#ver se acabo este ano
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1st week of july. Azar, livros usados, anoitecer, dedicatórias. Ontem ao anoitecer, me peguei pensando nesta semana. O céu estava para escurecer, eu podia ver a cor alaranjada típica do final da tarde, quando o sol pode cumprimentar a lua por alguns minutos antes de se despedir pelas próximas doze horas. Observei a chegada da lua pela janela. Observei em silêncio. Pensava nesta semana, na próxima, nas que se foram e nas que ainda não chegaram. Gosto muito de pensar em silêncio, é verdade. O que tanto pensei? Ah... Em tudo. Planos, acontecimentos, expectativas. É mais fácil que me pergunte o que não pensei.
Após tanto pensar, concluí que sinto medo. Acho que é normal sentir medo, certo? Afinal, finalmente consegui um bom projeto musical para fazer parte e isso é uma boa notícia! É bom quando o trabalho é bem reconhecido e é como se todo o espaço valesse a pena por duas ou três palavras de encorajamento de quem já passou pelo mesmo que passo hoje. E como um tremendo azarado, é claro que no momento em que mais preciso da minha criatividade, ela me abandonou e se escondeu em qualquer espaço bem escondido que em minha mente está. Me deixou completamente só para lidar com uma pilha de trabalhos que são terrivelmente importantes para mim. Além do bloqueio criativo que me pegou sem avisar, tive o azar de receber uma outra pilha de trabalhos e desta vez, a patrocinadora foi a minha universidade. Não é a junção perfeita para me fazer enlouquecer? Claro que é.
Tive tempo o suficiente comigo mesmo na despedida da tarde de ontem para pensar em como lido com o tédio — o que é irônico, acabo de citar que mal tempo tenho — e me dei conta de que para mim, o tédio se torna o único momento que tenho para colocar em prática o meu crônico vício em ficar só e ler algum livro. Tenho todo o orgulho do mundo em dizer que consigo conciliar duas leituras no momento! Futuramente irei escrever a respeito, é uma promessa, mas agora quero mesmo falar sobre o meu verdadeiro amor ao cheiro de páginas de um livro recém comprado. É como entrar em um café no inverno, o cheiro é reconfortante e no meu caso, tenho alguns livros comprados há anos atrás mas que continuam com este mesmo cheiro de novo, de livraria.
Falando em livros, é claro que irei citar o que estou lendo no momento. Dado pelo meu melhor amigo, estou lendo uma biografia do Vincent Van Gogh. O livro é dividido em duas partes: biografia e comentários das obras dele. Essa leitura me prendeu e é a primeira vez que me proponho a ler um livro de temática tão diferente do que costumo ler. Cheio de marcações feitas por mim, meu livro veio com uma bonita dedicatória do antigo dono. Me pergunto por onde ele agora agora e se assim como eu, apaixonou-se por cada páginas deste livro.
Vi este livro e lembrei-me de você. A verdade é que nunca o li, mas a capa remeteu uma das tuas paixões que é a Noite Estrelada. Leia e conte-me o que aprendeu.
Bae Joo-Hyun. 2008
Uma bonita dedicatória para uma pessoa que nunca conheci, vinda de alguém que também nunca verei. Quem são? Namorados? Melhores amigos? Noivos? A graça em comprar livros usados é fazer parte de uma história a qual sequer se sabe de onde vem, até onde vai. Quer dizer, como este livro veio parar nas minhas mãos?
Uma confissão que devo fazer é que faltei todas as minhas aulas desta primeira semana de julho e tenho as justificativas mais idiotas do mundo. A maior delas é simples: dormir. A segunda justificativa é semelhante à primeira: cochilar. A minha lista de desculpas é extensa porque conheço muitos sinônimos para dormir. Talvez toda a minha sorte tenha ido embora a partir do momento que comecei a morar com amigos que são tão silenciosos quanto eu quando não estão atacando a paz que eu preciso todos os dias.
Finalizo a minha atualização sobre a primeira semana de julho falando que desejo que as próximas sejam tão tranquilas quanto esta. Me despeço desta primeira semana na madrugada do sábado, momento perfeito para divagar sobre tudo que nestes últimos dias aconteceu.
Best of the week ★ = favorites ²
Kimchi delicioso feito pela minha mãe ★
The Dream Synopsis by The Last Shadow Puppets.
Minha nova caneta preta que custou apenas 3,500 won
Cookies do Dalgona Seoul Coffe ★
Pelúcia de dino que ganhei da Mina ★
Worse of the week BAD = too bad²
Bloqueio criativo BAD
Trabalhos e exames da universidade BAD
Não comer poke quando eu quis
Mau humor por toda a semana BAD
Headphones sem bateria quando precisei
Como sou alguém que apenas funciona com listas, fiz estas duas listas para falar sobre a semana detalhadamente. Como sempre muito azarado, o meu bloqueio criativo veio justamente quando mais precisava, no entanto, acredito que tive muita sorte em achar a caneta perfeita para escrever no meu notepad por três mil wons! E também, ganhei uma pelúcia de dino que nomeei de Dino. Pensei que ficaria legal Dino, o dino. E agora tenho mais uma pelúcia de dinossauro para a minha coleção secreta que mora no meu quarto.
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Me sinto frio como se estivesse no polo norte,
Tremendo como se houvesse uma turbina no meu cérebro.
E mais uma vez, em uma madrugada qualquer, eu me senti vazio, solitário.
Percebo que não odeio as pessoas, e sim odeio a mim mesmo.
Percebo que não há quem culpar a não ser eu.
As flores estão murchando, mas parecem mortas a anos assim como minha mente.
O sol não brilha tanto como antes, a lua ofusca o brilho com sua escuridão indiferente.
A cada dia tudo parece mais devagar, os passos, o vento, os barulhos, tudo.
E o relógio não para, tick tack, tick tack, um aviso irritante de que o tempo está passando e nada mudou, porque você não tenta mudar.
Olho no espelho e vejo um ser humano cético e egoísta.
O que causou isso?
Será que sempre fui um demônio e só agora tudo está claro?
Acho que só eu posso notar a transparência e ceticismo perante a sociedade e a este mundo imundo. São todos fantoches patéticos.
Sem perceber, acabo virando algo que eu sempre odiei, alguém que não se importa com nada e que não tem mais esperança.
Mas por que estar assim?
Se eu ou você morrer amanhã, o sol ainda estará brilhando e as flores ainda estarão belas.
O mundo não parará por causa de ninguém.
A insignificância do ser humano às vezes transcende a imensidão do universo, somos um completo nada.
Pereço aos pensamentos negativos que vem em minha mente e os deixo navegar por ela, me fazendo doente também.
São como vermes que só estão ali para retirar o que há de bom e prevalecer a negatividade.
E perante ao abismo, me encontro tentando justificar os erros que eu mesmo cometo.
Quando se está sozinho, tudo parece mais silencioso e vazio, como pétalas de rosas desabrochando na calada da noite, com bilhões de estrelas no céu observando todas as flores.
Você de repente está no topo de um prédio olhando tudo lá embaixo, como se por um momento fosse superior a todos os seres ali, que estão apenas existindo enquanto você vive.
Mas é ao contrário.
E quando essa realização bate, você se pergunta como é voar, sentir o vento contra você durante a queda e uma sensação de incerteza e alívio ao mesmo tempo.
Você quer sair disso, mas os pensamentos são mais fortes e parecem sussurros lhe indicando o caminho que você deve fazer para finalmente ver o que há por trás desta sociedade imaginária.
É como se você estivesse na frente de um ventilador e sabe que se colocar a mão lá dentro irá doer e sangrar, mas você quer porque a tentação é maior que o medo neste momento.
A paranóia é constante e a melancolia imensurável, você quer alguém para lhe ajudar mas ao mesmo tempo não se permite pois tem medo de si mesmo e do que lhe aguarda.
É como uma melodia perdida que você escuta e fica em sua cabeça, algo irreconhecível e distorcido, que apenas lhe traz problemas para dormir, pois aquilo gruda em sua mente.
E toda vez que você pensa que está tudo bem e calmo, aquela maldita melodia volta a tocar como um aviso de que tudo começará novamente.
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Vinte e Sete
Meu amor,
Aqui estamos novamente. Sei que revisitou o site ontem, mas peço encarecidamente que considere mais uma vez este espaço um pedacinho do seu presente, além disso, um canto nosso onde posso expressar tudo aquilo que você é para mim, desde quando te mandei a primeira mensagem até este exato momento, quando vejo a minha mulher fazer mais um aniversário.
Como estou feliz! Feliz por tudo que venho construindo e por perceber que não estou trilhando esse caminho sozinho...tenho a pessoa mais leal que o Mundo pôde registrar desde sua materialização. Veja o quanto é complexo mas ao mesmo tempo tão fácil e gostoso escrever essas coisas, pois quando falo de você acabo deixando transparecer que tô falando de mim...é para te situar que o Alisson não existe sem a Mariana. Falar de você é falar da minha melhor parte, do melhor momento da minha vida...é falar de amor.
Mariana é sinônimo de orgulho, de perseverança, de seriedade e leveza nas coisas, das mais difíceis até as mais sensíveis. Não vejo a hora de poder te dar um abraço apertado, um beijo quente e falar olhando nos seus olhos que te amo. É o seu dia, mas que sempre irei considerar como um aniversário nosso de namoro ou casamento...é o dia em que a mulher da minha vida deu início ao seu destino até encontrar a pessoa que será eternamente apaixonada por ela.
Queria te proporcionar muito mais coisas ao longo do nosso primeiro ano de relacionamento, o momento ainda não é lá o que tanto queremos, estamos passando por situações complicadas mas que nada atinge àquilo que sentimos um pelo outro. Tenho uma missão nessa vida, missão essa muito bem definida e com um objetivo claro: te fazer feliz e dar a vida que sempre mereceu. Não sossegarei enquanto estiver no processo de realizá-la...e tenha certeza que conseguirei! Por você eu movo céus e terras, por você que hoje vivo e sou feliz.
A cada dia que passa me apaixono, me orgulho, me sinto confiante e capaz de ser o cara que você sempre irá olhar com admiração e afeto. Me perdoa por ser impaciente, intransigente e as vezes até insensível...não faço por mal mas sei que machuca, e acredite, estou lutando para que essas imperfeições sejam cada vez menos frequentes. Dia pós dia tento lhe entregar minha melhor versão.
Sei que está lendo isso na correria de ir pro trabalho, mas queria que nesse momento você fechasse os olhos por 10 segundos e fizesse um pedido do fundo do coração que só você mesma irá saber. Fez? Ele irá se cumprir. Não por ser "mais um rosto bonitinho", mas por saber que você é pura por dentro e irá conquistar tudo o que desejar. Você é Mariana Silva da Cruz. A futura advogada bem sucedida, e claro, futura mulher de Alisson kkkkk. Agora você irá pensar num outro pedido, mas esse irá compartilhar comigo...quero saber ainda hoje, olhando pra mim com aquele seu jeitinho que me derrete completamente. Eu irei realizar. Não meço esforços pra te ver bem, faz parte de tudo aquilo que já te falei e prometi em silêncio desde 24 de novembro de 2022.
E vou ter de copiar e colar esse trecho do texto passado. Vale a pena você ler novamente. E de novo. E de novo. Nunca canse de ler isto pois um dia ainda quero ver você gravando isso e falando pra si mesma em frente ao espelho: "Você merece tanta coisa boa, mulher...todos aqueles te rodeia são felizardos e sabem muito bem disso. Ter a Mariana na vida da gente é literalmente ser rico daquilo que mais importa: de amor e carinho. E falando em riqueza, claro, também sei que terá prosperidade e viverá da maneira que sempre sonhou...e espero estar do seu lado sempre pra ver e viver de perto todas essas glórias. Será uma realização te ver subir cada vez mais!"
Seu 06 de dezembro será o primeiro que passaremos juntos. E mais uma vez, tô louco pra te ver. O frio na barriga é como se fosse nosso primeiro encontro, e isso é a prova de que a paixão por você não cessa jamais...estarei te esperando no nosso ninho, com muito afeto e expectativa em ver a dona do dia. Sou seu fã, você é minha Deusa! Meu feriado mundial é hoje. Meu sentimento é eterno. Meu amor é você!
Feliz aniversário, minha Mariana!
Beijão do seu namorado Alisson. Te amo muito!♥
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Ultimamente eu ando me sentindo muito para baixo, ando tendo crises de falta de ar, as minhas dores de cabeça estão voltando, ando tendo muita tontura, eu me sinto cansado o dia todo, ultimamente eu só quero dormir 24 horas, se eu pudesse não sairia da cama para nada, não sinto vontade de dar risada, me sinto muito distraído e distante, não sei se é depressão ou outra coisa, eu sinto que a minha vida não vale mais nada, eu fico pensando qual a dificuldade, em compreender o que eu sinto?
As pessoas querem compreensão da minha parte, mas ninguém nunca quer compreender pelo o que eu estou passando, eu percebi que ultimamente eu ando fumando bem mais do que o normal, antes eu estava fumando um maço de cigarro por dia, de um tempo para cá eu estou fumando entre dois e três maços por dia, não tenho sentido muita fome, mas quando eu tenho uma crise de ansiedade eu acabo atacando alguma coisa, como por exemplo pão de forma.
Eu me pego pensando aqui, no final do ano passado, eu e a minha namorada passamos o natal e o ano novo, no apartamento do irmão dela, enquanto ele viajava, em janeiro ela passou por uma operação, e nós iríamos ficar aqui na casa dela para ela se recuperar por no máximo três meses, e estes três meses se transformaram em onze meses, quando ela se recuperou e recebeu alta hospitalar, a cachorrinha dela precisou passar por uma operação na patinha para tirar um tumor, e logo em seguida a tia dela foi hospitalizada e passou mais de quatro meses internada, e ela também passou por um procedimento para desobstruir uma veia do coração, e a nossa volta para a minha casa foi só se adiando, hoje em dia a tia dela já está conseguindo fazer as coisas do dia a dia, e está voltando para a independência dela, a minha namorada, está ficando sobrecarregada com a tia dela, ela anda muito estressada, ela está querendo se mudar daqui, mas por enquanto não está dando, tudo o que nós pretendemos fazer para ganhar dinheiro parece que sempre a um empecilho, principalmente vindo da tia dela, nós estamos tentando sair para vender doses de bebidas, na porta dos Clubes Noturnos, mas quando nós vamos sair a tia dela começa a estressar a minha namorada, que no final acaba saindo tudo errado, fora que quando estamos na rua trabalhando, a tia dela fica ligando para nos atrapalhar, como se ela não quisesse que a gente se desse bem, fora que nós andamos brigando um pouco, quando nós estávamos na minha casa, não havia tanto estresse quanto a aqui, a gente conseguia fazer as coisas, sem ter ninguém para nos puxar para baixo, as vezes eu penso em conversar com ela para nós voltarmos para lá, mas será uma conversa em vão, a uns meses atrás eu sugeri de fazermos o seguinte, a gente passar a semana na minha casa e os finais de semana aqui, mas ela não quis e também nem deixou eu terminar de falar.
Eu não sei mais o que eu faço, será que a única solução será dar fim a tudo isso?
Eu acho que sim, pois só assim eu irei acabar com este sofrimento que eu estou passando 😢.
Vamos ver no que isso irá dar.
#se sentindo sozinho#depressão#crise de pânico#ansiedade#sem ânimo#vontade de sumir#vontade de morrer#sensação de morte
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Uma Família de Três (C.L 16) - Parte.I Descobertas, reencontros e surpresas
Paring: Charles Leclerc X Marie Anderson (personagem original)
⚠️ Avisos: Menção a morte e assassinato, palavrões, Charles sendo um pouco agressivo na forma de reagir, menção a sexo e uso de drogas. (Este capítulo pode conter gatilhos!) (+16)
15 de Janeiro de 2023- Milão, Itália
-Buongiorno , Marcella!- Cumprimento a minha secretária a adentrar o escritório. - Alguma novidade para mim? - Pergunto à garota loira, que está sentada com os olhos enfiados no computador a sua frente.
-Buongiorno, Marie! E… HÁ! CONSEGUI! - Marcella pula de repente, me assustando. - Desculpe! É que eu consegui agendar a reunião com Fred Lacroix para a próxima semana. - Ela diz tentando se recompor e eu sorrio.
-Que ótimo! Você é dez. - Digo encostando ao lado dela na mesa e dando uma bisbilhotada em seu computador. - Você acha que ele estará em um bom humor? Ele não é a pessoa mais conhecida por ser agradável quando o assunto é venda e compra de suas artes. - Digo e Marcella apenas da de ombro.
-Não sei e sinceramente eu não me preocupo com isso. - Ela diz e posso ver um sorriso presunçoso estampar ‘em seu rosto. - Seja como for, nós somos fodas! A gente sempre consegue o que quer. - Ela termina e eu dou risada pelo seu entusiasmo.
Eu concordo com Marcella. Nós somos fodas e sempre conseguimos o que queremos quando o assunto é trabalho.
Após a morte de Jules, me mudei de Mônaco para a Itália. Eu sentia que precisava deixar aquilo tudo para trás, mesmo que para isso fosse necessário eu enterrar parte de quem eu era com o meu passado. Eu precisava recomeçar e fechei os olhos para a minha antiga vida. Eu não tinha mais nada em Mônaco. Nada que me segurasse, ou que ao menos valesse a pena ficar.
Eu precisava de tempo e de uma nova vida, e foi exatamente o que eu encontrei quando vim para a Itália, onde eu consegui me matricular em artes a tempo de continuar o ano letivo. E um ano e meio depois, estava formada e estagiando em uma das melhores galerias que existe em Milão. Pouco tempo depois disso, acabei percebendo que eu tinha muito potencial para a curadoria e acabei me dedicando a área, cuja qual hoje eu ainda faço parte, com a maior taxa de sucesso em recrutamento e vendas para novos artistas.
Hoje posso dizer que a minha vida está mais do que confortável e eu passo tanto tempo do meu dia ocupada com o trabalho, que mal tenho tempo de pensar em tudo que eu deixei para trás há alguns anos.
-AH! - Marcella grita e me pega de surpresa, me fazendo dar alguns passos para trás.
-Meu deus, Marcella! Você ainda vai me matar, garota! - Digo e coloco a mão no peito, sentindo o meu coração pular feito louco.
-Desculpa! É que eu acabo de me lembrar que você recebeu uma carta hoje pela manhã. - Ela diz e eu posso jurar que a minha confusão estampou meu resto. - Quer dizer, você não recebeu, recebeu, tá mais para “passaram o envelope por baixo da porta, enquanto estávamos fechados e eu pisei em cima quando eu cheguei”.- Ela diz e tira um envelope branco, amassado e com marca de uma meia pegada nele. - Eu tentei dar uma limpadinha, mas como você pode ver, não deu muito certo. Sério, alguém deveria limpar mais as ruas de Milão. - Ela diz e me entrega o envelope.
Dou uma analisada pelo envelope afim de achar o remetente, mas encontro apenas “Marie Anderson” escrito em uma caligrafia delicada.
-Não tem remetente. Que estranho. - Digo e Marcella assente.
-Também achei meio sinistro. Quer dizer, quem ainda manda cartas? Em pleno 2023, não era mais fácil mandar mensagem pelo insta? Ou sei lá, um email? - Eu concordo com a cabeça e dou de ombros.
-Bom, que assim seja. - Digo e vou andando em direção a minha sala. - Por favor, hoje pretendo tirar alguns dos atrasos que o fim do ano nos deixou. Caso alguém queira falar comigo, avise para deixar recado. E isso incluí minha mãe, okay? - Digo e Marcella assente.- Ótimo, obrigada. - Digo entrando na minha sala e fechando a porta logo em seguida.
Jogo minha bolsa em cima da mesa e me sento na cadeira. Analiso mais uma vez o envelope na minha mão e por um momento sinto uma sensação estranha enquanto o encaro.
-Tá, vamos acabar com o suspense, Marie.- Digo e pego um extrator de grampos no porta lápis, passando pela parte colada do envelope.
Abrindo o envelope eu tiro uma folha gravada com a mesma caligrafia que estava no envelope e duas fotos de um garotinho com cabelos e olhos escuros, que eu posso jurar que nunca vi na vida, mas que de certa forma me parece muito familiar . Viro a foto afim de ver se há algo escrito atrás.
“Vincenzo. 24/12/2021”
Era o que dizia em uma das fotos. Nela o garotinho estava sentado próximo ao que parecia ser uma árvore de Natal.
Dou uma olhada atrás da outra fotografia, onde o mesmo menino, aparentemente um pouco mais velho, estava sentado em um tapete cercado de brinquedos.
“Vincenzo. 19/12/2022.”
Me sentindo ainda mais confusa e com a sensação estranha se alastrando pelo peito, pego a carta que eu tinha deixado de lado em cima da mesa e começo a lê-la.
França, 02 de Janeiro de 2023.
Marie,
Eu nem sei dizer quantas vezes eu pensei em como escreveria para você. Você obviamente não me conhece, para ser sincera acho que ninguém do círculo de amigos e familiares dele, sequer ouviram falar sobre mim.
Eu sou Cecilia e é o que você precisa saber sobre mim agora, além é claro, do que estou prestes a escrever para você a seguir: Eu era noiva de Jules Bianchi.
Sei que isso é estranho e talvez até mesmo inacreditável, mas é verdade. Eu e Jules tivemos uma curta, mas apaixonante história de amor. Eu amei Jules e posso afirmar que ele me amou também.
Dois dias antes da morte dele, eu descobri que estava grávida. Dei a luz a Vincenzo no dia 24 de Dezembro de 2019. Um garotinho saudável e forte, muito parecido com Jules.
Eu o amei desde o momento em que soube que ele crescia dentro de mim. Fruto de algo tão puro e lindo, do meu relacionamento com Jules.
Sei que é muito para você raciocinar agora, mas para que você possa saber que estou te falando a verdade, há duas fotos de Vincenzo. Quero que olhe para elas e veja Jules, assim como eu vejo toda vez que olho para o meu filho.
Passei muito tempo querendo escrever para você. Jules à tinha como uma irmã. Lamento ter escondido isso de você e da família dele também, mas eu tive tanto medo. Medo da rejeição, de ser vista como uma mentirosa. Eu não poderia passar por nada disso. Eu só tinha Jules e depois que ele me deixou, não havia mais em quem eu pudesse confiar, então criei Vincenzo sozinha até agora, mas não acho mais que eu posso fazer isso. Vincenzo tem uma família além de mim. E eu preciso que ele cresça sabendo que é amado.
Prometo que irei lhe explicar tudo o que você precisa saber. Por favor, me encontre na cafeteria onde vocês costumavam se encontrar sempre que vinham juntos para Nice. Dia 18 de Janeiro às 16h.
Cecilia.
Minhas mãos tremem quando eu jogo a carta de volta em cima da mesa.
Mas que porra é essa? Isso é algum tipo de brincadeira doentia?
Pego as duas fotos nas mãos novamente e as encaro, percebendo agora o porquê de eu achar aquele menino tão familiar. Era Jules. Aquele garoto é a cópia de Jules.
Mas como isso é possível? Por que Jules nunca nos contou que tinha alguém? Isso não era do feitio dele. Jules sempre foi um livro aberto para nós. Sempre nos contou sobre tudo, assim como nós à ele. Ele não esconderia isso da gente….certo?
Com a cabeça cheia de dúvidas e o coração ainda mais pesado do que nunca, me vi gritando o nome de Marcella e em menos de um minuto, suas madeixas curtas apareceram pelo vão da porta.
-Sim?- Ela pergunta antes de me encarar por um momento e entrar totalmente na minha sala com uma expressão preocupada. - Você está bem, Marie? - Ela diz se ajoelhando ao meu lado.
-Reserve um voo para amanhã de manhã. Preciso ir para França.
🇫🇷
18 de Janeiro de 2023. - Nice, França.
Encaro novamente o relógio pendurado na parede, acima do balcão da pequena cafeteria. 15h45.
15 minutos. Apenas 15 minutos para que eu pudesse descobrir quem era a Cecilia e o porquê dela resolver entrar em contato comigo agora, depois de tanto tempo. E por que comigo? Sim eu, Jules e Charles sempre fomos muito próximos, apesar da diferença de idade. Mas por que entrar em contato justo comigo? Se o intuito dela era apresentar o garoto a família de Jules, por que ela não entrou em contato com Christine ou Phillipe?
Eu não via a família de Jules há muito tempo, nem ao menos trocávamos mensagens. Eu os deixei para trás quando decidi seguir em frente na Itália. Eles foram enterrados junto com meu passado em Mônaco.
O sino em cima da porta de entrada toca, indicando que alguém entrou no recinto. Minha cabeça dispara rapidamente em direção ao som.
E é como se em um minuto, tudo que eu lutei tanto para esquecer e deixar para trás, voltasse com força e sem controle como ondas de um tsunami.
Em pé, a poucos metros de onde estou sentada, meu olhar se cruza com Charles.
Charles. Meu ex namorado que não vejo há quase quatro anos. A parte que mais dói do meu passado, além da morte de Jules.
Ele está diferente. Tão diferente desde a última vez que eu o vi no funeral de Jules. Desta vez ele não está trajando o preto do luto, não. Ele está com roupas casuais, jeans escuro e um moletom verde musgo, com a palavra “FERRARI” estampada em preto. Em seu rosto há uma barba por fazer e seus olhos… porra. Os olhos que da última vez refletiam tanta desesperança, agora estavam mais vividos, porém com certos traços de preocupação.
Charles caminha até onde estou sentada, seus passos rápidos e largos como se quisesse me encurralar antes que eu fugisse novamente. Ele para a meio metro de distância, e seu olhar caminha por mim curiosamente. A sua feição é dura mas também coberta de duvidas. Aposto que assim como eu, ele quer entender o porquê de eu estar aqui.
-Charles…- Sou a primeira a dizer. A voz baixa e incerta. Ele assente devagar. Seu olhar ainda me encarando como se quisesse descobrir todos os segredos que eu obtive durante esses anos em que estivemos longe um do outro.
-O que você está fazendo aqui, Marie? - Ele pergunta. Direto, sem rodeios e com determinação. Um tom em que eu jamais esperaria ouvir do Charles que deixei há quatro anos. É, ele realmente mudou.
Eu queria poder responder a ele com a mesma intensidade, mas sinceramente, não acho que eu poderia. Há muita coisa acontecendo aqui e minha cabeça gira com tantas perguntas e emoções. Por que Charles está aqui? Que porra é essa? Foi ele quem armou tudo isso?
-Isso é algum tipo de brincadeira? Porque se for, eu juro por Deus que não tem graça nenhuma.- Ele diz, seu tom agora áspero.
Eu fico sentada olhando para ele. Totalmente confusa.
Charles passa a mão pelo cabelo, bagunçando ainda mais suas madeixas castanhas. Ele suspira fortemente e fecha os olhos, sua língua passa por seu lábio inferior rapidamente. Ele costumava fazer isso sempre quando sentia raiva ou frustração. Pelo menos isso não mudou.
-O que você está fazendo aqui, Charles?- Pergunto e ele abre os olhos, voltando a me encarar.
A mão de Charles vai até o bolso traseiro e volta com um envelope idêntico ao que foi deixado para mim no escritório na Itália. A diferença é que eu podia ver que esse foi endereçado a Charles, apenas o nome dele, também sem remetente.
-Me diz por favor, que não foi você, Marie. - Meus olhos passam do envelope para o rosto de Charles. Meu olhar demonstrando toda a sinceridade que eu podia quando o respondi:
-Não, não fui eu. - Ele assente com a cabeça, sua expressão se suavizando um pouco. Ele se move e se senta na cadeira vaga a minha frente. Suas mãos vão até o rosto e esfregam.
-Jules tem um filho. - Ele diz.
-Eu sei.- Respondo.
Charles abaixa as mãos e me encara novamente. Dessa vez a expressão de confusão. Antes que ele abra a boca para dizer qualquer outra coisa, eu pego minha bolsa em cima da mesa, abro e retiro o envelope branco de dentro dela. Charles encara a minha mão por um tempo, antes de estender o braço por cima da mesa e pegar o envelope da minha mão.
-Você também recebeu. - Ele diz e mesmo não sendo uma pergunta e ele não olhando para mim, eu faço que sim com a cabeça.
-Parece que ela marcou com nós dois. Creio que seja mais fácil contar a história ao mesmo tempo. Assim não há riscos de errar a versão. - Digo e o olhar dele passa dos envelopes em cima da mesa para mim.
-Você acha que é mentira? Que o garoto não é filho de Jules?- Ele pergunta sério e eu apenas dou de ombros.
-Eu acredito que possa ser de Jules. Só não sei o motivo pelo qual ela demorou todo esse tempo e porque escolheu a gente. Obviamente não somos as pessoas mais indicadas para mostrar a Vincenzo que ele tem uma família por parte de pai. - Digo e vejo o maxilar de Charles tencionar.
-Nós éramos amigos de Jules. Ele confiava em nós. - Ele diz, mais uma vez sua voz soando áspera.
-Pelo visto não confiava o bastante para nos dizer que se apaixonou. - Digo e imediatamente me arrependo.
Olho para Charles e se fizéssemos parte de um desenho animado, ele teria chamas no olhar.
-Você não sabe o que aconteceu. Você não sabe os motivos dele, assim como eu.- Ele diz entre dentes. - Não duvide das razões dele. Não quando ele não está aqui para se defender.
Durante todos os anos em que eu passei ao lado de Charles, eu nunca o vi com tanta raiva. E se eu não o conhecesse ficaria com medo.
Mas você ainda o conhece? Pergunto para mim mesma internamente.
-Não é o que eu quis dizer.- respondo na defensiva.- Sinto muito, não era para soar dessa forma. Óbvio que Jules tinha motivos e iremos descobrir quando Cecília chegar. - Charles relaxa o maxilar e se ajeita na cadeira.
Olho novamente para o relógio pendurado na parede. 16h10. Ela está atrasada. Olho para Charles, um pouco aflita.
-Você acha que ela vem? - Ele da de ombros, mas sua mão vai até o bolso do moletom e tira um celular.
-Ela está atrasada.- Ele diz o que eu já sei. - Mas acho que sim, ela vem.- Charles joga o celular em cima da mesa sem nenhum cuidado. Seus dedos ansiosos brincando com seus anéis.
-Parabéns pelo vice-campeonato, a propósito. - Digo para tentar amenizar um pouco da ansiedade de ambos e ele volta o olhar para mim.
-Você acompanhou as corridas ? - Ele perguntou um pouco surpreso.
-Sim.- admito um tanto envergonhada. - Minha secretária é uma grande fã de Fórmula 1. - Completo, o que não é mentira.
Assim como toda italiana, Marcella é uma tifosi assídua. E mesmo eu querendo deixar tudo que eu conhecia para trás, eu não poderia me esconder de um dos esportes mais amado pelos europeus, ainda mais na Itália, a casa da Ferrari.
Charles solta um riso baixo, seu olhar adotando a expressão de menino travesso. Ah não.
-Sua secretária, hein? - Ele diz com tom zombeteiro e cheio de insinuações.
-Ah, cale a boca, Leclerc! - Digo tentando soar seria mas falhando quando deixo uma risada escapar.- Eu estou falando sério! Minha secretária é uma tifosi roxa. Ela não pode calar a boca um minuto sobre a Ferrari e me faz assistir todas as corridas. - Digo e dou de ombros.
-Sim, sim… E eu aposto que sou o motorista favorito da sua “secretaria”, certo? - Ele diz fazendo aspas com os dedos e com um sorriso presunçoso no rosto.
-Na verdade, ela prefere o Sainz. - Digo e na mesma hora o sorriso dele se transforma em uma careta séria, o que me faz rir.
Logo as covinhas aparecem na bochecha de Charles e meu coração da um pequeno salto ao som da sua risada tipicamente meio falhada e exagerada. Ah como eu gostei de ouvir novamente aquela risada horrível, mas ao mesmo tempo muito fofa.
Naquele momento, mesmo eu odiando admitir, eu percebi o quanto senti falta daquilo. Era um sentimento tão bom do conhecido e de leveza. E mesmo que há apenas uns minutos atrás eu estivesse duvidando sobre ainda conhecer a pessoa que Charles havia se tornado, eu pude ver que independentemente dos anos e das tragédias que a vida o submeteu desde novo, aquele menino gentil e brincalhão pelo qual eu havia me apaixonado um dia, ainda estava lá. E talvez nunca fosse embora. E eu gostei disso.
Encarando Charles sorrindo, ali sentado na minha frente, me pergunto, por apenas um segundo, se teria sido diferente caso eu não tivesse ido embora. Mas assim como o pensamento veio, eu o afasto. Porque, por mais que eu fique feliz em saber que Charles ainda tinha algo que pra mim era familiar, dentro de si, nós não demos certos antes mesmo da morte de Jules. E duvido que conseguiríamos manter uma boa relação com toda dor e luto que nos cercava. Eu fiz uma boa escolha. Sim, eu fiz o certo.
Deixar Mônaco foi uma das coisas mais difíceis que eu tive que encarar. Mas isso me fez crescer e me tornou uma mulher forte. Aprendi a lidar com a perda, mesmo que talvez não seja da forma mais saudável, ainda funcionou para mim. Consegui terminar a faculdade, arrumei o emprego que eu queria e conheci gente nova. Me apaixonei, mesmo que não tenha amado como amei Charles, ainda me permiti sentir e tentar a felicidade. Claramente não deu certo, mas mesmo assim valeu a experiência.
E também posso dizer que Charles conseguiu conquistar o que queria, ou quase tudo. Ele é um dos melhores pilotos de fórmula 1, dirige para a Ferrari, que é o sonho de quase todo esportista do automobilismo. Tem uma carreira de sucesso e é mundialmente conhecido por isso. E mesmo não tendo conseguido o título que tanto anseia, no ano passado, talvez consiga esse ano. Ele é focado, é grato e gentil. O menino de ouro. O predestinado.
Mesmo Charles sendo tão jovem, conseguiu dar à família e amigos tudo o que sonharam. O orgulho de Pascale e se Harvé estivesse vivo, tenho certeza que também estaria orgulhoso do filho que criou. assim como Jules também estaria em ver o progresso de Charles.
E então o vazio apareceu de novo. Jules. Eu tento ao máximo não pensar nele. As memórias ainda são dolorosas mesmo depois desses anos.
Acho que deixei meus pensamentos refletirem demais, pois Charles que antes ria, agora me encara com um olhar de compaixão. Ele provavelmente pensou em Jules também.
-Eu também sinto falta dele. - ele diz e eu faço um gesto com a cabeça. - E senti sua falta também. - Sua mão se encontra com a minha em cima da mesa.
Não havia segundas intenções. Apenas um gesto. Um gesto para afirmar o que saía de sua boca. E doeu. Aquilo doeu no meu coração e na minha alma.
Afasto a mão rapidamente da dele e encaro a mesa. Charles recolheu as mãos e manteve perto do próprio corpo.
-Eu sei que você não me devia nada, Marie. Nem explicações, nem lealdade. - ele começa, a voz um pouco quebrada fazendo o meu coração apertar. - Mas Jules morreu e você foi embora. Por que você partiu? - Ele pergunta e eu posso ouvir a mágoa.
Eu queria ter forças para erguer o olhar e dizer à ele enquanto o encarava nos olhos, que tudo que eu fiz foi por medo e por achar que não havia mais nada para mim em Mônaco. Que eu ainda o amava mesmo depois dele terminar comigo e que perder Jules para a morte me destruiu, mas saber que perder Charles enquanto estava vivo, só iria me arruinar ainda mais. Eu não podia vê-lo todos os dias e saber que ele não pertencia mais a mim. E que cada minuto que eu passasse com o luto e com o coração partido e sem ele, me fazia lembrar que o amor era algo impossível para mim. Que eu não merecia ser amada. Que nunca haveria ninguém para me amar.
-Eu precisei ir.- Digo ainda encarando minhas mãos. - Não espero que você me entenda, nem que me perdoe. Até porque, não estou te pedindo nada disso, Charles. - Minha voz soou firme mas meus olhos ardem.
Respiro fundo e prendo o ar por alguns segundos antes de soltar. Subo meu olhar para encara-lo quando tenho certeza que as lágrimas não descerão.
-Eu tive que fazer uma escolha e eu a fiz. Eu me escolhi. - falo simplesmente, talvez tentando convencer a mim mesma.
Charles assente com a cabeça e volta a brincar com os anéis em seus dedos. Dessa vez era difícil para ele me encarar.
-Fico feliz em ver quem você se tornou, Marie. E espero que tenha alcançado o que queria quando…- ele para por um segundo, incerto do que dizer- Quando deixou Mônaco. - uma risada gasta deixou seus lábios. - Não vou te julgar, até porque, quando você se foi, já não éramos um casal. Mas eu fui um idiota em achar que éramos amigos.- Ele volta a me encarar. - Fui idiota até perceber que não haveria essa possibilidade entre nós dois sem Jules estar aqui.
Eu queria gritar. Queria levantar e jogar tudo o que havia na minha frente em cima dele. Queria xinga- lo e dizer que ele não tinha aquele direito. Mas para ser justa, eu não poderia nunca fazer isso. Não quando eu fui embora, quando fui eu quem deixei o que sobrou de nós três. Jules tinha morrido e eu fugido. Quando saí não pensei em Charles e nem em seus sentimentos. Apenas pensei em mim e como eu nunca conseguiria conviver com aquilo.
Eu não me arrependo. Fiz o que achei necessário e faria novamente. Charles poderia ter precisado de mim, mas eu precisava mais. Precisava sair e me curar. E foi o que eu fiz. Charles ainda tinha amigos e família com quem contar e eu não tinha ninguém. Sem família presente, sem amigo e sem namorado. Charles e eu sentimos o luto é claro, mas nós o sentimos de formas diferentes. Ele havia perdido um amigo e eu havia perdido tudo.
Não havia para quem eu voltar e abraçar ao chegar em casa. Não havia ninguém lá para me dizer que sentia muito pela minha perda e que tudo iria ficar bem. Então eu fui atrás do que eu achei que precisava e consegui. Fui em busca de mim mesma, de uma nova vida, de novas escolhas e oportunidades e eu as encontrei. Eu me encontrei. Claro que abri mão de muito e que o vazio que Jules e Charles haviam deixado, nunca foram preenchidos, mas eu aprendi a lidar e a utilizá-lo a favor de outras coisas e isso bastou, pelo menos por enquanto.
Antes que eu pudesse respondê-lo, sou interrompida mais uma vez pelo barulho do bendito sino da porta de entrada.
Charles e eu viramos nossa atenção para a porta ao mesmo tempo. Os dois encarando uma mulher loira e magra, que vestia um casaco verde e calça legging. Mas o que mais nos chamou atenção foi o garotinho em seus braços. Ele tinha cerca de 3 ou 4 anos, cabelos escuros, estava deitado com o rosto escondido no pescoço da mulher e sua mãozinha agarrava a gola do casaco dela como se estivesse com medo de que ela fosse embora se ele a soltasse.
Eu e Charles nos levantamos em gestos ensaiados, tudo ao mesmo tempo. Ele parou ao meu lado, sua mão pousando no meu ombro coberto pelo meu próprio casaco desta vez.
A mulher nos encarou e veio em passos lentos em nossa direção. Quando ela chegou mais perto e parou a cerca de um metro de distância de nós eu pude analisá-la.
Seu rosto era fino e perfeitamente simétrico, e mesmo parecendo que não dormia a dias, seus olhos cansados são um tom de castanho esverdeado, muito bonitos. Ela é muito bonita. Seus lábios se abrem em um pequeno sorriso e ali eu pude ver que ela facilmente fazia o tipo de Jules.
-Imagino que vocês são Charles e Marie, certo ? - Ela diz, sua voz era doce e cansada.
Meu olhar passa dela para o garotinho em seus braços e logo depois eles se cruzam com o de Charles. Ele me dizendo através dos olhos , as mesmas coisas que eu estou pensando. Nós voltamos a atenção para a loira à nossa frente e assentimos.
- Ótimo!- Ela pigarreia antes de continuar - Eu sou Cecília e este rapazinho aqui é Vincenzo. - ela da uma leve balançada no pequeno que aperta ainda mais forte o colarinho do casaco dela. - Filho de Jules.
O aperto de Charles sobre meu ombro fica mais forte e eu engulo em seco. Eu não consigo desviar meus olhos do garotinho e agora mais de perto, eu podia ver seu perfil. Sua bochecha gordinha de criança e seus cílios longos assim como o de Jules.
Cecília se mexe desconfortável, seus pés passando o peso de um para o outro e ela ajusta um pouco a posição de Vincenzo em seu colo.
-Sei que vocês devem ter milhares de perguntas e eu prometo que irei responder a todas elas. Mas antes, vocês se importam se eu me sentar? Vincenzo é um pouco pesado e vim caminhando com ele nos braços. - Ela diz com um semblante envergonhado.
-Claro que não. Por favor. - Charles se aproxima dela e puxa a cadeira em que estava sentado alguns minutos atrás. Cecília se senta tomando cuidado para não fazer movimentos bruscos e acordar Vincenzo.
Charles aponta para a outra cadeira vaga e eu me sento. Ele da alguns passos até a mesa ao lado e pega uma cadeira desocupada para que possa se sentar. Assim que os três estão sentados ao redor da mesa, Charles chama a garçonete, que só agora percebo que está todo esse tempo nos encarando. A garota ruiva e sorridente, que provavelmente não tinha mais de 19 anos, se aproxima com o olhar vidrado em Charles. Provavelmente ela deve ter o reconhecido.
É Charles quem faz os pedidos. Um cappuccino para mim- o que me causa uma sensação no estômago por ele ainda se lembrar-um chá gelado para si e pergunta a Cecília o que ela gostaria de beber e ela responde que um café seria o suficiente. A ruiva anota os pedidos e pede licença antes de se retirar. Seus olhos ainda grudados em Charles.
Reviro os olhos internamente, mas sei que não posso culpa-lá, afinal não deve ser sempre que ela atende alguma figura pública. Quando costumávamos vir aqui com Jules, os funcionários eram outros e a pequena cafeteria fica em uma rua meio que isolada em Nice, então é provável que não venha muitas pessoas famosas por aqui.
Tiro meu olhar da garçonete e volto para Cecília que já me encarava atentamente com um pequeno sorriso nos lábios.
-Bem… - Charles começa. - Por que estamos aqui, Cecília? Por que somente agora você entrou em contato conosco ? - Ele pergunta se inclinando um pouco mais para frente, seus braços descansando em cima da mesa de madeira.
Cecília se ajeita na cadeira cuidadosamente e seus olhos se desviam para Vincenzo por apenas um segundo antes de se voltar para nós.
-Eu queria que vocês conhecessem Vincenzo. Enquanto estava vivo, Jules sempre mencionou vocês como parte da família dele. Ele amava muito vocês dois. - Ela diz e eu sinto meu peito apertar.
-Mas por que só agora ? - Eu me pronuncio pela primeira vez. - Sei que você escreveu na carta que estava com medo, mas ainda assim soa estranho você resolver vir nos procurar agora, sem nenhum motivo. - digo tentando manter a minha voz firme.
Cecilia fica em silêncio por alguns segundos como se quisesse formular as próximas palavras com cuidado.
-Há um motivo. - Ela afirma. - Olha, eu sei que é estranho e garanto a vocês que não estou querendo dinheiro nem nada do tipo. - Seu olhar passa de mim para Charles como se quisesse confirmar a última parte especificamente para ele. - Eu e Jules nos conhecemos cerca de seis meses antes dele morrer e foi como amor a primeira vista.
-Ele nunca nos contou sobre você. - Charles responde a cortando e ela assente.
-Eu sei que não. Eu pedi para que ele não o fizesse. - Ela diz e eu e Charles nos encaramos confusos antes de voltar nossa atenção para ela.
-Como assim? Por que você pediria isso a ele? - Pergunto achando aquilo estranho.
-Quando conheci Jules, eu estava em um momento complicado da minha vida. - Ela responde e vejo seu semblante se tornar sombrio. - Eu tinha apenas 19 anos e tinha fugido da Itália. - A voz dela estremece como se fosse difícil para ela voltar a mencionar aqueles tempos .
Eu queria poder lhe dizer que não era necessário que ela nos contasse se não estivesse se sentindo confortável, mas na verdade era realmente necessário que ela o fizesse. Afinal, era para isso que eu e Charles estamos aqui.
Charles assentiu para que ela continue e eu podia sentir a tensão dele.
-Eu me meti com pessoas erradas na Itália.- Ela continua. - Havia um garoto pelo qual eu passei a adolescência apaixonada, Paolo era o nome dele. Nós éramos muito jovens e idiotas, sabe ? - Cecília ri e seus olhos enchem de lágrimas. - Como todo adolescente, nós nos achávamos invencíveis, mas não éramos. Quando eu tinha 17 anos, passava a maior parte do tempo em festas e clubes com ele. Nós bebíamos e usávamos drogas, era tudo curtição e felicidade, até que não era mais. Com o tempo a bebida e as drogas deixaram de ser apenas para as festas e começaram a se tornar necessárias para qualquer coisa. Desde conseguir se concentrar nos estudos, até para poder levantar da cama. Meus pais, assumiram que Paolo era o culpado pela minha dependência e me proibiu de voltar a vê-lo. Eu obviamente fui contra e eles me fizeram escolher entre uma vida com eles ou a minha ruína ao lado de Paolo. Eu jovem e burra escolhi o amor e abandonei meus pais sem olhar para trás. Deixei a vida que tinha para correr atrás de aventuras com Paolo e ele fez o mesmo, fugindo de casa. Mas acontece que éramos dois viciados sem casa e sem dinheiro. Não havia mais a grana que nossos pais nos davam, então começamos a nos virar como podíamos. Pequenos roubos e furtos e até mesmo… - ela para por um momento. Lágrimas grossas descendo pelo seu rosto.
- Aqui.- Charles estende um guardanapo e ela o pega e limpando o rosto logo em seguida.
-Obrigada. - ela agradece e ele a oferece um meio sorriso.- Até mesmo prostituição. -ela continua e eu sinto meu estômago embrulhar. Não era nojo, mas sim pena por imaginar alguém naquela situação. Ao meu lado pude ver que Charles se sentiu tão incomodado quanto eu. Era difícil para ele conseguir se colocar no lugar dela.
Charles cresceu com ótimos pais que faziam de tudo pelos filhos, e por mais que não fossem milionários na época, ainda conseguiam ter e oferecer uma vida confortável a eles. E aposto que se qualquer um dos três, Charles, Lorenzo ou Arthur, tivessem seguido o caminho errado, Pascale jamais os teria abandonado.
E eu, bem, eu tive sorte. Passei a adolescência com Jules e Charles que possuíam uma família estruturada o suficiente para compartilhar comigo, pois meus pais eram ausentes.
Obviamente que eu e Charles tivemos nossa fase rebelde com porres e maconha de vez em quando. Mas Jules, por ser quase dez anos mais velho do que nós, sempre nos manteve na linha como um bom irmão mais velho. E se ele soubesse que passamos dos limites em festas ou em qualquer outro lugar, oh Deus! Ele pirava.
-Cecilia, sei que é difícil para você dizer isso, mas acho que é importante para que eu e Charles possamos compreender. - Digo e ela assente.
Cecília respira fundo duas vezes antes de continuar e é ali que tenho certeza de que a história só pioraria. Tento me preparar para ouvir o que ela tinha a dizer.
-Eu me prostitui algumas vezes, sem que Paolo soubesse. Havia alguns traficantes que me davam drogas em troca de sexo e como muitas das vezes eu não tinha outra opção, eu aceitava. Mas um dia ele descobriu e aquilo acabou com ele. Com a gente. - As lágrimas voltaram a escorrer pelo seu rosto. - Paolo enlouqueceu quando descobriu e foi atrás do traficante que eu havia dormido. Ele arrumou uma arma e matou o cara. Ficamos fugindo durante algumas semanas, mas era difícil demais para dois sem teto viciados, conseguir se esconder na Itália. Logo nos acharam e…- ela aperta os olhos e soluça forte.
Eu estico a minha mão em cima da mesa e pego a mão de Cecília. Ali havia muita dor e parte de mim queria se encolher e parar de ouvir, mas eu não podia. Passo meus olhos para Charles e ele me encara de volta, seus olhos refletindo uma ang��stia em estar ouvindo tudo que saia da boca dela. Era surreal demais para ele ouvir tudo aquilo.
-Eles mataram Paolo e acreditaram ter me matado também. Mas por algum milagre eu consegui sobreviver e pedir ajuda em uma igreja. O padre de lá era amigo dos meus pais e conseguiu uma família em Nice, que estaria disposta a me ajudar. Então eu vim para França, passei pela reabilitação e comecei a frequentar as reuniões para dependentes químicos. - seus olhos voltam a ficar distantes e eu continuo a segurar sua mão. - Foi na volta de uma dessas reuniões que eu conheci Jules e foi ali que eu entendi o motivo de eu ter sobrevivido. Nós nos apaixonamos, mas ele tinha uma vida pública e eu não podia me expor pois tinha muito medo que viessem atrás de mim. Eu contei a Jules o que tinha acontecido e diferente do que eu achei que ele faria, ele me acolheu. Me prometeu que não contaria a ninguém, nem mesmo a vocês dois, até que eu estivesse pronta e segura. E ele fez isso. Nos manteve em segredo durante meses. Nos víamos sempre que ele voltava para Nice, após as corridas. -Ela termina.
Eu e Charles observamos enquanto Cecília tenta tranquilizar a respiração, seu aperto sobre o corpo adormecido de Vincenzo aumenta como se tivesse medo de que ele sumisse de seus braços a qualquer momento.
Me parte o coração ver toda a sua dor e me faz ter uma perspectiva totalmente diferente de quando eu entrei aqui hoje. Ela amava Vincenzo e isso era nítido, assim como amou Jules. E essa é a parte que mais me dói.
Saber que o motivo pelo qual Jules nunca a citou para nós, seus amigos e família, foi somente para protege-la, fez meu coração pesar e se aquecer ao mesmo tempo. Isso era tão Jules.
Consigo me lembrar que meses antes de morrer, ele realmente passou a frequentar mais sua cidade natal e sempre que o questionávamos, ele dizia que queria passar um pouco mais de tempo com sua família. Nós até estranhávamos um pouco, mas Jules sempre teve uma ótima relação com os pais e parentes mais íntimos, o que nos fazia simplesmente deixar para lá e somente aproveitar o tempo que passávamos juntos antes dele e Charles ter que voltar para as corridas.
-Sinto muito por tudo isso, de verdade, Cecilia.- Charles é o primeiro a dizer após ela parecer mais calma. - Mas ainda precisamos saber o porquê de só agora você nos procurar. - Ele diz e eu concordo.
Cecilia assentiu com a cabeça e olhou para Vincenzo em seus braços. A tensão que emanava em si, me fez estremecer, Charles provavelmente percebeu e sua mão se encontra com a minha coxa por baixo da mesa.
-Cerca de dois dias antes da morte de Jules, descobri que estava grávida de Vincenzo. - Ela diz e eu faço um gesto de compreensão com a cabeça. - Jules estava correndo em Shangai e eu estava apavorada e sozinha aqui.- As lágrimas que haviam cessado voltaram a descer em ondas mais intensas.
Minha mente se teletransporta para 2019, para a última corrida de Jules. Ele estava tão contente que conseguiu terminar em sétimo lugar naquele dia. Mas, de uma hora para outra ele só queria voltar para casa e descansar, nem chegando a comemorar com os meninos do grid.
-Eu mandei uma mensagem para ele após a corrida. Disse que precisava que ele viesse o mais rápido possível para Nice, pois algo havia acontecido. - Cecília olha para Charles enquanto dizia.- Então ele me mandou mensagem dizendo que iria pegar o primeiro avião disponível de volta para França.
Conforme Cecília fala, o aperto de Charles em minha coxa aumenta. Eu olho para ele pelo canto dos olhos e consigo enxergar o momento em que seu pomo de Adão sobe e desce.
-Então foi por isso que ele saiu tão depressa naquele dia. - A voz de Charles soa baixa. - Ele saiu antes que eu pudesse falar com ele…- Seus olhos enchem de água e sua respiração se torna um pouco instável. Cecília apenas assente e fecha os olhos com força antes de continuar.
-Quando Jules chegou em Nice já era de madrugada e estava chovendo muito. Ele tentou pegar um táxi ou Uber, mas não estava conseguindo nenhum dos dois. - Dessa vez sinto minha respiração falhar um pouco enquanto ela continua. - Ele conseguiu alugar um carro em uma agência 24 horas que ficava próxima ao aeroporto e me mandou uma mensagem dizendo que chegaria em breve e que eu não precisava me preocupar, pois não importava o que estivesse acontecendo tudo iria ficar bem e que ele me amava.
Charles levantou abruptamente. Seu rosto adotando um olhar de descrença.
-Foi você…- A voz dele era fraca e acusatória. - Foi por sua causa que ele… Meu Deus!- Ele se agita e suas mãos passam pelo rosto e por seu cabelo.
-Charles…- Eu tento acalma-lo, mesmo eu também estando ansiosa. - Charles, por favor, senta e tenta se acalmar. - Eu tento pegar em sua mão mas ele recua em um movimento brusco.
-Me acalmar? - Ele se volta para mim. - Foi ela, Marie! - ele diz apontando para Cecília que apenas se encolhe na cadeira e aperta ainda mais Vincenzo que se mexe desconfortável em seu colo. - Ela matou ele! É POR CULPA DELA QUE JULES MORREU! - Ele grita.
Minha respiração se torna difícil e meu coração vai a mil por hora. Na minha frente Cecília soluçava e apertava Vincenzo ainda mais contra seu corpo.
Toda aquela comoção fez com que alguns funcionários começassem a aparecer e se aproximar a uma distância segura da mesa.
-Eu sinto muito, sinto muito- Cecília implora. - Eu juro que nunca quis que isso acontecesse, eu estava com tanto medo e…- Ela para quando escuta o choro baixo de Vincenzo.
A atenção de Charles vai para o garotinho quando percebe que agora ele está acordado. Ele faz um movimento negativo com a cabeça e sai do café as pressas, batendo a porta com muita força atrás de si. Nós nos assustamos com o barulho e o garotinho chora ainda mais alto. Eu me levanto apressada para ir atrás de Charles mas antes paro e me viro para Cecília.
-Por favor, espere aqui, sim? Vou tentar acalma-lo. Não vá embora. - Digo e ela assente, seu rosto manchado de lágrimas que ainda continuavam caindo e sua respiração acelerada enquanto balançava Vincenzo tentando acalma-lo.
Uma garçonete morena se aproxima com um copo de água nas mãos e coloca na frente de Cecília. Eu a agradeço com um gesto e saiu pela porta rapidamente afim de encontrar Charles.
Não demoro muito para encontrá-lo, ele estava em frente a um carro preto. O corpo apoiado ao lado do motorista. Mesmo de longe eu posso ver seu corpo tremendo e ouvir o som de sua respiração desregulada. Vou me aproximando devagar dele, para não assusta-lo.
Quando chego perto o suficiente penso em toca-lo, mas logo o pensamento deixa a minha mente quando percebo que não era uma boa ideia.
-Charles…- o chamo baixinho para chamar sua atenção. - Eu sinto muito, mas nós precisamos voltar para lá. Ela-
-Não!- ele exclama.- Por favor, Marie! Não me peça para voltar lá. Ela matou ele! Foi culpa dela! - Ele me encara com os olhos vermelhos e inchados.
Meu coração se aperta mais com a imagem dele assim. Me vejo novamente sendo mandada para o ano da morte de Jules, mais especificamente para o dia de seu funeral.
Eu queria abraçar Charles e dizer que tudo ficaria bem, mas na verdade eu não sabia se ficaria. Jules havia morrido à quase quatro anos e mesmo assim ainda doía toda vez que seu nome era citado. E ouvir hoje de uma estranha, as razões pelas quais resultaram em sua morte, não era algo fácil. Mas havia um motivo pelo qual Cecília quis nos contatar depois de todo esse tempo e nós precisamos saber.
Respiro fundo e resolvo me aproximar mais de Charles. Um de nós tinha que tentar ser racional nesse momento e se tivesse que ser eu, tudo bem. Eu não iria voltar para a Itália sem uma resposta.
-Charles, eu entendo que é difícil ouvir tudo isso assim, de repente.- minhas mãos vão para o seu rosto. - Eu sei que dói, Charles. Eu também estou sentindo. - Ele fecha os olhos e eu sinto lágrimas rolarem pelo meu rosto. - Mas nós não podemos culpá-la totalmente, Charles. Ela estava com medo e só queria conversar com ele.
-E isso resultou na morte dele. - Ele diz, seus olhos se abrindo e se encontrando com os meus. - Marie, se ela não tivesse feito o que fez, ele estaria aqui agora. Ele estaria vivo e teria conhecido…- A voz dele falha. - Ele teria conhecido o próprio filho. - Ele chora e eu o puxo para um abraço.
Jules morreu sem conhecer o filho. Jules morreu sem saber que teria um filho. Jules morreu no escuro sem saber o que é que estava acontecendo com Cecília. Jules morreu sozinho e preocupado e nada que possamos fazer irá trazê-lo de volta. Ele morreu. Acabou. Mas eu e Charles ainda estamos aqui.
-Jules morreu sem conhecer o filho, mas nós ainda estamos aqui e podemos fazer isso por ele. - eu digo e ele me aperta mais. - Nós ainda estamos aqui, Charles. E podemos fazer isso. - Ele quebra o abraço e me encara com o rosto cheio de mágoas. Eu afirmo com a cabeça. - Nós precisamos entrar lá. Juntos. - ele olha para os pés. - Charles, eu preciso que você entre lá comigo, pois eu não posso fazer isso sozinha. - Seus olhos voltam para mim e ele entende que eu utilizei as mesmas palavras que ele há alguns anos.- Por favor, Charles. Eu não quero fazer isso sozinha. Não posso. - Ele assente e eu pego sua mão e o arrasto lentamente de volta até a cafeteria.
Quando entramos pela porta meus olhos se encontram com os de Cecília. Afirmo com a cabeça para lhe dizer que está tudo bem e ela assente em compreensão. Olho para Charles que a encara sem expressão. Seu olhar está gélido, totalmente diferente do que um dia eu cheguei a conhecer.
Ainda segurando a mão de Charles, caminho em direção a mesa onde ela nos espera desconfortável. Percebo que Vincenzo não estava mais em seu colo e sinto uma preocupação momentânea que logo passa quando o vejo brincando de costas em uma outra mesa com a mesma garçonete ruiva que havia nos atendido.
Nos sentamos em nossas cadeiras e vejo que os nossos pedidos estão postos em cima da mesa. Sinto meu estômago embrulhar só de olhar para o Cappuccino na minha frente. Dou uma ligeira olhada ao redor e percebo os funcionários tentando desviar o olhar de onde estamos. Faço uma anotação mental em “resolver” esse problema para que não saia daqui quando formos embora.
-Apenas diga logo o que você quer. - Charles quebra o silêncio, seus olhos ainda encarando Cecília que assente e engole em seco.
-Eu entendo a raiva de vocês e sei que não tenho o direito de pedir o que irei pedir. - Ela diz e minha audição aguça. - Eu convivo com a culpa a anos. Seja por Paolo ou por Jules, a culpa e o remorso me acompanham por onde quer que eu vá. Não importa o que eu tente fazer, sempre estão lá. - Ela olha para as mãos. - Ano passado eu tive uma recaída. - Ela diz. - Usei heroína, foi uma vez, mas usei. Depois de anos resistindo e nem chegando perto de drogas, eu deixei a minha mente de merda cair no buraco e me piquei. - Ela solta um riso desesperado e seus olhos enchem de água.
Meu corpo gela e Charles solta um barulho de escárnio ao meu lado. Quando ele abre a boca para falar algo Cecília o corta.
-Sim, eu sei que sou uma puta e que mereço a pior merda que a vida reservar para mim. Mas é essa a questão. Eu mereço as coisas ruins, mas meu filho não. - Ela diz firme nos encarando séria. - Eu preciso que Vincenzo tenha uma vida boa e decente. Preciso ter certeza que ele crescerá sendo amado e que nunca irá faltar nada a ele. - Ela desvia o olhar por um momento até a mesa onde Vincenzo brincava animado com a garçonete e logo depois volta a atenção para nós.
Cecília respira fundo e se inclina mais para frente. Eu podia jurar que ela seria capaz de pedir qualquer coisa naquele momento. Dinheiro, uma casa em um lugar distante da cidade, um período na reabilitação, qualquer coisa.
-Eu não posso mais cuidar de Vincenzo.- Ela afirma, seu tom exalando amargura.- Eu prometi a Jules que faria de tudo para que ele fosse diferente de mim. E é por isso que procurei vocês depois de todos esses anos.
Minha cabeça gira. Ela está pedindo para …? Não, não é possível.
-O que você quer dizer com isso ? - Charles pergunta aflito.
Cecília limpa as lágrimas do rosto com a mão, pisca algumas vez e adota um olhar decidido, um olhar que eu conhecia bem. O mesmo olhar que deu a mim mesma no espelho quando decidi deixar Mônaco. De repente eu me sinto apavorada, pois minhas suspeitas são confirmadas.
-Ela quer que nós cuidemos de Vincenzo. - Eu digo.
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Boletim de Anelândia: #25 - Músicas que escrevi para meus livros (Edição especial)
Olá, pessoal! Boas-vindas a mais um “Boletim de Anelândia” e numa edição mais do que especial, pois este é o nosso número 25! *Todos comemora* E nada mais justo do que falar sobre uns detalhes super especiais dos meus livros - até porque a newsletter tá aqui para isso: as músicas que eu já escrevi para alguns livros meus. Então, sem mais enrolar... Bora começar!
De onde veio essa ideia maluca de escrever músicas?
Uma coisa é fato: Música é uma das coisas que mais permeia a minha vida. Tanto que em vários momentos – inclusive quando estou escrevendo – acabo por colocar alguma coisa. Quando era mais nova e até mais criativa e pensava nas minhas histórias quase como uns animes que eu escrevia. (Meu sonho de princesa é receber adaptação de alguma obra minha em versão animada!) Então, era óbvio que o eu adolescente pensava nas aberturas e encerramentos dos benditos. Inclusive, chegava a ter até insert song/chara song (bem otaka fã de seiyuu essa ideia). Depois de uns anos que as músicas se tornaram mais um recurso narrativo do que qualquer outra coisa. Assim como outros aspectos da minha escrita, ela também evoluiu.
Algumas delas são...
Mirror Magic (As Super Agentes)
Um hit clássico dentro das terras de Anelândia (brincadeiras à parte). A minha ideia é essa música ser um feat entre a Amélia e a cantora pop Cammy (nome a mudar). Até porque as gatas são bem parecidas e como agente acaba fazendo de tudo um pouco, a nossa Amélia faz ponta de cantora.
Eis um trecho:
"Você consegue ser diferente? Se olhando no espelho, todo dia e sempre ver a mesma expressão cansada Cansada da mesmice Do mundo, das pessoas, das coisas Tudo é tão vazio que este vazio se reflete no seu espelho".
Liberte a Diva em Você (As Super Agentes)
Outro clássico atemporal em Anelândia! Digamos que essa é a música de debut de nossa queria Cammy, onde a ideia é sobre aquilo que toda adolescente já fez: botou música alta no quarto (ou outro ambiente) e se imaginou cantando num show, até com a escova como microfone.
Eis o trecho:
"Corre, coloca uma roupa se enfeita toda Prepara a sala para o seu show Arrasta coisas aqui e lá. Escolhe uma música A escova é o microfone! É hora!"
Caído na Magia (MB)
Apenas clássicos nesta edição sobre músicas. A ideia desta é ser a música de abertura do possível (um sonho distante) anime de Mago Belo, onde o menino Dimitri conta sobre como simplesmente do nada ele caiu no mundo mágico.
Eis um trechinho:
"Um dia desses, podia-se dizer entre aspas: "que eu era normal" Mas um dia, no meio de um temporal um raio me atingiu e quando acordei estava num mundo maluco e bizarro"
Garota Alaranjada (Guilty Angels)
Um mais recente, mas nem por isso menos icônico. Esta é da história que escrevia com minha amiga e leitora Ingrid. Ela é uma homenagem do Niels (o protagonista que eu escrevia) para a Shayera (a personagem que ela escrevia), como o encontro dos dois fez a inspiração do garoto voltar.
Um trecho para deleite:
"Andava triste e sozinho Guardava tudo para mim Sentimentos selados e agoniantes Me torturavam diariamente Eu não tinha inspiração Não tinha vontade para nada Pensava em quanto tempo mais iria suportar Pensava em desistir, deixar tudo para lá Não havia caminho para seguir"
Claro que tem outras tantas, não vou falar sobre todas para não deixar aqui extenso demais!
Um livro onde músicas são importantes...
Apesar de alguns livros meus terem músicas, apenas em uma das minhas histórias ela tem realmente um grande papel, seja para os personagens ou para a história em si. Sim, estou falando de As Aventuras de Jimmy Wayn, onde temos a banda Riot of Hell e eles, de vez em quando ousam escrever algumas músicas.
São elas...
Porque ele é virgem (JV1)
Obviamente, a música que é apenas um resumo da vida do pobre Jimmy. Sabemos que a piada e a zoação foram longe demais... Ainda bem que a situação muda.
Um trecho:
"Para os garotos virgindade é ruim É por isso que a perdem mais cedo Mas existe um cara que não quer que seja apenas uma coisa carnal. Ele quer que seja um dia lembrado para sempre! Para isso ele deve tentar achar a garota a garota perfeita a pessoa certa Mas isso é difícil, difícil demais"
O Soldado e a Deusa (JV2)
Representando tudo o que o menino Jimmy sobrevive no segundo livro, resolve escrever essa música inspirada nos sonhos que ele tem como Samira sendo a Afrodite e ele sendo um soldado dela.
Pequeno trecho:
"A Deusa que precisa de proteção é defendida por um capitão em meio a uma guerra entre os deuses Ele se esforçará para cumprir Sua missão Seu destino E sua paixão"
Despedida (JV3)
Não posso comentar tanto sobre, pois é um enorme spoiler de um acontecimento do livro. Mas, essa é escrita pela Samira, como uma homenagem a uma pessoa que ela nunca irá conhecer.
Mas, um trecho em primeira mão para vocês:
Uma dor tão grande Nem disse olá e devo dizer adeus Como se despedir de alguém assim? Mesmo que não queira, é uma despedida!
Tem letra, mas num tem melodia...
Pois é, agora vocês devem estar se perguntando: E esse tanto de música? Onde posso ouvir? Então... Lamento informar, mas elas “todas” só existem completas na minha cabecinha maluca. Eu não sei tocar um acorde e nem uma nota em nenhum instrumento, quando mais montar uma música inteira. Até tenho uma ideia dos estilos que cada uma delas tem, mas precisaria da ajuda de outras pessoas para poder transformar em uma música mesmo. Quem sabe um dia, nova edição do JV, não tenho a letra cifrada no final né? O que vale é que eu já tenho essas letras, então é um passo andando para as outras partes. (Se bem que devem rolar umas adaptações para caber e tal, mas nem sei). Quem sabe um dia tenha elas bonitas e cheirosas e prontinhas para serem ouvidas pelos leitores. Enquanto isso, vamos ficando apenas com a montagem das playlists. E para fechar a edição, deixo para vocês um vídeo super antigo do canal de autora, onde eu pago mico e dou uma palhinha de algumas das músicas (e de outras) que falei aqui.
youtube
E estou muito feliz de termos alcançado a marca de 25 edições do Boletim de Anelândia. Aos trancos e barrancos, pós uma pausa de quase um ano, mas seguimos. É sempre muito divertido poder falar sobre meus livros, independente do meio, e também colocar alguns pensamentos meus para fora.
Obrigada por acompanharem até aqui e espero que fiquem para mais! Até o próximo “Boletim de Anelândia”!
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Childhood Love
Imagine: Imagina que após algum tempo voltas a reencontrar o Dastan, o teu melhor amigo de infância, numa das atividades do palácio e ele declara-se.
Avisos: Nenhum.
Filmes Masterlist
Já havia passado alguns anos desde que vi o Dastan, o meu melhor amigo desde a infância. Ele sempre me estendeu a mão quando precisava, mas foi adotado pelo rei e nunca mais o vi.
Este ano estão a organizar um evento no castelo e qualquer um pode entrar desde que saiba lutar. O pátio está cheio de gente que veio simplesmente para assistir aos diversos combates. Quando tudo começa eu luto ferozmente e vou passando as fases acabando por chegar à final, mas o combatente é demasiado forte. Acabo por cair ao chão debilmente perdendo a consciência.
Quando volto a acordar o meu redor mudou e pude detetar umas presenças desconhecidas no quarto entrando imediatamente em pânico. Uns braços envolvem-me calmamente e uma voz preenche o silêncio.
- Hey, hey! Calma está tudo bem, eu estou aqui. - Esta voz é tão familiar…
- D-dastan?! - A minha voz falha e o seu abraço torna-se mais firme.
- Sou eu, há quanto tempo não?! - Ele pergunta sorrindo e depois a sua expressão muda completamente. - O que te passou pela cabeça para combateres? - Está irritado e preocupado tal como ficava quando éramos pequenos.
- Eu sei lutar! Quero que as pessoas parem de me ver como uma miúda indefesa. - Faço um beicinho e o rei ri fazendo-me notar a sua presença no quarto.
- Bem minha filha podes ficar descansada que uma vez que fiques bem de saúde poderás pertencer à guarda real… Sempre sob as ordens do Dastan claro.
Eu assinto contente e vejo o rei sorrir e sair do quarto deixando-me sozinha com o Dastan. O ambiente no quarto transforma-se com a enorme tensão entre os dois tornando tudo muito mais constrangedor.
- Então… Vais te casar, huh?! Finalmente não? - Digo rindo falsamente tentando levantar o animo, mas ele olha-me tristemente.
- Não, eu não vou, neguei ao meu pai a sua mão e dei-a ao Garsic. - Responde seriamente.
- Mas porquê, ele já tem imensas mulheres. - Por momentos medo atravessa-se nos seus olhos, mas rapidamente desaparece.
O seu olhar está trancado no meu, músculos tensos, maxilar contraído e o ar à sua volta parece ter mudado drasticamente. As suas mãos agarram as minhas e o seu olhar torna-se tão penetrante que não tive coragem de desviar o meu olhar do seu nem para admirar aqueles maravilhosos lábios.
- (T/N), tu não percebes, pois não. Para mim a única mulher que existe, aquela que eu desejo para minha única esposa… és tu e mais ninguém. - Os meus olhos abrem-se de espanto pelo que ouvi.
Quem conhecia o Dastan sabia que ele era um homem de poucas palavras, mas era com certeza um homem de ação e assim foi. Antes que eu possa processar tudo o que está a acontecer, os seus lábios encontram os meus num longo e delicioso beijo onde o nosso amor é despejado.
- Oh Dastan… - Digo uma vez que nos separamos por falta de ar.
- Eu amo-te (T/N).
- Eu também te amo Dastan, desde a nossa adolescência. - Ele sorri abertamente beijando-me novamente desta vez mais profundamente.
Nesse mesmo dia é anunciando a todos o nosso noivado e mais tarde, após estarem todos a dormir Dastan visita o meu quarto e ambos celebramos o nosso noivado dando uma festa privada e íntima, apenas entre nós.
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Arian Motta em: um esforço de andar meio centímetro acima do chão
Dono de uma doçura única, Arian transmite sua sensibilidade através de ilustrações que parecem ter saído de um sonho. São criaturas mágicas e cores vibrantes que nos levam à nostalgia da infância, num universo bastante criativo. Formado em Artes e tendo estudado na Bélgica, o artista leva sua estética também para a Música, criando melodias que se assemelha bastante ao que ele faz no papel. Atualmente, estuda Moda e começa a trilhar seu caminho na costura.
por Flecha Kabal
É um prazer te ter aqui. Somos amigos há mais de uma década. Eu me diverti muito no Réveillon de 2018 quando me recebeu em Vila Velha. O que você tem feito de lá pra cá? Também adorei te receber aqui, e ter te reencontrado no Primavera Sound em SP em 2022! Desde 2018 tenho estudado moda, começando com modelagem e agora com produção de moda. Tem sido muito legal transitar entre estes campos criativos (moda, design, ilustração e música). Provavelmente farei um mestrado? Provavelmente. De fato eu amo estudar. Como você concebe as criaturas que ilustra? Você se inspira em alguma experiência do dia a dia? É um processo que eu me desprendo muito, sabe? Consigo me desligar um pouco do dia-a-dia. Geralmente enfatizo as formas e cores. Percebo que, quando estou menos preocupado em estar fazendo um “produto final” é que sinto que meu traço se solta mais, flui de maneira mais natural. Rascunho é um processo muito libertador, pois enxergo como aquele momento que o prazer de fazer arte (e errar fazendo arte) existe. Às vezes sinto que a pressão por estar sempre produzindo nesses tempos de rede social me causam ansiedade. Uma certa cobrança interna e externa. E é bom se lembrar que, antes de tudo, arte é um processo muito terapêutico e pessoal.
Quanto tempo mais ou menos você demora numa ilustração? E como você sabe que está pronto? Como você decide? Acho que por desenhar a vida toda eu acabo sendo bem rápido. Não costumo demorar mais de um dia, mas tem momentos que eu gosto de me desafiar fazendo coisas bem complexas. Ou quando o desenho é para um cliente, acho que nesses casos demoro mais pois gosto de entender bem o que o cliente tem como visão sabe? Nem sempre é um processo tão rápido, entender o outro. E como sei quando está pronto? Acho que sinto. Eu sou muito minimalista, geralmente, então quando sinto que já consegui comunicar a ideia, eu paro e vou caminhar, ler, fazer qualquer outra coisa. Quando volto e observo o desenho, ele me diz se está pronto de fato ou não. Recentemente você trabalhou na Direção de Arte de uma animação, a ‘Saudades em Cor’. Como foi participar desse projeto? Foi muito legal trabalhar com o Arthur Felipe Fiel, o diretor do curta, bem como toda a equipe. É incrível como a animação junta diversos universos dentro de um só projeto. E pessoas de muitos campos criativos distintos. Estou muito ansioso pra esse projeto chegar ao público, ele por enquanto está rodando em festivais de animação nacionais e internacionais. E tenho mais novidades vindo por aí, que inclusive nasceram com pessoas dessa equipe, mas por enquanto não posso contar ainda. Só posso adiantar que esse projeto vai explorar a tridimensionalidade do meu trabalho.
Dizem que o artista é a criança que sobreviveu. No sentido de explorar as coisas, criar sem medo e vivenciar a vida mais honesta possível. O que você aprendeu nesses anos todos se dedicando ao que você mais ama fazer? Que arte cura. Arte é um caminho que não consigo me ver sem. Que precisamos incentivar a cultura nas escolas. Citando Yoko Ono - “Arte é um esforço em tentar fazer você andar meio centímetro acima do chão”. Vamos falar do seu lado musical. Foi assim que nos conhecemos, lá em 2013. A sua música parece uma extensão do que você faz visualmente. Você enxerga assim? Sim, completamente. Acho que quando não consigo desenhar um sentimento, eu o transformo em som. No seu álbum TOYBOX você brinca com camadas, texturas e sons felizes que lembram trilha de games. Temos um hyper-pop divertido e bastante experimental regado pelo estilo Spoken-word (palavras faladas). Fale um pouquinho sobre essa obra. TOYBOX foi um projeto muito marcante para mim. Foi incrível conseguir verba de edital para fazer o CD, livreto com fotos, equipe de produção, clipe etc. Acho que foi a partir daí que percebi que música não era mais um projeto secreto que fazia pra mim, no meu quarto. Era algo que estava agora no mundo. É uma sensação de se despir, de certa forma. Com uma exposição de ilustração já não sinto muito isso, acho que sempre foi normal para mim compartilhar a imagem que produzo. Mas penso que a música de alguma forma me deixa mais vulnerável.
Agora você tem se aventurado no universo da Moda. Como tem sido? Tem sido um prazer mergulhar neste universo. Acho que nunca produzi tanto desenho quanto estou produzindo nos últimos meses. Confesso que ainda não domino a costura, mas me sinto muito mais qualificado para mostrar o croqui para alguém que vá costurar as peças, por exemplo. Entendo muito mais de caimento, ergonomia e modelagem. Estudar os tecidos e história da moda também são duas paixões minhas. Algo que, se possível, provavelmente nunca irei parar de estudar. Existe alguma coisa que você desejaria que alguém tivesse te dito quando começou a criar? Networking é a chave de tudo. Muito dificilmente os projetos saem do papel se fizermos tudo sozinhos.
INDICAÇÕES:
- Álbum: What happened to the heart? de Aurora (esse álbum tem temas muito atuais, se posicionando sobre a guerra na Palestina e também como a sociedade está tendo dificuldades de relacionamento/ conexão após a pandemia)
- Filme: Pobres Criaturas - 2023 (acredito que Bella Baxter já é uma das personagens mais icônicas do cinema destas últimas décadas)
- Filme: Zona de Interesse - 2023 (outro filme que considero essencial... fala sobre o perigo em normalizar os absurdos que nos cercam).
ENCONTRE: instagram | spotify | behance
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Desabafo de uma yag #2
Sem foto.
O "NADA" não é confidencial.
O vazio virou meu amigo há mais de uma geração. Ficar sem sentir algo, um vazio no peito, é desesperador e ao mesmo tempo traz calma.
Sempre desejei não ter sentimentos pois estes me fazem muito mal. Eu fico doente. Me destrói. Me mata a cada segundo. Tenho amigos que gostam da sensação de se apaixonar e louvam quando estão, mas me acabo pensando - por conta da minha situação - se a pessoa nunca sofreu por amor ou romantiza.
Não apoio a dificuldade para ter algo. Sou prático e fácil.
Fugi do foco deste desabafo. Vou retomar.
Já fiquei dias olhando para o teto sem pensar em nada. As vezes me perguntava o por que eu estaria aqui e qual seria meu propósito, mas isso me traz angustia e ansiedade.
Um fato sobre o meu eu: eu era incrível. Vocês precisavam ver como eu tinha uma luz própria, radiante e cativante. Todavia atualmente estou sendo iluminado sem minha luz e sim, com as dos outros.
Entendo que já fui muito melhor que hoje... Ou eram momentos que me iluminava quando ficava alegre?
Minha ansiedade grita, faz meu corpo doer muito. Me contorço todo gritando e berrando "por favor, alguém me ajuda! Estou implorando!"... não reproduzo nenhum som e fico quieto. Sempre sou questionado a respeito da minha situação e não consigo explicar.
Ninguém entende o que se passar na cabeça e corpo de uma pessoa doente, doente de alma, espírito, mente, corpo, falas e sentimentos...
Por que estou passando por isso há anos? Sempre tentei dar o meu melhor (obviamente do meu jeito), ser uma pessoa boa, educada, empática. Porém nada de retorno para mim.
Injustiça total ao meu favor. Não deveria passar por isso. É cruel.
Não tenho mais pensamentos do meu futuro. Vejo todos que estão a minha volta fazendo o que gostam porquê estudaram, se formaram, que correm atrás de algo que precisam mas e eu? Não consigo me mover. Estagnado no mesmo local: sofá de casa assistindo filmes de terror. Me sinto atrasado, ficando para trás e super procrastinador.
A vida é injusta e eu posso provar.
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acho que pior do queter tido uma má experiência às vezes é mesmo nunca ter tido a chance de experimentar.
todos já sabemos e estamos fartos de ouvir como sabemos que queremos ser queridos, queremos sentirnos amados, queremos amar e sera amados.
continuamos neste ciclo vicioso que já conheciamos, aos 12 era muito cedo, aos 13, era cedo mas era tarde para quem nunca tinha dado um beijinho ou não tinha declarações nos bolsos como cromos de caderneta, aos 15, pensavamos que se não aconteceu até agora é porque também aquilo que vemos a nossa volta não é o que estamos à procura (pelo menos é isso que nos repetimos) e pensamos que no secundário é que poderia vir a acontecer, aos 16 já entraste no secundário e reparaste que enquanto todo o mundo correu tu tropeçaste na linha da partida e eles já nem estão nessa corrida, já estão noutras metas e tu continuas ali, aos 17 apenas avalias o teu redor e questionas o que estás a fazer de mal quando na realidade concluis que a culpa é tua mas estas condicionada pelo que te rodeia e filosofas sobre ciclos viciosos, aos 18 martiriza-te a ideia que a tua adolescencia está no fim e que não tiveste a experiencia daquele amor intenso de pavio curto mas de chama viva, não deste o primeiro beijo, e a ideia de ser indesejável passa a ser um rótulo que te colaste em ti própria.
não sei o que me esperam os 20s mas acho que o problema nunca foi ter que me querer primeiro para que os outros me possam querer,
se realmente for a pensar no assunto, o meu único ato de tentativa amorosa foi o maior fracasso que me mostrou uma lição que honestamente gostava de ter aprendido em outro contexto, mas fico feliz por ter aprendido.
se tens que pedir, perguntar ou prender é porque não é para ser teu, tu sabes que as respostas nem sempre são dadas pelas palavras, mas também pelos silêncios
em nós estão guardados tantos silêncios que nos ensinaram mais que tantas palavras que ouvimos e como o vento passaram a léguas.
as respostas também são dadas pela sua ausência.
por isso quero aprender se existem mesmo repostas que são dadas pela sua existência, se existe realmente tanta coisa que me parece mítica. não é engraçado a forma como as coisas terminam sempre por ser um desaprendizado daquilo que um dia foi dado como verdade única.
lembro-me que cresci a ver desinteresse e maltrato a ser chamado de amor, e de a palavra mais utilizada para qualificar aquilo que o amor é era sofrimento. porque algo tão lindo e tão brilhante foi sempre tão escuro.
não peço o amor da minha vida, até porque acho que eles não existem. vivemos tantas vidas neste mesmo período que estamos impossibilitados de achar que este todo é so um. pensa, se tiveste um grande amor na tua adolescência, que para ti era o maior da tua vida e agora tens 20 anos e já estas noutra relação e achas que este sim é o amor da tua vida, não são a mesma pessoa, sim são parte do mesmo, são parte de ti, mas não são a mesma pessoa
acho que no fundo não procuro estes grandes amores o que procuro é apenas a opção de ter a experiência que nunca tive antes e daquelas que nem sonho ainda em ter.
disseram-me que eu não sou tonta, que eu tinha lucidez, mas cho que tanta luz me deixou cega. para que quero continuar a ver tanto se esta visão não me agrada no mais mínimo dos cenários. porque acabo por resumir o meu estado de satisfação da vida a ter tido uma relação um amor ou algo, o problema aqui acho que não é estar só mas é o desejo de experimentar a outra face que torna tudo tão turvo.
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te enviei um email que sei que você não vai responder. é muito triste que tudo tenha acontecido do jeito que aconteceu. sei que não vou conseguir evitar de voltar e ler e reler o email que te enviei, desejando la no fundo que em algum momento você responda. e sei também que você não vai. mas a despeito de tudo que você fez, era isso que eu queria de verdade: uma resposta. isso que dói, sabe? eu queria ter raiva de você, desejar nunca mais te ver ou ouvir uma palavra tua, desejar coisas ruins pra sua vida. mas na realidade eu só desejo ter de volta o que eu pensei que a gente tinha. no fundo eu só queria que você contasse uma mentira bem contada, boa o suficiente pra eu fingir que acredito e tudo voltar a ser como antes. talvez me falta amor próprio. com certeza falta. mas como vou ter amor por mim mesma se aparentemente ninguém mais tem? que difícil. não consigo evitar assistir nossos videos de novo e de novo e de novo. acho que essa é a pior parte, ter a maior parte de tudo que aconteceu gravado ao alcance do meu celular. eu assisto e assisto e assisto e cada vez parece menos real o que aconteceu. que loucura. a maneira que eu olhava pra você, a maneira que você olhava pra mim, eu podia jurar. acho que meu favorito é aquele que eu brinco sobre a idade que você tinha quando parou de acreditar em papi noel, e você ri muito mesmo sendo uma piada muito simples. parece tão verdadeiro, sua risada. meu deus, que loucura tudo isso. sinto vontade agora de te enviar outro email, com todas essas coisas que to escrevendo por aqui. mas não vou. mas é triste sentir vontade, sabe? parece que você se impregnou em todas as minhas coisas e agora o tempo todo tem algo novo que eu sinto um desejo desesperado de te contar. me sinto tão mal, tão mal. se ao menos eu pudesse conversar com alguém sobre isso, mas nem posso. talvez por isso to aqui escrevendo nessa rede social morta na qual eu já não escrevo há tanto tempo. minto, escrevi aqui em agosto deste ano, uma frase só, pra avisar a mim mesma que eu estava gostando de você. meu deus parece tudo uma piada planejada. revi nosso ultimo video umas 100 vezes de ontem pra hoje prestando atenção nos deatlhes, no seu rosto, na sua voz, e nada justifica. não consigo encontrar uma explicação. é uma loucura. acabo de pensar agora se alguem no tumblr irá ler isso aqui, acho que tem a mesma pouca chance de ser lida que o email que te enviei. dois textos para ninguém ler. apesar que este, se alguém lesse, provavelmente não faria o menor sentido. e foda-se. não faça sentido. não quero que faça sentido quero acordar no mês passado sem nada disso ter acontecido quero nascer de novo quero esquecer que você existe e esquecer que eu existo. quero dormir ao teu lado. odeio não conseguir tirar isso da minha cabeça. odeio isso aqui odeio essa rede social odeio que minha vida seja esse circo essa piada. odeio não ter nem o direito de sofrer porque aparentente nada disso existia e a gente só pode sofrer por coisas que existem. odeio. quero evaporar quero virar agua no mar quero sumir da minha cabeça. quero dormir até superar. quero que você me escreva qualquer resposta só pra eu saber que você leu a droga de email que te enviei hoje.
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Este texto é escrito enquanto outros também estão no seu processo de nascimento dentro da minha cabeça.
Nela, tudo acontece ao mesmo tempo.
Enquanto digito, posso ouvir a voz de uma moça na janela vizinha do navegador. Ela mistura português e inglês. Isso me lembra dos dias na universidade, e me lembra dos amigos que conheci pela internet por volta de 2013.
"Hoje temos um dia kind of exciting", a voz da moça diz. E lista tudo o que vai fazer durante o dia, com horário de cada atividade. Numa linha reta.
Nesse exato momento, estou sentado na minha cadeira, com um fluxo contínuo de consciência na ponta de meus dedos, e com um par de pernas que balançam profusamente.
Eu tenho o dia seguinte na minha cabeça. E também tenho os dois últimos anos. Tenho na cabeça os dois meses que virão. Eu olho para todos esses pontos no tempo que se juntam à minha volta, em um círculo.
Eu tenho todo o tempo na cabeça. E eu tenho medo.
Tenho uma cabeça imaginativa que poderia estar criando algo de bom em vez de criar os piores cenários possíveis. Imagino toda a cenografia da minha vida como se ela fosse um filme de suspense. Escrevo este texto com a cara esquentando por causa do clichê que acabo de digitar.
A cena na minha cabeça tem todos os cenários do mundo, e eles se juntam como tinta acrílica. Formam uma massa marrom-cinzenta de eu-não-sei-o-que. Parece que tentar prever tudo não é algo capaz de realmente me ajudar a ver mais do que alguns palmos à frente.
Tenho o tempo à minha frente, me dizendo sobre tudo o que pode dar errado. Tenho a imaginação de todas as pessoas da minha vida falando para mim sobre como eu estou fazendo tudo errado. Como dou nomes às coisas que sinto para criar desculpas. Ouço a mim mesmo pedindo desculpas. De novo, e de novo, e de novo.
Tenho sentido muito frio. Tenho dormido tarde. Tenho acordado cedo e ticado toda a lista de coisas para fazer. Tenho pensado muito e sentido muita falta do meu pai. Tenho olhado para essa cidade e pensado que ela é acelerada demais. Barulhenta demais.
Eu tenho o dia seguinte na minha cabeça. Tenho o barulho dos ônibus e carros na rua e a tela do computador à minha frente. Imagino que descanso a cabeça sobre minhas duas mãos e espero até que o barulho passe. Imagino que corro para a cozinha, sem conseguir dizer tudo o que conseguia. Imagino as palavras escorrendo.
Imagino que o mundo não deveria doer.
Tenho imaginado a minha cabeça em um estado menos caótico. Tenho imaginado as listas e as teclas do computador. Tenho imaginado o que tem à minha frente e que não consigo ver. Eu tenho olhado para a madrugada e tenho tido medo. Tenho olhado para a madrugada e pensado em não sentir dor vendo que o dia já vai nascer.
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Boletim de Anelândia: #16 - Esquecidas no churrasco (Histórias inacabadas)
Publicada originalmente em 19 de Abril de 2023.
Olá, pessoas! Sejam bem-vindos a mais uma edição do Boletim de Anelândia. E nosso tema de hoje é sobre algumas das minhas histórias inacabadas, ainda mais da época em que eu escrevia nos meus cadernos. A maioria delas cheguei até a postar em algum lugar, mas vida e outras coisas fizeram com que eu não as continuasse. Estão preparados para conhecê-las? Bora então!
A autora que mais começa do que termina
Nesses meus mais de 15 anos - praticamente 20 no ano que vem - escrevendo minhas histórias e sempre com mais ideias do que tempo ou até disposição, acabou que aconteceu de muitas eu acabar começando e não terminando. Especialmente as que comecei na adolescência e como jovem adulta - lembrem que eu sou uma pessoa com 30 já. E bom, admito, que no meu começo como escritora, quando era só hobby ou algo que eu fazia mais para diversão, eu não tinha tanto compromisso com o ato de escrever e muito menos de terminar. Tudo bem que o primeiro livro que eu terminei eu já estava com 16 anos. Contudo, se for levar em conta a quantidade de livros que tenho e ainda estão incompletos, é bem maior do que quantos eu terminei mesmo. Oficialmente, eu terminei estes aqui: JV1, 2 e 3; O Diário da Escrava Amada; ASA (Versão 1); A Filha do Conselho; Contemporânea Erótica. Ou seja, haja fogo no cy para começar, mas para terminar vai acabando. haha (E lembrando que estou falando aqui sobre livros mesmo, porque se for levar os contos, eu terminei vários mesmo!)
Eu mesma vendo a lista de histórias que eu crio, escrevo e não continuo!
Falando um pouco sobre algumas inacabadas…
Resolvi separar um espacinho para falar um pouquinho sobre histórias que amo bastante, mas que eu ainda não terminei, seja por que motivo for. Algumas delas só parei porque comecei outra logo depois ou eu perdi o arquivo ou fui atropelada pela vida na época e perdi a vibe… Enfim, muitos motivos! Espero que gostem de conhecer um pouco sobre elas!
Sasaki, a mulher samurai
Essa aqui foi uma das primeiras que eu postei no Nyah Fanfiction, antes até do DEA. É sobre uma onna bugeisha - que nada mais é do que mulher samurai, só não conhecia o termo na época - e ela vai contando a história de vida dela. Sobre ser rejeitada pela própria mãe, pois ela é a primogênita da família, só que ela queria um menino. Ela acaba sendo treinada pelo pai e quando tem idade suficiente ela sai de casa para trabalhar como samurai. Eu sei que isso nem deve ter tanta relação com o que aconteceu mesmo nesse período no Japão, mas era uma história bem gostosa de escrever. Na minha cabeça, eu já tenho o final dela, que tá planejado para ser uma desgraceira que só! Por outro lado, preciso talvez mexer muita coisa para continuar.
As Princesas Gêmeas
Em resumo é A Princesa e a Plebeia - sim a da Barbie - misturado com ASA. Nunca falei isso aqui, mas eu tenho algumas histórias que quando eu imagino na minha cabeça, acabo vendo os personagens desse livro que eu amo muito. É uma história medieval, com castelos, princesas e claro, uma guerra né? Nem é tanto spoiler, mas a mãe das gêmeas - que é a rainha - ficou grávida delas antes de ser desposada pelo rei, então ela forjou tudo para se proteger. Porém, o rei ao ver que eram duas meninas, quis se desfazer de uma delas e deu a empregada que teve um natimorto - mas que era um menino. Inventando assim toda uma história para todo mundo! No seu leito de morte, ambos revelam os segredos e agora a rainha pode procurar a sua filha perdida, porém ela tem que lidar com uma crise no reino. Sua outra filha, não querendo se casar com o rei de um reino vizinho, simplesmente foge e acaba se encontrando com a sua irmã gêmea e o destino delas finalmente se encontra. É um enredo um cadinho complexo, mas eu gosto bastante e nos meus planos vai dar é muita treta. Essa eu parei porque estava num HD antigo e nem sei se vou conseguir recuperar, mas eu estava no comecinho do capítulo 3 nela e eu publiquei 2… Então, não é impossível de continuar!
Entre os punhos e a arena
Essa aqui é uma das loucuras que eu cometo de escrever coisas inspiradas em mim e no meu “conje”. Só que essa chega a ser na cara dura mesmo! Basicamente, temos a personagem jornalista e o personagem que é lutador. Eles se conhecem na adolescência, enquanto treinavam karatê numa academia. Ela era bem ruim em combate, mas ótima em teoria e ele, um ótimo combatente. A menina era um pouco excluída do grupo e como ele era o aluno, acabaram se tornando companheiros de treino e amigos. A vontade do garoto era ser o melhor da academia, desafiando assim a pessoa que ocupava o posto no momento. Contando com a ajuda do seu sensei e da amiga, ele treina para tal. Porém, no dia do grande combate - que se tornou um evento enorme - ela acaba saindo de mudança para outra cidade, por causa de um novo emprego do pai da família. Assim, eles acabam separados por anos, até se reencontrarem. Eu sei que o nome dessa história é horroroso, mas ela está nos meus planos de reescrever - deve ser a próxima que vou pegar para mexer - e esse nome vai sair. Fé na deusa! Só parei ela porque eu me engajei no DEA na época. Inclusive, vou deixar esse trecho dela aqui, porque é um dos melhores trechos de Anelândia todinha:
O toque fez o instinto de defesa dele se ativar. Marc virou o corpo, com o punho fechado. Amélia agarrou o soco. O olhar dele se arregalou, impressionado. A garota falou: – Você ainda começa com a direita!
Amor de Verão
Essa aqui é inspirado em música japonesa, de novo! Dessa vez, na Ayumi Hamasaki e em Summer Diary. É uma história curta, nos meus planos, onde uma garota vai passar um tempo num local de praia e acaba se apaixonando pelo dono da pousada em que fica, se envolvendo com ele e tudo o mais que tem direito. A ideia era ter cinco capítulos, mas assim como Princesas Gêmeas, está perdida no HD e nem sei se vai dar para recuperar. Mas, era bem divertido de escrevê-la!
Guilty Angels
Essa aqui é um dos amores da minha vida! E uma exceção, porque esse projeto não era só meu, mas em parceria com a minha amiga (e maior fã): Ingrid. Eu não lembro de onde surgiu, mas a história é basicamente sobre uma academia de música que forma novos artistas para o mercado. Temos dois protagonistas, que são o Niels e a Shayera. Ele é amante de rock, mas acabou sendo escalado para uma boyband com mais três garotos, que viraram seus amigos. Só que o desejo é ter uma banda e ele não sabe como resolver isso. Ela é a aluna novata, mas que logo nos primeiros dias acaba revelando um enorme potencial e posteriormente acaba sendo até adiantada de “ano” na academia. Mas, a história começa porque Shayera perde uma letra de uma música que escreveu, o Niels acaba encontrando e fica em busca da dona da canção. Era uma história tão divertida de escrever, porque eu amava a dinâmica dos capítulos entre os dois personagens. (Sem contar que eu brinco que o Niels é um JV 2.0.) O projeto só parou porque a gente parou com ele também! Mas, tem praticamente mais de vinte capítulos dele. (Inclusive, o nome do primeiro capítulo é “o Bias que queria ser um deus do rock”. Na moral, eu fui luz com esse capítulo!)
Mate-me se for capaz (Pseudônimo Kyon Hiryu)
Lembro de ter falado brevemente sobre esse livro na edição sobre ter pseudônimo, mas ele também entra na leva dos que ficaram inacabados. A história - que eu tinha pensado numa ideia mais medieval - é sobre uma briga por herança entre a madrasta e a enteada, após o falecimento do pai da família. É uma história de ação, com aquelas pegadas de agentes, com as duas praticamente e quase se matando por causa de dinheiro (mais a madrasta que a filha). Essa história ainda tenho salva num drive, eu só não continuei mesmo, de vez em quando não tem um bom motivo.
Esse daqui eu nunca vou terminar de escrever…
E dentre tantas inacabadas, claro que existe aquelas que realmente desisti e não vou terminar mesmo. E para a sorte de vocês, é só uma e vou falar dela rapidinho.
Sayonara Days
A começar que esse nome é horroroso, num sei o que tinha na cabeça quando pensei nele. Da forma que o JV foi pensando para homenagear os meninos, pensei nessa história para homenagear as meninas do ensino médio. A ideia era só ser um grande apanhado das nossas histórias reais da época, usando apelidos nos nomes para evitar processo. Mas, os anos passaram e bem, até tinha um roteiro pros capítulos, mas eu não iria me lembrar sequer da metade dos acontecimentos. Enfim, fica de lembrança os poucos capítulos que escrevi dela, porque não vou terminar!
Tem algum problema em não terminar os livros?
Vocês devem ter chegado nessa altura dessa edição assim: Garota, quanta coisa você nunca terminou né? Tem vergonha não? Olha, por um lado confesso que até tenho vergonha, não de não terminar, mas talvez pela minha falta de foco e um cadinho da minha afobação adolescente que começou a escrever muita coisa e fazia por diversão. Mas, escrever é um tipo de arte e é um processo pessoal para cada autor. E bem, eu sou a pessoa que menos julga outros autores seja pelo que eles façam. Pode ser se comece uma história e depois perca a vibe, perca os arquivos. Enfim, são muitos motivos que causam este abandono! E realmente ter histórias que começam e não sabemos como terminar e só deixamos para lá mesmo, o que é o caso da última que contei por aqui.
Bem, pessoal, é isto! Espero que tenham gostado da edição de hoje. Até o próximo Boletim de Anelândia!
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pois é … estava qrendo partilhar com vcs … um pensamento q cultivei esta madrugada … para continuar nosso assunto de ontem
então … qdo pensamos nos eventos … cujos indícios apontam cada vez mais certeiramente para o dia 18 q vem … falamos no sol escurecer … e prevemos consequências verdadeiramente desastrosas … ainda farei uma live para podermos meditar mais profundamente sobre estas consequências e as providências q devemos tomar ( … aliás … acabo de lembrar … q há muitos anos … fiz este tipo de reflexão … deve estar em algum lugar do nosso canal no youtube … rsrsrsrsrsrsrs )
e tenham certeza de uma coisa este é um evento bíblico … sim … as escrituras … o pp Sr. Jesus … nos advertem que o sol vai escurecer e a lua vai perder o seu brilho
contudo … tlvz … o próximo primeiro evento possa vir a ser outro
estou pensando em algo q tb Nossa Senhora nos fala e adverte … embora sempre me pareceu muito estranho
trata-se de … como direi … acabarmos … nós mm … mas tb os objetos … e até alguns bem grandes … mas acabarmos levitando … como se estivéssemos no espaço sem gravidade
e não é q agora … os cientistas me vieram com esta … dizendo q o sistema solar não é só constituído de 9 planetas ( deixemos a de lado a discussão de plutão ser uma anã … ) … mais o cinturão de asteroides … não … eles descobriram recentemente um 10º planeta … maior q plutão …
sei lá q órbita isto faz … na vrdd eu não me inteirei muito da matéria … até não dei bola … mas como falam muito em nibirú … e sei mais em q astros … fiquei pensando …
e se de fato … eles descobriram algum astro … e este for grande … e se aproximar de nós … imaginem a revolução q isto pode causar nos nosso planeta … e durante todo o tempo em q ele estiver passando … imaginem … em primeiro lugar os oceanos … depois as coisas q estão na superfície do planeta … e até nós mm … e vermos todos estes corpos atraídos pelo astro … ( e o q sobe … um dia tem q descer … rsrsrsrsrsrsrs … ) … e imaginem o q isto pode causar nos sistemas elétricos … e nos satélites … e … e … e …
enfim … q vcs pensam … poderia ser até mm este o primeiro evento … ( e q um dia acontecerá … ah … isto é certo … ) … pois Nossa Senhora já avisou
então … deixem seu comentário … e um dia faço uma live … e vamos ver q providências podemos e devemos tomar
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vou postar aqui porque ja me aconteceu comentar cenas no twitter e paginas oficiais responderem e nao quero isso outra vez:
tava a ver o programa da feira do livro do porto e vejo la que vai haver uma sessao de conversa com o sergio godinho, passo-me, passo a mensagem ao meu irmao, vou para tirar screenshot e o site tem um pequeno peido cerebral e de repente ja nao consigo encontrar essa parte do programa. se calhar teve de ser cancelado e atualizaram o site mesmo quando eu tava a ver. pqp. queria mesmo ir ver o senhor e o que tinha para dizer. oh well. mas ter apanhado o momento que foi atualizado foi super esquisito pensei que tava a entrar em loucura
#este site tbm#pelo menos no firefox e com a minha net#impressionantemente desfuncional#mas ja vi que pelo menos a editora urutau vai la tar#ano passado levei 3 livros comi-os super rapido e adorei#tenho de me preparar para deixar la um rim este ano#tava a considerar ir varios dias mas tenho que trabalhar pqp#queria mesmo ver 2 dos filmes e outra das conversas#tem alguns concertos que tbm parecem fixes mas tenho de reduzir ao maximo o tempo que gasto fora de casa#ver se acabo este ano#speaking of which fiquei com medo de ver um dos meus stores no programa#fortunately he isnt#the piece of shit#ele anda em festivais de cinema no porto#tipo na organizaçao#tudo onde ele tiver eu nao ponho pe fdp#ai#por um lado quero explicar a minha frustraçao com ele por outro hmmmm better not give identifiable details#o que disse em cima ja é bué#on the other hand queria muito ver outro stor meu mas nao ta no programa pelo menos sob um nome que eu reconheça#ele ta em algumas bandas i think portanto ate pode ir ou ja foi la atuar
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Isolamentos
Fui dormir e acordei com o bebê chorando. Alarmada, abri os olhos, lembrei que não tenho filhos. Relaxei. Queria voltar para meus sonhos, mas o bebê continuava chorando e eu havia despertado. Olhei as horas, 7h30. Parece um desperdício acordar cedo em um dia de folga, ainda mais quando se está cansada. Porém, não conseguiria pegar no sono com aquela choradeira na vizinha. Levantei contrariada, desejando poder prover um isolamento acústico para este apartamento. De qualquer forma, pelo que deu para ouvir das conversas nem um pouco baixas da vizinha, ela estava cuidando do neto por uns tempos. Era o primeiro dia do bebê dormindo na avó e a criança parecia apegada à mãe. Às vezes eu conseguia distinguir um 'mama' entre os berros do bebê, aos quais a avó respondia gentilmente: “ não é mama, é vovó”. Era uma boa mulher, nova para ser avó, passava pouco dos 40. Ela tinha um filhinho de cinco anos que ficou empolgado com o sobrinho e pegava fogo com a sobrinha, irmã do bebê. A menina tinha a mesma idade do tio e, na maior parte do tempo, davam-se bem. As paredes que separavam os apartamentos eram de tijolos duplos, ou seja, o problema era que a vizinha era mesmo escandalosa. Não sabia medir o volume da própria voz: conversava alto, ao cantar competia com o volume do som, falava ao telefone aos berros. Certo dia cheguei a me convencer de que ela não precisa usar o telefone — certamente, com o vento a favor, os parentes do interior a ouviriam se ela gritasse na direção correta. Tenho um certo pavor que outros saibam da minha vida e não sei se a vizinha sabe que fala tão alto. Será que devo avisá-la? Será que tem essa consciência? Ou simplesmente não se importa? Será que ela me escuta também? Acho que de vez em quando sim, ela me escuta, quando bebo umas, canto e danço com a vassoura. Bom, isso é raro e todo mundo extrapola às vezes. A verdade é que eu poderia ir lá falar com ela: “Oi, me desculpa, sou sua vizinha do lado direito... Sim, tem gente morando lá... gostaria de saber se sua tia melhorou da gripe, pelo telefonema de ontem parecia que ela estava mal, espero que ela se recupere... Como sei disso? Ouvi por cima do volume máximo da minha TV. Eu não quero me intrometer em sua vida, mas você bem que poderia falar um pouco mais baixo, por favor”. Bom, talvez eu não fosse tão atrevida e meu discurso fosse atenuado ao ver uma cara bondosa abrindo a porta. A verdade é que não tenho coragem de falar com ela, eu poderia piorar as coisas, ela poderia começar a fazer barulho por querer. Poderíamos evoluir, sermos vizinhas que discutem e que acabam aparecendo no jornal. Eu poderia ser presa por homicídio qualificado (motivo fútil) e acabar na cadeia, onde o barulho e a falta de privacidade seriam meus menores problemas. Ou acabaria a sete palmos, onde a terra seria um excelente isolamento acústico. Pena que meus ouvidos já não funcionariam. De qualquer maneira, já comprei abafadores devido às noites calorosas que ela passa com o marido, então posso suportar um netinho por uns tempos. Além do mais, apesar de saber de alguns detalhes da vida dela, nunca lembro do seu nome e o pior: acho que nunca a vi, não a reconheceria no hall do prédio ou no mercadinho da esquina. Não sei quem é. Não conheço meus vizinhos, não sei se eles me conhecem, vivo em uma sociedade, não em uma comunidade. Faço meu trabalho, dou “bons dias” automáticos para quem quer que eu encontre, sorrio com facilidade para estranhos. No fim, sempre quero voltar para casa para descansar e ter paz, porém acabo ouvindo uma "rádio novela" e questionando se tenho dinheiro para me mudar para o meio da floresta. Aí me lembro, não tenho dinheiro e acabaram-se as florestas. Só temos algumas reservas ambientais e não quero roubar a paz de ninguém, nem de uma preguiça... Sei bem como é ter um vizinho indesejado. O jeito é conviver com o barulho e fazer uma doação ao Greenpeace. A consciência pesou, afinal já roubei a paz e habitat de muitos alguéns. Assim continuo a sonhar com isolamentos acústicos.
Autor: thatsns
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