#um gif meio bosta só p que não ficasse sem nada amaram ? pq eu odiei-
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sotadeboa · 27 days ago
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𝐓𝐀𝐒𝐊 𝐈𝐈. a ceifa.
os anos que se seguiram após a colheita foram pacíficos apenas na lógica dos soldados de wülfhere criados desde os oito anos de idade em um ambiente quase inóspito. não foram fáceis, longe disso, achava que era impossível se referir a qualquer dia de sua vida com uma palavra tão banal quanto fácil, mas eram uma sequência de dias rotineiros que não achava que valiam a pena serem descritos com precisão.
a única coisa que mudou dos anos antes da colheita para os anos após foi aquele ovo que passou a ser seu maior (e único) bem precioso. cuidava dele como se fosse um pai super-protetor, e não gostava nem da ideia de outra pessoa chegando próximo e colocando em risco o bem estar da criatura que sairia daquela casca, e o motivo era algo que guardava para si à sete chaves—sentia que a conexão entre ambos já existia, e que se algo acontecesse com aquele dragão antes que pudessem realmente se conhecer e se tornarem companheiros, tudo o que lutou por muitos anos, todo o sentido de sua vida iria se esvair em um piscar de olhos.
felizmente nada alarmante realmente aconteceu, e se sentia confiante de uma forma que poucas vezes experimentava quando o dia da ceifa finalmente chegou. não tinha medo, como sabia que alguns dos colegas possuíam, de não ser capaz de estabelecer a conexão no soñar. existia uma convicção em seu âmago de que seu destino a muito já havia sido traçado por erianhood, e aquilo que viveria durante a noite só provaria para todos que havia nascido para aquilo. e não só isso, mas um misto de fé e resolução dançava em seu peito, como se soubesse, sem nenhuma explicação necessária, que sua deusa o protegeria enquanto lá estivesse.
beber do cálice ao lado dos colegas foi como a última pontada de propósito que poderia precisar para saber que voltaria da viagem com o laço garantido. a passagem foi tranquila, quase como acordar de um sonho, e logo o olhar se ajustava a luz da lua que encantava e iluminava o soñar.
era uma vasta extensão de terra para todos os lados, as estrelas e a lua brilhantes no azul escuro—quase preto—do céu. algumas árvores enfeitavam o solo até onde seu olhar chegava, e conseguia notar os tons vívidos da folhas e flores mesmo tarde da noite. conseguia ver uma montanha na distância, alta como jamais havia testemunhado, mesmo com os claros quilômetros e mais quilômetros que o separavam da base. sabia, imediatamente, que nunca esqueceria a visão que tinha naquele momento, o sorriso, pequeno mas certo, que apareceu em seu rosto sendo prova daquilo.
e algo intrínseco a si dizia que deveria seguir em direção àquela montanha, que era necessário chegar perto, escalar cada centímetro daquela imensa formação, sentir a pedra sob sua mão. obedeceu o que quer que lhe comandava, sem saber dizer se era sua própria intuição ou se era o dragão o chamando, mas tinha certeza que logo descobriria.
foram algumas horas de caminhada até conseguir chegar em seu objetivo, e se já sabia que nunca havia visto nada tão alto como o que se encontrava a sua frente de longe, ali, o pescoço doendo de olhar para cima, sabia que nunca encontraria nada parecido fora daquele mundo. era quase majestoso, para alguém sempre viciado em altura, se ver perante a algo que finalmente o desafiava como pessoa.
não se demorou, e não mentiria para se vangloriar dizendo que a escalada havia sido fácil. não, muito pelo contrário, havia sido a coisa mais difícil que teve que fazer em seus dezoito anos de vida, e, pela primeira vez, sentiu um medo genuíno e palpável da altura que aumentava mais e mais a cada minuto que passava. era estranho para ele, que havia encarado o parapeito aos oito anos com tanta graça, quase se divertindo com o desafio que fazia muitos encontrarem a morte, estar suando e tremendo a cada vento que ameaçava o derrubar. pela primeira vez sentia que aquilo poderia ser a causa de sua morte, um pequeno deslize sendo tudo que o universo precisava dele para poder acabar com a sua existência.
e mesmo assim se recusou a parar, não querendo perder nenhum segundo ali, querendo logo conhecer a vista do topo, da segurança do cume daquela montanha. em algum lugar próximo a metade da subida as bolhas em seus dedos estouraram, e, se o suor já não fosse o suficiente para o atrapalhar, o sangue que a ferida trazia só deixava tudo ainda pior. em certo ponto, a dor e o cansaço físico já não computavam mais em seu cérebro, a perseverança e a teimosia sendo as únicas coisas que ainda o mantinham vivo.
chegar ao topo parecia um sonho, e não teve vergonha nenhuma de se esparramar no chão por alguns minutos, recuperando o fôlego que a muito já o havia deixado, os olhos presos nas estrelas acima. até sua visão estava cansada, a procura incessante pelo caminho certo na subida tomando tudo de si.
e foi ali, na pose que nada o valorizava como guerreiro, como soldado, que viu seu dragão pela primeira vez. assim como a lua, suas escamas cruzando o céu eram de um branco resplandecente, e o animal parecia brilhar ainda mais que as estrelas acima. estava ainda mais alto do que o topo daquela montanha, mas mesmo ainda de longe, sota conseguia sentir seu corpo responder ao laço que sabia que já tinham, de alguma forma. ficou hipnotizado com a visão, observando enquanto voava, como se ela também quisesse provar algo para ele. o sorriso que havia se formado em seu rosto ao pisar no soñar voltava a aparecer, dessa vez maior e nada contido, um brilho quase travesso em seu olhar.
perdeu a noção do tempo enquanto observava o voo da criatura, se levantando apenas quando ela—e agora de perto era capaz de reconhecer ser uma dragão fêmea—pousou a sua frente, entre ele e o precipício que havia escalado. o cansaço, a fraqueza, o medo que havia sentido nas horas que se antecederam, pareciam se esvair enquanto tomava a forma dela ali, tão perto. era ainda mais formosa do que de longe, um brilho azul criando uma aura ao redor de seu corpo. sota inclinou seu corpo, sua cabeça, em uma reverência a ela, não sabendo dizer se havia se provado digno de montá-la. esperava que sim; havia esperado por anos por aquilo, e poderia morrer atormentado se fosse renegado por ela.
se levantou apenas ao escutar o bufar vindo dela, e, anos depois, quando já tivesse desvendado todas as manias e formas de se comunicar que eles tinham entre si, viria a entender que ela achava graça, que ela estava rindo dele descaradamente. ali, no momento, tudo o que fez foi voltar a encará-la, o mesmo sorriso de antes ainda esculpido em seus lábios. ela que por fim se aproximou, abaixando a cabeça para que estivesse ao alcance de sota, em um comando silencioso para que finalmente encostasse nela. assim o fez, deixando os dedos sentirem a textura de suas escamas, e toda a certeza que havia antes sobre a conexão já existir foi por água abaixo naquele momento.
não foi uma sensação física, por assim dizer, mas conseguia constatar o laço deles percorrendo sua alma, longe do que achava que tinham antes. o que achava antes parecia um arranhão na superfície de seu ser comparado com o quão fundo realmente passou a sentir a dragão. sabia imediatamente que não existia uma ameaça, um medo, um receio ou uma pessoa que poderia se colocar entre os dois, ou que impediria sota de dar a vida tentando protegê-la. era quase como se se entregasse a ela, de corpo e alma, para que se sentisse digno o suficiente de montá-la. e sabia que ela sentia o mesmo, ou esperava que sim, já que ela se agachou ao seu lado, uma permissão velada para que ele pudesse subir nela.
sota não pensou duas vezes antes de fazer exatamente aquilo.
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