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escrita-a-mao · 7 years ago

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Lara

Caro leitor inexistente, acomode-se, pegue um lanche, a história que irei contar é grande em um curto período, como o amor nela.

Hoje é dia 24/08, são 01:36h. Decidi escrever aqui uma outra ilusão, não previ, não planejei, apenas pensei “Acho que vou escrever ela”, tanto faz, o significado já não tem importância.

Vamos voltar ao último ano do Ensino Médio, Fevereiro de 2015, primeiros dias de aula. 4 novos alunos, entres eles, uma menina chamada Lara. Ela era um pouco mais alta que eu, olhos um pouco puxados, morena, magra, um sorriso bonito, achava ela linda, a conheci se eu não me engano na primeira ou segunda semana. Ela sentava na mesma fileira que eu - no canto esquerdo - e as vezes na minha frente, por isso logo estávamos amigos e a gente conversava bastante, quando vimos já estávamos conversando por Whatsapp ou Facebook. Quando algum menino passa muito tempo perto de uma menina, a galera zoa e brinca, o “casal” não gosta e reclama e diz que são melhores amigos e que não há nada, com isso, zoavam a gente, mas não tinha essa reclamação, saíam apenas risadas e um “ah cala boca”, logo vieram perguntar pra mim se eu estava gostando dela, eu não respondia que sim e nem que não, soltava um “é, acho que sim, vamos ver” aquela dúvida de 1% que deixamos nas pessoas apenas por não ter respondido “Sim” hahaha.

Eu estava disposto a tomar uma atitude, a gente sempre conversava de dia, de tarde, de noite, se abraçava na escola, sentávamos juntos, a gente ria, tirava foto, um segredo e outro, uns ciúmes e outros também. Queria tentar, não queria repetir o mesmo erro do passado de apenas sentir e não falar nada, porque já não era interior, era exterior e saía pra fora e todo mundo percebia. Fiz uma coisa que eu nunca fiz pra ninguém até então, arranquei uma folha do meu caderno de desenho e escrevi ali mesmo na sala, escrevi pra ela:

“Eu acho que nunca fiz isso, realmente não… Aula de história ZzZzz Não vou dizer que planejei o que dizer, porque na verdade não… Quando eu mandei a mensagem ontem, eu achava que você ia ver, mas como sempre, seu sono é mais forte, enfim… “Porque você gostaria de mim?” Odiei a pergunta, (desenhei um soco e uma arminha nessa linha) Não se escolhe gostar ou amar, acontece… (Intervalo, eu poderia falar com você agora mas melhor contin YGOR ENCHENDO PRA LER) Lara, to cansado de escrever e não vou te dizer o que é isso u.u Queria dizer aqui que eu não te conheço o suficiente ainda (super inspiração essa música), mas gosto de vc pelo o seu jeito divertido (pensei em não escrever mais depois desse seu “Não”), você é linda, seu sorriso, cabelos e olhos, merecem um adjetivo melhor, você é mais inteligente que eu, gosta de brincar, só que é maior também (desenhei uma carinha triste), e que venham mais conversas e momentos pra nós Não sei como você é brava ainda u.u ou teu passado obscuro KKKK Mas são esses os motivos, você é muito legal, gosto de conversar com você e que nossa amizade cresça para o lado que ela deva ir.”

(desenho de um coração aqui) Lara

Eu escrevi e você não fazia ideia e tinha me perguntando o que eu tava fazendo e quis ler mas não deixei, não deixei ninguém ler, dobrei a folha e queria colocar na sua mochila sem você ver. O intervalo de saída tocou. Como sempre, eu ia te acompanhando até o final da rua onde a gente se despedia, durante o caminho, resolvi colocar a carta no bolso da sua mochila, onde se coloca garrafa de água, coloquei ela ficou mal colocada, quase caindo e você sentiu algo, desconfiou, olhou para mim e continuou andando, mas não tinha visto, eu não podia mexer mais, torci para não cair, missão concluída. Cheguei em casa aquela noite e você havia me mandado mensagem “Eu quase perdi a sua carta, fui entrar no carro, ela caiu e meu pai me mostrou que tinha caído algo hahaha Eu amei” não me lembro dos restantes da conversa, mas ela ia me reescrever e eu esperava ansiosamente.

Estava escrevendo mas… outro dia continuo, estou cansado e um pouco triste. 02:12h.

4 dias depois e estou de volta. 03:42h.

No outro dia na sala, eu estava esperando-a chegar, ela chegou, me cumprimentou, disse que não teve tempo de escrever mas que iria fazer. Que agonia, queria ler! Se eu não me engano, dois dias depois, eu estava na sala, em algum momento, não me lembro se na entrada ou saída, mas vi sob a minha mesa um papel dobrado, era a única coisa que tinha na mesa, eu peguei rapidamente já sabendo o que era e coloquei no bolso, “Ela respondeu mesmo!”, não via a hora de chegar em casa pra ler. E já na saída eu ia dando umas olhadas pra encontrar palavras-chaves e dobrava o papel e desdobrava um pouco e voltava a dobrar hahaha.

“Bom, não sei bem o que dizer… Mas… Eu nunca recebi uma “carta” (se é que posso chamar assim)… enfim… Achei muito fofo, não esperava mesmo… Primeiro: Como assim “não vou te dizer o que é isso u.u” ? - Boiei Segundo: Que música? kkk - Boiei ² Terceiro: Estou tentando me lembrar de que “não” eu falei KKK Sim, sou lerda, me julgue u.u Agradeço por todos os elogios. E você também é muito inteligente, não fique se rebaixando. Falando um pouco de você… Você me faz rir bastante, é inteligente, divertido, me faz perder o sono KKK … E é eu sei que sou muito alta arte ->(desenho que não deu certo) Kkkk ~ imagine uma carinha triste kkk… Quarto: nem vai ficar sabendo o como sou brava, a não ser que você seja muito observador kkk… Quinto: esqueci de falar… você também é muito legal, divertido, gosto do teu sorriso e espero poder conversar muito ainda e deixar ir rolando a amizade, seja qual for o lado que ela seguir será o escolhido por Deus então sera o certo! Sexto: Não ligue para a letra, nem para os erros, estou numa aula chata de calculo e morrendo de sono… então… da um desconto… kkkk”

Áquila

Eu gostei muito da carta, afinal, era a primeira carta que alguém me respondia, foi simples, não havia nada demais, ela literalmente respondeu a minha, corrigiu algumas coisas, só. Caro leitor inexistente, você deve ter lido “me faz perder o sono” pois é, a gente conversava até tarde, mesmo ela precisando acordar cedo, eram assuntos que não acabavam mais, a gente sempre conversava, na sala todo dia era risada, não me lembro de muitas brigas… Mas - para todo um “mas” uma contradição - uma vez, em período de provas - que ocorria em uma semana inteira, duas provas por dia, exceto na sexta que era apenas uma e aí a gente saía mais cedo e a galera ia na praça comer - como de costume, íamos na praça Santa Terezinha comer algum lanche, beber, zoar, meio que era pra comemorar o fim das provas. Nesse período eu tinha chamado ela pra ir com a gente na praça, ela disse que talvez iria, mas nessa mesma semana eu errei com ela, não me lembro, mas o orgulho me atrapalhou e nos atrapalhou, ela desistiu de sair, me mandou ir com os meus amigos. Na sexta, não conversamos muito na sala. Essa briga está fora de ordem, continuarei depois, mas guarde.

Caro leitor inexistente, você talvez esteja cansado de ler, me desculpe, voltemos ao principal da história, as cartas! E eu, novamente, escrevia:

“Oee, são 03:36 da manhã, sempre antes de dormir eu “revejo” o dia, e fico pensando como foi, o que podia acontecer e essas coisas, diferente das noites anteriores, há um nome, uma carta, uma pessoa que fez desse dia diferente, ela merece um beijo por isso KKK, mas deixemos para depois u.u Que cara foi aquela, quando eu vi sobre a mesa, olhei para a mandante e “crlh ela já respondeu” e coloquei no bolso sem saber se eu já deveria ler, talvez o conteúdo me deixasse pra baixo e eu não queria isso, ou talvez me deixasse bem, ai eu abri um pouco e li “divertido” (MARAVILHA) e depois “não sei como começar” (AH NÃO, COMO ASSIM) KKK eu podia ter ido embora naquela hora, porque na verdade eu só fui na escola pela resposta, eu estou doente e nem iria para a escola hoje… Lara, agradeço os elogios, e em relação a inteligência eu não me rebaixei, eu só fui sincero, tanto quanto a nota de Física u.u Falta 2 minutos para as 4h, e sabe o que isso significa? Nada riscosriscos KKK Escrever um texto a essa hora para você é fo**, parece que eu to carente, mas é só a falta de você e ai o que me resta é a sua lembrança, sabe, quando o motivo é maior que a vontade de dormir KKK SCRR, eu fui pegar a sua carta, ai lembrei que eu esqueci em cima da mesa, minha mãe viu, ai eu “A senhora leu?” “Mais ou menos, é um teatro?” KKKK “é, um teatro, estamos vendo um ai” KKKKKK morri Você escreveu “que o lado que nossa amizade escolher seja escolhido por Deus”, Deus me disse que quer ver nós juntos u.u Lara você é uma pessoa maravilhosa, você me faz muito bem, de verdade, e eu espero que o vento sopre ao nosso favor, queria muito ficar com você e te fazer tão bem quanto, e mais que isso que você também pensei assim, claro, depois que eu crescer e te passar KKKK Lindona <3″

São 04:54h. Eu preciso dormir. Caro leitor inexistente, descanse um pouco também, ainda tem história…

Eu lembro que eu te dei essa carta logo no começo da aula, por volta da terceira aula, aula de Português, quem conheceu a nossa professora sabe que ela não permitia conversa, barulho, ticks e nem vidros fechados por conta do vírus da gripe. A aula dela seguia normal até que você começou a ficar inquieta, procurava alguma coisa, a professora estava lendo no meio da sala, ela olhou pra você e disse “Lara, o que você ta fazendo?” “Eu to procurando uma coisa” “Não tem nada que procurar agora, procura depois” “Mas professora é uma coisa importante” “Que coisa?” “Não posso falar é pessoal” “Deixa pra ver isso depois!” “Mas eu preciso achar” criou-se uma tensão e todos ficaram boquiabertos com a sua ousadia logo com aquela professora, você parou de procurar e apenas observava. No final do dia, havia um pessoal rindo no nosso canto, você estava no meio, eu perguntei o que aconteceu, e a Letícia tinha achado a carta e lido algumas partes, e todo mundo ali soube que eu tinha escrito pra você hahaha foi péssimo, fiquei com vergonha, mas pelo menos ela tinha achado, a Letícia disse que eu era muito fofo e que eu estava apaixonado, fiquei bem sem graça… Talvez estivesse certa, porque ela era alguém que eu sentia ciúmes, uma vez, vi ela saindo conversando com o Léo, na qual ela conversava muito também, resolvi espiá-lós indo embora, e ela foi com a blusa dele (???) pra casa, dava para aguentar o frio, pelo amor, eu tinha ficado muito puto, não com ela, com o Léo, comecei a colar nele na sala… Ah, há quem reclame de ciúmes, acredite, o pior é a falta dele, a indiferença, o tanto faz… Pois bem, essa última carta, estava praticamente claro a minha intenção, eu disse, disse que queria o vento ao nosso favor, eu disse que queria ficar com você, o que tinha que acabar deveria acabar aí, toda a intenção contrária deveria ser dita já, você sabia o rumo que nossa amizade estava levando, e por que prosseguiu? Por que levou mais adiante? Nossas conversas ainda eram intensas e longas e cheias. Eu acreditava que poderia dar certo, você não? Eu nunca havia escrito cartas pra ninguém, a não ser na segunda série pro meu melhor amigo, mas dessa forma, como uma conversa, recebendo de volta e mandando, nunca. E eu gostava, você também, mas sempre senti que você errou, sempre senti que você deixou fluir demais, deveria ter dobrado as rédias, não é assim que se faz com uma pessoa que você não gosta? Tender a desviar dela! E, você não desviou de mim, e advinha só, eu era bicicleta e você caminhão. Logo ia haver uma colisão e você sabia, mas não agora, agora você me escreve novamente.

“Oi, são 23:18 e eu to muito cansada então não ligue para a letra nem para os erros… Acho que já tenho certeza sobre o que responder… Enfim vamos lá… Tipo eu tinha pensado em tudo o que eu ia te escrever mas não lembro mais Legal né?! `-´ Ok… Você me perguntou sobre o amor… Me perdi no que ia te falar… Voltando aqui kkk Depois de quase uma semana, to te dando sua resposta né… Me desculpa é que eu não sabia o que te escrever mesmo… Cara!!! O Matheus, todo santo dia fala pra mim que você ta afim de mim: “Nossa Lara, o Áquila ta muito afim de você”, “Nossa ele ta gostando de você” … E eu falo que nada a ver e dou uma risadinha pq não sei se é verdade né… só você pode dizer isso… Mas assim, tem hora que paro pra pensar e acho que o Matheus tem razão… sei lá Tipo, o jeito que você olha pra mim, é diferente do jeito que outros meninos me olham, você me olha com carinho, sinceridade e doçura, me deixa até sem graça kkk mas não sei também se você olha pra todas as suas amigas assim, ou se é só comigo, mas… só você pode dizer isso? Mas então, respondendo à sua última pergunta: se você estiver me zuando quanto a querer ficar comigo eu nunca mais olho na tua cara, mas tenho que ser sincera. Como eu disse hoje para o Léo (e sei que você ouviu): estou em um momento muito EU e DEUS sabe, e não quero ficar com ninguém este ano, a não ser que Ele me mostre que é a pessoa certa pra mim, e mesmo assim não vou “ficar” com a pessoa, eu quero um namoro santo, um namoro em Cristo, com preparação para namoro e tal. Então é isso, a conclusão da carta não esta concreta, mas o que eu quero dizer é: eu gosto muito de você, do jeito que você me olha e me faz rir, e que Deus leve a nossa amizade pro melhor lado que ele possa imaginar pra nossas vidas ♡.”

Caro leitor inexistente vamos analisar alguns pontos dessa carta. Começa aonde ela diz que um amigo nosso fala que eu estou afim dela e ela dúvida um pouco, eu acho que deixei claro isso na última carta que enviei. Depois ela fala que se eu estivesse zoando sobre ficar com ela, ela iria parar de falar comigo, então me diz Lara, se fosse brincadeira, por que você iria ficar brava? Ia falar que eu te iludi? Se eu falasse que era brincadeira você iria ficar brava por que queria que fosse verdade? Essa parte é péssima, você deveria ter pensado direito. As duas últimas frases, acredito que você, caro leitor inexistente, também tenha ficado surpreso. Ela era católica, ia para Aparecida e participava do grupo na Igreja, quando eu li essas linhas senti algo diferente, mas tudo bem, poderíamos esperar juntos e fazer propósitos, estava disposto à isso, em relação ao namoro, poderíamos sim pensar na possibilidade, na época eu não trabalhava mais, mas sempre vale tentar. Achei seu momento entre você e Deus muito interessante, infelizmente era tudo mentira, não é? Se você lesse isso iria refutar, dizer que não mentiu, você sabe o que aconteceu depois, mas sem spoilers. Continuemos.

Ta, espera, continuemos o que? Eu não tinha mais o que escrever, ela deu a resposta e meio que encerrou o assunto. Eu não ia escrever mais. E escrevi, escrevi porque errei. Voltemos ao erro que eu pedi para guardarmos.

“São 03:20 da madrugada, diferente da última vez que escrevi, eram 03:36, a diferença é de 16 minutos, 16 é a minha idade, sabe o que isso significa? Nada. KKK Apartir dessa linda, não irei copiar do celular, quando eu copiar colocarei aspas. Desde a última carta ocorreu algo desagradante, sinto que há uma parede de erro construída por mim, mas antes de continuar, mudarei de assunto da maneira que você não gosta. Eu lembro de ter dito que não iria escrever mais cartas mas uma explicação me obrigou a escrever, e até aqui 10 linhas de porra nenhuma. “Explicar sentimentos é bem difícil, sentimentos não são previsíveis, florescem do nada em um tudo, quando o coração acelera só de ela olhar pra mim e sorri, cara que sorriso, e eu já me perdi nas palavras, olha só…”. Sinto que eu esteja fazendo certo, não tão certo, sabe quando você passa mal mas sente que está melhorando e sabe que vai melhorar, em boa parte do tempo em que passamos, por mais que eu estivesse cansado, ou entediado, ao estar com você me sinto melhor, por ter a certeza de que você está ali, de que não é um sonho, e se estar com você eu me sinto bem, quero estar com você sempre. “Ah cara, se ela soubesse que minhas palavras são verdadeira, eu sou orgulhoso, isso? Isso fode… Se ela soubesse meus medos… Quando perguntei os dela, o assunto tomou outro rumo, e ela esqueceu de perguntar quais eram os meus, mal sabe ela que o medo que mais tenho agora é de perdê-la, de não dar certo, de ter que desistir (odeio desistir), tenho medo que essas palavras não signifique nada para ela, que essas palavras seja ditas por outro para ela, ou de ela pensar que uso as mesmas palavras com todas as meninas… Não mesmo. Sobre o erro construído por mim, pela ignorância e orgulho, eu penso diferente e não corro atrás, me sinto como se eu fosse o único a se importar, então fico no meu canto, ouvindo uma boa música… Ontem, na quinta, pensei “É a minha última chance para ficarmos bem e a gente sair na sexta”, mas não consegui, eu já imaginava que você iria cancelar, eu literalmente fiquei sem fôlego, afinal eu esperei, e infelizmente o eu não concertou, e foi tarde. Você disse para eu ir com meus amigos, maior que isso é a minha vontade de estar com você, e se você não está, minha vontade a acompanha. Me desculpe as idiotices e a letra, eu tinha tanta certeza de nós, espero continuar a ter.”

Na sexta, não conversamos muito na sala. Tocou o sinal às 20:40h, a galera ia se reunindo para saber aonde cada um ia comer. Ela ia andando até o final da rua para esperar o pai dela lá na avenida JK, ele que só ia conseguir chegar depois das 21h. Na rua ai ainda, na frente do portão da escola, no meio de todo mundo, eu estava me decidindo o que fazer, encontrei o Caique e a Carol, perguntei aonde iam, me chamaram pra ir e me perguntaram se a Lara ia, eu disse que não, resolvi seguir com eles, lá no final da rua, eu vi ela na avenida, no outro lado, na frente de um PetShop, loja que dava a única luz ali, ela estava sozinha do outro lado da avenida, sentada no chão, esperando o seu pai, eu não queria deixar ela sozinha e mesmo que ela tivesse brava comigo eu decidi ir até lá e esperar com ela. Eu fui. Sentei do seu lado. Silêncio. “Porque você não foi lá com o pessoal?” “Não quero te deixar sozinha, é perigoso aqui” “Eu to bem” “Mesmo assim vou ficar”, não conversamos muito, falamos algo das cartas talvez e alguma outra coisa, lembro que depois de umas meia hora, o pai dela chegou, ela me agradeceu por ter ficado com ela ali, me deu abraço e foi embora. Segui para a praça ainda na esperança de encontrar alguém, vi o Caique e a Carol em uma lanchonete, o Caique me viu e já foi perguntando “Ficou com ela? Pegou?” “Não não, só tava esperando o pai dela”, a Carol em seguida “Achei que vocês tinham ficado, vocês são tão fofos juntos”, o diálogo não foi longo, logo saí dali para não ficar de vela, andei mais um pouco e fui embora, fui embora com o sentimento de ter feito o certo, voltamos a conversar como sempre nesse dia… “O lanche eu poderia comer outro dia, hoje não, hoje eu volto a falar com ela!”.

Caro leitor inexistente, se você chegou até aqui, lhe parabenizo, a história é longa. Resolvemos essa briga e estava tudo bem, e mesmo que tivessem outras, não foram ao mesmo nível, a gente ia bem, como já disse inúmeras vezes, a gente todo dia conversava, a gente sentava perto, quando dava um do lado do outro, as vezes eu brincava com o cabelo dela, as vezes com a sua mão na minha mão, não entrelaçadas, apenas brincava com os dedos, a gente passava aulas rindo e conversando, eu admirava-a demais, encarava os seus olhos castanhos escuros como o céu estrelado a noite no campo. Era fascinante o jeito dela.

Tome uma água.

Dia 31 de Março. Ela estava sentada com a carteira na parede, a minha carteira ao lado dela encostada. O Matheus na frente dela. Ela havia dito que iria me responder, mas já fazia uns dias. No início da aula lembro que eu brincava com a sua mão, entrelaçava e tirava, e você jogada sobre a mesa depois de mais um dia cansativo no curso. Então durante alguma aula, ali mesmo, você arranca uma folha do caderno, vira para o lado da parede, começa a escrever, ela escreveu do meu lado. “Aaaa ta escrevendo a minha carta, certeza!”, você não me deixava ver, justo. Quase ao final da aula você me entregou dobrada, disse para eu ler em casa, eu tava muito feliz, nada podia tirar aquilo, pensei em ser um pouco ousado esse dia. Na saída, no final da rua, ao abraçar ela, eu virei o rosto, quase roubei um beijo, ela teve um bom reflexo e desviou dizendo “Não faça isso”, eu ri para não quebrar o momento. Cheguei em casa, fui para o quarto, tirei a carta do bolso

“Bom, não acho que você vá ficar muito contente com o que vai ler nesta carta, mas tenho que ser sincera, não quero te dar falsas esperanças. Eu poderia te falar agora, cara a cara, mas não consigo, não sei se conseguiria aguentar ver a decepção em seus olhos.

- Foi inevitável as lágrimas nos olhos, a mão na cabeça, o choro que vinha pesado, não conseguia acreditar… -

Eu sei, só pelo modo em que você me olha que você gosta de mim, não posso negar, mas eu não sinto o mesmo por você, infelizmente, peço desculpas por isso, mas é como você disse: nós não escolhemos o que sentimos pela outra pessoa, e é justamente por isso que não posso te dar esperanças de algum dia nós daremos certo.

- SUA! SUA! SUA FI… ah, eu já chorava, chorei como uma criança, lágrimas molhavam todo o papel, tudo tinha acabado, tudo! Toda as cartas, escritas, todo o tempo, conversas, risadas, olhares, tudo acabou ali, e eu chorava como uma criança -

Você faz de tudo por mim e isso me deixa mal, pois sei que você só faz o que faz pelos sentimentos que tem por mim. Por isso peço que pare. Porque sei que quando você sente por mim passar, você vai ficar se julgando de o porque você fez de tudo por uma pessoa que não te fez nada em troca.

- Escrevo agora, meus olhos ardem porque eu lembro exatamente de como eu estava naquele fim de dia, toda a esperança foi para o lixo, cabelo bagunçado, rosto vermelho, lágrima que corria e caía -

Eu gosto sim de você, mas como amigo, e eu me conheço, que por mais coisas que você faça para tentar me conquistar, não vai adiantar.

- PORQUE VOCÊ NÃO ME DISSE ANTES? Você mesmo escreveu que gostava muito de mim, porque nessa parte não disse que era como amigo? Por que você me deixava fazer as coisas que eu fazia por você? Puta merda! Incrível como você jogou tudo pro ar, como se o que eu sentisse já depois de tempos não fosse nada! -

As vezes vou acabar, sem querer, reclamando de estar solteira e sei que isso vai te fazer ficar com um “?” em mente, mas é que eu prefiro estar sozinha do que machucar uma pessoa iludindo ela; pois sei a dor que a ilusão nos causa, e é milhões de vezes pior do que a de uma “rejeição”, por assim dizer.

- Muito gentil da sua parte, você fez desse dia um dos piores, você escreveu do meu lado essa carta,do meu lado enquanto eu ria e a gente conversava, você escrevia e eu ia sentir totalmente o contrário de como a gente tava ali…

Caro leitor inexistente, viu só? O amor é um cão dos diabos.

[Conversa dia 31/03 23:18] — ja leu? — Li — c ta bem? — N e vc? — nao mais (…) — desculpa, mas eu n posso mentir pra vc — Eu sei. Mas se eu fosse você não teria respondido a primeira carta — a primeira das primeiras? — Sim. Mas já foi. Quinta te entrego. Quem sabe se eu for amanhã — entrei em contradição eu sei, mas senti q deveria d te dizer d uma vez, oq eu escrevi hj. deculpa n queria te magoar, mas sempre faço isso :s — Lamento aos outros. — (emoji de joinha). espero q um dia vc me perdoe por te magoar mesmo q eu n quisesse isso, e q volte ao normal cmg, pq sei q vc n vai ficar normal cmg d novo…. — Nem eu sei

Dia 31 de Março. Escrevi e apaguei. Apaguei mas escrevi. Escrevi.

Semana de recuperação ou algum feriado, não me lembro, mas não havia quase ninguém na escola. Eu precisava entregar a carta. Pedi para o Luis ir naquele dia pra eu não ficar sozinho lá. A Lara foi. Ia chegando na sala e vi ela na porta, passei e dei um leve oi. Nesse dia, o Matheus e o Léo também foram, umas 6 pessoas da sala. A escola estava bem vazia, com isso, os terceiros anos se juntaram em uma única sala. Aulas livres e intervalo longo. Durante o intervalo, eu e o Luis jogava ping-pong na mesa do professor, alguns assistiam. Ela estava perto da porta com os meninos, uma hora a bolinha caiu perto dela, não a olhei, apenas peguei a bolinha e continuamos. Procurava não olhar para ela, se eu a olhasse iria querer entender “como?”.

Certo momento no meio da partida, ela me olha fixamente nos olhos com uma cara séria e fala bem alto “Você não vai mais falar comigo?”, acredite, todos pararam, o jogo parou, e a sala que tinha umas 10 pessoas ficaram em silêncio olhando a situação e esperando a minha resposta, menos o Luis, o Luis que sabia de tudo, baixou a cabeça na mesa e começou a dar muita risada, eu fiquei parado como quem procurava a coragem nela o suficiente para fazer aquilo, demorei um pouco e respondi “Eu te dei oi no começo”, ela recuou para trás e encostou na parede ainda não inconformada, joguei a bolinha na mesa para jogar e o Luis ainda ria (Ele riu mais ainda depois e até hoje ele ri). Sendo substituído no jogo eu fui até ela, que disse “Não vai dar a minha carta?” “Vou, venha” fui com ela até a minha mochila e entreguei. Caro leitor inexistente sem querer ser orgulhoso, não haveria no mundo(!) ideia melhor como resposta para essa carta. Escrevi:

“...__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ Eu sinto muito, por sentir demais.”

Depois, ali na sala mesmo ela veio até mim “Você escreveu a carta e apagou??? Como assim?” “Não apaguei tudo.”

Essa foi a última carta.

[conversa 02/04 23:00] - Leu a carta? - claro a unica ffrase… pq só escreveu uma frase? vc tinha escrito um monte d coisa eapago como assim - Porque a frase resume tudo, tudo o que eu queria ter dizer

Por fim, combinamos de não mudar um com o outro, mas era um tanto inevitável, coisas mudaram entre nós. Me diz Lara, você se lembra do seu compromisso com Deus? O que aconteceu? Não era um ano de propósito? Passado uns 3 meses você começou a namorar um menino, como eu não sentia mais nada eu não fiquei decepcionado, talvez Deus sim, você havia mentido. E assim como uma quebradora de promessas, você se lembra que tinha me prometido que guardaria as cartas? Que não iria jogá-las fora? Eu fiz a minha parte, ainda faço. E você?

Você me mandou mensagem no dia 19 de Abril de 2017, sim, esse ano. Me deu um oi e perguntou se estava tudo bem, como estavam as coisas por aqui em Curitiba, e mudou de assunto, e disse que iria jogar as cartas fora, as primeiras cartas que eu escrevi para alguém iriam para o lixo porque a porra do seu namorado (o terceiro desde aquela época) não queria que você as tivesse. Caro leitor inexistente, nunca namore alguém que mande em você mais do que você mesmo.

Insisti que eu as queria, “digitaliza e me manda”, “manda pelo correio”, “melhor, semana que vem estarei indo para Taubaté, me dê-as”. Combinamos então. Ainda citei que queria escrever a nossa história, você disse que era melhor não que se fosse assim preferia jogar as cartas fora, eu disse que tudo bem, não ia escrever porque queria as cartas.

Dia 26 de Abril, acordei cedo, iria aonde ela trabalhava buscar as cartas. Meu pai me deu a carona. Cheguei na papelaria. Fui ao balcão aonde ela estava, que foi me dizendo “E aí, tudo bem? Como vai a faculdade?” respondi as questões básicas, me mandou esperar, saiu, voltou com as cartas na mão, as 4 cartas (teve uma outra simples de aniversário), estavam intactas e legíveis, eu peguei, olhei-as, “Desculpa” “Tudo bem”, uma última encarada, nossos olhos brilhavam angustiadamente e eu fui embora, sem mais palavras a serem ditas, entrei no carro e foi a última despedida.

Não escreverei mais cartas. Começou com ela e acabou com ela.

Lara, te disse que não iria escrever nossa história. Você não cumpriu com sua palavra. E advinha? Eu também não.

Agora tanto faz.

… já não sinto muito, já não sinto mais.

- Texto escrito em 2017.

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