#QUE ORGULHINHO DESSA VERSÃO
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"Estou me sentindo como segunda-feira, mas algum dia serei uma noite de sábado"
Eu olho para o teto e suspiro. Só mesmo Regina para me fazer companhia em mais uma noite de muito Netflix e sorvete nesse sábado. A lagartixa bebê está no meu quarto há uma semana e parece muito disposta a criar raízes por aqui. E bom, já que lagartixa é um tipo de lagarto, eu a amo. Confesso que já amo mais Regina do que amei Trevor.
Mulheres nunca deviam se sentir humilhadas por homem nenhum, mas adivinha só? Eu me senti. Não durou muito, confesso, só o tempo de Courteney dar um belo de um chute no meio de suas pernas e fazê-lo chorar como uma criança. Ele a ameaçou e ela lhe mostrou o dedo do meio para depois me encarar e dizer "eu tenho certeza que o pinto dele é pequeno". Eu ri porque era impossível não rir do que minha melhor amiga inventava para fazer eu me sentir melhor. Courteney sabia que o tamanho de Trevor era a última coisa que me preocupava e por isso foi tão engraçado.
Uma semana se passou desde que meu namoro de seis meses terminou e durante a última semana Regina se demonstrou uma ótima ouvinte para minha frustrada história de amor. A verdade é que depois do primeiro mês me sentindo culpada, fiquei aliviada com aquele término. Foi o suficiente para que Courteney inventasse um curso de maquiagem para fazermos. Um curso pago. Como se nós fôssemos capazes de bancar qualquer coisa no momento. Eu relutei, mas ela acabou nos conseguindo 100% de bolsa e foi então que a minha segunda paixão se aflorou: maquiagem. Foi um grande infortúnio para meu irmão mais novo porque eu queria treinar em qualquer coisa que tivesse rosto e ele não fugiu de ser minha cobaia.
- Regina, qual seu programa favorito para uma noite nessa cidade do interior? Aposto que minha companhia não é sua primeira opção.
Escutei a porta da frente batendo forte e o estrondo me impediu de escutar a resposta da minha mais nova companheira. Um vulto vermelho entrou no quarto feito um furacão e Courteney me encarou para depois começar a jogar tudo que tinha dentro da sua gaveta do criado mudo no chão.
- Merda. – Minha amiga praguejou.
- O que foi?
- Não acho meu isqueiro. – Ela respondeu. – Pheebs, tira esse moletom, me ajuda a achar meu tão precioso isqueiro e vamos sair.
- Estou bem com Regina, muito obrigada.
- Eu não acredito que estou perdendo para a merda de uma lagartixa! – Courteney se fingiu irritada e suspirou frustrada ao não encontrar o isqueiro. – Fala sério, um dia eu vou entrar aqui e matar essa coisa!
- Como ousa ameaça-la desse jeito? – Fingi estar realmente ofendida e minha amiga riu.
- Eu sou a malvada e você a boazinha, Pheebs. – Courteney continuou procurando seu isqueiro e quando voltei meu olhar para o teto, Regina tinha sumido.
- Eu sabia que não era a primeira opção dela nessa noite. – Murmurei ao mesmo tempo que minha amiga achou o maldito isqueiro.
- Se te consola lagartixas não têm essa capacidade de sentimento. – Courteney respondeu. – Mas eu tenho! E você é minha primeira opção!
- Eu sou sua primeira opção até você achar alguém que tenha um pinto no meio das pernas. – Rebati e Court bufou, entediada.
- Droga, você me conhece tão bem. – Ela disse. – Bom, eu estarei no pub britânico que eu vivo esquecendo o nome. Qualquer coisa, aparece por lá, ok?
Courteney deu um beijo estalado na minha bochecha, me deixando marcada com seu batom vermelho e tão rápido quanto apareceu, ela se foi. O pub britânico atendia pelo nome de Republic e ficava a exatamente a dois quarteirões de nossa quitinete. Eis o primeiro – e talvez único – benefício de se morar numa cidade do interior: tudo é perto de tudo.
Olhei para o teto mais uma vez e admiti que se até Regina tinha coisas melhores pra fazer do que ficar ali comigo, eu também devia ter. Sábias decisões baseadas no comportamento de uma lagartixa.
Preguiçosamente eu me levantei da cama e tirei o moletom que vestia. Tomei um banho rápido e enquanto me arrumava, cantava a música do Bon Jovi que dizia: "Ei, cara, eu tô vivo. Estou levando um dia de cada vez. Estou me sentindo como segunda-feira, mas algum dia eu serei uma noite de sábado". As primeiras frases da canção serviram de incentivo o suficiente para me fazer entrar num básico vestido preto e colocar um sapato de salto confortável.
Não me esforcei na maquiagem porque se eu me empolgasse demoraria mais duas horas para me arrumar e acabaria ficando com preguiça de ir. Uma maquiagem maravilhosa também poderia ser muito bem aproveitada em casa, muito obrigada. Então, preferi ficar apenas com um iluminador e um fino delineado nos olhos para passar um batom marrom nos lábios.
Me olhei no espelho uma última vez e enfim saí de casa. Tranquei a porta, guardei a chave na bolsa e quando me virei para ir ao pub, levei um dos maiores sustos de toda minha vida.
- Cruzes! – Gritei ao ver que o Sr. Gomez me encarava com seu típico ar macabro e bafo de álcool. – Você quase me matou do coração!
- Você e sua amiga que vão me matar de tanto esperar! – Ele rebateu. – Quando pretendem pagar a porcaria do aluguel?!
Se Courteney estivesse aqui responderia algo do tipo "assim que tivermos dinheiro, Sr. Gomez, agradecemos sua preocupação". Mas eu não era minha melhor amiga e o que fiz foi engolir em seco e forçar um sorriso.
- O mais rápido possível! É uma promessa! – Ele riu debochado e deu um passo pra frente, me fazendo recuar e encostar as costas na porta.
Sr. Gomez era um cara assustador. Além da pele enrugada e das olheiras que o davam um belo ar de assombração, todos na nossa pequena cidade de West Hills sabiam que ele era metido com tráfico de drogas. Ninguém ousava investigá-lo porque além de estar metido com pessoas perigosas, seu filho era só o tão estimado delegado da cidade e fazia questão de acobertar todas as imprudências do pai. Então, sim, eu tinha medo dele. Se Courteney compartilhava desse mesmo sentimento? Claro que não.
- A sua promessa não faz aparecer dinheiro no meu bolso, Lankaster! – Seu dedo indicador foi para o meu queixo e eu prendi a respiração. – Você e a puta da sua amiga têm uma semana para me pagarem os seis meses de aluguel atrasado. – Sr. Gomez se afastou e eu soltei o ar, mas nenhuma onda de alívio me atingiu, pelo contrário, fiquei ainda mais tensa. – Caso não cumpram vou chamar meu pessoal para tirá-las daqui.
Não consegui dizer nada. Havia uma bola de tênis no meio da minha garganta e ela era totalmente constituída de medo. Sr. Gomez me encarou uma última vez e deixou seus olhos me percorrerem de cima a baixo para depois sumir pelo corredor com um sorriso malicioso estampado na cara. Quando tentei me desapoiar da porta, percebi que minhas pernas bambeavam e minha cabeça doía.
Não era a primeira vez que ele nos ameaçava dessa forma. Na verdade, Courteney chegou a ter uma experiência horrível com o "pessoal" do Sr. Gomez, mas esse era um assunto proibido – principalmente perto do meu irmão.
Não sei o que me fez continuar caminhando a passos lentos para o pub, mas eu fui. Quando cheguei não passava das 22:30 e mulheres ainda tinham o direito a uma entrada vip. A primeira coisa que fiz foi caminhar até o bar, estranhando a dificuldade que tive para exercer tal tarefa. Estava lotado demais.
- Não acredito que até mesmo minha irmã eremita se rendeu aos encantos de um sábado à noite. – Olhei para o lado e encontrei Ryan com uma cerveja na mão.
"Sim, eu estou triste, mas sei que vai passar".
O sorriso do meu irmão tinha o incrível poder de acalmar meu coração. Desde criança, apesar de toda a implicância e guerra fria que qualquer relacionamento fraternal exigia, Ryan era meu porto seguro. Os anos passaram, as dificuldades aumentaram e mesmo assim ele continuava sendo a minha pessoa. Cristina Yang está para Meredith Grey assim como Phoebe Lankaster está para Ryan Lankaster.
- Ei, você tá legal? – Meu irmão perguntou e eu fiz uma careta que o fez rir. – Precisa de um abraço?
Eu era a mais velha, mas os papéis eram facilmente invertidos em situações como essas. E eu não era tão mais velha assim; ele só tinha 20 enquanto eu tinha 22. E bem, eu não precisei responder sua pergunta porque no instante seguinte ele já estava me aconchegando em seus braços. Respirei fundo e me permiti relaxar, encostando meu rosto em seu ombro e o abraçando pela cintura.
- Eu odeio não ser rica. – Murmurei e seu corpo chacoalhou em uma risada.
- Eu também odeio você não ser rica pra me mimar com coisas de gente rica. – Ele rebateu e então foi a minha vez de rir.
Ryan me afastou pelos ombros e deu um beijo em minha testa para depois me oferecer mais um de seus calmantes sorrisos. Bastou apenas um olhar para ele entender que eu não queria falar sobre o que havia me deixado mal e eu sabia que ele só respeitaria isso porque estávamos num espaço público. Se estivéssemos na minha quitinete ou em seu apartamento, por exemplo, a cena seria muito diferente.
- Por que tá tão lotado aqui? – Perguntei antes que ele pudesse inventar de realmente querer me questionar.
- Uma banda famosinha vai fazer um show de graça hoje. – Ryan respondeu e tomou mais um gole de sua cerveja. – Parece que os integrantes são de West Hills e existe um público feminino muito louco achando que esse é o momento perfeito para conquistar os caras. – Ele parou para dar mais um gole e depois acrescentou: - Ah, o público masculino também não fica atrás.
- Suponho que essa seja sua motivação para estar aqui hoje. – Arqueei as sobrancelhas e dei risada, o fazendo revirar os olhos.
- Suponho que essa seja a motivação para Courteney estar aqui hoje. – Ryan comentou e apontou para minha amiga rindo com pessoas que eu não conhecia. – E estou aqui para um encontro, se quer saber.
- Uh, quem é a azarada? – Provoquei e mais uma vez minha piadinha foi recebida com um revirar de olhos e uma risada.
- Caloura de psicologia. – Meu irmão respondeu. – O nome dela é Sharon. Acabei ficando responsável por ela durante o trote e adivinha só? Ela não é tão maluca assim! – Ryan deu um self-five e eu ri.
Continuamos conversando por mais um tempo e me distraí o suficiente para não pensar na ameaça do Sr. Gomez. Meu irmão me pagou uma Heineken e explicou que estava amando seu estágio em psicologia. Ryan tinha escolhido a profissão certa porque se tinha uma coisa que existia em cidade pequena era gente precisando de psicólogo – e não, isso não foi uma ofensa e muito menos um julgamento. Depois que meu irmão caçula decidiu seguir esse rumo, ele havia conseguido se tornar uma pessoa melhor sucedida do que eu. Por isso era ele quem me pagava uma cerveja e não ao contrário.
Como a vida continua sendo injusta mesmo quando você consegue esquecer dos seus problemas, um cara esbarrou bruscamente em mim e derrubou minha Heineken no chão. O barulho de vidro estilhaçado chamou a atenção e fez com que um coro de "er" invadisse o local. Não esperei que ele falasse alguma coisa ou pedisse desculpa, simplesmente suspirei e voltei minha atenção para Ryan.
- Posso te pagar outra cerveja, se quiser. – A voz grave me surpreendeu e pude ver meu irmão arqueando as sobrancelhas perante aquela proposta.
Me virei para o cara que havia derrubado minha bebida e depois encarei um dos garçons limpando a bagunça.
- Desculpe por isso, cara. – O rapaz falou para o garçom que só assentiu e voltou para seus afazeres. – E então? Quer outra?
Seu rosto era extremamente familiar, mas eu não conseguia associá-lo a nenhuma das atividades que fazia. Com certeza não era da aula de maquiagem. Também não fazia parte da minha oficina de fotografia ou da faculdade de gastronomia. Analisei seu semblante tranquilo, seu cabelo preto que caía em seus olhos por serem tão lisos, sua barba bem feita e até mesmo em sua altura até cheguar a conclusão de que realmente não o conhecia. Ele não era de West Hills.
- Não, obrigada. – Respondi finalmente e ele pareceu surpreso.
- Tem certeza? – Perguntou mais uma vez. – Não vou ficar insistindo, moça.
- Eu aceito por ela.
Courteney se materializou em minha frente e o cara pareceu tão surpreso quanto eu com aquela aparição avassaladora. Ela sorria e batia seus grandes cílios para ele enquanto eu escutava Ryan bufar atrás de mim. O cara analisou minha amiga por um momento, mas acabou cravando seus olhos em mim mais uma vez.
- Posso pagar uma cerveja para as duas. – Ele falou e esboçou um sorriso sem mostrar os dentes. – Essa é minha proposta final.
Seu sorriso se alargou mais um pouco, mas não me deixou ver sua arcada dentária. Não entendi porque eu estava curiosa para ver o sorriso de um estranho e logo tratei de espantar o pensamento para longe. Courteney se virou para mim e sussurrou um "aceite" para depois encarar meu irmão e lhe lançar uma piscadinha.
- Pode ser. – Eu disse, por fim.
Quando ele estava prestes a pedir nossas bebidas, fomos interrompidos de novo. Dessa vez por um cara baixinho que parecia animado demais.
- Nate, o Derek tá maluco atrás de você, mano! – O rapaz falou e Nate o encarou, deixando seu belo sorriso morrer. – Não acredito que justo você tá flertando antes do show! – E então ele olhou para mim e Courteney, dando um sorrisinho malicioso. – Prazer, meu nome é Gunther!
- Rato, eu só derrubei a cerveja da moça. – Nate rebateu antes que qualquer uma de nós pudesse dizer algo. – Ia pagar outra.
- Depois. Agora nós precisamos ir para o palco. – Gunther respondeu. – Aproveitem o show, garotas.
E assim, sem mais e nem menos, Gunther foi embora, levando consigo o cara que tinha derrubado minha cerveja e atendia pelo nome de Nate.
- Eu não acredito que você veio! – Courteney me abraçou animada. – E também não acredito que arrastou seu irmão pra cá. – Ela encarou Ryan com desdém enquanto eu ainda acompanhava Nate e Gunther com os olhos.
- Acredito que você esteja aqui para conquistar um dos caras da banda. – A frase de meu irmão fez com que eu voltasse a prestar atenção na situação.
- Não sirvo para ser groupie e sim pra ser a estrela da banda, Lankaster Jr. – Courteney rebateu e meu irmão revirou os olhos.
- Você é patética.
- Não comecem, por favor. – Me intrometi antes que uma briga começasse. – E Ryan já estava aqui quando eu cheguei, Court.
- Jura? – Ela pareceu impressionada. – O que foi capaz de tirar sua cara dos livros de Freud, aprendiz de psicólogo?
- Um rabo de saia, é claro! – Eu respondi e minha amiga deu risada.
- Meu Deus, quem é a pobre coitada? – Ela perguntou. – Nem pra você fazer a barba pra encontrar a moça, Lankaster Jr. – Courteney passou a mão pelo rosto do meu irmão e ele engoliu em seco.
- Para o seu governo, Sharon gosta da minha barba. – Meu irmão rebateu.
- Ah, já entendi tudo! – Courteney sorriu. – Ela é cega!
Ryan e Courteney tinham um histórico maravilhoso de provocações. Era engraçado na mesma medida em que era maçante. Eu não sabia se era ódio, amor, tensão sexual ou qualquer outra coisa. A meta de suas vidas era tirar o outro do sério e minha amiga normalmente ganhava, como estava acontecendo mais uma vez. Eu já podia ver meu irmão prestes a explodir quando as luzes se acederam para que todo o pub pudesse contemplar a entrada da banda que faria o show.
Gunther foi o primeiro a entrar no palco, seguido de Nate e um cara que foi direto para a bateria. Enquanto Gunther pegava o baixo, Nate ajeitava a guitarra. Fixei meu olhar nele e não percebi que mais dois integrantes tomaram o palco, fazendo os gritos triplicarem de altura.
- Nós somos os The Toxic Pirates e sentimos saudades, West Hills.
Eu conhecia aquela voz. Bem, eu costumava conhecer aquela voz. Meus olhos se desviaram de Nate para encontrar outro integrante com guitarra, parado em frente a um dos microfones, sorrindo abertamente, fazendo um uso exagerado de lápis de olho e esbanjando testosterona. Bem ali, parado há alguns metros de distância, era possível que eu contemplasse o mais novo astro do rock em toda sua plenitude de sucesso.
Pela segunda vez na noite, senti meu corpo travar. Não de medo, mas sim de um sentimento que eu ainda não conseguia definir. Tudo a minha volta pareceu perder o movimento, tudo sumiu. Meu coração falhou e minhas pernas fraquejaram. Eu senti o cheiro de nicotina e bem nesse momento, no meio de todas aquelas pessoas, seus olhos se fixaram em mim.
- Puta merda. – Ele disse, parecendo esquecer de que tinha um microfone bem na sua frente. – Phoebe.
Engoli em seco e prendi a respiração. Era mesmo possível que nem toda a fama, dinheiro e mulheres fizessem com que Dylan Elwin Campbell se esquecesse de mim? Seu sorriso morreu aos poucos ao perceber que eu não reagia e ele estreitou os olhos, tentando se certificar de que realmente estava vendo a pessoa certa.
Todos estavam prestando atenção em mim, mas eu só conseguia enxergar um par de olhos azuis com muito lápis preto me encarando e mais uma vez senti um solavanco esquisito no peito. Dylan me encarava com tanta intensidade que eu me sentia mais vulnerável do que quando o Sr. Gomez. me ameaçou.
- Desculpe, pessoal – Ele voltou a falar no microfone e sua voz pareceu ter um efeito elétrico sobre mim. – Mas teremos que adiar o show.
Eu só fui entender o que Dylan tinha dito quando ele largou a guitarra no palco e começou a caminhar em minha direção a passos largos.
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