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liel-sumeragi · 7 months ago
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Moçambique com Z de Zarolho
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Livro do mês de maio - Clube do livro do Belas.
Título: Moçambique com Z de Zarolho
Autor: Manuel Mutimucuio
Editora: Dublinense
“Manuel Mutimucuio, autor Moçambicano nascido na capital, Maputo, em 1985. Doutor em Economia Política pela Universidade de Coimbra e atua como consultor internacional de gestão de recursos naturais. Sua literatura se caracteriza pela análise social e pelo questionamento do status quo.” Que é exatamente o que Mutimucuio faz neste seu livro: questionar o status quo com muita sátira. 
A história é desencadeada pelo seguinte: o governo com o argumento de melhorar sua posição no cenário capitalista global e promover o que chama de o  Renascimento Moçambicano, quer aprovar uma lei que faça do inglês a língua oficial de Moçambique. 
Vamos então observar quais seriam as consequências para as várias camadas sociais pelo ponto de vista de Hohlo, que trabalha como empregado doméstico para Djassi, um político que é contra a mudança. 
Hohlo admira o patrão e estuda para ser como ele: falar bem aquela que é até o momento a língua oficial, o Português. Teoricamente isso lhe daria acesso a melhores oportunidades de ir atrás de melhores condições econômicas.
O que ele não faz ideia é que as elites estão muito mais à frente do que ele imagina… Os ricos e poderosos veem o inglês como a língua mais importante. Seus filhos estudam em escolas bilíngues e eles próprios estudaram em universidades de língua inglesa, e assim, olhando para o próprio umbigo, querem forçar que o inglês substitua o portugues como língua oficial. Sem levar em conta que grande parte da população, principalmente a área rural e a população mais pobre, não aprendeu nem mesmo o português (tornado língua oficial durante o período colonial). 
Djassi, patrão de Hohlo vota contra, mas não por altruísmo, por motivos pessoais seria prejudicial para ele a mudança. 
É interessante notar como há um paralelo entre Hohlo e Djassi. Os dois querem ascensão social. E podemos ver que mesmo que exista uma enorme distância (enorme mesmo!) entre as condições dos dois, ainda assim existem pessoas em melhores condições que Djassi e pessoas em piores condições que Hohlo. De certa forma eles são o meio entre os extremos.
Sendo a questão da língua o ponto central refletimos sobre poder. Dominação cultural. Colonialismo. Como conhecimento e educação são importantes. 
Sobre o texto, a edição mantém palavras que não são do nosso costume (o que pelo menos para mim só tornou a leitura mais rica!). Algumas palavras eu já conhecia do vocabulário de Portugal, como telemóvel ou autocarro, mas outras tive que ir decifrando pelo contexto, como chapa, matrecos ou parangona.
Decifrar pelo contexto ou pesquisar mesmo. Se tem algo que esse livro me inspirou a fazer foi pesquisar. Não só palavras, mas sobre Moçambique. Foi só em 1975 que o país se tornou independente e logo caiu em um período de guerra civil, de forma que somente em 1994, realizou as suas primeiras eleições. 
A língua oficial é o português, mas este é falado como segunda língua e apenas por cerca de metade da população. Entre as línguas nativas mais comuns estão o macua, o tsonga, ndau, chuabo e o sena.
A população de cerca de 30 milhões de pessoas é composta predominantemente por povos bantus. 
A religião com o maior número de adeptos é o cristianismo, mas há uma presença significativa do islamismo.
As taxas de PIB per capita, índice de desenvolvimento humano (IDH), desigualdade de renda e expectativa de vida de Moçambique ainda estão entre as piores do planeta.
E todos esses dados sobre línguas, desigualdade, pobreza… o texto não nos fala assim (como na wikipédia) ele nos mostra na prática na vida dos personagens!
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Gostaria de comentar o final.
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Então a partir daqui ZONA DE SPOILER!!!
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É que o final pode parecer destoar um pouco do que o livro vinha entregando. Não pela morte de Hohlo… esta se não foi previsível é ao menos coerente.. o que parece destoar é o “como”... um livro que vinha sendo muito embasado nos aspectos práticos e materiais. Em dinheiro e assuntos cotidianos, de repente está mergulhado em misticismo e crenças. Não estou falando que não gostei do final, pelo contrário, gostei! foi uma cena forte e envolvente. terminei o livro lamentando a morte do Hohlo, mas bem satisfeito com essa última carga de sentimentos indefinidos de tristeza,revolta e conformismo… mas não tenho como negar que senti sim como sendo um final destoante; algo deslocado do resto.
bem… como disse no início esse foi o livro do clube do Belas. No encontro anotei sobre o final a seguinte frase de um dos colegas: “ … todo o projeto modernizador proposto durante todo o livro não consegue apagar (ou dar conta) das tradições arraigadas. Não é atoa que a última palavra do livro é mistério.”
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