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O doador de sentimentos por Daniela Bajluk
Completavam duas semanas que Ruan conquistou a garota que me fez descobrir o amor, através das palavras que eu havia escrito. Me vendi por medo, entreguei a única esperança que eu tinha nas mãos de outro cara. Ainda me lembro das suas palavras:
— Se tem algo para me dizer, diga, Bento. Sei que foi você quem escreveu aquilo.
Mas eu não fui capaz.
Hoje eu compreendia os rabiscos naquele papel, eu iria entregar para Liz e pedir desculpas ao Ruan, mas tive medo de que ela debochasse dos meus versos, da primeira vez em que eu amava alguém.
Era o último dia de aula e eu poderia fingir que nada disso aconteceu, mas a visão que eu tive ao atravessar o corredor me fez mudar de ideia. Era a Liz, com os seus cabelos sedosos, as roupas pretas e minimalistas. Linda.
Ao me notar, se aproximou com cautela, talvez pela última conversa que tivemos.
— Oi, Bento.
— Oi...
Estávamos sem graça.
— Último dia.
— Pois é…
— Como está com isso?
— Não sei, sinto que deixei assuntos pendentes.
Aquilo pareceu uma indireta para mim.
— E eu deixei um erro que não sei como consertar.
— Talvez você devesse tentar.
— Não sou o cara que conserta as coisas.
— Tem gente esperando que conserte.
— Liz...
— Até quando, Bento? Até quando vai comercializar o que você sente?
Aquilo soou como um soco bem dado no estômago.
— Eu apenas gosto de escrever.
— Não é sobre você gostar ou não. É sobre os meus sentimentos, eu sou apenas uma fonte de renda para você?
— Você sabe que não...
— Eu não sei, você nunca me disse.
— Liz, eu apenas ajudei o Ruan.
— Por que se esconde atrás do Ruan?!
Ela insistia, me colocando contra a parede.
— Porque eu não sabia como dar isso nas suas mãos, ele soube.
— Ele não é você.
— O que você quer que eu diga?!
Ela virou as costas, pronta para sair, mas eu segurei o seu antebraço.
— Por favor...
— Eu quero que assuma que escreveu.
Seu braço se soltou do meu aperto e sua mão se pôs desesperada no bolso de trás da sua mochila. Ela tirou um papel amassado de lá.
Em momentos, estava recitando o poema que eu havia escrito duas semanas atrás:
— Você refaz a minha ideia sobre o amor, e descomplica tudo o que eu compliquei a vida inteira.
— Não...
— Você quebra as minhas crenças, risca o meu calendário, muda a minha rotina.
— Liz...
— Essas são palavras do Ruan?
— Desde que entreguei esse papel nas mãos dele.
Seu olhar estava mergulhado em decepção.
— Não posso acreditar nisso.
— Eu sou apenas um escritor.
Sua risada triste e desolada me fez querer desabar.
— Você não é o doador de poesias, você é o doador de sentimentos, Bento. Deu o seu amor pra outro cara sentir no seu lugar.
E apertou aquele papel no meio do meu peito, para em seguida sair andando em passos apressados por aquele corredor vazio.
Eu não esperava que Liz entendesse os meus motivos, porque nem eu os entendia.
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Aula 8 - Daniela Bajluk
Fui roubada. Levaram meus sonhos, minhas expectativas, minhas palavras, o meu lírico. Desde as últimas notícias, jamais consegui pregar os olhos novamente, abri as páginas da internet para o meu sofrimento interno. Lá estava ele: o meu título, com o nome de outra pessoa, um impostor.
Passei os últimos seis anos dedicando a minha vida à estas páginas, mal saía, sequer me lembrava de ter amigos, ou uma vida.
Meu melhor amigo, Derek, me acompanhou nessa jornada incessante de tortuosos hiatus e pensamentos errantes. Já pensei em largar o livro muitas vezes, mas o seu apoio me ajudou a superar os piores obstáculos da minha vida.
Até eu perceber que ele fez o que fez por ele mesmo, nunca por mim.
Derek se comprometeu a ser o editor da minha obra, ele trabalha numa editora como revisor final e jurou que deixaria o primeiro exemplar perfeitamente publicável, eu fiz um bom trabalho com a edição, porém haviam erros que ele dizia que poderiam me comprometer na publicação da obra.
Seis anos jogados ao fogo.
Há um mês, a foto de Derek ocupava a primeira capa do New York Times pelo best-seller que eu havia escrito.
Recebi a notícia através de uma colega do escritório, Joane, que me mandou um print de uma notícia de um dos sites mais populares de Nova Iorque, com a seguinte manchete: Derick Morn deu vida ao impossível em sua primeira obra; confira. E o título do meu livro.
Naquele momento, meu coração desabou em pedaços minúsculos dentro do peito, eu estava quebrada. Tentei ligar para ele, mas foi inútil. Ele nunca me atendeu.
Tentei recorrer à um advogado, porém meu livro havia sido registrado em seu nome na Biblioteca Nacional. Eu estava sem opções, ninguém a recorrer. Sozinha.
Os últimos meses haviam sido insuportáveis, ouvir falar sobre a minha obra em todos os lugares, pensando que poderia ser o meu nome no lugar do dele. Passei a beber qualquer coisa que eu encontrava no mercado em frente à minha casa, fumava mais maços de cigarro do que eu poderia contar, mas a dor era insustentável.
Em uma das noites gélidas de inverno, abri o chuveiro na temperatura mais fria que o próprio frio de Nova Iorque, e me deitei no piso escorregadio enquanto destacava os pequenos comprimidos brancos da cartela de alumínio. A água escorria pelos meus cabelos, minha pele flácida e pálida, eu estava quente, como jamais estive.
Com a garrafa aos meus lábios, enfiei para baixo aqueles pedacinhos de morte, com o gosto amargo e seco na boca. Essas foram as últimas palavras que eu escrevi.
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Aula 7 - Daniela Bajluk
Kaukokaipuu
Ontem eu estive a refletir sobre o passado, como um astrólogo que busca as estrelas no céu, eu busquei vestígios e vislumbres que me remetessem à minha distante infância. Me lembro de poucas coisas, como o cheiro da comida de tia Flay, que nos era servida depois que brincávamos correndo pelos campos verdejantes daquela fazendinha escondida do resto do mundo. Lembro também da sensação da grama na sola dos pés e da terra entrando entre os nós dos dedos, como uma carícia íntima da terra em nós.
A casa na árvore que ficava ao fundo do pasto, para onde fugíamos todas as noites para assistir ao espetáculo do céu estrelado, eu, você e nosso primo Jordan. Em uma dessas noites em que Jordan esteve doente, éramos apenas nós dois, e você tomou coragem de grudar seus lábios desajeitados e finos aos meus, foi um choque, mas repetimos a mesma cena por anos, sem que os nossos tios soubessem, sempre evoluindo o enredo à medida que íamos crescendo.
Após 20 anos, a sensação que isso me traz é de estranheza, uma palavra que normalmente as pessoas usariam para descrever esse sentimento seria: nostalgia, mas prefiro usar um termo que li num livro uma vez. Kaukokaipuu.
Significa ter saudades do passado e estar preso a ele.
Mas não me sinto presa a você, nem à textura da grama e muito menos àquela casinha velha e empoeirada da árvore, que a essas horas já deve ter sido devorada por cupins. Mas me sinto presa à criança inocente que fui, e à adolescente patética que você me fez ser, e hoje me despeço do passado nesta carta sem remetente, com saudades, mas sem doer.
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Aula 5 - Daniela Bajluk
July se levantou da poltrona e se direcionou à janela, que dava cenário à uma forte tempestade que acontecia do lado de fora. Parecia com os seus pensamentos, nas últimas semanas se sentia assim.
— July, dessa vez ele foi longe demais...
Disse sua melhor amiga Sam, sentada na ponta de sua cama. Estavam na casa de July, iam tomar um chá, mas acabou esvaziando seu coração amargo para a amiga. Estava quebrada e não sabia o que fazer.
— Eu sei... Mas é o Dean, sabe? Sinto que tudo o que ele fizer, sempre será perdoado.
— Sabe que ele faz todas essas coisas porque você sempre o perdoa.
— Eu sou a única pessoa que ele tem.
— Por que será, July?
July direcionou o seu olhar à amiga, que tinha um misto de raiva e indignação no rosto.
Mas July não respondeu. Estava num dilema se o perdoava ou não, dessa vez pensava realmente, mas não obtia resposta, seu amor gritava de um lado, e os atos moralmente controversos de Dean, do outro.
— Ele espancou uma criança! — Sam se levantou da cama, agora de frente para a amiga. — Como pode considerar perdão num caso como esse?
Tinha a cabeça abaixada, os olhos afogados em lágrimas, um perfeito reflexo da chuva que caía do lado de fora.
— Eu não considerei...
— Ah, mas você considerou sim.
Tinha os punhos fechados, as lágrimas agora despencavam livremente.
— Pensei que pudesse me ajudar, mas está sendo irônica.
— Eu estou tentando, July. Olha as situações em que ele te colocou por todos esses anos.
Sam tomou as mãos de July entre as suas, focando o seu olhar aprofundado no olhar esmeralda angustiado.
— Você não merece isso.
— Eu o amo.
July tomou uma profunda respiração, e com surpresa, sentiu os braços de Sam a puxarem para um abraço forte e protetor.
— Tem pessoas que te amam e que nunca te colocariam numa situação como essa.
Mas July riu, parecia impossível a ideia de alguém além de Dean olhar para ela, e mesmo se olhassem, ela sabe que nunca se permitiria amar alguém que não fosse ele.
— Tipo quem?
Estavam sussurrando.
Sam se afastou, também tinha lágrimas nos olhos.
Sam voltou a segurar a mão da amiga entre as suas, e com a voz abafada, murmurou quase que de forma inaudível:
— A idiota que sempre te consola.
Sorriu, mas um sorriso triste, que afundou o coração de July em depressão e piorou mais ainda a situação que não precisava ser piorada no momento.
— Como amiga... certo?
Mas Sam negou, e largou as mãos de July, o olhar fixo no da garota.
— Eu sinto muito, mas se o escolher, eu não fico.
Com o silêncio de July, Sam abandonou o quarto a passos largos. Ainda próxima a janela, a garota de olhos claros acompanhou a silhueta da amiga correndo pela chuva, o corpo curvado e as mãos limpando fortemente o rosto, mostrando que chorava compulsivamente, assim como ela.
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Aula 4 - Daniela Bajluk
Ele corre em círculos, de uma sombra escura, com um formato grotesco e horripilante. Está esse, em sua própria mente.
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Aula 3 - Daniela Bajluk
O doador de poesias
Eu não pretendia entregar o trabalho de física na segunda-feira da semana que vem. Enquanto me sentava ao fundo do ônibus que me levaria para casa, pensava nas diversas poesias que meus colegas encomendaram da semana passada para cá. Caio do xadrez; Lucas, o skatista seboso e Ruan, o famosinho do terceiro.
Tentava pegar essas pequenas características de cada um e colocar nas escritas que formulava gradualmente na cabeça. Mas não fazia o mínimo de sentido, nenhum deles parecia ter nada de bom.
Eu ria sozinho, percebendo aos poucos que arranjava para mim um trabalho desnecessário. Não tinha tempo para fazer trabalhos, não saia com os amigos, ou o melhor: não tenho amigos. Não tenho tempo!
Cada precioso minuto era gasto escrevendo bobagens para que adolescentes pudessem transar. Mas admitio: era bom mesmo.
Não entendo sobre o amor, não o pratico e nem penso em pratica-lo, acho piegas, brega. Mas a poesia… ah, essa sim vale a pena investir. Faço o que eu gosto e, de quebra, ganho dez reais em cada 5 versos que escrevo.
Tinha o lápis entre meus lábios, a cabeça deitada na janela do ônibus e encarava a folha em branco como se fosse um mártir.
Se as escritas têm um remetente, é nisso que eu devo focar.
A ficante do Caio, meio nerd e anti-social, vive se esgueirando de cabeça baixa pelos corredores, se parece com aquelas pessoas que sempre tem algo para falar, mas nunca falam. Podemos pensar nisso como uma característica forte nos nossos versos.
A remetente do Lucas, ah essa… morena, popular, uma deusa do ensino médio, saia com os caras mais bonitos e bombados do colégio, mas o Lucas ouviu dizer que ela paga um pau para as coisas que eu escrevo. Todas, na verdade, já sabem do meu trambique, mas mesmo assim gostam de receber as cartinhas e isso me dá uma certa credibilidade.
Poderia usar a sua beleza como ponto chave, ela era realmente bem bonita. Se o Lucas tinha chance? No máximo receberia um 'não'.
Ruan pretendia reconquistar a ex-namorada, o que era uma incógnita, já que ele havia traído a garota por mais de três vezes, e detalhe: todos no colégio sabiam. A nossa temática principal? Milagre. Nenhuma garota poderia ser tão burra a ponto de voltar com um cara como esse. O senhor músculo, nada tinha de especial, talvez algo dentro das calças (ouvi pelos corredores) e o cabelo maior do que o da minha mãe e mais sedoso que o da minha irmã, mas nada que realmente valesse a pena.
Parece que a única coisa que ganho escrevendo essas coisas, é dinheiro.
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Aula 2 - Daniela Bajluk
Benjamin olhou em volta algumas vezes, o olhar buscando a garota de cabelos cor-de-cobre. Não gostava do lugar, apesar de bem localizado lhe trazia lembranças frias de um passado nem tão distante assim. As paredes mescladas entre o branco e o marrom, com um número significativo de quadros com frases motivacionais, tornavam o lugar clichê. Natalie marcara com ele em um café, próximo ao Th Maine, o bar que eles sempre costumavam ir. Por que não no bar? Pensou. Mas ele já sabia a resposta. Quando a viu passar pela porta dupla, seu coração palpitou em uma ansiedade divina, e respirou quase de forma sofrida. Não era amor, ele sabia, era raiva. Apertou seu mocaccino entre os dedos. Natalie o avistou rapidamente, puxando a cadeira de madeira para depositar seu sobretudo sobre o encosto. — Estou aqui há 20 minutos. — Bom dia para você também. Benjamin esperou que ela se sentasse na sua frente, para tirar o envelope pardo da mochila. — Falei com o seu pai ontem. A mulher descansou sobre o encosto da cadeira, não demonstrando se abalar. — Ah, é? Benjamin não disse mais nada, abriu o envelope, e retirou um amontoado de papéis, os descansando sobre a mesa. Eram recibos, de armas. Diversos deles. Natalie esperava que ele dissesse alguma coisa. Mas nada veio, apenas um olhar frio de olhos castanhos penetrantes, ela não os reconhecia mais, e à cada vez que o via, tinha a clara certeza de que havia acabado com a vida do homem que amava. — Ainda na mesma? Sério? — Sabe quantas vendas eu fechei só na semana passada? Natalie fez que não com a cabeça. — Mais do que você já fez em anos trabalhando com o seu pai. Natalie bateu na mesa com impaciência, chamando a atenção de umas pessoas no lugar. — Sabe para que servem essas armas, seu idiota? Para matar pessoas inocentes. Mas Benjamin tinha um sorrisinho irônico e guardou de volta os papéis. — Você está com inveja. — Não, eu estou com pena, Benjamin. Te meti nessa e agora você está cego de poder. Meu pai não vai se importar se você levar uma bala na cabeça. Ele vai colocar outro no seu lugar. Ele estava impaciente, os olhos rondando o ambiente, o peito num aperto de cólera. — Você ainda pode voltar. Mas Natalie negou veemente com um abano de cabeça, a expressão retorcida em arrependimento. Não deveria estar ali. — Me chamou aqui para isso? — Para o quê mais seria? Natalie se levantou do assento de madeira, com um aperto na garganta, notou que tinha mais um objeto dentro do envelope que Benjamin não havia retirado. — Preciso ir. Benjamin se levou após ela, com a testa franzida num arrependimento de um ato que Natalie ainda não conhecia. — Não posso te deixar ir. Ela se virou para pegar o seu casaco e ouviu um estalo, olhou para Benjamin e se deparou com o cano de uma Taurus 82 apontada para a sua própria testa. Ele tremia e ela abaixava as pálpebras para não olhar para o seu rosto, certa sobre o futuro, e tão arrependida sobre o passado. — Volte, por favor… -Ele implorava, com um zelo que não tinha à muito tempo. Mas era isso, tudo havia chego ao fim. — Eu sinto muito. — A frase de Natalie saiu como um suspiro sôfrego, que se dissipou no ar ao disparo da arma. Gritos e passos apressados foram ouvidos. Benjamin encarava a figura apagada sobre a mesa, o seu moccacino derramado sobre o sangue da mulher que amou por muito tempo.
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Aula 1 - Daniela Bajluk
Sa(tu)rno
Faz algumas semanas desde que eu a vi, sentada num banquinho ao fundo de um palco de madeira caindo aos pedaços, num “pub” mal frequentado. Seu velho violão nos braços, sua voz mais rouca do que eu era acostumada a ouvir, cantando uma música que nunca faria o estilo dela, e seus cabelos agora curtos e escuros.
Eu poderia jurar que vi rugas debaixo dos seus olhos...Também, não tínhamos mais 23 anos e, desde a morte de um de seus melhores amigos, ela parecia ter envelhecido, ao menos, dez anos. Seus olhos eram tristes, o castanho havia se tornado preto, mais escuro que seus próprios cabelos, e, por uma infeliz certeza, eles não me reconheciam mais.
Na noite em que dançamos no telhado do seu prédio, ao som de uma música longe do nosso tempo, ela teve a certeza de que não estava, ao certo, perdida em si mesma, com um sorriso tão seguro nos seus traços determinados que eu não pensei em cuidar dos dias que trariam sua doença à tona, lenta e mortalmente.
Ela me esqueceu, esqueceu seus amigos, esqueceu sua mãe. A única coisa que ela poderia se lembrar era que sabia tocar um violão e que era capaz de cantar. As pessoas nem se lembravam mais de Kristen, era como se tivessem adquirido a mesma doença. A fama é passageira, dolorosa e inconstante.
Mesmo quando eu acordava disposta todos os dias a dar-lhe o pequeno resquício de perfume do que fomos a sua memória, e lhe via tocar no mesmo “pub” todas as semanas, eu não criava tal coragem de sequer dizer meia dúzia de palavras.
O que eu miseravelmente treinava eram coisas como “boa noite, eu te vejo tocar todas as semanas, e bom… eu sinto a sua falta”.
Nada mais definia do que essa única e simplória palavra: saudade.
Na última semana que eu a vi, descendo do palco assim que terminou de tocar uma música com os mesmo três acordes de sempre, tomei um longo gole do meu uísque e levantei do banco, dei longos passos até o palco e a mesma desviou do meu caminho sem nem ter me visto, saiu pelos fundos de mãos dadas com uma loira alta e esquisita. Longe de se parecer comigo.
Desde então, parei de ir ao mesmo lugar e olhar para uma mulher que já não era minha há muito tempo.
Eu sabia que seria mais doloroso continuar amando um rosto que não reconhecia a si mesmo. Percebi então, que grandes doses de uísque e maços incontáveis de cigarro por dia resolveriam mais do que perseguir um corpo vazio, oco e escuro.
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