#maternidadecompulsória
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Mãe ou não: ser mulher é um ato político.
Na minha família, não havia crianças. Entre minhas amigas, tampouco. Foi assim que, sem referências próximas, engravidei, aos 29 anos (hoje, estou com 36 e tenho duas filhas, de 6 e 4 anos).
Apesar de ter sido uma escolha, eu não sabia (não tinha a menor ideia!) sobre o que significava maternar. Nem sabia que “maternidade” poderia ser conjugada como verbo (hoje, só consigo conceber a maternidade como um verbo de ação).
Pela total falta de familiaridade com o assunto, fui atrás de grupos de gestantes, na ilusão de “me preparar” para o que se aproximava. Ali, ouvi sobre parto, puerpério, amamentação e sobre as mais diversas transformações pelas quais minha vida estava prestes a passar. Foi bom. Foi necessário. Mas não foi suficiente. Nunca é.
Maternar é ação de todo dia, tem ciclos diversos e - precisa - ser reflexiva, caso contrário, entramos e nos trancamos no imaginário da maternidade socialmente aceita: aquela em que a mulher abandona todos os seus prazeres, para conseguir ser a mãe perfeita. E, meu Deus! Como a gente cai nisso. Por mais feministas, reflexivas ou terapeutizadas que sejamos.
Quando percebemos, estamos culpadas, exaustas, distantes de nós mesmas. E, nos dizem: “É assim mesmo. Ninguém falou que seria fácil. É para a vida toda. Você que escolheu. Aguente. Você precisa ser uma boa mãe para os seus filhos. Você não está dando conta. Você tem que trabalhar menos. Você nasceu para ser mãe. Você não pode fazer isso. Você deve fazer aquilo”. E tantas outras frases opressoras, que nos reduzem ao lugar de mãe, castram nossa identidade e reforçam sentimentos de culpa e insuficiência.
Eu caí nesse lugar. Ou melhor, fui colocada (pelo patriarcado) neste lugar desde que nasci. E, por isso, é tão difícil sair dele. Maternar é uma eterna resistência contra o sistema patriarcal que nos fere, é um eterno processo de autoconhecimento e, dentro deste emaranhado de imposições, sensações e sentimentos, precisamos existir! Existir para além da maternidade.
Ser mãe é um ato político e, a cada dia que me vejo sufocada pelo imaginário cruel da maternidade, isso fica mais claro para mim. Lutar como uma mãe é lutar pelo direito de existir com dignidade, liberdade e inteireza.
Eu não nasci pra ser mãe. Eu nasci para ser livre e feliz. Os filhos precisam chegar neste lugar: o lugar da liberdade! Se não for assim, a maternidade fere, castra, pune. Mas, sabemos, a maternidade nem sempre chega como escolha (e, mesmo quando chega, não deixa de ser um grande desafio, pois a estrutura social machista engole todas nós).
Em nosso país, mulheres são violentadas fisicamente e simbolicamente todos os dias: maternidade compulsória, criminalização do aborto, normalização de abusos sexuais, licença maternidade reduzida, licença paternidade inexistente; tudo isso resulta num modelo de maternidade que adoece (e, muitas vezes, mata).
Para se ter uma ideia, no Brasil, uma a cada sete mulheres, aos 40 anos, já passou por um procedimento de aborto; a maioria, antes dos 19 anos. (Pesquisa Nacional do Aborto (PNA), 2021). E, por precisar ser realizado de forma clandestina, muitas mulheres, ou morrem, ou têm complicações sérias em decorrência do procedimento.
Apenas em 2020, o SUS realizou 80.948 mil procedimentos após abortos mal sucedidos, entre provocados ou espontâneos e, a cada 28 internações em decorrência de aborto, uma mulher morre, de acordo com dados do Sistema de Informações Hospitalares (SIH-SUS).
Vale, ainda, ressaltar que as principais vítimas deste tipo de violência são as mulheres negras e indígenas.
Em pleno 2023, essa é uma realidade inaceitável. Precisamos de uma sociedade que enxergue e respeite as mulheres, uma sociedade que não se organize e se sustente a partir das violências de gênero. Maternidade deve ser escolha, aborto deve ser legalizado e gratuito, mulheres devem ser donas de seus corpos e destinos.
Outro dia, me deparei com uma frase potente: “O melhor presente que podemos dar aos nossos filhos é a nossa felicidade”. Como isso é verdade! Filhos não podem ser prisão; devem ser um caminho potente para a liberdade. Liberdade de poder ser quem se é! Mas, para isso, é preciso toda uma aldeia trabalhando junta, ou seja: é preciso uma sociedade que paute, discuta, defenda e respeite os direitos das mulheres.
Um filho, quando chega, nos arremessa para dentro de nós mesmas; somos obrigadas a lidar com nossas sombras e com as sombras de toda uma estrutura social opressora, sexista e misógina. Dos lutos trazidos pela maternidade, temos a chance de renascer: mais fortes, mais revolucionárias, mais donas de nós mesmas.
A caminhada é constante. E eu, com muito esforço, errando e acertando, já iniciei a minha. Vamos juntas! Pois, somar forças é sempre uma boa maneira de sacudir e transformar aquilo que não nos cabe mais e, uma sociedade machista, há muito, já não cabe mais.
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Maternidade deve ser escolha, não prisão! #germainegreer #abortolegal #maternidadecompulsória #maternidade #ventrelivre #16dias #citaçõesfeministas #feminismoradical #MãesFeministas #maternidadelivre
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Quem nunca ouviu que "ter filho é uma bênção"? E com certeza é, MAS para quem deseja tê-los! Para quem não tem essa aspiração, "não ter filhos" é que é uma bênção!
Pessoas são diferentes, logo, consideram "bênçãos" coisas diferentes. E tá tudo bem!
Mas o problema é quando alguém quer desejar as suas "bênçãos" para a vida dos outros...
Gente, pera lá! Já falei que as pessoas são diferentes, então, alguém que tem filho desejar que alguém que não queira ter tenha NÃO É DESEJAR UMA BÊNÇÃO, é querer impor o seu ponto de vista goela abaixo (ou barriga adentro)! Assim como seria se alguém que não quer ter filhos desejasse que a outra pessoa que quer ter nunca engravide! Absurdo para ambos os lados!
Outro exemplo: imagine alguém ganhar de presente uma casa à beira mar de uma praia quente e lindíssima, sob a condição de cuidar dela por 18 anos, sem se desfazer ou alugar. Uma bênção, não? Talvez não! Pois imagine que quem ganhou não gosta de calor, nem areia, nem mar, nem terá dinheiro para mantê-la por todo esse tempo... Ganhou foi uma grande preocupação.
Não é "algo" por si só que é inquestionavelmente uma bênção, independentemente do contexto. Nos sentimos abençoados com coisas e situações diferentes.
Então, não generalize "as bênçãos do mundo"! O que faz bem (é uma bênção) para uns, pode ser o oposto para outros. Inclusive se tratando de ter ou não ter filhos.
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Afrodite e Calisto apresentam um resumo sobre maternidade compulsória e o mito do amor romântico em Xena, a Princesa Guerreira. Série com legendas para baixar: https://culturacomlegenda.org/fcl/series-xena-a-princesa-guerreira-serie-completa-xena-warrior-princess-1995-2000/
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Maternidade compulsória é sobre como tudo o que te ensinaram (família, escola, sociedade) desde que você nasceu foi sobre como você só será completa quando for mãe, a ponto de isso se tornar uma noção tão naturalizada que você sequer se pergunta se realmente queria a maternidade como destino.⠀ .⠀ É possível dizer que aquela mulher que passou toda sua vida ouvindo que ser mãe é o ápice da própria existência; que cresceu vendo todos os modelos de como uma mulher deve ser necessariamente passando pela experiência da maternidade como redenção; que sabe que vai ser repudiada, questionada, criticada caso recuse a ideia de ser mãe; realmente escolheu gestar? Com todo o cenário que envolve a questão da maternidade, é possível separar o que é realmente desejo pessoal pleno do que é socialização para ser mãe?⠀ . ⠀ Quer ler mais? buff.ly/2yOH02b⠀ .⠀ #maternidade #maternidadecompulsória #mãe #filhos #gravidez
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