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Aula 8 - Janaína Ruas
O Fim
Um silêncio absoluto envenenou o ambiente da grande sala de recreação. Até então, as conversas acaloradas e o tilintar dos talheres nos pratos do buffet, mantinham as presentes em uma harmonia agradável, ignorando completamente o motivo sórdido da reunião.
Até que uma forma suntuosa se fez presente. Naquele momento, estilhaçou-se em incontáveis partículas a mera convicção de segurança em que a frágil elite acreditava piamente estar sob si, junto com a expectativa pífia de mais uma noite de confraternização riscada da agenda. Desde que a paz caíra em hiato indeterminado, também caiu em desacordo os laços diplomáticos, a crença ingênua em um futuro livre de conflitos, sendo impossível, pois os conflituosos se negariam a abrir mão de caçar motivos para suas contendas. Negativamente, uma nova era se moldava dentro dos conformes de alguns.
Mas do que adiantaria tudo isso? Assim que a bomba foi ativada, todas as analogias sumiram das mentes pensantes. Os comandantes e os comandados, todos se tornariam dados dos obituários, em páginas diferentes, é claro. Com destaques diferentes, certamente.
Dentro de 5 segundos, o casarão provinciano do chefe de gabinete e sua família transformou-se em pó e escombros, humanos e materiais.
Medidas drásticas, o sacrifício de um nobre defensor seria lembrado para sempre.
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Aula 7 - Janaína Ruas
Illinx
Desde que essa nova ordem se iniciou, todos passaram a ver o mundo de forma diferente.
Dependendo de suas contribuições à sociedade, você será julgado como um cidadão virtuoso ou não, talvez na realidade que conhecíamos, ser uma boa pessoa era sinônimo de tolice, ou perda de tempo, afinal, qual era a recompensa de todas as suas ações ao fim do dia? Reconhecimento dos demais? Reconhecimento alimenta o ego, certamente, mas não alimenta a carne.
Bom, se agora suas boas ações lhe são retornadas em ganhos, porque chamamos o que vivemos de distopia, repressão e ditadura? (Em nossas casas, certificando que os patrulheiros não nos ouçam, é claro).
A lei Ilinx fora implantada em 60 países desde o fim da Grande Guerra, e continua se alastrando em combate com os rebeldes, após os seguidos atentados a vários líderes mundiais em um curto espaço de tempo, grupos extremistas que de forma sigilosa vinham ganhando poder tomaram o controle, e pronto, uma nova forma de vida passava a imperar. Simples assim.
Lei Ilinx, "A recompensa do disciplinado é sua virtude", uma frase de efeito bem injetada numa massa populacional em decadência e completo desespero é a solução perfeita para a dominação — não é de hoje, abra um livro de história e se certificará.
Pois bem. Seu trabalho é seu maior privilégio e deverá ser sua honra, eles disseram.
A sociedade fora mais estratificada do que era anteriormente. Trabalhadores de vários setores tem a obrigação velada de acumular pontos, conforme cada meta batida. Mas apenas trabalhadores homens. As mulheres agora residem em centros de formação, aprendendo o "seu verdadeiro valor", mas só as de baixa classe social, é claro.
O alto escalão da sociedade vive bem como sempre viveram, a "revolução" partira deles. O controle estava completamente em suas mãos, finalmente. Essa é a lei Ilinx, se mantenha disciplinado e sua recompensa chegará, algum dia chegará, nem que seja depois de sua morte. Seja feliz.
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Aula 5 - Janaína Ruas
Da janela espelhada era quase improvável ver o sol nascer. O dia começava em tensão e dor de cabeça para Mary, que atordoada, levantava-se do mal acolchoado banco da sala de espera da delegacia.
Mal dormira, na verdade, nem chegou ao estado de sono, apenas repousou com os olhos fechados e a mente conflituosa durante toda a madrugada. Seus pés calçados em um par de botas novas doíam, sua blusa marcada de suor grudara em seu abdome, e caído ao chão o que antes estava sobre suas pernas, estava o cardigan vermelho de Luísa.
Olhando ao redor, o mesmo ambiente cinza que a causava enjoo, o escritório do delegado com a sua frente protegida por um vidro temperado estava vazio. Logo mais se aproximou Luísa trazendo dois copos descartáveis com café.
— Consegui isso na cozinha, já que não tem café pra visitantes na mesinha — explicou a garota alta que chegara, antes de recolher do chão a peça vermelha, resgatando Mary de seja onde lá que seus pensamentos amaldiçoados a estavam mantendo.
— Ah, obrigada. — Mary recebeu a bebida.
— O delegado já chegou, alguns policiais também, junto da mocinha da cozinha com quem peguei o café. O Tavares me contou que já deram o café da manhã do Derek. — Luísa sentou-se ao lado da amiga.
A menos de 12 horas atrás o jovem casal estava comemorando 6 meses de namoro. Mary estava radiante. Seu estado de espírito sofreu um completo desastre, o declínio teve seu início no momento em que os policiais deram voz de prisão e algemaram Derek; ela e todos os presentes no bistrô foram surpreendidos.
Agora seu futuro se encontrava lá, no fundo de um copo descartável de café, sendo degustado no ambiente inóspito de uma delegacia medíocre.
— Nós vamos ter filhos um dia. Ele quer ter filhos tanto quanto eu… Não entendo como ele teve coragem de bater em uma criança. Isso é a merda de um pesadelo. — Mary não pôde manter a voz baixa. Chamou a atenção do delegado que havia acabado de sair no corredor em direção a sala de espera.
— Bom dia, senhoritas, eu as aconselho a ir para casa, não há nada o que possam fazer aqui. Não se sabe por quanto tempo o detento vai continuar aqui, nem quando irá ser transferido para a penitenciária, o inquérito ainda está em aberto. — A figura robusta do delegado chegou a passos largos enquanto ajeitava o cinto.
— Eu não entendi nada até agora. Não sei os detalhes da acusação, não sei quem acusou, não sei nada, mas vou arranjar um advogado. — Mary era consolada pela amiga com toques nos ombros
— É seu direito — Sr. Castanho proferiu de maneira desdenhosa e saiu do local.
Assim que Castanho se retirou, surgiu pela porta escura da frente uma senhora desgrenhada, num coque desleixado e conjunto de moletom azul, carregava diversas sacolas.
— Minha filha, eu trouxe comida, mas acho melhor nós irmos embora, você precisa descansar. Já estou cuidando de achar um advogado. — Se esparramou sobre o banco ao lado direito de Mary, deixando as sacolas no chão.
— Eu quero ver o Derek. Preciso ver ele. — Ignorando completamente a chegada da mãe.
— Olha, Mary, acho melhor a gente ir com a sua mãe… e mais: você deveria esquecer o Derek por enquanto. — Luísa fitou a mãe de Mary, entreolharam-se.
Mary caiu em prantos.
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Aula 4 - Janaína Ruas
Procura-se: Bailarina
Camarim principal: nem sequer uma pluma fora dos enfeites. O oposto nos corredores; sangue jovial, corpos ainda vestidos de brilhantes.
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Aula 3 - Janaína Ruas
Ariel
Todo sábado, naquele horário, o metrô parecia um local mais ou menos decente. Eu nunca conseguia um assento, mas pelo menos conseguia me equilibrar segurando a barra com todos os meus lados livres de pessoas. Com olhar distante enquanto ouvia música nos headphones de quinta categoria, me perguntava o motivo de ainda me prestar a frequentar as aulas de pintura.
“Eu não sei dar profundidade às minhas obras, mas sempre fora meu sonho aprender a pintar. Atuar quando eu tinha uns 9 anos... Mas isso eu não saberia nem se fizesse aulas. E todos gostam dos meus desenhos também né... Quem sabe se eu começasse a retratar o que eu realmente gosto... Bom, eu gosto de cachorros, mas há pinturas de cachorros por todos os lugares, não seria nada original. Será que eu tenho a síndrome hipster de só valorizar coisas originais e entupidas de conceito? Aquela moça ali parece bem mais hipster que eu, chapéu e coturno, ulalá! Será que eu fico bem de chapéu? Seria legal experimentar alguns no shopping.
E se eu mudasse radicalmente meu estilo… Eu poderia- ai meu deus essa música é muito boa, vou colocar no repeat. Ai que torcicolo maldito, tenho que arrumar a postura”.
Tirando a atenção dos meus tênis, olhei ao redor. “Esse anúncio de clínica de estética sempre aparece quando pego esse metrô. Não... não vou fazer nenhum procedimento”. Faltam duas estações, entram algumas pessoas e saem outras. “A sacola daquele moço tem bastante verdura, ele deve ser bem saudável. Márcio sempre pega no meu pé pra dar um jeito na alimentação, chato demais. Eu tinha algo pra fazer depois da aula, mas não consigo me lembrar. A alça deste sutiã está me incomodando demais, eu deveria ter colocado o que estava no varal. Hmm, pegar o presente do Hugo na segunda na joalheria e aproveitar pra passar na loja de antiguidades, ver se tem um espelho com moldura, acho que é isso que tenho de fazer. Aah, já é minha estação.”
Andando na rua doze, ao final dela ficava a escola de artes. “Essa árvore me faz lembrar da casa dos meus avós, quem sabe eu tente pintá-la. Verdade, preciso ligar para a vovó. Pelo menos uma vez na semana, mas ainda preciso lembrar. Meu irmão deveria ligar mais para nossos familiares. Uma boa bronca resolveria isso. Mas-”.
Bruscamente uma figura baixinha e veloz se projeta e puxa meu celular pelo cabo do fone.
— Perdeu, perdeu!
A figura some na mesma velocidade em que apareceu. “Essa ruazinha próxima a escola de artes é meio perigosa mesmo. Agora não sei o que fazer, o que falar, nem o que pensar.”
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Aula 2 - Janaina Ruas
O cheiro da noite quente embriagava os sentidos de Alina, que caminhava suntuosamente pelas ruas asfaltadas em direção ao boteco antigo do bairro mais boêmio da cidade. Durante o caminho, outros bares e barracas de comida dos mais diversos tipos chamavam sua atenção, a fumaça dos cigarros e das churrasqueiras impregnava em seu cabelo longo e vestido de camurça, assim como a brisa marítima que vinha de encontro �� costa, dando um pouco de frescor ao agito noturno.
Tentando distrair sua mente do encontro intenso que teria mais adiante, Alina prestava atenção nos olhares jovens de esperança e depravação dos que se divertiam em mais um final de semana. Apreciava aquilo como se não fizesse parte dessa juventude inquieta, pelo menos naquele momento não, mas fora exatamente numa dessas noites de curtição que a levaram a aquele dia.
Ao chegar no local de letreiro azul neon, seus passos a conduziam ao lounge do segundo andar. Que pessoa em plenos 24 anos de idade escolheria tomar um café ao invés de um drink num sábado a noite? Bom, era exatamente para esse tipo de pessoa que esse bar era feito, o local com toque vintage e repleto de plantas funcionava como um bar na parte de baixo e como um café gourmet no andar de cima. Lá, esperava por ela a pessoa menos importante de sua vida até então… Ou poderia ser o contrário dependendo de como as coisas iriam acontecer.
Alina sentou-se na cadeira a frente da figura de uma moça alta e esguia, com olhos fundos e cabelos crespos, vestindo verde, que a aguardava com dois cappuccinos.
— A noite está muito quente hoje — Alina disse ao se acomodar.
— Sim. Eu acho fascinante… Sou uma poeta apaixonada.
— E eu sou uma jovem tentando me apaixonar.
— Totalmente interessante.
— E perigoso.
O café com aroma de canela envenenava a conversa.
— Numa noite dessas eu pensei em você… — A moça alta fitou Alina e sorriu.
— Mais perigoso ainda.
— Muito.
— Acho que conseguimos nosso objetivo, nos amamos agora… E nunca mais nos veremos.
Tão inconsequentes, as duas moças buscando desafiar seus próprios sentimentos em busca de adrenalina e sem a menor preocupação com responsabilidade emocional, combinaram de tentar se apaixonar durante uma viagem a Cuba. Caso atingissem o que desejavam, encontrariam-se pela última vez num café. Nunca mais se veriam novamente.
— Estou tentada a ir atrás de você, mas seria estúpido.
— Muito. Esse foi o nosso combinado, nos apaixonarmos por uma semana e nunca mais nos vermos. Será uma ótima história para contar e um capítulo intenso em nossas vidas, nada mais do que isso.
— Eu te amo.
— Eu também.
— Adeus Alina.
— Adeus Iara
As duas levantaram-se e foram embora, deixando para trás apenas duas canecas vazias e uma história incompleta.
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