você está suficientemente disposto a mergulhar na ilusão.
O mundo é cheio de ruídos, boa parte desagradável. A maioria, aliás, nós já naturalizamos a ponto de ignorar. Música é algo maravilhoso e tem o seu momento, assim como o silêncio. Mas os sons mundanos/corriqueiros agradáveis, a gente nem sempre para pra pensar neles.
Acho que a minha maior defesa do ASMR, sem contar toda a criatividade das pessoas envolvidas na produção desses vídeos, é que a compreensão do fenômeno nos ajuda a perceber que existe, sim, uma certa beleza, uma certa harmonia nos sons aos quais raramente dedicamos a nossa atenção — nos ajuda a descobrir sensações e a dar um nome e atribuir uma importância a elas.
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Hiperfoco musical: Wilmot's Warehouse OST
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Nos últimos dias, a trilha sonora desse joguinho de organização, Wilmot’s Warehouse, tem me acompanhado no trabalho e até em outras tarefas de escrita, nas quais eu preciso de concentração.
Não sei muito do jogo em si, a não ser que é do tipo “quebra-cabeças organizacional”, mas a trilha, composta por Eli Rainsberry, tem uma série de musiquinhas instrumentais eletrônicas ótimas, um misto de vibes relaxantes com “perdendo a sanidade lentamente tal qual Raito Yagami tentando superar L em Death Note” (como é de se esperar da música de fundo de algo dentro do gênero puzzle…).
Tem também no Spotify e Apple Music.
O jogo, em si, tem versão para PC no Steam, ou para os consoles Nintendo Switch, PS4 e Xbox One.
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Eu tenho tentado estabelecer uma rotina de ir ao parque, dar uma volta, sentar e rabiscar num bloquinho, esvaziar a cabeça.
Por acaso, em abril surgiu uma mostra aqui. Uma das obras é interativa, chama Peixe-Passarim, da artista Mari Nagem. Consiste numa plataforma pantográfica, uma grua hidráulica que eleva a gente a uns 12 metros do chão. No início, eu achava que era só alguma coisa de manutenção do parque, não uma instalação artística. Mesmo depois de entender que fazia parte da mostra eu não me interessei muito.
Daí um dia, na segunda semana de maio, eu sentei perto da grua para descansar e desenhar e acabei ouvindo a explicação da obra. A artista foi para a região amazônica na época das cheias e achou interessante a perspectiva de dentro do barco, com a água tão alta que se via a copa das árvores na mesma altura ou abaixo de si.
Hoje eu tomei coragem de subir. Fui no fim de tarde. Doze metros. Eu queria ter gritado alguma coisa importante. "Não deixem privatizar a Sabesp!", algo assim. Mas eu sou bem covarde. Só de fantasiar com isso já fico nervosa. Mas fui e vi a copa das árvores de cima da água. Ou da névoa de carros da paisagem urbana. O barulho das sirenes e das buzinas torna meio difícil abstrair. Os prédios enormes que cercam o parque (que quase foi prédio também, não fosse a luta da comunidade local contra a administração do prefeito cujo nome batizou o espaço sem merecimento nenhum) também interferem um pouco na experiência.
Ainda assim, me fez pensar na cheia. Teve uma hora que um pássaro migrou de um galho para outro, fez um estardalhaço — a moça que operava a plataforma até se perguntou se já era morcego àquela hora. Me fez pensar nos pássaros que fizeram seus ninhos em galhos mais baixos; será que eles sabiam da cheia do rio que viria?
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Rosy afternoons 🌷
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Quadro 1 - Rato: "Como você lida com decepções?"
Quadro 2 - Caracol: "Mal."
Quadro 3 - Rato: "Mas que atitudes você toma especificamente?"
Quadro 4 - Caracol: "As erradas."
(Poorly Drawn Lines)
disappointment
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