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Aula 3 - Ambiente Interno por Jonathan Biam
Paredes desgastadas, riscadas, com infiltrações, não retém calor. Está frio. O teto que Sarah passou a madrugada encarando tem goteiras, nenhuma em cima da cama, ainda bem. O telhado é de barro, antigo, e as vigas devem ter cupim. Chove bastante lá fora. E um pouco dentro do quart
O banheiro era limpinho ao menos. A cama de madeira é velha e desconfortável, os lençóis e cobertores tem cheiro de produto barato. Mas pelo menos foram lavados. Ela repara em tudo, já que está ansiosa demais para conseguir dormir.
Não podia esperar nada muito diferente. A diária foi muito barata e Sarah só precisava tomar um banho e descansar para continuar sua viagem. Um hostel vagabundo em uma cidadezinha do interior. Vai servir, ela pensou.
O quarto não é grande. É bem vazio, só tem uma cômoda antiquada com poeira nas gavetas, um abajur e a cama. E a solidão toma conta dela na madrugada. A moça está animada para conhecer novos lugares, ver paisagens inéditas e pessoas diferentes. Mas viajar por conta própria é solitário. E tudo naquele quarto vazio e quieto mostrava a Sarah que ela estava só.
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Aula 2 - Vestimenta por Jonathan Biam
Evan está preocupado, ansioso. Ele tem um compromisso, algo incomum, não rotineiro, formal.
O que usar nesta ocasião? Qual vai ser a minha postura? E se eu falar alguma besteira? Evan pensou, nervoso.
A primeira entrevista de emprego é algo assustador. Ainda mais para um jovem de 16 anos, já inseguro de si, com tanta coisa na cabeça e agora mais uma responsabilidade: ajudar a pagar as contas em casa. Ele pega uma camisa social azul clarinho, enterrada no mais profundo canto do armário, já que só a usa quando é convidado para um casamento ou uma festa um pouco mais chique, ou seja, praticamente nunca.
Experimenta a camisa. Não gosta. O tecido incomoda a pele, assim como a calça social cinza que ele coloca junto, usando o cinto do pai.
Se olha no espelho e se sente estranho. Aquilo não combina com ele. Ah! E ainda tem os sapatos, tão desconfortáveis. Passou bastante tempo engraxando e polindo para pegar aquele brilho. Evan é um rapaz responsável, dedicado, capacitado, “manja das planilhas” segundo ele. Ótimo candidato para a empresa transportadora a qual está disputando a vaga. É hora de assumir responsabilidades, crescer, tomar um rumo na vida.
— Eu detesto essa roupa! Não é confortável. Queria ficar de shorts, camiseta e chinelo, trabalharia mais “de boa” assim.
Evan está só entrando na vida adulta, mas já está experimentando aquele gostinho diário de frustração que acompanha a gente por longos anos.
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Aula 1 - Personagem por Jonathan Biam
FICHA
Roris é um cachorro de rua vira-lata que por ter vivido sempre solitário almeja encontrar um dono que o acolha. Ele foi abandonado ainda filhote e isso provocou vários efeitos, uma psique um tanto complexa, tornando-o resiliente perante as várias dificuldades as quais foi submetido pela vida, devido à estas ele também se apresenta agressivo e desconfiado. Ao se deparar com alguém que não conhece, sempre hesita na oportunidade de contato humano. Mas no seu âmago o que Roris deseja é achar alguém que o aceite, que o queira genuinamente apesar de suas falhas.
O cão não se destaca muito em meio aos outros vira-latas abandonados encontrados na rua. Ele é malhado, mas as partes brancas de seu pêlo estão cobertas de poeira e sujeira adquiridas à beira da estrada. Uma de suas orelhas é menor que a outra devido à uma ferida numa briga com outro cão. Seu porte é médio, não cabe numa bolsa como um cachorro de madame, mas é menor que um pit-bull adulto. Suas patas são ávidas, sempre fugindo de carros e crianças maldosas, e seus olhos profundos, ressecados e escuros são sagazes assim como suas orelhas sempre atentas ao derredor. Ele é um animal magro, tristemente magro.
CENA
Em meio à madrugada um grupo de adolescentes voltam de uma rave. Dando risada, cambaleando e tirando sarro um do outro. Estão claramente embriagados (e não deveriam estar) o que os torna ainda mais vulnerável ao que se segue. Dois homens armados desceram de uma moto, cercam o grupo, um deles armado com uma pistola, dão voz de assalto e os jovens se aterrorizam.
Presenciando toda a situação está um vira lata atento. Apesar de não entender a linguagem dos humanos, compreende aquela situação, um predador e uma presa. Ele sente a hostilidade e instintivamente pensa em fugir. O tal cão é Roris, nomeado assim por um morador de rua, e fugindo do bom senso se sente impelido a interferir na situação, pois já foi ajudado a escapar de circunstâncias opressivas similares. Repentinamente o homem armado sente dentes caninos cravando profundamente em sua perna e o mesmo dispara no ombro do outro assaltante (qual a chance?). A situação fica muito mais tensa, pois os homens feridos estão desesperados. Roris atingiu seu objetivo, os homens fogem na moto e deixam o animal e os jovens admirados diante de todo o ocorrido. Esse é o momento em que ele deixou de ser um cachorro de rua.
O resto da história são adolescentes cuidando de um cachorro.
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A Caçada por Jonathan Biam
A primeira e mais marcante expedição de uma vida estava para começar. Um grupo de pesquisadores incluindo o jovem biólogo Guilherme chegava a uma região recém descoberta e praticamente inexplorada no sentido científico. Os colonizadores cruelmente eliminaram os nativos e expulsaram os sobreviventes há poucos anos, e agora uma nova civilização se estabelecia naquela terra batizada de Orbis por seus invasores. Acadêmicos de várias áreas estavam entusiasmados para descobrir os segredos e novidades sobre aquela terra tomada por seu povo.
Guilherme tinha um profundo fascínio por todas as criaturas vivas, por esse motivo escolheu a carreira de biologista e seu desejo era encontrar novas espécies, mas principalmente cuidar dos seres à sua volta. Embora vários de seus colegas estivessem entusiasmados com o que fosse talvez a maior oportunidade de suas carreiras, Guilherme sentia desconforto e tristeza ao lembrar da tribo que vivia em Orbis anterior à chegada de sua gente. E sentia também pena de todos os bichos que sofreram e ainda sofriam ao serem explorados e mortos, muitas vezes sem necessidade pois não eram nem usados para alimentação ou vestimenta, eram apenas abatidos como se a vida fosse descartável. Ele mal podia esperar para estar em contato com as bestas daquela terra, entendê-las e se conectar com elas, como sempre fazia em todos os lugares que visitava.
No dia após a chegada, antes da alvorada, os pesquisadores se equiparam e foram divididos em grupos. Guilherme foi designado para a equipe que exploraria as ruínas, juntamente com Nadir e Antônio, um casal de estudiosos vindos de famílias abastadas, pretendiam fazer fama com suas descobertas sobre as construções antigas do povo que antes habitava Orbis.
— É tão injusto que tenhamos que passar por tudo isso — reclamava Antônio — As acomodações do barco não eram nada cômodas, a viagem foi longa e nauseante além de entediante, agora temos que estar nesse lugar sujo, acordar cedo e andar nesse mato, e ...
— Por que se tornou pesquisador de campo então? — interrompeu Guilherme apenas para ser ignorado.
— Deixa de ser chato, Toni, você sabia que chamaram voluntários porque essa viagem não ia ser nenhum passeio agradável. Os recursos foram destinados à equipamentos e utilidades para os estudos. Só viemos aqui para fazer nosso nome.
Em meio a conversa, os dois se distraíam enquanto Guilherme coletava informações e fazia anotações, guardava amostras interessantes do local em sua bolsa quando percebeu que na trilha havia um gafanhoto prestes a ser pisado por Nadir.
— Ai! Que isso? — Nadir gritou.
— Larga o pé dela — mandou Antônio
— Desculpa — disse Guilherme deitado no chão, com a cara na terra, embaixo de Nadir, enquanto segurava em uma mão a bota da mulher e protegia o gafanhoto com o outro braço.
— Sério que você se jogou por causa de um inseto? — Antônio desdenhava.
Guilherme não se importou e, aliviado, libertou o gafanhoto que saltou para longe. A trilha continuava e a caminhada era interrompida para observar tendas e casas dos antigos habitantes abandonadas. Antônio fazia rascunhos de diferentes construções precárias que encontravam enquanto Nadir observava e escrevia sobre as estruturas, as quais contrastavam com o acampamento de caçadores, mineradores e vários outros tipos de trabalhadores braçais que vieram nas primeiras levas da colonização. E as conversas no percurso passaram a incomodar mais a Guilherme.
— É só seleção natural. Não é errado que uma civilização avançada suplante a ultrapassada. Não tinham tecnologia... — Nadir dizia.
O biólogo não se prestou a ouvir o resto daquele absurdo e se embrenhou na mata ao lado do caminho para seguir a trilha de um caçador a qual já havia reparado. Ele observou que as pegadas e as feridas de corte nas plantas levavam até uma ruína de uma masmorra. Visualizou então o homem armado apontando sua espingarda para um grande gato selvagem de um tipo desconhecido. Guilherme desesperadamente gritou para que o caçador se afastasse enquanto corria em sua direção para impedi-lo de ferir a criatura, ou o oposto. Devido aos tropeços e escorregões do biologista, o felino se afastou e sumiu de vista em meio aos corredores da ruína, mas outro grande gato surgiu por trás e cercou os dois homens contra um canto das paredes de pedra. O caçador disparou e avançou em direção à fera, mas esta desviou com graça incrível para uma besta de dois metros de comprimento que pesava mais que os dois homens juntos.
Guilherme então tentou, em vão, imobilizar o caçador, já que este não ouvia seus apelos de não violência. O caçador respondeu com uma forte coronhada na cabeça do biólogo e um chute na perna que o desestabilizou gravemente, indo com o rosto de encontro ao chão enlameado. Agora com a visão obstruída, Guilherme precisava contar com seus sentidos para salvar a todos os presentes naquele conflito. Se arrastando com dificuldade na direção do som de carregamento da espingarda, o biólogo avança ao que pensa ser a arma e puxa o braço do atirador, mandando o disparo para cima, no momento preciso, enquanto o gato os encarava ameaçadoramente rugindo, à distância de um salto. Guilherme tateou a mão do caçador e conseguiu forçar mais um disparo direcionado ao nada, seu adversário irritado e apreensivo se desvencilhou e o golpeou mais uma vez, levando-o ao chão.
Nesse momento, o outro gato selvagem retornou por cima da parede cercando os dois homens no cômodo da prisão de pedra, rugindo ruidosamente, exibindo suas presas gigantes, pronto para atacar a qualquer instante. Ficaram fechados em meio às paredes e entre as feras. Guilherme, abatido, levantava-se e limpava seus olhos da lama, apenas para se deparar com um felino rosnando atrás de si e um homem apontando uma espingarda engatilhada para seu peito.
— Não atire, ninguém tem que sair ferido daqui — clamou Guilherme.
— Esses bichos vão matar a gente e as pessoas no acampamento se eu não matar eles aqui! — bradou o caçador.
Então o biólogo apontou em direção a um outro cômodo o qual se podia enxergar pelas falhas nas paredes, e ali podia ser observado um "ninho" com filhotes felinos de olhos ainda fechados.
— Não é verdade, eles estão apenas se protegendo, aposto que antes de você vir aqui eles nunca atacaram, porque evitam áreas movimentadas, não é mesmo?
— É, mas não pode brincar com a sorte. Agora sai da minha frente, que eu vou atirar.
O biólogo se manteve de pé como podia entre as violentas criaturas, mas os grandes gatos selvagens eram racionais o suficiente para defender seu território sem ferir um invasor desnecessariamente. Toda aquela tensão parecia durar horas, mas tudo ocorreu em instantes e, por fim, o caçador cedeu, e abaixou sua arma.
— Cê tem coragem, sorte sua que só tenho duas balas. Tira a gente dessa situação então.
O biologista tomou uma posição encolhida para demonstrar que não tinha intenções hostis e começou a assobiar uma melodia que sabia ser de uma frequência tranquilizante para as feras. Em alguns momentos, os gatos selvagens se retiraram aos saltos pelas paredes e deixaram os homens irem em paz.
Guilherme era apenas um iniciante na carreira que tanto amava, mas a experiência seria ganha durante sua estadia em Orbis, e sua preocupação e cuidado com as criaturas trariam importantes mudanças àquele lugar.
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Aula 6 - Jonathan Biam
O imperador Afélio era implacável. Desde o início de seu domínio, o tirano fez questão de demonstrar seu poder e impiedade executando cruelmente qualquer um que se opusesse a seu comando. Especulava-se que Afélio havia manipulado todos na corte até chegar a possuir uma autoridade maior que a do antigo regente e o destronar, especulava-se que havia usado das artes das trevas e teria se envolvido com bruxas e seres malignos para que pudesse obter influência e vantagem sobre toda a nobreza e as pessoas poderosas do reino. Mas tudo isso era passado, e o imperador apagava o passado, juntamente com aqueles que insistiam em se lembrar dele.
Afélio, apesar de estar no ápice de seu poder e ter conseguido tudo o que desejava, estava atormentado. Ele tomara aquele lugar, mas sentia que não era seu. Para ele o passado deveria ser enterrado, pois este sempre retornava para o incomodar. O imperador cresceu como o caçula de uma família de banqueiros, e provavelmente não seria ninguém grande nem teria um legado significativo. Era de porte fraco, menino mirrado, de voz fina e que era frequentemente ignorado e desmerecido pelas pessoas à sua volta; era tratado como alguém que nem deveria estar ali. Sempre vira as melhores coisas e oportunidades serem oferecidas aos outros, e ficava com trabalhos inferiores de tesouraria. Mas ele tinha ambição, julgava-se merecedor de possuir e controlar tudo à sua volta e vendo a política exercida pelos membros de sua família aprendeu a ser persuasivo, a fazer amizade com as pessoas certas, a fazer favores, a ludibriar, elogiar, envolver. E ao usar a lábia, conseguiu um fiel grupo de seguidores aos quais recompensava e ameaçava.
Décadas se passaram e Afélio eliminou qualquer forma de concorrência no reino se tornando o homem do qual todos dependiam financeiramente e ao qual deviam todo tipo de favor. Usando desta influência, subornou os generais e nobres de confiança do rei e o destronou, executando a família real e ordenando a morte de toda e qualquer pessoa que o desafiasse. O agora imperador se satisfazia com a impotência de todos perante sua dominância, qualquer grupo que se voltasse contra ele teria que enfrentar todos os outros os quais tinha em sua mão. Mas sabia que não era considerado merecedor do que tinha conquistado e nem era desejado ali. E sua satisfação em obter o domínio e todos os prazeres possíveis foi dando lugar à angústia
— Todos à minha volta me tratam com lisonjas, mas na verdade me desprezam, mesmo aqueles que são leais a mim, o são por medo e ganância. Não é o que quero, tenho total controle de suas vidas e tudo que possuem, mas não de seus corações e mentes — disse observando seu reino do alto da torre de seu castelo.
Naquela noite, o imperador enviou várias cartas com seu selo real à diferentes facções subordinadas de seu reino. Afélio declarou guerra em todas elas e ordenou ataque imediato, mas cada facção recebeu uma carta dizendo que o rei os apoiava contra as outras facções traidoras. Então depois de contratar mercenários para agir a seu comando, retirou-se da cidade furtivamente. Sinalizou ao incendiar um estábulo e liberar cavalos flamejantes a correr desesperadamente pela cidade para que seus mercenários ateassem fogo ao castelo e à cidade. Então, e só então, a verdadeira satisfação tomou conta de Afélio, ao ver a desgraça da batalha em meio às chamas e o desespero de todos aqueles os quais o serviam, tendo tudo retirado de si. Contemplando a destruição de tudo o que ele não merecia possuir, o imperador via seu passado ser apagado em meio ao fogo.
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Aula 3 - Jonathan Biam
Amanda e Celso tinham uma ótima relação. Haviam se mudado juntos para sua casa nova há poucos dias, dando um passo em frente na sua vida a dois. Mudança sempre inclui bagunça, e tinham várias caixas de coisas pessoais que trouxeram de suas antigas casas e vidas para a nova casa. Com mais espaço na casa e menos tempo livre pra arrumar as coisas, caixas de tralha ficaram pelos cantos dos cômodos da residência aguardando a sua vez na fila de organização.
Ao vasculhar sua bagagem do passado, Amanda encontrou no fundo de uma caixa dentro de um antigo caderno uma carta. Uma cartinha, de amor. Ela olhou com curiosidade, e então a memória a agrediu como um soco no estômago. César, seu namoradinho do colegial havia a escrito, com todos seus sentimentos inspirados e bregas. A carta tinha até título: Estou “Amando”. O conteúdo era bobo, mas sincero. Ela riu. Então se deu conta de que aquilo não pertencia a Amanda atual, mas sim a Amandinha adolescente, apaixonada e curiosa sobre namorar. E que no ensino médio se tornaria a Amanda quieta e isolada que perdeu seu namorado em um infeliz acidente. Todas as memórias alegres e tristes sufocavam a mulher à medida que mergulhava na carta, mas ela se recusava a submergir. E lia, e segurava sorrisos e soluços, mas não segurava as lágrimas.
E esse momento íntimo com seu namorado perdido no passado é rudemente interrompido pelo seu namorado do presente.
— Mandinha, tudo bem? Precisa de alguma coisa? — Celso pergunta preocupado.
— Não meu bem, essa caixa está cheia de poeira. Minha alergia ataca. — ela respondeu escondendo a carta no bolso, rápida como uma criança escondendo um doce roubado.
Ela terminou a carta confusa sobre o que sentir, o que dizer, se externava suas emoções ou as engarrafava dentro de si. A carta pertencia a seu momento, Amanda era uma outra pessoa agora, que estava bem em sua vida. Saudades do que não volta, pensou ela. Um pedaço de papel velho esquecido apareceu e de repente ela pensava na vida que poderia ter tido, sem arrependimentos. Será que estou vivendo feliz ou estou só aceitando o que tenho? Não, eu não preciso disso, sou realizada e não deixo que lembranças estraguem o que tenho de precioso. Vou me livrar dessa carta. Então, Amanda decidida a abandonar o passado, olha uma última vez para o papel antes de jogá-lo no lixo, hesita, suspira, sorri e o esconde no fundo de sua gaveta de roupas íntimas.
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Prézinho por Jonathan Biam
— Vamo logo manhê! — apressava Larinha toda agitada.
— Calma filha, tem que arrumar sua mochila — disse dona Amanda pacientemente.
A pequenina tinha completado 4 anos há pouco e era elétrica e curiosa como são as crianças nessa idade. Estava ansiosa para conhecer a escola de que ouvira tanto falar, pois todo adulto que encontrava onde quer que fosse perguntava a ela “Já está indo pra escola?”. Lara se arrumava para a ocasião olhando-se no espelho. Ela era uma garotinha comum, com olhos brilhantes de entusiasmo, usando cabelo trançado estilo Maria Chiquinha com xuxinhas extravagantes rosa choque, vestia o novo uniforme da escola todo laranjadinho e as sandálias e brincos de florzinha.
Chegando com a mãe na escola nova, Larinha observava tudo com fascínio, apontava e chamava atenção das pessoas em volta para que compartilhassem da sua diversão em conhecer aquele lugar tão grande (era só uma escola normal, mas gigante aos olhos da menininha), cheio de coisas para descobrir. Uma professora carinhosamente recepcionou a criança e a levou para uma sala cheia de desenhos, mesinhas e cadeirinhas, brinquedos e livros. A sala tinha um quadro negro escrito “Sejam Bem Vindos” e as paredes e o teto eram todos decorados com formas de bichos, desenhos, pinturas, mapas e outras coisas que ela nem sabia explicar para que serviam, como réguas, e outras que ela bem conhecia como giz de cera e massinha.
Um grupo de professores a recebeu e começaram a interagir.
— Larinha, sabe que letra é essa aqui? — perguntou um dos educadores apontando para um livro de histórias.
— Ca-be-lo! — leu Lara, que para a surpresa de todos havia sido alfabetizada em casa pelos pais.
— Que esperta! Já sabe ler — elogiou uma professora. — Vamos partir para outra atividade então.
Os professores trouxeram quebra cabeças, jogos da memória, brinquedos com formas geométricas e todo tipo de jogos voltados para o ensino de crianças pequenas e Larinha se divertia e se saía muito bem em todos eles. Ela ficou a tarde toda da aula experimental tão entretida que quando se deu conta começou a sentir falta da mãe.
— Tia, cadê minha mamãe?
— Ela foi pra casa Lara.
— Por quê? Mas e eu? Vou ficar aqui pra sempre? — Larinha começou a ficar com os olhos marejados e a voz embargada.
— Não, ela já está vindo pra te buscar, daqui a pouco ela chega.
Crianças pequenas não são muito boas com noção de tempo e, apesar de ter gostado muito daquele lugar, Lara estava com medo de ser deixada ali quando percebeu que a mãe não estava junto dela. A essa altura, lágrimas escorriam pelo rosto da garotinha e nem todos os doces do mundo poderiam consolá-la. Em alguns minutos que pareceram uma eternidade os pais de Larinha apareceram na porta e cumprimentaram os professores. Ela disparou numa carreira e pulou no colo da mãe ainda se recuperando aos soluços.
— Você não falou que ia embora mamãe — acusou a menina segurando o choro.
— Falei sim Lara, você que se esqueceu — respondeu a mãe.
O dia de Lara acabou sendo uma emocionante jornada de descoberta de um lugar onde sua curiosidade e energia poderiam ser saciados, mas era um alívio sentir que sua família estava ali para a acompanhar em sua nova aventura.
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Aula 5 por Jonathan Biam
As crianças maiores e o irmão mais velho de Fábio já deviam estar chegando no lago a essa hora. Eles saíram cedo, ou Fábio estava atrasado como sempre. É verão! - pensava o menino eufórico. Finalmente acabaram as aulas e ele poderia passar o dia todo brincando com seus amigos. Ele pegou sua toalha, sua boia de patinho e sua sunga e saiu de casa correndo.
O dia estava radiante, e quente, de verdade. Que calor, quero dar um mergulho logo, ele pensou mesmo sem saber nadar. Fábio suava diante daquele brilhante sol impiedoso, e corria afoito sem apreciar a paisagem da nova estação à sua volta. Se ele parasse pra ver calmamente a mata ao lado do caminho no qual se apressava iria perceber o canto animado dos pássaros, animaizinhos pulando entre os arbustos, flores magníficas atraindo belas e coloridas borboletas. O caminho estava seco e poeirento como a garganta do garoto que ficou exausto de sua corrida.
Chegando na beira do lago ele ouviu a gritaria da molecada brincando na água, já foi jogando suas roupas num canto, espantou os patos que nadavam tranquilamente e se jogou de barriga no meio das outras crianças. Havia algumas estruturas de madeira que ruíram de tão velhas ali, antigamente se “estacionava” uns barquinhos de pesca do lado de uma passarela capenga. A garotada improvisou um trampolim com um tábua que acharam por ali, nada muito seguro, mas eles gostavam de se arriscar, ver quem dava o salto mais bonito. Fábio era o menorzinho, mais leve e mais ágil, adorava essas competições pois se saía muito bem toda vez. Essa época livre e despreocupada era muito preciosa, e aquelas crianças com certeza souberam tirar proveito de cada dia.
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Aula 1 - Jonathan Biam
Havia uma antiga clareira no coração de um bosque esquecido, o qual há muito não era visitado por nenhuma criatura civilizada. A tal mata era muito mencionada em lendas e causos, mas foi abandonada na memória das pessoas quando os jovens deixaram de acreditar em magia. E sim, o bosque era abundante de magia suave, que encanta várias criaturas através da belíssima dança das pétalas soltas de diferentes plantas. Era impossível não ficar fascinado perante o gingado e delicadeza do movimento das flores se desprendendo do pedúnculo e soltando as pétalas a flutuar na brisa, se envolvendo e se afastando, subindo e descendo, mas nunca tocando o chão, nem fugindo para o céu.
A clareira isolada era, no início, habitada apenas pelas criaturas da floresta e uma ilustre intrusa, conhecida como A Bruxa. A solitária habitante da floresta envelhecia só e sofria com a solidão, e sentia sua tristeza profunda se intensificar sempre que contemplava uma flor definhando e deixando bonitas pétalas murcharem e caírem ao solo. A bruxa se espelhava no definhar que percebia e resolveu tomar uma providência.
Decidida, concentrou seu saber em um feitiço que tomaria toda sua força, mas seria duradouro. Ela fez com que a brisa constante do bosque nunca permitisse que pétalas desprendidas tocassem o solo ou fugissem da clareira, mas para sempre dançassem ao vento até se desmancharem, criando assim um belo espetáculo, com o qual a Bruxa se despediu, murchou ao solo e se juntou aos seus ancestrais.
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