Tumgik
urano · 11 days
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a falta dos dias
a velhice chegou antes da hora. o cansaço que permeia a cartilagem dos ossos jovens pesa mais do que a desistência do colágeno na pele. outrora, a inércia engolia os dias e despejava a falta, ou a carência, em um ego que anseia por algo que nunca se teve. é como se os sentimentos, ainda capazes de extrair vida, fossem trágicas manifestações de um existencialismo carnal — uma morte que não é morte, mas uma presença constante da ausência. alguma coisa engole os meus dias, um vazio silencioso que sussurra durante anos. as horas se tornam sombras que dançam, e eu, presa entre o desejo de escapar e a inevitabilidade de me perder, observo a vida escapar, um fio delicado entre os dedos, enquanto o eco do tempo ressoa no vazio.
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urano · 2 months
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eu penso no filho, saindo de casa, desejando a liberdade.
penso no gato, miando à porta com toda força do pequenino pulmão. ele quer ir e você quer segurá-lo ao peito.
penso na tristeza do domingo. da rodoviária. o barulho craquelante do carro deixando a brita. os abraços com jeito de que não querem acabar.
viver essa vida é deixar ir.
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urano · 2 months
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AVESSO
foi dito tudo. ame aquilo vista aquilo o cabelo o corpo.
você é.
tudo foi dito era tudo alguma coisa. talvez de fora outrora de dentro. alguma coisa, era tudo. menos eu.
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urano · 2 months
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o sangue não sustenta nada. se um dia me segurei nesta idéia, hoje padeço. tinha-me à mente considerar ainda a ligação ao amor muito negado e pouco reconhecido. este ígneo que nos protege desde a placenta. mas lembro, pude senti o sepulcro, antes de morrer, vindo ao mundo como se já estivesse. dei-me o colo que tinha até aqui, esta mulher crescida. agora tenho as escolhas sob essa vida. enfim, me auto-deserdo. escolho não procriar vontades daqueles que dizem amar pelo sangue. senti a dor do parto antes de abrir-me as pernas. deserdo, arranco tudo, até este feto fétido-eu que por dentro carrega a vontade de nascer de novo amanhã.
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urano · 4 months
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vivo em tela viva.
tela de cara e coragem.
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urano · 5 months
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sucumbo minha alma
por sustentar o peso desse cadáver.
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urano · 5 months
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dói. me desintegra. e me faz virar o não ser. o que não é. o que não será.
o que não é falta nem sobra. sou o que resta.
o que resta? de tudo isso? disso tudo?
de cada passo dado,
de cada palavra dita e das não ditas também,
da dor escancarada e das que guardo no peito por assim achar melhor.
o não ser. não sou. nada. não sou nada.
n a d a.
nada muda. nada dói tanto quanto da última vez. nada.
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urano · 5 months
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Fadados ao fracasso. Você sempre me dizia que depois de beber algumas cervejas eu te liguei e disse exatamente isso, e eu nunca fui capaz de me lembrar a razão pela qual eu disso isso a você. E depois disso eu te amei como nunca aconteceu antes, e todo o meu eu sempre foi muito seu, sempre queria mais de você em mim como se pudéssemos habitar o mesmo corpo. Mas no fundo nós estávamos, sempre estivemos fadados ao fracasso. Fracassamos como amigos, como casal, e pior nós fracassamos como inimigos. Não posso odiá-la por ir embora, não posso odiá-la e não sei explicar a razão. Você ocupou um espaço em mim que há muito tempo não era habitado, e eu sempre te disse que você me doeria como nunca porque eu a amava como nunca. Você me mostrou um lado do amor e me fez quebrar todas as minhas barreiras, esses dias eu me permiti chorar de saudades por exatos cinco minutos, enquanto via algo que me lembrou você. Cinco minutos e logo depois me recompus, estávamos fadados ao fracasso e chorar não muda o caminho que a vida tomou. Antes de te dizer eu já te amava, e eu sabia que no fim da corrida a gente sempre chega sozinho, então eu disse embriagado que estávamos fadados ao fracasso e sinto que fracassei de muitas formas inclusive na ideia de não te querer mais.
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urano · 6 months
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toda falta
é um excesso.
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urano · 6 months
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meu amor é grão de areia, é imensidão para quem sabe ver.
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urano · 7 months
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you are the poison that i drink in the name of life. the passing of time in a monotous and melancoly days. long hours sufocating by fake emotions in order to following the minutes. you are the denied sadness masked in a dead hope. a rehearsed speech that i played so much that i even know what is me anymore. you are the mess of puzzle pieces spread through the season with our old memories. you are the broken traffic light in the street. failed in his own direction. you are the alchool going down into the throat. burning all the logical system. you are that dark cloud in a beach day. you are the question with no answer. you are my numb heart for all the things that arent you.
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urano · 7 months
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os meus sonhos andam porcos minhas paixões são as duas ultimas gavetas emperradas de uma cômoda velha como a engrenagem carregada no lombo dos pombos ameaço amar mas não sei ameaço dormir mas o canto do galo é constante a solidão do animal é voraz e pulsa pulsa na carne viva do meu dorso que anda me parindo onde não consigo evitar os meus duzentos e seis ossos me mastigam agora pense você
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urano · 7 months
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a saudade de você martelou sete dias em meu peito de forma feroz, com unhas e dentes, rasgando qualquer traço nosso que me percorria. o fio da realidade aceso queimando feito o inferno. foi uma tonelada de distância, de coração, cem metros de desejo e a bituca de cigarro qual eu não sabia onde guardar (nem você e nem ela).
eu sentia a presença do seu toque, o seu cheiro me embriagando e eu nunca, acredite, nunca desejei tanto me derramar em alguém. cacete, mulher! tudo soava abafado demais, era vivo e visceral demais, sensível demais. o fogo nem se fez necessário para que tudo tomasse uma proporção de guerrilha em meu peito. o fato incontestável é que eu te queria. eu te queria e sentia toda a saudades do mundo batendo em meu peito, me rasgando a garganta e aquecendo o corpo. você ocupava as minhas veias e parecia que tudo ardia em uma graça sem sentido. você me lembrava toda a graça do mundo e eu embebida num desejo sacana que nem eu mesma entendia, sorrisos à toa e a breve vivência que marcou tudo.
era tudo bom demais. sua voz emanava calmaria e o seu sotaque me derretia em poesia líquida. eu me derretia no verso mais sórdido e pecaminoso pelos cantos a espreita de você. puta que pariu, você poderia falar qualquer coisa e me teria em mãos. mas a saudade… ah, a saudade. vou come-la de garfo e faca da maneira mais elegante que me for possível pensando em você em cada mordida presa na ponta da minha língua.
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urano · 7 months
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o despejo melancólico para as minhas madrugadas é você
💙
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urano · 7 months
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nós só conhecemos o que construímos. eu pensei nisso enquanto estava com a bicicleta na calçada da praia, e o amor não tinha transitado de um estado para o outro mesmo que de certa forma seja mutável- imutável. algo tão pouco conhecido por mim, logo eu, que o transbordo. não o toco, mas o percebo como algo tangível. talvez tenha sido a pressa, ou talvez tenha sido apenas a calmaria, um vento alto para te enxergar com suavidade sobre tantos brandos, sob tantas coisas. um corpo sozinho é estranho, obtendo esse enrosco desse tal de amor que me fez te ver, que me faz te enxergar sobre o regaço do cinza que beira meus dias tão solitários. contudo percebo que ainda não sei quem é você, mesmo te conhecendo e não tendo, e sabendo que nunca irei ter.
saber-se de minhas ilusões é a tortura do que eu mesma construí, de quem não sabe por natureza o que é o amor olhando de volta.
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urano · 9 months
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construo-os rostos e vejo somos todos um remendo de todas as coisas partidas. /
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urano · 9 months
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o esquecimento é a sentença final da existência de qualquer coisa.
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