#béar fionnadh - urso peludo
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Estranhamente, Natalia o obedeceu. Assim que fechou a porta, apoiou o corpo com as duas mãos contra a folha de madeira, cabeça baixa, repensando se havia feito a melhor escolha. Ela era a única que acessava suas camadas com facilidade e parecia não se queixar disso, então por quê recusar sua aproximação? As indagações cercaram seus pensamentos ao ponto de sequer notar que a música continuava tocando, cada vez mais alta. Maldita Alexa dos irmãos Stroll. O universo parecia tão esquisito que até mesmo a filha de Hécate pareceu se contentar com a recusa, ouvindo passos se distanciarem da porta e sendo tomado pelo alívio, mesmo que momentâneo. Não gostaria de sangrar suas fragilidades para a mais baixa, principalmente agora que ela havia sido inocentada perante o acampamento e abandonava, de vez, as quatro paredes de seu quarto úmido como um cativeiro. Mas foi na concepção daquela rápida aceitação de Natalia que a preocupação lhe alcançou, pouco a pouco. Ele era desprezível ao ponto de fazê-la reagir assim? Simplesmente aceitando aquela condição e indo embora? Será que Nessa, sua irmã, o veria da mesma forma? O deixaria para trás na primeira oportunidade ou dificuldade?
Com os olhos fechados, tentava visualizar meios de reparar aquele evento, conversar com Natalia assim que estivesse bem o suficiente para aquela interação repleta de picos energéticos como sempre foi. Até que o barulho da janela correndo pelo trilho de metal fez com que abrisse os olhos e se direcionasse para o local. "Você só pode estar de sacanagem!" Reclamou num resmungo incrédulo. "Megerinha insistente." O sorriso quase escapando dos lábios. Natalia era a melhor pessoa daquele acampamento, sem sombra de dúvidas. Era em momentos como aquele que sentia, no fundo de seu coração, que a vida antes dela era um tanto mais solitária, que depois de sua chegada ela ocupou espaços que sequer havia percebido. Entretanto, o rumo daquele conversa, desfez o riso anasalado que o acompanhou até aquele momento. Permaneceu em silêncio conforme a semideusa adquiria para si parte da autoria daquele crime. Será que as duas mulheres de sua vida estavam tão interessadas assim em seu passado e pensamentos, ou só estavam interessadas na fofoca inédita que descrevia naquele caderno? Os pés deram poucos passos na direção de Natalia, mas logo cessaram. A boca entreaberta, juntando as pontas das informações prestadas por Kitty dias antes e o comportamento estranho apresentado pelas duas logo após o sumiço de seu diário. Era isso. Elas agiram em comunhão em um clube do livro clandestino. "Você leu o meu diário?" A pergunta foi dita por uma voz baixa e firme, numa entonação que nunca havia usado com Natalia. Sem riso, sem piadas. Apenas uma expressão de seriedade e incredulidade que se instalou em sua feição. "Vocês fizeram a porra de um clube do livro com o meu diário?!" Aidan abriu os braços para gesticular, talvez iniciar seu discurso furioso assim como fez com Kitty, mas foi abraçado pela melhor amiga imediatamente.
Ela sabe esquivar do caos tão bem quanto a megerinha do chalé de Hades, pensou consigo. Mesmo irritadiço, mesmo com a sensação incômoda de ter sua privacidade invadida, aceitou aquele contato, sem retribui-lo. Naquela altura da convivência, era questão de tempo até que Natalia soubesse dos detalhes de sua vida, mas esperava que pudesse fazer aquilo de forma mais vagarosa, tomando tempo e respiro entre uma exposição e outra. Só não esperava pela combinação caótica da melhor amiga com a sua amiga, que pareceram não se adequar aos seus planejamentos. Queria devolver Natalia pela mesma janela que havia entrado, grudar um aviso na janela como a filha de Hades havia ensinado e bloquear as duas em qualquer rede social. Traidoras, pestinhas e sem limites. A boca se abriu e nada parecia sair. Toda a revolta que havia sido dissipada pelo encontro com Kiraz parecia retornar ainda mais potencializado. Ela poderia ter dito que o seu diário havia passeado pelo acampamento, que não somente tinha lido como feito um podcast sobre seus segredos e opiniões. Ao sentir o novo distanciamento, seu corpo permaneceu imóvel.
Seus olhos piscaram algumas vezes, tentando formular uma frase que fizesse sentido e demonstrasse sua chateação com a conduta adotada por ela. Quando deu por si, já estava com a mão na cintura e o dedo indicador apontado na direção da semideusa. "Escuta aqui, sua fedorenta. Com a Kitty eu peguei leve, mas com você não vou pegar. Que mania é essa de dar uma de filha de Hermes e pegar as minhas coisas sem minha autorização?" Aidan, espalhafatoso e dramático como de costume, deixou que seus pequenos monstrinhos caminhassem pelo quarto. "E ainda tem a falta de vergonha na cara de vir até aqui como se nada tivesse acontecido! Você e aquela... Aquela.... Aquela filha de Hades teimosa e insuportável, vocês duas deveriam dar as mãos e irem pro primeiro buraco que ela cavasse no bosque!" Sua atenção foi lançada para o diário nas mãos de Natalia, franzindo o cenho ao lembrar de suas informações. "E ainda quer comprar o meu perdão com seu diário? Pois bem!" A vingança seria plena e urgente. Aidan caminhou até sua cama, reunindo as fotos e papéis de seu diário e colocando tudo sobre sua cômoda enquanto resmungava em gaélico, a língua que sua mãe havia ensinado quando pequeno e que só agora estava arriscando utilizar, em respeito à memória da genitora. De pé, apontou para o espaço que deveria ser ocupado pela filha de Hécate. "Senta aí, cailleach stubborn." Em sequência , capturou o celular onde conseguiu não somente pausar a música, como desbloquear a tela, abrindo o aplicativo de mensagens no contato de Kitty. Os dedos velozes passaram a escrever um texto rápido, encerrando apenas com o som de envio do aplicativo. Se Natalia iria ouvir aquela bronca, a filha de Hades também iria levar mais uma reclamação para casa, mesmo que agora estivessem acertados de uma forma inesperada. "Passa esse diário pra cá, quero ver o que escreveu sobre mim e sobre o béar fionnadh. Agora não tem mais segredos. Se você leu tudo, eu também quero ler!"
໋ Ela tinha ouvido bem? Ele realmente não a queria por perto naquele momento? "Tudo bem, então." Deu passos para trás, evitando que ele a alcançasse, partindo até a saída, batendo os pés com força contra o chão, apertando as mãos ao redor da sacolinha e do diário. Seria infantil, mas também teatral. Aidan não poderia agir daquela maneira e pensar que se safaria. Se ele bem lembrava, a insistência de Natalia beirava o insuportável, e ele teria que aturá-la a todo custo. O filho de Ares a veria, quer quisesse ou não. Contornando o chalé, movendo-se furtivamente para não fazer barulho, a semideusa chegou até a janela, o local exato do quarto, uma entrada alternativa para a privacidade do homem. Não era uma prática comum, mas Natalia era excelente em arrombamentos — não por má fé ou malícia, mas como um meio eficaz que encontrou nos primeiros anos de acampamento para entrar e sair do chalé sem ser percebida, sem precisar dar explicações. Agradeceu mais uma vez pela energia correndo em seu corpo, pois seria impossível realizar todo aquele esforço se ainda estivesse debilitada. Com uma mão livre, a semideusa forçou delicadamente a janela para cima, o suficiente para afrouxar a trava, enquanto a outra segurava firmemente os itens que trazia consigo. Aidan não costumava agir daquela maneira. Mesmo em dias ruins, o semideus sempre estava aberto para recebê-la. Mas vê-lo daquela forma... Havia descoberto que ela era cúmplice de Kitty quanto ao diário? Deuses! Aquilo não poderia ter acontecido.
໋ Após ouvir o baixo estalo, sinalizando que a trava havia sido desarmada, a semideusa pulou, pendurando-se e fazendo barulho de propósito. Seus olhos caíram sobre a cama, visualizando o possível responsável por aquele comportamento. "Aidan!" gritou, terminando de passar o resto do corpo para dentro do recinto. O lugar cheirava a limpeza... e desodorante masculino. "Você quer uns tapas e não sabe como pedir?" Jogou os cabelos para trás, não se importando se estavam despenteados. "Se está bravo comigo pelo que fiz, então seja direto e fale na minha cara." Os pés bateram ainda mais forte contra o assoalho, e a postura que assumia era de uma criança birrenta que não aceitaria um 'não' como resposta. Se ele a quisesse longe, teria que fazer isso ele mesmo. "Se está bravo por saber que eu li o seu diário... Me perdoe..." A expressão mudou drasticamente em uma fração de segundos. Os ombros caíram e ela se aproximou do amigo, os olhos transmitindo arrependimento. "Ela leu o meu," ergueu o caderno de capa preta, estendendo-o até o amigo. "E depois falou do seu, e eu li... Li repetidas vezes. Você é tão intenso, profundo... Diferente do que um dia eu imaginei... Mas isso é bom, não se confunda. É ótimo, lobinho!"
໋ As palavras saíam rapidamente da boca da semideusa, que no primeiro impulso, o abraçou sem cerimônia, apertando os braços ao redor da cintura do homem e aconchegando a cabeça em seu ombro. Os olhos se fecharam instantaneamente e Natalia permitiu que a sensação de calma a invadisse. Sentia-se segura, livre de qualquer temor ou preocupação. Enquanto o acampamento estivesse de pé, mesmo em meio ao caos, não haveria mais segurança do que estar ao lado dele. "Eu fiz um colar lindo para você com cristais. Minha primeira obra depois..." A fala ficou incompleta, mas Aidan saberia do que ela se tratava. "Cristais em tonalidade rosa, ótimos para espantar qualquer espírito ruim. Inveja, mal olhado, coisas do tipo." A música que agora era notada gerou estranheza na semideusa, que abriu os olhos novamente, distanciando-se para encará-lo. Um sorriso doce tomava forma nos lábios avermelhados da semideusa. "Eu amo essa música também... É contagiante, não é? Te faz querer se apaixonar, estar apaixonado... Por alguém..." Os olhos semicerraram. Aidan ouvindo Beyoncé? Não havia nada de errado, mas então por que ele estava assustado? "O que está acontecendo aqui?" perguntou em tom jocoso. "O que deu em você e por que parece que viu um fantasma?"
#c: natalia#cailleach stubborn = bruxa teimosa#béar fionnadh - urso peludo#aidan reutilizando a lingua da mãe como conforto emocional#finalmente o americaner respeitando as origens irlandesas
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