#conflito de classes e o racismo
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Mini resenha: A Loteria e outros contos (Shirley Jackson)
Shirley Jackson foi uma escritora americana muito conhecida pelos suas histórias de terror, tendo como algumas das obras mais conhecidas A Assombração da Casa da Colina (um clássico que ficou mais conhecida ainda pela adaptação The Haunting of Hill House na Netflix), Sempre Vivemos no Castelo e o conto A Loteria, presente na antologia em questão. A Loteria e outros contos foi a única antologia de contos escritos por Jackson e publicada em vida, no ano de 1949.
São 24 contos que compõem essa antologia, divididos em 4 partes, com temas bem variados, mas que possuem uma similaridade: diferenças e conflitos. Sejam elas entre diferentes classes sociais, entre pessoas de gêneros diferentes ou entre pessoas de cor diferentes, Shirley Jackson traz ao leitor não um terror sobrenatural, mas um terror pior ainda, o terror social.
Tratando do racismo, quero destacar os contos Primeiro você, meu caro Alphonse e Jardim Florido que traz duas perspectivas de como a sociedade trata pessoas negras de formas diferentes: no primeiro tratando com pena como se precisassem de esmola e doações quando, e no segundo tratando com desprezo não só a pessoa em si, mas também quem se relaciona com ela. Lembrando que são contos escritos por uma mulher branca na década de 1940, são histórias que continuam atuais até hoje e com certeza merecem mais destaque. Outros contos que também merecem são Minha vida com R. H. Macy, A renegada, Elizabeth, Estátua de sal e, claro, A loteria.
É um livro que eu adorei ler, por mais que alguns contos eu não tenha entendido, o que não é um problema pois só me deixou mais curioso para saber do que eles falavam. Curto, rápido de ler e com uma escrita tanto gostosa quanto assombrosa, Shirley Jackson conseguiu me pegar mais uma vez.
❧ A Loteria e outros contos (publicado originalmente em 1949)
❧ Shirley Jackson
❧ 264 páginas
❧ Editora Alfaguara
❧ Tradução de Débora Landsberg
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Maria Felipa: na barra da saia se fez o levante
O resgate e a celebração da figura e legado de Maria Felipa (mulher negra, marisqueira, pescadora e escravizada liberta que, liderando grupo de mais de quarenta homens e mulheres de classes e etnias diferentes, combateu marinheiros portugueses e incendiou navios, colaborando ativamente na luta pela libertação da dominação portuguesa) concede, nas palavras de Nancy Fraser (1991) reconhecimento positivo a um grupo especificamente desvalorizado; isso porque um aspecto central do racismo é o eurocentrismo: a construção autorizada de normas que privilegiam os traços associados com o “ser branco”. Em sua companhia está o racismo cultural: a desqualificação generalizada das coisas codificadas como “negras”,“pardas” e “amarelas”, paradigmaticamente – mas não só – as pessoas de cor. O apagamento de Felipa é resultado da intersecção de diferentes sistemas de opressão que, no caso em questão, operam em simultâneo. O racismo, o patriarcado, o classismo e o colonialismo constituem-se como matrizes de opressões que se entrelaçam e se reforçam (COLLINS, 1989), formando sistemas de opressões interseccionados (CRENSHAW, 1991) em uma realidade latente na qual as corporeidades femininas negras são constantemente alvejadas pelo entrecruzamento de matrizes de opressão distintas que dialogam (pois imbricadas entre si) e incidiam sincronamente, conduzindo à contextos de vulnerabilidade e subalternização (seja sexual, econômica, política, física, psíquica, etc.).
Pode-se concluir, portanto, que a história bem como as contribuições de Maria Felipa foram (e ainda são) condicionadas e marginalizadas em razão de sua raça (negra), seu gênero (mulher), sua classe social (marisqueira, trabalhadora braçal e escravizada liberta) e demais marcadores da diferença elaborados a partir de um padrão de indivíduo desejável como herói e tomado por referente que é homem, branco, cis, hétero, jovem, cristão, europeu, neurotípico, dotado de elevada escolaridade e pertencente à classe média ou alta.
Esta depreciação se expressa numa variedade de danos sofridos pelas pessoas afrodescendentes, incluindo representações estereotipadas e humilhantes na mídia, como criminosos, brutais, primitivos, estúpidos etc.; violência, assédio e difamação em todas as esferas da vida cotidiana; sujeição às normas eurocêntricas que fazem com que as pessoas negras pareçam inferiores ou desviantes e que contribuem para mantê-las em desvantagem mesmo na ausência de qualquer intenção de discriminar; a discriminação atitudinal; a exclusão e/ou marginalização das esferas públicas e centros de decisão; e a negação de direitos legais plenos e proteções igualitárias.
No caso em específico da figura de Maria Felipa, o racismo opera no apagamento de suas contribuições no cenário da historiografia baiana e nacional, é paradigmático observar como as emblemáticas Joana Angélica e Maria Quitéria recebem até a atualidade os louros pelo protagonismo feminino nos conflitos da luta pela independência na Bahia; cabe destacar que ambas (guardadas as devidas ressalvas relativas aos papéis de gênero aos quais as mulheres eram socialmente submetidas à época) gozaram do privilégio das condições de serem brancas e filhas de proeminentes famílias baianas abastadas que frequentavam os círculos da dita alta sociedade, clerical (no caso de Joana Angélica, que, sendo madre abadessa, ocupava cargo de alto prestígio na liturgia católica) e política (no caso de Maria Quitéria, filha de fazendeiros escravagistas portugueses).
Joana Angélica é considerada mártir da independência do Brasil na Bahia, seu nome batiza inúmeras ruas e alamedas na cidade de Salvador, bem como o legado de Maria Quitéria é constantemente recordado e reproduzido em colégios e instituições militares baianas; logo, enaltecer os feitos de Maria Felipa é trazer para o centro da narrativa histórica (da cidade com maior população negra fora de África) as mulheres-e-homens negros que construíram os pilares da independência, ainda que sob o jugo da Casa-Grande e da discriminação, permitindo que as próximas gerações se reconheçam e se aquilombem em torno das identidades e vozes dos seus semelhantes, pretéritos, presentes e futuros, entendendo que símbolos e discurso pluralizam conceitos de injustiça e opressão, de modo que a cultura se torne um dos vários terrenos de luta interagindo com outros.
Maria Felipa não foi a primeira e muito menos a única mulher negra ativamente engajada na resistência face o colonialismo, segundo Lélia González (2020) o negro não deixou de também participar dos movimentos de libertação nacional, ocorridos tanto no período colonial quanto no império (Revolta dos Alfaiates, Confederação do Equador, Sabinada, Balaiada, Revolução Praieira, etc.); mas o fato é que, apesar de sua importante contribuição, o negro jamais recebeu os benefícios obtidos pelos demais setores (“brancos”) da sociedade brasileira.
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Do que me vem à cabeça agora, o paralelo tá em alguns personagens e no comportamento e contexto deles (aliás, eu falei colônia, mas quis dizer monarquia, oops).
Antes de tudo, tem que lembrar de quando o Brasil deixou de ser uma monarquia e passou a ser uma república. Parece uma mudança gigantesca, mas o que aconteceu na verdade foi: dita nova em tabuleta velha não pega. Ou seja, tudo mudou de nome, o governo, os títulos, o regime, mas não mudou de substância, já que tudo continuou funcionando da mesma forma. A figuras no poder continuaram as mesmas, o funcionamento da sociedade continuou o mesmo, tudo (mesma ordem social patriarcal e desigual, já que mantém as mesmas relações entre as classes sociais).
No livro, dá pra ver isso em personagens como o próprio Riobaldo (acho q ele tá mais representando a transição em si, já que ele n se encaixa em nenhum dos dois mundos), no Hermógenes, no Zé Bebelo; e também em algumas cenas.
Por exemplo, quando o bando do Zé Bebelo se encontra com os catrumanos, esses são bem magros, pobres, claramente vivendo em uma situação bem ruim, e a linguagem que eles compreendem é a violência, e que ficam pasmos com as armas modernas e a natureza racional do Zé Bebelo. Eles ofereceram dinheiro (o Riobaldo reforça q era moeda imperial) como perdoamento (n lembro pq, acho q por eles estarem andando nas terras do Zé Bebelo e n queriam conflito), e ele negou o pagamento. Os catrumanos estranharam, e foi como se ele estivesse negando os costumes a muito instituídos.
O Zé Bebelo em si é uma grande imagem da mudança, mas também de como ela falhou: ele tinha umas expectativas beeem grandes, queria ser instituidor de um novo sistema, queria melhorar tudo para todos, educação, saúde, menos violência, mas ele tá sozinho nisso. É difícil um homem só lutar contra uma ordem social que "funciona" a muito tempo, ninguém quem largar mão, todos têm medo da mudança. Assim como aconteceu durante a transição pra República.
Outra cena q eu lembro é quando Diadorim que atacar Hermógenes e seu bando como vingança pela morte do Joca Ramiro, mas Riobaldo tá hesitando e não quer ir.
O Riobaldo é como se fosse a sociedade brasileira na época da mudança, ele diz que é o contrário de um comandante, que não era alguém capaz de revirar o sertão como se fosse seu dono, já que, pelo seu entendimento, 'o sertão não tinha dono'; ou seja, pra que lutar e mudar um sistema tão poderoso se vai dar em nada? Nessa cena, Diadorim quer trazer a mudança e enfrentar quem tá contribuindo pra manutenção do sistema vigente - Hermógenes, que tá representando o autoritarismo do regime imperial.
Tem mais paralelos, mas é isso que consigo lembrar. Sugiro que leia Gilberto Freyre se quiser algo mais aprofundado, foi que meu professor me passou qnd a gnt tava fazendo a leitura (especificamente Ordem e Progresso, mas também Sobrados e Mucambos se quiser ver mais sobre os papeis da mulher e do homem na época, q tbm dá pra ver em personagens como Otacília, ou Casa-grande: Senzala se quiser ver sobre o racismo).
Oi! Tudo bem?
Vim aqui discutir se o Diadorim gosta ou não do Riobaldo. Eu sei que durante o livro a gente só tem o ponto de vista do Riobaldo e talvez a vontade que ele tinha de ter o seu amor correspondido tenha atrapalhado um pouco como ele se lembra da sua vida porém tem alguns momentos que me fazem pensar que o Diadorim gostava também do Riobaldo só que como a situação dele era mais complicada (por causa do seu gênero e ser filho do Joca Ramiro) ele era mais reservado.
Eu acho que o Diadorim gostava do Riobaldo por causa daquele pacto de não fazer sexo, de como ele reagiu com a Nhorinhá, Otácilia, a maneira que ele reagiu quando o Riobaldo falou que daria a pedra pra Otácilia e uma cena que me marcou muito que foi quando o Diadorim voltou após ter sido ferido, e ele não estava bem, meio magro, e foi sorrindo até o Riobaldo perguntando se ele tinha sentido falta dele.
Diadorim é definitivamente mais sutil e tipo nós só sabemos que o Riobaldo amava o Diadorim por causa dos pensamentos dele o que a gente não tem do Diadorim.
O que vc acha?
(desculpa por vir aqui do nada e te mandar um textão confuso)
Oie!! Então, apesar de eu amar um narrador não confiável, dessa possibilidade de que o Riobaldo pode ter influenciado sua narrativa com suas expectativas e sentimentos, eu ainda acho que Diadorim amou ele também. Só que ele tem muita prática quando se trata de agir de acordo com o que se é esperado de um jagunço, justamente por seu segredo.
Diadorim passou muito tempo reafirmando sua identidade como homem, tanto que ele fica bem defensivo quando alguém tá perto de desconfiar de algo (tipo aquela cena q um jagunço fala q o Diadorim é 'delicado', por ter feições mais suaves, e ele tá pronto lutar com o cara no mesmo instante). Ele já tem muito a perder se isso fosse trazido a tona, então ele não pode tomar riscos assim, não numa sociedade tão heteronormativa, cercada de pessoas que acreditam tanto na virilidade como inerente ao homem.
E eu acho q isso se aplica também aos seus sentimentos: ele, sendo reconhecido como homem pelos seus companheiros, tinha noção de que se ele tivesse algum afeto com o Riobaldo, tudo podia ir por água a baixo. Claro, eu não acho que Diadorim achava que o Riobaldo ia expor pra todo mundo que ele era possivelmente homosexual, mas tinha um risco ali também. Ainda mais se os afetos o levassem a momentos mais íntimos, o que traria atenção pro corpo dele, também muito arriscado. E mesmo se isso não fosse um problema, só por ter relações entre dois homens já era perigoso demais pra ambos. Claro, tem alguns momentos q eles parecem estar bem íntimos, tendo uma relação bem mais complexa que os outros jagunços têm entre si.
Acho que Diadorim, mesmo que amasse o Riobaldo, não se permitiria uma abordagem direta, não enquanto eles estivessem em risco, pelo bem dos dois. Ou ainda, talvez ele achasse que Riobaldo só o enxergava como um grande amigo (a famosa friendzone), já q ele teve seus casos com outras mulheres (ainda mais com Otacília, que podia oferecer tudo que ele jamais poderia) e tinha medo de perder tudo isso se o Riobaldo descobrisse ou desconfiasse de seus sentimentos.
Minha análise tá beeeem fraquinha pq li o livro faz um tempo já, e li pra uma matéria da faculdade, focando mais nos paralelos entre o livro e Brasil colônia/república e tals; então lembro bem pouco da relação entre eles. Tô planejando reler em breve, aí vou poder dar uma resposta mais elaborada.
#eu não li esaú e jacó do machado de assis mas acho q aquela frase da tabuleta é uma referencia a esse livro#acho q tem uma cena q alguém pinta 'confeitaria do império' numa tabuleta#mas aí o governo muda e eles tem q pintar de novo pra arrumar. mas tudo continua a mesma coisa
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Análise do Discurso de Ódio
Análise do Discurso de Ódio
João Cezar de Castro Rocha, professor da UERJ, é um intelectual militante por uma causa pública: o desvendamento da emergência do neofascismo no Brasil. Publicou, em 2021, o livro Guerra Cultural e Retórica do Ódio: Crônicas de Um Brasil Pós-Político. Blog Cidadania & Cultura – Fernando Nogueira da Costa. 19/09/2022 ��O mandato presidencial não autoriza a destruição metódica das instituições…
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#anacrônico anticomunismo#Análise do Discurso de Ódio#conflito de classes e o racismo#conspiração#enriquecimento pessoal e familiar#estrategistas do ex-presidente Donald Trump#extirpação da petralhada/esquerdalha#fake news#Guerra Cultural e Retórica do Ódio: Crônicas de Um Brasil Pós-Político. Blog Cidadania & Cultura - Fernando Nogueira da Costa#guru da extrema-direita armamentista#João Cezar de Castro Rocha#legalização da maconha medicinal#massas digitais#modelo hegemônico esquerdista#Paulo Freire#professor da UERJ#Steve Bannon
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O AUMENTO DA VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER NA PANDEMIA por Georgia Lyma - Psicóloga, profissional de Dança e Ed. Física Especialista em Saúde e Educação
Na Roma antiga o homem quando flagrava sua mulher com um amante, ele tinha que matar a mulher e o parceiro, caso contrário, o Estado penalizava esse marido traído.. Esse era um dispositivo Legal no Código Penal da época daquele país.Na noite do dia 24 de dezembro de 2020, uma mulher é assassinada pelo próprio marido a facadas na frente das filhas menores …No Brasil, a cada 8 horas, uma mulher é assassinada só pelo fato de “ser mulher”! A jurista dra Luisa Eluf, é autora da Lei do Feminicídio que foi aprovada pelo Congresso no Governo da Presidenta Dilma.Rousseff. Ela nos aponta que atualmente o STF reconhece a legítima defesa da Honra, sendo essa uma tese antiga do início do século passado, onde se justificava o assassinato das mulheres mesmo contrariando o Código Penal e a Constituição Federal. Com essa decisão, o Supremo legitima tal ação absurda, não condenando o assassino, desrespeitando a Constituição Federal, que diz: “homens e mulheres têm direitos iguais” e isso quer dizer, que ambos têm direito à vida!Com essa introdução gostaria de ampliar um pouco mais essa discussão, para uma auto reflexão.. O isolamento social tem provocado impactos negativos na vida de mulheres, que já eram vítimas de violência doméstica. Com o isolamento social, os conflitos familiares têm exacerbado, obrigando-as a permanecerem em convivência com seus agressores por períodos mais prolongados. O número de casos de feminicídio também apresentou aumento em diversos estados do Brasil e no mundo, quando comparado com o mesmo período do ano de 2019. Apesar do aumento do número de casos, os dados mostram redução no número de denúncias, seja por receio da mulher em denunciar, pela proximidade com o agressor ou por medo de descumprir as medidas de isolamento social.Autoridades de diversos países, preocupados com a redução das denúncias, tomaram algumas medidas para facilitar a realização destas e proteger as mulheres em episódios de violências. Em países como Itália, Espanha e França, o governo destinou quartos de hotéis para servirem de abrigo temporário para essas mulheres, permitindo então, sua segurança, além disso, foram disponibilizados aplicativos como whatsapp para facilitar o socorro dessas mulheres.A violência contra a mulher se origina na construção da desigualdade entre homens e mulheres em diversas sociedades. Assim, a desigualdade de gênero é a base de todas as formas de violência e privação contra mulheres.As causas, portanto, são estruturais, históricas, político-institucionais e culturais, e ao longo do tempo se estruturaram, legitimando e perpetuando nesse papel, chegando ao ambiente doméstico.O assédio, o comportamento vigiado e controlado, a impossibilidade de vestir a roupa que desejar, repressão da própria sexualidade, ciúmes doentio da parceira, são considerados SINTOMAS e não causas, de violações dramáticas, tais como, estupro - inclusive do prórprio marido - a violência psicológica e o feminicídio.A violência doméstica não é exclusivamente fruto de um infortúnio ou escolhas ruins. Ela tem bases socioculturais mais profundas, e principalmente quando a mulher decide denunciar, sente com força a reação estrutural da desigualdade de gênero, na suspeita lançada sobre a vítima ao invés do agressor. Alguns fatores são agravados quando a vulnerabilidade à violência se potencializa pela pobreza, xenofobia e o racismo. Também o abuso psicológico, sexual ou físico, habitual, ocorre entre pessoas relacionadas afetivamente, como marido e mulher ou adultos contra menores ou idosos.Neste contexto, de ampla discussão, venho acompanhando e acolhendo através da psicoterapia, o sofrimento de várias mulheres de todas as gerações e classe social, além de aprofundar nos estudos de caso sobre Violência de Gênero, pude concluir, que o feminicídio é a etapa final da relação abusiva. Essa “relação abusiva” pode ser considerada em 4 fases:Observe se você está inserida em alguma delas…Ofensas Verbais: Xingamentos, humilhações, gritos, crises de ciúme, manipulação e Controle - Aqui a vítima começa a ter seu psicológico abalado. Já aparece a violência psicológica sutilmenteViolência psicológica para Agressões físicas : beliscões, empurrões, tapas, socos, chutes, etc..Abusador Arrependido: Ele se arrepende,pede perdão, promete não agredir mais, fazem a mulher acreditar que perderam a cabeça sem querer e quando são perdoados voltam para a fase 1.Feminicídio! A quarta fase é a finalização do agressor, onde ele tira a vida de sua companheira, depois de passar por todas as fases de forma recorrente. Tendo em vista que tudo isso pode ser evitado quando o primeiro passo da vítima deve ser procurar ajuda psicológica. O (a) Psicólogo (a) poderá encorajá-la na busca de ajuda jurídica, além de encaminhá-la para um núcleo de apoio através das Redes, até mesmo acompanhá-la à delegacia, se for o caso.Convido o leitor a observar o que alguns filósofos e teóricos psicanalistas dizem em seus estudos sobre pensamentos e comportamento de gênero. No livro “VIDA É ARTE” do escritor Tokuchika Miki capítulo III diz que “O ser humano possui “makoto” e egoísmo. Isto quer dizer como um sentimento verdadeiro e falso”. No livro “O AMOR” do mesmo autor, editado nos anos 60, ele cita que “Os homens ficam muito zangados, quando a esposa diz algo que fere seu orgulho, por não aceitarem a opinião de suas companheiras, sentem-se diminuídos e sem valor “Traçando um paralelo com a psicologia científica de Freud e Lacan, onde afirmam que “a mulher tem a necessidade de ser amada mais do que amar”. Os homens que preenchem essa condição terão sua estima, por outro lado, o narcisismo exacerbado das mulheres exerceria grande atração sobre os homens que renunciam uma parte de seu narcisismo em busca do amor objetal. Eis que as parcerias se fundem numa clássica referência às uniões típicas entre as histéricas que demandam amor a todo custo e os obsessivos sempre dispostos a "cobrir a oferta” de amor.Freud ainda revela que como a mulher é livre para escolher seu parceiro amoroso, tende a fazê-lo conforme o ideal narcísico de homem que quer tornar-se. Se porventura no Complexo de Édipo, a menina tiver permanecido vinculada ao pai, sua escolha dar-se-á segundo o tipo paterno. Seu marido seria o herdeiro do pai. Isto assegura um casamento feliz por algum tempo.Lacan (1998) confere à mulher o fantasma do desejo masculino, vindo a completar a parte faltante do sujeito. A mulher é objeto de fetiche de um homem, uma parte de seu corpo ou um acessório opera como causa de desejo, objeto. Na dinâmica amorosa, a mulher coloca-se como o objeto que falta ao outro. O homem ama a mulher na medida em que o significante do falo a determina como sendo o que dá no amor o que ela não tem. Observando os conceitos desses autores, voltamos ao eixo central: Ele Bate, fisicamente ou psicologicamente, Ela apanha e sofre o assédio psicológico…As mulheres em situação de violência materializam, em suas relações e em suas condições de vida, um modo de construção subjetiva marcada por avassaladora passividade, na qual as condições psíquicas que permitem o domínio das forças pulsionais pelos processos de simbolização não são dadas, mantendo tais forças submetidas à intensidade traumática, desencadeando um processo que chamarei de devastação subjetiva. A violência representa não um sintoma interpretável, mas algo que resiste e insiste em não ser captado pelas malhas da linguagem. E essa problemática vivida por elas indica a presença de forças que chamamos de pulsionais que apontam para um gozo indizível.A presença insistente da submissão a atos recorrentes de violência, como mostram as estatísticas, evidencia que as mulheres submetidas a essa condição de violência colocam em ato, acontecimentos traumáticos que não vão possibilitar a construção de seu próprio nome. Com isso, a cada vivência com seu companheiro em que um ato de violência ganha destaque, ela nos coloca diante da repetição, de uma forma de relação, marcada pelo não reconhecimento de sua condição enquanto sujeito.Então podemos ir a origem dessa posição subjetiva de manter-se enclausurada num devastador aniquilamento subjetivo pode estar relacionada a um impasse no desenvolvimento de uma relação primeira entre a menina e sua mãe que, ao invés de lhe garantir condições de inscrição na trama edípica e suas consequências para a constituição de sua feminilidade, lhe arrebata a uma posição de fixação numa relação organizada para além do desejo. E, justamente por não serem dadas condições de elaboração e simbolização que esse modo de relação se constitui em um núcleo traumático, não encontrando outra via de expressão senão na insistente repetição nas suas escolhas amorosas marcadas pela emergência da violência.Partindo para uma leitura mais sociológica, aqui no Brasil, o tema é pauta nas políticas públicas, que teve como resultado a aprovação da Lei 11.340 em 2006, a qual cria mecanismos para cobrir e prevenir a violência doméstica contra a mulher. Conhecida como Lei Maria da Penha Fernandes, mulher que viveu seis anos em situação de violência e tornou-se representante da luta contra a impunidade nestes casos depois de tornar-se paraplégica em 1983, devido a um tiro nas costas disparado por seu marido.Além da leitura sociológica do tema é oportuno entender o fenômeno a partir de certas particularidades, que cada caso nos permite construir. O elemento fundante das escolhas amorosas é possível de ser feito através de fragmentos colhidos a partir do início de uma relação. E nessa linha de construção das relações que finalizo meu texto deixando uma dica para quem está conhecendo um novo parceiro, Como diria Nise da Silveira - embora no contexto da loucura - “OBSERVE”… Preste atenção no comportamento, não nas palavras. Qualquer comportamento que lhe humilhe ou lhe envergonhe, seja publicamente ou na privacidade, não é um relacionamento só tóxico, trata-se de um relacionamento abusivo. Se ele está tentando mudar seus hábitos, não apoia seus sonhos e a sua auto expressão, isso é egoísmo abusivo - Essa é a base do confronto na 1a fase da relação. Para aqueles que estão numa vida conjugal, onde não há mais comunicação, diálogo, um desconsidera o outro, quando não há mais carinho, repense a relação! Busque ajuda de uma profissional da saúde mental. Se a relação não está no nível do abuso, a terapia de casal, bem como manter rotinas prazerosas, como aulas de dança , por exemplo, são boas ferramentas, comprovadas cientificamente para a saúde mental de ambos.. De acordo com os teóricos e filósofos, ninguém alcançará a harmonia conjugal perfeita, mas está tudo bem, porque a convivência é uma Arte! É um processo de trocas igualitárias. A responsabilidade implantada ao homem pela própria sociedade, como por exemplo do homem provedor, do homem que não chora e tem que ser forte, valente, viril, fez com que ele “bebesse do próprio veneno” , ou seja, o empoderamento da mulher no mundo contemporâneo, os remeteram às fragilidades do inconsciente, se sentindo inseguros, inferiorizados e com enorme dificuldade de lidar com isso. E essa mesma sociedade patriarcal que delegou esse “poder”, o fez acreditar, que ele tem o direito até de tirar a vida da sua parceira Pelo que tenho observado na clínica, dentre outros fatores, como o incentivo à misoginia, que vivemos atualmente, mas sem descartar os distúrbios e transtornos de personalidade, de fato, sugerem o aumento da prática da violência contra a mulher, tentando de alguma forma subjuga-la naquele papel do início da era medieval, ao qual a mulher era escravizada, submissa, onde suas subjetividades eram desconsideradas.Eu sobrevivi a uma história de abuso psicológico e além do conhecimento técnico e expertise na prática de atendimento e atenção à mulher na clínica, convido todos e todas a participarem do Workshop 100% gratuito, onde irei falar sobre minhas práticas, experiências e quais estratégias me utilizei para me livrar de um abusador. Confirme sua presença!
WORKSHOP - AMOR E RELACIONAMENTO ABUSIVO... VAMOS FALAR SOBRE ISSO?
Módulo 1 = Relacionamento Conjugal
Módulo 2 = Pais e Filhos adultos
Módulo 3 = Educação Filhos menores
Online - 100% Gratuito 22\01 - às 20hs
NO INSTRAGRAM @psiq_ativa
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Tradução: Está na hora de 'LGB' e 'T' seguirem caminhos separados
Original: https://quillette.com/2019/10/26/its-time-for-lgb-and-t-to-go-their-separate-ways/
Publicada em 26 de outubro de 2019
escrito por Brad Polumbo.
A crescente brecha entre ativistas cada vez mais radicalizados pelos direitos dos transgêneros e as comunidades de lésbicas, gays e bissexuais (LGB) finalmente se tornou pública. Esta semana, a maior organização de direitos LGBT da Europa, a instituição de caridade Stonewall, com sede em Londres, foi acusada publicamente de subordinar os direitos LGB ao objetivo cada vez mais decidido do grupo de substituir sexo por gênero como um marcador de identidade. Como Helen Joyce escreveu recentemente no Standpoint, “Stonewall apostou na auto-identificação de gênero. Seu glossário on-line agora descreve o sexo biológico como "atribuído ao nascimento" (presumivelmente por uma parteira com um Chapéu Seletor no estilo de Hogwarts). "Gay" e "lésbica" agora significam atração pelo mesmo gênero, não pelo mesmo sexo. "Transfobia" é o "medo ou aversão a alguém com base no fato de ser trans, incluindo a negação / recusa em aceitar sua identidade de gênero." Em um golpe, qualquer um que se declara atraído exclusivamente por pessoas do mesmo sexo tornou-se um fanático. "
Como gay que mora nos Estados Unidos, não tenho participação direta na política intra-LGBT da Grã-Bretanha. (“LGB / T” agora pode ser um termo mais adequado.) Mas estou surpreso que tenha demorado tanto tempo para ocorrer uma violação tão formal. As mesmas pressões foram aumentando em todos os lugares, e foi apenas uma questão de tempo até alguém agir sobre elas.
Depois que a Suprema Corte dos EUA legalizou o casamento gay em todo o país na decisão histórica de 2015, Obergefell v. Hodges, muitos acreditavam que a luta pelos direitos dos gays começaria a diminuir. No entanto, isso não aconteceu. Em vez disso, o setor de advocacia LGBT simplesmente redirecionou sua equipe disponível, captação de recursos e retórica para outros projetos. Eu sei disso porque vi isso acontecer, tanto como estudante universitário, homem gay e defensor de igualdade de direitos.
Em um período relativamente curto, o movimento pelos direitos dos gays se fundiu com movimentos radicais de gênero e política de identidade no campus, para se tornar o movimento composto agora conhecido como "LGBTQ +" - lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros, queer. e mais. Mesmo muitas pessoas dentro do movimento agora têm problemas para acompanhar todas as novas subcategorias contidas nesse sinal de adição. Uma versão da bandeira do arco-íris divulgada no ano passado tem 11 cores diferentes. O criador, Daniel Quasar, identifica-se como uma “semelhança não binária estranha”, cujos pronomes são “xe / xem / xyr”. Nenhum desses neologismos bizarros tem ressonância para aqueles de nós que ingressaram no movimento pelos direitos dos gays simplesmente para afirmar e proteger os direitos básicos das pessoas de serem quem são e amar quem elas escolherem sem estigma ou sanção legal. Fomos forçados a assistir à simples lógica moral da não discriminação ser transformada em uma sopa de alfabeto auto-paródica de identidades inventadas.
Nos últimos meses, um debate presidencial democrata focado em questões LGBT foi marcado por uma transgênero desonesta que gritou slogans sobre direitos trans, enquanto os candidatos e moderadores concordavam roboticamente. O candidato presidencial Joe Biden pediu prisões unissex, uma política que, se implementada, levaria ao estupro de mulheres presas. A senadora Kamala Harris, outra democrata concorrendo à presidência, chegou a ser criticada por ousar sugerir que a gravidez é uma questão de “mulheres” - já que agora está na moda destacar o fato de que homens trans e “não binários” também podem ter filhos. .
Em seu recente especial Sticks and Stones da Netflix, o comediante Dave Chappelle quase foi cancelado por apontar o crescente distanciamento entre as comunidades LGB e trans (a quem ele se referia coletivamente como "pessoas do alfabeto"). Sendo este um tópico proibido, a revista digital Vice de ultra-acordado, fez uma crítica contundente do especial, mais tarde ecoada por outros veículos progressistas, como Salon. Ativistas LGBT censuraram Chappelle por sua suposta transfobia no Twitter, apesar do fato de os próprios espectadores terem atribuído ao programa uma classificação de 99%. Agora, esse é um padrão típico: sempre que alguém entra em conflito com a ortodoxia de gênero, a classe oficial dos especialistas precisa fingir que está chocada, um conceito difícil de sustentar quando sites como o Rotten Tomatoes fazem das avaliações populares uma questão de registro público.
Chappelle usou a analogia de uma viagem de carro compartilhada pelos passageiros G, L, T e B. Os Gs estão dirigindo, com os Ls no banco do passageiro. Os Ts estão nas costas. "Todos no carro se ressentem dos Ts", diz Chappelle. "Os Ts estão fazendo a viagem demorar mais." Os comediantes e ativistas trans, que se acostumaram a ocupar um lugar de destaque na hierarquia interseccionalista, estavam em pé de guerra. Mas Chappelle deixou bem claro que ele não tinha animus em relação a ninguém na comunidade LGBT: o alvo de sua sátira não era um grupo único, mas o conceito cada vez mais ridículo de que todas essas "pessoas do alfabeto" são felizes companheiros de viagem. Os direitos LGB e o ativismo T revelaram ser companheiros de natureza não naturais, e é inevitável que, como está acontecendo na Grã-Bretanha, eles sigam caminhos separados.
Gays, lésbicas e bissexuais têm algo em comum óbvio: atração pelo mesmo sexo. Essa é uma orientação sexual alternativa que, pelo menos até certo ponto, molda nossas experiências e altera nossos resultados de vida. Normalmente, nos identificamos com nosso sexo biológico - e, de fato, às vezes passamos muitos anos nos sentindo presos a ele. Ser gay é entender que o sexo é definido no nascimento. Minha atração sexual, da mesma forma, é baseada em fatores conectados além do meu controle.
Transgenerismo é um conceito separado. Enquanto a homossexualidade leva a diferenças óbvias no comportamento da vida real, o transgenerismo oferece uma redefinição categorizada do que significa ser homem ou mulher. Como Joyce descreve, uma "identidade de gênero" é um conceito quase espiritual - quase como uma alma - que é "algo entre uma essência interna, conhecível apenas pelo seu possuidor, e aparência e comportamento estereotipicamente masculino ou feminino".
Os ativistas dos direitos dos gays simplesmente querem que a sociedade aceite seus diferentes modos de viver e amar - já que gays e lésbicas buscam interesses românticos e constroem famílias de maneiras que estão em desacordo com as expectativas heterossexuais convencionais. Os seguidores da teoria radical de gênero, por outro lado, exigem que todos rejeitemos nossa compreensão básica do sexo biológico em favor de uma noção abstrata recentemente conceitualizada de identidade humana.
Obviamente, a ideia de transgenerismo por si só não é nova - nem é (perfeitamente válida e justa) a exigência de que pessoas com disforia de gênero sejam tratadas com decência e respeito. Mas a forma original dessa demanda foi baseada na idéia muito mais razoável de que o gênero é uma construção social distinta do sexo biológico. Não foi contestado que uma mulher trans é um humano biologicamente masculino que se identifica com as normas sociais tradicionalmente associadas à mulher. Mas, nos últimos anos, ativistas transgêneros exigiram que sexo e gênero fossem confundidos e que a própria idéia de diferenças biológicas inatas fosse levada a segundo plano. No extremo mais absurdo, agora existem atletas e estudiosos que sugerem seriamente que o homem não oferece vantagens físicas competitivas em relação ao sexo feminino, uma proposição que mesmo as crianças pequenas sabem ser desequilibradas.
Um dos elementos perturbadores embutidos nessa defesa é a demanda de que as mulheres - lésbicas, mais especificamente - se tornem sexualmente disponíveis para mulheres trans, na teoria absurda de que a identidade de gênero, não o sexo, é a verdadeira fonte de atração humana. Como observa Jonathan Best, Stonewall agora definiu “homossexualidade” como se referindo a “alguém que tem uma orientação emocional e / ou sexual emocional em relação a alguém do mesmo gênero.
"Você viu o que aconteceu lá?", Escreve Best. “A atração pelo mesmo sexo se tornou uma atração pelo mesmo gênero. Isso pode parecer acadêmico. Mas reserve um momento para refletir sobre o que isso significa no contexto da afirmação de identidade de gênero de Stonewall. Stonewall está afirmando que as lésbicas são atraídas por qualquer pessoa com uma identidade de gênero feminina, seja ela biologicamente masculina ou feminina. Isso transforma o desejo de gays e lésbicas em transfobia. Sou gay, sou atraído por corpos masculinos, não pessoas que desempenham papéis de gênero masculino. E sim, isso significa que eu gosto de genitais masculinos. (Eu realmente gosto). Os ativistas trans argumentam que minha homossexualidade focada no sexo é transfóbica. Eu vi ativistas trans comparar o desejo gay não trans inclusive com o racismo e descrever a sexualidade gay como "problemas genitais". "
Nos Estados Unidos, a Câmara dos Deputados, controlada pelos democratas, aprovou a Lei da Igualdade, um chamado projeto de lei LGBT que proíbe a discriminação com base na orientação sexual e identidade de gênero. Esse é um objetivo nobre que parece estar de acordo com o maior legado de direitos civis da América. Mas a lei redefine explicitamente o sexo biológico sob a lei federal, de acordo com a identidade de gênero autodefinida - de modo que poderia facilmente permitir uma série de consequências adversas. E como vimos no Canadá, onde uma mulher trans tentou aproveitar a lei de direitos humanos para forçar esteticistas imigrantes a depilar seu escroto e pênis "feminino", as vítimas desse movimento tendem a ser mulheres.
Mesmo sob a legislação atual dos EUA, o Título VII da Lei dos Direitos Civis serve para proibir a discriminação com base em “raça, cor, religião, sexo ou origem nacional”. Os ativistas estão argumentando que a identidade transgênero é protegida sob a referência da lei a “sexo , "Mesmo que a" identidade de gênero "não seja mencionada em nenhum lugar da lei. Os ativistas trans também estão exigindo apoio do governo para políticas que sujeitem crianças confusas em relação ao gênero a hormônios potencialmente esterilizantes e outras terapias agressivas. Seus direitos também estão sendo sacrificados no altar da auto-identificação de gênero.
A redefinição de sexo como gênero é um passo que a maioria das pessoas - mesmo os membros mais bem-intencionados e humanos da sociedade – simplesmentes nunca aceitará, não importa quais leis os ativistas conseguirem aprovar. E o esforço para empurrar essa doutrina goela abaixo de pessoas comuns manchará qualquer movimento que insista em tais mantras. Enquanto ativistas autodeclarados “LGBT” exigirem que um homem com disforia de gênero seja “realmente” uma mulher, muitas pessoas que aceitam o contrário permanecerão contra ou pelo menos céticas em relação ao movimento mais amplo.
Como jornalista de centro-direita, conheço dezenas de jovens conservadores, particularmente mulheres, que são completamente abertos e aceitam seus amigos gays e lésbicas e apóiam os direitos dos gays; mas simplesmente não aceitará que um homem possa ser uma mulher, mesmo se forçado a dar um beijo de boca nesse mantra como condição para passar em cursos de treinamento de sensibilidade ou usar as mídias sociais. Muitos veículos de notícias progressistas ficaram horrorizados quando novas pesquisas mostraram que "os jovens estão ficando menos tolerantes com os indivíduos LGBTQ". Mas um olhar mais atento à metodologia da pesquisa revelou que, na maioria das perguntas, eles eram questionados sobre "pessoas LGBTQ", não pessoas gays. O apoio à “igualdade de direitos” permaneceu estável, mas o conforto em relação às pessoas “LGBTQ” diminuiu. Notavelmente, a pesquisa constatou que os níveis de conforto em torno de "um casal do mesmo sexo de mãos dadas" permanecem praticamente inalterados. Embora esteja na moda fingir o contrário, o T é o problema.
Para repetir o que escrevi acima, as pessoas transexuais merecem ser tratadas com dignidade e respeito. E me posicionei fortemente contra políticas anti-trans (como a proibição de soldados trans nas forças armadas dos EUA). Dizer que essas duas causas - LGB e T - devem se separar não significa que uma tenha valor e a outra não. Estou simplesmente observando que seus objetivos estão em desacordo. Como o escritor gay Andrew Sullivan escreveu recentemente na revista New York:
A verdade é que muitas lésbicas e gays estão bastante apegados ao conceito de sexo como uma coisa natural, biológica e material. E os gays são definidos por nossa atração por nosso próprio sexo biológico. Somos homens e atraídos por outros homens. Se o conceito de homem é desconstruído, de modo que alguém sem pênis é homem, então a própria homossexualidade é desconstruída. As pessoas trans não representam ameaça para nós, e a grande maioria dos gays e lésbicas apóia de coração as proteções para as pessoas trans. Mas a ideologia transgenderista - incluindo concepções pós-modernas de sexo e gênero - é de fato uma amea��a à homossexualidade, porque é uma ameaça ao sexo biológico como conceito.
O escritor canadense Sky Gilbert, um escritor gay, argumentou de forma semelhante em Quillette, observando que ativistas transgêneros estão cada vez mais dizendo às crianças pequenas que podem se tornar gays ou lésbicas que sua expressão efeminada ou butch é realmente um sinal de uma alma transgênero presa em o corpo errado: “Até as últimas décadas do século XX, se os pais pegassem o filho brincando com bonecas, eles poderiam suspeitar que ele era gay. E se ele crescesse e fosse adulto com desejo pelo mesmo sexo, iria a um psiquiatra em busca de ajuda. Agora que separamos sexualidade (espuriosamente) de gênero, um pai que pega seu filho brincando com bonecas fará uma viagem a um psiquiatra - mas desta vez por diferentes razões: o pequeno ele pode ser a pequena ela . ”
A idéia de sexo biológico está no cerne da identidade gay - da minha identidade gay - e das definições estereotipadas da expressão de gênero que o movimento transgênero ignora a existência de homens e mulheres que expressam seu gênero de maneiras não-ortodoxas sem realmente serem transgênero. A maioria dessas pessoas simplesmente cresceu e se tornou gay. Exigir que essas crianças sejam rotuladas como disfóricas de gênero é essencialmente uma forma de terapia de conversão acordada. Nós, homossexuais, experimentamos bastante desse comportamento fóbico da direita socialmente conservadora. Não temos interesse em sermos forçados a
nos alimentar com outra porção da esquerda progressista.
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Filme do dia (103/2019) - "Praça Paris", de Lúcia Murat, 2017 - Camila (Joana de Verona) é uma psicóloga portuguesa radicada no Brasil. Ela atende pacientes numa clínica social na UERJ, local onde conhece Glória (Grace Passô), negra, periférica e funcionária da faculdade. A interação entre as duas mulheres se mostrará complicada face ao histórico de violência de Glória.
A obra discorre sobre a empatia, o olhar do outro, o conflito entre os diferentes, a resistência ante o que se desconhece, a resiliência e o medo. As realidades tão diametralmente opostas das personagens - de um lado, a mulher branca, de classe média, com estudo formal e confortável vida num bairro chique do Rio de Janeiro; de outro, a mulher negra, pobre, sem estudo, moradora do morro e com a existência marcada pela violência e pelos problemas sociais de todas as espécies. Camila não é uma "estrangeira" apenas por sua nacionalidade portuguesa - ela é uma "estrangeira em visita" à penosa realidade de Glória e, a cada sessão de terapia, ela se espanta e rejeita aquela realidade. Há uma ironia aqui - Camila escuta Glória, mas não a ouve, não existe uma mínima compreensão do que é a vida daquela paciente, inexiste empatia e sobra medo de que toda aquela violência vivida por Glória respingue, de alguma forma, na terapeuta. Incompreendendo e rejeitando aquela realidade, Camila não acolhe a já abandonada Glória - podemos, inclusive, considerar o abandono como um dos temas da obra: o abandono material, social e, principalmente, o emocional. É um filme que pode incomodar - é quase impossível o espectador não se identificar com alguma das personagens, ainda que possa haver diferentes níveis de empatia pela personagem oposta. Também é uma obra dolorosa, pois a vida de Glória não é agradável de se conhecer. Outro tema que permeia o filme é o racismo - o negro é sempre suspeito, ele sempre traz, em seu bojo, a possibilidade da violência, segundo o olhar de Camila e das autoridades. A obra é muito bem construída e levanta questões interessantes sobre empatia, o papel do ouvinte (profissional ou não), preconceito e autocontrole. Há que se destacar o trabalho de Joana de Verona e, principalmente, de Grace Passô - a personagem Glória é fortíssima, complexa, densa e a atriz tira de letra sua construção. Gostei demais do filme, mais um lindo exemplo de cinema nacional de altíssima qualidade!!! Recomendadaço!
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Netflix: ‘Guerras do Brasil.doc’ põe em dúvida nosso caráter pacífico
“O Brasil é um país pacífico”.
Assistindo a cada um dos cinco episódios da série documental “Guerras do Brasil.doc”, esta frase irá soar cada vez mais falsa para você.
A nossa história está repleta de confrontos sangrentos e esta série de Luiz Bolognesi, disponível na Netflix, nos mostra cinco momentos representativos dessa natureza violenta e combativa que entrou definitivamente na formação histórico-cultural do Brasil.
Veja também: Vídeo coloca agressor frente a frente com vítima de racismo
São eles: “Guerras da Conquista”, “Guerras dos Palmares”, “Guerra do Paraguai”, “Revolução de 30” e “Universidade do Crime”, com tema atual, que fala sobre a criação das facções criminosas a partir das guerras e conflitos penitenciários.
Veja também: Massacre em presídio no AM é o maior desde o Carandiru
Através de depoimentos de historiadores, ativistas, professores e pesquisadores compõe-se um painel sobre cada uma dessas guerras que nos possibilita refletir sobre suas raízes e consequências até os dias atuais.
Como por exemplo, é inevitável fazer um paralelo com a atual situação da luta pelos direitos de demarcação da terra indígena e a história de exploração de um povo que habitava aqui já há muitos anos antes da conquista europeia, inclusive em territórios no interior do país.
<img title="Ailton Krenak" data-portal-copyright="Reprodução/Netflix" class="wp-image-1921728" src="https://catracalivre.com.br/wp-content/uploads/2019/06/ailton-krenak-450×253.jpg" alt="Ailton Krenak – líder indígena, ambientalista e escritor brasileiro.” width=”434″ height=”244″ srcset=”http://bit.ly/2XhA74B 450w, http://bit.ly/2ZqZU7M 720w” sizes=”(max-width: 434px) 100vw, 434px” />
Os episódios são independentes entre si e podem ser assistidos fora de ordem, de acordo com seu interesse por tema. Todos trazem observações muito instigantes, números, animações, imagens de arquivo, enfim, muita matéria de reflexão para buscarmos entender como chegamos até aqui do jeito que somos.
No final a gente compreende que no centro da nossa história estão sempre os conflitos.
Entender esse “fio da meada” pode nos ajudar a buscar a construir um futuro mais justo com menos prejuízos, menos confrontos e mais evolução.
Veja também: A questão indígena em quatro minutos
Veja também: Madeireiros invadem terra indígena de Arara no Pará
Netflix: ‘Guerras do Brasil.doc’ põe em dúvida nosso caráter pacíficopublicado primeiro em como se vestir bem
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Documentação: Antropologia do óbvio
O texto “Antropologia do óbvio - Notas em torno do significado social do futebol brasileiro”, de Roberto DaMatta, se caracteriza como uma reportagem publicada na Revista USP, tendo seu corpo fragmentado em subtítulos, apresentando notas de rodapé e se utilizando de uma linguagem explicativa. Sem contar a capa, a obra possui sete páginas e cerca de 29 parágrafos (alguns médios e outros grandes) e se apresenta em preto e branco.
O trabalho denota um grande conhecimento acadêmico do autor e também parte de sua visão de mundo. Nota-se que o uso de termos como “burguesia” e “indústria cultural” para explicar as interferências e transformações do futebol na sociedade brasileira remonta inspirações nas teorias sociais de Karl Marx e da Escola de Frankfurt (principalmente Theodor Adorno). Diversas são as referências a Nelson Rodrigues, jornalista e nome venerado no jornalismo esportivo brasileiro, a quem também o autor presta homenagem em sua memória. Junto menções de conceitos desenvolvidos por filósofos, sociólogos e jornalistas, DaMatta utiliza linguagem simples e alguns termos coloquiais. Para ilustrar a linha de raciocínio adotada, são usados pares de palavras opostas (“campeões” e “comuns”, “brancos” e “negros”, “ricos” e “pobres”, “homens” e “mulheres”, entre outros).
As imagens adotadas para compor a narrativa também revelam que uma das intenções do autor é mostrar quais os conflitos existentes na interação do futebol com a sociedade brasileira. Um exemplo é a foto de capa, que traz o jogador Leônidas, que enfrentou o racismo durante boa parte de sua carreira e consagrou-se como um dos maiores nomes do futebol nacional (sendo apelidado de “Diamante Negro”). Na foto, Leônidas aparece com o punho cerrado hasteado e beijando sua camisa, transmitindo uma mensagem de luta e orgulho. Duas imagens que se seguem são desenhos de jogadores com modelos antigos de uniformes e cabelos arrumados, denotando que pertencem às classes sociais mais elevadas. A última imagem é uma espécie de gráfico que descreve uma partida de futebol, na qual cada jogador é marcado por outro. Os pares que se formam são todos compostos por um jogador negro e outro branco.
Logo, “Antropologia do óbvio - Notas em torno do significado social do futebol brasileiro” expõe um caráter informativo, filosófico e antropológico. Sua forma e linguagem (escrita e imagética) explicitam de forma mais clara o posicionamento do autor frente ao tema e o raciocínio no qual se baseia a análise. Perspectivas históricas e sociais se juntam para mostrar como o futebol transformou a sociedade brasileira com sua chegada ao país e disseminação entre a população.
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Negra, albina e com deficiência visual: ex-aluna da rede pública é aprovada em 1º lugar nas cotas para psicologia na USP
Depois de discussões políticas e de conflitos de identidade, Ana Beatriz Ferreira entendeu que poderia se declarar negra, mesmo com a baixa produção de melanina na pele. Ela conta como superou a defasagem do ensino público até chegar à universidade. Negra, albina e com deficiência visual: jovem passa em 1º lugar em psicologia na USP Aos 20 anos, Ana Beatriz Ferreira foi aprovada em 1º lugar no curso de psicologia da Universidade de São Paulo (USP), em uma das modalidades de cotas. Moradora da periferia da capital paulista e ex-aluna da rede pública, a jovem tem uma trajetória marcada pelo diagnóstico tardio de deficiência visual e pela descoberta da própria identidade racial. Ana nasceu com albinismo, uma desordem genética que prejudica a produção de melanina. Sua mãe, empregada doméstica, é negra. Seu pai, eletricista aposentado, é branco. “Era algo muito conflitante para mim. Quando era criança, eu via o racismo que minha mãe, minhas tias e minhas amigas enfrentavam”, diz. “Eu não queria ser uma pessoa negra e passar por aquilo. Tentei usar o albinismo para me tornar branca, e alisei meu cabelo.” Ana Beatriz nasceu com albinismo. Na foto, ela está no colo da mãe. Arquivo pessoal Mas, aos poucos, a partir da pré-adolescência, a compreensão de Ana acerca de sua identidade mudou. Por meio de seu irmão e de seus colegas do colégio, ela entrou em contato com discussões políticas e conheceu ideias do feminismo negro. “A partir dali, fiquei meio confusa. Eu sou uma pessoa branca ou não sou? Eu tenho privilégios ou não tenho? O que eu sou? E aí, decidi que não alisaria mais meu cabelo e que aceitaria minha negritude”, afirma. “O albinismo pode tirar a melanina, mas existem pessoas albinas que são negras, brancas ou amarelas. Para mim, era importante reivindicar esse lugar.” Ana Beatriz posa ao lado de seu irmão, Luiz Erica Serra/Arquivo pessoal Depois de “muitas discussões internas e externas”, Ana resolveu se inscrever no Sistema de Seleção Unificada (Sisu) na modalidade de cotas para pretos, pardos e indígenas que tivessem estudado na rede pública. “Eu não queria ocupar um espaço que não era meu; não queria ser oportunista. Entendi que meu lugar era o de pessoa negra: o de pessoa negra e albina”, diz. Descoberta tardia da deficiência visual Moradora da periferia na Zona Leste de São Paulo, Ana sempre estudou em escolas públicas. No ensino fundamental, para enxergar a lousa, precisava se levantar e ficar bem perto dela — os óculos de grau não resolviam a dificuldade. Foi só aos 13 anos que ela entendeu por quê: o albinismo não era apenas cutâneo, e sim ocular, causado por uma baixa síntese de melanina também nos olhos. Isso comprometia significativamente sua visão. Ana descobriu tardiamente que tinha baixa visão Alef Ghosn/Arquivo pessoal Descobrir, mesmo que tardiamente, que tinha uma deficiência foi determinante para lutar por novos direitos e recursos de acessibilidade. Passou a requisitar adaptações que facilitavam sua vida, como a ampliação nas letras das provas do Enem e dos vestibulares. Sem luz e com vazamento de água: as dificuldades no ensino público O diagnóstico tardio fez com que Ana perdesse boa parte do conteúdo ensinado na escola. Conforme crescia, não se sentia mais à vontade para se levantar e andar até a lousa. “Eu não queria ser vista. Fui desenvolvendo meus métodos, né? Pegava o caderno dos amigos depois. Mas aí já tinha perdido todo o passo a passo da explicação do professor. São barreiras que enfrentei”, diz. A própria infraestrutura da rede pública também comprometia o processo de aprendizagem da jovem. No ensino médio, de 2015 a 2017, ela se mudou para uma escola estadual no bairro do Tatuapé. Foram anos turbulentos, com greves de funcionários e escândalos na compra de merendas. “Para mim, foi um momento importante enquanto cidadã. Minha formação política começou ali, quando vi a tentativa de desmantelarem o ensino público. Mas foi muito desafiador”, lembra. “E a gente ainda tinha problemas com falta de luz — no período da tarde, eu precisava ir embora mais cedo, porque não tinha iluminação natural. Perdia a aula. E também, às vezes, vazava água quando chovia. Enchia tudo: corredor, sala.” Estudos para o Enem Quando Ana terminou o ensino médio e foi prestar vestibular, sentiu “que essas questões pesaram bastante”. “É uma defasagem em vários sentidos: por causa da estrutura da escola, do diagnóstico tardio da minha deficiência, das greves e movimentações políticas para conseguirmos melhorias na educação. Eram muitas dificuldades”, diz. A jovem ainda não tinha certeza se queria entrar na universidade ou se deveria focar no trabalho. “Na periferia, quando seus recursos são escassos, existe esta questão: você está entrando na vida adulta e vai ficar dependendo dos seus pais? Eu queria me sustentar”, conta. Ana trabalhou como modelo até decidir se dedicar só aos estudos Daniel Faviere/Arquivo pessoal Ela até entrou em um cursinho popular, voltado para estudantes de baixa renda, mas se dedicou mesmo à carreira de modelo, após ser descoberta por um fotógrafo na rua. Depois de dois anos, em 2019, ela optou por só estudar e buscar uma vaga na universidade. Teve apoio do cursinho gratuito MedEnsina (2019) e, em 2020, conseguiu uma oportunidade de não pagar as mensalidades do Poliedro. “Comecei a estudar para valer. Descobri que poderia ter uma bolsa sendo monitora lá. Fazia atividades para a instituição e tinha acesso a toda a estrutura. Pensei: agora, vou brilhar!”, relata. Mas, semanas depois do início das aulas, começou a pandemia de Covid-19. Ana precisou se adaptar ao formato de ensino remoto e encontrar um espaço para estudar em casa. “Fazer essa transição foi difícil. Eu via a realidade externa no meu bairro, com pessoas morrendo; foi sofredor. Não sei se eu teria conseguido me preparar se não fosse a estrutura do Poliedro”. No fim de 2020, ela prestou Fuvest e Enem, para tentar uma vaga na USP. Na primeira, não foi aprovada — faltou muito pouco. Mas depois, pelo Sisu, conquistou o primeiro lugar em psicologia em uma das modalidades de cotas. “Pensei em outros cursos de ciências humanas, porque achava que a psicologia fosse individualizada e não se voltasse às pessoas da periferia. Como eu seguiria uma carreira sem poder me voltar para os meus? Mas aí descobri que existia, sim, uma psicologia mais plural e diversa, articulada com questões de raça, classe e gênero”, afirma Ana. Ana e o irmão, Luiz, no colo da mãe Arquivo pessoal Ela faz questão de reforçar que seus resultados não foram alcançados apenas por esforço próprio. “Meu caso não pode ser uma comprovação de que a meritocracia funciona no nosso país. Eu tive uma série de privilégios: apoio da minha família, acesso a cursinhos que me ajudaram, possibilidade de parar de trabalhar por um período para estudar. Claro que existe uma questão de dedicação pessoal, mas também há uma rede de apoio que nem todo mundo tem.” As aulas na USP já começaram. E a luta política continua: a estudante faz parte do coletivo negro “Escuta Preta”, com outras estudantes de psicologia. “Sinto que consigo entender e criar minha própria voz, minha própria história, sem precisar de terceiros falando o que sou ou que não sou.”
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Todos sabemos que no mundo há grandes diferenças entre pessoas e que, por estupidez e ignorância, cria-se o preconceito, que gera muitos conflitos e desentendimentos, afetando muita gente. Porém, onde estão os Direitos Humanos que dizem que todos são iguais, se há tanta desigualdade no mundo?
Manchetes de jornais relatam: “Homem negro sofre racismo em loja”; “Mulheres recebem salários mais baixos que os homens”; “Rapaz homossexual é espancando na rua”; “Jovens de classe alta colocam fogo em mendigo”; “Hospitais públicos em condições precárias não conseguem atender pacientes”; “Ônibus não param para idosos”. “Escola em mau estado é interditada e alunos ficam sem aula”; e muitas outras barbaridades. Isso mostra que os governantes não estão fazendo a sua parte.
Mas pequenos gestos do dia a dia – como preferir descer do ônibus quando um negro entra nele; sentar no lugar de idosos, gestantes e deficientes físicos, humilhar uma pessoa por sua religião, opção sexual ou por terem profissões mais humildes – mostram que também precisamos mudar.
A questão da etnia vem sendo discutida no mundo todo, inclusive no Brasil, que é um país mestiço, onde ocorre a mistura, principalmente, de negros, brancos e índios. Por mais que se diga que todas as pessoas são iguais, independente da cor de sua pele, o racismo continua existindo. Músicas, brincadeiras, piadas e outras formas são usadas para discriminar os negros. Até mesmo a violência se faz presente, sem nenhum motivo lógico.
As escolas fazem sua parte criando disciplinas que mostram a importância que cada cultura tem para a cultura geral do país. E educando as crianças para que não cometam os mesmos erros dos mais velhos, pois preconceito se aprende, ninguém nasce com ele.
Enfim, cada pessoa pode fazer a sua parte, acabando com qualquer tipo de discriminação que existe, com qualquer tipo de preconceito que sente, percebendo que todos nós somos iguais, independente de raça, credo, idade, condição social ou opção sexual. Esse é o primeiro passo para que cada um respeite os direitos dos outros. O direito de um acaba quando começa o do outro. E com a população conhecendo seus direitos e praticando seus deveres ela fica mais unida. E a voz que grita para que os direitos humanos sejam exercidos soará bem mais alta, pois já diz o ditado: “A união faz a força”.
#Diga_não_ao_racismo
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O que um historiador tem a falar sobre a intervenção no Rio de Janeiro?
Texto de Lucas Pedretti (*)
“Temperatura sufocante. O ar está irrespirável. O país está sendo varrido por fortes ventos. Max.: 38O, em Brasília. Min.: 5o, nas Laranjeiras”. No dia 14 de dezembro de 1968, dia seguinte à decretação do AI-5, uma pequena nota com essas palavras foi publicada no canto superior direito do Jornal do Brasil. Era a forma de protesto e contestação possível. No dia 16 de fevereiro de 2018, todos nós acordamos com a notícia de que o Presidente da República publicaria um decreto, baseado no artigo 34 da Constituição, estabelecendo a intervenção federal na área da segurança pública do estado do Rio de Janeiro, nomeando como interventor um general do Exército[1]. Muito já tem se falado sobre o tema, tamanha sua gravidade. Neste breve texto, procuro apresentar alguns subsídios críticos ao debate desde a perspectiva da História. O olhar do historiador é treinado para levar em conta a dimensão do tempo. E desde Fernand Braudel, aprendemos que nossas análises podem estar pautadas em diversas temporalidades: a longa, a média e a curta. Sem muito rigor acadêmico, eu acrescentaria, ainda, a temporalidade curtíssima. Então, nos inspiremos nessa divisão para observar a intervenção federal no Rio.
O elemento central da temporalidade curtíssima é o golpe de 2016 e seus desdobramentos. A necessidade de aprovação de contrarreformas que retiram direitos e a perspectiva da corrida eleitoral de 2018 são os dois dados centrais. Do ponto de vista da reforma da previdência, há dois argumentos: a intervenção tanto pode ajudar na repressão a eventuais manifestações populares contrárias, quanto pode ser uma forma de o governo jogar a toalha sem parecer derrotado. Penso que o segundo aspecto tem mais força, inclusive porque permite ao governo controlar a pauta do debate público, mudando de uma agenda impopular para uma altamente popular (pesquisas já indicam que a aprovação à intervenção é superior a 80%).
No que diz respeito às eleições, há pelo menos três pontos importantes: 1) com a exclusão de Lula do páreo, Bolsonaro liderava as pesquisas. Essa ação de Temer abre espaço para que o candidato governista (talvez ele próprio), dispute esse eleitorado, retirando de Bolsonaro o monopólio do discurso da força e da ordem. 2) Raul Jungmann, ministro da Defesa, tem também suas pretensões eleitorais, inclusive já foi ventilado como possível candidato ao governo estadual do Rio de Janeiro. 3) Ainda que pareça mais radical, a intervenção federal, a depender de para onde caminhe – lembrando que se trata de uma medida imediatamente anterior aos estados de Defesa e de Sítio – pode, inclusive, colocar em suspenso a própria realização das eleições. Muito havia sido ventilado sobre a possibilidade de o governo tentar suspender as eleições com a aprovação da emenda parlamentarista. Talvez tenham encontrado um novo caminho. Se aparentemente esse terceiro ponto entra em conflito com os dois anteriores, trata-se do oposto: se essa ação desesperada não funcionar para viabilizar eleitoralmente algum candidato do campo governista, nenhuma outra poderá. Nesse caso, a solução dos golpistas pode ser inviabilizar as próprias eleições.
A temporalidade curta nos remete a uma série de intervenções das Forças Armadas na segurança pública do Rio de Janeiro que ocorrem desde 1992, quando os militares foram chamados para a segurança da Rio-92. Depois, ocorreram a Operação Rio I e II, em 1994 e 1995. Mais recentemente, sob a lógica das chamadas Operações de Garantia da Lei e da Ordem, houve os megaeventos e as ocupações do Exército no Complexo do Alemão, na Maré e na Rocinha. Entra em jogo aí, também, o papel que o Brasil desempenhou na Minustah – Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti. Por fim, há também a década de vigência das UPPs, que caminharam de (quase) consenso para fragoroso fracasso.
Essa perspectiva nos permite perceber que o discurso da ocupação militar de certos espaços da cidade vem sendo dominante como suposta solução para os problemas da segurança pública. Contou com o apoio de ONGs, intelectuais supostamente progressistas e foi colocada em prática (e aprofundada) inclusive pelos governos petistas – ou com o apoio deles. Qualquer análise minimamente séria de todas essas experiências demonstra sua total ineficácia para reduzir o problema da violência. Pelo contrario, desde 1992 a atuação dos militares tem como resultado a redução do sentimento de insegurança para parcelas das classes médias e elites por um curto período de tempo e o crescimento exponencial de denúncias de violações de direitos humanos, especialmente contra os moradores de favelas, majoritariamente negros. Que o digam David da Silva, Marcos Paulo Campos e Wellington da Costa, jovens moradores do morro da Providência que foram sequestrados por militares do Exército e entregues a varejistas de drogas de uma favela dominada por facção rival à da Providência para serem executados.
A Polícia Militar dá início ao processo de transição com a Força de Pacificação no patrulhamento do conjunto de favelas da Maré, na zona norte do Rio (Tomaz Silva/Agência Brasil)
A média temporalidade tem a ver com a ditadura (1964-1988). Foram mais de duas décadas sob um regime que interditou o debate político na esfera pública e buscou difundir na sociedade o ideal de ordem e progresso – travestido nos termos “segurança nacional e desenvolvimento”. Do ponto de vista da arquitetura da segurança pública, o decreto-lei 317 de 1967 reorganizou administrativamente as polícias militares estaduais, subordinando a decisão sobre quem seria o comandante geral da polícia militar de cada estado ao ministro da Guerra, exigindo ainda que o nome escolhido para a função deveria ser um militar do Exército.
Daí emerge a percepção da completa ausência de políticas de memória, verdade, justiça, reparação e reformas institucionais que deveriam ter se seguido à ditadura. A transição, controlada pelos militares, impediu que os governos civis tivessem poder para exigir que as instituições repressivas – especialmente as Forças Armadas e as polícias militares -prestassem contas das graves violações de direitos humanos cometidas. Com isso, continuam operando sob a lógica da guerra contra o inimigo interno. Controle externo, subordinação aos poderes civis, respeito aos direitos humanos e à democracia, transparência e accountability são palavras que inexistem no vocabulário dessas instituições.
Por fim, adotar um olhar que privilegia a longa temporalidade nos obriga a colocar no centro da análise os séculos de escravidão e sua atualização na forma do genocídio perpetrado pelo Estado contra a população pobre, negra e periférica. Como se sabe, o Brasil foi a segunda maior nação escravista e o último país a abolir a escravidão. As instituições de controle social foram moldadas para dar conta dessa população. O medo de um novo Haiti (aqui, em referência à sua condição de única experiência de independência que teve como ator central os escravizados), analisado de forma magistral por Vera Malaguti em O medo na cidade do Rio de Janeiro, era o que pautava a organização e atuação das forças policiais. E, como demonstra Sidney Chalhoub no livro Cidade Febril, quando em fins do século XIX a escravidão foi formalmente abolida, gestou-se, a partir da influência de manuais policiais franceses, a noção de “classes perigosas”. A ideia de que os pobres e negros naturalmente carregariam certos vícios que os tornavam perigosos influenciou profundamente as reformas policiais que estabeleceram, nas primeiras décadas da República, a polícia “moderna” no Brasil.
Com esse olhar, podemos perceber a lógica profunda que orienta o decreto de intervenção publicado ontem. Se levamos em conta a existência desse racismo estrutural que é o elemento chave da constituição de todas as instituições e políticas de segurança pública já adotadas em nossa história (com notáveis exceções), percebe-se que se trata, aqui, de mais uma reatualização daquele que parece ser o objetivo central do Estado desde que o Brasil é Brasil: o controle social das “classes perigosas”, que aqui tem endereço e cor de pele muito definidos.
Deve-se pesar quais desses elementos possuem preponderância para explicar a intervenção federal. Mas perceber que todos eles estão em jogo é uma forma de evitar análises apressadas ou que promovem cegueiras deliberadas.
(*) Lucas Pedretti é historiador.
Nota:
[1] Do ponto de vista estritamente legal, trata-se da aplicação do artigo 34 da Constituição. Como a expressão “intervenção militar” tem ocupado papel de destaque no debate público nos últimos anos, vale destacar que a ação do Governo Federal se trata de uma intervenção federal, capitaneada por um militar. Formalmente, não se trata de uma intervenção militar (supostamente) prevista no famigerado artigo 142. Ou seja, é uma decisão política do governo, e não uma decisão autônoma das Forças Armadas. Do ponto de vista político, de modo a acentuar a crítica à ação do presidente, penso ser válido nomear o ato como uma intervenção militar.
Como citar esta entrevista:
PEDRETTI, Lucas. O que um historiador tem a falar sobre a intervenção no Rio de Janeiro?. In: História da Ditadura: novas perspectivas. Disponível em: https://historiadaditadura.com.br/destaque/intervencao-federal-rio/. Publicado em: 18 Fev 2018. Acesso: [informar data].
Crédito da imagem destacada:
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#lucas pedretti#pedretti#intervenção militar#rio de janeiro#repressão#intervenção#terrorismo de estado
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Monteiro Lobato: alma de boxeador
Ninguém descreve a trajetória do sol sobre a paisagem brasileira como ele. O amanhecer é a promessa do país ainda virgem da devassidão europeia, que tem uma chance na esperança de ser um lugar agradável de viver, onde poderia imperar a harmonia e o equilíbrio entre as pessoas. Mas quando o dia avança e a bigorna do sol acaba tisnando a paisagem, eis que se revela o país insuportável, onde medra o fogo e o crime ecológico.
Os originais do livro de estreia do polemista Monteiro Lobato, “Urupês”, uma coletânea de textos analisados neste ensaio, dormiu algumas noites, esquecidos, na garçonière usada pelos modernistas liderados por Oswald de Andrade, em São Paulo. Foi em 1917, muitos anos antes da semana de 22. Depois foram devolvidos ao autor, que conseguiu definir um papel transgressor nesta obra que mudou a literatura brasileira por vários motivos, especialmente por um: o de ter inventado o povo no genial perfil do Jeca Tatu, personagem vítima do latifúndio e do colonialismo que foi apropriado pela cultura brasileira como um vetor de visibilidade e insurgência.
O modernismo é um movimento amplo, que extrapola a Semana e o enfoque paulistano (da capital). Nasceu do inconformismo do talento diante da mesmice da cultura, que estava amarrada a velhos esquemas agrários, culturais, políticos. É pioneiro mais no Rio de Janeiro do que em outros lugares, e não se circunscreve apenas à literatura, mas à caricatura, ao panfletarismo, ao deboche e à denúncia pura e simples. Vejo Monteiro Lobato como um dos primeiros modernistas e sua importância revolucionária foi reconhecida mais tarde pelo próprio Oswald de Andrade, quando se reconciliou com ele depois de anos de rusgas e ressentimentos.
Mas Lobato era turrão e inconformado demais, e além disso, vivia no interior, para fazer parte de um movimento de inspiração europeia. Lobato bebia em fontes abundantes da literatura universal e aferrava-se à narrativa coesa, eficiente e encantadora, inspirada pelo mato que o cercava. Kipling e Maupassant são suas referências em “Urupês”, livro pioneiro desse modernismo do fundão, uma obra generosa em neologismos e soluções narrativas radicais (onde uma onomatopeia, como bééé, tem a força de muitos parágrafos). Nessa sua radicalidade, a abordagem que faz da natureza, como parte da estrutura social, é única.
Ninguém descreve a trajetória do sol sobre a paisagem brasileira como ele. O amanhecer é a promessa do país ainda virgem da devassidão europeia, que tem uma chance na esperança de ser um lugar agradável de viver, onde poderia imperar a harmonia e o equilíbrio entre as pessoas. Mas quando o dia avança e a bigorna do sol acaba tisnando a paisagem, eis que se revela o país insuportável, onde medra o fogo e o crime ecológico. É na devastação da natureza, reflexo do mau uso da terra, que confina os homens nos ermos sem cidadania e deixa impune a elite cruel e exploradora, que o Brasil mostra a cara. Mas ainda é cedo para demonstrar todo o horror que a paisagem inspira. Quando chega o entardecer, com ele chega a tristeza, o banzo, o desespero da solidão na natureza entregue ao sabor da maldade humana.
A noite então vem com seus fantasmas e assassinatos, como no conto inicial “Os faroleiros”, em que dois sujeitos diante do breu compartilham uma história de terror ocorrida num farol perdido no meio do mar. Apenas duas pessoas moravam no farol e isso bastava para haver o conflito, o ódio mútuo, a desconfiança e por fim a violência. Não há como insurgir-se contra o império natural da sociedade de classes, dividida no país que poderia ser um paraíso. No conto “Bocatorta”, a feiura de quem vive entocado, expulso da comunidade, no meio de uma clareira imunda, revela um Quasímodo brasileiro, encarnando todos os preconceitos existentes contra a humanidade que veio habitar a nação. E na história em que dois vizinhos se atracam devido às diferenças de personalidade e interesses, não há como melhorar a produção que acaba sendo devorada pelas pragas. Em outro conto, um filho adotado imita o mata-pau, destruindo a família que o recebeu.
O resultado dessa fatalidade da natureza, como reflexo da incompetência humana de se resolver em sociedade, é o estigma de nascença, rastro de um assassinato gerado pelo ciúme. O pessimismo das histórias nada tem a ver com o romantismo velho de guerra. É pura ponte entre a natureza destruída e a sociedade descosturada, ambas territórios de frustração e miséria. Foi essa lucidez e essa radicalidade que jogaram Monteiro Lobato para o alto no cenário das letras nacionais. “Urupês” vendeu como pãozinho quente. Todos queriam enxergar o país oculto na ramagem, todos queriam ter acesso à verdade que se escondia sob toneladas de papel e fingimento.
O extirpador de carrapatos
“Urupês”, de José Renato (mais tarde, Bento) Monteiro Lobato, é uma sementeira farta de criação e nacionalidade. Com 14 textos entre contos, crônicas e ensaios, o livro é um primor de construção literária (o boxeador Lobato não perde uma só frase, nenhuma letra é colocada em vão). Por que levei tanto tempo para ler essa obra que praticamente fundou a indústria editorial no Brasil, pois seu sucesso viabilizou a empresa do autor numa época em que os livros eram impressos na Europa? Sei lá. Só sei que fiquei energizado de novo com o texto lobatiano, como acontecia quando eu mergulhava, anos a fio, no “Sítio do Pica-Pau Amarelo”.
É o meu escritor favorito. Pelo que faz com a palavra, parece que o vemos contando histórias. Enxergamos claramente o conteúdo de sua narrativa, inventiva até o osso e brutal, de uma brutalidade lúcida e humana que nos faz falta como nunca. E que se presta, exatamente pela sua força, a vários equívocos.
O grande feito de Lobato nesse livro foi denunciar o esquema que domina o país por meio da política e da posse e mau uso da terra. A malandragem, a mentira, a crueldade das pessoas poderosas escorrem como fel das páginas destas narrativas. A chamada elite (o grupo privilegiado que se beneficia de toda essa bandalheira) impera na nação roubada, vilipendiada e por isso mesmo, condenada ao atraso.
Mas Lobato sabia de tudo. Não iria fazer uma denúncia pão-pão, queijo-queijo. Ele simplesmente vira o binóculo ao contrário e seduz o leitor (os brasileiros vítimas desse sistema de exclusão e que estão em todas as classes sociais, especialmente a classe média, que comprava seus livros) criando a representação da ponta do varejo da exclusão. Sua definição do caboclo, que não deita raízes sobre a terra latifundiada, e é tocado de um ermo para outro, é o poder escancarado dos coronéis do mando e do garrote.
Ao inventar o Jeca Tatu, Lobato decifrou a unha encravado da vida comunitária no Brasil. A partir do Jeca, toda uma linhagem cultural se formou, de Mazzaroppi à música sertaneja. O que ele denuncia como ausência de arte no caboclo acabou se transformando em arte popular genuína, pois o povo entendeu o recado e assenhorou-se do retrato para tornar-se visível na nação cega.
Apesar de um recado tão explícito, o trabalho de Lobato costuma gerar calúnias sobre ele. Pode-se imaginá-lo preconceituoso em relação ao povo e a suas artes. Pode-se tachá-lo de elitista bruto ao comparar o caboclo a uma praga silvestre. Mas seria pobreza mental em demasia não ver exatamente nisso que parece ser preconceito ou racismo, o toque genial de sua personalidade literária. A terra roubada nos cartórios e na política serve só de enfeite para o enriquecimento, pois este vem do compadrio, das propinas e dos golpes. Ao descrever a fazenda do ex-colega da faculdade que enriqueceu com o casamento, Lobato explica: “Fausto era fazendeiro amador. Tudo ali demonstrava longo dispêndio de dinheiro sem a preocupação da renda proporcional; trazia-o no pé de quem não precisava da propriedade para viver”.
No clássico “O Comprador de Fazendas” (transformado em filme), a terra dá prejuízo e apenas engambelando os possíveis compradores será possível tirar o pé da jaca. Em “Um Suplício Moderno”, ele diz textualmente: “É honra penetrar na falange gorda dos carrapatos orçamentívoros que pacientemente devoram o país”. Um país das Arábias segundo sua definição, em que medram o analfabetismo e o aliadismo e a falsa literatura (“o romance traduzido de Jaime Ohnet”).
Ao longo de todo o livro, o leitor tem a chance de gargalhar com as tiradas de Lobato, criador de vários neologismos como olhodaruável (situação dos que têm chances, depois de uma eleição, de ir para o olho da rua). Nem se trata de ironia, esse biscoito fino de massas sedosas. É escracho mesmo, é galhofa, é coragem de dizer com todas as letras o que vai pela nação embasbacada. Foi por essa contundência que Lobato fez sucesso e se destacou como a grande personalidade da primeira metade do século vinte. Uma obra que causa polêmica ainda hoje, pois os inimigos de Lobato continuam por toda a parte: os burros titulados, os medíocres cruéis, os carreiristas. E as vítimas apontadas por ele continuam na boca das elites imbecis, ainda convencidas de que o povo excluído é igual ao caboclo descrito por Lobato há mais de cem anos. Esqueceram da profecia de Antônio das Mortes, o matador de cangaceiro (o caboclo nordestino que se insurgiu) em “Deus e o Diabo”: “Ainda vai haver uma guerra grande nesse sertão”. Depois não digam que Monteiro Lobato não avisou.
Monteiro Lobato: alma de boxeador Publicado primeiro em https://www.revistabula.com
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Liberdade de Expressão para negacionismo e macarthismo?!
Helena Celestino (Valor,10/07/2020) entrevistou uma intelectual norte-americana de 78 anos muito lúcida a respeito das dificuldades da vida cultural e política atual.
Quando Donald Trump foi eleito, a historiadora Joan Scott começou a sentir-se ansiosa, com medo de ameaça indeterminada, ao acompanhar medidas do novo governo dos EUA. “Era, de alguma maneira, o retorno do que estava reprimido, não só para mim, mas para o país inteiro”, escreve ela em artigo sobre como a direita fez da liberdade de expressão uma arma.
Era como se o macarthismo (1950-1957) tivesse voltado: naquela época, quando ela tinha 10 anos, seu pai, professor orgulhoso do seu trabalho, foi demitido por recusar-se a dizer se era ou não comunista, em nome da defesa da liberdade acadêmica. Passaram-se sete décadas até professores voltarem a entrar na mira da extrema-direita americana. “A expertise do conhecimento está sob ataque”, diz.
Historiadora, professora de Princeton, autora de livros, Joan Scott, de 78 anos, é uma feminista aclamada como uma das criadoras do conceito de gênero.
Valor: A senhora diz, em artigo, que a direita transformou em arma a liberdade de expressão. Como isso vem acontecendo?
Joan Scott: A Primeira Emenda impede punição ao discurso de ódio, mas a definição da liberdade de expressão foi muito ampliada, é sem limite. Se falo sobre a Revolução Francesa ou sobre a teoria de gênero, em um curso, um estudante pode dizer: “Não, acho que a hierarquia entre os sexos foi feita por Deus”. Ele tem o direito, mas se dou uma nota baixa por causa disso, limito o seu direito de livre expressão. Ou seja, a verdade não é mais levada em conta nessa ideia de “free speech”. A liberdade de expressão é boa, mas a Constituição diz que é o Estado que não pode negar esse direito aos cidadãos, é uma relação entre o Estado e os cidadãos. Num curso, isso não pode contar. Sou a autoridade.
Valor: No artigo, a senhora descreve como Trump mirou intelectuais e professores para reduzir a liberdade na academia. Ao fim do governo, o que ocorre com as universidades?
Joan: A expertise do conhecimento está sob ataque. A competência dos professores para ensinar está sob ataque, a ideia é que as salas de aula são instrumentos politizados por professores e alunos. No começo, o descrédito era para as ciências sociais e humanas, para cursos de literatura ou de estudos sobre a mulher. A briga era sobre se esses cursos só expressam a opinião dos professores e não são científicos. Agora, mesmo medicina e biologia são contestados: se os cientistas dizem que a cloroquina não é boa para a saúde, não são levados a sério. Bom, Trump já mandou usar água sanitária contra o coronavírus. Na vida cotidiana, as pessoas que atacam a ciência têm mais legitimidade. As aulas de justiça social, com olhar para as estruturas de discriminação da sociedade, são chamadas de propaganda. São deslegitimadas.
Valor: A senhora ficou surpresa com a força do conservadorismo?
Joan: Sim e não, porque vivi o macarthismo nos anos 50 nos EUA. Vivi esse momento de ataque aos intelectuais e a todos os tipos de crítica. Já tinha essa experiência. Acho que estamos vivendo a mesma coisa que nos anos 50.
Valor: Os dois momentos são comparáveis?
Joan: Sim, mesmo que existam grandes diferenças. Não existe um personagem que faz listas negras, mas, em Berkeley, há um professor, voz importante da extrema- direita, que fez uma lista de 101 professores considerados antissemitas porque criticam a política israelense atual. Tentou demitir os que criticaram o caminho tomado por Israel e os que apoiaram movimentos como Black Lives Matter. Em todos os lugares existem pessoas que atacam professores que dão cursos sobre justiça social ou com críticas ao momento político nos EUA. Os cursos de gênero, ideia crítica que analisa as relações de força das mulheres, são taxados de propaganda comunista. A Igreja Católica não aceita a ideia de que gênero é produzido na história, e não só um fato biológico. É a maneira de silenciar as vozes críticas que poderiam mudar a organização da sociedade e torná-la mais igualitária.
Valor: O discurso de ódio de Trump mudou muito a vida política americana?
Joan: Acho que foi a Presidência de [Barack] Obama que reabriu a questão de raça. Com ele como presidente, os brancos reforçaram suas posições racistas, sentiram medo de perder seu lugar de superioridade em relação aos negros na sociedade. Foi Trump que explorou esse medo e deu permissão aos racistas de se exprimirem, dizerem coisas inaceitáveis. Antes, podiam se mostrar racistas na família ou em privado, mas não em público. Um jornalista da “The Atlantic” escreveu que Trump é
o primeiro presidente branco, querendo dizer que encarnou a ideologia da supremacia branca e liberou as pessoas para exercerem seu racismo, fazer coisas inaceitáveis contra os afro-americanos. A libido racista escapou com Trump. Foi o fim do politicamente correto, que silenciava o verdadeiro sentimento das pessoas em relação a raça, gênero, colonialismo.
Valor: Como a senhora vê os protestos do Black Lives Matter?
Joan: Estou no Maine, terra de pescadores com 3 mil habitantes. No verão, pessoas como eu aparecem, e muitos aposentados moram aqui. Depois do assassinato de George Floyd, a população local colou cartazes do Black Lives Matter. Outro dia passei em frente a uma casa e estava escrito “White Lives Matter, All Lives Matter” (Vidas Brancas Importam, Todas as Vidas Importam). Essa família foi ficando mais raivosa, e ontem tinha o cartaz “Ninguém liga para a gente, só querem saber dos negros”. A casa mostra que é uma família de trabalhadores que, é verdade, sentem que ninguém se importa com eles. É questão de classe: ele é branco, classe trabalhadora, achava que Trump ia cuidar dele, que expressa a sua raiva. Esse cartaz mostra que o que acontece é raiva visceral, ansiedade racial de os políticos agora só cuidarem dos negros. A primeira vez que li, fiquei com raiva, porque era um cartaz enorme, rabiscado: todas as vidas contam, mas a questão é que a vida dos negros nunca foi importante para os políticos na sociedade americana e para a polícia. Essa família odeia a atenção dada aos negros porque para ela continuam não ligando. Isso explica a maneira como a direita usa essa noção para agrupar a raiva da classe trabalhadora branca contra negros. É parte do jogo dizer que não os levam em conta, ninguém se preocupa com eles.
Valor: A senhora já vê mudanças concretas?
Joan: Sim, nos controles da polícia. Em Mineápolis, cidade onde Floyd foi assassinado, o conselho da prefeitura decidiu mudar a organização da polícia. Nesta semana, muitos policiais pediram aposentadoria porque não querem mais trabalhar lá. Outros telefonaram dizendo que estavam doentes. A força da polícia diminuiu, a mudança da forma de atuação da polícia vai ser replicada nas grandes cidades. É importante que o conflito seja lançado, não se pode dizer que isso já mudou a polícia, mas a tentativa de mudança começou. Haverá conflitos muito difíceis antes que a verdadeira mudança chegue.
Valor: Há semelhanças dos protestos atuais com os de 1964 nos EUA e 1968 na França?
Joan: Pessoas como Alexandria Ocasio-Cortez [congressista democrata] são importantes, se exprimem de maneira crítica, não sei como avaliar a reação do cidadão médio americano. É verdade que esses protestos representam possibilidade de mudanças profundas, é momento de esperança trazido por esses movimentos, protagonizados sobretudo pelos jovens negros e brancos. Não falam só do racismo, mas da estrutura racista da sociedade americana.
Liberdade de Expressão para negacionismo e macarthismo?! publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com
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O Espiritismo e o Racismo
Reprodução Web A destruição dos preconceitos de casta e de cor é um dos objetivos do Espiritismo. Isso é bem claro na kardequiana. O progresso da civilização passa, necessariamente, pela abolição de toda e qualquer forma de preconceito. O Espiritismo, “destruindo os preconceitos de seita, de casta e de cor, ensina aos homens a grande solidariedade que os deve unir como irmãos”. Nesse aspecto, do progresso da Humanidade, o Espiritismo pode ter uma influência muito importante, devido à ampla visão que oferece, do homem, da sociedade e do cosmos. Antes de se achar sujeito à determinada cultura, nacionalidade, etnia ou religião, o homem é um ser cósmico, um cidadão do universo. Esse princípio, se bem compreendido, faz ver a realidade sob uma outra ótica, sem os preconceitos generalizados que se encontram ainda arraigados na alma humana. Para os Espíritos elevados, “a pátria é o Universo; na Terra, é aquela em que possui maior número de pessoas simpáticas”. Pelo entendimento dos mecanismos que regem a lei da reencarnação, a superioridade que certos grupos étnicos atribuem a si torna-se insustentável e até ridícula. Esse tipo de postura discriminatória, existente nas relações entre os diferentes grupos étnicos, ao lado de diversos fatores de ordem política e econômica, tem gerado as desigualdades sociais no nosso planeta, constituindo-se num enorme obstáculo para a construção de uma sociedade mais fraterna e igualitária. Afirmaram os Espíritos a Allan Kardec que essas desigualdades um dia desaparecerão,“juntamente com a predominância do orgulho e do egoísmo, restando tão somente a desigualdade de mérito. Chegará um dia em que os membros da grande família dos filhos de Deus não mais se olharão como de sangue mais ou menos puro, pois somente o Espírito é mais puro ou menos puro, e isso não depende da posição social”. Segundo Kardec, todos os homens “são submetidos às mesmas leis naturais, todos nascem com a mesma fragilidade, estão sujeitos às mesmas dores e o corpo do rico se destrói como o do pobre. Deus não concedeu, portanto, superioridade natural a nenhum homem, nem pelo nascimento, nem pela morte, todos são iguais diante d’Ele”. A mentalidade racista produziu, na história da humanidade, situações extremadas de discriminação racial, como a escravidão dos negros africanos, considerada pelo Espiritismo como sendo contrária à Natureza, “pois assemelha o homem ao bruto e o degrada moral e fisicamente”. “Os homens têm considerado, há muito, certas raças humanas como animais domesticáveis, munidos de braços e de mãos, e se julgam no direito de vender os seus membros como bestas de carga. Consideram-se de sangue mais puro. Insensatos, que não enxergam além da matéria! Não é o sangue que deve ser mais ou menos puro, mas o Espírito.” A idéia de que o homem possa encarnar como branco, negro, mulato ou índio, estabelece uma ruptura com o preconceito e a discriminação raciais. Tanto que até hoje, na Inglaterra, muitos adeptos do Neo-espiritualismo rejeitam a tese da reencarnação, por não admitirem a possibilidade de terem tido encarnações em posições inferiores quanto à raça e à condição social. Afinal, como se sentiria um indivíduo de mentalidade racista encarnado em uma raça que considere inferior? Nesse sentido, as questões que reproduzimos abaixo são bem elucidativas. “205. Segundo certas pessoas, a doutrina da reencarnação parece destruir os laços de família, fazendo-os remontar às existências anteriores. Ela os amplia, em vez de destrui-los. Baseando-se o parentesco em afeições anteriores, os laços que unem os membros de uma mesma família são menos precários. A reencarnação amplia os deveres de fraternidade, pois no vosso vizinho ou no vosso criado pode encontrar-se um Espírito que foi de vosso sangue. 205-a. Ela diminui, entretanto, a importância que alguns atribuem à filiação, porque se pode ter tido como pai um Espírito que pertencia a uma outra raça, ou que tivesse vivido em condição bem diversa? É verdade, mas essa importância se baseia no orgulho. O que a maioria honra nos antepassados são os títulos, a classe, a fortuna. Este coraria de haver tido como avô um sapateiro honesto, e se vangloria de descender de um gentil-homem debochado. Mas digam ou façam o que quiserem, não impedirão que as coisas sejam como são, porque Deus não regulou as leis da Natureza pela vossa vaidade.” A diversidade das raças, condição natural do aparecimento do homem na Terra, resultado “do clima, da vida e dos hábitos”, não significa, de modo algum, que os homens estabeleçam juízos de valor discriminatório, quanto à origem étnica de determinados grupos sociais. Para o Espiritismo, todos os homens “são irmãos em Deus, porque são animados pelo mesmo espírito e tendem para o mesmo alvo”. O preconceito e a discriminação raciais constituem também o grande conjunto de circunstâncias existenciais a que os Espíritos reencarnantes estão sujeitos. Um Espírito, reencarnado num corpo de origem negra, estará sujeito à discriminação e isso lhe será uma condição, uma contingência evolutiva a ser superada. “Para uns pode ser uma expiação, para outros uma missão”, uma nova oportunidade de aprendizado, já que as experiências que ele experimentará como negro, serão bem diferentes das de outro que reencarne como branco, em função das desigualdades sociais. Essas desigualdades são um mal que precisa ser eliminado. Todavia, devido à Lei de Progresso, também são um bem. Ou seja, são utilizadas sabiamente pela Natureza, no aprimoramento intelecto-moral dos Espíritos. Portanto, dentro da concepção espírita, não se sustentam visões fatalistas, “cármicas”, que visualizem Espíritos reencarnados em corpos de origem negra como culpados algozes do passado. A culpa se houver, será apenas uma condição psicológica, imposta pela própria consciência do Espírito reencarnante, sem relação alguma com arbitrariedades supostamente delegadas pelo “plano espiritual superior”. São essas concepções fatalistas, baseadas na culpa e no pecado, que levam muitos espíritas e Espíritos a considerarem os escravos negros como inquisidores, cruzados e senhores feudais reencarnados, ou judeus massacrados pelos nazistas como hebreus reencarnados. Essas concepções têm mais a ver com a formação religiosa de certos espíritas e Espíritos do que com a visão evolucionista do Espiritismo. Trata-se de uma concepção distorcida da reencarnação que, ao invés de servir como um poderoso instrumento de compreensão do processo evolutivo dos seres e das coisas, funciona como fator de alienação, de ocultamento da realidade. Com que finalidade um senhor de engenho, por exemplo, tem de reencarnar como negro e sofrer as mesmas dores que fez os escravos sob o seu poder sofrerem? Seria assim o mecanismo da reencarnação? Os seres humanos não são coisas, objetos que, sujeitos a uma lei de causa e efeito independente de sua realidade intelecto-moral, tenham que se submeter a reações esquemáticas, cartesianas. Há uma lógica no processo palingenésico, mas ela está longe de ser uma lógica mecanicista. Ao contrário, a concepção espírita da palingenesia nos leva a pensar o processo evolutivo como um continuum caótico, dialético, contraditório. Isso não significa que inexista uma ordem, necessária e inexorável, ainda desconhecida em sua estrutura básica e no seu detalhamento. Aquele senhor de engenho, pela sua formação, pela sua inteligência, pode contribuir muito mais para si e para outros, se concretizar o seu arrependimento na reformulação do próprio processo evolutivo. Ele poderá reencarnar, por exemplo, como um negro, que sentirá a ânsia, a paixão de lutar pela libertação de sua raça, de modo que muitos benefícios poderá trazer para a eliminação do racismo. Se tiver vocação pela política, poderá lutar de modo perseverante a favor da abolição de qualquer resquício, nas leis e na cultura, de preconceitos contra a raça negra, beneficiando assim, indiretamente, aqueles que ele próprio prejudicou em outras existências. E assim por diante. As variáveis são muitas, principalmente por que estamos lidando com seres, cuja liberdade volitiva os afasta de qualquer esquema cármico, a não ser que eles mesmos prefiram seguir, por algum processo de culpa ainda muito pouco esclarecido, um caminho onde possam vir a expiar a mesma dor que em outros eles provocaram, a fim de sentir o mal “na mesma pele”. É também um caminho possível, mas que não se constitui em lei, em regra, em um princípio que sirva a todos os seres. Foi o caminho escolhido por determinado Espírito, apenas isso. Uma mesma causa pode gerar uma infinidade de efeitos. Isso em relação a objetos. Já em relação às pessoas, aí a situação se torna ainda mais complexa. A dificuldade de se equacionar, no caso em questão, o fenômeno palingenésico, se amplia. Ainda mais por que é ele um fenômeno pra lá de fractal. São muitos os componentes, os fatores de influenciação extremamente variáveis. Trata-se de uma equação com n incógnitas. Por aí dá para se perceber que a visão mesquinha e rasteira do negro como uma criatura supostamente inferior, apenas por que nele se encontra reencarnado um espírito “culpado”, não se coaduna com a filosofia espírita, libertária por natureza. É como se reproduzíssemos o racismo numa nova versão, numa espécie de racismo cármico, que iria justificar a segregação racial, como foi e ainda é feito em alguns países. Basta ver os conflitos étnicos que há muitos séculos existem na Índia, desde o tempo dos brâmanes, passando pela época de Gandhi até hoje. É a reencarnação a serviço do racismo. Uma doutrina de liberdade, como a espírita, não compactua com nenhuma ideologia que vise a discriminação racial entre os grupos sociais. O sectarismo racial, segundo o Espiritismo, tende a se tornar coisa do passado. As pessoas e as nações evoluem. Segundo os Espíritos, “os mundos também se acham submetidos à lei do progresso. Todos começaram como o vosso, por um estado inferior, e a Terra mesma sofrerá uma transformação semelhante, tornando-se um paraíso terrestre, quando os homens se fizerem bons”. À medida que a humanidade melhora em inteligência e moralidade, todas as formas de preconceito e segregação tenderão a desaparecer definitivamente. Nesse aspecto, o comentário de Kardec à questão citada é bem oportuno: “Assim, as raças que atualmente povoam a Terra desaparecerão um dia e serão substituídas por seres mais e mais perfeitos. Essas raças transformadas sucederão à atual, como esta sucedeu a outras que eram mais grosseiras”. Portando, é dever dos espíritas, imbuídos pelo ideal renovador do Espiritismo, lutar por uma sociedade mais justa e igualitária, onde o negro e todos os grupos étnicos oprimidos tenham os seus direitos garantidos e respeitados. Como afirmou o sociólogo Florestan Fernandes, o negro é a “pedra de toque da revolução democrática na sociedade brasileira”. A luta pela verdadeira democracia racial, é uma luta que interessa não somente ao negro, mas a todos os setores progressistas, inclusive aos espíritas, que estejam efetivamente comprometidos com o processo de transformação intelecto-moral da sociedade. Fonte: Eugenio Lara Eugenio Lara, arquiteto e design gráfico, é redator e produtor gráfico do jornal de cultura espírita Abertura, membro fundador do Centro de Pesquisa e Documentação Espírita (CPDoc) e do Instituto Cultural Kardecista de Santos. Trabalho concluído em 1994, apresentado no Centro de Pesquisa e Documentação Espírita (CPDoc) e no II Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita, de 1991.
http://www.casadamaepobre.org/wp/contato/ Read the full article
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Todos sabemos que no mundo há grandes diferenças entre pessoas e que, por estupidez e ignorância, cria-se o preconceito, que gera muitos conflitos e desentendimentos, afetando muita gente. Porém, onde estão os Direitos Humanos que dizem que todos são iguais, se há tanta desigualdade no mundo?
Manchetes de jornais relatam: “Homem negro sofre racismo em loja”; “Mulheres recebem salários mais baixos que os homens”; “Rapaz homossexual é espancando na rua”; “Jovens de classe alta colocam fogo em mendigo”; “Hospitais públicos em condições precárias não conseguem atender pacientes”; “Ônibus não param para idosos”. “Escola em mau estado é interditada e alunos ficam sem aula”; e muitas outras barbaridades. Isso mostra que os governantes não estão fazendo a sua parte.Mas pequenos gestos do dia a dia – como preferir descer do ônibus quando um negro entra nele; sentar no lugar de idosos, gestantes e deficientes físicos, humilhar uma pessoa por sua religião, opção sexual ou por terem profissões mais humildes – mostram que também precisamos mudar.A questão da etnia vem sendo discutida no mundo todo, inclusive no Brasil, que é um país mestiço, onde ocorre a mistura, principalmente, de negros, brancos e índios. Por mais que se diga que todas as pessoas são iguais, independente da cor de sua pele, o racismo continua existindo. Músicas, brincadeiras, piadas e outras formas são usadas para discriminar os negros. Até mesmo a violência se faz presente, sem nenhum motivo lógico.
As escolas fazem sua parte criando disciplinas que mostram a importância que cada cultura tem para a cultura geral do país. E educando as crianças para que não cometam os mesmos erros dos mais velhos, pois preconceito se aprende, ninguém nasce com ele.
Enfim, cada pessoa pode fazer a sua parte, acabando com qualquer tipo de discriminação que existe, com qualquer tipo de preconceito que sente, percebendo que todos nós somos iguais, independente de raça, credo, idade, condição social ou opção sexual. Esse é o primeiro passo para que cada um respeite os direitos dos outros. O direito de um acaba quando começa o do outro. E com a população conhecendo seus direitos e praticando seus deveres ela fica mais unida. E a voz que grita para que os direitos humanos sejam exercidos soará bem mais alta, pois já diz o ditado: “A união faz a força”.
#Diga_não_ao_racismo
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