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Lucy in the sky and everywhere in between
Quando vi o trailer do filme Lucy pela primeira vez, logo pensei: "deveria ser proibido o mesmo ator fazer vários super heróis, a Scarlett não já foi escolhida como a Viúva Negra em Os Vingadores?". Pois é, eu sou meio pentelho e quem tem conhecimento na área na certa me veria como um truão.
Acontece que, diferente do que eu pensava, o filme não é apenas sobre uma heroína que adquire poderes extraordinários e luta para combater um vilão.
Enxerguei o filme como um espelho em metáfora e vou explicar o motivo. Na história, ela vive uma garota americana que mora em Hong Kong e, após o contato com uma substância, passa a desenvolver diversas habilidades conforme a sua atividade cerebral vai atingindo novos níveis de desempenho, chegando a 100% - levando em conta que a ciência aponta que utilizamos apenas 10% disso. Ao explicar ao cientista (Morgan Freeman) estes avanços, ela demonstra através de uma imagem (e é aqui que eu quero chegar) como as coisas ficam completamente invisíveis quando elas se movimentam em velocidade máxima. O final do filme ilustra bem isso: ela desaparece fazendo alusão ao paradoxo da onipresença, algo frequentemente apontado quando se trata da figura de Deus. O que nos leva a uma cena logo quando tudo começa e ela beija o policial dizendo que aquilo é um "lembrete" - um lembrete do qual ela precisa pra se perceber humana, já que não se sente mais como tal.
Talvez muitos de nós não usemos sequer os mencionados 10% da nossa atividade cerebral, não temos domínio total sobre a nossa matéria dentro do tempo e do espaço e certamente estamos muito longe de qualquer certeza sobre a sua tangibilidade, mas seguimos frenéticos, numa busca ávida que nos faz esquecer de onde queremos chegar. Buscamos a evolução a todo custo - o mundo tem tentado se afastar do humanal a todo custo. No meio do caminho, estamos deixando, pouco a pouco, coisas importantes pra trás, coisas que constituem a nossa humanidade e que nos mantém aqui. É provável então que o nosso limite, que sofre investidas todos os dias, exista justamente como uma porta na nossa cara, ordenando que respeitemos a nossa condição. O tempo não pode ser controlado, o mundo não pode ser conquistado, mas ainda assim tem se tentado arduamente e das formas mais alucinadas possíveis.
Lucy está por toda parte e nós temos tentado fazer o mesmo. Que a nossa vitória continue consistindo na perda dessa luta.
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Sobre RuPaul's Drag Race
Se tem uma coisa que eu gosto de fazer é estabelecer uma nova relação com as coisas que me cercam. Principalmente quando eu as desconheço. E quebrar paradigmas num tempo em que as coisas já chegam rotuladas até nós é vital. Acredito que a mudança de perspectiva é o que torna as coisas inéditas.
Comecei a assistir RuPaul's Drag Race confiando tão somente na promessa de entretenimento. Não me propus a assistir ao programa acreditando que elas recitariam Virginia Woolf numa boate ao som de O Lago dos Cisnes. Já estava preparado para as perucas, vestidos em tons berrantes e disputas de lantejoulas. Isso porque é de conhecimento geral que as drag queens são, em síntese, homens que se valem de artifícios femininos, podendo ter uma imagem extravagante ou mais discreta, mas sempre dentro da proposta jocosa e burlesca: a combinação produção/atitude.
Bom, eu me expressei mal. Nem todos pensam que drag queens se resumem a isso, mas muitos, sim. Eu estava neste grupo até o RuPaul me puxar pela mão dando uma das suas risadas espalhafatosas, me fazendo perceber que este era apenas o átrio da festa.
De cara, o programa nos mostra a rotina de cada participante. As histórias são as mais diversas... Existe o rapaz que acabou de completar vinte anos e atua como drag queen tendo como motivação primária a simples possibilidade de se divertir, há o outro que enxerga na atividade uma fuga da opressão diária, há aquele que se veste e se comporta baseando-se nos trejeitos da mãe (em alguns casos, sua maior fã), enfim, aquele nariz vermelho do palhaço cai logo no primeiro momento e nos damos conta de que existem pessoas reais por trás da pintura - e nem todos são necessariamente gays ou querem ser mulheres.
A partir daí, o mesmo processo de desconstrução - o delas e o nosso - se repete em várias outras ocasiões e níveis. Conforme retiram a maquiagem ou se produzem, cada uma vai dividindo suas experiências, nos mostrando o quanto é necessário lutar para ser quem se quer ser. Parece ilógico, mas a luta à qual a drag queen se propõe inclui vestir-se, cobrir-se para se mostrar verdadeiramente. É possível observar também que a drag é uma competidora inata, mas consegue se manter solidária diante da sensação de dor, talvez por conhece-la bem.
Assim como os maiores defensores da liberdade de expressão que temos como referência e os bobos da corte da Idade Média que não tinham como única função o entretenimento, as drags, num discurso performático e visualmente metafórico são plenamente capazes de mostrar ao mundo que a noite se separa do dia: estudam, trabalham, possuem leitura política, dançam longe dos olhos do público, vão ao supermercado e impulsionam a sociedade como qualquer outro cidadão.
O grito por trás da dublagem pode não ser totalmente audível, mas está lá. Resiste.
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Hoje eu quero voltar sozinho
Foi com um pouco de descrença que eu, nesta semana, fui assistir ao filme "Hoje Eu Quero Voltar Sozinho".
Não que eu ache o tema desinteressante, mas pelo fato de já existir o curta-metragem e por eu ter um pé atrás com obras estendidas — sempre fico pensando que vão dissolver a essência primeira. Ledo engano.
O filme cumpre facilmente com a proposta de ampliação lírica. Não se trata mais de um rapaz cego que descobre o amor ao lado de um outro garoto, mas de um rapaz que sente a necessidade que todos nós, cegos ou não, adolescentes ou adultos, homens ou mulheres, temos: de experimentar a vida. E neste caso, a visão é apenas um detalhe, porque sentir, apesar de toda extravagância visual a qual o mundo tem sucumbido ultimamente, ainda é o que vale.
Outro ponto interessante a ser observado no filme está no fato de que a história, podendo descambar pro drama, preserva um tom leve, simpático, algo incomum em filmes com casais gays, que geralmente têm a narrativa borrada por alguma tragédia.
Em "Hoje Eu Quero Voltar Sozinho" não há espaço para o flagelo. Até a angústia é doce.
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Sobre o vento
Parece uma nuvem pesada de chuva, mas é só toda essa matéria misturada que chamamos de vida.
Tão frágil que o vento carrega.
— e.lis.
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"Stop chasing shadows
And just enjoy the ride"
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A intangibilidade da morte
Morreu neste sábado um dos atores e diretores mais brilhantes do Brasil, José Wilker. Admito que não conheço o seu catálogo artístico inteiriço, porque, além de ser vasto, eu peguei o bonde andando. Mas é impossível não conhecê-lo após tantas visitas imateriais que ele nos fez através dos seus múltiplos trabalhos na televisão, seja na dramaturgia ou em esferas congêneres.
Eu não conheci José Wilker. Não sei se ele gostaria da foto que selecionei para ilustrar este texto, não sei quais foram as dificuldades por ele enfrentadas, não sei qual era o seu prato favorito ou se ele era a favor do governo Dilma. Conheci parte do trabalho que ele expôs, sei que era de qualidade e reconheço a falta que ele fará para a classe artística do país. Não conheço o homem que partiu e desconheço, sobretudo, o que o levou.
A morte é o maior mistério da vida e disso todo mundo sabe. O que ninguém sabe é o que acontece quando as luzes apagam — se é que de fato acontece alguma coisa. Não sabemos se abriremos os olhos em outro lugar, não sabemos se seremos capazes ou se será necessário usar palavras, não sabemos se o paraíso por nós concebido existe — e se existe não imaginamos como ele é ou se nele há regras. As teorias que cercam o fim são tão infinitas quanto as perguntas que guardamos, porque não há resposta.
Podemos explicar o funcionamento de galáxias excepcionalmente distantes e nenhum conhecimento conservado por nós é suficiente para deslindar o nosso habitante mais próximo e intangível.
A morte é como um vizinho cujo interior da casa não conhecemos. Um casarão soturno que zela por uma privacidade absoluta, onde o único eco que retumba é o silêncio, é um lugar que não aceita a brevidade de uma visita, que não concorda com tratados frágeis. Uma casa cuja calçada é evitada por todos que ali transitam, que não possui luz e que, apesar de carrancuda, enseja alguma poesia, já que os versos valem-se do abstrato e a morte é composta pela dualidade confusa do abstrato com o concreto: existe, porém sem forma.
Morremos em vida e nascemos tantas outras vezes, mas um dia morreremos "da" vida e não sabemos onde ou se nasceremos outra vez. Faremos do vizinho a nossa morada.
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"Take me out tonight
Because I want to see people and I want to see lights"
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Ai, se eu tivesse voado Aonde queria voar Não estava agora a rimar Versos de asas cortadas Voava junto de si Assim fico aonde me vê Mesmo pregadinha ao chão Com asas de papelão E sem entender porquê Pois a uns faltam-lhe asas Mas por ter asas cortadas Sofrem uns e outros não? Eu tenho sofrido muito Nos meus voos ensaiados Que ao querer sair do chão Ficam-me os pés agarrados”
Amália Rodrigues - Carta a Vitorino Nemésio
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Me regas, e eu floresço.
Antonio. (via expurgar)
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