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quiltbpag-any · 8 years ago
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Análise do impacto da representatividade
Antes de mais, devo dizer uma coisa: este texto não terá o seu foco em lgbt+, apesar de ser algo importantíssimo para este tumblr - terá também em conta outras minorias, de raça/cor, condições físicas e mentais, de género, de várias classes sociais, de tipos de corpos variados, e eventualmente até religiosas. Representatividade é um assunto transversal a todo o tipo de pessoas, cuja importância passa desapercebida a quem pertence a maiorias sociais, mas que tem um impacto imenso - consciente ou inconsciente - no dia a dia das minorias. Foi graças a um bom exemplo de representatividade que eu me comecei a tornar uma pessoa mais consciente (ainda que longe de perfeita), e por isso mesmo achei necessário abordar o tema de forma tão completa quanto conseguir.
Nota: Muita gente ficará desconfortável consigo mesma ao ler o texto, pelo menos se compreenderem bem a mensagem e qual o papel de cada indivíduo na contribuição para uma sociedade justa e representativa. SENTIMENTOS.DE.CULPA.NÃO.SÃO.UM.MAU.SINAL. Na verdade, são o que nos faz progredir, e admitir erros cometidos ou preconceito interiorizado tende até a ser um sinal de que se é uma pessoa consciente, pois ninguém consciente comete a pretensão de achar que é completamente desconstruído.
O que é a representatividade?
"Representatividade" é uma palavra que diz respeito à maneira como grupos de pessoas são mostrados nas várias formas de mídia, meios de comunicação e histórias num geral.
O tema está intrinsecamente ligado à análise de estereótipos, já que os mesmos também são sempre associados a certos grupinhos de pessoas, e a outras coisas como tropes televisivas, e à ausência ou presença quase invisível de diversos grupos sociais nos ditos meios.
Por exemplo, se numa determinada história aparecem pessoas lgbt+, negras/asiáticas/latinas/outras, pessoas com deficiências... e de que modo essas aparições são necessárias, estereotipas, únicas e qual o papel das personagens. Mais concretamente, a personagem negra tem algum papel relevante na trama ou, se fosse retirada, não mudaria nenhum acontecimento da narrativa principal? Porque se for o segundo caso, é provável que ela só tenha sido colocada para os produtores poderem dizer: "Ei, nós não somos nada racistas! Até temos aquela personagem negra ali *aponta para uma cena de 1 minuto*". Tem uma personagem bissexual bem representada e que abraça a sua identidade, ou que no fim se apaixona por um homem cis e é tratada como "lésbica curada pelo pénis"?
Além disso, a representatividade não é algo a considerar só nas histórias: Notícias, principalmente, são algo muito tendencioso - tanto é que se for algum branco a cometer um ato de terrorismo, é só um "assassino", mas se for um imigrante, aí já "são todos terroristas". Depois acho irónico aquelas tags de #NotAllWhitePeople ou semelhantes, porque apesar de ser ÓBVIO que nem todas as pessoas de classes privilegiadas fazem coisas cruéis, isso a) denota que a pessoa está mais preocupada em livrar-se do sentimento de culpa do que em analisar e responsabilizar-se pelos seus próprios preconceitos, por mais pequenos que sejam - ver [aqui] um exemplo de ações especificamente para pessoas brancas - e b) é uma hipocrisia enorme classificar/julgar um grupo de pessoas pelas atitudes de determinados indivíduos, mas depois agir como se fosse errado que se faça o mesmo com o grupo ao qual pertence.
Há que distinguir entre boa e má representatividade. A boa representatividade é aquela que não é (demasiado) estereotipada e dá ouvidos ao que as comunidades a representar afirmam ser - ou seja, tem em atenção o que movimentos ativistas proclamam e tenta denotar isso no desenvolvimento das personagens e na maneira como estas interagem. Má representatividade é aquela que faz o oposto: que desenvolve personagens de certas comunidades de uma perspetiva desinformada e preconceituosa, mesmo que por acidente ou com boas atenções. E há ainda o caso da representatividade nula. Hoje em dia, pode-se dizer que se está numa fase que funciona como uma espada de dois gumes: é preferível nunca se ser representado, ou ser-se representado mas mal? O quê que será mais prejudicial para as minorias em questão? Boa representatividade ainda é algo raro, sendo, surpreendentemente, cada vez mais fácil de encontrar em obras para crianças do que propriamente para adultos (estou a pensar em Steven Universe, na quarta temporada de Avatar Korra ou nos livros de [Rick Riordan]). Ainda assim, não é algo que se possa avaliar a preto e branco, pelo que chegamos ao próximo ponto.
Mas afinal, qual é o problema dos estereótipos?
Como Chimamanda Adichie disse neste [vídeo]: "O problema com estereótipos não é que eles sejam mentira, mas que sejam incompletos. Eles fazem uma história tornar-se uma única história."
Por outras palavras, o problema não é propriamente o que está a ser representado, mas o como e com quanta frequência. Há, sem dúvida, pessoas em certos países que são muito pobres, pessoas que se dizem bi mas depois acabam por se identificar como gay/hétero, pessoas com autismo que enveredam pela psicopatia, mulheres asiáticas delicadas e que se adequam a todas as outras visões tipicamente mostradas. Mas essas não são a experiência universal de quem pertence a esses grupos. Pessoas negras não são sempre bruscas e violentas, assexuais nem sempre são "inocentes", nem sempre a depressão pode ser "curada" com amor, nem todos os religiosos praticam o bem/mal em nome de Deus, pansexuais nem sempre são poliamorosos, nem todas as pessoas trans sentem que estão "presas no corpo errado", nem todos os países Africanos estão afundados em pobreza/SIDA/desgraças, nem todos os gays são femininos, nem todos os pobres são preguiçosos... Na verdade, cada vez mais as realidades predominantes são aquelas que nunca são mostradas, e que portanto ninguém conhece.
Isto dito, o meu objetivo ao falar em estereótipos não é pedir para parar de mostrar certas noções: afinal, como disse, há sim gente que se enquadra nos estereótipos, e atacar a representatividade dos mesmos faria as pessoas que se identificam com eles sentir que estão a manchar a comunidade a que pertencem. Seria algo muito injusto de se fazer, e que suscitaria um sentimento de culpa que não devia existir: afinal, as pessoas deveriam estar a lutar por liberdade de ser qualquer coisa, e não restringir essa liberdade:
Liberdade de amar qualquer género ou não amar, não apenas o reconhecimento de que amar o próprio género vale tanto como amar o "género oposto". Liberdade de ter ou não ter religião, e de ser ou não guiado por ela. Liberdade de vencer ou fracassar, tentar ou não tentar. Liberdade de usar mais ou menos roupa sem que isso sirva para julgar a personalidade/intenções de alguém. Liberdade para se fazer uso do que quer que empodere indivíduos, e reconhecimento de que isso é diferente para toda a gente. Liberdade de comportamento independentemente da cor. Liberdade de expressão, desde que isso não interfira na liberdade dos outros e não sirva como "escudo-mágico" para não analisar a nossa própria opinião nem admitir que podemos estar errados. Liberdade para viver com dignidade, e reconhecer a dignidade dos outros. Liberdade.
Parágrafo lamechas? Sem dúvida. Mas o ponto é provar que não se deve acabar com nada do que é representado, apenas com a frequência com que essas narrativas são mostradas. Ou seja, precisamente com o facto de serem estereótipos, pois é isso que torna essas narrativas na única história, na única visão. É a frequência com que algo é mostrado que faz com que os espectadores engulam essa como a única maneira possível de um determinado grupo ser. E como é que se acaba com estereótipos sem acabar com o que eles mostram? Acrescentando outras narrativas, ou seja, tornando a representatividade mais numerosa e mais diversa (detalhes no ponto 4).
Porquê que representatividade importa?
Como já dito, se um grupo de pessoas for sempre retratado da mesma maneira, o comportamento com que é mostrado vai ficar gravado na cabeça dos espectadores/leitores. Isso acontece não só a quem pertence a maiorias, como às pessoas da minoria mostrada, e portanto eu quero diferenciar os dois casos:
Pessoas que não pertençam à minoria representada, quando confrontadas com uma representatividade tendenciosa, acreditam piamente nela, pelo menos se não tiverem contacto constante com a comunidade a ser representada - atenção que eu disse COMUNIDADE, não INDIVÍDUOS dela, portanto "Eu tenho um amigo gay!" não é contacto suficiente - nem estiverem devidamente informadas sobre a mesma. Pessoas mal intencionadas provavelmente não teriam remédio mesmo diante de algo menos padronizado, e continuariam a discriminar e a demonstrar o seu ódio e incapacidade de aceitação, mas nem sequer é com essas que me estou a preocupar, pois só um caso extremo conseguirá derrubar o ódio delas. Não, eu tenho em mente pessoas que têm boas intenções e querem ser aliadas de minorias, mas que são preconceituosas acidentalmente, precisamente porque acabam por acreditar no que lhes é mostrado. Preconceito, discriminação e opressão são conceitos inteiramente distintos - ver [aqui] - e apesar de a discriminação não ter solução, o preconceito tem. Preconceitos são ideias "pré-formadas", erróneas, que derivam da ignorância. Quando se espera um certo comportamento em consequência de uma identificação, isso é preconceito. Quando não se sabe que um certo grupo de pessoas existe - por exemplo, pessoas não-binárias - isso é preconceito. Quando se ignora as experiências de pessoas não-brancas numa tentativa de as discriminar pela sua cor (ou seja, quando se é [colorblind]), isso é preconceito. Tudo o que nos permite fechar os olhos, ou não praticarmos um ato constante de desconstrução, é preconceito. E a representatividade estereotipada é o fator que mais provoca isso.
Mas quem pertence a minorias também é afetado. Quando uma pessoa nunca é representada, acredita que não tem lugar nas histórias, havendo um sentimento de impossibilidade e de preconceito interiorizado. Durante muito tempo, nem sequer ocorre às minorias que estão a ser preconceituosas contra si mesmas, pois aprendem a achar aceitável, e eventualmente até gostar, das únicas narrativas que lhes são oferecidas, pois não conhecem mais nenhumas e acham que histórias são apenas constituídas por uma realidade limitada - não é raro ver crianças negras que desejam ser brancas e ter um cabelo liso como as pessoas com quem convivem e vêm em todo o lado. A par disso, as minorias podem demorar a aperceber-se da sua identidade - é um pouco difícil uma pessoa saber que é lgbt+, por exemplo, se nunca tiver visto isso retratado em lado nenhum, especialmente algumas identidades que raramente são mostradas (ex: pessoas não-binárias) ou cujo nome nunca é pronunciado (as labels bissexual, pansexual e assexual sofrem com um grande silenciamento). Relativamente a quem tem plena consciência de quem é, ver repetidamente que vão sofrer por conta disso também não é lá muito encorajador, ou citando um exemplo do [ConversaCult], "Quase toda vez que os jovens LGBT+ se vêem na televisão, eles vêem a mesma história: você vai morrer ou sofrer por ser assim. E isso tem um impacto psicológico destrutivo, tanto que jovens LGBT+ têm 4x mais chance de se suicidar do que jovens hétero". É difícil minorias sentirem-se no direito de existir. Além disso, menos representatividade faz com que minorias se interessem menos pelos grupos em questão, não dando fundos a quem tanto precisa, como está provado [neste] link.
O problema? É que as histórias são inspiradas na realidade, e a realidade é formada pelas histórias, num ciclo. A opressão ou invisibilidade de certas comunidades na sociedade, ou mesmo a sua não-aceitação, reflete-se na criação de personagens e nos seus papéis, o que por sua vez ajuda a propagar essa falta de consciência na audiência, constituída pelas mesmas pessoas que vivem e ajudam a moldar a sociedade. É por isso que, se ninguém quebrar o ciclo, não adianta vir falar de direitos humanos, pois eles nunca ganharão espaço para se concretizar.
Como podemos contribuir para uma melhor representatividade?
Vou dividir este tópico em função do público-alvo nos 2 últimos parágrafos-principais. Convém que ambos sejam lidos, mas cada parágrafo foca em dizer o quê que especificamente uma pessoa deve FAZER, em vez de apenas teorizar sobre o que seria uma representatividade melhorzinha.
Um pouco atrás, eu mencionei que melhorar a representatividade não implicava acabar com o que os estereótipos retratam, mas com o facto de eles serem estereótipos, ou seja, acabando com a frequência com que uma certa narrativa se repete. Uma gama de personagens mais diversificada não só seria bom para deixar a sociedade um pouco mais informada, como oferece histórias menos previsíveis e mais humanizadas, que têm maiores chances de atrair público, ou de pelo menos interessar às pessoas pelo facto de serem novidade. Então, aqui vão as dicas:
Para criadores...
Para quem lida com notícias, evite fazer alguma das seguintes coisas: Escrever cabeçalhos que só contam meias verdades (afinal, essa é a melhor maneira de induzir em erro, gerar emoções fortes como raiva, e conseguir visualizações, especialmente considerando que pouca gente lê o artigo em si e se limita a julgar pelo cabeçalho); Denunciar minorias com mais frequência do que maiorias (há tantos atos de terrorismo cometidos por gente muçulmana como branca, contudo só um dos grupos fica com a fama, por ser mais vezes o centro das atenções); Focar nos sentimentos do opressor em vez dos sentimentos da vítima (é comum notícias mostrarem pessoas que disseram algo preconceituoso por acidente e se tentam defender, retratando a vítima do preconceito como alguém "fácil de ofender" e que só está à espera de uma oportunidade para fazer maiorias sentirem-se culpadas, e o opressor como alguém que, coitado, tinha boas intenções - isso desvalida os sentimentos da vítima, silencia a sua perspetiva e desresponsailiza o opressor pelos seus atos, o que passa a sensação de que não é preciso uma pessoa tornar-se informada).
Para quem lida com canções ou com poesia, que tal atentar um pouco na letra? Que tal produzir mais músicas que sejam neutras em género, e que evitem usar expressões que trocem/objetifiquem alguma minoria (estou a pensar, por exemplo, em "traveco"). Há quem se entretenha a fazer covers ou mudar a letra de músicas - porque não também mudar certos pronomes, ou frases? Sim, eu entendo que muita gente preferirá a versão original, mas nem que seja por diversão, podem-se fazer versões alternativas. Não custa assim tanto e provavelmente faria a sua diferença.
Para artistas - pintores, ilustradores, fotógrafos - que constantemente retratam pessoas e figuras humanas, comecem a mostrar pessoas de todos os tipos. Pessoas de várias raças, vários géneros, diversas condições físicas, todo o tipo de corpos, casais com qualquer número de pessoas de qualquer género... As possibilidades são imensas e a arte é uma maneira incrível de passar mensagens, pois lidera pelo exemplo e pelo que "mostra", em vez de "dizer".
Para "criadores de histórias", tanto escritores como diretores ou qualquer outro tipo de profissão, duas coisas: estar informados, e escrever diversidade em quantidade. Nunca coloquem só uma pessoa gorda. Nunca coloquem só uma pessoa lgbt+. Nunca coloquem só uma pessoa negra. Tentem colocar tantas pessoas de cada minoria como de maiorias sociais - mesmo que pareça que são as maiorias que estão a sair prejudicadas, ninguém está a pedir que se escreva uma história só com minorias, e olhem que isso seria um pedido até bastante razoável, já que até agora minorias têm convivido com histórias que quase só representam pessoas-padrão - e tentem atribuir-lhes traços diferentes. Querem uma personagem gorda que cai no estereótipo de melhor amigue que come muito e não faz desporto? Não estão proibidos de colocar, mas então coloquem também alguma que fuja desse comportamento. Querem uma mulher asiática que é algo submissa e delicada? Tudo bem, mas que tal alguma que tenha um tipo de caráter distinto? Querem uma personagem bi que é poliamorosa? Vão em frente e até tratem de se informar sobre poliamor para escrever isso corretamente, mas escrevam também bissexuais monoamorosos. E que ninguém venha com o argumento de que não é "realista" escrever tanta gente diversa numa única história, principalmente escritores de fantasia!
Para produtores de webcomics, mangás e banda desenhada num geral, ou mesmo de animação, ambos os pontos anteriores e os pontos seguintes são válidos. Dicas mais específicas [aqui].
É importante considerar que a vida de minorias não gira apenas em torno do facto de que o são e que sofrem com determinados tipos de discriminação/preconceito/opressão, assim como importa não usar a vida de minorias só para criar drama no enredo ou cair excessivamente em tropes como "Bury your gays" [www]. Mas nada se faz sem equilíbrio, e como tal, também não serve dizer na página 326 que determinada personagem é negra e depois nunca mais ter isso em conta. Nenhuma vida gira em torno de um único fator, mas todos os fatores têm impacto nessa vida, portanto é impossível que se consiga escrever sobre/da perspetiva de minorias sem o nível certo de informação. Este blog informa sobre lgbt+, e como dá para entender pelo [mapa/glossário], só desse grupo há muito que se lhe diga! Faça por entender várias culturas, por ouvir o que as minorias têm a dizer, por adotar o seu vocabulário específico, e por se informar no seio delas - não confie em especialistas que não fazem parte das minorias em questão. É muito, muito raro que eles saibam o que de facto importa, principalmente na hora de considerar interseccionalidades. Faça por compreender a experiência das minorias, não apenas as definições, e entenda que comunidades são constituídas por pessoas muito distintas, não um monólito. Acima de tudo, esteja pronto para ouvir críticas - de novo, dê ouvido às minorias - e a admitir que, por muito que tenha pesquisado, isso não anula a possibilidade de cometer erros graves e que magoam/invalidam muita gente, portanto tenha consciência de que a desconstrução de preconceitos é um processo contínuo, não algo que se obtenha de um ano para o outro.
Confirmar certas identidades, em vez de as deixar apenas no campo do subtexto. Afirmar que, sim, aquela personagem é autista, ou que sim, aquelas duas personagens são um casal do mesmo género, faz TODA a diferença. Há produtores que parecem pensar que, se não confirmarem nem desconfirmarem, é o mais justo para toda a gente porque, assim cada pessoa pode entender aquilo de que gosta, mas esquecem-se de que a) Preconceito não é gosto b) Minorias têm poucos exemplos de representatividade confirmada/canon e, como já dito, podem estar convencidas de que nunca poderão existir em histórias e terem medo de acreditar que certas personagens são como elas e c) Dizer isso é como dizer que é justo haver um debate entre uma equipa com megafones e uma sem eles. Como Elie Wiesel disse, "Escolha um lado. Neutralidade ajuda o opressor, nunca a vítima. Silêncio encoraja o tormentador, nunca o tormentado." Para além disso, esse tipo de comentário prova que quem pertence a maiorias não sabe que, se minorias se virem refletidas numa personagem cuja identidade nunca foi oficialmente confirmada, as minorias vão sofrer um assédio constante constituído por perguntas como "Porquê que a personagem não pode ser normal?" (Como se ser diferente fosse ser anormal...), "Mas esse relacionamento foi tão forçado! (Isto dito sobre um casal lgbt+ que tem uma longa história de companheirismo, por pessoas que começam a shipar pessoas de géneros diferentes desde a primeira troca de palavras) ou "Porquê que queres que toda a gente seja como tu?" (Perguntar isso a uma pessoa que nunca encontra ninguém igual a si é como dar 20 bolachas em condições à pessoa A, dar uma bolacha, QUEIMADA, à pessoa B, e quando a pessoa B reclamar, retorquir "Porquê que queres todas as bolachas?!").
Para consumidores...
Reclamem nas redes sociais de exemplos de má representatividade ou, melhor ainda, vejam as queixas que minorias fazem sobre esta e rebloguem as publicações originais: No segundo caso, há chances maiores de se reblogar a opinião de alguém que sabe do quê que está a falar, e isso amplifica a voz das minorias, o que é extremamente necessário. Valem reclamações de estereótipos excessivos, de histórias que só contêm personagens-padrão ou de situações em que minorias não têm nenhum papel relevante. Queixas de comentários racistas/gordofóbicos/lgbtfóbicos/capacitistas por parte dos produtores/atores/whatever também contam. Exemplos de whitewashing (embranquecimento) ou censura de minorias também devem ser denunciados, enquanto que bons exemplos de representatividade devem ser elogiados e divulgados.
Este pode parecer um pedido duro, mas é importante saber parar de dar audiência a algo que prejudica minorias: por exemplo, não ir ver o próximo filme de Piratas da Caraíbas(como forma de provar que que por muito bom que Johnny Depp seja como ator, isso não lhe desculpa a violência doméstica), ou ter parado de ver The100 após a morte de Lexa. Talvez nem toda a gente esteja a par, mas esse segundo exemplo realmente desviou a atenção para pessoas lgbt+ [ver aqui] e provou que, sim, se formos muitos, somos capazes de exigir respeito. Audiências, números, têm poder. Não só na hora de boicotar certas obras, mas também na hora de consumir as que fazem bem o seu trabalho.
Não desmereçam a questão da representatividade nem tratem isso como algo superficial ou como um detalhe sem importância na vida de ninguém. Quando virem alguém dizer que se quer ver refletido em mais personagens, não tratem isso como "frescura", ou como uma vontade mesquinha e fútil, pois em muitos casos pode até ser uma necessidade. Quando alguém gostar de uma personagem lgbt+/negra/gorda/etc, não digam que a pessoa só gosta por causa disso [www]. Quando alguém disser que quer uma personagem de uma sexualidade/género/cor/condição específica, não digam para ela se contentar com aquela que é "parecida" - isso vale até mesmo para condições "parciais": Uma personagem birracial, se estiver de acordo com pessoas reais, teve experiências completamente distintas de uma pessoa "completamente" de cor, algumas melhores, outras piores, mas verdadeiramente específicas; Uma personagem bi pode sofrer de homofobia, mas bifobia manifesta-se de forma completamente diferente [www]. PESSOAS.NÃO.SÃO.COMPARÁVEIS.
Era *cof*basicamente*cof* isto. Resumindo, a representatividade importa porque é o que nos faz compreender que pessoas que partilham uma característica não têm de necessariamente partilhar mais nenhuma, e isso ajuda-nos a encará-las sob um olhar humanizado, consciente, e informado. Enquanto isso não for concretizado, nunca haverá um sentimento pleno de integração nem de realização, e sinceramente? Há tanto que as pessoas podem aprender com as diferenças, tanto a ganhar com a proximidade e com o não-silenciamento, que não entendo o porquê da demora em acolher todo o tipo de pessoas. Trocar experiências, felicidades e tristezas, e maior liberdade para explorarem quem realmente são... são tudo coisas que as maiorias só têm a ganhar.
Antigamente, havia um muro bem sólido e visível que separava maiorias de minorias. Hoje em dia, na maioria dos lugares, esse muro já desmoronou consideravelmente, mas em seu lugar está um muro transparente. Não se vê, e não impede a comunicação nem a amizade, criando a ilusão de que a sociedade já não separa os dois lados e assim merece o título de progressista. Porém, enquanto o vidro continuar lá, isso nunca passará de uma ilusão... E a única maneira de destruir o muro de vidro, é fazendo um bom uso da representatividade.
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quiltbpag-any · 8 years ago
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Eu TENHO de recomendar um livro.
É escrito por Ash Hardell, youtuber pan/bi/queer e de momento a questionar o seu género. 
O livro conta com a participação de mais de 40 pessoas lgbtqiap+ de diversas e complexas identidades e todas respeitam as labels (ou ausência das mesmas) umas das outras. É um livro de natureza informativa, mas que eu adorei pela sua riqueza, inclusividade, e acima de tudo por apresentar uma série de identidades de forma organizada e que valoriza a fluidez e diferente significado que cada label pode apresentar para as pessoas que a usam. Mesmo as questões mais problemáticas são abordadas apresentando os dois lados da moeda, e não há ninguém que acabe desumanizado ou desprezado. 
Tanto pode ser lido por novatos como por pessoas que já percebem do assunto (eu, por exemplo, consegui descobrir ainda mais labels que estou a tratar de colocar nos posts respetivos), e tanto por pessoas lgbt+ como simples aliados. 
Pontos extra pela linguagem é acessível e pelas ilustrações amorosas.
Pontos negativos: só há em inglês.
Podem fazer download [aqui]
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