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New hair, new tee, new jeans: Agnes Mallard
Aviso de conteúdo sensível: transfobia, abandono parental, síndrome do impostor e a personagem está em uma busca incansável de aceitação e reciprocidade quanto ao amor.
Desde os primórdios, sua vida foi sobre procurar aprovação e amor em lugares onde ela sabia que não ia receber nada em troca, mas sentia que precisava tentar acima de qualquer coisa.
Incluindo os limites que ela tinha estabelecido para si mesma.
Começou com sua mãe, claro, quando ela ainda era criança e só sabia que faltava algo em si mesma quando se olhava no espelho, levantava da cama, ia escovar os dentes ou só respirava. Existia naquela vida.
A mais velha dizia que Agnes era muito jovem pra dizer com tanta convicção quem ela realmente queria ser, pontuar exatamente o que estava faltando, e afirmando que ela se sentiria melhor e mais feliz se fosse tratada como tal. Isso não é normal, você deveria se envergonhar de pensar assim. Você é um acontecimento perfeito exatamente como é agora. Você é o que você é, e essa não é e nunca vai ser uma discussão.
A mais velha também dizia que se o preço era seu silêncio e melancolia, que assim fosse, as coisas ainda não iam mudar. Ela não ia deixar que elas mudassem, porque ela só acreditava em uma verdade e queria que aquela fosse a de Agnes também. Eu não vou ser capaz de amar você se um dia você destruir quem um dia você foi.
Mas ela nunca a amou de verdade, então qual ia ser a diferença? Seu pai por outro lado, sim, sempre ouviu seus devaneios, tentou ajudá-la a entender o que se passava por sua cabeça e foi atrás de todas as pessoas que pudessem ter as respostas, com o único e exclusivo intuito de aliviar o peso nas costas de sua prole amada. Amada e querida e que ele protegeria com todas as suas forças, independente de qualquer coisa, independente de qualquer pessoa.
E se o preço era ver a esposa deixando o lar e eles para trás, que assim fosse. Eles iam ser melhores sem ela. Ia ser sobre os dois contra o mundo.
Mas não receber amor de alguém que deveria te amar muda a química do seu cérebro. Conhecer o amor que nunca vai ser dado a você, pela pessoa que você mais espera, também machuca e deixa marcas por toda parte. Por dentro e por fora.
Ficou pior quando ela foi crescendo, quando o mundo ao seu redor começou a mudar no mesmo ritmo que ela, a caminho de se tornar quem ela era de verdade. Era tão difícil achar tantas pessoas legais e querer ser amiga delas a qualquer custo, ainda mais difícil passar meses com só um indivíduo nublando seus pensamentos e quase virando uma obsessão que ela não sabia como lidar. Era tão difícil tentar ser a melhor aluna e ganhar todos os jogos de quadribol, na esperança que quando sua mãe voltasse, quando ela voltasse, pudesse se juntar a esse pequeno grupo de pessoas que a admiravam e ficasse feliz pelos feitos dela.
Mesmo que ela não dissesse com todas as letras, mesmo que ela não demonstrasse, Agnes só queria sentir que ela se importava. Ela só queria que alguém se importasse. Com tanta força que sentia inveja de pessoas que conseguiam tudo aquilo sem fazer esforço algum.
— E se eu for… Muito difícil de amar? — O questionamento vem tão de repente que a loira deixa a pena cair em cima de seu dever de casa, não dando a mínima quando a tinta começa a manchar a folha que ela deu o maior duro pra fazer. — O que acontece se eu for tão, mas tão difícil de amar e as pessoas não quiserem nem tentar? O que eu vou fazer se tiver só a mim mesma pela eternidade, Yuri?
Kang, que é a pessoa sentada ao seu lado na biblioteca, também foi pega de surpresa com aquelas perguntas, chegou a olhar em volta só pra ter certeza que Agnes estava falando com ela e não tinha outra Yuri ali, antes de se voltar a amiga.
— Primeiro, você tem que parar de usar esse tom desesperado quando fala de si mesma. Você é incrível, passar a eternidade consigo mesma está longe de ser esse pesadelo todo que você faz parecer. — A garota asiática pontua, também soltando sua pena, deixando as mãos livres pra alcançarem as de Agnes como uma forma de confortá-la naquele momento que parece ser uma crise existencial. Muito longe de ser a primeira que ela já vira a loira enfrentar. — E, segundo, você não é difícil de amar, só não encontrou alguém que te ame tanto quanto você merece. São duas coisas muito diferentes e eu quero que você mantenha isso em mente.
Yuri faz uma pausa, mas só porque não sabe se é a pessoa mais indicada pra dar conselhos sobre vida e amor quando ela anda pra baixo e pra cima com uma aquarela descarada de um cara que pode ou não ser seu namorado e marido um dia, porque é o olhar aflito no rosto de Mallard que a faz continuar torcendo pra seja suficiente pra ajudá-la a passar por aquilo.
— Vai acontecer quando tiver que acontecer, e quando for assim… Vai ser tão bom que você não vai se lembrar dos dias em que foi triste no antes, porque tudo o que você vai conseguir pensar e respirar são as coisas boas que vieram depois. — Kang forma um beicinho nos lábios quando vê as orbes azuis da loira brilharem como se ela fosse uma criancinha, e Yuri tivesse acabado de lhe dizer que Papai Noel era sim real. — Talvez com um cara hipster duvidoso ou uma patricinha tão transtornada quanto você, seja lá quem for, ainda vai ser um caso a ser aprovado por todos nós. Porque você é muito especial, Agnes, e não merece qualquer tipo de amor.
Aquilo deixa Mallard confiante, como se alguém tivesse trocado suas baterias e dado um novo propósito pra ela, mesmo que ela saiba que aquilo é muito profundo e igualmente precoce pra alguém tão jovem quanto ela; só tem dezesseis anos, quase dezessete, e precisava e queria ouvir alguém dizendo que a vida dela pode ser fácil e ela não precisa pensar tanto. Ela pode respirar, pode relaxar também e se preocupar com absolutamente nada.
Ela aperta as mãos de Yuri com carinho e está prestes a agradecer ela por ter sido uma boa amiga, quando seus olhos caem no livro de Kang, e a primeira coisa que ela vê é a maldita aquarela conservada como se fosse um espírito obsessor que tinha deixado aquela garota completamente cega pra mais de dois anos.
— Você não devia fazer seu mundo todo girar em torno de alguém que você ainda não conhece. — Mallard diz, com o coração. — E que também não conhece você. Sou sua amiga e me preocupo com você se policiando por alguém que não deve estar te esperando.
Mal sabia ela que aquilo ia servir como argumentos em um futuro não tão distante.
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