#nao que isso seja muito diferente do costume lmao
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eu sei k esta equipa tem um complexo qualquer e que bloqueiam em jogos teoricamente fáceis mas good God, este jogo foi horrível
#portugal nt#tamos no euro e fico contente#mas a jogar assim vamos fazer figura triste no europeu#o que como campeões europeus vai ser.....interessante#nao que isso seja muito diferente do costume lmao#MAS eu não quero ouvir bocas dos franciús#get it#football is pain: a croissant report#football#european qualifiers#croissant says stuff#tuga stuff#portuguese
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#ALSO this painting started a fucking WAR between historians and art historians like#yall have no idea the pissbaby academic fight that went down at the museum that held this#it was fucking hilarious se alguma vez quiseres elaborar, estás à vontade! :)
Deixa lá ver se eu me recordo de tudo porque fui uma puta de um escabeche como poucas vezes eu vejo
Essencialmente, foi entre o director do MNAA, António Filipe Pimentel, e dois historiadores, Diogo Ramada Curto e Alves Dias
PA eu já não me lembro muito bem mas o Pimentel, apoiado no Vítor Serrão - supra sumo da arte antiga em portugal - trouxe o quadro do vídeo mais este
para uma exposição sobre o quanto cosmopolita lisboa era no século XVI e afirmaram que sim senhora este quadro é de uma rua de Lisboa, a Rua Nova dos Mercadores e são sobre portugal por mestres flamengos.
O Ramada Curto e o Alves Dias - porquê eu nunca hei-de saber - vieram meter-se ao barulho dizer que não são porque viram de perto e estão 100% ertos que são falsificações. Deixa-me lembrar que estes dois senhores são historiadores, não historiadores da arte. Não é que não saibam o que é que estão a fazer, só não sabem como é que se faz.
Se bem me lembro, o Diogo Ramada Curto apontava três características do quadro do Chafariz que, segundo ele, não podem ser do século XVI. Vou ver se encontro o artigo onde ele os indica para apontar.
Um deles é que existe um cão com uma coleira. Yap, tanta merda por isso. Coisa que foi completamente desprovada se basicamente fores a qualquer museu de antiguidade e vês um monte de cães com coleira. Eu procurei onde era que ele dizia isto mas nao consigo mesmo encontrar.
O segundo diz respeito à representação dos negros. Primeiro, há isto:
Segundo ele, e uma caricatura racial extrema que não se enquadraria no tempo. O problema aqui de ver este detalhezinho como “uma caricatura de um preto estupidamente racista” é que não olha para o qadro todo, e no restante quadro temos, precisamente, como se viu no vídeo, muitos mais negros a viverem a sua vida tranquilamente em várias classes sociais.
Por fim, o terceiro ponto, ainda ligado à questão da representação social, diz respeito ao senhor negro vestido de cavaleiro. Segundo Ramada Curto (se ele aprofundou esta questão, eu não sei, eu lembro-me destes artigos que ele escrevia a mandar postas de pescada serem da parte paga do expresso e eu nunca os consegui ler) não havia essa coisa de negros armados cavaleiros em portugal o que é mentira. Na verdade, é bem possível que seja João de Sá Panasco, que recebeu a cruz de cavaleiro da Ordem de Santiago.
Estes dois historiadores - em particular Ramada Curto, que não sabe ficar calado - convenceram-se de que não só as pinturas são falsas como foram forjadas no século XX! Segundo fontes próximas, o senhor em questão olhou para os quadros e riu assim à primeira vista porque disse logo “aquela merda é falsa, vê-se logo”.
Sobre o historial dos quadros, eu agora não me recordo muito bem, mas o primeiro - o da Rua Nova dos Mercadores - sabemos que foi comprado por Rossetti em acho que 1866. Rossetti era, de facto, um ��vido coleccionador de arte nórdica, em particular tardo-gótico, ou o “pré-rafael”, como de resto ele vai chamar ao seu próprio grupo de rebeldes (Van der Weyden e van Eyck por exemplo foram uma das suas grandes influências). Portanto, se existe documentação que prova que este quadro foi de facto adquirdo por Rossetti em 1866, no século XX não há-de ter sido feito. Quando muito foi-o nesse século, mas enquanto alguém que estudou o Rossetti a fundo posso dizer que é perfeitamente plausível, dado o historial de aquisições dele, que o quadro seja de facto do renascimento nórdico.
Já o Chafariz d’El Rei, sei que foi comprado pelo Berardo e que lhe pertence, mas sinceramente mais do que isso não sei.
Do meu ponto de vsta de historiadora da arte, e atenção que arte flamenga/nórdica não é a minha praia, eu realmente acho o primeiro estilisticamente esquisito, por uma simples razão: a paleta de cores que usa é muito invulgar para a técnica que parece aqui empregue. Esperar-se-ia uma coisa mais vibrante. Mas isso não é suficiente para dizer que é falso. De resto, posso afirmar que a forma como a rua está pintada enquadra-se perfeitamente no tempo. Aliás, sendo isto do período que apontam ,1570 - 1580 (acho uma janela de tempo excessivamente curta já agora, raramente os historiadores de arte conseguem precisar assim tão bem quando não há… nada) seria pós contra-reforma, e nesse período a pintura nórdica foca-se muito no dia-a-dia, pintura de género e costumes e situações de ruas. Para teres a noção, a pintura de paisagem holandesa deste período - urbana e não só - era de tal forma popular que era um comércio crescente e a maioria das pessoas na Holanda compravam quadros deste género (lembro ainda que a paisagem holandesa pós-contra-reforma é uma das coisas em que o Rossetti mais se inspira, portanto aí tens).
Devo dizer ainda que a pintura nem sequer me parece muito bem conseguida. Quem pintou esta obra não era muito bom, e provavelmente aprendiz (os prédios estão tortos, por exemplo). Eu tenho a sensação de que isto até possa ser cópia de um original de mais ou menos a mesma época, mas eu não sei de que é que estou a falar.
NISTO, claro, o Pimentel mandou sair um comunicado de imprensa a dizer que, ó Ramada Curto, vai lá pentear macacos que a gente fez exames a esta merda! Se foi aos dois, já não me lembro sinceramente, mas pelo menos os relatórios de um saíram cá para fora (eu acho que foi o que o Berardo comprou, porque o Berardo como está arruinado detesta que as pessoas lhe venham com conversas de autenticidade dos quadros dele, não vá a colecção dele perder valor).
Mas eis o problema dos exames: os exames que se fazem a pinturas desta época são exames dendrocronológicos, isto quer dizer que o que se testa é a madeira utilizada como tela (a tela como linho só começa a ser utilizada no século seguinte, mais coisa menos coisa, até lá era sobre madeira) e o que o resultado do exame te dá é de onde vem a madeira. Os Painéis de São Vincente, por exemplo, foram pintados sobre um bom nac de carvalho (acho eu) holandês. Se sabemos que a madeira é holandesa, como é que temos a certeza de que a pintura é do Nuno Gonçalves? Porque temos documentação que o suporta (mas meu filho, isto é pano pra outras mangas, jesus cristo, esta é outra conversa que dava para a noite toda). Além disso, o exame dendrocronológico diz-te quando é que a madeira foi cortada e transformada em tela, mas não quando é que foi pintada. Ou seja, é tudo balizas - daí eu dizer que situar-se uma pintura num período de tempo de 10 anos me parece estupidamente específico.
E foi aqui que o Ramada Curto - que até então andava a dizer Ó PIMENTEL, ONDE É QUE ESTÃO ESSES EXAMES - sai da sua gruta e diz “ai mas espera aí que isto afinal nao é concusivo” enquanto literalmente toda a gente de história da arte disse ‘MAS NÃO ACHAS QUE EU NÃO SEI ISSO’
Agora o cerne da questão é este: porque é que este escabeche todo aconteceu
Primeiro: o Ramada Curto quis criticar o MNAA por duas coisas: por procurar lucrar enquanto museu no circuito turístico, e por utilizar temáticas tão lassas e mal explicadas como “globalização” enquanto ignora por completo o lado negro da história, isto é, a escravatura e a colonização.
Eu vou ser clara numa coisa: ele tem toda a razão lmao. O MNAA é uma instituição que não sabe lidar com a história que representa. As exposições sobre arte nambam e colonial que tem estão iguais desde os anos 90 (não estou a exagerar) e adoptam constantemente um discurso de “um dia fomos um império que foi tão bonzinho para os negros” e ignora completamente o que provocámos enquanto país imperialista. É extremamente positivo que a pintura do chafariz d’el rei mostre uma realidade que poucos fora daqui conhecem - que portugal era cosmopolita e Lisboa era carregada de gente de todas as nações e raças, porque isso era verdade. Mas isso não limpa com paninho quente o facto de termos sido uns animais, e o MNAA é terrível a saber lidar com isso. Tem um discurso pacifista, quase a tentar tornar a situação mais amena. E nesse aspecto, o Ramada Curto tem razão em atacar o MNAA porque eles precisam de uma wake up call à bruta. O problema é que o RC ao fazê-lo foi ainda mais racista, porque ignorou completamente que por exemplo existissem cavaleiros negros que fossem dignos de serem registados em quadros.
Outra coisa, ele ignora ainda o contexto de concepção do quadro. Se é de facto a Holanda daquele tempo, para este pintor Lisboa desta forma - cosmopolita, com africanos e indianos e brancos a caminharem lado a lado - era um choque. Existem vários registos de gentinha do norte que veio cá, viu este país e ficou “ai credo esta gente não é branca”. Isto está registado. Portanto não seria de admirar que houvesse um negro retratado de forma desagradavelmente cómica como o negro acima com o balde nacabeça (supostamente, um balde de dejectos tipo água-vai), e que faltasse alguma sensibilidade a um pintor desse tempo. Por outro lado, se olharmos para a quantidade de negros retratados e os diferentes extractos sociais a que pertencem, podemos lê-lo como apenas um momento cómico entre vários.
Segundo: O Ramada Curto e o Alves Dias charam à atenção para o facto de em portugal estas figuras tutelares da história da arte dizerem “é sim, é autêntico” e não se questiona mais - o que eu concordo igualmente a 100%. O Vítor Serrão tem uma fama de olhar para os quadros mal e porcamente e atribuí-los a pintores à toa - é assim que temos a eterna controvérsia (OUTRA) do retábulo da Sé de Lamego versus Retábulo da sé de Viseu - e se ambas são ou não do Grão Vasco. É assim também que existem umas atribuições esquisitas ao Diogo Contreras. E temos de começar a questionar este pessoal que o MNAA chama para dizer que sim senhora está certo.
Mas não deixa de haver aqui um problema central: o Ramada Curto e o Alves Dias não são historiadores da arte lmao eles não têm conhecimento dos processos de análise da história da arte que são mais do que analisar tábuas. E por isso é que causou uma controvérsia gigante estes dois terem-se chegado à frente e dito “são falsos e foram feitos no século XX” (one é que foram buscar o século XX é que me transcende, mas se realmente são forjados no século XX então foda-se temos um excelente falsário aqui. Ah, e as tintas também foram analisadas e provaram-se virem da primeira ou segunda metade do século XVI, não me recordo).
Só que quando tens estes dois betolas a meterem-se com a Autoridade de História da Arte ™ tens controvérsia que se farte. E o facto é que todos os historiadores da arte quase se sentiram insultados por isto, ao mesmo tempo que tiveste uma quantidade deles que saltaram logo não em defesa de um nem do outro, mas a dizer “há qualquer coisa a aprender entre os dois mas de forma geral estão tdos errados” lmao.
Deixo aqui este link para quem quiser saber mais, é um texto pequeno sobre a situação do Prof. Pedro flor em quem confio muito nestes assuntos: https://qualidarte.wordpress.com/2017/02/24/sobre-a-polemica-em-volta-do-mnaa/
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