#c;;nem eu consigo encontrar a diferença na gente
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“Por que você ainda não fez teste para nenhum papel de gêmeas? Seria divertido atuar ao seu lado nas telinhas, mesmo que você tenha herdado todo o talento.” @fazendoaegipicia
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Lazer e Diferentes Grupos Sociais
Fala, galera! Como vão vocês? Por aqui está tudo bem e hoje iremos tratar de mais um assunto bem construtivo, abordando a sociedade em que vivemos e o lazer. Como sabemos, o nosso meio contém aspectos que devem ser frequentemente analisados para o melhor estudo de cunho sociológico e geográfico. Toda cultura que adquirimos durante a vida por nossos familiares, amigos, escolas, etc, influenciam nas nossas escolhas, inclusive, nos quesitos lazer e diversão. Devemos entender também que nesse meio, aspectos como gênero, escolaridade e raça também influenciam não só em escolhas mas também em vivências e experiências. Para exemplificar isso, convidamos a Laís Cordeiro para contar pra audiência do blog as suas vivências nesse meio de lazer em BH. A Laís tem 21 anos, é estudante de jornalismo da UniBH e é da classe B. Ela adora sair e explorar a cidade de Belo Horizonte ao máximo, descobrindo as opções de entretenimento, diversão e lazer que são oferecidas por aqui.
De acordo com a pesquisa realizada pelo SPC (Serviço de Proteção e Crédito) em 2015, 79% dos entrevistados responderam que o lazer era responsável pelo maior gasto mensal no orçamento doméstico. As atividades recreativas, sejam viagens no fim de semana ou sejam uma noite em boate, acabam se tornando prioridade na vida de muitos brasileiros que trabalham intensamente durante a semana e buscam por um momento para espairecer.
Com dados retratando números tão altos, muitas perguntas acabam surgindo. Ainda que seja completamente compreensível e identificável a busca pelo lazer, as motivações que levam os consumidores a incluírem esses gastos entre suas despesas mensais certamente varia. E essa é uma das perguntas que buscamos responder nessa entrevista.
Outro ponto importante diz respeito à diversidade de grupos e eventos oferecidos em Belo Horizonte. A localização, renda e escolaridade são alguns fatores que acabam estabelecendo certa “linha divisória” entre opções de diversão pela cidade em certos pontos. Essa divisão é perceptível?
Ao apresentar essas perguntas, pretendemos provocar também uma reflexão sobre a desigualdade social e como ela acaba afetando as esferas sociais e culturais, incluindo o lazer.
1- O que te incentiva à busca ao lazer? (Fatores relacionados à decisão de compra/consumo)
O que incentiva minha busca ao lazer é poder me desligar da vida cheia de compromissos sérios no trabalho e nos estudos, além de preencher minha cota de socialização me divertindo com amigos e com as coisas que eu gosto. Tento buscar me divertir e comprar coisas que realmente sejam necessárias no momento e trabalhar com uma pequena margem para algum evento ou compra pontual. Penso que sem lazer não conseguiríamos focar em coisas essenciais na vida, como criar laços, rede de contatos (network), para quem sabe conseguir um bom emprego, ou até mesmo para conseguir um companheiro e formar a tão sonhada família. Acho que buscar o lazer é uma necessidade humana de fato. Como a nossa vida não segue todos os fatores que a gente gostaria normalmente o lazer é um escape da vida cotidiana. Eu costumo escolher como o meu lazer principalmente com base no preço que cabe no orçamento e identificação com as situações e pessoas que estão ali.
2- Há acepção de classes e grupos em determinados programas? Como você interpreta isso?
Sim, claro! Existem diversos lugares que são restritivos a grupos específicos. LGBTs e mulheres, por exemplo, não são recebidos com respeito em jogos de futebol que, teoricamente, não devia haver essa diferenciação no tratamento. Eu vejo que, assim como toda a sociedade como um todo, qualquer lugar é uma representação em menor escala dela, então se a sociedade é preconceituosa, os locais de lazer que não lutam contra isso automaticamente se tornam discriminatórios também. Eu enxergo também que muitas pessoas deixam de frequentar locais por não pertencer a certos grupos, por exemplo, podemos ver em BH mesmo a falta de ocupação de pessoas de classes menos favorecidas em locais que, em tese, são públicos, como a Praça da Liberdade, que mesmo se situando em uma área central, é pouco acessível para pessoas periféricas. Isso pode ser consequência de diversos fatores, mas pra mim, devido ao fato ter sido apropriada por pessoas de classes mais altas, que utilizam esse local tanto para manifestações políticas que beneficiam sua camada social, quanto para seu próprio lazer, essas pessoas não se sentem encaixadas ali. Por outro lado há várias pessoas que acabam modificando a forma de ser apenas para poder se enturmar em algum grupo específico. Ambas as situações já ocorreram comigo e penso que já ocorreram com a maioria das pessoas, pois todos temos obstáculos a serem superados no quesito socialização, pela a necessidade do ser humano de conviver em grupos para não experimentar certa solidão.
3- Você estabelece um orçamento mensal dos seus gastos com lazer?
Eu não fecho um “orçamento mensal”, mas tenho uma faixa em mente do que posso gastar, baseado nas minhas outras despesas. Acaba variando de acordo com o mês. Acho isso arriscado às vezes, porque me empolgo em certos períodos e gasto mais do que estabeleço, e isso afeta a forma como levo o mês.
É importante estabelecer um valor limite pra ter um controle maior dos gastos. Mas, algumas vezes, eu já atingi esse valor, e aí surgem compromissos (como o aniversário de uma amiga, inauguração de algum novo restaurante…) que acabo cedendo e gasto muito mais do que previ.
Quando li o textinho introdutório da entrevista, com todas aquelas informações divulgadas pelo SPC, consegui entender na hora o grande número de pessoas que acabam gastando mais com o lazer. Acho que isso acontece exatamente pela falta de controle do orçamento. Quando gasto muito em um mês, no outro preciso reduzir bastante, os gastos do lazer ficam restritos ao que sobrou depois de pagar faturas e outras despesas.
4- Você acha que é caro encontrar boas opções de diversão em BH?
Encontrar opções de diversão em BH não é caro, na verdade. Tudo depende de qual programa é proposto, e aí o preço varia bastante. É possível sair com pouco e se divertir em alguns lugares da cidade. Temos vários bares que são mais acessíveis, vendendo bebidas e alimentos que, se forem divididos com os amigos ainda, se tornam um passeio muito bom!
Eu gosto de lugares onde não gasto muito e consigo consumir bastante. Mas acho que isso depende do nível de “exigência” da pessoa. Não me importo em sentar em mesas de plástico na rua, com várias pessoas dividindo a mesa - nesses rolês, eu acabo gastando pouco e consumindo muito.
Além disso, existem muitas opções de entretenimento, como teatro, festivais, exposições artísticas e musicais que possuem preços extremamente acessíveis ou até mesmo entrada gratuita, mas que às vezes são pouco divulgados pelas mídias sociais. Entretanto, as opções que "fogem" desse âmbito puramente artístico, ligado até mesmo a cultura da cidade, normalmente possuem preços mais caros pois são vinculados a grandes estruturas de mercado, como shoppings, parques de diversão e etc.
Ainda acho que precisamos falar de outros pontos que apertam no bolso. Ir ao cinema, por exemplo, ficou mais caro. Apenas o ingresso custa R$38,00 e, pra muita gente, esse valor é
bem apertado. Se a gente considerar uma família de 4 pessoas, só os ingressos ficariam R$152,00 e isso não é um valor muito acessível para todas as classes.
Por isso digo que, os preços irão variar com o programa escolhido. Entendo que alguns acabam ficando mais acessíveis ao público de classes mais favorecidas, e eles acabam sendo a maioria se a gente parar pra pensar no que é oferecido. Mas também temos opções que atendem todos os públicos.
5- Quais fatores você considera na hora de escolher uma atividade de lazer? (Preço, localização, atividade...)
Em primeiro lugar, considero a localização, pois dependendo da distância, a locomoção dificulta e não compensa. Não é sempre que estou de carro, e mesmo estando com ele, à noite considero um pouco mais difícil sair para locais mais longes, pois volto sozinha, em geral, e considero um pouco perigoso. Em segundo, penso no preço, se ele encaixa no meu orçamento e no dos meus acompanhantes/amigos. Pois, nem sempre todos estão na mesma condição. Então também procuro zelar, por um momento em que , todos possam aproveitar e participar, em conjunto.
6- Segundo uma pesquisa do SPC em 2015, as classes A e B gastam o dobro em lazer do que as classes C e D. Essa diferença é explícita socialmente?
Acredito que sim. É comum ver algumas pessoas com uma renda mais alta, indo para shows de 300 reais e baladinhas mais caras, em bairros nobres. Enquanto se observa outras pessoas, sejam de baixa renda ou que querem/precisam economizar (independente do motivo), preferindo ir a barzinhos, por exemplo, ou até mesmo, ficar em casa, em um programa mais caseiro. No meu convívio, por exemplo, percebo pessoas viajando para o exterior, como a Disney ou Europa, e até mesmo, dentro Brasil, como por exemplo, pessoas de Belo Horizonte, indo para o Rock in Rio. Ao mesmo tempo, tenho amigas, que para não gastarem muito, preferem um dia de filme em casa, com pipoca, refrigerante e doces, afirmando que até as comidas são caras, no cinema, não somente o ingresso, por exemplo, sem contar o estacionamento dos shoppings, quem em geral é um absurdo. Tem também churrascos entre amigos, onde o valor é dividido entre todos, sendo mais barato. Enquanto outros, fazem grandes festas e comemorações, com grandes decorações. Penso que no meu dia a dia, é mais visível perceber essa diferença social, em momentos de lazer mais "formais", ou seja, comemorações como aniversários (ex. 15 anos) , casamentos, formaturas e etc.
Bom, pessoal, com a ajuda de Laís, podemos concluir que a incessante busca por diversão e “desplugue” da vida cotidiana acaba variando em diversos tipos de públicos, de acordo com experiências, renda e cultura adquirida. Diferentes orçamentos, muitas vezes acabam determinando programas diferentes, e também influenciam na inclusão de pessoas de culturas diferentes em grupos diferentes.
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foi com 23
a novidade - ele chegou quando eu tinha nove. o dia em que meus pais anunciaram que ele viria continua claro na minha memória. era legal mesmo esse negócio de ter um irmão? as muitas vezes que minha mãe passava mal no meio da rua ou que parava o carro pra vomitar me faziam pensar que, talvez, essa coisa de ganhar um irmão talvez não fosse tão boa assim.
quando a vó Maria foi passar uns dias na nossa casa em Brasília o León estava perto de nascer. meu quarto já não era só meu. o berço do caçula já estava lá. foi em 11 de maio de 93 que ele chegou. só existia vontade de conhecer aquela nova pessoinha, mas “- criança não pode subir pro quarto. você vai ter que esperar”. aff! que coisa odiosa de se dizer pra uma criança curiosa! só nos encontramos no dia em que ele e minha mãe tiveram alta e parece que demorou uma eternidade.
a sensação de ter um irmão neném era a mesma de quando conheci minha prima. eu só havia passado pela “experiência” do nascimento de alguém quando conheci a Tamara, ainda pequenininha. foi basicamente a mesma coisa que aconteceu com o meu irmão, assim como achava a Tamara uma boneca, também achava que ele era meu brinquedo, mas esse morava na minha casa e quando ele chorava de noite eu também acordava.
aquele neném que morava lá em casa era uma novidade pra mim. tudo o que acontecia em torno dele era novidade. eu tava cheia de ciúmes. foram longos nove anos sozinha, nos mimos, nas broncas e na bajulação da família, já que eu, até então, era a única neta que morava longe, pelo menos por parte de mãe, e isso sempre me rendeu a atenção dos avós e dos tios quando íamos visitá-los. apesar, do ciúme, tava tudo bem. aquele nenemzinho era bonitinho, mas peraí! olha a sacanagem: até apelido ele tinha e eu não. Léo. pq todo mundo chama ele de Léo se o nome dele é León? todo mundo me chama de Lali, uai!
o tempo foi passando e a ideia de ter ele ali foi melhorando, era massa ter um irmão pequenininho. você pode fazer ele pegar as coisas pra você, levar as coisas pra você, botar a culpa das coisas nele... essas coisas que irmãos mais velhos fazem, né? confesso, a diferença de idade nunca foi nossa aliada. passava o tempo que fosse, ele continuava sendo o irmão mais novo, aquele que você não tem paciência e saco de ficar cuidando, porque é isso que acontece quando se tem um irmão mais novo, invariavelmente você vai ter que ficar de olho nele por algum motivo.
crescemos, não no tamanho (valeu genética!), mas na idade. nos acostumamos a não sermos parceiros. éramos irmãos. às vezes conversávamos despretensiosamente. às vezes nos abraçávamos. às vezes quebrávamos o galho um do outro. nossa relação foi construída com um catatau de às vezes, de quando estávamos afim, de quando estávamos dispostos a nos aturar.
da infância para a adolescência dele foi um pulo. cheio de querer, ele começou a marcar seus espaços. já tinha um quarto só dele, as coisas dele e um gosto por coisas que ninguém em casa cultivou. curtia anime, ballet, moda e música pop. tudo isso era resultado de sua descoberta pelo mundo e do mundo que ele queria fazer parte. um dia decidiu que queria ser estilista, mas sabe-se lá o que aconteceu que escolheu fazer jornalismo. decidiu, mas depois “desdecidiu”, só não contou pra ninguém.

não estive perto na fase de decisões, nem nos dias em que o abuso de álcool afetou o cotidiano daquela casa em que eu já não mais estava. ele viveu essa barra. e também viveu a barra de assumir pro mundo quem ele era. aos poucos, fuçando por aí, eu fui conhecendo a Leona Luna, a drag queen que ele criou e fez dela o trampolim para, finalmente, extravasar sua alma de artista. sempre, desde sempre, ele deu sinais de que seria uma estrela. só não sabíamos onde. pintando, costurando, criando, dançando. tudo isso permeou sua essência que ganhou luz em palcos daquela Bras-ilha.
a notícia - por muitos anos do meu lado, não consigo dizer que o conheci por inteiro. conheci o que eu queria, o que era mais fácil, mais cômodo dentro da nossa relação de às vezes. depois que me mudei nossos às vezes ficaram cada vez menos frequentes e eu acabei perdendo de vista tudo o que acontecia perto dele. no início deste ano ele mandou um sinalzinho de nada me fazendo pensar que algo podia estar diferente. “ei pessoa. não é pra ficar abalada, viu? você tem pessoas que te amam e vão continuar amando sempre. apesar de eu e você sermos diferentões demais, você é meu sangue e eu te amo (da minha maneira). fica bem”, ele disse em uma mensagem no dia 9 de janeiro depois de saber sobre um problema meu. chorei, como passei boa parte daquele dia chorando, mas eu nem imaginava que ele �� quem estava tentando ficar bem.
foi perto da hora do almoço, no dia 30 de janeiro que minha mãe avisou. passando muito mal e precisando de ajuda para ir ao hospital, ele contou que era portador de HIV. por já apresentar suspeitas e mais suspeitas de pneumonia, essa possibilidade sempre rondava as conversas entre eu e minha mãe. mas ele já era maior de idade e ninguém forçou ele a dizer o que não queria. mesmo sendo muito amigo da minha mãe, conversando sobre coisas que eu nunca conversei com ela, ele preferiu guardar essa informação. foi procurando melhorar aqui e ali quando se sentia mal, mas só começou a se tratar de verdade um ano depois que o vírus entrou no seu corpo. fez o primeiro exame e “estava limpo”. no segundo, já era positivo, mas ele não foi buscar o resultado. no terceiro, ele soube de verdade.

a notícia veio como uma tempestade rápida, barulhenta e cheia de trovões na minha cabeça. depois do primeiro impacto, um vento carregado de trocentas perguntas tomou meu pensamento. sozinha na sala de casa, longe deles, chorei. e agora? dividi a notícia com o marido que muito mais equilibrado que eu, me acalmou. todas as diferenças que eu tinha com o meu irmão sumiram depois de alguns minutos em que eu esbravejei pra mim mesma o quanto ele era irresponsável, que ele não tomava jeito nunca. o medo, a tristeza, a raiva... tudo isso em minutos. quando a tempestade da notícia passou eu só pensava em como livrar nosso leonzinho – era como meu pai cantava “O leãozinho” pra ele – daquela situação.
dali pra frente foram dias que pareciam não acabar em hospitais. sem pensar que algo de ruim pudesse acontecer, ele não tinha plano de saúde. se virando como era possível no sistema de saúde público, minha mãe ficava com ele. pedimos ajuda, muita ajuda. e ela veio de passinho em passinho como os amigos podiam. uma rede de pessoas se mobilizou para tornar a internação menos sofrida para ele e para a minha mãe. da enfermaria para o quarto do HRAN, de lá para o isolamento. tuberculose. até que um dia ele recebeu alta, estranhamos, mas comemoramos. não foram 24h em casa. fora do hospital ele sofria todos os efeitos da doença novamente. voltaram pro hospital. o quadro tinha evoluído e ele precisou ser encaminhado para o semi-intensivo.
logo surgiu a necessidade de uma vaga na UTI. desespero. três letras que tornam a expectativa em lamento. o que se espera quando alguém vai pra UTI? eu tentava me convencer que seria melhor para ele. mais uma vez recorremos a quem podíamos para conseguir um leito. e, após três dias de semi-intensivo ele veio. foi a liminar da justiça? foi o pedido para amigos ligados ao sistema de saúde? foi a fé inabalável da minha mãe? não sabemos. o que sabíamos era que ele estava em uma fila enorme de espera assim como tanta gente deve estar hoje. comemoramos mais essa conquista.
consegui antecipar uns dias de férias e fui pra Brasília. não dava mais para ficar longe. um monte de “e se” perturbava a minha cabeça. chegamos, eu e o marido, no fim da tarde de um sábado. já não dava mais tempo para a visita. mais um dia de aflição sem encontrar o pequeno. no domingo fomos até o hospital, a uns 40 km de distância de casa. ao entrar na UTI eu desmoronei. não conseguia olhar pra ele direito. aquele tanto de fio, ele entubado, inchado, sedado... chorei por alguns minutos até que consegui escutar a voz do marido que já me chamava há um tempo: “fala com ele”. a sedação não estava tão forte. “leléo. fica calmo. a gente tá aqui leléo. vai dar tudo certo. você vai sair dessa, né?”, era só o que eu conseguia dizer. com a sedação moderada, ele balançava a cabeça dizendo que sim.
dali em diante foram seis dias indo todas as tardes passar uma horinha com ele. em todos esses seis dias ele já estava completamente sedado. teve um dia que, quando chegamos para a visita, não pudemos entrar tão rápido. pediram pra que esperássemos, mas não deram maiores explicações. foram minutos no início do corredor vendo um monte de gente entrar no quarto e pensando as piores coisas. passou. foi só um susto. no sétimo dia eu não fui com a minha mãe para a visita, já que não tínhamos ninguém para ficar em casa com o meu pai. lembra da história do abuso do álcool? pois é. esse capítulo teve desdobramentos, mas é relato pra outra hora. enfim.. minha mãe mandou um recado. “seu irmão pirou. acho que você precisa ir no hospital. ela já conversou com o médico e ele vai deixar você entrar mesmo que a visita já tenha acabado”. que desespero. como assim? piorou como? o que aconteceu? isso é um aviso? parecia uma sentença. de carona, corri pra lá. não foram 10 minutos ao lado do leléo. mas foi um temo em que só consegui dar carinho pra ele. muito carinho.
domingo de carnaval. 26 de fevereiro. chegamos para a visita, mas não pudemos entrar. “a médica vai vir aqui falar com vocês”. sabe quando você faz algo errado e alguém descobre? o coração bate de um jeito estranho, alguma reação química faz a sua garganta ficar travada... foi bem assim. apertei a mão da minha mãe, ficamos sentadas esperando e nada de alguém aparecer. demorou. demorou muito. quando a médica chegou começou o discurso. “o quadro do león evoluiu, vocês sabem, desde ontem” e emendou num monte de blá blá blá que eu nem lembro. minha mãe cortou “ele faleceu? pode falar de uma vez”. “sim, infelizmente ele não resistiu. ele teve uma parada e nós não conseguimos reverter”, disse a médica. no sim, nós já não olhávamos mais pra ela. nos abraçamos, choramos, choramos, muito. uma dor imensa no peito. minutos assim.

muito ligada a tudo que é espiritual, minha mãe para por um instante e diz. “eu senti. ele esteve em casa hoje. ele abriu a porta do quarto, me deu um beijo e saiu”. e emendou. “ele agora está bem”. eu fiquei pensando o quanto desprivilegiada era por não ter tido essa sensação, essa oportunidade. eu tinha tanta coisa pra falar com ele ainda, mas não deu tempo. ele só tinha 23 anos. por boa parte da vida dele eu estava ali, mas não estava. nós não estávamos nem aí um pro outro e desde janeiro eu pensei em tanta coisa que tínhamos que conversar. pq não fiz isso quando ele ainda estava lúcido no hospital?
burocracias, decisões, chuva de mensagens impossíveis de responder. no dia 28, velamos seu corpo. nunca imaginei que pudesse ter tanta gente em volta dele. minha mãe pediu pra tocar Lulu Santos. o som ficou lá durante todo o velório. minha mãe queria paz, tranquilidade e amor naquele momento. e foi o que vivemos. “não é mais que um até logo. não é mais que um breve adeus. bem cedo junto ao fogo tornaremos a nos ver”, um coro entoou a canção da despedida, como em todas as despedidas escoteiras. foi um afago para os nossos corações.
optamos pela cremação. minha mãe havia decidido que o León viraria árvores para que pudesse continuar vivo por aí. a primeira foi plantada justamente no grupo escoteiro do qual fizemos parte por muitos anos e que ele frequentou desde que estava na barriga dela.
seis meses se passaram. a dor ainda não foi embora. ela vai e vem. às vezes suave, às vezes como um soco no peito. sei que é um processo. os questionamentos diminuíram, tento aceitar que tudo é aprendizado. minha mãe diz isso e eu tenho conseguido compreender melhor. aprendi que amor é sempre amor seja qual for sua forma de manifestação. nunca me dei conta do tamanho do amor que eu sentia pelo meu irmão até o início deste ano e isso foi avassalador. nunca me dei conta que a AIDS ainda pode ser destruidora e que muita gente não pensa nisso. eu não pensava. estamos em 2017 e as pessoas ainda morrem em consequência da Síndrome da Imunodeficiência Humana. as famílias ainda são questionadas se a causa pode ser declarada na certidão de óbito, reflexo de todo preconceito que a doença carrega.
a dor traz reflexão em diferentes aspectos da vida. a perda faz os dias seguirem lentamente e, inexplicavelmente, o sofrimento transforma o amor. hoje meu irmão está mais presente em mim do que eu consigo descrever. todas as lembranças florescem um pedacinho novo dele em mim. espero ser um jardim para a sua memória.
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olá pessoal tudo bem com vocês falando aqui novamente hoje quero trazer para vocês um vídeo mox primeira mão da galera o primeiro vídeo aqui no brasil um box desse aparelho ainda não tenha um vídeo até o momento a gravação desse que eu estou fazendo aqui não tem nenhum no youtube né então em primeira mão trazer um box do charme me a um aparelho muito esperado aí pra todo mundo curioso querendo saber como esse aparelho o primeiro aparelho da shaw mês 100 mil ir com o android puro né então daqui a pouco vou falar mais do aparelho vamos falar agora da sobre a a compra dele eu vou abrindo aqui o a caixinha enquanto eu falo na galera é ele foi tachada como vocês podem ver que o correio taxou foi taxado valor e como se diz padrão né que está tendo de seu líquido 200 reais é não foi taxado um valor maior porque teve uma conversa que aumentará as taxas ea taxa em cima de 60% do valor real do produto meu não foi tá f foi taxado em cima do valor na mão esse aparelho galera eu comprei ele na loja 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eu comprei ele no dia 17 e 19 17 e 19 mas eles me foram enviadas que estavam sem estoque eles foram me enviar ele no dia 25 26 9 que eu recebi o código de ddd de rastreamento né e então foi numa terça feira ele chegou pra mim no dia 11/10 chegou aqui no brasil 11 10 em curitiba dia 12 foi feriado no dia 13 na sexta feira eles já despacharam ele pra pra minha cidade então ele ficou um dia só em curitiba já mandou pra mim e hoje é de 17 e já tem em mãos então no brasil foi 2 jesus somente então foi muito rápido flashback express compensa muito causa diz chegou no brasil e pega prioridade e chega mais rápido então com dois jesuítas ele chegou pra mim né é então tá aqui a caixa da galera caixa dele é muito lindo a caixa parece que é diferente parece não é diferente das outras do caixão então tá aqui as descrições do aparelho ele tem duas câmeras o android puro processador snapdragon 625 a tela de 5.5 esse é o rosa tá o ouro ou z rose gold 4 de ram 64 treinamento só tem essa versão de 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cartão sim é um jogador rápido e o cabo usb tipo c o cabo é entrar do tipo c então só isso que vem na caixa mesmo aí o manual em um dos manuais é que interessa por enquanto vamos ligar o aparelho nem pessoal é muito bonita e eu peguei rosa porque é da minha esposa parede né mas é um rosa bem bem forte é muito lindo muito fim ligando aqui deixa eu tirar esse plástico aqui da tela também vou tirar esse plástico aqui de trás assim eu tinha visto muito vídeo dele e em vídeo nunca é a mesma coisa né foto não é a mesma coisa de você ver pessoalmente assim é muito bonita aqui têm o português do brasil pra tudo dê certo onde configurando aqui português brasil então tem sim pessoal português brasil vamos lá signora não vou colocar o sim agora novo colocar 100 aqui do meu pai faz de cada pessoa já dá pra ver que é bem respondi muito rápido está no teclado aqui com ele responde bem rápido e é um aparelho lindo fantástico da galera é assim que a configuração do aparelho aqui pessoal é o que eu digo que ele é um aparelho intermediário prêmio é que ele não é um top de linha porém nem é também um aparelho de entrada nenhum intermediário prêmio e com quatro de an 64 armazenamento no brasil galera vocês encontram nada por esse preço aí eu paguei 670 mais 200 800 e tendo menos de 900 reais pagando um aparelho com uma configuração dessa né um processador intermediar uma memória boa porque hoje 4 gb de ram no brasil onde aparelhos vendidos no brasil você vai encontrar top de linha né um galaxy s 8 porém o processador de sr é um processador é mais como diz um pouco mais fraco né porém roda tuta galera tem o snapdragon 625 é um processador que economiza muita bateria tá parte debaixo dele que economiza muita bateria mas vai rodar tudo aí que tem na na na place torne deixou o conseguir na configuração voltou nessa configuração de voltou que eu quero chegar no menu dele pra ver como é que é mencionou o nome aqui minha esposa dela deixa eu disse na minha impressão digital que só pra gente ver quanto como que é a velocidade do pim e vamos configurar aqui o sensor biométrico que é nas costas do aparelho nem pronto concluída aqui tem um contra mim tudo pronto vamos lá então tá aí galera eu particularmente não gosto muito do time android nem eu prefiro me while escolhia charme com meu celular principal por causa da mil aí foi uma coisa que pesou muito na hora da escolha gostei muito mais que o menu dele é você leva pra cima que ele abre o menu é bem pessoal bem cru mesmo como divisão android bem puro só o básico mesmo do que vem nos aparelhos da naco tem aqui um algumas coisinhas rodada mil ae vamos ver o que a configuração telefone 3417 com 1.2 vai ser atualizado em breve com o android 8 hora né a desatualização especial android onde chega bem rápido da galera ela chega mais rápido pra ele com ele no estilo dos nexos cruzeiro que está a contabilização já tem atualização aqui vamos baixar essa atualização vai começar a fazer a atualização vamos ver qual é essa atualização aqui a câmera galeras aparelho ele tem possui duas câmeras igual o mi6 em modo retrato aqui né responde rapta pessoal responde bem rápida algumas fotos bem legais thackeray que só pra fazer os testes aqui coisa rápida assim é interessante esse pessoal é vou ficando por aqui tá era um vídeo mesmo só pra te mostrando aparelho henrique que chegou hoje mais à frente eu vou ver se eu consigo fazer um review ver como que que tal uso de aparelho e se minha esposa deixou usar ele um dia pra mim tá testando é pra fazer um vídeo pra vocês né é então isso aí pessoal muito obrigado a ir pra você está esperando que obrigada eu quero agradecer muito pessoal que está se inscrevendo no canal e ajudando a crescer no eu nunca é um canal profissional da galera mas e sempre que possível tento trazer alguma coisa e às vezes eu tenho alguma dúvida procure não consigo depois eu acho e eu tento ajudar as pessoas também têm essas dúvidas a galera então vai ficando por aqui até a próxima obrigado
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Carta de um amor entre dois loucos - 03 e 04 de setembro de 2018
Eu sei que você vai voltar. Eu sinto. Sinto no âmago do meu ser que somos duas metades de imã, que quanto mais tempo passam longe, mais precisam uma da outra. Você não me responde agora, mas vai ter que falar comigo em algum momento. Em algum momento vai ter que falar comigo e eu espero que você diga que não me deixou de amar, que me quer de volta, senão vou ser eu quem vou ter que dizer.
É o que eu me digo, nesses momentos idiotas, tentando suportar a dor. Todas as vezes que eu passo na frente de um anúncio de amarração amorosa eu penso em ligar e fazer uma para você, mas eu tenho meus próprios feitiços. Te dizer tudo o que eu sinto, te destruir clamando meu amor inacabável, para que você entenda o que está fazendo de errado e volte para mim. Mas às vezes eu me engano. Ou tento me enganar me enganando. O dia todo eu penso em alguma forma da gente dar certo, eu não consigo largar o osso. Uma hora a culpa é sua, outra hora é minha, outra somos nós dois. Agora, a minha fantasia é que nós dois admitamos que somos impulsivos inconsequentes ansiosos e juntemos nossos sintomas idênticos em um perdão mútuo, que ressuscitará o nosso amor, nosso Lazarinho, o bebê de dois bebês.
Quando nós começamos a nos amar, eu achava que éramos iguais os seus dois gatos. A gente se afastava e se atracava com intensidade, sempre. Mas agora eu vejo que não. Nossa lua de mel foi perfeita, para ninguém botar defeito. Eu era perfeito e você, imaculado. Eu lambia suas feridas e você passava merthiolate nas minhas, até a gente começar a se arranhar. E então, era impossível. Ficou impossível. Eu te abraçava com a faca na mão pra enfiar no seu coração. Você chupava meu pau pra arrancar ele com os dentes.
Nós não somos o que esperávamos. Criamos uma confiança e admiração tão profundas que nada conseguiu destruir, nem o ódio mútuo que sentimos um pelo o outro. A gente se derrete de saudades, dá um milhão de chances, mas a partir do momento que a gente se aproxima, ou ficamos em completo silêncio abraçadinhos ou estamos querendo arrancar a cara um do outro na unha. Não que nenhum ato de violência tenha realmente acontecido, mas nós arrancamos nossos corações e os colocamos de volta no lugar toda vez que nos encontramos, oferecendo para cuidar da ferida depois.
Eu não sei se eu vou te mostrar essa carta algum dia. Eu não sei se você vai voltar e falar comigo afinal. Todos os dias eu chego em casa, pergunto ao porteiro se chegou alguma caixa para mim, esperando com temor o momento em que você finalmente decidiu devolver minhas coisas, mas elas não voltam nunca. Parece um sinal. Como se você também não quisesse esquecer. Quando eu quis te esquecer eu juntei tudo seu em duas caixas e levei correndo para a sua casa. Duas horas depois eu só queria pegar as caixas de volta, então fui até a sua casa para tentar conversar, deixar a situação um pouco mais suave. Nos beijamos. Nos agarramos. Eu tive que ir embora porque estava zonzo, eu te queria, queria te foder até falar chega e depois dormir de conchinha, acordar e beijar cada parte do seu corpo, te prometer que eu nunca deixaria de te amar. Então eu fui embora. Então eu pedi para voltar. Então eu apaguei a mensagem e decidi que seria melhor não e fui dormir. Não me arrependo. Só fico curioso com o que aconteceria se eu tivesse voltado.
Quando eu beijei outro, eu queria te esquecer. Eu saí, bebi, fiquei bêbado, beijei e voltei pra casa dez da noite porque não conseguia parar de pensar em você um segundo, não conseguia largar o maço de cigarros, meu amigo falou que eu estava cheirando igual um cinzeiro. Comemos macarrão, chorei quatro vezes no outro dia. No dia seguinte, eu não aguentei e te mandei mensagem, te liguei, fui até sua casa, fiquei com você, dormi com você, ouvi que você me chamou de egoísta e mimado, ouvi você me chamar de idiota por ter ficado com outro, ouvi tudo e fiquei até o final para ver o que aconteceria. Você me culpou de tudo, disse que eu não pensava direito, que eu era impulsivo demais. A culpa é sempre minha. Sempre minha. E quando mais você dá na minha cara mais eu quero, porque se tem uma coisa que eu não aguento é que não me queira. Não aguento que quem eu achei que fosse o amor da minha vida está me superando.
E se essa carta é para você, mas você com certeza não vai me responder e não vai voltar, porque eu não começo a expor os seus podres, afinal? Do que eu tenho medo S? De você ou de mim mesmo?
Eu odeio sua possessividade. Odeio sua paranoia que me coloca como seu inimigo, alguém que te seduz pra te foder, não no sentido bom do termo. Odeio que você tenha cogitado pensar que eu me interessaria por qualquer outra pessoa quando a gente estava juntos, ainda que eu não tenha me castrado depois de namorar, ainda que eu obviamente sentisse vontade dos homens que eu via no instagram, de algumas pessoas que eu via na rua. Reprimir meu desejo era minha religião de fé. E nem era tão desejoso assim. Eu não pensava em te trair, eu só pensava em bundas às vezes, em pelos, em braços musculosos, pedaços de carne. É como assistir pornografia. A graça está em assistir, nem sempre em experimentar. Eu adoraria chupar doze paus diferentes ao mesmo tempo e que todos gozassem na minha cara. Mas a realidade é muito mais complicada. Primeiro que eu nem sei onde eu arranjaria doze homens. Segundo que eu nem sei se teria paciência pra chupar 12 paus por sei lá, quarenta minutos, uma hora até que todos gozassem e depois eu ficar três meses com um medo do caralho de ter engolido alguma porra e pego alguma DST. Ou IST, como o povo da saúde insiste em chamar agora. Zero diferença. Mudam o nome mas a coisa continua uma merda.
Mas continuando, eu simplesmente não conseguia entender o perigo que as festas e os bares representavam para você, ainda que eu entendesse parcialmente o ciúme que você tem da C. E eu odiava seu ex, falando nisso. Seus exes. Até hoje sou cismado que você pegou o J do salão, não vou mentir. Mas ok, ele é gato. Eu a contrário tenho quase certeza que não peguei ele mas não posso afirmar porque teve uma época que eu pegava muito pesado na catuaba. Mas acho que eu me lembraria. Enfim, chega de me desculpar. Aquela segunda vez que você tentou terminar. Lembra? Você me ligou quatro vezes enquanto eu estava no banheiro e então, eu me teletransportei da minha casa para um festa. Sem falar com você. Que eu nem devia falar, para início de conversa. Lembra nossos papos sobre relação ser leve? É isso velho, a relação tinha que ser leve no sentido de que, se você estivesse trabalhando, qual o problema de eu ir em um barzinho? Toda tarde você ia pra casa da C, eu só queria encontrar meus amigos igual você encontrava os seus. Não significava que eu te queria menos. Só não rolou da gente ir junto.
Engraçado que agora eu estou com uma vontade fudida de te ligar, te pedir pra conversar, vir com meu jeitinho todo todo até você me aceitar de volta. Mas eu não vou fazer isso. Não só porque eu estou com raiva de você. Porque você disse que não consegue perdoar que eu peguei alguém na semana que terminamos. Se você não consegue perdoar, não sou eu quem vou fazer a sua cabeça. E mesmo não querendo voltar, mesmo com medo dessa relação dar uma merda – mais do que a gente já cagou e sentou e sentou de novo e jogou no ventilador -, se você pedir eu volto. Às vezes eu vou ter que fazer igual a C, sentar pacientemente e te esperar três anos e meio, então a gente vai estar mudado e diferente e ser capaz de ter uma relação saudável. J me disse isso: Se for pra dar certo, não vai ser agora. Talvez não seja nunca mais. Talvez seja hoje, se você me mandar essa porra dessa mensagem logo. Me manda me manda me manda me manda me manda me manda me manda me manda me manda me manda. Eu acredito que todas as vezes que eu penso em você, que eu estou mandando um sinal para o universo, não que eu sou um obcecado. Hilda Hilst disse que todo mundo tem um pouco de loucura. E ela também viveu uma relação tensa com um primo que terminou em tragédia. E eu prefiro abraçar minha loucura agora a ceder à vontade de te mandar alguma coisa. Minha loucura é a abstinência de você.
Quando eu te vejo, tudo volta. Eu quero te amar para sempre, nós somos o bebê um do outro, nós somos nossas almas gêmeas, você é o homem mais lindo e gostoso do mundo, seu cheiro intoxica de tão gostoso. Então nós brigamos. Se inicia alguma coisa estranha. Uma desconfiança. Nós brigamos mais e então nos separamos. Eu te odeio, rasgo nossas coisas, apago nossas fotos, quero te jogar na parede, falo mal de você para todos os meus amigos, reassisto o Não Tira o Batom Vermelho sete vezes por dia, como um mantra: não retornar, não retornar, não retornar, não retornar. Esse é o primeiro dia. No segundo, eu tenho certeza de que o que fiz foi certo. No terceiro, eu quero ser livre! Eu nunca quis tanto nada quanto a liberdade, eu quero aprender a ser eu mesmo longe de você e eu vou conseguir! A vida é cheia de possibilidades! Euforia, eufórica, um medo que me engole e vira desejo de ser feliz para sempre, de não recusá-lo nunca mais, de abraça-lo, me deitar com ele, chama-lo de namorado: Eu e meu Medo.
No quarto dia, eu vacilo. Vem chegando a quinta, a sexta. Eu saio? Você vai sair? Porque tudo parece tão vazio sem você? E então o domingo. É sua folga, então você vai ter tempo pra me responder, você quer me responder, eu sei. Ou vai me responder ou vai devolver minhas coisas. Nenhuma dessas coisas acontece. E então a segunda. A pior de todas. Hoje, inclusive. Hoje você também não trabalha, já descansou ontem, não tem nada de interessante para fazer na cidade, então você provavelmente está em casa, pensando se vai me responder. Pensando, pensando, pensando. Ou juntando minhas coisas para deixar na portaria do meu prédio. (Um fato engraçado: Uma semana depois de dizer que devolveria elas quando tivesse tempo, que já estavam todas separadas, você estava usando meu moletom e minha cueca). Nada acontece. Nada. Isso me mata.
O mais engraçado que é que a gente já disse e fez tanta merda, que mesmo você dizendo que não consegue mais, eu não acredito. Eu quero acreditar S. Eu quero. Mas um dia você manda áudio falando que me ama e quer ficar comigo, no outro você diz que não consegue ficar comigo mais? Enfim, eu também não sou a mais coerente das pessoas e é isso que juntaria a gente afinal. Mas não se isso vai acontecer. Não vou tentar mudar sua cabeça. Mas existem alguns sinais. Ou verdadeiros, ou criados pela minha mente, portanto verdadeiros pelo menos por enquanto, pelo menos enquanto o tempo não passa e eu não te esqueço. Primeiro, o seu silêncio. Silêncio não é um ponto final, é outra interrogação. Segundo, você não devolve minhas roupas. Diz que vai devolver mas continua usando. Ou você é folgado, ou não me esqueceu. Ou ambos.
Na verdade essa merda de carta só está fazendo acender minha esperança de que dá pra voltar, mas vamos ser sinceros, nem eu queria isso. Eu passei o Sarará inteiro pensando que eu queria terminar, eu passei o domingo querendo terminar, porque é tão difícil caralho? Mas terminou. E eu tento elaborar esse fim que não me desceu ainda. Sinceramente, ele desce. Tem hora que ele desce, tem hora que não, outras vezes parece tão real e querido, outras eu o quero no lixo! Como agora! Agora, enquanto escrevo desesperadamente, os dedos dormentes, eu me sinto louco, louco de paixão, louco por você, louco para fazer essa bosta de namoro dar certo como nós previmos desde o primeiro dia. A gente sabia que a gente ia se apaixonar. Eu só não sabia que ia ser tão destrutivo. Inclusive, ontem eu prometi que não me apaixonaria até o fim do ano. Mas abri uma exceção para você. Não deixaria de continuar apaixonado também. Eu fiz várias promessas hoje. Não te mandar nada até o fim do mês. Não te mandar nada até o fim do ano. Esperar dia 31 de dezembro e então pedir pra você voltar, já que você mesmo não te coragem de pedir. Mas eu não sei o que vai acontecer até lá. Nem você sabe. Eu sei que eu te quero agora, que eu não consigo mais esperar S! E eu sei que você também não, então me manda essa PORRA DE MENSAGEM.
***
Hoje eu lembrei do seu rosto no ônibus e era aquela cara feia que você faz quando está puto comigo e nada mais, colocada em seu corpo nos nossos momentos felizes, a gente na Pampulha, descendo a sua rua, sempre a sua cara puta, fechada, pronta a disparar um monte de merda pra cima de mim.
A cara que você fez quando eu devolvi as suas coisas, a cara que você fez quando nós terminamos da segunda vez, a cara que você fez quando você quis terminar comigo da primeira. Eu achei que sempre lembraria do seu rosto feliz, com ternura, mas agora eu só consigo lembrar da sua cabeça careca e a cara puta, flutuando, me odiando para sempre.
Eu não te odeio, eu acho. Mas eu estou muito triste. Muito. Os momentos felizes que a gente viveu vão se perdendo em mim, um por um. De repente, eu amo ter aula, eu anoto, presto atenção, absorvo tudo, tento deixar o máximo de informação entrar pra preencher meu cérebro para eu não pensar em você. E eles vão ocupando o lugar de muita coisa. Os momentos iniciais perdem a força perto dos finais. Se lembra daquele sonho que eu te contei? Eu entrei na sua casa, as portas todas abertas, e não te encontrei mais, haviam duas pessoas diferentes, mas nenhuma delas era você. S e T. O primeiro me ama, é carinhoso, me entende e é só um pouco dependente. O segundo me odeia, me xinga, me acusa, me manda embora de casa, se sente traído, seduzido por mim, acredita que tudo o que eu faço é contra ele, como se eu fosse uma cobra gelada se enrolando e se desenrolando do seu pescoço.
Você sabia que para os índios não existe diferença entre homem e as coisas vivas? É tudo um só, as identidades são intercambiáveis, se é que se pode chamar de identidade, eles corporificam tudo, ritualizam o corpo, um corpo social, não individual. Um índio absorve os animais que come, pinta as machas de uma cobra e então, ele é uma cobra, ele absorve as características da cobra, como se a distância entre ele e animal fosse tão pequena, tão pouca, que eles poderiam se tornar a mesma coisa. Se a gente ainda namorasse isso, eu contaria isso para você. Hoje estou muito pouco inspirado. Mas leve. Muito leve. Hoje eu demorei duas horas a mais para chegar em casa e não tive que avisar a ninguém. Quis ir no supermercado sozinho se meu pai não tivesse ido comigo. Sozinho finalmente parece gostoso, parece interessante. Eu não preciso de alguém que me olhe o tempo todo, nem com amor nem com escárnio, eu preciso ficar sozinho um tempo, reaprender a ficar sozinho. O instagram não me interessa tanto mais, nem o twitter. Acho que é porque você não está em nenhum lugar e de repente nada me interessa além de mim mesmo. Meus pensamentos, minhas lembranças, minha percepção. Eu sou eu de novo. Inteiro, sozinho, solitário, sem graça, desinspirado.
E você, louco, puro escárnio e risada, está em algum lugar, que eu não sei onde. Não sei se eu sinto tanto a sua falta. Eu te invejava, com certeza. Tinha medo de que eu não fosse o bastante para você, que minhas histórias fossem irrelevantes, minhas piadas idiotas, meu sexo bobo. Eu ainda tenho esse medo. Mas eu quero redescobrir tudo sozinho. Me tornar mais confiável e mais confiante. Mais atento e disposto. Mais eu. Encontrar os meus caminhos.
Hoje, quando caiu a noite, eu me senti mal, mas mesmo assim eu não te queria. Eu não sei se te quero mais, é tão estranho. Nem sei se a gente se parece. Você, com seu carisma inabalável mas sem a capacidade de ouvir o seu namorado. Eu, sem graça, sem muita coisa pra oferecer, mas pelo menos confiante, confiável. Engraçado como você conseguiu se mostrar muito mais inseguro que eu. Muito mais. Eu duvidava, eu tinha medo, eu pensei que poderia ser projeção e até hoje eu não tenho a resposta.
Você se achava tão pouco para mim, então se tornou. Eu te queria, eu te amava, mas eu queria que você me ouvisse, uma vez que fosse. É engraçado como mesmo inseguro sua confiança é inabalável. A confiança de que eu não te amava de verdade. Mas eu amei. Amei muito. Até você foder tudo. E agora eu não sei quero mais. Não sei se consigo confiar. Já consigo imaginar minha vida sem você, devagarinho ela vai se desenrolando. Eu penso em mestrado, em um monte de coisa, em muita possibilidade que eu vou ter. E eu não consigo pensar na gente junto. Eu penso em um monte de coisa, mas elas não incluem você.
Porque se fosse pra gente estar junto, você estaria aqui comigo. Você me mandaria o que quer que fosse, você me diria algo, me chamaria para conversar, me abraçaria. Hoje eu acordei e eu só queria a sua mensagem. Mais nada. Então eu tive que me virar com o meu dia, tentar ocupar a cabeça. E ele aconteceu, e ele passou e aqui estou eu. Prestes a completar vinte e três anos. Sem saber o que fazer, sem saber onde está a minha cabeça. Tudo é muita coisa e nada também.
Me chama. Me liga. Me responde.
Ou me odeia, devolve minhas coisas, não olha nunca mais na minha cara.
Se decide, uma vez na vida.
Eu não aguento mais ficar te esperando.
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Sobre labels
OBS: Se alguém não tiver tempo para ler tudo, pule para o fim do texto.
Volta e meia, aparece sempre alguém que diz que labels não deviam existir, ou que só deveriam existir as labels hétero e homossexual. Recentemente até fiquei a saber da campanha #NãoAosRótulos - a qual não acompanhei e que poderia perfeitamente ter um conteúdo em concordância com o que vou dizer neste post, mas se esse for o caso, um título mais assertivo seria #NãoÀObrigatoriedadeDosRótulos (o que ficaria enorme, mas serve o propósito). Neste post, eu vim tentar falar de literalmente todas as questões que se relacionam com o assunto, para tentar deixar claro que não usar rótulos é uma decisão pessoal perfeitamente válida, mas que tentar retirar as labels das outras pessoas é uma forma de as desempoderar.
Porquê que labels importam e são tantas?
Estes 2 textos são basicamente contra-argumentos a perguntas idiotas que muita gente expressa. Uma vez que as duas perguntas são semelhantes, os tópicos da resposta podem parecer um pouco reciclados também, mas tento fazer uma abordagem ligeiramente diferente.
» Porquê que não se pode ter só as labels hétero e homossexual? Era mais fácil as pessoas identificarem-se pelas relações presentes.
Reparem em como nesse argumento está presente um double-standard: Se as labels servissem para definir as relações presentes, sempre que alguém estivesse solteiro, ou fosse celibatário, seria assexual – por essa lógica – contudo, ao omitir esse detalhe, fica claro que quem fez tal pergunta a) desconhece as várias definições b) está apenas interessado em reduzir um espectro a uma binária que lhe permita ter de saber menos nomes c) ambas as alternativas.
Porque, ao fim e ao cabo, não é assim que se aplicam as labels, então perguntar “Porquê que não podemos só ter os nomes hétero/homossexual?” é tão produtivo quanto perguntar “Porquê que não podemos chamar isto *pega na cadeira* de mesa?”. Você até pode usar a terminologia errada, e arranjar uma justificativa para isso – por exemplo, a similaridade entre uma mesa e uma cadeira / uma sexualidade e outra – mas toda a gente está no direito de reclamar disso, porque não são os termos certos, e criariam confusões. Experimente dizer quando não tem onde se sentar “Falta uma mesa”. Ridículo, não é? Contudo, ironicamente, toda a gente parece aceitável dizer “Ele é gay” quando a pessoa é bi ou “Ela é hétero” quando a pessoa é assexual. Isso acontece até mesmo na mídia, em que as celebridades bissexuais são chamadas quer de gays, quer de aliadas (só não tem problema se elas se identificarem como tal).
Porque é redutor. Há, de facto, similaridades entre as sexualidades – mas quais é que se deve privilegiar para formar critérios objetivos? Multissexuais tanto experienciam homofobia como bi/panfobia [ver diferenças: www], e ainda há que juntar a isso ocasional "privilégio" hétero [ver a problemática desse termo: www]; Homossexuais e heterossexuais, caso não fosse pelo preconceito que os primeiros sofrem, teriam experiências equivalentes porque ambos são monossexuais; bissexuais e assexuais sofrem com um apagamento e contra-argumentos semelhantes; a desconsideração por géneros não binários afeta tanto a comunidade trans como pessoas m-spec; Pessoas transgénero, apesar de muito diferentes de homossexuais, são recebidas com uma hostilidade similar; Far-se-ia o quê? Reduzir pessoas trans, que até podem ser héteros, a homossexuais por não atenderem as expectativas de género e precisarem de uma palavra que as distinga? Reduzir Assexuais a Zed/Alossexuais – e, caso sejam multirromânticos – reduzirem-se ainda mais a uma binária (hétero/homo)? Isso falharia em captar as diferentes experiências das pessoas. Podem não ser o fator de maior peso na vida de alguém, mas têm uma grande influência mesmo assim. Se as experiências, tanto as boas como as más, não forem validadas, causam uma grande ansiedade e uma sensação de desonestidade da parte de quem as vive. Não só isso, caracteríticas distintas implicam que as pessoas serão confrontadas com tipos diferentes de discriminação, e não é possível combater uma coisa que não se reconhece que existe.
Porque, devido às mencionadas experiências, uma pessoa assexual homorromântica – por exemplo – não se sente totalmente integrada na comunidade homossexual. Uma pessoa negra agénero deseja encontrar um grupo de pessoas que compreenda tudo aquilo que vivenciou e tem a partilhar, ou que tenham passado por situações semelhantes e possam dar dicas que não sejam limitados a uma perspectiva só. As pessoas merecem poder definir-se e conhecer-se, merecem nomes que considerem todos os aspectos da sua identidade. Os nomes ajudam a encontrar uma comunidade, empoderamento e paz interior.
Não é prático. Creio que o exemplo da cadeira/mesa já mostrou isso, mas agora imaginemos fazer uma pesquisa na internet, onde convém usar palavras-chave nos motores de busca, em vez de descrições inteiras. Imaginem um greysexual heterorromântico a querer aprender mais sobre si mesmo, a ter de pesquisar: “Pessoas que não sentem muita, mas sentem ocasional, atração sexual e sentem atração romântica pelo género oposto”. Ups, um bocado longo. Terceira analogia do texto: Suponham que não há nomes para as “cores principais”, e que as cores eram chamadas apenas de “cores quentes” e “cores frias” – vocês queriam indicar a um amigo uma pessoa num outro grupo, sem se aproximarem muito, e descreviam-na como “Aquela rapariga com uma camisola cor fria” – se no grupo houvesse uma rapariga com uma camisola azul, e outra com uma camisola roxa, qual delas é que seria? E se ambas tivessem camisolas azuis? Não seria mais prático poder distinguir entre termos mais específicos debaixo do “guarda-chuva azul”, como azul claro e azul escuro? Oh sim, seria. Ainda mais um caso: Imaginem uma pessoa pansexual que quer conhecer alguém que possa partilhar consigo conversas ou experiências que teve com vários géneros, alguém que veja filmes consigo e faça comentários a admirar pessoas de todos os géneros. Para procurar comunidades que encaixem na descrição, não havendo a label pan, teria de escrever esse texto todo? Ridículo de novo. Para uma pessoa se informar, precisa de nomes para aquilo que procura.
Acima de tudo, porque é desrespeitador. Respeito não consiste em “Tratar igual porque se percepciona como igual”, e sim em “Tratar de forma equitativa quem é diferente”, para além de ter de ser um ato consciente. Primeiro, o que é equidade? Equidade é compensar pelas pequenas diferenças e pelas desigualdades causadas pelo sistema com soluções alternativas, ou (melhor ainda) adaptar a sociedade às necessidades especiais de cada indivíduo removendo a barreira estrutural – como uma imagem vale mais que mil palavras: [www]; Ignorar as diferenças é ignorar as experiências, calá-las é desvalidá-las, tolerar o convívio com quem as vive desde que esse aspeto das pessoas não esteja visível é viver cegamente - darei um exemplo com racismo: Colorblindness é cometido por pessoas que querem tanto não parecer racistas que dizem “Eu não vejo cor, só pessoas!”, esquecendo-se de que a cor de pele pode ser motivo tanto de orgulho e felicidade, como de dificuldades. Então, não só se está a proibir POC de partilharem episódios felizes RELACIONADOS à cor de pele, como se está a desvalidar as suas origens e ainda a recusar ajuda a quem eventualmente precise dela. É uma forma de silenciamento e desresponsabilização. Por fim, a questão de intencionalidade: se alguém decidir conviver com uma cultura com a qual não está familiarizado, corre o risco de se comportar de uma maneira extremamente ofensiva - agora imaginem que a dita pessoa, por coincidência, conseguiu evitar fazer isso. Foi apenas sorte, não boa vontade ou respeito. Uma ignorância que saiu impune, não conhecimento ou apreciação pela cultura. Não foi intencional. Reduzir as labels a apenas duas, que nos permitam ter de aprender menos coisas, nunca irá compensar as micro/macro agressões DISTINTAS vividas por cada subgrupo, irá acabar com a comunicação (arruinando as chances de se encontrar alguém como nós, de partilhar experiências felizes e de acolhimento/integração/compreensão plena), e mesmo que se consiga – por sorte – respeitar as tais pequenas diferenças, isso estará longe de ser equivalente a ter empatia e compreensão pelo outro. Não é algo digno de ser chamado respeito.
» Labels são ferramentas, não rótulos: Aqui está uma série de coisas que muita gente diz para tentar acabar ou limitar as labels, e às quais eu tentarei responder. Sintam-se livres para adicionar motivos.
“Eu aceito as labels hétero e homossexual, mas porquê que precisam de tantas?” - Basicamente, porque isso seria pouco prático, traria mais confusão do que resolveria e invalidaria muita coisa, como explicado na parte anterior do texto.
“Eu não ando por aí a dizer que sou cis/hétero!” – Claro que não, porque é o que toda a gente assume sobre toda a gente, e portanto cis/héteros nunca sentem que estão a ser desonestos com quem os rodeia, nunca se sentem reduzidos a um termo desadequado e nunca sentem pressão para silenciar a maneira como se sentem (ou seja, nunca estão no armário). Também não é algo considerado errado por algumas pessoas – pelo contrário, a cisheteronormatividade é o padrão considerado socialmente correto – então não precisam de lutar pelos seus direitos, nem usar uma label para que os vossos argumentos sejam tidos em consideração ou simplesmente ouvidos.
“Porquê que vocês têm de dizer coisas tão íntimas?” – Dizer por quem nos sentimos – ou não - sexualmente/romanticamente atraídos, de forma tão genérica, é íntimo? Então talvez fosse melhor não se assumir que ninguém é hétero – uma vez que essa é uma condição exactamente do mesmo nível, já que estamos a julgar que as pessoas se sentem exclusivamente atraídas por alguém do género e/ou sexo oposto (aliás, por essa lógica seria ainda mais íntimo, porque as pessoas estão familiarizadas com o seu próprio sexo, mas não com o(s) outros). Agora, uma sexualidade não é mais íntima que outra. Vamos evitar double-standards, pode ser?
“Mas eu não preciso de conhecer todas essas labels para vos respeitar: tenho amigos gays!” – Isso não quer dizer nada. Ter amigos gays (pare de os [tokenizar] -.-) não é sinónimo de os respeitar devidamente, não ser homofóbico não é sinónimo de não ser bifóbico/transfóbico/acefóbico, e há muitos homossexuais que são, eles próprios, preconceituosos em relação a outras pessoas da comunidade. Aliás, é possível ser homossexual e homofóbico, e eu sou bissexual e fui bifóbica por muito tempo, uma vez que acreditava em tantos estereótipos e desconhecia imensa coisa. É preciso conhecer pelo menos as labels do acrónimo – completo – LGBTQIAP ou QUILTBAG, e saber um mínimo sobre elas, caso contrário, a ignorância irá impedir o respeito e a compreensão. Preconceito não deriva da intenção, e sim da desinformação – são conceitos ou julgamentos pré-formados, ANTES de uma pessoa se informar e quebrar todos os estereótipos que absorveu ao longo da vida. Para respeitar, tem de conhecer.
“Vocês são pessoas, não precisam de rótulos!” – Primeiro, “pessoa” é uma palavra tão descritiva quando “hétero”. Segundo, sempre achei este tipo de imagem [www] idiota porque toda a gente se enquadra em várias categorias ao mesmo tempo - a sexualidade de alguém não anula o facto de se ser pessoa – são duas coisas que coexistem, que TÊM de coexistir, pois mesmo quem não usa labels É alguma coisa – e colocar “pessoa” como opção é tão absurdo quanto perguntar “Qual é a tua cor favorita?” e ter as opções “Azul, vermelho, amarelo, comida”, para além de que pessoas trans têm de ser de alguma sexualidade, e não faz sentido numa imagem dessas misturar sexualidade com género. Terceiro, pessoas têm atributos – alto, baixo, magro, gordo, branco, preto/negro, hétero, homossexual, e todas as categorias intermédias ou para além dessas – a sexualidade é tão “rótulo” quanto qualquer uma dessas palavras. Ignorar isso é semelhante ao que acontece com colorblindness – ao se clamar “Eu não vejo cores!”, está-se a ser racista porque A COR ESTÁ LÁ, e não reconhecer isso faz com que não se reconheça que esse atributo traz experiências positivas e negativas por arrasto, o que é desvalidador.
CONCLUSÃO:
Assim, labels validam, confortam, libertam, ajudam as pessoas a encontrar quem as compreenda (o que NÃO significa que as labels simbolizem rivalidades/conflitos entre si, até porque há pessoas que pertencem a mais de uma comunidade), e empoderam minorias. Se mesmo assim não conseguem compreender, PENSEM NUM GATO: Gatos adoram caixas, mas detestam ser lá colocados pelas pessoas ou forçados contra a sua vontade, e são eles que decidem que caixas é que lhes servem – mesmo quando os donos acham que a caixa é demasiado pequena ou grande para eles.
Além disso, o preconceito não é um problema individual, e sim colectivo – em grande parte, propagado devido aos meios de comunicação e aos seus estereótipos tendenciosos – mas tem de ser quebrado a nível individual [ver como aqui: www]. O dia em que as pessoas pararem de assumir a sexualidade e género de toda a gente, ainda que com base nas presentes relações, será o dia em que as labels passarão a ser usadas apenas como termos técnicos, sem importância real no dia a dia. Nessa altura, a representatividade será bem feita e equilibrada, as experiências das pessoas serão validadas sem precisarem de ser nomeadas, e as diferenças serão reconhecidas como algo natural e belo. Nesse dia, deixará de haver preconceito.
OBS: Com "labels como termos técnicos", não me refiro ainda assim a definições estritas. Afinal, a mesma label pode ter significados e interpretações distintas para as várias pessoas que a clamam. Por exemplo, há uma multitude de razões para alguém optar - ou não - entre bi e pan [ver aqui].
Resumindo, labels importam porque:
São ferramentas que potenciam a comunicação
Permitem às pessoas encontrar uma comunidade
Empoderam e validam os traços que diferenciam cada identidade
Podem ser o que impede alguém de ter uma vida vazia (no pior caso)
Permitem fazer trocadilhos engraçados ;)
Recusar labels:
É uma escolha perfeitamente aceitável se for individual
Não pode ser forçada a pessoas que ficam mais confortáveis com rótulos
Às vezes é uma escolha que denota um certo privilégio e distanciamento do ativismo
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