viagemcalada
viagemcalada
viagem calada
20 posts
Meu nome é Ivo Mortani Jr, sou Psicólogo e criei este tumblr para publicar contos, fragmentos, e mais coisas assim ;)
Don't wanna be here? Send us removal request.
viagemcalada · 7 years ago
Text
Um redirecionamento pelos rituais
Se me perguntassem hoje qual imagem viria a minha mente para comparar nossas vidas nas grandes cidades, não hesitaria em responder que se assemelha a de uma corrida. Sem paradas, cronometradas, competitivas, transformadas pelas evoluções tecnológicas e automatizadas. Sejam nas relações profissionais, interpessoais e mesmo familiares, os valores inerentes a esta corrida são incorporados, e ao invés de momentos, temos fins, ao invés de vínculos, temos antagonistas, ao invés de estradas, temos pistas.
Desta necessidade desmedida de correr, de alcançar, de obter, nos distanciamos do que somos e perdemos direcionamento, disto ocorre um estado de estar sempre em concorrência, em disputa, do qual depende prioritariamente de demandas e exigências completamente externas às nossas vidas.
Esta falta de um direcionamento nos permite enxergar exclusivamente estas demandas e exigências externas, então sonhamos o sonho dos outros, desejamos os desejos dos outros, almejamos as posses dos outros. Distantes de nós mesmos, nossa capacidade essencial de discernir; o que nos garantiria a capacidade de direcionar nossas vidas; é invalidada e perde prioridade, sendo assim, perdemos nossa condição biológica de aprender.
Como exemplo de comparação, volto meu olhar para as neurociências, recorrendo a um artigo de Chiara Pussetti (2015), e ao funcionamento do sistema nervoso, que possui um atributo surpreendente, que é o amplo número de células e conexões nervosas existentes tanto no córtex cerebral e no cerebelo, áreas que estão envolvidas na aprendizagem e na memória. É uma abundância que é funcional a um sistema seletivo, destinado a reduzir as possibilidades por meio da aprendizagem. Portanto, a aprendizagem é um trabalho ordenado de poda, de redução de possibilidades. No olhar das neurociências, aprender significa eliminar.
Na comparação que aponto com estas ideias é de que este estado desmedido de competição reduz nossa aprendizagem e consequentemente o discernimento que seria desencadeado e garantiria direcionamento. E o contraponto ao comportamento competitivo exagerado seria a possibilidade de desacelerar desta corrida, permitindo um estágio semelhante à poda realizada na aprendizagem, por meio de observação e permanência. Isto é, não é preciso deixar de correr ou competir, basta desacelerar e se permitir a pausa para hidratação.
Estas “pausas para hidratação” acabam por serem as mesmas já mencionadas em artigos anteriores, são intervenções e práticas direcionadas à meditação e contemplação.
E ainda reforço estas práticas citando mais uma vez o artigo de Chiara Pussetti (2015), que descreve que os avanços da neuroimagiologia já permite observar os efeitos de certas práticas, como por exemplo, rituais de iniciação, jejum ou a meditação, nas estruturas cerebrais envolvidas no circuito emocional, afetando em particular a neurogénese no hipocampo e, portanto, os seus correlatos funcionais: cognitivos, emocionais e comportamentais.
O que é importante destacar, é que estas como muitas outras práticas carregam suas raízes em ideias ritualísticas, porque sempre existiram rituais, sendo eles considerados sagrados ou parte do dia a dia e da rotina. Aparentemente banais, as diversas atividades diárias, por vezes descartadas, integrantes de nossos rituais de rotina sempre nos serviram de desaceleradores, mesmo estando inconscientes deste fato.
E para traçar este paralelo percorro um trajeto de retorno ao passado recorrendo às mitologias.
Para realizar esta comparação às ideias propostas, utilizo o artigo de Laura Villares (2005), citando os trechos sobre a deusa Héstia, pelas suas características de centralização e organização de um espaço, como por exemplo:
“Héstia permite o estado de moradia. Sem ela, vivemos perambulação, frio, escuridão, desvio, delírio. Nossa linguagem utiliza metáforas espaciais para tais estados quando alude a estarmos “fora de centro”, “deslocados”, “desfocados”, “sem chão”, “sem lugar” (Kirskey, 1992).”.
O comportamento competitivo desmedido; usando ainda a imagem da corrida; desvia-nos, nos desloca, enquanto que este “estado de moradia” concedido por Héstia e pelos rituais associados a ela (como descreverei abaixo) nos redireciona e possibilita a “pausa para hidratação”, ou melhor, para nossa capacidade essencial de discernir. Que se corrobora por outro trecho do artigo de Laura Villares (2005):
“Héstia é anfitriã afável. Provê hospitalidade, reunindo todos à volta da lareira. E, se necessário, é capaz de prover também hospitalização, pois dores, cicatrizes e sintomas também podem ser iluminados, focalizados e aconchegados, para que então possam se movimentar, reagrupar, re-significar e aquecer (Kirskey, 1992).”
E quando apontei os rituais associados à Héstia, estava me referindo justamente aos rituais de rotina que descrevi como sendo desaceleradores, e de estarmos inconscientes do seu impacto em nossas vidas. Porque de acordo com Laura Villares (2005), “a deusa nos faz também considerar os afazeres domésticos, que geralmente são monótonos e repetitivos, enxergando o quanto são estruturais, necessários e indispensáveis e fornecem uma base sólida, podendo ser realizados não com ênfase no aspecto de obrigação, mas no da meditação que favorecem, justamente por sua insossa repetição, ao permitirem à consciência devanear e acolher novas imagens”.
Seja considerando as ideias de comparações com a neurociência ou recorrendo aos ensinamentos da mitologia, e para quem esteja enxergando este mesmo quadro e contexto descrito no artigo, vale reservar uns horários, sejam para meditação, contemplação ou mesmo para lavar uma louça ;)
Referências:
Freitas, Laura Villares de. (2005). Grupos vivenciais sob uma perspectiva junguiana. Psicologia USP, 16(3), 45-69. Recuperado em 02 de agosto de 2018, de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1678-51772005000300004&lng=pt&tlng=pt.
PUSSETTI, Chiara. “As razões do coração: entre neurociências culturais e antropologia das emoções”. RBSE – Revista Brasileira de Sociologia da Emoção, v. 14, n. 42, p. 23-41, dez. 2015. ISSN: 1676-8965.
0 notes
viagemcalada · 7 years ago
Text
idealizando...
Num mundo baseado na solidariedade, eu poderia reconhecer a bondade? Estou tratando do abstrato? Sim, acredito que descrevo magia, pois procuro encenar a tempestade. Se vida indica dependência, que seja da terra, que seja de laços, cultivando encontrarei a sua e a minha cultura. Viveríamos em círculos narrando nossos contos, exatamente como na criação, Gaia descrita em sonhos, nossos portais para o conhecimento, poderíamos transcender o horizonte negado aos nossos olhos, recordar o passado, decidir entre o espelho e a escuridão.
0 notes
viagemcalada · 7 years ago
Text
De memórias, de tempo e de religiosidade
Ao imaginar o desencadear de eventos que determinaram cada parte da história de minha vida, gosto de imaginar um quadro abstrato que se assemelhe a um fluxo de redes neurais, um enredamento de conexões e desconexões, no qual os pontos de distância ficam entrelaçados, e a recordação de uma memória e a percepção de tempo da mesma sempre desvia das experiências objetivas e adentram completamente o espaço do subjetivo.
Desde tempos imemoriais estas conexões e desconexões se apresentaram nas experiências objetivas e subjetivas, seguindo trilhas perceptivas e sensoriais ou imagens e visualizações.
De fato, os achados relacionados à neurociência apontam nesta direção, indicando que as experiências que alteram o fluxo de informações neurais não são apenas objetivas, mas também subjetivas. Estudos evidenciam que a visualização é uma importante ferramenta para geração de alterações neurofisiológicas (Williamson et al, 2001; Rainville, Hofbauer, Bushnell, Duncan, & Price, 2002).
Sempre que um comportamento é emitido, ativamos e desativamos simultaneamente redes neurais, e milhares de sinapses excitatórias e inibitórias ocorrem nesse processo. O SNC manifesta ainda o sofisticado fenômeno da Plasticidade Neural, recurso que dispomos para modificar, compensar, gerar e ajustar funções neurais fundamentais à nossa vida, como o aprendizado e a memória (Squire & Kandel, 2003).
Meu interesse neste artigo é o de correlacionar estes processos, ponderando sobre teorias de integração que seguissem a ideia de fluxo enredado abarcando memórias, percepção de tempo, de religiosidade, como uma pintura da qual vamos desvendando e entendendo no percurso de nossas vidas.
Seguindo a trilha das experiências objetivas para as subjetivas, podemos apontar as raízes destes aspectos, retornando as origens dos mesmos relembrando seus conceitos.
Na origem da palavra religião temos o termo “religare” que significa atar ou ligar. E para a ideia de religiosidade, de acordo com a visão de Jung (1938/1990, p. 10), a atitude particular de uma consciência transformada pela experiência do numinoso (conceito de sagrado).
Pela palavra tempo, usando as descrições do professor Gabriel Perissé, pesquisador etimológico, encontra-se a origem no latin “tempus”, derivado do grego “témno”, que significa "cortar em pedaços", "dividir", e que de seu diminutivo “templum” (templo) indica a ideia de “um pequeno espaço que "cortamos" para dedicar ao sagrado. E por isso damos um pouco do nosso tempo para o divino (que existe para além do tempo), ao entrarmos em algum templo”.  
Seguindo a linha de pensamento dos estudiosos da etimologia, desta vez considerando a palavra memória, encontramos as considerações do professor doutor Antônio Jardim, em sua tese “Música, vigência do pensar poético” (1997: 152):
“A palavra memória provém do grego que diz, mais imediatamente, ação de lembrar, o lembrar ele mesmo, aquilo que permanece no espírito /.../ pode-se entender memória como instância de inventar, meditar, refletir e velar, no sentido de cuidar, a unidade.”
Daqui podemos retomar a trilha das experiências objetivas, apontando as correlações entre a etimologia da palavra memória e o fenômeno da plasticidade neural, sendo ambos em certo aspecto direcionados para o objetivo de preservação. Para tanto podemos citar outro achado da neurociência, no qual bancos de memórias, constituídos mediante experiências objetivas e subjetivas são referências fundamentais à capacidade humana de gerar comportamentos adaptativos (Baddeley et al, 2000).
Voltando ao trecho citado do professor Antônio Jardim sobre a memória, o mesmo é citado pela doutora em teoria literária Alessandra Garrido Sotero da Silva, no artigo “Os caminhos da memória e o inconsciente coletivo”. Neste artigo, ela aponta outro trecho de Antônio Jardim, mencionando que devido à concepção ontológica, a memória pode ser vista como um fator constituidor da tentativa de imortalização. Logo, podemos dizer que nessa primeira visão relatada à memória tem o sentido de vir à tona o que estava submerso no espírito, com o efeito de cuidar, imortalizar.
A partir destes conhecimentos, percebemos na origem da atitude contemplativa a proximidade com os aspectos da religiosidade, sendo uma experiência subjetiva que se correlaciona e se integra com as experiências objetivas. Podemos concluir que os movimentos voltados para meditação e contemplação parecem ser ressignificações, mas com um direcionamento bem semelhante ao sentido de um resgate do sagrado.
Para isto vou citar o autor David E. Zimerman, que descreve em seu livro “Etimologia de Termos Psicanalíticos”:
“[...] raiz de templum se origina de tam, do primitivo idioma sânscrito, com a significação de cortar, dividir, [...] com o significado de espaço delimitado, sobretudo o espaço sagrado, para nele serem feitos os augúrios (presságios)  no templo. Isso demandava olhar atentamente para todos os lados, à maneira do "augure" que investigava o espaço em suas atividades divinatórias. Daí se originou o verbo contemplar, com um significado equivalente ao de meditar, considerar e especular.”
Pensando sobre as origens destes aspectos e suas correlações, imagino que nos dias atuais é esta atitude contemplativa que pinta o tal quadro abstrato, e que do qual poderia permitir uma espécie de conexão do ponto de vista interno. Da mesma maneira que o toque seria a conexão sensorial, a religiosidade seria o toque subjetivo.
Textos e referências:
http://www.ciencialit.letras.ufrj.br/garrafa11/v1/alessandragarrido.html
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-56872005000200003
0 notes
viagemcalada · 7 years ago
Text
Redemoinho
Carece de mar, deseja ser tragado. Carregado pela maré se encontra indefenso, vulnerável. Gira, gira e gira e fica transparente. Diluído sê água, fica vivo, salgado. Vira sal, ganha cor, quer ser vício, quer ser sujo, quer ser cinza. Carece de terra, então cresce, envereda, sente saudades e vira mar.
0 notes
viagemcalada · 8 years ago
Text
Prato sujo...
Sem deixar Querendo e não Devagar Despencou Distraiu Desistiu Chocou-se Contra si, contra o chão... Berro, barulho, eco! Mais do que fome A quebrança deixou Querendo e não Raiva Atenção Aflição Contra si, contramão...
0 notes
viagemcalada · 8 years ago
Text
Desatento
As distrações que ocupam nosso tempo, desocupam nossas memórias, dão folga aos momentos e férias à contemplação. Estas distrações quebram galhos, quebram pontes. Perde-se o sentido, perde-se o infinito.
0 notes
viagemcalada · 8 years ago
Text
Mar(é)...
...vida oferecida; Maré partida; Maré alçada; Maré tragada; Maré perdida; Maré alimento; Maré Vida...
0 notes
viagemcalada · 8 years ago
Text
Das infindáveis buscas de nossas vidas
Podemos nomear infindáveis buscas em nossas vidas, por um sentido, pelos desejos, pelas conquistas, e o que me parece comum a todas estas buscas é uma emoção e uma dependência por um entendimento que ocorre por meio da experiência, mas que permanece inteiramente permeada por mistério.
Mesmo estando rodeados por teorias e instrumentos, nos vemos perdidos em acontecimentos e questionamentos que exigem mais do que apenas uma resposta, exigem uma identificação, uma assimilação.
Esta assimilação a qual me refiro e uso como fundamento se origina nas ideias descritas por Neumen em seu livro “Pais e Mães”, como algo que representa carregar um conhecimento e permitir que amadureça, que significa, ao mesmo tempo, aceitá-lo.
Ao que Neumen também descreve como “uma forma de atividade tipicamente feminina, que não deve ser confundida com submissão passiva ou flutuação ao sabor do corrente. Para ele, “a relativa passividade da consciência matriarcal não se deve a nenhuma incapacidade de ação, mas antes de uma consciência de submissão a um processo em que não pode “fazer” nada, apenas “deixar acontecer””.
Ao mesmo tempo em que procuro traçar um fio condutor entre estas ideias e as buscas e questionamentos de nossas vidas, faço um paralelo com a falta da atitude contemplativa e como esta falta nos impede de entender esta ideia de assimilação dos acontecimentos.
E mais uma vez detenho-me nas ideias de Neumen, quando ele cita a consciência patriarcal como aniquiladora do tempo, que acaba por “ultrapassar os lentos processos de transformação e evolução da natureza através do uso deliberado de experimentação e calculo”. 
Enquanto que “a consciência matriarcal permanece presa ao encantamento da lua mutável. Como a lua, sua iluminação e sua luminosidade estão ligadas ao fluxo do tempo e a periodicidade. Deve esperar que o tempo amadureça, enquanto a compreensão, como uma semente plantada, também amadureça com ele.”
Neumen ainda descreve que “[...] nos mistérios primordiais da mulher, ou seja, no processo de ferver, cozer, fermentar, assar, o amadurecimento, “ o ponto “, e a transformação estão sempre ligados com um período de espera. O ego da consciência matriarcal costuma permanecer quieto ate que o tempo seja favorável, ate que o processo esteja completo, ate que o fruto da arvore lunar tenha amadurecimento e ficado como uma lua cheia, isto e, ate que a compreensão tenha nascido do inconsciente. Porque a lua não e somente senhora do nascimento, mas também, enquanto arvore lunar e arvore da vida, um crescimento em si, “ o fruto que gera a si mesmo “.
Parece-me que realmente precisamos de uma luminosidade diferente, como a da lua, e até mesmo o brilho imemorial das estrelas, para equilibrar o aspecto ofuscante do sol. Citando Neumen:
“Não é sob os raios causticantes do sol, mas na fria luz refletida da lua, quando a escuridão da inconsciência atinge sua plenitude, que o processo criativo se completa: a noite, e não o dia, é que é o momento da procriação.”
A meu ver esta inversão de luminosidade apontada por Neumen depende inteiramente de uma atitude contemplativa, “ao período de espera” ao “tempo de amadurecimento”, para assim haver um entendimento do significado da assimilação.
O que me remete a uma passagem do “Em Busca de Tempo Perdido: No Caminho de Swann” de Proust:
“(...) E então, muito fora de todas essas preocupações literárias e em nada ligados a elas, eis que de súbito um telhado, um reflexo de sol numa pedra, o cheiro de um caminho, me faziam parar pelo prazer único que me davam, e também porque pareciam ocultar, além do que eu via, alguma coisa que eles convidavam a colher e me era impossível descobrir, apesar dos esforços que fazia. Como sentia que aquilo se achava neles, eu ali ficava, imóvel, a olhar, a respirar, procurando ir com o pensamento além da imagem ou do odor. E se tinha que correr atrás do meu avô para continuar o passeio, fazia-o de olhos fechados, atento em relembrar exatamente o perfil do telhado ou o matiz da pedra, que, sem que eu soubesse o motivo, me haviam parecido replenos, prestes a entreabrir-se, a revelar-me aquilo de que não eram mais que a cobertura. Claro que impressões desse gênero não iam restituir-me a perdida esperança de me tornar um dia escritor e poeta, pois estavam sempre ligadas a algum objeto particular desprovido de valor intelectual e sem nenhuma relação com qualquer verdade abstrata. Mas pelo menos me davam um prazer irreflexivo, a ilusão de uma espécie de fecundidade, e assim me distraíam da tristeza, da sensação de impotência que experimentava cada vez que me punha a buscar um assunto filosófico para um grande obra literária.”
Esta entrega quase que plena ao momento, que temos o prazer de ler em Proust, se enquadra na ideia de uma atitude contemplativa em oposição ao “uso deliberado de experimentação e calculo”, sendo uma poderosa inversão da luminosidade.
Esta inversão de luminosidade nos direciona para inevitável e inabalável verdade dos opostos.
E a ideia apresentada por Neumen de uma via de entendimento por meio de um processo de assimilação é de fato uma aproximação do consciente e do inconsciente. Um olhar para individuação como a de infindáveis buscas de nossas vidas, cada qual com seus devidos períodos de espera e de tempo de amadurecimento para o encontro de si-mesmo.
Nas palavras de Lao-Tsé: “A natureza não tem pressa, e no entanto tudo se realiza.”
0 notes
viagemcalada · 9 years ago
Text
Plagiando “Calvino”...
Semânt é uma cidade acriançada e pequena, ao menos é o que parece quando contemplada. Passados alguns momentos em Semânt e a palavra “simplicidade” aparece algumas vezes na mente. A prefeitura é um escritório dentro de uma biblioteca, dentro de um parque. A assembleia é parte de um coreto dentro de uma praça. As casas se assemelham com museus, e as pessoas despertam curiosidade. O tempo em Semânt desobedece as regras, e as ideias não envelhecem. Semânt ao longe parece pequena e de perto aparenta enormidade. Um enigma explicado por seus habitantes com a frase lema de Semânt – no espaço dos desejos não determinamos limites.
0 notes
viagemcalada · 10 years ago
Text
herança...
O que representa se torna significado e apresenta seus lados - lado do olho, lado da boca, do papel, do som... ligado e compreendido, unido e comparado, imperfeito e provado, meu verbal é subordinado, ao carvão e pedra do bisão rabiscado.
0 notes
viagemcalada · 10 years ago
Text
devir
...existe certa beleza na repetição, moldando um certo devir, nos direcionando ao inacabado, ao infinito...
0 notes
viagemcalada · 11 years ago
Text
Passagem
Pisei onde outros pisaram. Então pisam onde pisei. E sobre o piso, pisaram também. Eram terras de ninguém. Sobre a terra concretizaram um plano, para corretamente pisarmos. Planos destruídos, defeitos se alçaram. Pensei então (continuava pisando). Outrora, terra de ninguém. Reprodutiva, fez crescer alguém. Esquecida debaixo do asfalto.
0 notes
viagemcalada · 11 years ago
Text
Circadiano
Como se a tecnologia pudesse mudar o que vejo...transformar moinhos... Hoje vejo um céu invertido, olho para o céu escuridão e para a terra luminosa. E as areias trocam de direção, sendo enterradas até o brilho retornar.
0 notes
viagemcalada · 11 years ago
Text
fronteiras...
Não quero escrever fronteira das minhas impressões. Somente complemento um espaço, pois posso tocá-lo disposto ao partir, então declaro minhas ligações nervosas insuficientes para converter este quadro, de forma que deixarei o ar completar seu trabalho.
0 notes
viagemcalada · 11 years ago
Text
Vogal
Da casa Para cama Para manhã Do campo Do amplo Para você Para ele Para quaisquer Para época Enfrente, comumente... Ido e saído Ele também Ainda que enfim Após uma porta Encontra o novo Mais seu avô Falando sobre orações Ao ombrear o novo O novo ainda um número recebe um ultimato...
0 notes
viagemcalada · 11 years ago
Text
Estrada...
Quão contente estava, pulando cercas, deixando a casa. Bagagem pesada. Roupas que desejei trajar. Na representação cabisbaixa ou liberta. Outono como referência. Perdas. Saudades dos anseios. Mas anseios procuram estradas. Então procuro um trem.
0 notes
viagemcalada · 11 years ago
Text
Augusto para os amigos
Escurecia, mas o céu ainda estava vermelho, Augusto brincava com seus amigos, apesar dos ininterruptos berros de sua mãe para que entrasse para jantar. Posso descrever Augusto como um menino com completos sete anos e mais alguns meses de vida e que carregava um belo sorriso no rosto, e este, repleto de sardas e cabelos vermelhos bem raspados, bom, pelo menos era assim em frente ao espelho. Augusto e seus pais viviam numa pequena vila bem próxima da grande vila, esta pequena vila se chamava Passo e a grande vila se chamava Corrida. Na verdade as placas diziam outros nomes para as vilas, mas para mim era assim que se chamavam. Cansado de escutar sua mãe berrar, Augusto despede-se de seus amigos e vai correndo para casa, antes que sua mãe decida buscá-lo com uma vassoura na mão. O tempo estava tão agradável (mesmo estando no verão), corria uma brisa sem aparente compromisso em amenizar o calor, mas que cumpria bem este papel. Augusto brincava num gramado de incontável extensão, claro que o gramado não era tão grande assim, mas é assim que sempre me lembro dele. Ainda não tive oportunidade de me apresentar e sei que vai parecer estranho para vocês  quem eu sou, mas lá vai – Eu sou os olhos de Augusto. Sim, seus olhos e não adianta questionar o narrador da história. Eu acompanho o Augusto, como vocês já podem imaginar, desde seu nascimento, e posso lhes garantir que não foi um nascimento tão alegre como os fatos descritos acima. Como eu sou um narrador que enxerga as duas partes da história, quero dizer, sou ao mesmo tempo, o olho esquerdo e o olho direito, então em certos momentos as coisas podem ficar bem confusas...
0 notes