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#história do maranhão
liveinhecate · 10 days
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Lendo Maranhão... pt. 2
Se você é um pouco habituado a História do Brasil, você sabe que grande parte das análises dos nossos 500 anos em sua maioria são econômicas. Uma tendência das escolas históricas que ainda estamos tentando rever nos materiais didáticos, mas sempre que o assunto é Brasil Colônia, ou o período Imperial, a nossa divisão histórica é feita em ciclos de produção. A escrita maranhense não ia ser a contramão dessa prática.
História econômica é uma constante dos escritores do sertão maranhense, sempre numa perspectiva de como nos explorarem economicamente e nos fazer produzir. Iniciada com os relatos de viagem de Francisco de Paula Ribeiro, você não encontra documentos que quebrem esse padrão, e nesse caminho temos o livro de Adalberto Franklin, com uma proposta de fazer uma história econômica de Imperatriz, sem muito sucesso. Numa sessão antes da introdução, chamada de “explicação prévia”, o autor do livro faz uma ressalva, que apesar do título, a obra não se trata de uma análise aprofundada de história econômica, usa apenas os ciclos de produção econômicos da cidade para dividir e melhor estruturá-la.
Só é história regional, pois tem seu recorte geográfico bem colocado, mas não chega a usar a teoria para a produção. O livro funciona como uma grande revisão bibliográfica, não deixa de cumprir com a intenção de reunir “fontes”, seja produção historiográfica ou documentos sobre sul maranhense, tem uma consistência e um peso substancial, de fato, funciona como um convite ao pesquisador para um aprofundamento dos estudos. Não cabe aqui fazer uma critica sobre a escrita das monografias do curso de história em Itz, nem dos jornalistas metidos com seus resgates, mas é necessário que aja um cuidado na elaboração de um projeto de pesquisa em história que não costuma ser levado em conta na maioria das produções. *escrevi e sai correndo*
O livro conta com dois mapas no início, um deles inclusive é o mesmo da segunda edição de “O Sertão” da Carlota Carvalho, como os livros são da mesma editora, acho que aproveitaram a produção da APEM.  Os três primeiros capítulos falam da expansão da cidade durante a segunda metade do século XIX, e início do século XX. O primeiro sendo o ciclo econômico do gado e abertura de estrada no sertão maranhense (estradas que não vão vingar, mais detalhes no quarto capítulo), o segundo é o ciclo da extração da borracha na Amazônia, e o terceiro fica com o ciclo das castanhas.
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pegasus-viagens · 1 year
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Não é sobre a beleza, mas a luta por trás
“Nossa, que serviço de preto!’, “Seu cabelo é tão ruim, por que não alisa?”
Infelizmente, essas frases são muito comuns e mostram como o racismo está enraizado na sociedade. Mas nem sempre foi assim. Até onde a história conta, na Grécia Antiga não havia racismo, apesar de (lamentável, Grécia) existirem escravizados, e essa condição imposta nada tinha a ver com a sua cor, pois os escravos eram prisioneiros de guerra ou pessoas condenadas por crimes. Então, como isso começou?
Avançando no tempo, no século XV, começaram as expansões marítimas, as Américas foram descobertas e se iniciou o massacre de povos indígenas e a escravização do continente africano, dando origem a esse preconceito com povos negros. E o resto da história todo mundo conhece. Quando falamos de viagens e pontos turísticos, a história e a presença da cultura afro é muito forte em diversos aspectos, especialmente no Brasil. Por isso, vou mostrar três cidades com forte influência das nossas origens.
Salvador, Bahia
Uma das capitais mais vibrantes, que expressa criatividade e originalidade, Salvador celebra sua cultura de forma única. Para quem gosta de curtir o carnaval, sem dúvida esse é o melhor lugar para curtir os bloquinhos e se divertir ao máximo. O principal gênero musical, o samba reggae, que une os ritmos mais presentes no Brasil e na Jamaica, atrai quase um milhão de pessoas por ano.
Mas não é só o carnaval que torna essa cidade tão ilustre não. O bairro Pelourinho costuma ser um palco de manifestações, ateliês e galerias, e tem diversos museus que nos levam a passeios históricos, como o Museu Nacional da Cultura Afro Brasileiro e a Cidade da Música da Bahia.
Serra da Barriga, Alagoas
Um dos mais importantes símbolos da luta contra a escravidão no Brasil foi sem dúvidas Zumbi dos Palmares, que até hoje é homenageado, tendo a data da sua morte (20 de novembro) como Dia da Consciência Negra. E é na Serra da Barriga que está o Quilombo dos Palmares, que foi liderado por ele durante 16 anos e era refúgio de mais de 20 mil negros escravizados na época.
Atualmente, o local é reconhecido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional como um parque nacional. Lá a imersão é completa e existem pontos de áudio e textos para entender a realidade daquelas pessoas, sem falar que o próprio ambiente permite conhecer melhor a luta pela resistência negra no nosso país.
São Luís, Maranhão
Na música e nos museus, a identidade negra pode ser vista e apreciada de diversas formas, e também na dança acha seu espaço no Tambor de Crioula. Essa é uma dança típica do estado maranhense, de origem africana, que pode ser apreciada em quase todos os lugares da cidade durante o ano todo.
As paradas obrigatórias de quem passa pela cidade são o Museu Cafuá das Mercês, a Casa do Tambor de Crioula, o Mercado Casa das Tulhas e, claro, o centro histórico, todos pontos turísticos que preservam a cultura dessa cidade maravilhosa.
Espero que vocês tenham a oportunidade de ir nessas cidades incríveis que, com certeza, já estão na minha lista de viagens dos sonhos. Por hoje é isso, fica a reflexão da valorização da identidade negra no nosso país e semana que vem eu volto com mais lugares para dar um rolê.
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Úrsula - Maria Firmina dos Reis
Úrsula é um romance da escritora maranhense Maria Firmina dos Reis publicado em 1859. É considerado o primeiro romance escrito por uma mulher no Brasil. O romance foi publicado com o pseudônimo "uma maranhense". O romance foi ter segunda edição, essa facsimilar, apenas 1975 graças a organização de Horácio de Almeida. Úrsula é considerado um romance precursor da temática abolicionista na literatura brasileira, pois é anterior à poesia de Castro Alves e ao As vítimas-algozes de Joaquim Manoel de Macedo. Maria Firmina desconstrói uma história literária etnocêntrica e masculina até mesmo em suas ramificações afro-descendentes. Úrsula não seria apenas o primeiro romance abolicionista da literatura brasileira - fato que nem todos os historiadores admitem - mas é também o primeiro romance da literatura afro-brasileira, entendida esta como produção de autoria afro-descendente, que tematiza o negro a partir de uma perspectiva interna e comprometida politicamente em recuperar e narrar a condição do ser negro no Brasil.
Wikipedia
Úrsula - Maria Firmina dos Reis
Úrsula is a novel by the Maranhão writer Maria Firmina dos Reis published in 1859. It is considered the first novel written by a woman in Brazil. The novel was published under the pseudonym "uma maranhense". Úrsula is considered a precursor novel of the abolitionist theme in Brazilian literature, since it predates the poetry of Castro Alves and the victims-tormentors of Joaquim Manoel de Macedo. Maria Firmina deconstructs an ethnocentric and masculine literary history even in its Afro-descendant ramifications. Úrsula would not only be the first abolitionist novel of Brazilian literature - a fact that not all historians admit - but it is also the first novel of Afro-Brazilian literature, understood as a production of Afro-descendant authorship.
Read more about the author on Wikipedia.
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petiteblasee · 5 months
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A Odisseia de Kehinde | Um Defeito de Cor - Ana Maria Gonçalves
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"Um Defeito de Cor" é um romance histórico escrito por Ana Maria Gonçalves, publicado em 2006, que acompanha a jornada de Kehinde, uma africana escravizada no Brasil do século XIX. Trazida ainda criança da África, a história da protagonista é marcada por uma série de eventos traumáticos, desde a sua separação da mãe até os abusos e injustiças que enfrenta ao longo de sua vida como escrava no Brasil. Através dos olhos de Kehinde, somos confrontados com questões de identidade, pertencimento e justiça num contexto completamente desfavorável. Sendo uma personagem com uma forte ligação com o espiritual, e este definindo o caminho longo que ela deveria seguir, o livro é dividido em cinco partes, cada uma marcando uma fase significativa da vida da protagonista, Kehinde, e sua jornada através da escravidão no Brasil. Essas partes são:
Infância na África: parte inicial que retrata a infância de Kehinde em sua aldeia na África, juntamente com sua mãe, avó e irmãos, antes de ser capturada e vendida como escrava.
Ilha de Itaparica: recém chegada na Bahia, é levada para a Ilha de Itaparica, onde conhece e entende não apenas a brutalidade do sistema, mas também a humanidade e a resistência dos escravizados. Aqui, mesmo diante dos abusos, sua base familiar brasileira é formada.
Salvador: na grande capital, Kehinde amplia seu conhecimento a respeito do mundo em quem vive e seu amadurecimento imposto e natural encontra lugar para ela se estabelecer como alguém importante na sociedade e na luta pela liberdade através de sua participação em movimentos de resistência contra a opressão dos senhores de escravos.
Jornada pelo Brasil: após diversas perdas, Kehinde viaja para os demais estados do Brasil, entre eles Rio de Janeiro, São Paulo e Maranhão e Minas Gerais, para se reconectar com suas raízes espirituais e a busca pelo filho perdido. Nessa vigem, que parece ser eterna, vive novas experiências e encontra novos desafios em sua luta pela liberdade e dignidade.
Reencontro e Redenção: Kehinde retorna à África em busca de quem era para poder retornar ainda mais forte na sua busca pelo filho amado perdido.
Essas partes estruturam a narrativa do romance, proporcionando uma visão abrangente da vida de Kehinde e das condições sociais e históricas do Brasil durante o período da escravidão, e nos dá dimensão da grandeza da história de uma mulher que, ao longo do retrato de sua vida, resgata a história do povo afro-brasileiro, tirando os da passividade e trazendo personagens resilientes que anseiam a liberdade e luta contra as adversidades. O romance foi inspirado na vida de Luísa Mahin, uma revolucionária brasileira no século XIX, mãe do advogado abolicionista Luís Gama, e que pouco sabendo sobre sua história real, muitas foram as possiblidades. Não procurei saber além disso para não lidar com spoilers, principalmente sobre a vida do Luís antes dele se tornar advogado, e recomendo que façam o mesmo. Diante de tudo isso, confesso: a leitura não foi nada fácil.  O romance revela ao longo das mais de 800 páginas a brutalidade do sistema, e acompanhar isso acontecendo das formas mais perversas, é devastador. A resistência e luta por liberdade é muito bem explorada, mas nenhuma vitória é conquistada sem grandes perdas, e a Kehinde sabe bem disso. Essa é a história de uma mãe em busca do seu filho, mas também a história de uma vida que buscou ir além da sobrevivência num contexto onde a existência era vista como nada. A Kehinde é uma personagem cheia de defeitos e não esconde nenhum, até justificando ser por isso que perdeu tanto na vida. Mas o que pôde fazer para ter controle sobre a própria vida e ser vista como uma pessoa de respeito, ela fez. Nesse meio, mostrou que a vingança vem, e é merecida, e que qualquer lição necessária não precisa ser acompanhada de tanto horror, pois ela nasceu para a grandeza.
Com o passar dos anos, o tom da narrativa também vai amadurecendo, e foi muito interessante acompanha-la sendo mais verdadeira com ela mesma e com o mundo. Ela não faz rodeios quanto aos seus pecados e aos dos outros e, mesmo sentindo certa culpa em viver diante da busca, não se arrepende. Quando ela cita que toda a história é uma carta escrita para que o filho a conheça, o coração vai apertando com a possibilidade dela nunca o encontrar para poder dizer tudo pessoalmente, e tudo acaba até de forma abrupta. Muitas vezes parei a leitura e considerei que muita coisa ali poderia ter sido descartada, mas depois de viver de forma tão grandiosa, superando os obstáculos colocados na vida terrena e espiritual, não julgarei muito a falação de uma idosa nas últimas. O fim não me deixou desolada - apesar de não ter terminado com a visão que ela tanto queria - porque o destino do filho se provou e ele foi feliz. Diante disso, só me resta sonhar com ele lendo a vida da mãe e se orgulhando de ter em tão pouco tempo juntos, tanto dela para construir tudo que ele construiu e foi.
Recomendo!
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blogdojuanesteves · 1 year
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TAMBORES > FOTO CLUBE POESIA DO OLHAR
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Imagem acima: Fafá Lago
"Já fazia mais de três séculos que os primeiros negros tinham chegado ao Maranhão, ainda com a cidade circunscrita ao seu forte, a algumas ruas tortas, ao casario de palha, a uns poucos sobradinhos de pedra. [...] E tinham sido eles, os pobres pretos esqueléticos, de grandes olhos febris, as pernas bambas e chagadas, que em verdade ergueram a cidade, com seus palácios, seus sobradões de pedra e cal, suas igrejas e sua muralha junto ao mar, sem que nada por isso lhes fosse restituída a liberdade. Em verdade, só eram livres ali, na casa-grande das minas, e enquanto ressoavam os tambores." 
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Imagem acima de João Maria Bezerra
Como epígrafe, o extrato acima do livro Os tambores de São Luís" ( José Olympio Editora, 1975) do maranhense Josué Montello (1917-2016) já introduz o leitor a potente ressonância visual encontrada no livro Tambores ( Ed. Origem, 2022), dos autores Adalberto Melo, Adriano Almeida, Antonio Coelho, Danielle Filgueiras, Edgar Rocha, Emanuely Luz, Fafá Lago, Fozzie, João Maria Bezerra, Julio Magalhães, Márcio Melo, Mônida Ramos, Ribamar Carvalho, Sérgio Sombra, Suzana Menezes, Svetlana Farias, Talvane Araujo, Tarcísio Araújo e Tavares Jr., a maioria "ludovicenses" ou seja, quem nasce em São Luís, capital do Maranhão, ou radicados na cidade, sócios do Foto Clube Poesia do Olhar, integrante da Confederação Brasileira de Fotografia (Confoto), que congrega dezenas de foto clubes pelo Brasil. A edição vai de duas a três fotografias para boa parte dos autores  e chega ao máximo de dezesseis e  vinte e uma imagens para  dois autores.
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Imagem acima de Julio Magalhães 
Com uma produção mais conhecida em seu estado, o Fotoclube Poesia do Olhar não deixa a desejar para outras importantes agremiações do gênero como a Sociedade Fluminense de Fotografia, do Rio de Janeiro ou o paulistano Foto Cine Clube Bandeirante, cuja projeção tornou-se nacional e às vezes internacional, caso deste último, e junta-se as demais entidades na publicação de mais um belo livro fotográfico temático, trazendo, entre outros, um texto escrito pelo sergipano Reginaldo de Jesus, professor de língua portuguesa do Instituto Federal de Sergipe (IFS), expert na obra de Montello, a qual dá o norte para a construção dos fotógrafos.
Tambores de São Luiz  mostra o empenho de Montello ao resgatar o espírito negro, esquecido no país, a partir de outra ótica que não a do colonizador e opressor, uma análise literária pelo viés histórico, já que, no nível da ficção, os acontecimentos são norteados pela história e assentados no inter-relacionamento do discurso estético e literário. Como explica a professora Ceres Teixeira de Paula:  O autor recompôs um enredo em que o negro surge como agente, e em que diversas formas de resistência, desde o banzo, a fuga e a organização em quilombos são relembradas.  O próprio Montello conta o surgimento do livro: "Depois de ter escrito o Cais da Sagração, que anda agora a correr o mundo, o que primeiro me aflorou à consciência, inspirando-lhe a germinação misteriosa, foi o ruído dos tambores da Casa das Minas, que ouvi em São Luís, na minha infância e juventude." Uma percussão que, sem dúvida, vem instigando  a produção de textos e imagens.
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Imagem acima de João Maria Bezerra
Já o livro Tambores é uma publicação que aproxima-se com muita dignidade à obra de  profissionais consagrados, como o também maranhense Márcio Vanconcelos com seu Zeladores de Voduns do Benin ao Maranhão ( Editora Pitombas, 2016), com retratos feitos no Maranhão e no Benin, na África Ocidental [ leia aqui review em https://blogdojuanesteves.tumblr.com/post/648453616930308096/imagem-agboce-su-hun-nexo-ouidah-o-antrop%C3%B3logo ] ou outros autores como o mineiro Eustáquio Neves e seu Aberto pela Aduana ( Ed. Origem, 2022) que trabalha a questão da diáspora africana, bem como propõe discussões sobre a posição do negro na arte e na cultura que se consolidam e abrem novas perspectivas buscando o restabelecimento da sua importância, há muito preterida pelo establishment. [ leia aqui review https://blogdojuanesteves.tumblr.com/post/688419475843891200/muito-da-arte-%C3%A9-produto-de-seu-tempo-e ].
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Imagem acima Julio Magalhães
Reginaldo de Jesus, inspirado em uma crônica do escritor capixaba Rubem Braga (1913-1990) intitulada "Entrevista com Machado de Assis", parte do seu livro Ai de ti, Copacabana, de  1960, com capa da designer carioca Bea Feitler (1938-1982) e atualmente na 34ª edição, pela Global Editora, imagina uma entrevista com Josué Montello, sobre os tambores de São Luís, segundo o autor, seu romance mais festejado pela crítica, considerado uma obra prima, em um exercício ainda mais imaginativo, acentuando seu lado ficcional onde o mesmo é entrevistado para o jornal A mocidade, que ele mesmo fundou em São Luís, aos 17 anos.  
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Imagem acima Danielle Filgueiras
Acompanhadas desta "entrevista" e por outros textos estão imagens densas, saturadas, carregadas nos seus  contrastes que permeiam as ruas da cidade de São Luis, com personagens negros, vernaculares na essência, entremeados por detalhes da sua arquitetura histórica, a bela azulejaria, casarios e calçamentos de pedras , que ainda resistem bravamente à enorme incompetência do estado em manter a sua conservação. É uma palete barroca, acentuada pelos vermelhos e amarelos em sua maioria, com a ressalva de algumas fotografias em preto e branco, a demonstrar a potência da utilização da cor como forma. Acrescentando-se aqui a edição de imagens e o projeto gráfico que não identifica nas imagens diretamente os seus autores, mostrando certa homogeneidade do grupo e estimulando a narrativa visual.
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imagem acima Danielle Filgueiras
Wanda França de Souza, gestora e bibliotecária da Casa de Cultura Josué Montello e curadora do Museu Josué Montello escreve que além dos dados históricos, o romance de Montello é notável pela rica descrição do interior da Casa das Minas, da estrutura colonial de uma São Luís preconceituosa, das ruas e becos, seus mirantes e sobrados de ferro, o que podemos encontrar nas imagens. Infelizmente para o leitor não familiarizado com a cidade, a ausência de identificação dos lugares diminui a estrutura histórica, ainda que as reproduções de jornais estejam descritas no final do livro.
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Imagem acima de João Maria Bezerra
Para o antropólogo, professor da Universidade Federal do Maranhão, Sérgio Figueiredo Ferretti (1937-2018), em seu livro Querebentã de Zomadonu: etnografia da Casa das Minas, (EDUFMA, 1996), a "Casa das Minas"  é um templo do "Tambor de Minas" localizado no centro histórico de São Luís para para o culto de origem africana que em outras regiões do país recebe denominações como Candomblé, Xangô, Batuque, Macumba entre outros. Em São Luís, a Casa das Minas é uma casa de culto afro-religioso fundada por escravos originários do Benim, falantes da Língua Fon, do grupo linguístico ewe-fon. A Casa também é chamada Querebentã de Zomadonu. Querebentã, em língua Jeje ( falada em Gana, Togo e Benin) quer dizer “casa grande” e Zomadonu, o nome da divindade protetora dos seus fundadores e o dono da Casa.
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Imagem acima Adalberto Melo
Em 2002 foi declarado e aprovado, o tombamento da Casa das Minas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, IPHAN, como sendo um dos patrimônios da cultura brasileira. Segundo as pesquisadoras da Universidade Federal do Maranhão, Christiane Falcão Melo e Zuleica de Souza Barros todas as integrantes da Casa, juntamente com suas divindades, tentam manter, o máximo possível, as características do culto ao longo das gerações, preservando-se, assim, sua cultura linguística por meio dos rituais religiosos e toda essa religiosidade praticada refletiu-se, notadamente, nas concepções da língua. Para a sociedade uma possibilidade de expressão das necessidades humanas de comunicação e de integração social. Neste sentido, a língua é um identificador de grupos, pois, além de representar a comunidade falante, reflete as mudanças sociais e as identidades culturais que compõem a sociedade.
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Foto da capa acima: Fafá Lago
Língua, texto e imagem, se amalgamam em estruturas semiológicas na construção do nosso imaginário vernacular e de nossas heranças compartilhadas. Assim, Tambores é mais um movimento para que ações efetivas sejam unidas cada vez mais. Como escreve Wanda França de Souza, o escritor Josué Montello mergulhou em nossas raízes históricas, ao escrever um romance não somente sobre a escravidão, narrando não somente a vinda do negro para o Brasil como também da incorporação à realidade deste país, até a redenção, identificado como brasileiro e com a liberdade. É claro que podemos e devemos pensar que, escrito em 1975, talvez o autor não pudesse imaginar que toda esta estrutura materializaria-se em tempos mais contemporâneos, ressignificada em preconceito, discriminação e racismo amparado pelo estado e por parte da sociedade, motivo pelo qual esta publicação do Poesia do Olhar mantém uma consonância com o necessário ativismo por uma sociedade melhor.
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Imagem acima de Julio Magalhães
Certamente os registros documentais ou encaminhados pela arte, aqui mencionados, que cuidam da importante presença africana no Brasil vêm também aumentando, seja de um modo amparado pelas suas estruturas hereditárias ou étnicas, como Eustáquio Neves ou o baiano Hugo Martins ou dos fotógrafos dedicados a esta pesquisa como Márcio Vasconcelos entre outros, associados ao grupo dos 19 fotógrafos que produziram a publicação, são de enorme importância no reconhecimento não somente dos influenciados por estas matrizes, mas para toda a cultura brasileira, saudando o pioneirismo do francês Pierre Fatumbi Verger (1902-1996), do piauiense José Medeiros (1921-1990) e do baiano Mario Cravo Neto (1947-2009) entre outros, que pavimentaram a fotografia brasileira.
Imagens © autores.   Texto© Juan Esteves
Infos básicas:
Editora Origem
Publisher:Valdemir Cunha
Imagens: Foto Clube Poesia do Olhar
Editora Executiva: Ligia Fernandes
Edição de Imagens e Direção de Arte: Valdemir Cunha
Textos: Joseane Maria de Souza e Souza, Reginaldo de Jesus e Wanda França de Souza.
Impressão: Gráfica e Editora Ipsis
Capa Dura, papel Garda Kiara, tiragem de 1000 exemplares.
Para adquirir a publicação: editoraorigem.com.br
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amazoniaonline · 1 year
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mardelivros · 1 year
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Perseguição a homossexuais e transexuais veio com europeus durante a colonização do Brasil
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"Índias há que não conhecem homem algum de nenhuma qualidade, nem o consentirão ainda que por isso as matem. Estas deixam todo o exercício de mulheres e imitam os homens e seguem seus ofícios, como se não fossem fêmeas. Trazem os cabelos cortados da mesma maneira que os machos e vão à guerra e à caça com seus arcos e flechas, perseverando sempre na companhia dos homens, e cada uma tem mulher que a serve, com quem diz que é casada, e assim se comunicam e conversam como marido e mulher".  O relato do português Pero de Magalhães Gândavo, de 1576, é um dos mais eloquentes registros da diversidade de gênero que havia nas terras que hoje são o Brasil, e também do choque cultural imposto pela colonização europeia e católica. Os portugueses também trouxeram em suas caravelas as normas de gênero e sexualidade vigentes na Europa, inclusive por meio do Tribunal do Santo Ofício, a Inquisição, que previa pena de morte para o "pecado da sodomia", equiparado aos mais graves crimes contra a Coroa. Em entrevista à Agência Brasil para marcar o Dia Internacional de Combate à LGBTfobia, celebrado nesta quarta-feira (17), pesquisadores apontam raízes coloniais nos crimes cometidos ainda hoje contra essa parcela da população brasileira.  O trecho de Gândavo é destacado do livro histórico Tratado da Terra do Brasil pelo antropólogo Luiz Mott, no artigo História Cronológica da Homofobia no Brasil: Das Capitanias Hereditárias ao fim da Inquisição (1532-1821). Mott é pesquisador e ativista, professor da Universidade Federal da Bahia, fundador do Grupo Gay da Bahia, pioneiro na contabilização de crimes homofóbicos no Brasil e também responsável pelo resgate da história do indígena “Tibira do Maranhão", classificado pelo antropólogo como a primeira vítima de LGBTfobia de que se tem registro no Brasil. 
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Rio de Janeitro (RJ) - LGBTfobia que chegou nas caravelas se enraizou com colonização. - Desenho de indígena tupinambá feito pelo francês Jean de Léry. Os tupinambás foram considerados luxuriosos por franceses e portugueses. Gravura de livro de Jean de Léry/Biblioteca Nacional "Tão generalizada era a homossexualidade na Terra Brasilis, que os Tupinambá tinham nomes específicos para designar e identificar osas praticantes dessa performance homoerótica: aos homossexuais masculinos chamavam de Tibira e às lésbicas de Çacoaimbeguira. Condutas radicalmente opostas ao ensinamento oficial da cristandade", escreve Mott em seu estudo.
Raiz violenta
O antropólogo descreve que o cenário demográfico da colônia, em que os homens brancos são minoria absoluta se comparados aos indígenas e, depois, aos africanos escravizados, fez com que o controle social, incluídas aí as normas de gênero e sexualidade, precisasse ser ainda mais violento do que na Europa. O resultado disso foi uma “hipervirilidade”, que via qualquer atitude considerada não masculina partindo de um homem como ameaça odiosa a uma sociedade dominada por poucos homens brancos e cristãos. Para Mott, essa é a raiz das formas brasileiras que tomaram o machismo e a homofobia. "Um grupo tão diminuto, para manter subjugados todas as mulheres e todos os machos não brancos, tinha que ser muito violento, muito truculento. Tinha que saber usar o chicote, a bengala, a espingarda, para se defender dos oprimidos. O machismo aqui foi muito mais forte do que nas metrópoles, e a homofobia era um elemento fundamental da hegemonia do macho branco. O machismo, a misoginia e a homofobia são irmãs trigêmeas nessa sociedade marcada pela escravidão". A violência dos europeus contra os nativos da América do Sul fica bem marcada no assassinato do indígena Tibira do Maranhão pelos franceses em 1614, ano em que ainda ocupavam uma parte do Norte e Nordeste do Brasil. Tibira era a forma como esse indígena era chamado pelos outros tupinambás, por seus trejeitos vistos como efeminados e por se relacionar com outros homens. Esse comportamento era normalizado entre os tupinambás, como narra de forma preconceituosa o empresário Gabriel Soares de Souza, em 1587, em Tratado descriptivo do Brasil: “são muito afeiçoados ao pecado nefando , entre os quais não se tem por afronta; e o que se serve de macho, se tem por valente, e contam esta bestialidade por proeza; e nas suas aldeias pelo sertão há alguns que têm tenda pública a quantos os querem como mulheres públicas”.
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Rio de Janeitro (RJ) - LGBTfobia que chegou nas caravelas se enraizou com colonização. - Em 1637, padre solicita o envio de portuguesas ao Pará, para evitar que nascesse "um grande mal" entre 200 soldados sem mulheres. Crédito: Memorial sobre as terras e gentes do Maranhão e Grão-Pará e rio das Amazonas/IHGB Já os capuchinhos franceses viram esses “pecados” como extrema ameaça, diz Mott, porque a missão francesa era composta apenas por homens. "Os capuchinhos eram os grandes líderes dessa expedição com 400 homens, e a tentação da sodomia era muito forte. E eles tinham a ideia de que a sodomia era um pecado tão forte que Deus mandaria castigos, e, por isso, queriam limpar a terra da sujeira da sodomia. Eles chamam o Tibira de cavalo, de lodo. E essa foi uma forma de evitar que a sodomia se alastrasse por uma sociedade que não tinha mulheres brancas". A história da execução foi narrada pelo frei capuchinho Yves D’Évreux, que escreve:  "levaram-no para junto da peça montada na muralha do forte de São Luís, junto ao mar, amarraram-no pela cintura à boca da peça, e o Cardo Vermelho lançou fogo à escova, em presença de todos os principais, dos selvagens e dos franceses, e imediatamente a bala dividiu o corpo em duas porções, caindo uma ao pé da muralha, e outra no mar, onde nunca mais foi encontrada".
Inquisição
Luiz Mott explica que o método brutal e a execução pública tinham função de expurgar o pecado e avisar aos demais pecadores do destino que poderiam ter. Outro episódio catálogado pelo antropólogo, em Sergipe, se deu contra um jovem negro escravizado, açoitado até a morte, em 1678, pela suposição de que havia se relacionado com um homem conhecido como sodomita, que havia lhe presenteado com ceroulas. A execução foi determinada por seu “dono”.  “A vergonha e a honra eram valores fundamentais no antigo regime. E um escravizado que apareceu em casa com uma ceroula, que foi presente de um sodomita escandaloso, era uma afronta ao proprietário e à família. Era como se tivesse maculado gravemente a honra da família. Ele preferiu perder o capital de um escravizado jovem do que carregar a desonra de ter uma propriedade sua suja pelo abominável pecado da sodomia”.
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Rio de Janeitro (RJ) - LGBTfobia que chegou nas caravelas se enraizou com colonização. - Desenho do missionário capuchinho francês Claude Abbeville, que participou da invasão à colônia portuguesa que executou Tibira do Maranhão. Crédito: Gravura de livro de Claude Abbeville/Biblioteca Nacional O papel da Igreja Católica na linha do tempo traçada pelo antropólogo vai além de disseminar o julgamento de que a homossexualidade e a transexualidade eram pecados - inclui a averiguação de denúncias, a detenção de suspeitos e a determinação das punições, seja por meio de visitas periódicas realizadas pela inquisição portuguesa à colônia, seja pelo envio de denunciados para serem julgados em Portugal. Ao todo, ele contabiliza em sua pesquisa que a inquisição portuguesa julgou 4 mil denunciados de sodomia na metrópole e em suas colônias, determinando 400 prisões e levando 30 pessoas à pena máxima - a fogueira. Entre os 30 acusados de sodomia executados pela inquisição portuguesa, nenhum era brasileiro ou vivia no Brasil. As 20 vítimas brasileiras do Tribunal do Santo Ofício responderam por heresia, afirma Mott, e 18 eram judias. O antropólogo considera que, apesar do rigor moral, a inquisição não levou a punição máxima a mais casos, porque essa era reservada apenas aos que provocavam maior escândalo ou envolviam o conhecimento de múltiplos parceiros, por exemplo. Mesmo assim, o antropólogo descreve que havia uma pedagogia do medo contra os LGBTQIA+, em que os padres cobravam a confissão da sodomia, e os fiéis eram compelidos também a denunciar casos conhecidos.  "Quando Luiz Delgado, o sodomita que era mais famoso na Bahia, foi preso para ser mandado para Lisboa com seu companheiro, que era bem efeminado, o bispo comunica seu envio à inquisição e escreve que não poderia mantê-los presos na cadeia da Câmara de Salvador porque seriam apedrejados”.
Punição às famílias
A escritora, pesquisadora e ativista transexual Amara Moira foi curadora de uma exposição no Museu da Diversidade Sexual, em São Paulo, sobre a dissidência de gênero e sexualidade no período colonial da história do Brasil. Ela ressalta que as ordenações que tratavam desses crimes/pecados desde o início da colonização incluiam punições contra o indivíduo e sua família, com confisco dos bens do denunciado e perda de direitos para filhos e netos. “Quando você começa a punir a família do indivíduo, você vai criando toda uma tradição cultural de repulsa e aversão dentro do seio familiar. Hoje, uma fala muito comum é preferir ter um filho morto a um filho homossexual, e é uma fala que tem a ver com essa história toda, com esse momento em que, se você tivesse alguém na família que fosse LGBT, a família toda pagaria por isso. É um sentimento que vai sendo construído. Não se deve apenas à legislação, mas é um ponto para fortalecer esse sentimento, que permanece, passando de geração em geração”. Para a pesquisadora, a crueldade prevista pelas legislações contra a sodomia indicava que aquele era um pecado grave, entendido como erro que mancharia não somente a vida dessa figura condenada, mas de toda a localidade se ela não fosse punida com rigor. “A gente vê isso acontecendo hoje em dia também. Sou de Campinas e me lembro do caso de uma travesti da cidade que foi assassinada por um homem que dormiu com ela, teve um surto durante a noite e arrancou o coração dela. E, quando ele é preso, vai rindo para a delegacia e dizendo que ela era o demônio. A gente percebe ainda hoje um monte de discursos muito fortes na sociedade que recuperam essa associação entre o demônio e a pessoa LGBTQIA+, criando terreno para que a violência continue a ser perpetrada com requintes de crueldade. Se essa pessoa é o demônio, cabe a quem é contra o demônio eliminar os vestígios dessa pessoa”. Apesar dos relatos de maior diversidade de gênero entre indígenas como os tupinambás e entre africanos escravizados, a dominação colonial e a própria catequização fazem com que esses preconceitos também se entranhem naqueles que não eram descendentes dos europeus, explica Amara. Ela cita o exemplo do Tibira do Maranhão, em que quem acende o canhão para a execução é outro membro de sua aldeia. “Essa é uma morte brutal produzida pelos franceses. E, se a gente vai ver, quem pede para fazer o disparo do canhão é uma liderança indígena do local que está querendo mostrar serviço para os franceses, está querendo mostrar para os franceses que estão comprometidos com esses valores sendo trazidos da Europa. Isso não era visto como um problema pelas tradições locais, e passa a ser visto a partir do momento em que os europeus chegam para impor suas culturas. E acontece um momento em que essas culturas tentam assumir a perspectiva europeia”, afirma ela. “Hoje, vemos ativistas e lideranças indígenas que se identificam como LGBT, denunciando essa perseguição nas culturas em que vivem, nos espaços em que vivem. Quando a gente recua para antes da imposição da moralidade cristã, havia outra forma de definição do que era válido ou não”.
Sodomia e transfobia
A escritora defende que o que era chamado de sodomia não era apenas a relação homossexual, mas a dissidência de gênero e sexualidade de forma geral, incluindo a transexualidade. Ao discursar antes de executar seu conterrâneo, o indígena que acende o canhão diz que Tupã poderia fazer com que o tibira renascesse no céu como mulher, porque era o que ele queria. “A gente vê essa confusão entre gênero e sexualidade. Não se fala de sexualidade nesse relato, mas há menção explícita de que talvez esse indivíduo condenado gostaria de existir como pessoa de outro gênero”, diz Amara Moira, que explica que desde o século 16 também passam a existir dispositivos legais que se aplicavam às colônias portuguesas, que puniam quem se vestisse com roupas consideradas do sexo oposto, e isso também era tratado como sodomia.  Amara Moira cita uma carta de 1551, do jesuíta português Pero Correa, que descreve haver entre os indígenas "mulheres que, assim nas armas como em todas as outras coisas, seguem ofício de homens e têm outras mulheres com quem são casadas. A maior injúria que lhes podem fazer é chamá-las mulheres”, escreve ele, que buscava receber mais detalhes dos “sodomitas mouros”, para saber como lidar com essas indígenas. “Existe uma questão de gênero muito marcada aí. O jesuíta está chamando essas pessoas de mulheres, mas elas não se identificam por essa palavra. A gente não sabe, nessa cultura, como elas se identificam, como eram entendidas. Mas está sendo percebido como sodomia”.
Herança colonial
O pesquisador da história LGBTQIA+ Luiz Morando vê a marginalização dessa população como um valor disseminado por metrópoles coloniais cristãs e culturas monoteístas não cristãs e patriarcais, como a islâmica. Assim como as ordenações portuguesas que interferiram no Brasil, nas colônias espanholas a base foi a Lei de Las Siete Partidas, que introduziu o crime de sodomia. Para a maior parte dessas ex-colônias, esses dispositivos foram derrubados conforme os países estabeleceram os próprios códigos penais. Já para as colônias da Inglaterra, que só descriminalizaram a homossexualidade na década de 60, há leis antissodomia que chegaram ao século 21. No Belize, por exemplo, ela só foi julgada inconstitucional em 2016.  Uma parte considerável dos mais de 60 países que criminalizam relações sexuais até hoje tem penas fundamentadas na Lei Islâmica Sharia. A Associação Internacional de Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transexuais (ILGA) argumenta que muitas dessas leis funcionavam apenas como códigos morais antes da colonização, mas foram fortalecidas por legislações coloniais de metrópoles como a Inglaterra, ganhando interpretações literais. Luiz Morando ressalta que os colonizadores britânicos estenderam a legislação homofóbica até o século 20 e deixaram uma herança LGBTfóbica para suas colônias. Por outro lado, na América do Norte, em grande parte colonizada pela Inglaterra, já havia registros de culturas indígenas que reconheciam gênero neutro e transexualidade antes da chegada dos europeus. “Dependendo do país que colonizou, tanto nas Américas quanto na África, a tendência é essa herança permanecer”, afirma. “Com a chegada dos ingleses, na América do Norte, e dos portugueses e espanhóis, nas Américas do Sul e Central, a tendência é de criminalizar, marginalizar e reprimir. Tanto o anglicanismo quanto o catolicismo vão trazer uma visão conflituosa contra essas dissidências que já eram percebidas nessas populações indígenas nas Américas. À medida que a catequização foi ocorrendo, a tendência era não aceitar mais essas formas divergentes”, descreve ele, que fala em dissidência e divergência porque não existiam os termos homossexualidade e transexualidade na época.  Com o fim das legislações que previam penas mais severas contra dissidências de gênero e sexualidade no Brasil e em grande parte do Ocidente, outras pressões sociais se mantiveram como fonte dessa marginalização. Especialmente nas culturas ocidentais, ele aponta uma aliança entre discurso religioso, discurso policial, discurso jurídico e discurso médico para defender um único conceito de família. “Isso vai se tornar tão forte que, quando se elege, no século 19, o conceito de família como união entre homem e mulher heterossexuais para a procriação, esses quatro discursos fecham o cerco em uma espécie de parceria para perseguir e condenar formas de sexualidade dissidentes”. 
Acúmulo de exclusões
Morando é autor do livro Enverga, mas não quebra: Cintura Fina em Belo Horizonte, que biografa a travesti cearense Cintura Fina, figura icônica da boemia de Belo Horizonte entre as décadas de 50 e 80. Empurrada para a prostituição pela exclusão social, a travesti teve passagens frequentes pela delegacia por episódios em que reagiu a agressões físicas e verbais, lidando com uma sociedade conservadora e violenta. 
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Rio de Janeitro (RJ) - LGBTfobia que chegou nas caravelas se enraizou com colonização. - Em vermelho, países que criminalizavam a homossexualidade em 2020. Arte:Associação Internacional de Gays e Lésbicas (ILGA)/ Divulgação Para o autor, o acúmulo de exclusões de raça, classe e gênero une o tibira do Maranhão e Cintura Fina, dois personagens vistos como indesejados pelas forças dominantes das sociedades em que viveram. "A gente pode traçar pelo menos uma linha de permanência da discriminação por meio da exclusão, repressão e censura àqueles que portam determinado desvio a partir de uma conduta padrão, uma diretriz padrão e de valores morais", afirma.  Morando descreve que, do ponto de vista dos colonizadores europeus do século 16, o tibira era uma pessoa indígena, não branca, não civilizada nessa perspectiva e um ser considerado primitivo, além de um sodomita. Já Cintura Fina foi uma pessoa negra, pobre, parcialmente alfabetizada, trabalhadora do sexo e travesti.  "A gente pode perceber o quanto de discriminação tem entre cintura fina e tibira se pensar na linha de tempo em que esses elementos são usados para identificar pessoas que não correspondem a um ideal de civilização e cidadania". No Dia dos Povos Indígenas, em 19 de abril, as deputadas federais Célia Xakriabá e Erika Hilton protocolaram um projeto de lei para incluir Tibira no livro de Heróis da Pátria. Para as parlamentares, se faz necessário reconhecer o heroísmo de Tibira do Maranhão, ao ousar ser quem ele era e por defender seu território contra os invasores franceses. Fonte: Agência Brasil Read the full article
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aprendizmestre · 2 years
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(História tudo que pejorativo a Elionay) “Em memórias Deus é UM e Estrela de Deus é UM e Deus de Yhwh é UM os que são UNICOS” 01 Academia Academias eram pejorativas a Elionay o Grande ele não poderia ir para mulheres cederem sexo a ele pois o empresário mostraria força e ele seria chamado de fraco... Em algumas academias por isso acontecer dizia mentiras sobre Elionay o Grande o chamado de louco para prostitui mulheres e não davam perspectiva sobre o poder e sobre ele o invejando... 02 Bairros  Alguns bairros da sua cidade eram pejorativo a Elionay o Grande homens pobres eram homossexuais e eram morenos e transaram com mulheres mas queria impedir ele de fazer sexo com garotas e fazia pacto na magia negra para ele não conseguir fazer sexo com suas amantes e outros bairros era uma classe evangélica no teor sexual e de cidadania estava contra ele para o mimar para ele não conseguir ter namoradas e amantes e nem fazer sexo dizendo que eram as suas mulheres e outros bairros eram pejorativo de outra forma no teor feminino para fazer sexo e o assediar mas isso era uma coisa menor e outros bairros tinham homens com inveja e não aceitava a nova ordem nem ele queria o prender no manicômio e na prisão e depois matar e eles pejorativos... 03 Família O pai e mãe de Elionay o Grande eram pejorativos a eles o pai o estuprou tirando a toalha dele e a mãe tocou no seu pênis quando criança para o molestar mas ele continuou com ele sem ser abusado tentando ter dinheiros e formação para sair da casa deles e eles pejorativos... 04 Outros parentes Alguns tios de Elionay o Grande tinham inveja dele por belas mulheres e por ficar meio rico e por ter poder outros não eram assim e eram pejorativos... 05 Empresas e comercias e lojas Nos bairros que estava contra ele empresas e comércios e lojas faziam ele ser menosprezado por ser uma resistência cristão e para o intimidar para não ter namorada nem amantes e para mostrar menosprezo por ele ser o anticristo e esse grupos apoiava encarnações que tinham infecções para serem canibais com tipos de serem imbuído em espírito para terem antipatia contra Elionay o Grande e falava de amor ou comida mas estavam se tornando canibais e esse grupo mantinha eles nesses bairros eram pejorativos... 06 Pastores médicos     Alguns pastores e médicos eram uma resistência cristã por ter lutando com algumas encarnações que não eram cristão como Elionay o Grande por terem sexo com tons maiores e por ter belas mulheres estavam com inveja e invadiam chamando ele de louco para financiar uma resistência cristã contra Elionay o Grande e o tirar do poder e o matar eram pejorativo... 07 Políticos Alguns políticos que eram contra encarnações e Elionay o Grande eram pejorativos a ele e queria transar com suas mulheres e estava contra ele por o invejar e ser o grupo cristã que caça encarnações e o anticristo...
(História a luta do povo de Elionay) “EM MEMÓRIAS DA VITÓRIA FINAL”... 01 Anticristo leão com asas O povo de Elionay se deu o nome de São Luís e de serem ludoficenses por sonhar que o anticristo nasceria aqui e que eles eram luciferianos e que ele seria a Estrela da Manhã e eles teriam sua cidadania e outro grupo sonhou que o Maranhão era o reino do leão com asas e sempre sonhou em ter essa cidadania... 02 Primeiras Lutas Políticos que acreditavam que o lugar eram Leão com asas viveram uma luta com o regime cristão e foram aos poucos caçados vitimado e mortos mas sempre ganhava posições... E o que acreditava que anticristo nasceria aqui lutava para fazer o grupo de encarnações surgir... 03 Primeiras encarnações   O governo que venceu e seus lideres que se tornaram tiveram a ideia de fazer bruxaria e consagrar berçários para surgi tipos de encarnações e enfim surgiram os primeiros e eram vistos aos olho nu por todos os moradores do planeta terra... 04 O começo viver E todos começaram a viver olhando a encarnação vivendo ou morrendo e dento uma vida ou assumindo o seu papel numa liderança que podia ser bancaria e religiosas e cultural e politica e militar... 05 A inteligência Depois de algum tempo veio uma inteligência eles entendia infecções em encarnações e parecia que o anticristo viriam de duas famílias que de pais de Elionay o Grande nisso parecia que o lugar deveria ficar pouco desenvolvido sem se armar com aval de não sair muito do estado parecia que seria no aspecto subindo o campo que mas tarde é que seria a real luta... 06 Luta contra forças ocultas Parecia que esse lucifer faria milagres e sinais em uma avenida mas forças ocultas e a população adepta estava sendo caçada por um grupo cristã e lutavam para eles entregarem o que será e quando ele se tornará... Mas eles lutaram sem dar a resposta a esse grupo se armando da sua crença popular... 07 A luta de encarnações Encarnações quando desenvolvia poderes eram caçados por um grupos cristã e nesse luta encarnações deixava um grupo com morte cerebral e desmemoriado e foi desenvolvido para eles serem mantido uma coisa neural para eles entenderem padrões e um tipo de descuido de uma nova encarnação poderia gerar a uma cirurgia e uma humilhação sem saber que o tipo de computador que mantem a força invasora... 08 Outras lutas Invasores lutavam contra encarnações e elas com um poder dimensional fugia para uma outra dimensão e saia de lugares do governo cristão até serem estudados e desenvolver armas dimensionais para eles serem replicado e a parte deles verdadeiro ser presa e humilhado perante mulheres que eles transaram e eram envergonhados no último ato conseguia derrotar algo que o fez ser vitimado...
by superstar elionay
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cubojorbr · 18 days
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Maranhense Rayane Soares faz história no atletismo paralímpico brasileiro
Maranhense conquista a primeira medalha paralímpica da história do estado nos Jogos Paralímpicos 2024
A maranhense Rayane Soares entrou para a história do atletismo paralímpico ao conquistar, nesta terça-feira, a primeira medalha de um atleta paralímpico do Maranhão na edição dos Jogos Paralímpicos 2024. A atleta, que é a atual campeã parapan-americana e está entre as três melhores do mundo nos 100 metros, conquistou sua primeira medalha paralímpica em competições internacionais. Rayane chegou à…
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liveinhecate · 15 days
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Lendo Maranhão...
Estou numa empreitada de história regional desde 2016, com o pequeno sonho de escrever uma obra de ficção, mas encontrar livros que me ajudem, sobre Imperatriz do Maranhão, é uma atividade bem problemática, não necessariamente pela escassez de produção, mas por dificuldade de acessos a ela. Sim, essa é uma critica a impossibilidade de empréstimos de livros da Academia Imperatrizense de letras para pesquisa! Se virem esse texto, ainda dá tempo de se redimir e me deixar xerocar as coisas, beijos. Mas voltando...
Um desses escritores, Adalberto Franklin, tem uma certa produção sobre a cidade de Imperatriz. Ele tinha uma editora, chamada Ética, que publicava muita coisa sobre a cidade, e de autores do Maranhão em geral, mas não sei se ainda é ativa, ou conte com loja física para a venda dos seus títulos. Só tenho acesso a um e-mail e a ideia de perder a vergonha na cara e entrar em contato qualquer dia desses, pedindo o livro sobre o Francisco de Paula Ribeiro. O livro que eu estou lendo agora, “Apontamentos e Fontes para a História Econômica de Imperatriz”, eu achei na Estante Virtual, num sebo chamado Bela Cintra de São Paulo... como esse livro foi parar lá é um enigma, mas agora está me pertencendo aqui em ITZ.
Não queria escrever um texto muito longo sobre ele no final da leitura, então vou aos poucos adicionando meus pensamentos a cada montante de capítulos. Se eu me empolgar de verdade, gostaria de estar escrevendo sobre outros livros regionais do Maranhão, ter algum lugar para colocar minhas frustrações de pessoa formada em história e seus problemas de produção.
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abraaocostaof · 22 days
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Seletivo do IFMA oferta vagas para professor com salário de até R$ 6.356,02, em Buriticupu
O Instituto Federal do Maranhão (IFMA), do campus Buriticupu, abriu inscrições para o processo seletivo que visa a contratação de professor substituto. Estão sendo oferecidas três vagas para professor substituto, sendo uma para a área de Língua Portuguesa, uma para a área de Biologia e uma para a área de História. As inscrições vão até o dia 6 de setembro. Source link
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blogaocaos · 1 month
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YELL em: além dos galhos de uma árvores
YELL é artista do Maranhão, que vem lançando suas músicas na internet desde 2023. Com fortes influências da música eletrônica, ele explora camadas e mais camadas de diferentes estilos, sem se prender a um único gênero. Seu primeiro EP ‘Neon Dream’ foi lançado em janeiro e é uma explosão de criatividade.
Que alegria te ter aqui. Acho você, sem dúvidas, um dos nomes mais potentes e interessantes da cena que está borbulhando no Brasil. Como esse projeto nasceu e quais são as suas referências?  Que honra é poder estar aqui debatendo um pouco da minha arte e trabalho com um artista que admiro tanto e um grande amigo que a arte me apresentou. É curioso estarmos falando sobre o ‘Neo Dream’, quando li sua carta sobre o que te motivou a criar esse projeto de entrevistas vi que passamos por coisas muito parecidas, quando eu estava trabalhando o lançamento do EP sentia que finalmente estava com um trabalho à altura do que estava sendo ouvido e noticiado no circuito comercial, e após inúmeras tentativas falhas de conseguir qualquer espaço dentro dos veículos que supostamente cobrem a arte independente, percebi que precisaria de muito mais do que apenas “boa música”... Muito obrigado não só pelo convite, mas pela iniciativa de criar um projeto tão importante para nós artistas que só queremos um espaço para contarmos nossas histórias. Fico grato também aos elogios, realmente estamos com uma cena fervendo aqui no Brasil, especialmente na eletrônica que é o meu nicho, é maravilhoso dividir espaço com artistas incríveis e que tenho o prazer de tê-los como amigos, não é fácil fazer o tipo de música que fazemos aqui, são muitas incertezas de um futuro, mas estamos juntos construindo uma estética sonora totalmente sincera com aquilo que acreditamos. Sobre as minhas referências e o nascimento do ‘YELL’, são dois tópicos que se conversam, era 2017, eu tinha acabado de ingressar na faculdade de Psicologia (por pura e espontânea pressão, spoiler - tranquei o curso), quando conheci o trabalho da SOPHIE, foi a primeira vez que eu tive a noção de que a arte mudava vidas, foi aquele momento que mudou a minha vida; a SOPHIE me apresentou um jeito completamente novo de criar música, um mundo completamente novo, estranhamente acolhedor, foi quando percebi que havia sim espaço para o diferente, comecei a me interessar por produção musical, tudo o que eu tinha era um celular, baixei inúmeros aplicativos e me divertia criando as faixas mais inaudíveis que vocês possam imaginar, sou autodidata, o que sei de teoria, produção e tudo o que for referente ao meu trabalho, aprendi porque sou curioso, eu pesquisava, assistia tutoriais que eu nunca soube replicar, e foi com esses tantos erros que acabei desenvolvendo um estilo próprio de fazer as coisas. Cheguei a lançar através de um outro perfil diversas músicas que eu produzia no celular (felizmente dei sumiço em todo esse armamento nuclear que eu tinha na internet hahah), inclusive muita gente me acompanha desde o início e essa é uma das coisas mais mágicas que a música me proporciona, poder evoluir e ter gente acompanhando essa evolução em tempo real, vibrando comigo, é maravilhoso. Agora falando das minhas referências, a SOPHIE é sem dúvidas a razão de eu ser quem sou hoje e quando ela partiu foi um momento muito difícil para mim, eu não sabia mais como continuar sem aquele farol que costumava me guiar, mas prometi a mim mesmo que a minha arte seria parte do legado dela, acredito que cada artista que ela inspirou é parte desse legado que sempre viverá através da arte, e é isso que me motiva a continuar. Há também outros grandes artistas que me inspiram, sou um grande fã da Björk, Arca, Charli XCX, dos grandes nomes da EDM como Boards of Canada, Aphex Twin, Autechre, da eterna PC Music do A. G. Cook e Danny L Harle (dentre tantos colaboradores), do hip-hop como o J Dilla, e inúmeros outros que não vou citar para não ficarmos nessa repetição, e é claro, há tantos artistas nacionais que admiro muito e que me influenciam de alguma forma, há muito de funk no que faço, mas não há alguém em específico que eu tenha para citar, sempre brinco de que eu preciso ser minha própria referência nacional, de alguma forma estamos fazendo um trabalho novo aqui, e é tão difícil conquistar espaço mas não estou disposto a abandonar as minhas ideias.
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Como foi lançar o seu primeiro EP ‘Neo Dream’ e de onde vem esse nome? Primeiro preciso falar sobre a concepção do EP, eu não possuía um computador na época e para criá-lo precisei pedir emprestado o notebook do meu irmão, que fazia faculdade na época (e estava fazendo o tcc), e durante as férias dele tive DUAS semanas para criar o projeto da minha vida, eu vinha de um hiatus na produção de quase dois anos, sentar para produzir depois de todo esse tempo foi como por tudo o que me afligia pra fora, a primeira música que criei foi a que escolhi para ser o primeiro single, não tinha como não ser ‘Motoko’, o Votú (grande amigo meu, irmão que a arte me deu e um dos artistas mais singulares na eletrônica nacional) me presenteou com a mixagem das músicas, tudo estava indo bem, o primeiro single havia até mesmo entrado em uma playlist editorial, passamos um mês na Fresh Finds Dance, conquistando um público totalmente novo, mas como nem tudo são flores passei por um momento de muita insegurança com as minhas criações, retirei do ar os singles que havia trabalhado e cancelei o EP, que na época nem se chamava ‘Neo Dream’, o projeto ficou ali engavetado por cerca de um ano, até que um dia me deu saudades de ouvi-lo e apertei o play nos arquivos que eu ainda mantinha no celular, e a chama reacendeu, sou um artista que acredita que a arte é mutável e eu vi aquele projeto que me causou tantas inseguranças se transformar, se ressignificar, a ideia de chamá-lo assim foi porque apartir daquele momento ele simbolizava para mim o renascimento de um sonho, um novo sonho. 
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Dá pra ver a dedicação nas suas produções. Eu fico babando na sua capacidade de, dentro de uma mesma música, passear por diferentes estilos. Como você pensa suas composições? É algo que vem naturalmente ou você decide antes os caminhos que quer percorrer?  Ás vezes nem eu mesmo sei de onde vem a música, eu não sigo roteiro algum, é claro, sempre há alguma coisa passando pela mente mas de forma muito abstrata, e quando eu sento em frente ao computador para criar algo é como se eu fosse apenas um canal que a música utiliza para chegar ao mundo, eu não gosto de definir como algo vai soar, tudo depende do momento, seria como cortar os galhos de uma árvore durante o florescimento, seria desperdiçar os frutos que vêm em seguida, fazer música é sim muito complicado mas também é um espaço para se permitir ser livre, se permitir testar coisas, o máximo que pode acontecer é algo não soar bem, e então você pode refazer, há sempre como voltar atrás, faço uma outra cópia, mudo total o rumo que eu estava seguindo, se a gente não permitir experimentar a gente nunca saberá qual o gosto da novidade. Outra coisa que eu me pego fazendo é ouvindo aquilo que estou criando, e não digo ouvindo durante a criação, sempre que acabo uma sessão eu exporto o arquivo, independente de como ficou, eu passo o arquivo para o meu celular e ouço incontáveis vezes, de alguma forma eu acabo me familiarizando bem mais com as músicas dessa forma, é realmente como criar um filho e vê-lo crescer Sei que você é um nerd da música e consome todo tipo de coisa. De onde vem esse espírito explorador?  Essa pergunta ainda tem certa relação com o último tópico, acredito que o fato de eu consumir diferentes tipos de músicas acaba influenciando indiretamente as minhas produções, muitas das vezes em aspectos que sequer se assemelham as fontes das quais bebi, por exemplo, no Neo Dream têm algumas músicas com sintetizadores sibilantes, como assovios, extremamente agudos, são ideias que eu tirei do funk paulista, do que costumam chamar de “tuim”, ironicamente a única faixa funk do projeto não possui essa característica… Então são coisas que acabam indo parar ali nas minhas produções, porque eu passo tanto tempo ouvindo certas coisas que a minha mente acaba internalizando-as. Mas nem sempre fui esse “aventureiro”, eu cresci ouvindo exclusivamente música pop, mas há um momento que eu credito essa mudança, ouço Charli XCX desde ‘I Love It’, e passei um tempo distante dela até me reencontrar com ela novamente com a mixtape ‘Pop 2’, aquele projeto balançou a minha mente, de algum modo ainda era pop, mas um tipo de pop que eu nunca havia ouvido em toda a minha vida, fiquei fissurado, procurei os colaboradores que participaram do projeto, conheci a SOPHIE, o A. G., os artistas creditados como feat, e um foi me apresentando a outro, é como uma bola de neve e eu fui soterrado de arte… E ainda sobre essa ideia de conhecer um artista através de outro, eu conheci o Milton Nascimento através da Björk, e eu tive vergonha de mim mesmo por estar conhecendo o maior artista brasileiro através de uma islandesa, foi um ponto de partida para eu começar a me interessar mais pela música brasileira, também me motivou a sair mais do eixo estadunidense, passei a ouvir música latina, de países asiáticos, africanos, de outros cantos da Europa além do Reino Unido, é muito louco quando a gente abre os olhos para apreciar o que tá acontecendo e o que já aconteceu em todo o globo, ver a cena eletrônica em diferentes países, o Kraftwerk precursor de tudo é alemão, a Yellow Magic Orchestra é do Japão, a nossa eletrônica tem o funk e é o ápice da nossa vanguarda, cada país possui uma imensa vastidão de cultura e eu só espero poder consumir o máximo de arte que eu puder, não só de música, eu me delicio muito assistindo filmes de diferentes lugares do globo, de Tarkovsky da antiga URSS ao nosso Glauber Rocha.
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Recentemente você se abriu para produzir outros artistas. Fale sobre essa experiência e como ela reverbera na sua obra autoral.  É um desafio, eu sou muito “mão de ferro” com a minha arte, então lidar com as expectativas do outro tem moldado muito a forma como eu enxergo o “fazer música”, quem me conhece sabe que eu tenho um estilo muito meu, eu tento englobar ao máximo o colaborador, mas não posso deixar de ser o YELL, rola um intercâmbio de ideias muito interessante, e uma colaboração não engloba apenas as pessoas que eu convidei para cantar em um instrumental meu, recentemente tive o grande prazer de ser contratado para produzir alguns singles para alguns artistas, lembrei da primeira vez que a distribuidora me enviou meus primeiros 3 dólares que os royalties das minhas músicas haviam rendido, era tão pouco mas eu pensei “eu tô ganhando dinheiro com a minha música”, então entregar esses trabalhos é também uma realização profissional, além de significar muito para mim a ideia de ter alguém que curtiu tanto o meu som ao ponto de me convidar para criarmos algo juntos, porque nunca é só música, os dois lados acabam pintando um pedaço da história um do outro, é o que há de mais mágico em colaborar. Minha música favorita é ‘Like That’. Sonho com o dia em que vou te ver tocando numa pistinha. Você tem pensado em começar a tocar? Quais os desafios desse momento? Eu não vejo a hora de poder tocar ao vivo, mas é algo que no momento foge do meu alcance, eu moro em um pequeno interior aqui no Maranhão, não tem cena alguma aqui, principalmente para o tipo de música que eu faço, mas tenho me esforçado para criar um repertório interessante para que no momento certo eu possa brilhar, antes disso eu pretendo fazer algum curso de DJ, eu quero poder proporcionar às pessoas o meu melhor. No momento não tenho previsão de começar a me apresentar, mas haverá sim essa oportunidade e eu vou me preparar para dar tudo de mim.
RECOMENDAÇÕES: - Filmes: O meu favorito é o Blade Runner do Ridley Scott, grande clássico de ficção-científica, inclusive é o meu gênero cinematográfico favorito e eu poderia citar outros filmes como o 2001 do Kubrick, Solaris do Tarkovsky, os animes Akira e Ghost in the Shell (esse último inspirou a criação de Motoko) - Álbuns: O 'Utopia' da Björk é o meu álbum favorito da vida, ironicamente eu odiei na primeira vez que ouvi, mas cresceu em mim de uma forma, 'Losss' que está no álbum é também minha música favorita, outros álbuns que mudaram a minha vida são: Mutant da Arca, 'Oil of Every Pearl’s…' da SOPHIE, 'Ray of Light' da Madonna e o 'Geogaddi' do Boards of Canada - Jogos: Eu nunca tive dinheiro para comprar consoles então devo toda a minha gratidão aos emuladores, joguei o 'Chrono Trigger' de Super Nintendo quando criança e esse ano decidi jogar novamente e foi uma experiência maravilhosa, importante salientar que a trilha sonora é uma das coisas mais lindas que um músico já criou, eu amo a franquia Pokémon (meu favorito é o Emmerald), estou jogando agora pela primeira vez os jogos de Pokémon do 3DS (pois só agora posso baixar o emulador) e tenho me divertido muito, outros jogos que moldaram o que sou foram o Haverst Moon: Back to Nature, também joguei muito jogos on-line quando ia visitar meus tios aos finais de semana, eu adorava jogos de confeitar e aquele do salão que tinha a coreana, infelizmente não me recordo os nomes, mas a memória fotográfica não falha
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ambientalmercantil · 1 month
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portalimaranhao · 1 month
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Documentário retrata a trajetória de Jânio do Hot dog, no Turismo em Raposa (MA)
O aguardado documentário sobre a vida e obra de Jânio do Hotdog, figura importante no desenvolvimento do turismo no município de Raposa, no Maranhão, acaba de estrear. Dividido em três capítulos, o primeiro episódio já está disponível, oferecendo um mergulho profundo na jornada deste empreendedor que mudou a história da região. Neste capítulo inicial, os espectadores conhecem a história de Jânio,…
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capixabadagemabrasil · 2 months
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Teatro Arthur Azevedo em São Luís, Maranhão: O Palco da História, Localizado na cidade de São Luís, Maranhão, o Teatro Arthur Azevedo é uma joia cultural que atrai tanto turistas quanto moradores locais. Como um dos mais antigos teatros do Brasil, ele carrega consigo uma rica história que se entrelaça com a trajetória cultural do país. O Teatro Arthur Azevedo, situado no coração de São Luís, é uma peça fundamental no cenário cultural do Maranhão e do Brasil. Construído no final do século XIX, foi inaugurado em 1817 e desde então tem sido um ponto de referência para as artes cênicas e musicais na região. Foto: G1 Globo Batizado em homenagem ao dramaturgo maranhense Arthur Azevedo, o teatro é uma obra arquitetônica impressionante, destacando-se por sua fachada neoclássica e sua imponente estrutura. Ver essa foto no Instagram Uma publicação compartilhada por EMEM (@escolademusicadoma) O teatro foi palco de inúmeras apresentações de renomados artistas nacionais e internacionais ao longo de sua história. Desde óperas e peças teatrais até concertos e recitais, o Teatro Arthur Azevedo tem sido o local escolhido para eventos de alto prestígio, agregando valor à cena cultural da cidade e proporcionando entretenimento de qualidade para o público. Além de sua relevância cultural, o Teatro Arthur Azevedo também se destaca como um importante ponto turístico em São Luís. https://www.youtube.com/watch?v=q49f_9q8fHI&pp=ygUjVGVhdHJvIEFydGh1ciBBemV2ZWRvIGVtIFPDo28gTHXDrXM%3D Visitantes de todas as partes do mundo são atraídos pela oportunidade de explorar a arquitetura histórica do teatro, mergulhar na rica herança cultural do Maranhão e desfrutar de performances artísticas de alto nível. Dentro do teatro, os visitantes podem admirar a beleza de sua estrutura interna, com detalhes ornamentais que remontam à sua época de construção. Ver essa foto no Instagram Uma publicação compartilhada por Thiago Freitas (@thiagotentum) O salão principal, com sua majestosa decoração, transporta os espectadores para uma era de elegância e sofisticação, proporcionando uma experiência única e memorável. Além das apresentações regulares, o Teatro Arthur Azevedo oferece visitas guiadas, permitindo que os turistas mergulhem ainda mais fundo na história e na cultura do local. Os guias especializados compartilham informações fascinantes sobre a construção do teatro, sua evolução ao longo dos anos e os destaques de sua programação artística. https://www.youtube.com/watch?v=1qSgePBSx2g&pp=ygUjVGVhdHJvIEFydGh1ciBBemV2ZWRvIGVtIFPDo28gTHXDrXM%3D Conclusão: Teatro Arthur Azevedo Em resumo, o Teatro Arthur Azevedo é muito mais do que um simples local de entretenimento. É um símbolo da rica herança cultural do Maranhão e uma parte essencial da identidade da cidade de São Luís. Para os viajantes que buscam uma experiência cultural enriquecedora, uma visita ao Teatro Arthur Azevedo é imperdível. Seja para apreciar uma performance teatral emocionante, explorar a arquitetura histórica do edifício ou simplesmente mergulhar na atmosfera encantadora deste espaço único, o Teatro Arthur Azevedo promete uma experiência inesquecível para todas as idades. Prepare-se para ser cativado pela magia do palco e pela história que ecoa pelas paredes deste icônico teatro maranhense.
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sinrupe · 2 months
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Conheça Alexandre Breck: Um Gigante das lutas
Conheça Alexandre Breck: Um Gigante das lutas
Alexandre Breck é um nome de destaque no mundo das artes marciais, com uma trajetória impressionante que abrange décadas de dedicação e conquistas em diversas modalidades de luta. Natural de São Luís, Maranhão, Breck começou sua jornada nas artes marciais aos cinco anos, influenciado pela tradição familiar de lutadores.
Formação e Conquistas
Alexandre possui uma formação robusta em várias disciplinas. Ele é faixa preta 2° DAN em Tae Kwon Do, título conquistado sob a tutela do Mestre Ivonaldo Gomes De Lima. Além disso, Breck é faixa roxa em Brazilian Jiu Jitsu, treinado na renomada Academia Carlson Gracie Maranhão. No Muay Thai, ele ostenta o título de Prajied Preto e é filiado e reconhecido pelas três maiores confederações da modalidade no Brasil: CBMT, CBMTT e CBMBT. Seu talento e dedicação também lhe renderam o Diploma Internacional em Muaythai pela World Muaythai Union (WMU) e pela Muaythai and Muayboran Sports Association (MTBSA).
Experiência Competitiva
A carreira competitiva de Alexandre Breck é marcada por vitórias expressivas em diversos eventos de prestígio. Ele foi campeão de MMA no FCMMA - Fight Combat MMA em 2014 e no MFK - Maranhão Furia Kombat em 2012. No Muay Thai, suas conquistas incluem títulos na Copa Norte Nordeste de Muaythai em 2017 e no Tuesday Night Muaythai Super Fights em Phuket, Tailândia, em 2018.
Habilidades e Publicações
Além de ser um lutador formidável, Alexandre Breck é um profundo conhecedor das regras, história e técnicas de Muay Thai, Jiu Jitsu e Defesa Pessoal. Ele compartilhou seu conhecimento através de várias publicações, incluindo:
Livro Brazilian Jiu Jitsu (2018)
Manual de Regras do Muaythai Profissional (2020)
A História do Muaythai: Luta Tailandesa (2020)
Muaythai Manual Ilustrado (2022)
Livro Regras e Regulamentos do Muay Thai Profissional - Manual de Arbitragem (2024)
Cursos e Treinamentos
A busca incessante por conhecimento levou Alexandre a participar de vários cursos de formação de oficiais de arbitragem, organizados por entidades como a World Muaythai Union (WMU) e a Muaythai and Muayboran Sports Association (MTBSA). Ele também aprimorou suas habilidades no Sitsongpeenong Muaythai Camp em Bangkok, Tailândia, em 2018.
Sobre Alexandre
Com mais de 20 anos de experiência, Alexandre Breck é a terceira geração de lutadores em sua família. Sua paixão pelas artes marciais e seu compromisso com o aprimoramento contínuo o tornaram uma referência na área. Ele não só compete, mas também educa e inspira novos praticantes através de suas aulas e publicações.
Para saber mais ou entrar em contato com Alexandre Breck, você pode segui-lo no Instagram @alexandrebreck ou enviar um e-mail para [email protected].
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