nem urano, vênus ou marte. distante eu sou dos olhos humanos. autorais
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a realização da manhã, a contagem de mais um dia, saber que ele não está mais lá. olhar, revirar, calar. o amor morre calado. o amor morre. o amor não vai a lugar nenhum. o amor tem dado o seu último suspiro. o amor não morre. insiste ainda. o amor não quer morrer.
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e nessa t r a v e s s i a
as coisas nos atravessam, e seguimos, cegos, sob a crueza do que nos é dado. o corpo, a carne — frágeis ecos do que somos — se parte, retalho por retalho, em mil pedaços que não há o que reconhecer de nós. mas a alma, essa errante e silenciosa companhia, ainda que sem querer, pulsa. é nesse pulsar imperceptível, quase imperceptível, que nos salvamos, mas não sabemos.
vida.
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ah, os dias se estendem como um véu de nevoeiro, ora luminosos, ora sombrios. não sei, na verdade, se o que vejo é o mundo ou a minha cegueira fazendo-se forma. há dias em que a luz do sol me parece um sinal distante, um reflexo fugaz do que fui, do que sou, ou do que já nem sei se sou. há outros em que a escuridão é uma mão que me toma, que me fecha dentro de si, e então o café, esse pobre consolo, é apenas um espelho do vazio.
acordo, e os rostos do meu trabalho, os mesmos de sempre, não mudam; as marmitas sobre o balcão, o burburinho das risadas, tudo se mantém inalterado. mas eu, eu sou um espólio de algo que escapa. o que vejo, se é que vejo, é o reflexo de um mundo que já não se traduz na minha alma, que já não se traduz nos meus olhos. no entanto, há ainda algo que persiste — o abismo, como fernando pessoa citou, o céu, o fito. sinto as terras, mas não as toco. elas tocam-me dentro de mim, no lugar onde o corpo, esse fardo pesado e que me trai, não pode alcançar. a alma, ah, a alma — essa não morre, não se dissolve na terra, e, por mais que a carne se vá, o que nela permanece é a chama que nada apaga.
vejo, então, que o que me resta não é o sentido das coisas, mas o amor. esse amor que persiste, como a memória de algo que nunca se perdeu, mas se escondeu para que eu o pudesse procurar. o amor que, por mais que o corpo morra, não morre; que, por mais que tudo se desfaça, permanece como a última verdade.
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escrevemos sobre o sofrimento, sobre a dor, na tentativa de traduzi-la, talvez de curá-la, mas às vezes parece que não há saída, que o papel já não suporta mais o nosso fardo.
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a falta dos dias
a velhice chegou antes da hora. o cansaço que permeia a cartilagem dos ossos jovens pesa mais do que a desistência do colágeno na pele. outrora, a inércia engolia os dias e despejava a falta, ou a carência, em um ego que anseia por algo que nunca se teve. é como se os sentimentos, ainda capazes de extrair vida, fossem trágicas manifestações de um existencialismo carnal — uma morte que não é morte, mas uma presença constante da ausência. alguma coisa engole os meus dias, um vazio silencioso que sussurra durante anos. as horas se tornam sombras que dançam, e eu, presa entre o desejo de escapar e a inevitabilidade de me perder, observo a vida escapar, um fio delicado entre os dedos, enquanto o eco do tempo ressoa no vazio.
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eu penso no filho, saindo de casa, desejando a liberdade.
penso no gato, miando à porta com toda força do pequenino pulmão. ele quer ir e você quer segurá-lo ao peito.
penso na tristeza do domingo. da rodoviária. o barulho craquelante do carro deixando a brita. os abraços com jeito de que não querem acabar.
viver essa vida é deixar ir.
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AVESSO
foi dito tudo. ame aquilo vista aquilo o cabelo o corpo.
você é.
tudo foi dito era tudo alguma coisa. talvez de fora outrora de dentro. alguma coisa, era tudo. menos eu.
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o sangue não sustenta nada. se um dia me segurei nesta idéia, hoje padeço. tinha-me à mente considerar ainda a ligação ao amor muito negado e pouco reconhecido. este ígneo que nos protege desde a placenta. mas lembro, pude senti o sepulcro, antes de morrer, vindo ao mundo como se já estivesse. dei-me o colo que tinha até aqui, esta mulher crescida. agora tenho as escolhas sob essa vida. enfim, me auto-deserdo. escolho não procriar vontades daqueles que dizem amar pelo sangue. senti a dor do parto antes de abrir-me as pernas. deserdo, arranco tudo, até este feto fétido-eu que por dentro carrega a vontade de nascer de novo amanhã.
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sucumbo minha alma
por sustentar o peso desse cadáver.
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dói. me desintegra. e me faz virar o não ser. o que não é. o que não será.
o que não é falta nem sobra. sou o que resta.
o que resta? de tudo isso? disso tudo?
de cada passo dado,
de cada palavra dita e das não ditas também,
da dor escancarada e das que guardo no peito por assim achar melhor.
o não ser. não sou. nada. não sou nada.
n a d a.
nada muda. nada dói tanto quanto da última vez. nada.
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Fadados ao fracasso. Você sempre me dizia que depois de beber algumas cervejas eu te liguei e disse exatamente isso, e eu nunca fui capaz de me lembrar a razão pela qual eu disso isso a você. E depois disso eu te amei como nunca aconteceu antes, e todo o meu eu sempre foi muito seu, sempre queria mais de você em mim como se pudéssemos habitar o mesmo corpo. Mas no fundo nós estávamos, sempre estivemos fadados ao fracasso. Fracassamos como amigos, como casal, e pior nós fracassamos como inimigos. Não posso odiá-la por ir embora, não posso odiá-la e não sei explicar a razão. Você ocupou um espaço em mim que há muito tempo não era habitado, e eu sempre te disse que você me doeria como nunca porque eu a amava como nunca. Você me mostrou um lado do amor e me fez quebrar todas as minhas barreiras, esses dias eu me permiti chorar de saudades por exatos cinco minutos, enquanto via algo que me lembrou você. Cinco minutos e logo depois me recompus, estávamos fadados ao fracasso e chorar não muda o caminho que a vida tomou. Antes de te dizer eu já te amava, e eu sabia que no fim da corrida a gente sempre chega sozinho, então eu disse embriagado que estávamos fadados ao fracasso e sinto que fracassei de muitas formas inclusive na ideia de não te querer mais.
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meu amor é grão de areia, é imensidão para quem sabe ver.
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you are the poison that i drink in the name of life. the passing of time in a monotous and melancoly days. long hours sufocating by fake emotions in order to following the minutes. you are the denied sadness masked in a dead hope. a rehearsed speech that i played so much that i even know what is me anymore. you are the mess of puzzle pieces spread through the season with our old memories. you are the broken traffic light in the street. failed in his own direction. you are the alchool going down into the throat. burning all the logical system. you are that dark cloud in a beach day. you are the question with no answer. you are my numb heart for all the things that arent you.
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