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Ligeiras impressões de Menino de Engenho e Doidinho
É difícil iniciar uma conversa quando se trata em abordar um grande escritor, como José Lins do Rego, que tanto dialogou comigo em minhas leituras. A necessidade falou mais alto e deparei-me com certa inquietação, uma necessidade de falar sobre minha experiência com Menino de Engenho e Doidinho. Que grande presente foi essa indicação de autor pelo meu professor Thomas Giulliano.
José tem uma forma de contar história bem especial, seu traço memorialista de descrever fidedignamente sua época e região me arrebatava do presente, enquanto lia revisitava a minha infância. O interior da Paraíba fica bem perto do meu interior em Pernambuco, especificamente na cidade de São José do Belmonte. Logo, foi possível constatar que existem mais semelhanças do que diferenças entre as duas regiões. Justamente por ser interior, há um senso de preservação com os costumes locais, ao menos era assim até onde me recordo da minha infância. Afirmo que há uma enorme documentação de cenário e costumes realmente verídicos. Me emocionei no decorrer da leitura e creio que isso se deu pela minha própria identificação biográfica.
Os cânticos no tanger da boiada, que chamamos de aboio, e as toadas da minha mocidade pareciam ressoar nos meus ouvidos enquanto lia trechos relacionado a essas atividades. A vontade de ter um bode Jasmim para andar pelo terreiro, a felicidade de ganhar um de presente, tudo isso vivi. O medo do papa figo e do lobisomem, incrível como era exatamente a mesma sensação de materialidade que envolvia a imaginação do Carlinhos daquelas criaturas e que funcionava do mesmo modo para nós. Havia também um sujeito no qual desconfiávamos ser o lobisomem, tinha gente que poderia jurar que presenciou em carne e osso a metamorfose. As surras de caiporas no meio do mato, a criação livre entre as meninadas no terreiro, onde os filhos dos moradores se misturavam com os do dono das terras. Menino de Engenho abriu uma saudade adormecida.
Algumas formatações ainda se mantiveram por um bom tempo, como a casa grande que agora remete-se ao dono da fazenda e os moradores com suas casas construídas ao redor da maior. Os trabalhadores agora costumam morar de forma gratuita nas grandes fazendas tendo sua casa doada pelo dono do terreno e, em compensação, precisam trabalhar para o dono das terras. Uma troca de conveniências muito similar na relação dos escravos já alforriados.
Não tem como não associar a personalidade do José Paulino com a figura do meu pai, essas figuras responsáveis por esse tipo de papel em fazendas são muito parecidas. O acontecimento da chegada das chuvas e da água, ocorria exatamente igual. As mortes, as dores, as doenças… documentar tudo isso enquanto conta uma história de forma cativante e sem o peso dos grandes dramas é uma habilidade para poucas pessoas. A semelhança dos personagens com as pessoas que passaram pela minha biografia, mostra como esse recorte feito pelo José tem a cara do Brasil. Tive a minha Totonha, tive figuras que lembravam as escravas do engenho. E que alegria ver meu nome ali, Romana, uma das escravas alforriadas. Lygia e José Lins do Rego provaram que meu nome não é tão estranho e incomum como supunha.
A maior distância que encontrei entre eu e Doidinho, foi por ele ser um garoto. As criações se modificam um pouco quanto ao gênero, mas afirmo com tranquilidade que a sexualidade masculina, pelo menos no interior, começava em meados dos anos 2000 de forma tão precoce quanto o relato do livro. Outra coisa que chama muita atenção é como ele descreve a percepção da criança entrando na adolescência. As fases do desenvolvimento humano são precisas e belamente elaboradas. As dúvidas do jovem Carlinhos, suas reflexões, os amores e ódios… lindo e verdadeiro. Não sei como José Lins seria visto descrevendo tantas coisas como aquelas hoje em dia, onde tudo é proibido de falar. Mas quem tem amor à verdade jamais se ofenderia com a beleza que é descrita a história, mesmo os seus trechos mais perversos e criminosos.
O contato com Deus, Jesus e a Eucaristia, a revelação do próprio Cristo na atitude humana de Coruja é uma dessas belezas que fazem a vida valer a pena. Foi absolutamente lindo! José Lins consegue apresentar a beleza que é a existência humana, em suas quedas e subidas constantes. A luta contra o pecado e as tentações da própria vida e os relâmpagos de claridade do alto que, vez ou outra, conseguimos ter seu vislumbre.
Romana Pires
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Literatura é o retrato de uma época. É impossível não ler um trecho como esse, escrito em 1932, e não se sentir tocada, não se pôr no lugar de uma mulher daquela época. Que bom que as mulheres decidiram lutar por si, que bom que continuam lutando até hoje e que bom que existem homens a favor da nossa causa. #MeninoDeEngenho #LiteraturaBrasileira #AmoClássicos
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