#autoriapoetacafeteria

[sanchesju]

eu amo como sua boca,

macia, delicada e só minha,

nunca está realmente fechada

[você dorme com os lábios entreabertos]

respira por todos os lugares,

como se essa sua vida,

tão cheia e tão sua,

precisasse do todo para transbordar

[você expira amor]

quero morar no seu respirar

[sanchesju]

Eu finjo. Finjo ter esquecido, finjo curtir esses novos ares, finjo até que consigo falar contigo sem pensar em nós. Eu não sabia ser tão boa atriz, até que te vi partir.

Bem que eu me avisei

[sanchesju]

“Se eu precisasse descrever a vida para um estrangeiro, através de meu embriagado olhar, diria que somos um bando de piratas.” - foi o que eu balbuciei para o bartender. Coitado, além de bêbada tagarela, sou artista. - “Construímos nossos navios de coisas roubadas - roubamos de nós mesmos. De tristeza fizemos o convés, e o mastro é de saudade. Saqueamos bares em prol da sobrevivência: uns dois goles de paixão são o bastante para abastecer-nos por um semana; de vez em quando, dura até um mês. Vivemos apostando nosso coração em troca de uma reputação que nos proteja - afinal, um coração solteiro e pulsante é alvo fácil nesse mar. Para cada pirata um escondido tesouro. Para os sortudos, mais de um. Sem mapa, navegamos oceano a fora, torcendo para que o próximo porto reserve-nós o saque final. O último golpe. Afinal, de paixão em paixão é possível sobreviver; mas de amor, ah! Só desse é que se vive.” O moço até parou para me ouvir. Disse que, se eu bebesse um pouco menos, contaria isso em livrarias por aí. “A verdade é que, se eu bebesse um pouco menos, não teria tanto para contar.” Pensei, mas não disse. Ou talvez tenha resmungado sílabas ininteligíveis. Ao invés disso, pedi outro drink. A verdade é que eu estive bebendo abandono pelas últimas horas, então meu olhar nem é tão confiável assim. Está tudo meio turvo. Agora quero um porre de paixão, antes que eu dê PT de saudade. Dizem que a ressaca é da mais solitária, e toda solidão é fatal.

Conversa de uma poeta bêbada, Ju.

[sanchesju]

Depois que você partiu criei o hábito de dormir cedo. Não por saúde física, ou puro enjoo da vida - foi por medo de encontrar você nos meus pensamentos mais profundos; a noite é silenciosa demais.

Depois que ele partiu

[sanchesju]

Amor é quando você parte, mesmo sabendo que destruirá seu próprio coração, para que o outro encontre a real felicidade. Amar é quando se entende que nem sempre o amor é suficiente.

Estou partindo, Zé.

[sanchesju]

Alguém me tira o tédio? Tá tudo tão batido, tudo tão velho.

Tira as teias da minha ask

[sanchesju]

Alma penada

Do tanto que em vida sofria

Do pouco que em vida cria

Intensamente atordoada

Dos pecados cometidos

Tampouco recordava

Se sorriu, se amava

Esses também despercebidos

Alma penada

Do tanto que a vida custava

Por igual alto preço,

Condenada

Do tanto que lutava

Respirar já não bastava

Antes mesmo da morte

Fantasma

Fantasma de tudo aquilo que fora

Sonhara

Buscara

De tudo que vida lhe arrancara

De si próprio, nada mais que penada alma

[sanchesju]

acordei e você não estava

deixou-me dormir com minha solidão

procurei em todo canto da casa

de você sobrou só o anel em minha mão

do que veio a seguir eu admito a hipocrisia

cantei tanto que queria ser livre inteirinha

mas tu mal saiu e já me deu azia

perdi uns 3kg da autoestima minha

busquei o rastro que você deixou para trás

nem foi tão difícil assim

foi só ir seguindo os corações

[sanchesju]

Meu lema é jamais arrepender-me. Não por fútil noção da vida, ou alguma espécie de complexo de superioridade. Eu erro, e erro muito. Mas, se me arrependo, de que adiantaram todas as metamorfoses, as lágrimas e as lutas?

Tudo é aprendizado, Zé.

[sanchesju]

Quem me encontra no portão

Conversando sobre o clima

Desconhece minha sina:

Um poeta coração

Enterrei-o no quintal

Plantei flores em cima

Mas de forma repentina

Murmuravam como tal

Verso maior que relato

Uma prova do encoberto

Revela um velho fato:

Poeta, ô ser coitado!

Disfarça um corte aberto

Pela arte cutucado

[sanchesju]

Aqui jaz minha alma poética. Estarei enterrando-a para que possam devolver-me a felicidade. Cansei de comprar pão às custas do meu coração; cansei de parti-lo em nome da arte. ‬

Relatos de uma (ex) poeta.

[sanchesju]

reza a lenda que dragões são poderosas serpentes que criaram asas.

na cultura chinesa, dragões são seres divinos.

o horóscopo chinês determina seus signos através do ano de nascimento,

e 2000 foi o ano do dragão.

dizem que daí surgiram líderes ambiciosos, corajosos.

fascinante, eu diria.

por pouco, eu nasceria dragão.

porém, cheguei em 2001 - o ano da serpente.

a mãe dos inteligentes, misteriosos e determinados.

doce ironia;

serpentes são tão decididas que criaram as próprias asas.

aliás, o ocidente tende a subestimar os mitos:

na China, dragões são seres divinos;

aqui, mulheres empoderadas - foi assim que eu aprendi a voar.

eu aconselharia estado de alerta:

as serpentes estão criando asas,

e os dragões transformando o patriarcado em cinzas.

- o dragão é o animal mais bonito da China.

[sanchesju]

Quero um amor desses de bar. Mas não quero uma cerveja morna, que me embriaga na marra e quando parte só deixa desgosto. Nem quero doses de pinga braba, pois amor intenso só é bom quando se é adolescente: ninguém merece tal ressaca. Tampouco aceito um drink elaborado, daqueles que eu nem sei dizer o nome - amor complicado demais transforma o amar em trabalho; e de emprego já basta o meu. Quero um amor desses de bar, e quero que seja puro. Uísque sem gelo. Único. Quero companhia para essa noite, e talvez para uma próxima - mas só talvez; pequenas doses, grandes prazeres, não? Sei lá. Não importa. Vou pedir para que o garçom me traga um amor de bar. Quem sabe dessa vez o gole que queima a garganta aqueça o coração?

Sábado à noite, no bar.

[sanchesju]

Para ler ao som de “Sei lá”, Hrxn.

fiquei de falar de amor

pensei, pulsei

lembrei!

daquela nossa história

de como você chegou do nada

e virou tudo para mim (em mim)

pegamos juntos uma só estrada

e eu mal sabia de onde você vinha

a verdade é que eu mal sei de onde eu vim

fiquei de falar do nosso acaso

o encontro despreocupado mais bem planejado

resolvi colocar a culpa no cupido

o velhinho havia acertado!

para nós, ao invés de arco

usou um estilingue daqueles de criança

em nossa razão deu um perdido

e o tiro foi certeiro

acertou-nos em cheio

feito pássaros abatidos

procuramos outro peito para nos refazer

doei tanto,

recebi muito

entregamos demais

nem pensamos no mais

mal vimos o que nos atingiu

e agora, viu?

o cupido fugiu

e largou sua bagunça para trás

quem é que vai limpar?

[sanchesju]

Mindless

Era uma vez a menina que perdeu a cabeça. Pelo menos, era o que sua mãe contava. 18 anos e já queria conhecer o mundo todo, voar sozinha. A mãe, coitada, morria de medo a cada palavra - era um tal de sonho, desejo, ambição; para Dona Rosa, aos três cabia a tríade do sofrimento. “Mocinha, quanto mais alto se voa, maior o estrago quando ‘cê’ cair” - a mãe repetia o mantra todas as vezes que a menina trazia novas histórias. Certo dia, a filha de Dona Rosa partiu, e dela sobrou o cheiro e um post-it: “Mamãe, a verdade é esta: do tanto que a senhora teme a morte, eu temo viver arrependida”. Foi o bastante para incitar o burburinho - Dona Rosa gerara a menina mais sem juízo da cidade. Porém, como isso aqui é conto de fadas de melhor qualidade clichê, o destino deu boas risadas - a menina alcançou acordada tudo aquilo que dormindo sonhara. Dona Rosa foi chamada, e transformou-se em uma mulher esclarecida, empoderada. Sentava o neto no colo, e seu novo mantra contava: “Mocinho, muito maior que o estrago da queda é aquele que a covardia provoca - trate de viver o que sonha, e trate de sonhar agora.” E não é que deu certo? Viveram sem um pingo de juízo, mas viveram lotados de felicidade. E fi... Ah, e teve falta de juízo para todo o sempre! Agora sim, fim.

[sanchesju]

Aniversário de amor. Isso aí, de amor. O namoro nós terminamos, meses atrás. Tu precisou seguir um caminho em que eu não cabia mais. Meu coração? Foi contigo. E o teu ficou aqui. Ainda pulsa acelerado todo dia 18. Afinal, só acabou o namoro - nosso amor ainda é nosso, nosso amor ainda é vivo e faz aniversário. É aquele ditado: se foi amor, jamais deixará de ser.

Feliz aniversário de amor, Ursão.