#InfanciasTrans
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#NotiTrans: La Lucha por los Derechos de las Infancias Trans en Chile 🇨🇱
En un contexto de creciente intolerancia y discursos de odio, la reciente decisión de la cámara de suspender el presupuesto para el Sistema de Protección Integral a la Infancia ha dejado a las niñas, niños y adolescentes trans en una situación de desamparo y exclusión social. Esta política, conocida como Chile Crece con Orgullo, nació bajo la Ley N°21.120, que reconoce y protege el derecho a la…
#ChileCreceConOrgullo#derechoshumanos#diversidaddegénero#Empatía#InfanciasTrans#Ley21120#NoALaDiscriminación
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🏳️⚧️ Hablemos de las infancias trans hoy y todo el año sin estigmas. #MisPronombresCuentan 🪧 #DíaDeLasInfanciasTrans Estas son nuestras organizaciones gurú en estos temas: 💖 @infanciast 🤍 @transfamilias.mx 💙 @transinfancia #trans #lgbtq #transkids #infanciastrans https://www.instagram.com/p/CVnxDMrp94j/?utm_medium=tumblr
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Quando Thamirys Nunes, 30 anos, uma paulista que mora em Curitiba, no Paraná, decidiu ser mãe, ela tinha uma certeza: queria um menino. O tão esperado filho chegou em 2015, mas, menos de dois anos depois, ela começou a notar algo estranho: "Nosso filho não se encaixava, tinha alguma coisa errada". Conforme foi crescendo, o desejo de Bento por roupas e brinquedos femininos só aumentava.
Foi um longo caminho até que a mãe encontrasse orientações e explicações para o que estava acontecendo com o filho. E mais uma longa batalha até a aceitação de familiares e pais e coleguinhas da escola. Hoje, aos 5 anos, Bento é Agatha, com direito à nome social, roupas, brinquedos e tudo o que uma menina gostaria. Mas o mais importante: é uma criança feliz! Foi, então, que a mãe resolveu escrever sobre todas as suas angústias, medos, conquistas e alegrias vividas com essa experiência. "O livro é uma tentativa de convidar as pessoas para ver, ouvir e sentir tudo que eu vivenciei e, assim, para que possam entender a certeza que eu tenho: crianças trans existem!", disse.
Em entrevista à CRESCER, Thamirys contou um pouco sobre o que é ser uma "criança trans", o sentimento de culpa que sentiu e ainda sente por, muitas vezes, não ter ouvido os desejos da sua criança e os desafios que a família ainda tem pela frente.
CRESCER: Muitas pessoas afirmam que uma criança não tem maturidade para “escolher” se quer ser menino ou menina. O que você diria sobre isso? Thamirys: Primeiramente, é preciso entender que ser trans não é uma escolha e, sim, uma condição de existência. Ou seja, a pessoa só consegue viver com qualidade se respeitada naquele gênero com o qual se identifica. Superado esse entendimento inicial, é preciso entender também que as crianças olham para seus familiares, sociedade e amigos e se identificam, é um processo natural. Conforme se desenvolvem, vão se descobrindo e percebendo o lugar que ocupam dentro do eixo familiar, escolar e social. As crianças trans sentem um incomodo na forma com que as pessoas as reconhecem, pois não coincide com o que elas entendem de si e com o gênero no qual elas se sentem semelhantes.
CRESCER: As primeiras orientações profissionais que vocês receberam foram completamente equivocadas. Na sua opinião, a psicologia deveria estar mais preparada para receber esses casos? Thamirys: Infelizmente, os cursos de psicologia não abordam como temática obrigatória a transgeniradade infanto-juvenil. Pelo menos, até hoje, não encontrei nenhuma faculdade que tivesse essa temática abordada com a atenção e cuidado que precisa e de forma obrigatória. O que temos são professores e coordenadores de cursos que acreditam na importância da matéria e trazem isso para a sala de aula. Assim como eu, muitas outras familias tiveram experiências com profissionais de psicologia que não tinham qualificação para abordar essa temática e acabaram, por vez, trazendo para suas avaliações clinicas, seus próprios valores, religiões, preconceitos e despreparo técnico. Por isso, sim, acredito que é preciso mais preparo e conhecimento para que o profissional de psicologia seja capaz de olhar para o seu paciente de forma isenta de preconceitos pessoais.
CRESCER: Você comenta que, no início, foi bastante dura com seu filho. Acha que essa fase, em que ainda não entendia o que estava acontecendo, pode ter causado algum tipo de prejuízo a longo prazo? Thamirys: Não, até porque foi na primeira infância. Dificilmente lembramos dessa época. Ela terá muito mais memórias de apoio, acolhimento e amor para se lembrar do que esses acontecimentos pontuais. Mas, para mim, esses momentos estão cravados na memória e é difícil me perdoar por não ter dado o que minha criança precisava por conta do meu medo e desconhecimento.
CRESCER: Durante vários momentos do livro, você comenta que se sente “culpada” e “arrependida”. Hoje, você já conseguiu se perdoar? Como as mães podem se livrar desses sentimentos? Thamirys: Acho que a culpa é um sentimento muito forte na maternidade, mas na maternidade de uma criança trans isso é intensificado. Eu tento ser gentil comigo e busco racionalizar minhas atitudes. Por exemplo, muitas vezes, penso: “Fiz porque não tinha conhecimento” ou “Fiz o melhor que eu podia com as informações que possuía”. Esse tipo de gentileza ajuda a amenizar esse arrependimento de algumas ações pontuais, mas jamais poderei esquecer porque é parâmetro para eu saber o que não quero ser para minha criança. Quando está tudo muito dificil, lembro de uma mãe carrasca e uma criança oprimida; isso me fortalece para saber que hoje sou uma mãe companheira, que escuta e tenho uma criança livre e feliz.
CRESCER: Tem uma frase do livro bastante forte, que você diz: “Sentia que tinha dois filhos: um que tinha morrido ainda vivo e um que tinha nascido vivendo”. Ainda hoje, você enxerga Bento e Agatha como duas crianças completamente distintas ou consegue ver o Bento de alguma forma? Thamirys: Bento foi meu filho primogênito tímido, calado, obediente, de bochechas quadradinhas e olhos puxadinhos. Por ele, senti o amor de mãe mais romântico, assim dizendo. Um amor intenso e cheio de expectativas futuras, com viagens, faculdade, casamento, netos, enfim. Mas é preciso deixar o Bento no passado, não é justo com a Agatha. Não posso olhar para minha filha buscando algo nela que já não lhe pertence mais, só para satisfazer a minha saudade. Agatha é espoleta, vaidosa, tagarela. Com ela tenho que contar até 5 várias vezes ao dia. Ela não me traz nada do Bento e eu respeito muito isso. Olho para a criança que está na minha frente e é para ela que entrego o meu amor, um amor mais maduro, de quem quer proteger, bem leoa mesmo.... Ela desperta em mim, um amor muito diferente, mas tão intenso e incondicional quanto o que eu tenho pelo Bento. Dizem que nunca sentimos o mesmo amor por duas pessoas diferentes. Pois, nesse caso, eu me sinto assim. Sou mãe de duas crianças, uma a qual vive nas minhas lembranças e visito nos meus momentos de nostalgia e saudades; e a outra que me entrego todos os segundos do meu dia.
CRESCER: Quais serão os próximos desafios, a curto e longo prazo? Thamirys: Acredito que a escola seja o espaço mais desafiador para a Agatha. Lá, ela tem que aprender a lidar com comentários, olhares e questionamentos sobre sua existência. Nos demais espaços, ela costuma ser muito bem recebida por famíliares e amigos, mas se encontra algum conflito, eu ainda sou um escudo e consigo blindá-la, como em banheiros públicos, exames médicos e viagens.
CRESCER: Na sua opinião, quais mudanças na sociedade são mais urgentes? Thamirys: É preciso amparar a família para que a família possa amparar a criança/adolescente. As mães e pais precisam de grupos de apoio e espaços seguros para poderem se informar sobre a condição de existência de seus filhos e seus direitos fundamentais. Espaços livres de preconceito e com muita formação qualificada. Precisamos dar publicidade à temática trans infanto-juvenil e só assim vamos naturalizar essa existência. O Estado precisa incluir as crianças e adolescentes trans nos seus projetos sociais, esportes e cursos para que, cada vez mais, tenhamos pessoas cisnormativas em contato com pessoas trans. Quanto mais contato, mais natural essa existência ficará. Dizer simplesmente que "acolhe" não é, de fato, acolher. Vamos lá, receber uma criança trans em uma escolinha de balé, mas sem fazer com que ela se sinta segura para usar o banheiro, é acolher? Receber uma criança no curso de robótica, mas sempre errar seu nome social, é uma boa acolhida? Quando digo "acolher", refiro-me à forma universal, possibilitando uma vivencia saudável nesses espaços. O dificil é ser a única criança da escola, do bairro, da cidade, do estado...
CRESCER: Hoje, sua filha já tem um documento com o nome social? Thamirys: Sim, Agatha tem RG, CPF e cartão do SUS com nome social, assim como prevê seu direito, previsto em lei. Estou solicitando ainda a inclusão do nome social na carteirinha do plano de saude e no passaporte, via judicial. Na escola, minha filha também é recebida única e exclusivamente pelo seu nome social.
CRESCER: Por que você decidiu escrever o livro? E para quem? Thamirys: Decidi escrever porque, no início da transição da Agatha, eu me senti muito sozinha, abandonada e sem informações. Não encontrava pares para conversar e saber se aquela dor que eu estava sentindo iria passar. Escrevi o livro para as mães que passam por esse momento, para que elas saibam que não estão sozinhas, que a dor vai passar, mas que é preciso coragem para seguir adiante. E, em segundo plano, escrevi, pois, muitas pessoas me perguntavam: “Mas como?”; “O que você viu/ouviu para ter certeza?; "Você tentou de tudo?”; “Será que não influenciou de alguma forma?”. Então, o livro é uma tentativa de convidá-las para ver, ouvir e sentir tudo que eu vivenciei e, assim, para que possam entender a certeza que eu tenho: crianças trans existem!
CRESCER: Você escreveu um livro, realiza lives sobre diversidade... A Thamirys redirecionou sua vida profissional com a chegada da Agatha? Thamirys: Minha vida mudou de ponta cabeça e isso não foi programado (risos). A ideia era escrever um livro, depois, a página para vendê-lo, já que, por conta da pandemia, não conseguia colocá-lo nas livrarias. Depois, recebi convite para algumas lives e, quando vi, veio o convite da ONG, um grupo de acolhimento para mães de crianças e adolescente trans. Às vezes, penso: Será que preciso mesmo fazer tudo isso? Afinal, hoje é tudo de forma voluntária. Mas e se eu não fizer, quem vai fazer? Quem vai gritar para o poder público que as crianças trans existem? Quem vai tentar um diálogo com escolas, pedagogas e psicólogos? E o principal, quando vejo que consegui ajudar uma família a entender sua criança, a se libertar da dor, a lutar pelos direitos de seus filhos, eu fico bem grande e tenho a certeza de que vale a pena investir meu tempo. Estamos mudando vidas reais! Não são milhares, mas uma por vez.
O livro "Minha Criança Trans" está disponível para venda através do perfil oficial no Instagram. Você também encontra mais informações sobre o livro e sobre crianças trans no site.
#trans#criancastrans#infanciastrans#transnainfancia#agatha#vivenciastrans#vidastransimportam#entrevista#revistacrescer#transgenero#juventudetrans#direitostrans#direitos#familia#lgbt#lgbtqi
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🏳️⚧️ Así que quieres hablar de #InfanciasTrans, con Tania Morales de @infanciast. El discurso “Born This Way” le gusta a mucha gente LGB hasta que se llega a la T, y mucha desinformación hay alrededor del acompañamiento que se le da a infancias con identidades no-normativas, pero aquí hablamos con una mamá que retomó su profesión de abogada para defender los derechos de su hijo trans. (🔗 en bio) https://www.instagram.com/p/CM0_K7lBMmg/?igshid=pdl7p8uiyz3k
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Creo que "Yo nena, yo princesa" tiene final feliz. Por Dios que sea así porque realmente duele leerlo. 😢 #infanciastrans #yonenayoprincesa https://www.instagram.com/p/B3SHDRAHQB5/?igshid=1m9ul5i9dhu5t
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InfanciasTrans: ¿Moda o Derecho? - Rebeca Garza, respuesta a @armentapuebla_
Hoy me siento indignada y triste al leer las declaraciones del senador Alejandro Armenta, quien se pronunció en contra de las infancias y adolescencias trans, negando su derecho a la identidad de género. El legislador de Morena calificó esta realidad como una “moda” y afirmó que ningún menor de edad debería poder elegir su nombre y sexo en el acta de nacimiento. ¿Qué sabe el senador Armenta de…
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#AmorYRespeto#ApoyoALasInfanciasTrans#CambioSocial#ComentariosTransfóbicos#derechoshumanos#derechostrans#EducaciónSobreIdentidadDeGénero#inclusiónsocial#InfanciasTrans#LeyesTrans#LuchaContraLaDiscriminación#LuisaRebecaGarzaLópez#Solidaridad#tolerancia#TransformaciónSocial#Diversidad#Inclusión#Transfobia
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#EstudiosTrans | Visibilizando existencias “otras”: infancias y adolescencias trans por Marcela A. Parra, Carlos F. Fushimi y Verónica A. Allaria
Visibilizando_existencias_otras_infancia.pdfDescarga En el artículo “Visibilizando existencias ‘otras’: infancias y adolescencias trans”, Parra, Fushimi y Allaria presentan un análisis pionero y transformador sobre las realidades de niñeces y adolescencias trans en Argentina, visibilizando las desigualdades estructurales que enfrentan y proponiendo soluciones desde una perspectiva participativa…
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Las #InfanciasTrans existen y tienen derechos humanos
Las #InfanciasTrans existen y tienen derechos humanos 1/10: Es importante reconocer los derechos de las infancias trans en todo el mundo. Estas infancias tienen derecho a vivir sus vidas de acuerdo a su identidad de género autentica sin ser objeto de discriminación o violencia. 2/10: En México y América Latina, estamos viendo algunos avances importantes en cuanto a reconocimiento y protección…
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Se denuncia que el documento ideológico del proyecto “Colectivo por México” CRIMINALIZA a las #InfanciasTrans
A 29 de enero de 2022 Anda circulando este documento en ciertos grupos de WhatsApp donde ya manifesté mi desacuerdo sobre este documento que contiene en primer lugar a las #InfanciasTrans como un problema “de las mujeres” comparándolo con las redes de trata. Adicionalmente en ningún momento se menciona la palabra LGBT. Me llama la atención tampoco que no aparece quien lo firman y quien lo…
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Desde muito cedo sentiu que o sexo e o nome que lhe foram atribuídos no nascimento não correspondiam à sua identidade. Disse e repetiu isso diversas vezes para a sua família, até que um dia entenderam e começaram o delicado processo de romper na infância com o mais primário dos esquemas sociais. Essa foi a revolução de Cora em sua casa, em sua escola e aos olhos dos demais.
Na noite de 2014, em sua cama, antes de dormir, disse à mãe: "Quando eu crescer, quero ser uma menina". Tinha três anos. Gostava de usar vestidos e brincar com bonecas. Mas Cora ainda não era Cora. Dois anos depois, a situação se tornou insustentável. Quando as primeiras folhas de outono caíam, olhou para a mãe no parque e disse: “Minhas amigas têm sorte porque querem ser meninas e são meninas. Comigo é diferente, ninguém me vê”. Cora ainda não era Cora, mas faltava pouco. Apenas alguns dias.
Ana Valenzuela sempre carregará guardadas as palavras da filha: "Ninguém me vê". Desde muito cedo ela tinha sentido intensamente o que a menina sentia, pelos sinais que lhe enviava e por aquela "tristeza de fundo" que emanava. A família e os amigos diziam a Ana que isso acontecia porque ela a adorava, queria ser como ela ou que, talvez, lhe ocorriam "aquelas ideias" porque era homossexual. Mas naquela tarde Ana disse para si mesma: "Chega". Ela se agachou, ficou na altura da filha de cinco anos, abraçou-a e disse em seu ouvido: "Você tem que falar com o papai, sim?" Lembra-se disso e como naquele parque, abraçada a ela, se sentiu congelada de medo. Três dias depois daquela frase que mudaria tudo, o telefone de Ana tocou: “Ela me disse hoje. Indo até a escola." A voz era de Ramon, seu marido.
Ramon Navarro, 45 anos, administra um centro esportivo. Ana Valenzuela, 48, era professora de ginástica, está desempregada e faz uma pós-graduação sobre gênero. Teve dois filhos antes de Cora: aos 15 e aos 28 anos. Juntos, Ana e Ramon foram pedir informações à Trànsit, o escritório do Instituto Catalão de Saúde dedicado à transexualidade. Ao sair, ele começou a chorar. "Eu tinha medo de não poder dar a ela o que precisava", diz Ramon. Quando chegaram em casa, sentaram-se com a filha e o irmão do meio, Marc. E lhe disseram: "Eles nos explicaram tudo e nos disseram que você pode ser uma menina". A primeira coisa que fez foi agarrar Chloe, sua cachorra, e dar-lhe um apertão: "Finalmente somos duas garotas!" Explicaram à filha que agora precisavam de alguns dias para informar a escola, contar à família e escolher um novo nome. Mas isso já estava resolvido.
—Eu sou Cora, disse ela.
E então seu irmão respondeu: "Você é minha querida irmã".
Cora já era Cora.
Para a mãe, o mais difícil foi esvaziar o guarda-roupa. “Fiz isso sozinha. Não sabia se chorava, ria, corria. Pensava: “Esvazio este guarda-roupa para enchê-lo com o quê? O que virá?”. O marido e ela foram comprar roupas novas. Ao voltar para casa, Cora experimentou "absolutamente tudo" e fez a Ramon um "desfile de modelos". Diante do espelho, viu eufórica a imagem que esperava havia tanto tempo.
Fazer a transição de gênero tão cedo não era comum até hoje, mas os especialistas que trabalham nesse campo não a consideram inconveniente. “Se uma menina ou um menino mostram muito claramente que a identidade de gênero que sentem é outra, por que não se começa a transição?”, questiona Nuria Asenjo, da unidade de identidade de gênero do hospital Ramón y Cajal, em Madri (Espanha). Sore Vega, da Trànsit, argumenta: "Toda pessoa, independentemente de como constrói sua identidade, faz isso desde tenra idade, e esse processo só é questionado se for em um sentido contrário ao gênero designado". Sua proposta é, acima de tudo, escutar e acompanhar as meninas e os meninos para que tomem decisões “a partir de uma situação de autonomia” e evitar “os danos a negação da identidade de uma criança podem causar a ela”. A pediatra Cristina Catsicaris, especialista no assunto, argumenta que a identidade de gênero "não é determinada pelo conjunto de informações cromossômicas, órgãos genitais, habilidades reprodutivas ou características secundárias", mas responde à mais humana e universal das perguntas: "Quem sou eu?".
Em 2018, a Organização Mundial da Saúde retirou a transsexualidade de sua lista de doenças mentais. Segundo especialistas, deixar de catalogá-la como uma patologia, concebendo-a como uma maneira de ser e não como uma anomalia, é essencial para que as pessoas trans possam dar um bom lugar à sua identidade sem se sentirem marginalizadas ou excluídas do sistema. Os problemas que sempre sobrecarregam esse grupo, diz Vega, não são causados por sua identidade, mas pela rejeição a que são submetidos pela família, pelo sistema escolar e o ambiente social. "Temos que educar a sociedade para que possa acolher a diversidade."
Em 16 de novembro de 2016, Ana Valenzuela acordou a filha com novas palavras: "Bom dia, princesa". Naquela manhã, iria à escola pela primeira vez como Cora. Uma presilha coroava seu cabelo curto. Calçava um par de sapatos que acendiam luzes coloridas quando ela pisava, como se estivesse comemorando seus passos. "Saímos à rua com um medo horrível", lembra Ramon Navarro. Agarravam a mão da filha: "Não queríamos soltá-la". Sentiam todos os olhares neles. E Cora, tão feliz, se aproximando da porta de escola. Sua amiga Shannon, a quem ela já havia contado tudo alguns dias antes, a viu chegar e gritou:
—Oi, Cora!
E os outros começaram a chamá-la de Cora. Sua mãe explica que foi como se ouvir seu nome lhe desse asas. “Ela se soltou de nós e entrou feliz na escola. Nossa filha tinha que voar. Imploraram à professora: "Cuidem dela, por favor". Às nove da manhã, estavam de volta em casa e só precisariam buscá-la à uma da tarde. Passaram quatro horas em silêncio.
Dois anos depois, em novembro de 2018, visitei Cora pela primeira vez. Mora em um prédio comum em Nou Barris, uma área de classe média de Barcelona. Assim que a campainha toca, Ana e Ramon me recebem. Ao entrar, alguém me assusta por trás:
—Bu!
Quando me viro, eu a vejo. Os olhos emoldurados em cílios muito longos. Seus grossos cabelos escuros penteados para o lado. Usa um vestido preto e as unhas combinando.
—Eu sou Cora!
Pouco depois, mostra seu quarto. Ali estão seus brinquedos: unicórnios coloridos, ursinhos de pelúcia e duas bonecas que trata com muito capricho. Então, transforma a mão em um microfone e protagoniza um minishow. Pega um vestido branco, que quase não serve nela. Luta com ele. No final, acaba tirando-o.
—Você quer ver meu novo videogame?, diz essa fã dos consoles.
Quando lhe pergunto sobre aquele dia decisivo em que se apresentou como uma menina na escola, ela responde:
—Foi legal, porque eles me chamaram pelo meu nome verdadeiro!
—E por que você escolheu Cora?
—Bem, porque eu gostava!
Ninguém na família realmente sabe de onde veio o nome dela. Em seu livro Un Apartamento en Urano, o filósofo trans Paul B. Preciado escreve: "Sonhei com meu novo nome uma noite em uma cama no Bairro Gótico de Barcelona". Talvez Cora também tenha sonhado, alguma noite, em seu quarto em Nou Barris.
Naquele primeiro dia de aula como Cora, quando foram buscar a filha, Ramon e Ana a acharam tão feliz como quando a deixaram. No entanto, ainda haveria uma fase de adaptação. Ana diz que nos dias seguintes notava como apontavam para eles: "Olha, aquela é a mãe", ela ouviu. "Foram dias eternos", lamenta. Uma tarde, conta, foram ao parque para brincar e alguns meninos que a conheciam riram dela "porque estava vestida como uma menina". Ana se aproximou deles e explicou que a filha sempre tinha sido menina e que agora tinham que tratá-la assim. As mães dos meninos, conta, a interromperam para lhe pedir que não dissesse "essas coisas" para seus filhos e censurá-la pelo que estava fazendo com "o seu".
Na escola tudo foi melhor. Em janeiro de 2018, acompanhei Cora às aulas. Assim que abrem as portas, a menina se perde no desfile de mochilas. O dia começa, os corredores permanecem em silêncio e Pedro Vidal, o tutor de Cora, conta como procuraram facilitar sua transição. Não tinham experiência, mas se organizaram e convocaram uma reunião para discutir a identidade de gênero. "Apenas uma mãe se opôs", diz ele. A professora da época, Elisenda Dunyó, contou uma história sobre uma garota que havia sido confundida com um garoto ao nascer. Na classe, aceitaram a mudança com naturalidade: “As crianças são intuitivas e, de alguma maneira, já notavam. Não pareceu que deram muita importância. Naqueles dias, "Cora saía para o pátio e só corria, corria".
Agora está na sala de aula e eu a observo da porta. Em cinco minutos, levanta a mão três vezes. É chamada ao quadro e dá a resposta correta para um problema. No recreio, brincam de pega-pega. Contam contra a parede até 30 e saem para tentar tocar uns nos outros. Cora perde. Ri. Depois, começa a plantar bananeira. Uma amiga, Salma, a agarra pelos pés para mantê-la segura. No pátio, há banheiros mistos. Cora volta a ficar de pé e entra no banheiro. Shannon segura a porta.
Sua família a cercou de afeto desde o começo. Alguns tiveram mais dificuldade para entender a mudança. Outros não demoraram nada, como a avó Ana. Ela foi fundamental na transição, quando a filha apareceu em casa em uma tarde de novembro para lhe dizer que seu "neto" a partir de agora seria Cora. Não mudou nada. "Uma menina?", respondeu a avó. Cora? Então, está bem. Que diferença faz?". A dona de casa, viúva fazia muitos anos, me recebeu uma tarde meses atrás. Sob uma manga do suéter, aparecia num pulso uma fita de cores azul, branca e rosa, as da bandeira trans. "Nos primeiros dias, me custou um pouco não me enganar com o nome antigo, mas isso é porque sou mais velha e já confundo todos os nomes", diz. Cora está a seu lado comendo biscoitos de chocolate. A avó tosse e a neta lhe dá uma palmada nas costas. Então, sai para o terraço, onde está sua amiga Shannon. "O amor de uma avó é o mesmo", acrescenta Ana.
—Que conselho lhe daria para quando for maior?
—Que seja feliz e não se deixe subjugar, ela responde, e uma lágrima cai.
Do lado de fora, as meninas leem um livro. Algo que veem provoca uma pergunta que Cora faz a Shannon:
—O que é religião?
Parece que Cora tem um dom para fazer perguntas insondáveis. Como daquela vez, aos quatro anos, quando desconcertou a mãe, ao soltar esta:
—Mamãe, a gente pode ser menina tendo pênis?
Uma pergunta inovadora que requer uma resposta construtiva. "É um erro acreditar que as pessoas trans nasceram em um corpo errado", diz David Tello, membro da associação Chrysallis, que reúne mais de mil famílias de crianças trans. Esse foi um dos grupos que lutaram para que a Espanha incluísse os menores de idade na lei que regulamenta a mudança de nome e sexo no registro. Em 18 de julho, o Tribunal Constitucional anulou o artigo que a impedia e estendeu esta possibilidade a menores com "maturidade suficiente e em situação estável de transexualidade". Para Chrysallis, esses requisitos extras continuam a manter os menores como Cora em uma situação de discriminação jurídica.
“O corpo de qualquer menina ou menino transexual está tão bem como o resto”, diz Tello, acrescentando que há cada vez menos pessoas trans adultas que desejam operar “porque são aceitas como são e sentem menos a pressão social do bisturi". Iván Mañero, médico especialista em cirurgia de gênero, acredita que o crucial é "apoiá-las e ensiná-las a entender seu corpo, e que decidam quando forem adultas".
Quando Cora ainda não se chamava Cora, ela se aborrecia especialmente no Dia de Reis, porque os Magos do Oriente não sabiam que ela se sentia menina nem sempre lhe traziam os presentes que queria. Agora, a data a deixa animada. Em janeiro passado, ela me mostrou com orgulho a maquiagem que ganhou no dia 6. Com cuidado para não sujar a cama, começou a pintar o rosto e a aplicar rímel nos cílios. Em seguida, pintou os lábios de rosa. E nesse quarto onde teceu e tece seus sonhos, onde teceu e tece sua identidade, onde certa vez disse à mãe que, quando crescesse, queria ser menina, eu lhe perguntei:
—O que você quer ser quando crescer?
—Quero trabalhar com informática —respondeu Cora Navarro Valenzuela—. Ou fabricar unicórnios.
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O número de crianças com menos de dez anos que foram encaminhadas para o serviço britânico de saúde devido a problemas de identidade de gênero quadruplicou nos últimos seis anos. A apresentadora da BBC Victoria Derbyshire acompanhou alguns dias na vida de duas das crianças transgênero mais jovens na Grã-Bretanha - com autorização dos pais. Neste relato, trazemos a história de Lily e Jessica e de como elas tiveram de superar o preconceito na escola e até dentro da própria família.
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HollySiz - The Light Nunca é tarde para rever conceitos e mudar posturas. O apoio no ambiente escolar e familiar é fundamental para a auto-estima e o bem estar de nossos filhos. No fim o que importa são nossas crianças saudáveis e felizes!
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O Serviço de Atenção Especializada no Processo Transexualizador foi credenciado no SUS-DF, uma Modalidade Ambulatorial do Hospital Dia, na última semana. Com o atendimento credenciado, a partir de agora a Secretaria de Saúde receberá repasses do Ministério da Saúde para essa modalidade.
Localizado no Hospital Dia da 508/509 Sul, o Ambulatório Trans presta atendimento à população trans do DF desde agosto de 2017 em suas necessidades específicas e funciona como referência para que estudantes, estagiários e profissionais de saúde possam conhecer a realidade do segmento. A unidade funciona de segunda a sexta-feira, oferece atendimento multidisciplinar, sua equipe é composta por psicólogos, assistente social, endocrinologista, psiquiatra, terapeuta ocupacional e enfermagem.
As políticas públicas específicas para esse grupo social estão previstas na Portaria nº 2.803 de novembro de 2013, do Ministério da Saúde. Por meio do marco legal, foi definido e ampliado o processo transexualizador no Sistema Único de Saúde (SUS), que prevê a capacitação e sensibilização dos profissionais de saúde para lidar de forma humanizada com transexuais e travestis, tanto na atenção básica quanto na especializada, sem discriminação.
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"Quando eclode o machismo, a homofobia ou o preconceito aos transgêneros, pais e professores agem rápido para pôr panos quentes e, sempre que possível, fazer de conta que nada ocorreu."
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