#poesia zunai vol1num4
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ESCULTURAS MUSICAIS 1
ARNALDO ANTUNES
***
Arnaldo Antunes, poeta e músico, nasceu em São Paulo (SP), em 1960. Publicou os livros de poesia Ou E (1983), Psia (1986), Tudos (1990), As Coisas (1992), Nome (trilogia CD-livro-fita de vídeo, 1993), Dois ou Mais Corpos no Mesmo Espaço (livro com CD, 1993) e Outro (2001), poema escrito em parceria com Josely Vianna Baptista, e Et eu tu (2003), entre outros títulos. Participou das antologias Nothing the sun could not explain (Sun & Moon, 1996)e Esses poetas (Aeroplano, 1998), Na Virada do século (2001), entre outras, e de inúmeras exposições de poesia visual. Realiza experiências com a poesia digital, que une som, imagem e movimento, com os recursos dos meios eletrônicos.
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ESCULTURAS MUSICAIS 2
GLAUCO MATTOSO
*
MOTTE:
Escriptor não se aposenta mas esconde em casa a cara. GLOSA:
A caminho dos septenta, eu discordo quando alguem, me animando, dizer vem: "Escriptor não se aposenta!" Da ballada barulhenta longe fico e, quando para palestrar me chamam, rara vez não digo: "Estou em greve!" Mesmo velho, o cego escreve, mas esconde em casa a cara. MOTTE:
Escriptor não prefacia, deixa ao critico que o faça. GLOSA:
Mesmo emquanto ainda lia eu ja achava: "Bem não pega opinar sobre um collega! Escriptor não prefacia!" Hoje, quando alguem me envia algo extenso, acho até graça. Ler não posso e o texto passa muito lento em trem de cego. Digo a amigos: "Isso eu nego! Deixa ao critico que o faça!" MOTTE:
Escriptor não recommenda, pois não ganha como agente. GLOSA:
O editor só quer que eu venda bem meu livro. Não me emprega p'ra que indique algum collega: escriptor não recommenda. Sendo assim, na minha agenda nunca ponho alguem que tente suggerir que eu apresente seu trabalho, qual padrinho. Ja ninguem mais encaminho, pois não ganho como agente.
*
Glauco Mattoso, poeta, tradutor e ensaísta, nasceu em São Paulo (SP), em 1951. Publicou, entre outros títulos, os livros de poesia Línguas na Papa (1982), Memórias de um Pueteiro (1982), Centopéia - Sonetos Nojentos & Quejandos (1999), Paulisséia Ilhada - Sonetos Tópicos (1999), Geléia de Rococó - Sonetos Barrocos (1999) e Panacéia - Sonetos Colaterais (2000).
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ESCULTURAS MUSICAIS 3
JOMARD MUNIZ DE BRITO
*
QUEM TEM MEDO DA COPA?
Para os militantes dos pré-conceitos e pós-tudo
das preguiças mentais e experienciais
NÃO PODE SER
a nossa cópula midiática.
QUEM TEM MEDO das REDES SOCIAIS e
dos resíduos patrimoniais?
O que faz falta de fato é o espírito crítico?
Mas quem educa nossos educadores?
Salve-se quem souber da brevidade dos
ATENTADOS POÉTICOS.
O que fazer?
*
SER e NÃO SER
Da maior e melhor teatralidade.
Dos eternos enquanto perdurem.
Mas continuar sendo e permanecendo
ex-PERI-mental no corpo a corpo
dos paradoxos. Conflitos em transe.
Quem tem medo de Lígia Fagundes e/ou
Hilda Hilst das BUFÓLICAS?
Paradoxos para todos: eternos e efêmeros,
cômicos e trágicos.
Lutas cotidianas além das
Redes Sociais e Enredos Palacianos.
Que twitaço é esse ou aquele?
Recife, maio de 2014.
*
BRICOLAGEM de ATENTADOS
Como se fosse possível. Comer em faíscas.
Se a historicidade do maio/68 explodiu o mundo
no entrelugar das barricadas e panfletos,
como dialogar com as contemporâneas e
interligadas gerações X, Y, Z ao infinito?
O balanço das REDES nos ACORDANDO para
outro vasto, virtual, visionário e presentíssimo.
Poderes cristalizados padecem de insônia.
E não gostam de sonhos e utopias.
Sejamos então pragmáticos diante da pressa
e depressões mercadológicas?
Pela crise das perguntas e até mesmo
das aliterações de A para Z.
Alterar pensamentos. Zerar o medo e o Mal.
Se a realidade das margens nos remete
às impossibilidades do REAL, da fome mais
febril e da estupidez da morte,
O QUE FAZER sem culpas nem comodismos?
A estética da miséria terceiro mundista ainda
assalta e nos perturba audiovisualmente?
É proibido perguntar, além da estética da fome,
pela transfiguração do sonho?
Nosso século XXI continua mais do que abalado
com o era o dito. Erudição que pode ser desdita
e talvez maldita por boçal e bandido separatismo
in-te-le-c-tu-a-lis-ta?
Precisamos retornar ao LER MUITO PRAZER.
Sem fugir dos fantasmas culturalistas.
As REDES SOCIAIS podem ser mediações:
ver, pensar, desejar, discutir, problematizar.
Experimentar com vontade: mais do que
opiniões apenas impressionistas.
Encarar discursos, poéticas, retóricas,
com todos os questionamentos.
Tudo, quase sempre no singular do plural.
Não ficar confinado no computador.
Ler em voz alta. Escrever manuscritos.
Palavras gerando palavras que possam
argumentar e dialogar: PALAVRAÇÕES.
NOSSOS OSSOS sem o véu das mistificações.
Marcelino Freire escrevivendo coisas abaladas.
Confronto de idéias, desejos, interesses.
Dos intermináveis escravismos aos
desenvolvimentismos TRANScapitalistas.
Aos leitores todas as expectativas de
democratização em luta com todos,
de todas as classes e horizontes do saber.
Recife, junho de 2014.
*
É TUDO NORdestinação na Bahia?
Confrontar e defrontar-se com outra(os)
PPP: poeticidade, pedagogia, política?
Propostas do passado no presente?
Tudo presença, entrando pelos sete (mil)
buracos de nossas cabeças? Sem aspas.
Museu Imaginário atravessa diferenças e
idealizações. Memórias transversais.
Se o REAL é impossível ser capturado
em conceitos, quantos símbolos ultrapassarão
coleções, catálogos e corporalidades pela
NUDEZ desafiante da nor-destinação?
Tudo na Bahia faz a gente querer mais
Cortejo em Performance? Nudificantes.
Noturno e mais Solar do Unhão pelas
artes EX PAN DI DAS em signagens.
Obra de arte total da baianidade
em processo, projétil, perigos – PPP.
Nosso Wagner/Nietzsche permanece pela
conjugação dissonante: TOM ZÉ SMETAK.
Triste Bahia. Tristonho Piauí. Mistérios.
Muito mais do que destino e desatino,
Alta Intensidade pelos Orixás na caosmose.
Cosmopolitismos em transe.
Gil Rouxinol em 2222 labaredas de
politicidade pelos carnavais.
SALVADOLORES de Fernando Peres.
Caetanave desnovelizando-se em abissais
recantos de Gal: para reinventar
LINA BO BARDI em fervor e fúria.
Para (a)tentar esquecer barreiras do
geografismo e apostar em busca do tempo
reencontrado em perspectivismo da
IDADE DA TERRA EM TRANSE.
A Bahia pode ter uma pulsação PEBA
brasiliricamente desnorteadora?
Recife, junho/julho de 2014.
*
Jomard Muniz de Britto é poeta, ensaísta, professor universitário. Reside em Recife. A “primeira dentição” da revista Zunái publicou um dossiê sobre o autor na página http://www.revistazunai.com/materias_especiais/jomard_muniz_de_britto/index.htm
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ESCULTURAS MUSICAIS 4
JONATAS ONOFRE
*
Li tuas mãos na fumaça de um atentado
I
Eu posso ver o corpo
destroçado de uma mulher
No chão da praça de Kiev
E ainda achar fácil suster
na linha da pálpebra
as perturbações de uma lágrima.
Estando decodificadas
em fragmento: pedaços de explosivo,
vidro, limalha, fuligem, papeis de jornal,
cacos de louça. As peças de seu mosaico.
Onde antes um café num fim de tarde,
Agora a explosão atravessa uns relógios.
A mulher está mais exata
No meio de todas as coisas mutiladas,
E suas pernas podem intrigar-me. Arrancariam
algum suspiro das vastidões de minha valise.
Maculariam a claridade de meus óculos de grau.
Um carro-bomba nas dobras do meu bolso
Não seria mais absurdo.
Os olhos de cisterna estagnada desta mulher,
vazando-se em brancuras.
Os olhos de espelho sem refrações desta mulher.
Os olhos desaguando um estranho solo de violoncelo no sangue dela.
Os olhos suplicando uma morte rápida.
Outro carro-bomba, onde há mesmo absurdo nesta praça?
Por esses olhos posso ver os rastros das hemorragias
E saber que o sexo dela não mais pulsará em alguma mão incauta
Eles são a tela de uma planície prestes a estuprar-se de bombardeios
Ao mesmo tempo janela de um campo depois da hecatombe do meio-dia
Olhos de nenhuma câmera amadora
Olhos de nenhum sobrevivente, nenhum mutilado suspendendo a perna ausente,
O aceno vazio de um braço a mil metros do corpo
A brigada de incêndio se extraviou nos congestionamentos do centro da cidade
Vinha na contramão da fuga dos refugiados.
Um erro imperdoável.
II
Aprendi os sinais do futuro, pelos ruídos de estática de um velho rádio amador,
Não foi um computador que me deu as coordenadas.
A mulher morrerá agora.
Os olhos desabrocham para todo sempre.
Eu sonhei estar na brigada que se perdeu dentro do povo que fulgia.
Eu ainda estou dentro dos olhos da cadáver. E arde-me tal clausura.
Li tuas mãos na fumaça de um atentado.
Um erro considerável.
Estar cego é o que há de mais inferno neste hemisfério da esfera.
Mas posso ver ainda.
Então ao ler tua mão não verei nada.
Só os cegos.
Só os cegos atravessam essa avenida, desviam dos escombros, passam sobre os cadáveres
e voltam para nos contar versões desautorizadas do próximo armistício.
*
EXPIAÇÃO
I
Lançar a sorte sob
as clavículas do templo,
enquanto um coro, novelo
de voz e arames, faz-se
gargantilha nos santos,
e uma fogueira de hinários,
sob afinação de fagotes,
consome bailarinas siamesas
que gemem palíndromos
nos dois sentidos de suas
duas línguas.
II
Esperar na
vertigem dos dados
a boa nova de arcanjos
alfanuméricos.
Sob suas asas, bandeiras
da hora derradeira,
escondem um sexteto
de anciãs, suas vestes
recendem a coágulos,
elas choram por todos
os órfãos e arrancam
seus cabelos, com unhas
muito medonhas,
todos os muitos cabelos
pela multidão de pecados
das viúvas não frígidas.
E os anjos acedem.
III
Sofrer as brasas
no cume da língua,
a dor inverossímil
de tragar cigarros invertidos,
Quando na verdade
são os mesmos anjos,
um enxame deles,
tentando purgar
teu espírito
com algum estranho
deus ex maquina
na ponta de suas tenazes
*
MULHER ENTRE SALAMANDRAS
Ninho, peças dispostas à gravura do campanário, novelando-se reptilianas omoplatas, espáduas de bronze retorcido, porta-seios de medonhas ferragens, sustendo-se nas tranças trêmulas da tarântula, os olhos da moça, seu corpo entre corolas de pus e lama, maciez de pelos subsolos, por dentro de suas carnes tépidas, catástrofes e torrentes gangrenadas, não cessam, por sobre pedras e músculos coagulavam algumas feridas, rabiscos não se gravam em fogo brando, necessário: a pira de todas as imensidões ardendo abóbadas, necessário: a música das brasas, necessárias salamandras, iletradas, mordendo teus nervos, fazendo círculos na tua nudez.
*
FRONTISPÍCIO
I
Nesta cidade
todos nós debruçamos
suicídios, sobre as costelas
do Capibaribe
enquanto rapsodos em farrapos
reclamam o último centavo
do cidadão de bem
que sonha com um novo
Recife aterrando-se
na estátua de espelhos do rio.
II
Debruçamos suicídios
com a mesma perícia
dos motociclistas cinéfilos
das putas poliglotas
dos hereges crismados
das sopranos desvirginadas
e dos poetas,
estes sem nenhuma perícia
III
Esta cidade,
suspensa sobre a espinha
de arranha céus
maldiz o mar que nos lambe
agoura também o passeio, o cais, o rio
o seu próprio púbis profundo
ornado de mangues
buzina seus grandes lábios
pelas avenidas
onde as paredes esbarram alísios,
abscessos brotando no chão
com todo ferro e concreto
vociferam infanticídios,
estupros e pequenos delitos.
IV
Eis toda estranha música
da máquina progresso.
O grito de aço que atravessa
terraços, antenas, para-raios,
esqueletos de ferro e lodo,
estações de trem, semáforos,
praças, fontes, parques
tudo sob a mesma abóbada
de sangue e sóis, ocasos
para transeuntes indiferentes
e para loucos contemplativos.
V
Debruçamos suicídios
e mastigamos com pressa
o salário de nossos calendários,
aos que dormem nas calçadas
ofertamos nossa pressa, nosso
nojo e todos acedem com
gravidade, dizendo que
assim, com um olho no relógio
e o outro no vestígio, caminha
a humanidade dentro e
fora de portas. E é como se
nada fosse mais importante
que saber os segundos de todo
esse atraso, tempo que se resvala.
VI
Vejam o que a face dos prédios
diz, cada rua em sua fala de
argamassa, ladrilhos e vidraças,
em suas cores e sombras,
em seus odores: este rosto
de meridianos destroçados,
cicatriz e mosaico: formando
um só espanto de olhos.
Vejam Recife bradando
uma revoada de pragas
no arrulho enfermo dos
pombos, vejam o espasmo
sob as pálpebras, lâminas
de metrópole em maresia.
VII
Nesta cidade, todos,
sim todos nós debruçamos
suicídios sobre as costelas
desse criatura imunda
mas também esperamos, no mais
profundo de nós, o rumor claro
das pedras, das águas, do vento
vencendo o concreto,
a máquina e o desassossego.
*
Jonatas Onofre, poeta e músico, nasceu em Paulista (PE) e reside atualmente em Recife, onde cursa Letras na UFPE.
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ESCULTURAS MUSICAIS 5
CORAL BRACHO (MÉXICO)
*
EL GOLPE SUAVE DEL OLEAJE
Entre palabra y palabra, el golpe suave del oleaje
enredándose; aliento que se detiene, que se suspende;
cae el oro de la arena como una lluvia muy tenue
entre el vendaval,
entre su oscuro, envolvente, enigma.
*
YA NO SE DETIENE EL TREN EM ESTOS PUEBLOS
Ese desbocado animal,
que huye sin tregua con su temor cansado,
con su incierta ansiedad,
como el fantasma furtivo
de aquel ganado que llevaban por anchas calles
hasta aquellos vagones; que brama
con un espeso sonido
donde chocan sin ensamblarse
graves y agudos, ecos y opacos tonos rojizos;
ese animal que huye, que huye desaforadamente
sin detenerse
y sin poder escapar,
esclavo de ese ritmo golpeante y ágil, ese engranaje
que lo atosiga,
que da la pauta,
que marca sus movimientos como un reloj,
como un látigo, y lo encadena;
un capataz sin voz
que lo violenta, lo asedia,
con la insistencia desalmada y febril
de toda máquina, de todo
compulsivo emprender, apremiar; ese animal,
ese animal que huye,
que avisa,
que inconteniblemente
va avisando, desconsoladamente,
brama,
y va avisando,
al borde de cada pueblo, de cada cruce,
que ahí viene,
que lo persiguen, que casi
no puede más, pero que no lo frenen,
no lo detengan; que nadie,
ni nada intente; que no se atreva
--y por eso avisa-- a cruzar las vías.
*
Coral Bracho nasceu na Cidade do México (México) em 1951. Publicou os livros de poemas Peces de Piel Fugaz (1977), El Ser que Va a Morir (1981), Tierra de Entraña Ardiente (1992), em colaboração com a artista plástica Irma Palacios, e Ámbar (1998). Seus dois primeiros livros foram reunidos no volume Bajo el Destello Líquido (1988). Também há uma coletânea editada pela Secretaria de Educação Pública que reúne seus primeiros títulos, Huellas de Luz (1994). Além de poeta, Coral Bracho é tradutora, tendo publicado uma versão de Rizoma, de Félix Guattari e Gilles Deleuze.
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ESCULTURAS MUSICAIS 6
LOPITO FEIJOÓ (Angola)
*
KURTA ÁFRICA YETU
Não passeia e nunca desce o sol
ilumina alumia e brilha
dá-nos de ndjamba a ancestral robustez e
o dinamismo de kandimba sempre no auge.
Argumentados com um funge de kandumba
o calculismo e a tranquilidade dos kilambas
os azares dos capazes e a sorte dos audazes rapazes.
Turbulenta auto-estrada e fértil fragrância
alimento sem o qual hoje e depois
não somos o mesmo igual.
Autocratas burocratas tecnocratas ou democratas
aristocratas de sumaúma ou mesmo artistas de rua
com a turva suruma dos repetentes olhares!
PURA & MADURA
Para Aminata Goubel
Chamam-me África
pari bastardos e bastantes
que mesmo sofrendo além-mar
seu berço pode e significa.
II
Ncundi ou Npangui são tão filhos quanto tu
do Burundi ou Ruanda
tenho-os tão bem em Luanda [no Kwanda ou na Ganda].
III
-Oh feitiço de carne e ossos:
Sincroniza-te
em razão dos nossos
e como sempre imenso multiplica-te-me.
IV
Sou mulher/mãe entre Yorubas e Bambaras
entrego-te-me pouca, louca e madura
PURA ÁFRICA PURA!
POEMA PRIMEIRO DA CAUSA
Não importa a cor não importa a dor
-viva a maciez do oiro.
Não importa a voz não importa a foz
-viva o caudal do riso.
Não importa o berço não importa a bênção
-viva a escavação do incauto.
(Extrair do humano o jorro bicôncavo do bicho-da-seda.
Assumir a sede de um outro irmão. Canalizar o milho
Entre nós abundante reconduzindo a lavoura à idade leal)
Não importa a malha não importa a falha
-importa a função do lema.
Não importa o galardão não importa a geração:
-Importa a assumpção da causa. ÁFRICA!
*
INFERNO
O que vemos e vivemos
tão bem se chama exílio
infelizmente.
Rubras chamas
na ramagem das arvores
inquietas.
Nas copas, loiça de/mais
se vai partindo
e nós, de fome, engolindo cacos.
Inferno desmiola
despedaça e obriga dizer,
-Exílio aqui é mais difícil!
*
DESTINO/DESTINATÁRIO
1
Ensopado mas não enjoado
maltratado mas não acabado
ferrado mas não destroçado
carcomido mas não desvendado.
2
Avisado por isso meticulosa
assombrado por isso misterioso
agitado por isso calcorreante
andarilho por isso circundante.
3
Rígida regra singela rebeldia
simples sopro de sobras sociais
sonho cristalino ou sombra florestal
do invicto e fluorescente mayombe!
*
PEQUENO PAU FARDADO
(anónima criança soldado)
Menino malandro
Debulhado de mente
sem mim sem pai
sem pão sem mãe nem mãos
sem sol sem lua sem nada
sem mar sem sal sem praga
sem rua sem rio sem riso e sem siso
pequeno narciso, pura semente armadilhada!
*
João André da Silva Feijó nasceu em Malanje, Angola, em 1963. Estudou Direito em Luanda, na Universidade Agostinho Neto (UAN). É deputado (reformado) da Assembleia Nacional da Republica de Angola. Como criador assina usualmente J. A. S. Lopito Feijóo K. Poeta e crítico literário, ensinou Literatura Angolana. Membro fundador da Brigada Jovem de Literatura de Luanda (BJLL), e do Colectivo de Trabalhos Literários OHANDANJI, é membro da União dos Escritores Angolanos (UEA), onde exerceu o cargo de secretário para Relações Internacionais. É, atualmente presidente da Sociedade Angolana do Direito de Autor (SADIA), dirigindo a Gazeta dos Autores, órgão de divulgação dessa instituição.
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ESCULTURAS MUSICAIS 7
LINO MUKURRUZA (MOÇAMBIQUE)
[…] ( ao João Timane)
Na tela... A cor traduz-se Imagem inverte-se Horizonte a sintaxe do tempo Inverte imagem e talvez não seja preciso.
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SILÊNCIO (à Fernanda Angius)
(…) O grito é autêntico A sombra é metade. A solidão é preciso …
--------------------------------------------------
[…]
Perde-se no deserto Um ramo de estrada Onde meus olhos vagam Qualquer clareza escura.
[…] (ao Poeta Militar) Granjeia-te o sorriso Junta-te a alavanca de saudade Lá no fundo a solidão Desperta formigas e escaravelhos Na luz crua vão-me domar.
____________________________________
ESTA TARDE … A tarde é louca de mais, A minha loucura flutua Tipo um jacto E Sinto Seduções A envolver-me, E Não me levo a causa. Não me seduz e desisto Desta política Do discurso estagnada
___________________________________
[...]
A pátria de cimento, Ergue-se ao alto Alto, a torre. a cintura urge o silencio … Cai a torre no mar, Vítima de sentido.
___________________________________
O CÂNTICO (a ti Ronga,
numa tarde no mercado do povo)
Teu corpo oceânico, Envolve-me a O D E, da tua pele Que sumaúma no vau teu respiro Tipo vento que ronca a brisa matinal, de noite de Setembro em Mecula, esta ocarina, silêncio Do louvor que nem teus são, oculto tudo, menos o que se pode ver com prazer em ti.
_______________________________________
RUA, TAMBÉM BAGAMOIO
e Crosta, âncora. ciúme do colo traseiro sem dor, o açúcar que me move me commove.
_____________
Lino Mukurruza nasceu em Lichinga - Niassa (Moçambique) Poeta, membro do clube de escritores poetas & amigos do Niassa e do movimento literário Kuphaluxa da capital do pais, Maputo. Atualmente cursa Letras na Faculdade de Ciências de Linguagem, Comunicação e Artes da Universidade Pedagógica Delegação do Niassa e colabora no jornal Faísca de Niassa. Publicou o livro de poesia Vontades de partir & outros desejos ( FUNDAC, 2014).
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ESCULTURAS MUSICAIS 8
JAIMERAFAELMUNGUAMBEJÚNIOR (MOÇAMBIQUE)
*
DOIS OLHOS NO BANCO
Nos pulsos fogem as pulseiras de sal
sobre as costas das águas correm os olhos
a maresia é que puxa o tempo pelos ombros.
*
ENVOLVÊNCIA
O arrepio é o corpo da alma que sai dele quando uma canção se espalha pelo ar e sabe penetrar no leito do sangue.
* * *
Que mineral há na boca das palavras essas que calam secretas e se alongam no triste movimento dos braços e se assemelham as raízes da língua que nascem no adeus dos dias e desconhecem a comunicação dos barcos quando devagar pousam no cais do olhar.
* * *
Entre as gotas de cobre e os dois lagos verticais cai uma espuma de lembrança e uma memória que se redesenha no tempo com as tintas de uma voz.
* * *
Se todo canto é um nó apertado na garganta do amor e se o rio que percorre as manhãs do coração tem a condição do medo então existe um segredo em degredo no olhar dos espelhos: quando espelham o ritual do vento.
* * *
Não pára a noite de crescer suas raízes mergulham aflitas nas areias do tempo
e no lugar dos olhos fica o murmúrio da cor habitual que mostra o nome que se escreve com a caligrafia da voz.
* * *
A noite sussurra O triste provérbio lunar
Os gritos tristes dos dedos Vestem devagar A nudez da solidão
Não há sequer Um chão no pensamento humano
Só ouço o canto de um exílio Na meditação da palavra
*
CONFIDÊNCIA
Aprendi com a chuva a ler os antónimos da água.
Só existe neste mundo uma sombra:
A noite que esquiva o suor da lua.
*
A CALIGRAFIA
Quando se olha o silêncio de uma sombra abandonada no chão do mundo.
Renasce e cresce a certeza da sua idade interior.
*
Jaime Rafael Munguambe Júnior nasceu em Maputo, Moçambique, em 27 de Outubro de 1991. Estuda na Universidade Eduardo Mondlane. É membro do movimento literário Kuphaluxa e do Clube de leitores dos estudantes de Literatura e Linguística da Faculdade de Letras e Ciências Sociais. Tem colaboração dispersa em espaços de publicação literária lusófona, a destacar a Revista de literatura moçambicana e Lusófona-Literatas, a Revista Soletras, o Jornal Literário Pirâmide (Moçambique) a Revista de Artes e Letras Pi2 (Brasil), participou na antologia A Ponte da Palavra organizada pelo Circulo dos Escritores Moçambicanos na diáspora (Portugal). Organizou: A Hermenêutica do Silêncio (2014): poesia em di��logo com a linguagem das tintas ou a inquietação do verbo e os gestos camuflados das cores.
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ESCULTURAS MUSICAIS 9
MARCELA CIVIDANES GALLIC
*
RED ROCKS
*
XI - estrutura, altar de granito
no deserto de chamas
*
XII - passagem de fendas
no inabalável ressoar
acústico de abismos
*
XIII - forma fragmentária
que vicia e anestesia
espalhando entre os dedos
cristais, fuligem
*
XIV - despropósito esforço
de mecanismos anatômicos
para atingir a supremacia
*
XV - vermelha e desentranhada
absorve com calma
a voz emudecida
no delírio da ascensão
*
XVI - desordem de nervos
regletando no improviso
de faces cortantes
*
XVII - adere ousada
expele revoluta
a hesitação
*
XVIII - seqüências cadenciadas
saudando o desígnio
*
XIX - fantasia, miragem
contraposição de Vegas
*
XX - da verdadeira imagem
inundada de calcário e arenito
paraíso ao pico, redenção
*
Marcela Cividanes Gallic (Lady Mar) nasceu em Sāo Paulo e reside na Califórnia onde realizou mestrado em Direito Comparado pela CWSL. Atua como empresária na área de moda. É poeta e praticante de natação e escalada esportiva. Tem poemas publicados em blogs e no site do CCSP. Edita o blogue do Laboratório de Criação Poética, http://labcripoe.blogspot.com/
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ESCULTURAS MUSICAIS 10
BRUNO RIBEIRO DE LIMA
*
LIVRO – VIAGEM TAL ESQUECIMENTO
a cada passo
uma nova viagem
nos leva
nos mesmos
a lembrança no fundo no
futuro do futuro
**
antigamente a
palavra guardava
os primórdios da lembrança
a palavra saudade trazia nos
espaços brancos de
suas letras um imenso
sussurro
quando hoje vejo
você ainda colada na parede
o meu agora é
para sempre antigamente
**
antes fosse nos
e tudo antes fosse assim
tu e mim entre nos
ao lado de onde hoje passo
de onde hoje somos
passados
**
a paisagem de meus olhos
desenha meu corpo
e a palavras a
paisagem entre minhas
pernas escorrega pela pele pelos pés não
existe nada de solitário
na paisagem mas
na passagem o
vazio do corpo completa a paisagem
**
talvez soubesse talvez
seriamos caso não
houvesse a voz
mas é tarde e
já não ouço já não
esta aqui o canto
noturno talvez desta passada
vida a limpo no destino
nessa vontade de se
fazer presente
**
dois dias
ao te lado
encontrando-me
em
nos
**
tocou-me e disse talvez
na pele a cicatriz a
nossa pele
**
não disse e não adianta
se for
dizer assim sem
mim nada é feito
e nada faz
tudo
**
sentir sem sofre
o silencio melodioso do
erro murmúrio confuso
gozo átono fissura
do átomo
**
não e nada leva
a lugar algum ela
sabe na boca do
outro guiar o corpo nosso
para onde ela nos quer
**
apenas um passo e
a poeira no
caminho o poema no caminho
ao passo apenas
**
o de menos em minhas mãos
transformou
o que em tudo
menos em dizer
e talvez em talvez
**
no alto tudo gira
e tudo recomeço
solar sacrifício palavras mais ideias
e das mãos o vazio
os dedos
trabalham e tudo gira no mesmo
recomeço
**
solilóquio língua olhos
lóbulo molhado cesso
respiro arranho pálido
suspeito sufoco
circulo de lapsus e
palavras graduadas dizem
o entre e
o outro o outro
**
solstício frio sem numero
sem cor águas ou coisas
zero sem antes cem vezes depois
apenas a sondagem depois
antes do fim
**
sempre o mesmo
depois as folhas em
flores tais assim rasgado
antes do antes não
disse como
e ao longe ela caminho não
estrada só em ruas eu
talvez resquícios pequenas
folhas simples palavras como
sempre o mesmo sempre disperso
sem fôlego
talvez
**
olhar não para
ver tal e qual
mas dispersar e deixar o olhar sair dos
e deixá-los lentos nos passos de um
caminho o passeio sem subir pó
o pensamento que não se esvai
isso não
é mais então estrela poeira símbolo poema
isso é paisagem corriqueira visão
sem redenção sem presença sem isso
aquilo visão não sei o que fogo sem
fronteiras deslize no
escuro do escuro
**
não
e depois veio como
palavra após palavra
é isso o inicio deixado atrás
mas também aparece feito
amor do outro lado
a palavra da mão dizendo
somos nos o corpo a corpo
a memória a busca
não é sempre lá tal e qual
e de repente do meio do quadro
desloca-se a imagem o som
a voz sem a nossa língua
para ti eu te falo eu
escuto este como
meio inicio meio fim
**
clara esta coisa
branda feito falha
que de mim faz
nossa fala
**
onde tudo existe é assim o deserto onde
uma coisa branca é tudo além
cor branca dizendo tudo
é branca no deserto o pensamento fora
da guerra
a luz branda nossa
em cada passo eu
devo deixá-lo seguir o andar na pedra
**
batida
a poeira esta além
é a paisagem é a
memória desértica presente
em nos imensamente
em cada passo em
cada aspecto o teu rosto
aspectos
**
o teu passo é uma
coisa assim acima de
nos no meio de nos
estar é deserto estar
para num grito tudo deixa de existir
para ser apenas
grito e vontade vontade minha
esse limite que somos nos
**
nada sem dizer eu
calados eu e você
no escuro que se faz
dentro da clara pagina
**
eu vejo você longe não
distante em seu canto
sempre
talvez ainda mais e mais porque a distancia
muda o olhar mas assim você é mais
verdade é mais pureza intocada eu diria
a nossa vida disse
você se lembra e disse para
nos afastarmos para um
lado oposto cada
um de nos mas
hoje eu vejo você dentro
da minha memória e
o que
era vida do lado de fora
fez você dentro de um
pensamento fora das fronteiras
nas quais não vivo
e sinto é você
que eu sinto mais na distancia
de mim
afaste este pensamento e
serei teu inteiramente quando
no mesmo horizonte onde
a pele nossa
se refaz
**
apenas múltiplo
comum de mim
mesmo aqui
estou sob a voz
do império da voz
**
é uma voz que fala
sempre não
a mesma voz
mas fala isso que
a historia cala ou
busca apagar mas
é na voz que
toda a historia esta e
toda a fala morre
quando morre a voz da historia
*
Bruno Ribeiro de Lima, paulista, 28 anos, mora na França onde faz doutorado em literatura francesa na Paris VIII (e cotutela com a USP); trabalha na perspectiva da leitura do ritmo da prosa romanesca de Georges Bataille. Organizou a edição especial "Cinquentenário da morte de Georges Bataille", da Revista Pandora, assim como publicou na mesma revista alguns poemas. Tem trabalhos publicados na França e na Croácia, sobre Michaux, e se interessa bastante pela leitura de Bataille no Brasil, principalmente a de Roberto Piva e Hilda Hilst.
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ESCULTURAS MUSICAIS 11
EDELSON NAGUES
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Edelson Nagues é natural de Rondonópolis/MT, radicado em Brasília/DF. Poeta, escritor, revisor de textos e servidor público, estudou Direito e Filosofia, com pós-graduação em Língua Portuguesa. Colunista da revista eletrônica Samizdat e do Portal da Arte e da Cultura Alternativas Independentes, é autor dos livros Humanos, de contos, e Águas de Clausura, de poemas (vencedor do X Prêmio Livraria Asabeça), ambos pela Editora Scortecci. Em 2013, teve poemas musicados por Anand Rao, no CD Anand Rao musica poemas de Edelson Nagues.
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ESCULTURAS MUSICAIS 12
ALEX DIAS
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Alex Dias é poeta, ator, pesquisador e gestor de projetos culturais e artísticos. Graduado pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo (USP), tem especialização na área de Negócios pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da mesma universidade. Realizou estudos e trabalhados no MARP – Museu de Arte Contemporânea de Ribeirão Preto, onde trabalhou como arte-educador, pesquisador e realizou expografias. Foi coordenador de Artes Visuais da Secretaria de Cultura da cidade e membro da Comissão Organizadora do 29º e 30º Simpósio de Arte do SARP – Salão de Arte Nacional-Contemporâneo. Ainda em Ribeirão Preto, trabalhou no INEPAD – Instituto de Ensino e Pesquisa em Administração, onde desenvolvia e gerenciava metodologias e ferramentas no AVA (Ambiente Virtual de Aprendizagem), para todos os cursos que o Instituto oferecia em consórcios com outras instituições como: Fundação Getúlio Vargas (FGV), Pontifícia Universidade Católica (PUC), Universidade Federal da Bahia (UFBA), Universidade de Brasília (UnB) e outras.
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ESCULTURAS MUSICAIS 13
ANA CRISTINA JOAQUIM
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CARTA AO MESTRE HORÁCIO COSTA
São Paulo, cinco/seis de junho de dois mil e quatorze. Querido Mestre Horácio, são corpos de natureza dúbia os que escreve, não? Não, digo, a poesia não é um ato contra a natureza, andar sobre as águas, transformar água em vinho, dar o cu ou multiplicar os pães, sim, são atos a favor da natureza. Penso, após retornar da retrete onde passei longos minutos na companhia de Luís Miguel Nava, que relatou estranhos actos cometidos: deles o mais minucioso sendo a introdução de mínimos calhaus nos intestinos. Apenas alguém a quem o sangue serviu de olhos, diz ele do que me aproximo. A fronteira do dizer, você me diz – e aos que o leem – é difícil. Vai então escrevendo a fronteira do viver, liberta-me do temor à morte – soberana, intransitiva – diga-me em vernáculo De Rerum Natura. Nenhum Titus Lucretius Carus me serviu de Mestre, querido Horácio. Quanto às tardes de maio, temo confundir-me, queda brutal, violência, bad dreams in the night – dizia você ao ouvir Kate dizendo Cathy dita por Emily – eu, de agora em diante, repetia como refrão. Não: o refrão ia-me repetindo. Não há divã que dê jeito, querido Horácio, soubesse talvez your mother, who used to call you Tormentoso, estando sempre você a fazer muita coisa ao mesmo tempo e invadir o espaço da família como faz um poeta à pauta. Não, não é neve só, cá na zona tórrida. E estas sensações cortantes de que dentro de você existe um punhado de plânctum, e peixes e uma diversidade de outros seres com superpoderes marinhos? Subterrâneos, também?, questiono à sua psicopompa matilha, ao considerar os sucessivos desfechos: soberanos, intransitivos. Percebo de súbito, não foi mesmo possível tirar os corvos deste poema. Das paisagens que decomponho, sobra-me sempre o quarto – e eu dentro dele (os corvos). Sobre o travesseiro me debruço ainda uma vez e escuto a retidão do seu timbre cirúrgico: não sendo mítico, é simbólico. Também um grande amor e a loucura vista com olho ciclópico. Retorno ao mote: todos fenômenos a favor da natureza (simbólico?) e na companhia do melhor gin tônica. Do desencontro em Ulissipona, resta o prognatismo da minha narrativa, as paisagens pulcríssimas que serviram de estamina, a forma do dizer, o estabelecimento da fronteira e tantos mais vocábulos quantos não coubessem dicionarizados. Busco nos seus poemas. Qual enfim o Caravaggio, o Arcimboldo, o Saramago, qual o Octavio Paz lhe serviu de Mestre, querido Horácio? Seja você o meu Mestre, não aquele que releio insistente NEC SPE NEC METU, mas aquele singelo POST TENEBRAS ESPERO LUCEM. Seja você o meu Mestre, Ciclope, que cá por perto já não há uma gota de sangue sequer, percebe? A servir de olho.
*
Ana Cristina Joaquim é mestre em Filosofia (UNICAMP, 2011) e atualmente desenvolve uma pesquisa de doutorado no Programa de Literatura Portuguesa da Universidade de São Paulo. Tem poemas publicados em antologias (Ávida espingarda, Ed. Annablume, 2009; Aos pés das letras, Ed. Annablume, 2010) e na Mallarmargens Revista de Poesia e Arte Contemporânea (2014).
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ESCULTURAS MUSICAIS 14
ALEXANDRA VIEIRA DE ALMEIDA
*
DESERTO
Canibalismo no deserto, aridez dos astros. Não há mágoa numa névoa. Somente a faca é minha carne. O desejo se escondeu num olhar amargurado. Facas e garfos não são sensações. O astro cresce à minha volta. Não é possível contornar a outra margem, o deserto é meu silêncio. A névoa cai nos meus braços, sustento-a até a capacidade do meu olhar. Olhar de deserto, não espero estações. Na virada das poeiras que oscilam ao vento quente do deserto, pássaros se comem antropofagicamente. Formigas, maçãs, garfos, facas na sua ordenação neblinam minha face. Face neutra na passagem da névoa. Névoa paira, cai, se esbarra nos ventos da minha passagem pelo deserto, anímico, auditivo, mais do que a minha vida.
*
BIBLIOTECA
Exposição de palavras sonoras
O redemoinho de passos e sombras
Servo da paciência de uma incógnita
O archote se afunda nos olhos da insônia
Mártir de uma espera de tessituras e resíduos
Sangra minha pele de medo e contemplação
Papiros de palimpsestos petrificados
Agasalho de minhas noites de névoa
Cambiantes relógios quebram a eternidade
Confuso arcabouço de temas e imagens
No sorriso amparado pela luta,
o semblante se encolhe no tamanho de um botão
O livro, maior que meu corpo
Nas palavras, o assalto de minha fala
No engodo das páginas, as fórmulas de minha vida
Modelos de penas se lançam ao vento,
transpondo as portas de medos e de dores
Biblioteca,
a arte de construir a mente de um animal de pele e veste.
*
INQUILINO DO SOL
a sombra que se gasta
a morte não me basta
inquilino do sol
procuro a chuva
para fundir o poema
em complexa elisão de astros
que se desbastam no solo
ventre aberto, exposição
de palavras ao vento
recolho com a vassoura
as folhas-metáforas
que engolem a chuva
no dorso da terra
primordial sono
na boca da esfera
em correntes de letras semiabertas
para o sopro do universo
planetas giratórios
fazem festa no papel do artífice
em estrutura interiorizada
qual pérola dentro da concha
delicada veste esconde
uma armadilha
para os pássaros famintos
que voam sem direção
para as mãos
do inquilino do sol
*
DORMINDO NO VERBO
Dormindo no verbo
logaritmo do vazio
espera o anoitecer em branco
Entre a verdade e a palavra
escolhe as letras equilibristas
que morrem no abismo
Mesmo o atalho para as pedras
o fez vacilar entre o gesto e a crença
Saliência de palavras
que mancha o papel taciturno
Na noite esquelética
os livros dão carne para os outros
ávidos por dançar no salão da matéria
O verbo se fez carne
a matéria se fez palavra
prestes a preencher
a vida dos outros
inimigos da sombra
que se desfaz em sonho
Dorme na coagulação do sangue
corpo que se move no vazio
da atmosfera escassa do osso
Carnaliza os vazios da noite
para se fazer dia do verbo encarnado
Dorme, dorme
e espera
na entrega do verbo
para os outros com insônia
O verbo se preenche de carne
manchando as páginas em branco
que esquálidas, tiram a fome
de anos e anos de espera.
*
Alexandra Vieira de Almeida nasceu no Rio de Janeiro em 1976. É doutora em Literatura Comparada pela UERJ. É poeta, contista, cronista, crítica literária e ensaísta. Trabalha como agente de leitura na Secretaria de Estado de Educação e é membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni, em Minas Gerais. Publicou os primeiros livros de poemas em 2011, pela editora Multifoco: 40 poemas e Painel. Oferta é seu terceiro livro de poemas, pela editora Scortecci (2014). Publica suas poesias em revistas, jornais e alternativos por todo o Brasil. Tem um blog de literatura que atualiza constantemente: www.malabarismospoeticos.blogspot.com.
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ESCULTURAS MUSICAIS 15
MATEUS JUZÉ
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ESCULTURAS MUSICAIS 16
YURI COUTINHO
*três poemas da série “Brainstrume”*
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