#tem muita pouca gente atendendo e parece tudo estagiário
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Top 10 ineficiências número 1: atendimento da receita federal
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Inquieta desde sempre, Dandara vive em uma busca constante por novos aprendizados. Pouco depois de formada, insatisfeita com o modelo de trabalho das empresas pelas quais passou e com a pouca troca entre os setores, decide montar o seu próprio estúdio para ter a liberdade de colocar em prática tudo aquilo em que acreditava: um trabalho de criação de qualidade, que se desenvolve através da pesquisa e da troca de conhecimentos, em um processo multidisciplinar.
Hoje, o estúdio que começou como Ap303 amadureceu e tornou-se Voulta, dentro do qual ela desenvolve todas as atividades administrativas relacionadas desde o gerenciamento dos projetos, ao setor financeiro e ainda consegue dedicar-se à criação.
Mais em: http://www.voulta.com/
Como funciona o seu processo criativo dentro do estúdio?
Esses processos variam muito, de acordo com as nossas fases. A gente já teve fases nas quais éramos só nós dois, já tivemos dois estagiários; um estagiário e uma artista plástica... Então os processos mudam muito e, quanto mais gente envolvida, mais distante a gente fica da execução e mais próximos da parte conceitual.
Eu, no geral, tive altos e baixos ao longo desses anos, porque comecei a me envolver com outras áreas, no estúdio, que não só o design. Como eu sempre estive mais próxima do atendimento, sempre fiquei muito presente nessa parte conceitual. Para alinhar o pensamento do estúdio com a expectativa do cliente.
A gente sempre teve essa preocupação e esse foco muito grande na pesquisa. Muitas vezes, até, isso já tomou muito mais o nosso tempo do que a fase de colocar a mão na massa, mesmo. Eu até brincava com o Biano, que quando eu pegava algum projeto, eu demorava, porque ficava trabalhando nisso no meio tempo, entre emitir uma nota e mandar um email, mas na hora em que eu parava, matava um trabalho que seria de muitos dias em um só. Porque, na verdade, eu fui construindo uma habilidade de ir absorvendo informação para aquele projeto, dentre as mil outras atividades que faço.
Conta um pouco sobre os seus projetos? Tanto aqueles que foram importantes para o estúdio, quanto os que você mais gostou de fazer.
Principalmente na época do Ap303, a gente tinha uma relação na qual a grande maioria dos projetos eram muito prazerosos. Eu acho que isso tinha a ver com a economia da época, que era muito mais aquecida, então as pessoas se arriscavam mais, por mais maluca que a ideia fosse, as pessoas podiam arriscar. Hoje, depois desse momento de crise, elas sentem a necessidade de serem muito mais assertivas, então elas "encaretaram" muito e cortam muito nossas asas, nesse sentido. Eu sinto que o momento criativo, hoje, está meio engessado, de uma forma geral.
Então, na época do Ap303 talvez os projetos que foram mais marcantes tenham sido o Stop Motion que a gente fez para a Jezebel, porque foi um processo de experimentação e de descoberta muito grande e muito intenso. A gente nunca tinha feito Stop Motion e tivemos que lidar com tudo, né? Produção de cenário, direção, todo o processo.
Outro trabalho que pra mim também foi marcante, foi a capa da Computer Arts, porque pra gente teve um simbolismo muito grande, porque nós estávamos fora do eixo Rio-São Paulo, e fazer um projeto com uma visibilidade daquela foi muito importante. Até hoje é um projeto que a gente gosta muito do resultado.
Dentro da relação com o cliente, até que ponto vocês acatam as ideias ou as sugestões deles e o quanto vocês insistem no conceito de vocês?
Tudo depende da nossa fase no estúdio. Antigamente a gente peitava mais. Principalmente porque o momento econômico era mais favorável e as pessoas que vinham atrás da gente queriam essa ousadia. Na fase do estúdio em que tinha muita gente trabalhando, eu já não podia fazer isso. Tinha que ser mais flexível, por conta de uma estrutura que precisava ser mantida. Aí você eu já segurava mais a onda e precisava ceder. Mas, no geral, a gente defende muito as nossas ideias e os caminhos.
Eu acho que o amadurecimento, com o tempo, foi mostrando pra a gente que – e eu acho que isso é um problema do designer – que a gente também tem que saber ouvir, e que isso é um exercício diário. Por mais que aquele cliente não tenha o conhecimento e o embasamento que você tem, estético e conceitual, às vezes ele tem um aprofundamento maior sobre "para quem você está fazendo aquele projeto". Então hoje em dia a gente é mais tolerante nesse sentido. A gente continua defendendo como a gente defendia, só que com a maturidade de entender que a gente também precisa ouvir.
Quando a gente trabalha em formatos menores, a gente tem contato com níveis da empresa que não tem uma responsabilidade tão grande quanto a de uma multinacional, então são pessoas mais próximas de você, que acompanham o processo mais de perto. Quando as empresas são maiores, as dificuldades também crescem e chega uma hora que não dá mais para argumentar.
Quais são as suas referências? Quem você admira?
Recentemente, pensando em mulheres, eu fiquei muito encantada com a Paula Scher, que eu conhecia de nome, mas eu não conhecia o trabalho. Tem a Vanessa, que é uma referência no Brasil e é uma pessoa próxima, que me ajudou muito, em diversos momentos. Tem a Jessica Walsh e o Sagmeister, como um modelo de negócio ousado, eles são bem fortes pra gente. O Push Pin, o Milton Glaser e Alexandre Wollner, com a história dele, né? Como peça importante na construção do design brasileiro. Acho que é isso.
Você acha que o fato de você ser mulher interfere na sua linguagem gráfica?
Eu já me perguntei isso algumas vezes e no meu caso, eu acho que sim. É uma questão que desde quando eu comecei a refletir, comecei a pensar em como não ser assim, sabe? Mas, por outro lado, reconhecer que isso não é ruim; é mais uma busca minha, mesmo, por tentar experimentar coisas diferentes. Eu só não gosto quando isso é uma limitação, mas eu acho que passar uma feminilidade no trabalho pode ser, sim, uma característica legal.
Você já sentiu alguma dificuldade na sua carreira, ou alguma abordagem inadequada por conta de ser mulher?
Não sei se é de uma inocência minha, ou se realmente não existia, mas eu nunca senti uma diferença com os clientes pelo fato de eu ser mulher, muito pelo contrário. Eu sentia que tinha uma abertura maior quando eles eram atendidos por mim, do que por Gil ou pelo Biano. Traz uma proximidade, que eu não sei se é por conta do meu caráter, do meu jeito de ser, ou pelo fato de eu ser mulher, mas eu sinto que provocava essa proximidade maior.
No começo da carreira eu senti uma dificuldade, por ser mulher da criação, na grande maioria dos lugares em que eu trabalhei. Inclusive já fui assediada por um colega, que veio querendo me beijar na boca. Na época eu era estagiária, então talvez isso tenha me chocado mais. Foi bem bizarro. Acho que tem um pouco do fetiche, né? Ser nova, estagiária, solteira, sabe? Ele tem sorte que ele é uma pessoa boa e que eu gosto dele, mas ele errou e errou feio.
Na época, eu não tinha o entendimento nem a maturidade que eu tenho hoje. Achava engraçado ver os meninos falando de mulher, aquelas coisas bem machistas, aquela era minha forma de conseguir estar ali no meio: no mínimo achar graça. Hoje eu vejo que me salvei, porque é um ambiente extremamente machista e acho que o trabalho da mulher é visto sempre como fofinho e delicado, parece que é um trabalho que não tem força e acabam vindo as demandas mais nesse sentido pra você. Que não era ruim, eram demandas que eu gostava, mas que acaba me restringindo, por uma questão de gênero mesmo.
Como é para você, equilibrar a vida pessoal e profissional?
Aqui o equilíbrio [pega o filho no colo]. Acho que esse é o grande desafio da vida da mulher e mãe nesse planeta. Porque é muito, muito, muito difícil. Eu só não digo que é impossível, porque eu estou conseguindo dentro da nossa correria, mas é muito difícil e é uma crise gigantesca na cabeça da mulher depois que ela tem filho, ou quando ela pensa em ter.
No meu caso, eu acho que eu tinha um preconceito muito maior, meu, em dizer para o cliente, ou demonstrar em uma ligação que Bem estava do meu lado, do que as vezes isso geraria um desconforto na pessoa que eu estava atendendo. Então eu acho que às vezes falta nas mulheres pensar em novos formatos.
O que eu vejo como uma maneira de manter esse equilíbrio é ter algum suporte do lado, seja ele qual for, seja o homem, a mulher, a mãe, sei lá. E sinto que falta um pouco de ousadia e de tentar quebrar a cabeça sobre como ter outros formatos. Se é sugerindo na empresa em que você trabalha ter um berçário... A Tátil, por exemplo, tem um super berçário. Então eu acho que tem transformações dessas que, se, a gente pensa somente: “Bom, eu tive neném, não vou poder trabalhar, tenho que ficar em casa, não tem como, não existe outro formato”. Não! Vamos sugerir, vamos tentar flexibilizar os horários, porque aí eu acho que as pessoas vão entender mais, e inserir melhor essa mulher no mercado. Eu acho que o equilíbrio vem daí, de você tentar, pelo menos, propor outras formas de fazer pra continuar sendo mulher, mãe e profissional e de você ter clareza do que quer. Porque tem fases, mesmo, em que tipo, eu, que nunca pensei que fosse pensar nisso, penso: “Ah, não quero nem trabalhar mais, quero ficar só cuidando dele, porque nessa fase eu acho importante estar perto dele”. Então se você tem muito claro que você quer trabalhar, e que você quer estar junto do seu filho, fica mais fácil buscar um equilíbrio. É melhor do que você ficar lutando porque tem que trabalhar e todo dia quando você vai deixar seu filho na creche você vai chorar; vai ficar triste porque você só fica com ele de noite; vai se enganar dizendo que aquele é um tempo de qualidade... Então acho que o equilíbrio tem que ser isso. A clareza do que se quer e a busca por outros caminhos.
Você se considera feminista?
Considero. Total.
Se você pudesse mudar uma coisa no design gráfico, se você pudesse viver no mundo ideal, como ele seria?
A primeira coisa que eu pensei, foi numa ideia do Marck, da Nitrocorpz. Ele fala que se ele pudesse eu não daria aula para designers, ele daria aula sobre design, para pessoas de outras áreas. Eu acho que essa foi a grande sacada do milênio e isso mudaria grande parte do cenário e dos problemas que a gente tem. Mudaria o mundo e a forma das pessoas consumirem. Elas entenderiam a relação do valor, de como aquilo interfere nas suas vidas, na sua cultura e no que elas consomem.
Se a gente pudesse, de alguma forma, levar o design para as outras áreas, sair do nosso mundinho, da nossa bolha, eu acho que seria uma grande transformação, de pelo menos metade dos perrengues que a gente passa dentro da área. Então, se eu pudesse mudar algo, seria isso: levar o conhecimento do que a gente faz, do valor e da importância, não só como detalhe estético, mas como formador de cultura, como formador de repertório visual, para outras áreas.
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