Please, let me save you | One-shot
Todos assistiam em silêncio Himiko se acabar em lágrimas. Ver as mortes de Angie e Tenko, as duas pessoas mais queridas para ela, ambas no mesmo dia… Isso acabou com a pobre garota. Por mais que ela enfim tenha demonstrado alguma emoção depois de tanto tempo se fingindo de indiferente, ela agora estava quebrada por dentro e todos percebiam isso.
Mas Shuichi estava distraído. Não é como se ele não se importasse com Himiko — na realidade, todas as mortes para ele foram no mínimo chocantes e ver Himiko assim o deixava muito triste também. Porém, ele não conseguia parar de encarar Kokichi no fundo, que tinha uma expressão estranha e um olhar vidrado que encarava o nada. Isso definitivamente não era normal. Àquela altura, Kokichi já estaria fazendo alguma piada, uma forma até para distrair a atenção de todo mundo daquele clima pesado ao sentirem raiva dele. Mas ao invés disso ele estava quieto, sem mover um único músculo do lugar.
Certo, isso era mesmo estranho. Ele estava antes bem ativo durante o julgamento, até mesmo fazendo aquela brincadeira sem graça ao mentir dizendo ser o assassino. Como sempre, Shuichi teve que esfriar a raiva de todos e provar que ele estava mentindo para proteger o menino. Isso sempre parecia divertir Kokichi, que não se cansava de provocar o jovem detetive de todas as formas possíveis, aparentemente. E já não bastava ele ter se fingido de morto antes também! Shuichi tinha quase sentido seu coração parar naquele instante com o choque da visão, para no fim ser só mais uma mentira. Às vezes isso o tirava mesmo do sério.
...Mas, agora que parava para pensar nisso, Kokichi realmente havia se machucado naquele instante, não havia? Era muito estranho que ele estivesse se sentindo bem já depois daquilo. Porém, durante o julgamento ele parecia normal! Seria apenas sua impressão…?
Lentamente Shuichi se aproximou dele, tocando de leve em seu ombro. O garoto mal se mexeu, dando apenas um sorriso fraco.
— Ah, ei, Shuichi… Mais um caso resolvido, não…? Você realmente… não decepciona... — falou, a voz estando realmente baixa e um tanto falhada. Kokichi era alguém naturalmente já muito pálido, mas agora ele parecia mesmo em um aspecto doentio, sendo possível ver o suor em sua testa e os lábios já sem cor, fazendo o detetive arregalar os olhos com isso.
Fazia quanto tempo já que ele estava assim? Ambos ficam relativamente distantes durante os julgamentos, então Shuichi não estava perto o suficiente para notar qualquer coisa. Mas por que ele fingiu estar bem esse tempo todo? E por que ele continua sem falar nada ainda sobre isso?!
— ...Você vem comigo — disse, agarrando sua mão e o puxando para a saída. O jovem líder o encarou com hesitação, franzindo o cenho.
— Espere, o quê…
— Shuichi, está tudo bem? — Tsumugi perguntou, os encarando com confusão.
— Eu estou indo com o Kokichi para a enfermaria — Shuichi respondeu simplesmente. Todos agora os encaravam, menos Himiko que ainda chorava sozinha, sem nem notar nada ao seu redor.
— Enfermaria? Algo aconteceu? — Kaito indagou, já se movendo para ir junto, preocupado.
— Não, Kaito, você não precisa… — mas se interrompeu ao notar Kokichi caindo para frente, mais do que depressa o agarrando com os braços. Não era apenas sua mão, ele estava todo gelado! Como conseguiu ficar em pé esse tempo todo?!
Kaito se aproximou com rapidez, ajudando a segurar o menino.
— Aqui, abaixe-se — ele o instruiu, ajudando a colocar Kokichi sobre as suas costas. Shuichi nunca se considerou alguém realmente forte, mas o outro garoto era realmente leve e pequeno, então não era tão difícil de carregar. Apesar disso, Kaito foi junto para ter certeza de que o menino não iria cair.
Shuichi estava mesmo ficando nervoso já. Nunca pensou que veria Kokichi tão… indefeso assim. Para ele, o jovem líder era alguém quase intocável, nada conseguindo realmente o atingir. Vê-lo fraco dessa forma estava o fazendo se sentir muito mal, a preocupação corroendo sua mente com pensamentos pessimistas. Trincando os dentes, ele tentava respirar fundo em uma forma de se acalmar.
“Está tudo bem… Kokichi não está morrendo, ele só desmaiou… Não ocorreu nenhum assassinato com ele, foi só um acidente… Monokuma não anunciou nenhum corpo, ninguém mais vai morrer hoje, está tudo bem… Kokichi está bem…”, ficava repetindo para si mesmo, mas já sentia as lágrimas subirem aos olhos.
Já não aguentava mais se sentir assim. A sensação de não saber o que pode acontecer no próximo minuto, o desespero de pensar que alguém querido para ele pode morrer bem diante de seus olhos… Ele estava já tão cansado de tudo isso.
Ele era um detetive. Estava acostumado a ver pessoas mortas e a resolver os seus casos, mas era só isso. Uma vez morta, a pessoa não volta nunca mais. Como detetive, não havia nada que ele pudesse fazer para evitar este destino.
Ele não conseguia salvar ninguém.
Kaito o encarou de canto, engolindo em seco. Sabia que o Shuichi passava às vezes o tempo com esse estranho garoto, mas nunca conseguiu entender o porquê o seu amigo ainda fazia isso. Kaito simplesmente não conseguia gostar de Kokichi, não importava como olhasse, pois alguém como ele não podia ser confiável. Mas nunca imaginou que Shuichi se preocupava com o Kokichi a este ponto. Dava para notar claramente as lágrimas subindo aos seus olhos e o desespero em sua expressão. O quão profunda podia ser a relação de ambos…?
Enfim chegando na enfermaria, mais do que depressa os dois rapazes colocaram Kokichi na cama, que ainda continuava desacordado. Pegando algumas bandagens e remédios, Shuichi passou a tratar a área ferida em sua cabeça com cuidado e em silêncio.
Após alguns minutos, Kaito pigarreou, sem graça.
— Hã, você quer que eu chame a Maki Roll? Ela é muito boa com primeiros-socorros.
— Não. A Maki não gosta do Kokichi. Ela já tentou matar ele uma vez, esqueceu? — respondeu, parando o que estava fazendo para passar os dedos com delicadeza agora sobre o pescoço do Kokichi por baixo do lenço. Ainda conseguia ver os hematomas lá, ficando irritado com a visão. — Ela não vai tratá-lo bem. Eu gosto dela e quero acreditar que ela seja uma boa pessoa como você diz, mas não vou deixar ela se aproximar do Kokichi nunca mais — disse com dureza. Kaito então fez uma careta, desconcertado.
— Bem, eu não posso dizer que aprovo o que ela fez também. Não gosto de ver ela agindo daquela forma porque eu sei que ela é uma boa pessoa. Mas eu entendo que ela teve os motivos dela, sabe.
— O quê, por ela não conseguir confiar nele?
— ...É.
— ...Tudo bem, eu ENTENDO isso também. Kokichi criou essa fama para si mesmo, conseguindo ganhar a desconfiança de todos os outros, aparentemente — Shuichi suspirou, pegando agora as bandagens ao lado para colocar na cabeça do mais baixo. Para o alívio de Kaito, ele parecia já estar um pouco mais calmo agora que viu que Kokichi estava descansando bem. Mas ainda mantinha o olhar triste em seu rosto. — Eu ainda não entendi o porquê ele fez tudo isso, mas deve ter um motivo, não é? E é justamente por isso que eu tenho que ajudar... Ele não é o vilão que diz ser, Kaito. Eu tenho certeza disso. E vou fazer tudo o que puder como detetive para poder provar.
Kaito o encarou por mais alguns segundos, hesitante. Shuichi não podia estar sério, certo? Kokichi já deixou mais do que óbvio de que não era alguém em que se podia acreditar. Por mais que ele parecesse gostar de Shuichi, ainda assim...
Suspirando, decidiu enfim ceder — afinal, acreditava que a confiança que sentia em Shuichi era maior do que a desconfiança que tinha quanto ao outro. Não significava que iria abaixar a guarda com o pequeno menino, mas, se pudesse deixar Shuichi feliz com isso… Bem, podia se esforçar um pouco em aceitar.
— Tudo bem, eu acredito em você. Afinal, você é o meu sidekick! Se eu não puder contar contigo, em quem mais poderia me apoiar? — Kaito respondeu, batendo no ombro de seu amigo. Ele sorriu também, agradecido.
— Obrigado, Kaito. De verdade.
— Para, você não tem que agradecer nada! Eu vou agora no refeitório pegar algo para vocês dois comerem, nem que seja só algumas barrinhas mesmo. Quer que eu pegue mais alguma coisa?
— Ah, pode pegar o meu livro? Está no meu quarto.
— O que, pretende passar a noite aqui o fazendo companhia? — Kaito brincou, erguendo uma sobrancelha. Imediatamente foi possível ver o rosto de Shuichi corar, fazendo o outro rir. — Eu estou brincando, cara. Eu sei que você está preocupado com ele, relaxa. Eu já volto, ok?
Mesmo depois de Kaito já ter saído, Shuichi continuava olhando para baixo, ainda muito corado. Sim, é claro que estava preocupado. É normal se preocupar com amigos, não? Não tinha nada demais nisso! Faria a mesma coisa se fosse com o Kaito. Mas por algum motivo realmente ficou constrangido, como se tivesse sido pego em algum ato vergonhoso. Mas o que tinha de vergonhoso nisso? Kokichi era só seu amigo. Só isso.
Apesar de que… bem, ele sabia que Kokichi gostava dele, apenas não sabia o que sentia sobre isso. Apesar de todas as brincadeiras e mentiras, o olhar de Kokichi parecia estar sempre nele, com o mais baixo sempre querendo chamar sua atenção de alguma forma.
Além disso, quando ele conseguiu a chave e encontrou Kokichi no hotel… Apesar de tudo, aquilo foi real demais. Mas, quando Kokichi disse que o amava, temeu que fosse apenas mais uma de suas mentiras. E como temeu se machucar com isso… Mas no fim, não conseguiu evitar de desejar que ele não tivesse ido embora. Não queria que tivesse acabado. Lembrava-se bem de como tinha sentido seus joelhos falharem, sem o obedecer enquanto apenas observava consternado Kokichi sair. No fim, se perguntava como poderia ter sido se tivesse acreditado em suas palavras. Se tivesse se deixado levar pelo momento. Deixado ser amado. Tudo poderia ser tão diferente...
Shuichi então viu Kaito entrar novamente com a comida e seu livro, percebendo que não notou o tempo passar enquanto estava perdido em pensamentos. Não havia nem terminado de enfaixar Kokichi! Não podia se distrair assim, caramba!
— Shuichi, está tudo bem? — Kaito perguntou, notando que seu amigo estava ainda mais corado do que quando havia saído. O garoto acenou rapidamente com a cabeça, se atrapalhando levemente com as bandagens enquanto terminava de enrolar ela em Kokichi com pressa.
— S-sim, eu só estou t-terminando isso aqui — ele gaguejou, constrangido. Kaito segurou a vontade de rir, achando engraçada a atitude dele.
— Tudo bem, então. Eu vou deixar essas barrinhas e o seu livro aqui em cima da cômoda, ok? Imagino que você não vá querer treinar hoje comigo e com a Maki Roll, afinal — ele disse com graça. Shuichi apenas deu de ombros, embaraçado.
— Amanhã eu volto a treinar com vocês, pede desculpas para a Maki por mim. Apesar de que eu acho que ela não vai gostar muito de saber que eu não vou por causa do Kokichi... — ele murmurou, ainda sem graça. Não é como se ele se importasse realmente com o que a Maki pensasse, mas ainda se sentia mal por deixá-los na mão.
— Ah, se eu estou conseguindo aceitar isso, então a Maki supera também. E vai ter a minha incrível companhia só para ela! Que pena que você vai perder eu vencendo ela nas abdominais hoje!
— Isso se você não se distrair enquanto admira as estrelas, como sempre.
— Ei, eu sou um futuro astronauta, você não pode me julgar por gostar das estrelas! E é claro que eu faço isso para dar a ela uma chance de ganhar também, sou um cara justo!
— Ah, sim, é claro. Você ganhando da Maki é totalmente possível — Shuichi brincou, revirando os olhos.
— Eu não sei agora se você está aprendendo a mentir com o Kokichi, ou se você realmente tem fé em mim. Acho que vou acreditar na segunda opção — ele respondeu, ambos rindo em seguida.
Morrendo já a risada, Shuichi voltou a ficar sério, encarando agora suas mãos.
— Por sinal, eu não cheguei a perguntar… Como está a Himiko? — indagou, hesitante. Kaito amuou, coçando a cabeça.
— Bem, depois que a Himiko se acalmou, ela acabou desmaiando, acho que de exaustão mesmo. Gonta carregou ela de volta para o quarto, mas deve ficar bem. Realmente não foi fácil para ela, afinal. Acho que… nunca vai ser fácil para nenhum de nós.
Shuichi concordou lentamente, engolindo em seco. O killing game estava destruindo todos por dentro. Sabia bem como Himiko se sentia, pois sentiu o mesmo quando Kaede se foi. E tudo porque ela queria proteger eles… Tudo para poder acabar com o killing game. Mas nada parecia funcionar. E, mesmo sendo detetive, ele também não conseguia encontrar uma resposta.
Se é que havia alguma.
E o desespero de pensar que mais alguém que ama pode ser mais uma vítima também… Esse sentimento nunca o abandonava. Era um medo constante que assombrava-lhe nos pesadelos e quando acordado. Simplesmente não tinha como escapar.
Mas ele não podia ficar pensando nisso, iria enlouquecer. Além disso, ele prometeu a Kaede que não desistiria. Tinha que acreditar que havia esperança, tinha que ter alguma resposta. Precisava ter...
Ouvindo o anúncio de nighttime, Kaito se despediu com um boa noite, enfim saindo. Sem muito o que fazer agora, Shuichi pegou seu livro, tentando se distrair. Mas de minuto em minuto levantava o rosto, esperando ansiosamente ver alguma reação em Kokichi. Porém o garoto continuava desacordado, parecendo em um sono profundo. Shuichi então mordeu o lábio, cada vez mais ansioso.
Por que ele não acordava? O ferimento seria mais sério do que pensava? E se ele fez algo errado na hora de tratar?
Por que ele não acordava?!?
Respirando fundo, voltou a ler o livro. Não podia ficar nervoso, Kokichi estava bem. Era questão de tempo até acordar e Shuichi sabia disso. Só precisava se manter calmo… Mas às vezes era tão difícil.
As horas então passaram. Abrindo os olhos lentamente, Kokichi encarou com confusão o novo ambiente em que se encontrava. As memórias voltavam devagar, enfim se recordando das ações de Shuichi no final do julgamento, franzindo então o cenho. Virando o rosto, notou que o mesmo tinha adormecido sobre um livro que lia, apoiado sobre os braços cruzados na cama. Pensou em acordar ele, mas admitia que achou a visão adorável, considerando o quão sereno ele parecia enquanto dormia. Tinha ficado o tempo todo ao seu lado ali?
Não, não podia ser isso.
Ninguém mais gostava de Kokichi. Não que realmente se importasse, visto que era essa a sua intenção mesmo. Mas então, por que qualquer um deles se importaria se estava bem ou não? Ele era o vilão agora. Já pensaram em matá-lo mais de uma vez. Por que Shuichi perderia seu tempo com ele?
Lembrou-se de quando havia se declarado para o garoto. Parecia tudo um sonho, só que ao mesmo tempo muito real. Porém, lembrava-se bem de como Shuichi havia reagido, pois o garoto obviamente não havia acreditado em suas palavras... Não que pudesse julgar, afinal realmente era um mentiroso. E justamente por ser assim, contar a verdade muitas vezes doía. Mentir então era simplesmente mais fácil, mesmo que para isso tivesse que mentir para si mesmo também, algo que já estava mais do que acostumado a fazer.
Mas, ao mesmo tempo, Kokichi obviamente ainda não havia desistido do detetive. Quando ele quer algo, ele vai até o fim para conseguir. É assim que um verdadeiro líder age, afinal. Era apenas natural que tudo o que desejasse estivesse sob o seu poder!
...Ou talvez isso fosse só mais uma mentira. Não sentia como se quisesse forçar Shuichi a fazer qualquer coisa contra a vontade dele. Por conta de sua personalidade orgulhosa e possessiva, essa era uma sensação bem incomum e frustrante, mas a grande verdade é que ele faria absolutamente tudo pela felicidade de Shuichi, mesmo que tivesse que deixar a sua própria de lado, sendo a primeira pessoa a conseguir tal efeito sobre ele.
Mas, bem, por mais que não fosse forçar nada, ainda valia a tentativa. Não iria ficar criando grandes expectativas, mas, agora que estavam a sós, talvez… só talvez a noite pudesse ficar mais interessante.
Encostando os dedos em sua própria testa, notou as faixas enroladas. Pareciam bagunçadas e estavam um pouco apertadas demais, mas ainda assim apreciou. Fora Shuichi quem fez também?
Esse menino era mesmo um mistério para ele.
Encarando-o novamente, decidiu acordá-lo por fim. Aproximando o rosto do dele, o observou de perto. Ainda dormia como um bebê, seus enormes cílios tremendo levemente. Se perguntou sobre o que ele poderia estar sonhando. Apesar de ter o achado sereno antes, pela sua expressão agora notava que não parecia ser um sonho muito bom.
Depois de o encarar por alguns instantes, sorriu com graça. E então, segurando levemente o nariz do menino adormecido, ele tampou sua respiração.
Não levou mais do que cinco segundos. Shuichi levantou a cabeça com rapidez, assustado com a falta de ar, perdendo o equilíbrio da cadeira e caindo com um baque no chão. Kokichi então começou a gargalhar.
— PFFFF, você tinha que ver a sua cara! — disse entre os risos, olhando zombeteiro para o garoto que se levantava agora com dificuldade. — Sério, você sempre é divertido de alguma forma, não é?
— Há-há, muito engraçado — Shuichi resmungou, já sentando na cadeira novamente, olhando bravo para Kokichi. — Será que dá para você parar de me matar do coração assim?
— Non, non. Essa não é uma opção — respondeu, colocando um dedo sobre os lábios, ainda o olhando com graça. — Inclusive, eu gosto de ver você cuidando assim de mim. Posso me acostumar?
— Não, não pode — Shuichi respondeu em um suspiro. Então virou-se para a cômoda ao lado, deixando seu livro e pegando uma barrinha de cereal, uma garrafa e alguns comprimidos que tinha deixado lá. — Toma isso. Vão ajudar se estiver sentindo dor.
— Ok, está decidido. Eu definitivamente vou me acostumar com você cuidando de mim — brincou, tomando os remédios em seguida. Mas então fez uma careta, olhando ofendido para a garrafa. — Espere, isso é soro? Por que você me deu essa coisa nojenta?
— É isso o que geralmente te dão em hospitais quando você se sente mal, sabe. Você inclusive desmaiou, se não percebeu ainda, então um pouco de sal e açúcar não vão te machucar. E já que você gosta taaanto de mim cuidando de você, com certeza você vai tomar sem reclamar, certo?
— Touché — riu, entornando então a garrafa, sem conseguir evitar de fazer outra careta depois. Aquilo era definitivamente horrível, mais do que depressa comendo a barrinha para tirar o gosto da boca.
Enquanto via ele comendo, Shuichi decidiu ir já direto para o assunto, apontando agora o dedo para ele.
— Posso saber o que diabos aconteceu?
— Hm? Du que focê tá faando? — indagou com a boca cheia, engolindo depois com pressa. — Se é sobre o ferimento, você chegou a ver…
— Não, eu não estou falando sobre o ferimento, estou falando sobre depois disso. Por que você não pediu ajuda? Ninguém levou a sério porque você depois fingiu estar perfeitamente bem.
Para a sua surpresa, Kokichi desviou o rosto para não o encarar.
— ...Não é como se qualquer um fosse me ajudar, de qualquer forma — respondeu simplesmente, dando então de ombros.
Shuichi desviou o rosto também. Trincando os dentes, ele sentiu o punho tremer enquanto apertava o lençol da cama.
— ...Você me considera tão pouco assim? — ele indagou em um sussurro. Isso atraiu a atenção de Kokichi, que passou a analisá-lo com cuidado.
— ...Te considerar pouco? Você realmente pensa isso?
O menino não respondeu, ainda sem o encarar. Kokichi então suspirou também, levantando os joelhos e apoiando o queixo sobre eles, refletindo.
— ...Eu estou sempre te observando, sabe? — começou a dizer, levantando a mão esquerda para encarar o curativo solto em seu dedo anelar. E então sorriu. — Esse lugar e as pessoas daqui muitas vezes são um tédio, mas você sempre chama minha atenção. Tudo o que eu digo e faço é imaginando como você reagiria. Cada provocação é para ver diferentes respostas suas. E todas as vezes você me surpreende. Não importa quantas vezes eu te provoque, você nunca parece desistir de mim. E isso me fascina.
Shuichi voltou a olhá-lo com hesitação.
— ...Te fascina? O que isso deveria significar?
— É bem simples. Significa que você não é nem um pouco entediante. Incrível, não é?
Normalmente quando alguém ouvisse isso, essa pessoa acharia um tanto rude e ficaria ofendida. Como alguém pode demonstrar afeto pelo outro ao compará-lo com o tédio? Isso não é algo que se faça.
Porém, Shuichi sorriu. Estava a tempo demais ao lado de Kokichi para saber o que aquilo significava. Essa é a forma do garoto dizer se alguém o marcou de alguma forma ou não, sendo um sinal tanto de respeito quanto de afeto. E como era difícil o ver falando isso para alguém! Na realidade, a única outra pessoa que Shuichi se lembrava de ter sido chamada assim fora Kaede, uma pessoa na qual Kokichi gostava também, tendo ouvido ele dizer essas mesmas palavras para ela antes da mesma morrer. Era um tanto estranho, mas essa era a forma como o garoto demonstrava seu carinho, afinal.
— ...Você não está mentindo para mim, está? — Shuichi perguntou com receio. Kokichi então revirou os olhos, rindo em seguida.
— Bem, eu poderia te dizer que é mentira, mas aí eu poderia estar mentindo ao falar isso. Como é que se acredita em um mentiroso, afinal? Eu até hoje não entendi o porquê você parece confiar em mim.
— Mas nem tudo o que você diz é mentira. Agora mesmo eu tenho certeza que você estava falando a verdade — afirmou com convicção, para logo em seguida pigarrear. — ...Não é?
— E lá vai você perguntando para o mentiroso de novo! Sério, Shuichi, você é terrível nisso. E ainda se diz ser detetive.
— Bem, eu também não me acho assim tão incrível como todos dizem, mas eu sou realmente um detetive. O problema é que você é naturalmente muito confuso.
— ...Mas então, me investigar é ainda mais interessante, não é? — Kokichi murmurou de forma zombeteira, aproximando o rosto do dele. Shuichi ia recuar, mas no fim ficou parado, encarando-o nos olhos. — Me diz. O que você já descobriu sobre mim?
— Hm… — o outro murmurou, engolindo em seco. Tinha que admitir, estava com dificuldade para pensar ao ver o rosto de Kokichi tão próximo do seu. Seus olhos violetas o observavam com intensidade, sem desviar dos seus por um segundo sequer. Shuichi segurou a vontade de pegar a mecha arroxeada de seu cabelo que estava solta no meio de seu rosto, tentando ao invés disso clarear a mente para poder responder. — B-bem… Você aparentemente é o líder de uma organização secreta, e-e…
— Não, não, essas são as coisas chatas sobre mim. Eu quero saber as interessantes. Você já descobriu alguma, certo?
Shuichi não sabia exatamente ao que ele se referia, mas agora começou a ter uma ideia. Corando fortemente, ele enfim desviou os olhos, embaraçado.
— ...Que você… t-talvez goste... de mim? — murmurou de forma gaguejada, apertando os lábios no fim. Kokichi o encarou por alguns segundos, surpreso. Admitia, tinha provocado mais para poder vê-lo envergonhado, então não esperava que ele fosse realmente falar. Vendo isso, não conseguiu evitar de rir.
— Você parece uma menininha do colegial que acabou de se declarar para o senpai, sabia? — falou com graça, rindo ainda mais ao ver Shuichi corando cada vez mais forte.
— E você às vezes é insuportável.
— Agora já está mais para uma tsundere mesmo. Devo dizer que eu gosto, até.
Shuichi estava prestes a retrucar, mas se calou ao ver Kokichi colocar a mão sobre o seu rosto. Diferente de quando ele havia desmaiado, sua mão agora estava mais quente, com seus dedos pequenos acariciando sua bochecha. O pobre detetive agora sentia que seu rosto iria explodir.
— E então? Vai me rejeitar mais uma vez? — Kokichi indagou, sorrindo. — Você sabe que não tem como escapar de mim, certo? Eu sempre consigo o que eu quero no fim.
— ...Você fala como se eu fosse um objeto seu.
— Não, objeto não. Mas você definitivamente é meu. E eu nunca desisto daquilo que me pertence.
Shuichi queria se afastar. Sempre que ouvia Kokichi dizer coisas como aquela, se sentia extremamente inseguro de ficar perto dele. Mas ele simplesmente não conseguia mais. Ele estava praticamente hipnotizado pelos olhos violetas, que pareciam quase devorá-lo vivo. Por isso, não conseguia reagir enquanto via o rosto do outro se aproximar cada vez mais do seu.
Então Kokichi o beijou.
Para a sua surpresa, fora um beijo leve e lento. Imaginou que Kokichi tentaria o dominar logo de cara, mas seu parceiro não parecia ter pressa enquanto esperava Shuichi relaxar. Apesar de todo o discurso dele o pertencer, Kokichi parecia querer ter certeza de que ele estava a vontade com aquilo tudo, aparentemente. E, agora que parava para pensar nisso, Shuichi percebeu que a mesma coisa aconteceu no dia em que se encontraram no hotel, quando Kokichi se afastou justamente porque notou o quão inseguro o menino estava naquele momento.
Ele realmente se importava com o que Shuichi pensava e sentia. Isso nunca foi uma mentira.
“Salgado”, o garoto pensava enquanto apreciava as sensações que sentia. “Seus lábios estão salgados do soro. Mas ainda tem o hálito de uva de sempre...”
Oh, ele realmente estava se sentindo bem. Admitia que já tinha imaginado muitas vezes como poderia ser o primeiro beijo de ambos, mas estava sendo mais especial do que pensava. Kokichi ainda segurava delicadamente sua bochecha, sendo o mais cuidadoso o possível enquanto movia seus lábios. Quando enfim se afastaram, ele tirou a mão de seu rosto, passando a analisá-lo enquanto esperava ver qualquer reação por parte dele. Para a sua surpresa, Shuichi começou a rir.
— Você é realmente mais cavalheiro do que eu pensava — disse entre os risos.
— Cavalheiro? Você não me chamou disso, não é?! Você vai fazer eu me sentir como o Gonta agora! — ele respondeu com uma careta, fazendo o outro rir mais ainda.
— Só falta você começar a falar em terceira pessoa e então estará idêntico mesmo.
— Espere… Shuichi Saihara zoando alguém?! Você finalmente aprendeu a fazer algo que preste comigo! Agora você só precisa largar o Kaito de uma vez e me aceitar oficialmente como o seu novo parceiro nos casos, assim será perfeito!
— Com você, só se fosse parceiro nos crimes — murmurou entre os risos, apoiando as mãos nas pernas dele. Kokichi ergueu uma sobrancelha com isso.
— Poderia ser também. Qualquer coisa. Se bem que neste exato momento você está sendo um tipo diferente de parceiro bem interessante — respondeu debochado, pegando então as mãos dele e o puxando. — Agora, você não espera que eu deixe você ficar o tempo todo só nessa cadeira, não é? Nosso beijo foi legal e tal, mas você sabe que eu não estou satisfeito só com aquilo, certo?
Shuichi revirou os olhos com graça, permitindo-se erguer para poder sentar ao seu lado na cama. Estava muito nervoso antes, mas agora não conseguia deixar de relaxar ao lado dele. Sabia agora que Kokichi não faria nada com ele se o mesmo não quisesse.
E, bem, admitia… Estava ansioso para ver o que poderia acontecer. Nunca se sentiu assim antes, sendo pura confiança que passou a ter em seu parceiro, deixando seu nervosismo de lado para enfim conseguir aproveitar cada momento.
Kokichi então passou os braços por cima dos ombros dele, o abraçando no pescoço, enquanto Shuichi agora abraçava sua cintura. Os rostos estavam já novamente muito próximos, narizes cruzados enquanto sentiam a respiração do outro sobre suas peles. Logo já estavam se beijando, primeiro lentamente, mas se intensificando bem rápido, com a língua de ambos brincando em suas bocas. Lentamente Shuichi foi caindo sobre ele, ficando ambos deitados um sobre o outro, ainda abraçados enquanto se beijavam com paixão.
Separando enfim seus lábios, Kokichi passou a beijá-lo pelo rosto, se movendo até chegar em sua orelha.
— Você está mais empolgado do que eu pensava — murmurou em um sussurro em seu ouvido, fazendo o outro se arrepiar. Abaixando os braços, passou as suas mãos por dentro do casaco e da camisa do detetive, passeando com seus dedos finos pelas costas nuas do outro, conseguindo sentir bem o corpo que estava arrepiado contra si. — Até mesmo pulou já em cima de mim. Você realmente consegue sempre me surpreender, não é?
— Talvez, se você não me provocasse tanto... — Shuichi começou a dizer contra seu pescoço, fazendo o mais baixo se arrepiar também ao sentir o hálito quente sobre sua pele por trás do lenço. — Você realmente joga sujo às vezes…
— Jogar sujo? Eu sou só um cara ferido e indefeso. Você tem que tomar responsabilidade sobre isso — murmurou com um riso, voltando a beijá-lo pelo rosto para alcançar novamente sua boca. Porém parou, notando que Shuichi havia ficado tenso de repente. — ...Shuichi?
— R-realmente, você está ferido! E-eu devia estar só c-cuidando de você! — o outro murmurou, se apoiando em seguida sobre os cotovelos enquanto o olhava com culpa. — Você tem que repousar, e-eu…
— Ei, ei, ei! É sério que você vai me excitar assim e depois cair fora? — indagou, erguendo mais uma vez a sobrancelha com graça. — Não tínhamos acabado de decidir que seríamos oficialmente parceiros no crime e no sexo?
— ...Estávamos brincando sobre o crime e não chegamos a falar sobre sexo, sabe...
— Bem, você é quem não percebeu nas entrelinhas. Como um mentiroso profissional, eu também sei disfarçar a verdade — comentou, aumentando o sorriso. Ele então levantou uma de suas mãos, brincando com o polegar sobre o lábio inferior do rapaz acima de si. — Eu já te disse antes: você pode fazer o que quiser comigo. Esqueça ferimentos ou qualquer outra coisa. Nós dois juntos é só o que importa agora — murmurou, puxando-o de volta lentamente pelo queixo com a mão que brincava antes em sua boca.
— Kokichi… Você precisa de c-cuidados… — murmurava, mas seu corpo apenas cedia sem ele nem perceber, sendo logo calado com mais um beijo. Lentamente Kokichi foi desabotoando os botões do casaco de seu parceiro, atrapalhando-se um pouco com os dedos por estar distraído com seus lábios, que não haviam parado de se beijar em momento algum. A mente de Shuichi estava nublada, não conseguindo se concentrar em mais nada além dos toques que sentia. Antes que notasse o seu casaco e sua camisa foram jogados ao lado, agora com o seu torso exposto completamente.
Enfim se separando sem fôlego, Kokichi pôde olhar o corpo dele. Tinha sentido já com os dedos, mas ainda assim gostou muito da visão. Não é como se o outro rapaz tivesse muitos músculos ou coisa do tipo, mas definitivamente não era magro como parecia quando está de roupas, tendo um corpo até que bonito para apreciar. Sabia já que ele treinava todas as noites com o Kaito e com a esquisita da Maki, mas não imaginou que realmente já estivesse ajudando no seu físico. Isso foi uma surpresa bem agradável.
Já Shuichi não sabia mais como agir, segurando a vontade de se tampar com as mãos em uma tentativa de se esconder. Nem mesmo no dia em que o convidaram para ir na piscina ele quis tirar a camisa, então, ver-se agora exposto em um momento tão íntimo era um tanto aflitivo para ele. Por conta disso, não conseguiu evitar de ficar um tanto estático no lugar enquanto via Kokichi passar os dedos pelo seu abdômen, o olhando fascinado como se Shuichi fosse a descoberta mais interessante que teve em muito tempo.
— ...Kokichi? — o garoto murmurou, já bem sem graça. Com relutância o outro garoto desviou os olhos, voltando a encarar seu rosto.
— Oh, desculpe. Onde paramos? — perguntou com um sorriso, rindo então ao ver a expressão de Shuichi. — Ei, não me olhe assim. Só estava apreciando a paisagem.
— A paisagem? Sério?
— Tudo bem, é mentira. Mas, convenhamos, com um cara gato desses bem em cima de mim, não tem como eu não me distrair — respondeu, rindo ainda mais ao ver o rosto do outro ficar extremamente rubro. Bufando, começou a tirar o próprio lenço do pescoço. — Pronto, você se sentirá mais à vontade se eu me juntar a você então?
Isso realmente conseguiu desviar a atenção de Shuichi, que observava agora o garoto debaixo de si atirar de lado seu lenço e começar a desabotoar seu próprio casaco. Lembrou-se que as meninas não quiseram convidar ele para ir na piscina naquele dia, então nunca chegou a ver o jovem líder sem o seu típico traje preto e branco.
Quando ele terminou de desabotoar, Shuichi notou que o garoto andava sem camisa por baixo. Por ele ter correias prendendo seus pulsos e cotovelos, Kokichi decidiu que iria ser simplesmente mais fácil se só deixasse o casaco aberto ao invés de tirá-lo, visto que mesmo assim dava para ver perfeitamente seu corpo — visão essa que definitivamente surpreendeu Shuichi.
Kokichi era realmente magro, mas, considerando que ele possuía só 44 quilos — sim, Shuichi lia com frequência o card dele para ver se alguma informação sobre o garoto atualizava —, esperava no mínimo ver um corpo extremamente seco, mas não era realmente assim. Provavelmente por conta de sua baixa estatura, o peso até que era bem equilibrado, além do fato do menino ter certas curvas relativamente bonitas em um corpo masculino.
E agora fazia sentido o porquê sua mão se encaixava tão bem ao segurar na cintura dele!
Erguendo mais uma vez a sobrancelha, Kokichi observava com graça o garoto de cima envergonhado enquanto absorvia a visão de seu corpo.
— Parece que a vista aqui te agrada também, afinal — ele murmurou, colocando um dedo sobre o lábio em seguida. — Agora que ambos já conseguimos aproveitar as nossas respectivas paisagens, podemos voltar para a parte boa? — indagou. Vendo então o outro garoto perdido, Kokichi revirou os olhos, bufando. — Tudo bem, regra número um: se você não sabe ainda o que fazer, não tente ficar por cima, querido.
Então, sem aviso nenhum ele levantou o próprio corpo, forçando Shuichi a levantar-se com surpresa também. Colocando-se sobre os joelhos, Kokichi sorria enquanto passava ambas as mãos sobre o torso dele novamente, subindo elas lentamente enquanto apreciava seu corpo com os dedos mais uma vez, mordendo o próprio lábio com excitação. Mas após alguns segundos ele enfim deixou seu torso e passou a segurar seus ombros, beijando em seguida seu pescoço enquanto aos poucos o empurrava de leve para que se deitassem no lado oposto da cama, invertendo então as posições de quem ficava sobre quem.
Sem esperar qualquer reação, Kokichi foi abaixando seus lábios para passar a beijar pelo seu peito e abdômen. Àquela altura Shuichi já estava completamente arrepiado, arfando ao sentir o outro se abaixar cada vez mais enquanto beijava e chupava seu corpo, sem ter pressa nenhuma, sendo possível ver já uma leve marca roxa surgindo aqui e ali por onde passava com seus chupões. Porém, quando estava prestes a alcançar suas calças ele parou, levantando o rosto para encarar os olhos de seu parceiro. Parecia quase como se ele estivesse esperando algum tipo de autorização para poder continuar.
“E ainda diz que não é cavalheiro”, Shuichi pensou, sorrindo para si mesmo.
Mas admitia que não sabia exatamente como dar a tal autorização, por isso tentou pensar rápido. E então, mesmo sentindo que seu rosto iria entrar em combustão com isso, Shuichi começou a tirar seu próprio cinto com dificuldade, fazendo Kokichi segurar a vontade de rir. Não importava como olhasse, aquele detetive era um desastre quando se tratava de sexo. Mas isso tornava tudo ainda mais divertido para o pequeno menino, que observava com graça o rosto do outro pegar fogo.
— Ok, com essa cara você parece que está prestes a vomitar. Isso não é muito romântico — Kokichi riu por fim, apoiando um dedo seu logo acima da cueca agora exposta do outro rapaz, acariciando de leve. Ele já estava obviamente muito excitado, considerando o volume. Shuichi desviou o rosto, mordendo o lábio.
— ...E-está tudo bem… Eu q-quero… também... — ele murmurou, tendo plena consciência do toque que acariciava o seu membro inferior. Isso definitivamente dificultava para pensar e falar.
— Então por que você não tenta olhar para mim enquanto diz isso? É muito mais interessante se você participar também, sabe... E, bem, eu admito que quero poder conseguir ver totalmente as suas expressões. A nossa diversão está só começando — comentou, sorrindo com travessura.
Esse garoto iria enlouquecê-lo. Tanto as provocações de suas palavras quanto as de seus toques o fazia perder completamente o equilíbrio, sentindo sua sanidade se esvair aos poucos. Era uma sensação bizarra de querer se esconder com a vergonha, mas ao mesmo tempo a louca vontade de ver até onde conseguiriam ir. E Kokichi sabia muito bem o quanto estava conseguindo mexer com ele… E, oh, como estava gostando disso!
Sem mais enrolar, Kokichi enfim puxou sua calça e cueca, as tirando de suas pernas enquanto via o membro excitado surgir. Começou seu trabalho devagar, apenas com as mãos, fazendo questão de olhar o tempo todo o rosto de seu parceiro, apreciando cada expressão que ele fazia conforme manuseava seu membro duro. Shuichi arfava, gemendo de leve enquanto tampava a boca com a mão, tentando controlar sua respiração pesada. Não queria fazer barulho, mas estava cada vez mais difícil de se segurar.
Tendo então já apreciado essa visão, enfim Kokichi colocou na boca para chupar. Não demorou mais do que alguns segundos para que Shuichi começasse a gemer muito mais alto, envergando levemente o corpo enquanto agarrava o lençol da cama com força. Seus olhos já não se mantinham fixos em mais nada e sua mente ia a loucura, com os lábios escancarados já sem conseguir mais fechar. Usando tanto a boca quanto sua língua, Kokichi fazia o menino deitado gemer cada vez mais e mais alto, com ele já nem percebendo o fato de que qualquer um que passasse do lado de fora poderia ouvir — mas, mesmo que por um milagre ele percebesse isso, já era impossível de se controlar naquele ponto. Estava completamente entregue a Kokichi. E é claro que cada reação era apreciada pelo pequeno garoto travesso, que não tinha pressa nenhuma enquanto enchia o outro de prazer.
Mas, quando parecia que Shuichi estava para chegar no seu limite, Kokichi parou. Definitivamente não facilitaria para ele. Afinal, estavam ainda por começar!
Shuichi suava, sua respiração saindo arrastada enquanto via com um olhar um tanto perdido Kokichi se erguer. Não conseguia pensar direito para ver o que estava acontecendo, seu corpo ainda processando o fato do prazer ter parado. Por tal, demorou para se tocar o que Kokichi pretendia fazer até vê-lo se sentar sobre o seu colo, o olhando com tesão.
— Talvez você possa me ajudar aqui, não? Também quero participar da brincadeira — murmurou, sorrindo tentadoramente enquanto desafivelava as correias presas em suas coxas e seu cinto em sua cintura, deixando a calça agora folgada em si. — E eu imagino que você esteja doido para ver quais expressões eu consigo fazer também… Não quer?
Isso foi a gota d'água. Normalmente Shuichi não saberia o que fazer em uma situação como essa, mas agora agia por puro instinto, um desejo louco por experimentar cada face de Kokichi possível. Com isso ele se sentou, mas, ao invés de se deitar sobre ele novamente, apenas o empurrou para o encosto da cama, deixando as costas do garoto contra a parede enquanto o olhava com desejo. Com as mãos em sua cintura, puxou as calças e a cueca de Kokichi contra si, com o outro garoto agilmente deslizando as pernas para deixar que as peças saíssem, deixando-as cair de lado no chão e ficando apenas com o casaco aberto no corpo.
Shuichi estava cheio de tesão. Mas, apesar da loucura que sentia com o desejo, ainda assim hesitou por um instante, olhando enfim para Kokichi com receio.
— N-não está desconfortável? Podemos tentar outra coisa se quiser… — murmurou, relutante. Kokichi bufou, passando os braços novamente em volta de seu pescoço.
— Shuichi, você está no controle agora. Eu farei absolutamente o que você quiser que eu faça, serei todo seu… Então tente me divertir — respondeu, mordendo o lábio em seguida com o desejo que também sentia.
Mesmo que um pouco receoso, Shuichi passou a segurar a bunda de Kokichi com ambas as mãos, posicionando-o sobre si, com o outro passando a abraçar sua cintura com as pernas. A cabeça e os ombros do pequeno estavam encostados contra a parede, encarando seu parceiro agora em pura expectativa. E então, tendo certeza de que Kokichi estava excitado o suficiente, Shuichi começou a entrar dentro do garoto aos poucos.
Com isso, lentamente a expressão de Kokichi passou a mudar. Primeiro começou a arfar, a respiração já saindo pesada e arrastada enquanto o encarava. Mas não demorou muito para que enfim perdesse a compostura, levantando o queixo para começar a gemer alto, seus olhos violetas já não conseguindo se manter fixos enquanto se reviravam perdidos para o teto, antes de enfim se fecharem com força. Agora quem conseguia apreciar as reações era Shuichi, que via atentamente as mudanças no rosto rubro de seu parceiro conforme se movia dentro dele.
Ainda segurando a bunda do menino, Shuichi se inclinou um pouco mais para a frente para poder facilitar a se movimentar, não conseguindo evitar de gemer também com o prazer que sentia. O ritmo aumentava gradativamente, com ambos os garotos indo a loucura. Ainda abraçando Shuichi no pescoço, Kokichi conseguiu se controlar minimamente para encostar seu nariz no do menino, ambos ofegantes agora enquanto voltavam a se encarar mais uma vez. Por mais incríveis que Shuichi pense que os olhos de Kokichi sejam, o jovem líder também amava se perder no olhar cinza do outro, tão profundo e seguro de se apoiar quanto o próprio Shuichi em si. Definitivamente não se cansaria deles jamais.
Mas logo ambos já não viam mais nada, fechando os olhos enquanto se beijavam, as estocadas ainda acontecendo enquanto se colavam de vez. Mal respiravam, línguas se embaralhando enquanto os corpos se moviam, com Shuichi involuntariamente apertando sua bunda com muita força enquanto Kokichi arranhava suas costas ao ponto de sangrar, além das correias de seus pulsos e cotovelos que se apertavam contra a pele do rapaz. Porém, absolutamente nenhum dos dois sequer notavam nada disso.
O prazer imenso que sentiam era mesmo a única coisa que importava.
Chegando ao clímax, já não conseguiam mais se beijar, pois àquela altura era impossível de segurar os altos gemidos dos dois. Shuichi então foi o primeiro a chegar no seu limite, seu corpo tremendo em fortes espasmos enquanto tinha seu orgasmo. Retirando-se de dentro do pequeno garoto, Shuichi o abraçou na cintura, escondendo o rosto em seu ombro enquanto arfava fortemente. Vendo isso, Kokichi retirou um de seus braços que o abraçava no pescoço para segurar o rosto dele, puxando-o levemente pelo queixo para fazer ele o encarar. E então sorriu com graça.
— Você realmente conseguiu me usar bem, não é…? — murmurou ofegante, levantando o outro braço para poder passar a mão em seu cabelo. — Mas ainda posso continuar a ser usado, sabe. Está pronto para me divertir mais um pouco?
Shuichi o encarou cansado, mas a determinação ainda estava clara em seu olhar. Sabia que Kokichi ainda não tinha tido seu orgasmo, então queria poder dar esse último pico de prazer para ele também. Porém, ao mesmo tempo o olhava com culpa, agora sem graça.
— Isso não é muito justo — começou a dizer, ainda também muito ofegante. — Só eu estou aproveitando aqui, você sempre faz tudo por mim… Você tinha que ter a chance de que eu fizesse algo por ti também.
— Você está brincando? Eu não podia estar me divertindo mais! Além disso, convenhamos, você é terrível com o sexo para tentar masturbar.
— ...Sou? — murmurou, desviando o rosto. Já imaginava isso, mas estava triste por ter decepcionado. Contudo, logo em seguida Kokichi começou a rir.
— E você ainda cai nas minhas mentiras! Achei que você já me conhecesse melhor — riu mais ainda, dando um beijo rápido nele. Isso chamou de novo a atenção do menino, que o encarava com dúvida. — Porém, era verdade quando eu disse que estava me divertindo. Só que eu ainda não estou terminado aqui… Mas podemos continuar como você quiser. É só dizer.
— Mas eu r-realmente queria poder fazer algo por você também… Não é mesmo justo — murmurou envergonhado, apertando os lábios de forma emburrada. Ah, isso era tão típico de um virgem inexperiente! Kokichi definitivamente não aguentava ver aquilo, aumentando o sorriso ainda mais.
Shuichi era só tão adorável!
— ...Tudo bem, então. Vou te guiar — respondeu em um sussurro, indo buscar a mão dele, segurando-a com delicadeza. Vendo suas mãos unidas, Shuichi notou seu curativo no dedo anelar já solto novamente, guardando isso na mente para que fosse amarrar de novo assim que terminassem. Por algum motivo era importante para Kokichi, afinal… Então imaginou que ele iria ficar feliz com isso.
Observou em silêncio o pequeno garoto levar sua mão para debaixo de si mesmo, enfim entendendo o que ele queria. Corando fortemente, Shuichi ergueu seus dedos, os colocando dentro de seu parceiro em pequenos movimentos. Com isso Kokichi voltou a gemer de leve, fechando os olhos enquanto sentia mais uma vez o prazer o dominar.
— ...Está bom assim? Não está machucando…? — Shuichi indagou lentamente, ainda muito corado enquanto observava com cuidado o rosto de seu parceiro.
— Hmm… — Kokichi murmurou de forma quase inaudível, deixando Shuichi sem saber se ele estava tentando dizer algo ou se foi apenas mais um gemido seu. Mas enfim o viu abrir os olhos, o encarando com puro desejo. — ...Mais… M-mais rápido…
Hipnotizado por suas diferentes facetas, ele obedeceu, aumentando o ritmo de seus dedos. Agora que era apenas Kokichi a sentir os toques, Shuichi podia apreciar com calma cada diferente expressão que o outro fazia, não podendo negar que estava gostando muito disso. Conforme aumentava o ritmo, Kokichi se perdia sobre si. Se contorcendo de leve em seu colo, sua respiração saía mais uma vez arrastada junto com seus gemidos, agarrando os ombros de seu parceiro com força, coisa que mais uma vez Shuichi mal percebeu, ainda fascinado com o que via.
Isso porque ver Kokichi perder a compostura assim era surreal. O garoto obviamente tinha complexo de domínio, mas com Shuichi tudo era diferente. É como ele tinha dito no hotel... Kokichi queria ser capturado. Queria Shuichi concentrado totalmente nele e somente nele, uma forma possessiva de agir mas ao mesmo tempo completamente apaixonada.
E era isso o que o detetive fazia nesse instante, sua atenção completamente focada no momento em que compartilhavam. Agora, nada mais conseguiria desviar os olhos dele de Kokichi, que ainda ofegava alto sobre o movimento de seus dedos. Ouvir sua voz a gemer, ver suas expressões mudarem a cada toque seu, sentir seu corpo se contorcer e se apertar sobre si… Havia passado a amar cada detalhe em seu amado.
Ainda completamente hipnotizado, aproximou o rosto dele no de Kokichi, chamando a atenção do garoto para mais um longo beijo, ainda sem parar de masturba-lo. E com isso, o beijo se estendeu até o momento em que o pequeno menino chegou ao seu limite, com ele enfim conseguindo ter seu orgasmo também, espasmos espalhando pelo seu corpo enquanto soltava seu último gemido.
Ambos estavam já exaustos, agora apenas se encarando. Kokichi então sorriu, passando a brincar com uma mecha de cabelo caída no rosto do outro rapaz.
— ...Nada mal, para um virgem — murmurou, rindo enquanto o via fazer uma careta.
— Você sempre tem que estragar o momento, não é?
— Eu sabia que afinal você me conhecia bem! — brincou, beijando sua bochecha corada. E então se afastou levemente, o observando com graça. — Mas, sério, você está grudando. Tem chuveiro aqui?
( ... )
— ...Você não precisa mais de mim cuidando de você, sabe — Shuichi reclamava enquanto esfregava o shampoo no cabelo de Kokichi, com o garoto sentado em um banco para isso. — Pela empolgação que você estava na cama antes, é óbvio que você já está bem, fora que você conseguiu tomar seu banho bem tranquilo. Por que então eu estou lavando seu cabelo?
— Ei, tem um ferimento grave aí na minha cabeça, sabia? Precisa ser tratado com carinho, seu sem coração!
— E, mesmo tendo um ferimento grave, você ainda assim transou comigo?
— Bem, temos que ver as nossas prioridades — ele murmurou com deboche, balançando as pernas no banco como uma criança. — Mas, ah, é realmente bom ter tirado aquelas bandagens! Estavam esmagando meu crânio.
— Apesar de que eu vou colocar novas assim que terminarmos aqui, é claro.
— Espere, o quê? Mas eu estou bem! — disse, para logo em seguida desviar o olhar, pigarreando. — Quero dizer, agora eu não estou, preciso de cuidados. Mas quando você terminar de lavar meu cabelo eu definitivamente vou estar!
— Certo. E isso nem foi mentira, é claro.
— Claro que não! Odeio mentirosos!
Shuichi revirou os olhos, pegando o próximo shampoo para passar nele.
— Se não liga para bandagens, por que ainda mantém esse curativo no dedo? O machucado dele já sarou faz tempo.
Kokichi levantou a mão para olhar seu dedo anelar. O curativo estava úmido por causa do banho, então tinha que pedir para Shuichi trocar. Vendo ele, não conseguiu evitar de sorrir.
— Eu gosto dele! É como um anel de noivado, não acha?
Ouvindo isso, Shuichi engasgou consigo mesmo. Kokichi então riu.
— O que foi? Parece chocado.
— É por isso que você mantém ele? N-nós não estávamos nem juntos na época!
— Mas eu sempre soube que ficaríamos juntos no fim. Eu já disse, consigo tudo o que eu quero! — respondeu contente. E então suspirou, agora mais pensativo. — Mesmo que por pouco tempo, tive você comigo. É isso o que importa.
Shuichi então parou, confuso. Tinha ouvido mesmo certo?
— ...Por pouco tempo? Já está querendo se livrar de mim? — brincou, forçando um sorriso nervoso.
Kokichi levou ainda alguns segundos para responder, olhando fixamente o curativo em seu dedo. Mas então começou a rir, virando o rosto para o olhar com graça.
— É mentira! Você é realmente fácil de enganar, não é?
Shuichi tentou rir junto também, um tanto sem graça. Às vezes Kokichi realmente o desequilibrava com as coisas que dizia. Mas ter ouvido aquilo o fez mesmo se sentir um pouco mal, uma sensação que sempre tinha quando o pequeno inventava alguma de suas loucuras que o colocava em risco.
Mas, bem, aquele era Kokichi. Se Shuichi se preocupasse todas as vezes que ele dissesse algo como aquilo, não teria paz. Provavelmente seria melhor apenas se acostumar com essas coisas, visto que o menino era sempre assim.
— Hã, c-certo… — murmurou, ainda um tanto nervoso. Engolindo em seco, decidiu simplesmente então só mudar de assunto. — Por sinal, você tinha mesmo que marcar todo o meu corpo assim? Tem um roxo diferente a cada centímetro em mim. Como você sequer fez isso? — indagou, fingindo-se frustrado.
— Oh, eu sou bem possessivo. Mas devo dizer que fiquei surpreso que eu mesmo tenha saído ileso de marcas. Você podia ter me aproveitado mais!
— ...Bem, sua bunda não está tão ilesa — murmurou para si mesmo, lembrando de quando havia apertado antes ela com força. Mas, mesmo tendo dito isso baixo, Kokichi ouviu, surpreso.
— Espere, o quê? — exclamou, erguendo o corpo de lado para tentar ver. — Ho-ho, você não perdeu tempo mesmo, Shuichi! Sabia que fazia o tipo possessivo também!
— N-não, não faço!
— Oh, você é adorável. Mas, ei, eu estou ficando com frio! Liga a água!
Shuichi suspirou. Obedecendo, massageou sua cabeça enquanto deixava a água tirar o shampoo. Conseguia sentir o machucado dele com os dedos, realmente tentando ser delicado conforme massageava. Quase conseguia ouvir Kokichi ronronar, apreciando o carinho na cabeça.
Voltando a desligar a água, começou a passar o condicionador. Mas o fazia um tanto distraído, lembrando-se dos momentos íntimos que tiveram a pouco tempo, corando com as memórias. Parecia surreal o que passaram, mas a lembrança de cada toque ainda permanecia fresco em sua mente.
Fora… bom. Muito bom. Com Kokichi, sentia que tudo o que fizesse seria a melhor experiência de todas, cada instante com ele sendo especial. Quando havia se apaixonado tanto assim?
Depois de um tempo considerável que passaram em silêncio, enfim Shuichi tomou coragem para perguntar:
— ...Kokichi? Eu sei que é meio repentino, mas… como foi para você? — indagou lentamente, um tanto hesitante. Tinha medo de ser o único a se sentir assim, mordendo o lábio enquanto aguardava a resposta.
...Resposta essa que não surgiu. Kokichi continuou em silêncio, sem nem sequer virar o rosto para o olhar. Shuichi então engoliu em seco, nervoso.
— ...Foi ruim? Imagino que não tenha sido tudo isso… D-desculpe, eu deveria ter tentado mais… — murmurava, se sentindo extremamente triste agora. Vendo que Kokichi ainda não respondia, começou mesmo a ficar chateado, sentindo que logo as lágrimas começariam a subir, respirando fundo para evitar isso. — T-tudo bem, você pode dizer, e-eu aguento! E-eu… — mas então parou de falar, agora confuso.
Certo, esse silêncio estava estranho já. Deixando seu cabelo, foi até sua frente para o encarar, arregalando então os olhos.
Ele tinha cochilado enquanto massageava sua cabeça!
Sentia agora seu rosto ficar rubro de vergonha. Irritado, beliscou a bochecha dele, fazendo o menino acordar em um susto.
— Ai!!
— Sério que você não ouviu nada do que eu disse?! — perguntou, bravo. Kokichi então piscou, confuso.
— ...Pela sua cara, foi alguma coisa importante. Eu juro que não fui eu, foi o Kaito!
Shuichi suspirou novamente. Era incrível como, mesmo sem saber do que se tratava, instintivamente o menino já mentia. Decidiu só então voltar até a mangueira, enxaguando o condicionador de seu cabelo.
— …Deixa para lá. Para ter dormido assim, acho que você ainda não está mesmo totalmente bem como eu tinha pensado. Quando sair daqui eu quero que você repouse de vez, ok? E vai tomar mais soro também.
— Espere, o quê?! Mas eu estou ótimo, nada derruba o supremo líder aqui! Ainda mais com um membro tão valioso da organização cuidando bem de mim assim!
— Eu já disse que não vou me juntar na sua organização.
— Tsc! Você é muito chato. Mas uma hora irá ceder, você sempre cede para mim.
— Claro, vai sonhando — riu, desligando a mangueira e pegando a toalha para secar sua cabeça.
Terminando, sentou ao lado de Kokichi no banco e começou a lavar o próprio cabelo, com o garoto ao seu lado o observando enquanto fazia um bico.
— Você não quer que eu te lave também? Isso é um tanto decepcionante.
— Por que tudo o que eu escuto vindo de você, de alguma forma soa como se tivesse segundas intenções?
— Oh, você percebeu só agora? — comentou, sorrindo com travessura. — Bem, então é mesmo decepcionante. É mais divertido quando você é ingênuo demais para notar.
Shuichi apenas revirou os olhos novamente, já mais do que acostumado com esse jeito dele. Era como ver uma criança que gostava de mentir e aprontar sempre que pudesse, só que com o Shuichi sendo de uma forma pelo menos umas 100x mais pervertida. Às vezes achava engraçado, outras já era irritante, ou então acabava por se derreter todo com suas palavras… Não importava qual fosse sua reação, todas pareciam agradar Kokichi, que nunca se cansava disso.
Terminando, Shuichi pegou as roupas de ambos, estendendo as de Kokichi para que ele pudesse se trocar. O garoto então fez outro bico, emburrado.
— Já vamos nos trocar? E quanto as nossas paisage— foi interrompido com a sua cueca jogada na sua cara, com Shuichi agora o encarando emburrado também.
— Ok, você está oficialmente proibido de continuar com as piadas pervertidas por hoje. Sério.
— Eu não faço ideia do que esteja falando. Sou apenas um ser inocente de desejos carnais.
— Inocente de desejos carnais logo depois de fazer sexo?!
— O que eu quero dizer é que meus pensamentos são puros! Sua falta de fé em mim me choca — murmurou, fazendo sua falsa cara de choro.
Era mesmo impossível de ter uma conversa séria com ele.
Com os dois trocados, voltaram para o quarto, com Shuichi praticamente o forçando a se sentar na cama para poder enfaixá-lo novamente. Entediado, Kokichi brincava com o curativo pendurado no dedo enquanto pensava.
— Acabou que você não treinou com o idiota e com a máquina assassina ontem, hein? — disse casualmente.
— ...Quando diz idiota e máquina assassina, se refere ao Kaito e a Maki?
— Duh.
— Eu não gosto quando você os chama assim. São meus amigos.
— Bem, literalmente todo mundo já chamou o Kaito de idiota pelo menos uma vez já. E máquina assassina é só a constatação de um fato. Eu ainda tenho os hematomas de quando ela tentou me enforcar, sabe... Inclusive, você poderia ter me dado um chupão no pescoço que eu não teria nem percebido, olha que perda de oportunidade!
— Sem piadas pervertidas, esqueceu?
— Oh, claro, foi mal.
— ...Kaito é o meu melhor amigo desde o início de tudo. E Maki… eu não gostei nem um pouco do que ela fez com você, mas ela está mudando. Kaito jura de dedos cruzados que ela é uma boa pessoa e eu acredito nele. E realmente, eu nunca a vi tão aberta com todos desde que começou a sair com ele. É claro, não vou mais me encontrar com vocês dois ao mesmo tempo, não vou deixar que ela se aproxime de você mais. Contudo... eu quero acreditar em todos. Acreditar que podemos ser unidos aqui.
Kokichi definitivamente não gostou da resposta. Mas continuava com a expressão neutra, ainda brincando com o curativo no dedo.
Shuichi era só… inocente demais.
Ele definitivamente era um péssimo detetive quando suas emoções se envolviam. Por amar tanto Kokichi, ele não conseguia perceber o quanto que todos os outros o odiavam. Kokichi sabia muito bem que Maki ainda não havia desistido de matá-lo, porque ela verdadeiramente acreditava que ele fosse o mastermind agora… E não era apenas ela. Já fora ameaçado por todos os outros, e agora mesmo tinha plena noção de que Miu estava criando uma máquina para tentar acabar com ele de vez — não sabia ainda como se livraria disso, mas não se deixaria ser morto assim também, é claro. Pelo menos não ainda.
Se fosse para morrer, que fizesse realmente alguma diferença. Mas, para conseguir o que queria, precisava de ajuda. O único que conseguia pensar para o ajudar era o próprio Shuichi, mas como com ele sendo tão inocente assim?
...Não, não era apenas isso. Não queria envolvê-lo mais. Não queria vê-lo se colocar em perigo por um plano que talvez nem sequer funcionasse. Ele nunca conseguiria pedir algo como isso para Shuichi.
Faria ele sobreviver, não importava como.
Terminando de enfaixar sua cabeça, Shuichi se sentou ao seu lado esquerdo, agora pegando sua mão para ver seu curativo.
— Está todo molhado! Não tirou nem para tomar banho?
— Claro que não! Eu não tinha certeza se você ia trocar, não podia ficar sem. É o meu anel de noivado, afinal!
Shuichi não conseguiu deixar de rir. Eram quase adultos praticamente, porém Kokichi novamente parecia uma criança. Mas, tinha que confessar, achava isso adorável nele.
Tirando a pequena fita de pano, ele observou a pequena cicatriz que a faca tinha deixado no seu dedo, acariciando com o seu polegar enquanto refletia.
— Sério, às vezes você é mesmo bem doido. Até hoje eu não entendi o que passou na sua cabeça quando quis brincar com aquela faca.
— Eu não estava brincando, aquilo era um desafio de vida ou morte!
— Mesmo que no fim você tenha feito tudo isso só para fazer a cantada de que você roubou meu coração?
— ...Bem, sim. Foi um longo caminho até chegar na cantada, mas definitivamente valeu a pena por isso. Mas, ainda assim, não subestime meu teste de coragem!
— Claro. Muito corajoso.
— Ei, não tente mentir para um mentiroso, nada legal! Consegui sentir a ironia daqui — resmungou, fazendo bico mais uma vez. Mas então Shuichi pois a mão em sua cabeça, afagando ela com carinho.
— Foi MUITO corajoso. Eu nunca teria conseguido fazer o mesmo que você. Isso não é mentira — comentou, sorrindo. — Apesar de ter quase me matado do coração na hora com todo o sangue, eu sei que você me deixou ganhar porque não queria que eu me machucasse também. Isso é uma das coisas que eu amo em você.
Pela primeira vez Kokichi ficou mudo, sem saber o que falar. Isso fez Shuichi aumentar ainda mais o sorriso, contente. O jovem líder sempre parecia saber exatamente o que responder, então o ver sem palavras por estar embaraçado era algo que não se via com frequência.
Shuichi então começou a amarrar um novo curativo, com o outro garoto o observando em silêncio. Depois de terminado, Kokichi ergueu a mão, encarando agora seu dedo com um sorriso enorme no rosto.
— Bem melhor!
— De nada — Shuichi respondeu com graça, deitando as costas na cama enquanto encarava agora o teto. — Mas, por mais adorável que seja o motivo, você não pode ficar com isso para sempre, sabe.
— Claro que eu posso! Foi você quem fez para mim, é importante — respondeu, deitando-se também ao lado dele na cama. — Não posso jogar fora um presente assim!
— Bem, não foi exatamente um presente. Você meio que estava sangrando horrores na hora, não tive muita escolha.
— Ainda assim!
Shuichi então pegou sua mão mais uma vez, encarando novamente o curativo enquanto pensava. E então voltou a sorrir.
— ...Acho que eu não tenho outra escolha, então. Quando sairmos daqui, vou ter que te dar algo para substituir isso, aparentemente.
Kokichi estava prestes a perguntar, quando enfim entendeu o que ele quis dizer. Sentando-se novamente na cama, o encarou por cima, surpreso.
— Você quer dizer…
— Bem, eu ainda não recebo muito com os trabalhos de detetive que eu faço, mas deve dar. É importante afinal, não é?
Kokichi o olhava embasbacado. Duas vezes seguidas fora deixado sem palavras, perdido enquanto o encarava. Isso por si só já seria uma vitória para Shuichi, considerando que quase nunca conseguia fazê-lo ficar assim.
...Mas não conseguia mais ficar contente com isso. Não enquanto via a expressão aflita que seu parceiro fazia enquanto o encarava com horror.
Vendo isso, ele então se sentou rapidamente na cama também, desviando o olhar enquanto corava.
— D-desculpe, fui precipitado. Acabamos d-de ficar juntos e já estou sugerindo te dar uma aliança… E-eu não deveria ter falado isso, d-desculpe... — murmurou sem graça, esfregando a cabeça com o nervosismo, já não conseguindo mais o encarar.
Isso fez Kokichi despertar. Percebendo o que fez, ele mais do que depressa pegou suas mãos, sorrindo então.
— N-não, não é isso! Isso é ótimo, isso… Isso é sempre tudo o que eu quis ouvir — disse, parecendo feliz. — É tudo… o que eu precisava ouvir.
Mas não era. Apenas mais uma mentira.
Ele não precisava ouvir isso. Ele não podia ouvir isso. Mas como sempre Shuichi o surpreendia, o pegando com a guarda baixa quando menos esperava.
Era para tudo ser TÃO mais fácil! Tudo o que tinha que fazer era realizar seu plano e então com isso fazer Shuichi sair desse jogo maldito. Tudo o que precisava era… morrer. Simples assim.
Por que Shuichi não facilitava as coisas?!
Saírem dali juntos, vivendo depois uma vida feliz de casal? Oh, seria ótimo. Na realidade, não era exagero dizer que seria o seu maior sonho.
Mas era ingenuidade demais.
Estavam presos ali até que alguém tomasse a atitude certa. E quem mais faria isso? Por mais que todos continuem com aquele discurso tolo deles de que fariam tudo pela amizade que tinham, sabia que não passavam de um bando de hipócritas que valorizavam a própria vida acima de qualquer outra coisa. Nenhum deles teriam sequer a mínima coragem de fazer um décimo do que ele estava planejando.
Isso porque Kokichi era diferente. Assim como sempre protegeu sua organização, ele agora protegeria a pessoa que se tornou mais importante para si. Se para conseguir o que queria ele precisava se sacrificar, então que seja.
Não iria ser um brinquedo nas mãos de ninguém. Não iria continuar participando daquela merda só para poder entreter desconhecidos.
E definitivamente não deixaria Shuichi continuar naquele inferno de jogo.
Mas não podia deixar que ele descobrisse sobre isso. Dando o melhor sorriso que conseguiu, Kokichi segurou sua bochecha, puxando seu rosto para o beijar. Quando se separaram, continuou sorrindo.
E então começou.
— Eu estou feliz com isso.
Mentira.
— É claro que iremos sair daqui.
Mentira.
— Vamos construir as nossas vidas fora deste lugar. Juntos.
Mentira.
Mas por trás de toda mentira existe um fundo de verdade. Os sentimentos que sente por Shuichi que o fez mentir assim são definitivamente reais.
Porque mentir é isso. Existe uma única verdade, mas infinitas possibilidades com a mentira. Com ela, você pode magoar, alegrar, irritar, convencer… inclusive proteger.
Iria terminar com tudo. Iria ganhar aquele jogo. Iria salvar aquele que passou a amar.
A última e maior mentira de todas ainda estava para acontecer.
Shuichi agora o encarava com muita dúvida, sem saber o que pensar. Aquela reação dele foi extremamente estranha, definitivamente não sendo a que esperava quando falou da aliança. Por mais feliz que ele parecesse estar agora, aquela sua primeira expressão aflita… Aquilo não foi normal.
Algo estava errado… Muito errado.
Mas, antes que pudesse dizer qualquer coisa, ouviu alguém bater na porta. Virando-se, viu Miu entrar, com ela então olhando enfezada para eles.
— O que os dois virgens estão fazendo ainda aqui? Se mudaram para a enfermaria, foi?
— O quê, suas drogas acabaram? — Kokichi perguntou, sorrindo com ironia. — Bem que eu estranhei que você estava esperta demais ultimamente. Estava sentindo falta já da boa e velha inútil que você é.
— I-inútil?! Você está falando com uma gênia e provavelmente com a garota mais gostosa que você já viu na sua vida. Por que você não vai se foder sozinho em algum canto e para de encher a porra do meu saco?!
— Ok, chega — Shuichi cortou antes que Kokichi pudesse responder. Se deixasse, os dois ficariam se ofendendo ali durante todo o resto da madrugada. Ele então cruzou os braços, olhando irritado agora para ela. — O que você quer, Miu?
— Kaito mandou te chamar. Parece que a Himiko sumiu, ou qualquer merda do tipo. Gonta ouviu ela exclamar sozinha sobre algo que tinha que mudar, e então viu ela correndo que nem uma louca por aí. Agora aqueles virgens estão desesperados tentando encontrar ela, como se qualquer um deles tivesse a mínima chance com uma garota de verdade — respondeu com graça, fazendo Shuichi suspirar. Miu obviamente entendeu a situação toda errada.
Mas isso não podia ter acontecido em pior hora. Virando-se para Kokichi, o encarou com muita dúvida no olhar. Não que não se preocupasse com Himiko, mas, entre tantos momentos para acontecer aquilo…
— ...Avisa que eu já vou — ele enfim murmurou. A garota então bufou na porta.
— O quê, virei a porra de um pombo-correio agora?
— Miu. Por favor.
— ...Tá, tanto faz. Só espero que vocês troquem esses lençóis depois de terem se pegado a noite toda aqui — resmungou, saindo de lá enquanto deixava Shuichi vermelho de vergonha e Kokichi agora a gargalhar.
— Shuichi, você podia ter deixado um pouco menos óbvio!
— E-eu?! Eu não fiz nada!
— Está na sua cara. Você não podia estar parecendo mais gay — comentou entre os risos, fazendo o outro ficar ainda mais rubro.
— A minha cara é a mesma de sempre!
— Eu sei, eu sei, estou zoando contigo — falou com graça. Mas então amuou, sorrindo agora de canto. — Vai lá ajudar a maga de araque. Eu vou ficar bem.
— Mas…
— Ei, eu estou com o meu super kit de soro nojento aqui comigo! E, tenho que admitir, eu estou mesmo cansado, dormir um pouco não me faria mal. Então pode ir sem se preocupar, é sério.
Shuichi o olhou ainda por alguns segundos, hesitante. Kokichi nunca demonstrava qualquer tipo de fraqueza quando está sério, então, para dizer isso, ou ele estava mesmo verdadeiramente cansado, ou estava mentindo. Como podia não se preocupar?! Isso fora o estranho momento que tiveram antes sobre a aliança. Precisava esclarecer isso com ele com urgência.
Mas não podia deixar Himiko na mão. Respirando fundo, Shuichi o encarou com muita seriedade.
— ...Nós não terminamos ainda aquela nossa conversa — disse, apontando agora o dedo para ele. — Eu vou tentar não demorar, então nem tente fugir daqui. Você tem mesmo que repousar!
— Seu desejo é uma ordem — respondeu, fazendo uma continência. E então sorriu. — Vai lá salvar o dia, detetive.
Shuichi ainda continuou parado por alguns instantes, duvidoso. Pensou em dizer algo, mas desistiu, apenas levantando-se e indo até a saída. Mas não conseguiu evitar de parar na porta, olhando uma última vez para ele com receio.
— ...Eu juro que não demoro. Me promete que vai mesmo me esperar aqui?
— Claro! Não se preocupe.
Ainda que relutante, ele enfim saiu. Suspirando, Kokichi se encostou contra a cabeceira da cama, encarando o teto com tédio. Agora sozinho, ele não conseguiu evitar de pensar o quão estranha a enfermaria era estando silenciosa daquele jeito. Ele realmente não conseguia gostar de ficar assim, afinal.
...Bem, talvez também já fosse hora de parar de brincar de casinha. Afinal, a vida real não é tão inocente assim.
Estava na hora de começar o show.
— ...Eu sei que você já voltou a me observar. Vai mesmo continuar escondido aí? — indagou inexpressivo.
Esperou alguns segundos, mas nada apareceu. Será que ele ainda não havia notado, afinal? Seria bom demais para ser verdade.
Mas, como tinha pensado, infelizmente não demorou para que logo uma silhueta de um urso surgisse ao seu lado.
— ...Foi muita coragem sua desarmar as câmeras da enfermaria comigo aqui — Monokuma murmurou. Kokichi nem sequer piscou, apenas virando o rosto para o observar com tédio.
— Desculpe se estraguei a graça dos seus telespectadores — comentou, sorrindo com deboche em seguida. — Por mais divertido que o killing game seja, eu também gosto de encontrar outras fontes de diversão. Suas câmeras teriam arruinado, infelizmente. Mas nem mesmo o Shuichi notou o que eu fiz, então eu diria que sou mesmo um profissional, não acha?
— ...A sua sorte é que eu gosto de você, Kokichi Ouma — o urso falou, o analisando com o sorriso assustador de sempre no rosto. — Diferente dos outros, você realmente passou a apreciar o killing game e isso tem sido interessante de se ver. Por isso, te darei o benefício da dúvida.
— Oh? Me sinto honrado.
— Contudo, isso foi simplesmente uma afronta demais. Sinto em te dizer, mas eu já tomei providências para que esse seu truque não vá funcionar novamente. Espero que possamos nos divertir juntos, afinal! Mas, se algo como isso acontecer mais uma vez, creio que eu terei que tomar algumas atitudes.
— Não se preocupe. Eu quero me divertir tanto quanto você — murmurou, sorrindo. É claro que não iria comentar que isso o que ele fez não era nada comparado com as eletrobombs que pediu para Miu criar — antes dela começar a querer o matar, é claro —, além do controle que o dá domínio sobre os Exisals. Isso sim iria estragar toda a diversão.
Porque, oh, Kokichi é um mentiroso. E não apenas com o Monokuma, como também para com todos os outros… Incluindo Shuichi, é claro. Ninguém seria exceção em suas mentiras.
Pois a verdade é que em momento algum pretendeu ficar ali e desistir de seu plano. Pelo contrário, tudo estava apenas para começar. A sua maior mentira, tão grande que iria enganar o mundo todo.
Iria salvar Shuichi. Nem que para isso tivesse que arrastar outros junto consigo mesmo para a morte.
— Mas e então? Você vem... ou não? — Monokuma perguntou, já o esperando na porta. O sorriso de Kokichi apenas aumentou, o olhando de forma maligna.
— ...Você sabe que sim — respondeu, arrancando as faixas em sua cabeça com aspereza e o seguindo até a saída.
E que a reviravolta comece.
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