#turno: gwen evans
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parad1sekiss · 5 years ago
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GWEN EVANS : Max, Jonathan, Ace & Adam.
O cheiro de tinta fresca inunda minhas narinas e uma leve brisa, que, persistente, entra pela pequena brecha da janela do porão, faz com que meu cabelo voe para o rosto de forma sutil. Inspiro profundamente mais uma vez, com os olhos fechados, como se pudesse absorver o momento por completo naquele gesto. Comecei a reparar nas pequenas coisas do cotidiano, aquelas que ninguém mais ligava, porque parecia me distrair. Sinto o tecido do vestido florido chacoalhar - era um de meus favoritos. Costumava usá-lo durante o verão em Manchester, e muito embora já fosse meados de outono o clima em Overland Park ainda me permitia vestir roupas veranis. Gosto da sensação de andar descalça sob o piso de madeira, que dá estalinhos conforme me movimento vagarosamente pelo lugar recém reformado que logo seria meu quarto. Dividir um espaço limitado com Becca era no mínimo complicado, quer dizer, não que tivéssemos uma relação ruim, mas era uma questão de privacidade. E eu tinha uma leve suspeita de que eu estava minando o bom-humor de minha irmã com meu estado depressivo. Para minha própria sorte, papai estava habituado o suficiente com a construção civil, como um bom engenheiro, e juntos conseguimos transformar o depósito empoeirado em um ambiente, no mínimo, aconchegante. 
Sorrio para o nada, verdadeiramente satisfeita. É algo que não sinto há muito tempo, e permito-me demorar ali. Quando dou por mim, estou sentada no chão, com as pernas cruzadas e aguardando Ellen Cooper do outro lado da linha. Tento me convencer de que só quero conversar com uma amiga, simplesmente. Mas eu sei a verdade, não consigo mentir para mim mesma - almejava contato com algo que fosse dele, e a irmã era o mais próximo que eu conseguiria naquele instante. Ela também me liga com frequência e em situações aleatórias, por isso acho que usamos do mesmo artifício. A voz feminina responde e interrompo meus devaneios. Ellen parece ok e pergunta como eu estou. Minto, é claro, fabricando um sorriso para que meu tom de voz ajudasse na simulação. Já não sei mais há quanto tempo não digo verdades, especialmente quando a questão é “Como vai Gwen?”. Estou ficando boa nisso. Em mentir. Sinto, porém, que estou estacionada enquanto os demais passam por mim a duzentos quilômetros por hora e é horrível. A conversa, no entanto, é lenta e agradável - banalidades sobre a rotina, nada em especial. Não mencionamos Matt - era um pacto silencioso entre nós.
Após desligar se passam alguns minutos antes que eu acorde de meu estado catatônico, notando que meu rosto está molhado e soluço repetidas vezes tentando retomar o ar. A sensação de formigamento no meu rosto já é comum, eu acabei por me acostumar porque ando chorando com frequência. “Isso não é permanente”, diria minha psicóloga. Todos eles me contam essa mentira. Sempre. Mas o fato de Matthew Cooper estar morto é definitivo e imutável. Passo as costas das mãos nas bochechas, como se isso fosse melhorar minha aparência de alguma forma, e é quando meu pai surge descendo as escadas, com uma expressão alarmada tomando conta de seu semblante. Ele se apressa, colocando uma bandeja com chá e leite morno no chão, bem à minha frente, e se senta ao meu lado em silêncio. Aprecio o gesto e permanecemos ali durante o que eu penso ser um longo período. Meu olhar está fixo na porcelana delicada das xícaras. As pinturas são tão bregas e, ao mesmo tempo, magníficas. Gosto de analisá-las. As flores, no caso. As cores me agradam e é nisso que mantenho meu foco por enquanto, mas o silêncio é quebrado por fim e o rosto de Arnold Evans ganha minha atenção.
“Eu não vou dizer que vai passar, Gwen, porque eu sei que não. Mentir pra você tá fora de questão.” Ele começa, encarando as próprias mãos de início, mas seus olhos azuis encontram-se com os meus pouco tempo depois. “Mas fica mais fácil com o tempo. Experiência própria.” Completou, oferecendo-me um sorriso triste. Melhor do que ninguém, papai sabia do que estava falando. Ele também havia perdido alguém. A mamãe, bem quanto Rebecca nasceu. Me sinto culpada porque minhas lembranças sobre ela são vagas, distantes. Sequer consigo me recordar de seu rosto, tampouco da voz. Em minha mente ela é totalmente estática, como uma fotografia - porque é daí que conheço sua fisionomia. As pessoas costumam sair da minha vida de forma repentina e violenta. Sem chance para despedidas, é o que concluo com amargura. E então estou com os braços envoltos no pescoço de meu pai, abraçando-o. E eu não sei se isso dura trinta segundos ou cinco minutos, mas é agradável sentir as batidas de seu coração contra meu próprio peito e o afago. Queria permanecer assim pelo resto da vida, mas sei que não posso.
...
O lapso temporal entre o soar estridente da campainha e aquele exato momento, no qual eu descia as escadas com uma pressa perigosa, fora menor que três minutos. Ainda assim eu mesma estava incomodada com o feito. Odeio qualquer forma de atraso, mas dessa vez, ante meu fracasso com o babyliss e as tentativas desesperadas de manter os cachos característicos de Sandy Olsson, foi necessário. Meus fios loiros caíam pelas costas como ondas, bem longe do que eu pretendia na ocasião. Os americanos, no entanto, haveriam de perdoar aquela afronta, até porque era halloween. Abro um sorriso para Adam, que está sendo recepcionado na porta por meu pai e uma Rebecca curiosa, que faz careta quando os olhos me encontram - levemente decepcionada por eu não ter acatado sua sugestão de fantasia. Estava fora de questão, afinal, quem usaria um moletom azul e pintaria o nariz de roxo à la Violet Beauregarde para ir a um show de rock? Bem, certamente não seria eu. Opto pelo clássico atemporal, Grease, e estou confortável com isso - muito embora não seja lá o meu filme favorito. O Hatten ergue as sobrancelhas com satisfação enquanto abro caminho por seu anfitrião, com quem mantinha uma conversa que estranhamente parecia lhe interessar, e me cumprimenta com animação antes de voltar-se para papai e questioná-lo sobre meus horários. Por incrível que pareça a única recomendação é que nós tenhamos uma noite divertida, o que me causa estranheza porque geralmente duas da manhã costumava ser o meu limite. Não reclamo, é claro que não. 
“Sandy Olsson, hm? Eu gostei.” Diz o Hatten ao estudar minha roupa com afinco. “Só acho que ela não usaria o all star vermelho, deve preferir os saltos. Mas se quer saber, tá muito mais legal.” O loiro parece sincero, embora eu ainda não saiba o quão bem ele mente.
— É, eu acho que a Sandy não quebrou a perna. Mas obrigada, Alex DeLarge. — Abro um sorriso genuíno, afagando o braço que ele coloca em volta de meus ombros. — Você parecia animado, sabe, conversando com meu pai. — Não consigo esconder minha curiosidade. Geralmente meu genitor tinha costume de ameaçar rapazes, não divertí-los.
“Ah, acabei de saber que nossos pais trabalham juntos.” Balanço a cabeça em concordância, mesmo que já soubesse. É só que nunca tive oportunidade de comentar sobre. Não que eu quisesse, então não lamento. Na verdade papai trabalhava para o senhor Hatten na empreiteira, mas a forma como o loiro fala diz muito mais sobre ele do que sobre o assunto em pauta. Ainda que Adam fosse filho de um mega milionário, agia como uma pessoa comum. Finalmente abro a porta do Pontiac e escorrego pelo banco traseiro.
— Hey! Boa noite Michael Myers. — Cumprimento nosso motorista. Descobri que gosto de Ace, especialmente depois da nossa experiência de quase morte com Senhor Hanks. Meus olhos encontram Jonathan no banco do passageiro. É estranho porque, apesar conhecê-lo - e com isso eu quero dizer, tê-lo visto - há mais tempo, é com ele que tenho menos intimidade. De certo modo me sentia uma intrusa, especialmente porque parecia saber demais acerca de sua vida. A lesão. Suas visitas ao hospital eram recorrentes, as minhas também. E os corredores não eram enormes, se quer saber. — E... Hm... — Preciso de alguns segundos encarando a jaqueta vermelha para que algum nome me venha à mente. — Tyler Durden? — Chuto, porque é o único personagem possível. Havia também Peter Quill, mas considero não ser o caso. A essa altura já estamos a caminho da casa de Max.
Me sinto uma criminosa. Deve ser porque, nesse momento, sou uma. Apesar da baixa iluminação, olho para a porta de modo recorrente - como se o FBI fosse invadir o lugar a qualquer momento e nos arrastar de lá como se representássemos uma ameaça para a nação. Não era como se eu nunca houvesse feito algo errado, entretanto, ainda não tinha ultrapassado certos limites - como por exemplo apresentar uma identidade falsa a qual indicava que eu tinha quatro anos a mais, só para ter acesso à um local no qual eu certamente não deveria estar. Ultimamente estou com o costume estranho e pensar muito acerca da Lei de Murphy e isso me incomoda, mas é inevitável. Inspiro profundamente e tento identificar a música, analisar o ambiente e ao menos passar a ideia de tranquilidade para minha companhia. É o que faço. Sei que toca Dr. Feelgood porque Cooper ouvia Motley Crue volta e meia, e muito embora não fosse meu estilo de música favorito, fico grata por escutar algo familiar - mesmo que me lembre dele, não é tristeza o que eu sinto. Vejo os corpos amontoados, observo com atenção um pequeno grupo virar os copos nos lábios e sinto um déjà vu, vez que as imagens da festa de Adam me parecem muito vívidas naquele instante. Minha pulsação começa a voltar ao normal quando Ace aparece novamente em meu campo de visão, dessa vez oferecendo uma latinha que não faço muito esforço para recusar, dado o insucesso de Maxine, e agradeço. 
— Saúde! — Digo para Max, batendo a latinha da dela antes de levar o líquido à boca. O gosto é familiar, o que não me incomoda verdadeiramente. A iluminação, já precária, torna-se nula por alguns instantes, e, quando retorna, consigo ver dali as silhuetas levemente familiares. Lanço à minha amiga um olhar animado antes de me voltar para o palco, quando os primeiros acordes de Talk To The Devil soam ferozes pelas caixas de som espalhadas no ambiente. Reconheço porque Maxine me mostrou o vídeo, e confesso não ter desgostado do som. Ao vivo, no entanto, os rapazes pareciam mais vívidos e intensos. Não sei se isso se deve pela minha preferência singular às lives, porque é onde podemos avaliar um artista de forma fidedigna. A presença de palco dos meninos é incrível e sou contagiada pela multidão, gritando os versos recém memorizados com mais um monte de desconhecido. Sou uma clandestina naquele lugar, mas decido me apropriar de minha falsa identidade. Só hoje, é o que prometo a mim mesma. Um peso moderado recai sob meus ombros e invariavelmente inclino a cabeça para ouvir melhor o que Ace tem a dizer. — Eu não duvido nada! — Concordo com sua projeção, porque é uma consequência inevitável do que eu assistia naquele instante. 
Considero ter me entregue totalmente ao momento porque, quando os garotos começam a tocar Pour Some Sugar on Me, uma velha conhecida, completo a cantoria de Maxine com um entusiasmado from my head to my feet. À essa altura minhas preocupações evaporam como a fumaça do cigarro alheio, porque Max é meu porto seguro, e eu canto em uníssono com vários desconhecidos músicas que eu pouco conhecia. Estou redescobrindo o que é diversão. E é assim que seguimos até o fim do show, quando preciso passar os dedos na testa para secar as gotículas de suor que se acumulavam ali.
— Ai Max, isso foi surreal! — Confesso para minha amiga ao ir caminhando para sabe-se lá onde, com a respiração ofegante. Pela primeira vez em meses eu sinto que dei partida, não sou uma mera espectadora. — Estou feliz por estarmos aqui. Eu definitivamente adoro o Halloween. — Gesticulo para o ambiente e me recosto no balcão levemente movimentado. Sinto algo diferente em Max também, e, embora a conheça há alguns meses, é a primeira vez que vejo minha amiga se entregar daquele modo. Estou prestes a indagá-la sobre algo quando um Adam trilouco surge entre nós, vangloriando-se pela garrafa de um álcool não identificado que carregava consigo. Ele nos convida para um segundo show, e lanço à morena um olhar de confusão antes de me dar conta de que a rodada de apostas seria aberta naquele instante, visto os seis shots alinhados no balcão. Me aproximo dois passos da minha Doroty favorita, com nossos ombros colados um ao outro. — Eu me pergunto o que eu faria se Adam entrasse em coma alcoólico, se é que isso é possível. — Digo em um sussurro, ainda que eu tenha a teoria de que, ao invés de sangue, é álcool que corre por suas veias.
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etiennesc · 3 years ago
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ei, você aí! você deseja jogar com / ter algum desses rostos como opposites?
tom holland
joshua bassett
kristine froseth
olivia rodrigo
elle fanning
sabrina carpenter
diana silvers
robert pattinson
quer jogar com alguma dessas temáticas?
pride and prejudice au / bridgerton au
10 things i hate about you: BETS!!!!! BETRAYAL!!!!! DYNAMIC PEOPLE!!!!
please-be-my-fake-date-to-my-parents-christmas-party
peter parker x gwen stacy / mj watson
prince x princess betrothed since birth but only met as kids, hated each other but now they're hot & have a nation to rule
...
we’ve hated each other since grade school and i’m the good girl and you’re the boy who’s constantly in trouble but we were on a school camping trip and got lost because we were too busy fighting with each other and i realized how beautiful your eyes are ??
pureblood slytherin x muggleborn gryffindor
lily evans x james potter!!! nunca joguei e sempre tive vontade!!!!
something based on feyre/rhys or jude/cardan?? fae/mystical prince or lord meets heroine, maybe enemies to lovers, she has to pretend to be his concubine and they fight together against a bigger enemy
vem comigo e vamos resolver isso!! 
nas letras miúdas deixo avisado: gosto de plotar headcanon igual maluca, jogo no tumblr mas podemos jogar no discord se quiser, tenho pouco tempo disponível por causa de faculdade/trabalho (provavelmente vou procrastinar responsabilidades plotando) e também gosto de enfiar inglês em turno. mas eu sou legal, juro 🥺
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parad1sekiss · 7 years ago
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GWEN VIOLET EVANS (& Maxine)
Somente Max era capaz de me convencer a comparecer à uma festa naquela situação deplorável. Perna quebrada, além de não estar muito disposta a aproveitar coisas boas nos últimos tempos – tipo álcool, e rapazes bonitos. Tudo parecia meio “ok”, nada bom demais, talvez até um pouco péssimo. A verdade seja dita, eu não queria verdadeiramente estar ali, mas minha nova amiga e Adam certamente não lidaram bem com a rejeição do convite e foi necessário um pouco de insistência para que pudesse finalmente concordar.
A grama estava com uma temperatura agradável, apesar de já estarmos em meados de outubro. A essa hora em Manchester provavelmente a galera da piscina estaria congelando, e um resfriado seria certo. As pessoas dançavam animadas, conversando energeticamente umas com as outras, dando breves bebericadas nos copos repletos de – eu tinha certeza – alguma coisa que não era suco.
Sentarmos naquele local, um pouco afastadas do que poderia definir como “núcleo” da festa assegurava a mim e Max uma visão privilegiada de tudo o que acontecia por ali, e ainda garantia um sossego suficiente para que uma conversa fosse viável. Minha perna fraturada doía só de pensar em algum momento levantar dali. Permaneci em silêncio durante um tempo, apenas observando tudo que acontecia a alguns metros à frente.
Encarei para o celular durante uma fração de segundo, com a finalidade de olhar as horas. Já havia esquecido. Procurei Max na multidão – ela havia desaparecido entre as pessoas há algum tempo à fim de buscar algo para bebermos, visto que era completamente inviável andar de muletas entre todas aquelas pessoas bêbadas –, mas, infelizmente, meu olhar acabou se prendendo em um rapaz. Ele usava um coque prendendo parte dos cabelos de tamanho mediano. Eram pretos, como os de Matt.
O jeito de andar, a barba por fazer, o estilo das roupas. Era incrível como cada milímetro daquele rapaz me fizesse lembrar de Cooper. O psicólogo falou certa vez que era comum encontrar características de certa pessoa em qualquer canto quando se sentia falta, mas eu não estava vendo isso apenas porque queria ver isso. Na verdade, era a última coisa que eu esperava naquele momento. Aliás, Max retornara, estendendo um copo em minha direção.
– Ah, obrigada! – Despertei-me de meu devaneio estendendo a mão. Dei um gole em alguma coisa que parecia suco de frutas com um leve toque de álcool. Deveria ser a coisa mais leve dali. – Hm, seus colegas são sempre animados assim? – Apontei com a cabeça para alguns rapazes que arrastavam outro para a piscina contra a vontade – detalhe, ainda completamente vestido. Franzi o cenho ao ouvi-lo cair na água.
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parad1sekiss · 6 years ago
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GWEN EVANS ➛ Jonathan; Joshua; Alec; Max & Adam.
Entrar em uma escola nova logo no meio do semestre não era algo que eu chamaria de agradável. Para melhorar um pouco as coisas, papai fizera questão de me deixar bem na entrada, como se não fosse humilhação suficiente estar acompanhada das boas muletas – que quase viraram lenda na noite que se passou. Em um resumo rápido e básico, eu estaria chamando menos atenção se estivesse rodeada por placas neon apontando em minha direção. Nunca lidei bem com isso, e acredito que não seria à essa altura que aprenderia. Penso em Maxine à medida que vou dando meus passos capengas para o interior do prédio, a essa altura já abarrotado de adolescentes mal-humorados com a semana que se iniciava. Se ela estivesse aqui comigo, talvez os olhares curiosos não incomodassem tanto, mas as coisas não estavam saindo como havia planejado.
Vou até a secretaria – a qual encontrara com muito custo, e aguardo a lista de matérias que seria atribuída a mim, torcendo para que meus dias não começassem com a tortura medieval chamada exatas. Enquanto imprime os papéis, ouço a mulher baixinha de meia idade cochichar algo para um rapaz que se apoia na mesinha da impressora e ele levanta o olhar de forma muito indiscreta. Do pequeno diálogo, consegui distinguir poucas palavras – Inglaterra, acidente, pobrezinha. Ela certamente estava falando do episódio com o carro, logo quando cheguei em Overland Park, mas obviamente aquilo me remetia à Cooper, e tudo que vinha acontecendo desde então. Isso, penso comigo mesma, ela não tinha como saber.
Encaro o relógio com ferocidade, como se pudesse fazer o tempo passar mais rápido para escapar dali o quanto antes, mas parece não dar muito certo. A secretária – Sra. Harvey, acabei de ler no crachá – retorna com uma calma incômoda e um sorrisinho discreto no rosto, repousando a folha no balcão e traçando um mapa imaginário da escola com os dedos gorduchos. Preciso me esforçar para manter uma expressão amigável enquanto tudo que queria era voltar para casa ou me trancar em algum canto para tirar um cochilo. Adam era louco de fazer uma festa no domingo, mas nós éramos igualmente loucos de comparecer. Tudo bem, foi um dia engraçado – depois do pânico, consegui dar boas risadas na companhia de Ace.
Agradeço e analiso a folha com os horários a fim de descobrir quais seriam as matérias que deveria lidar naquele ano. Com o currículo próximo ao que estava acostumada na Inglaterra consigo me acalmar e sair para o corredor, um pouco mais vazio do que estava momentos antes. Ainda tínhamos alguns minutos antes da primeira aula, então optei por sair em busca de Max.
Após uma pequena caminhada ao refeitório, finalmente estou sentada ao lado de minha amiga e com muitas preocupações a menos, apesar de não estarmos mantendo um diálogo propriamente dito – estava muito cedo, e as olheiras debaixo de meus olhos denunciavam que, bom, eu não estava tão bem. Não sei ao certo como, quando e porquê, mas duas figuras animadas de materializam em nossa frente. A julgar pela disposição invejável em uma segunda-feira pós-festa, suspeito estarem extremamente acostumados com isso, e invejo de certa forma a resistência abençoada dos rebeldes. Reconheço-os da festa, e muito embora tenha trocado algumas palavras com o tatuado, ainda não sabia o nome dele.
Max havia me alertado da existência de uma pirâmide social em Overland Park High School, e que a maioria dos estudantes dali a seguiam à risca. Olhando o refeitório de forma despretensiosa, aquilo ficava bem claro – exceto pelos rapazes sentados conosco, o resto fazia muito sentido. Bom, era uma grande besteira. Acidentalmente meus pensamentos retornam há alguns minutos atrás, e quando dou por mim minha testa está franzida. Mas isso só até Adam aparecer, e esgueirar-se entre Alec e Joshua – em meio a conversa dos dois consegui captar os nomes. Sorrio ao vê-lo, mas preocupação por seu estado físico me causa um desconforto singular, e acredito ter passado muito bem essa ideia para ele, pois tenta me acalmar com um meio sorriso forçado. Bom, não adiantou nada.
Encaro a ferida nos lábios de Adam enquanto Joshua coloca-se a falar indiscriminadamente sobre uma viagem para a praia, e passa os dados de uma casa que, ao que parecia, pertencia a seu pai. Isso faz com que eu me sinta uma intrusa – deveria estar ouvindo essa conversa mesmo? – e passo a fingir melhor que não estava nem aí para o que diziam, encarando com afinco a folha de horários a fim de memoriza-los com mais facilidade. Dou uma pausa instintiva só para notar o garoto loiro chegar – aquele da festa de ontem – e cutucar Adam com uma preocupação estranha. Me pergunto como as pessoas tinham disposição para resolver seus problemas em plena segunda, sete e meia da manhã. Tudo que pego da conversa é Max questionando se havia sido o vizinho louco dos Hatten – vulgo sr. Hanks – que teria chamado a polícia. Os dois rapazes que estavam de pé, entretanto, negam de pronto o questionamento de minha amiga, e o moreno emenda um comentário casual que me causa alarme.
– Não faria mal à uma formiga? Talvez. Mas a regra certamente não se aplica à adolescentes assustados correndo pelo gramado dele. – Não chego a ter certeza de Adam ouvira, quer dizer, seria bom que sim porque ele precisava ter noção dos perigos do outro lado do muro. O velho tentou atirar em mim, e isso por si só era bem bizarro. Engraçado depois que passou, mas bizarro. Noto Alec rindo um pouco, certamente se recordando da cena protagonizada por Ace. Céus, como chegamos a esse ponto?
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