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#aproveitando as tags pra avisar que vou dar umas pausas nas replys pra focar em povs nos próximos dias
stcnecoldd · 7 days
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⠀ P・ O・ V #01 ⁝ N O T H I N G L E F T T O L O S E
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O rescaldo do ataque ao acampamento ainda pairava no ar, uma mistura sufocante de cinzas e desespero que impregnava cada respiração sôfrega. Com a promessa de ser uma noite de alegria e celebração, aquele baile fora transformado em um pesadelo dilacerante, tal como havia temido. Observando as ruínas do pavilhão, sentia uma parte de si partir junto com a vítima fatal da noite trágica. A dor que a consumia consistiam em emoções conflitantes. Não conseguia afastar o pensamento torturante de que tudo poderia ter sido evitado. A escolha insensata de cada campista em participar daquela comemoração inapropriada lhe causava ressentimento, mas imperdoável era o comportamento das divindades que permitiram que o desastre anunciado se concretizasse. Cada gota de seu esforço físico estava drenada, mas era sua alma que se encontrava irremediavelmente devastada. A sensação de angustia pesava em seu coração como uma âncora, enquanto ela se perguntava se algum dia seria capaz de superar as incessantes tragédias que a rodeava.
Os olhos vazios refletiam a dor profunda por não poder chorar, aprisionando a angústia dentro de si, enquanto uma tempestade de neve em sua alma rapidamente se transformava em uma fúria gélida, convertendo-se em uma chama fria que ardia silenciosamente em seu íntimo. A memória devastadora de Flynn, deitado no chão com os olhos sem vida, era uma sombra eterna que jamais desapareceria. Indomável, o sentimento de culpa a sufocava. Era atormentada pela impotência de não ter conseguido salvar o semideus, de não ter podido protegê-lo das forças desconhecidas que assombravam o acampamento. Mas esse não é um dever que cabe apenas a você, repetia para si mesma, tentando afastar a cobrança que, no fundo, sabia ser injusta. O misto de sentimentos era um nó que se apertava cada vez mais, uma presença constante que ameaçava esmagá-la a qualquer momento de mínima fragilidade. Carregar o fardo sozinha era insuportável, mas necessário.
A cada dia que passava naquele lugar condenado à destruição, sentia sua percepção se tornar mais aguda: os vínculos que uma vez a fortaleciam agora pareciam correntes, ameaçando arrastá-la para um abismo profundo. Cada lembrança dolorosa e perda sentida eram tijolos adicionais em sua fortaleza fria, construída não apenas como proteção, mas também para conter a tempestade interna que a consumia. Aurora sabia que o isolamento emocional era um caminho solitário, mas a perspectiva de mais sofrimento tornava impossível a ideia de baixar a guarda. Sufocava o conflito constante, onde desejava se conectar, mas temia as cicatrizes que tais vínculos poderiam deixar. E deixariam, certamente deixariam. Assim, caminhava pela tênue linha entre a necessidade de se proteger e o desejo profundo de não se afogar na solidão, uma luta incessante para encontrar um equilíbrio que parecia eternamente fora de alcance.
No entanto, havia uma força dentro dela mais poderosa, que sobrepujava seu medo da solidão: uma determinação feroz que começava a tomar forma. A necessidade de desvendar a verdade por trás dos ataques, a urgência de proteger aqueles que ainda restavam de pé, e a fúria contra os deuses indiferentes, alimentavam seu espírito combativo. Mesmo sem lágrimas para expressar o que guardava no peito, sua alma clamava por uma conclusão. Clamava por justiça. A mesma justiça que não encontrou no sacrifício do próprio pai na proteção de sua vida, que não encontrou no abandono e na maldição rogada por Quione, que não encontrava nas dezenas de semideuses que eram submetidos ao mesmo destino de renúncia. Essa chama interior iluminava o caminho e a fortalecia, mas talvez a consumisse por inteiro. No coração ecoava a promessa de não permitir que Flynn e as demais vítimas se tornassem meras memórias trágicas, mas em um símbolo de sua luta. Como uma corrente invisível, mas inquebrável, a determinação - e uma grande dose de autodestruição e desesperança - a impulsionava adiante. E assim, mesmo em meio ao desespero e à dor, erguia-se. Já estavam destinados ao fim. A luta apenas começava, e nada, nem mesmo os deuses ou a consciência do potencial suicida de sua missão, poderiam detê-la.
O silêncio que se seguiu ao caos era ensurdecedor, preenchido apenas pelas lembranças de risos que se transformaram em gritos e pela certeza amarga de que, no meio das cinzas, algo precioso havia se perdido para sempre. Os olhos, habitualmente frios, ergueram-se abruptamente e encararam o que restava do acampamento mais uma vez devastado, agora irradiando um brilho avermelhado que se mesclava à névoa densa de seu ressentimento. Não restava nada a perder.
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