#CAPRD
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Explore the deep emotional impact of parental alienation, shedding light on hidden wounds and paths to healing for affected families.
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What Is CAPRD (Child Affected By Parental Relationship Distress)?
What Is CAPRD (Child Affected By Parental Relationship Distress)?
I remember, as a very young child, perhaps six or seven years of age, sitting on the stairs listening to my parent’s violent arguments going on downstairs. These would sometimes result in my mother becoming completely hysterical and running out of the house, threatening to never come back. If I was ever caught doing this, I would be severely told off for ‘eavesdropping.’ Of course, many children…
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Capítulo 25: Rosa
As semanas se passaram e Yuki dedicou-se inteiramente a Haru e sua doença, revezava entre visitar seu amigo e procurar a cura com alguns médicos, que desistiram progressivamente até sobrar apenas a pequena Yuki e sua determinação. Os médicos admiravam-na e chamavam-na de tola por gastar dias e noites com algo impossível. No entanto, numa noite clara e fria, um dos pacientes (ratos) não apresentou alguns sintomas típicos da doença resultando numa melhora considerável.
–– E-Eu consegui... –– ela murmurou ainda em choque. –– Eu consegui!
Um dos médicos ouviu e curiosamente checou a trajetória da doença ficando surpreso com o que leu. Aquela garotinha, em que ninguém tinha fé, encontrara algo para, pelo menos, inibir alguns dos sintomas em estágio terminal.
–– Eu tenho que levar isso para o Haru! –– ela exclamou em êxtase. –– Eu achei a cura!
–– Espera, espera! –– gritou o médico com apreensão, agachou-se e levemente segurou os ombros da menina. –– Não pode levar isto assim! Você ainda tem muitos testes pra fazer, por isso pedimos que usasse os ratos depois de dar tantos remédios fracassados ao Haru! E ainda temos muitos testes antes de começarmos com os humanos! Você pode acabar matando aquele garoto!
Yuki apertou o pequeno tubo de ensaio cheio do líquido e segurou suas lágrimas.
–– Não temos tempo! –– ela gritou em resposta chamando a atenção de outros médicos. –– Eu vou salvar o Haru com esse remédio, que eu encontrei!
–– Ninguém contou a ela ainda...? –– um dos médicos murmurou para outro.
–– Ninguém soube como –– ele respondeu. –– Ela estava tão empenhada...
A garota, sem ouvir o que os outros médicos diziam, correu para a casa de seu amigo o mais rápido que pode. Entrou ofegante sem dar ouvidos ao que os pais de Haru tinham para falar, ou que dois médicos faziam ali. Ao entrar no quarto do garoto encontrou as flores que trocava toda semana murchas e sem um pingo de cor, todas mortas. Ao lado estava o corpo gélido e sem vida de seu amigo.
O tubo de ensaio em sua mão caiu no chão rolando para um canto qualquer. Ela tentou chamar por Haru em vão até sua garganta secar, tentou abraçá-lo, mas o traria de volta.
Foram os dias em que Yuki mais chorara em sua vida. A menina não conseguia tirar a imagem de Haru pálido de sua mente, principalmente por seu remédio ter conseguido controlar a doença em todos os pacientes que foram testados alguns dias depois a seu pedido. Soubera também que Haru havia morrido horas antes dela chegar em sua casa... se eu tivesse sido um pouco mais rápida.
Enquanto isso, outras crianças de sua cidade zombavam lançando as mais terríveis provocações que uma criança pode lançar. Yuki era diferente de todos aqueles esnobes e isso incomodava profundamente a comunidade nobre.
–– Que idiota! –– uma criança rechonchuda riu. –– A Yuki está chorando de novo, pessoal!
–– Todo dia é a mesma coisa –– provocou outra cruzando os braços. –– Ela nunca para de chorar, que besta.
–– Não sei o que ela viu naquele garoto –– uma menina loira com um vestido cheio de babados alfinetou. –– Ele merecia morrer mesmo como todos aqueles mendigos da Vila Rosa, essa gente só atrapalha nossa bela visão.
A tristeza de Yuki transformou-se em fúria. Ela não ligava que zombassem dela, porém nunca tolerou qualquer um fazendo piadas com Haru ou com as pobres pessoas em Rosa. Então, num ato quase impulsivo levantou uma de suas mãos e estapeou o rosto de sua provocadora. Todas as crianças paralisaram em choque, a bochecha da menina loira ganhou um rubor que transformou-se no formato da mão de Yuki.
–– Nunca mais repita isso –– ela rosnou.
O menino rechonchudo, também enraivecido, a chutou para longe. Yuki caiu com o rosto no chão e acabou por cortar sua testa, a menina se levantou, porém nada pôde fazer, pois as crianças já haviam desaparecido. Quando chegou em casa, sua mãe, não ficou surpresa ao ver o sangramento, sua filha sempre se metia em confusões e brigas. A mulher alta, de cabelos negros e olhos verdes não falou uma palavra e apenas cuidou do ferimento da garotinha.
–– Eu nunca mais vou deixar alguém morrer... –– Yuki murmurou e sua mãe parou com os curativos curiosa. –– Eu vou me tornar a maior médica que esse mundo já viu! Serei capaz de curar todas as doenças e ninguém mais será infeliz!
Sora sorriu quase surpresa ao ver tanta determinação e abraçou sua filha, sabia que Haru era importante para ela e sabia de todo o seu sofrimento, aquilo era algo que nenhuma criança deveria passar. A mulher beijou a testa de Yuki e terminou com o curativo, no mesmo instante Hisashi, seu marido, entrou pela porta da frente. O homem estava coberto por lama, seus cabelos loiros estavam bagunçados e seus óculos quebrados.
Nenhuma das duas estranharam, ele geralmente chegava daquela maneira, gostava de trabalhar nas minas e inventar todo tipo de bugiganga mesmo não sendo necessário, a venda de joias de Sora, e a herança de família, já conseguia sustenta-los perfeitamente bem.
–– Fiquei sabendo de uma novidade –– ele anunciou enquanto fechava a porta. –– Parece que receberemos um Tenryuubito para inspeção de nossa ilha dentro de três semanas e o rei quer que tudo esteja o mais impecável possível.
–– Que estranho... –– Sora murmurou. –– O que eles querem conosco?
–– Eu não sei... –– Hisashi respondeu enquanto andava pela casa com cautela. –– Há muitos boatos circulando, mas ninguém sabe da verdade.
–– Mas como o rei quer que o reino fique impecável? –– perguntou Yuki curiosamente. –– Ele já não é lindo desse jeito?
Seus pais sorriram ao ver a inocência da filha.
–– Infelizmente o rei não pensa da mesma forma que nós... –– o pai respondeu apreensivo. –– Eles querem destruir a Vila Rosa e outras alegando que são áreas de imperfeições e devem ser retiradas.
–– O que?! –– a pequena menina gritou. –– Não! Eles não podem fazer isso! A mãe e o pai de Haru estão lá, sem falar de todas as pessoas inocentes!
–– Infelizmente não podemos fazer nada dessa vez. –– ele respondeu cabisbaixo. –– Eu tentei falar com o rei, mas ele não me ouviu. Eles expulsarão os moradores e destruirão todas as vilas, e Rosa é apenas a primeira.
–– E onde eles irão morar?! –– Yuki bradou desesperada. –– Eles não têm pra onde ir!
Hisashi abaixou sua cabeça sem saber o que responder, a menina olhou para sua mãe pedindo por uma resposta, porém ela tinha um olhar vazio a triste. Eles eram apenas três, mesmo sendo nobres não podiam ir contra a palavra do rei, contudo Yuki não ligava, aquele homem não podia se livrar de seus súditos como se fossem lixo, mesmo pobres eles ainda eram pessoas com sentimentos e família.
–– Nós precisamos fazer alguma coisa! –– a menina suplicava em desespero. –– Não podemos deixar isso acontecer!
–– Não há nada do que dois adultos e uma criança possam fazer, minha querida... –– o pai de Yuki explicou. –– Somos poucos e não temos influência alguma na comunidade.
–– Podemos ser apenas três, mas se não tentarmos nós nunca iremos saber! –– ela insistiu. –– Eu não vou ficar parada enquanto pessoas são jogadas fora só porque não tem tantas coisas como nós! Nós precisamos lutar, podemos mudar isso!
Sora e Hisashi ficaram sem palavras, era uma menina de seis anos que dizia tais palavras. Era incrível, e ambos, Sora e Hisashi, sabiam que era a mais pura verdade, porém também sabiam que nada iria mudar, Yuki ainda era nova demais para entender o que estava acontecendo.
–– Vá para seu quarto, Yuki –– ele pediu com calma e sem saber o que fazer.
A menina abriu a boca, porém sabia que não conseguira mais do que um sermão. Sem escolhas correu para seu quarto contrariada. Seu gato, Buttercup, estava lá, deitado em cima de sua cama, Yuki o invejou por não saber o que acontecia e se jogou no meio dos travesseiros. Buttercup esfregou seu rosto no da menina confortando-a, era incrível como animais podiam ser mais humanos que os próprios.
Yuki começou a chorar baixinho agarrando-se a um dos travesseiros, mas manteve seu sorriso como prometera a Haru. Tudo vai ficar bem.
O dia amanheceu assim que Yuki acordou. Não teria aulas então tinha tempo de sobra para fazer o que quisesse, como colocar os planos que tivera em prática. Tudo estava perfeitamente calculado, porém o que a impedia eram seus pais então saiu de casa com a desculpa de que compraria novos livros e passaria o dia estudando sozinha. No meio do caminho mudou de direção e correu para o palácio real quase implorando para uma audiência com o rei.
A sala do trono era de tirar o fôlego, ela nunca imaginaria algo tão belo e luxuoso. O cômodo era repleto de joias e minérios preciosos. Já os tapetes, cortinas e móveis eram da melhor qualidade. Também havia diversos guardas e um conselheiro, todos com as roupas mais caras. Todo o lugar a fez lembrar de Rosa, o rei nunca saberia o que era pobreza, o que era passar fome e frio, ele não sabia de nada e não se importava. O sangue de Yuki ferveu de raiva, porém conseguiu se controlar, não podia perder a cabeça.
–– Então, porque me procura, garotinha? –– o rei perguntou tentando esconder seu desprezo.
–– Eu queria falar sobre o destino das pequenas vilas –– ela começou. –– O senhor quer destruir todas, por achar que são imperfeições, mas todas abrigam centenas de vidas. Uma boa reforma pode ajudar e dar melhores condições também... –– ela se ajoelhou e encostou a testa no chão. –– Por favor, eu lhe imploro, não destrua as vilas! As pessoas delas são boas, não têm para onde ir e provavelmente morrerão de fome. Isso não é viver, tente entender meu senhor, eu imploro!
A sala entrou em um profundo e desconfortável silêncio.
–– Levante-se –– o rei pediu e Yuki atendeu esperançosa. –– Você está sujando o meu tapete com essas patas imundas, garotinha. E é Vossa Majestade. –– ela ganhou uma expressão confusa. –– Seu pedido está estritamente negado.
–– Não! –– ela exclamou em desespero. –– Se... Vossa Majestade, por favor, entenda, eles não tem para onde ir, vagarão sem rumo pelas ruas com frio e fome. Cada um deles morrerá e verá sua família morrer, ninguém merece viver assim!
–– Veja bem o tom com que você fala comigo, mocinha! –– ele bradou furioso. –– Eu não me importo se centenas deles irão morrer ou passarão fome. Em meu reino não existirão imperfeições então eu removerei cada uma delas!
Yuki paralisou com os olhos turvos. Como um rei consegue ser tão tirano? Como ele conseguia tratar vidas humanas como meras imperfeições? Yuki pensava consigo mesma. Ele não é um rei, ele deveria amar seu povo, pois o reino é o povo!
–– Agora saia daqui! –– ele ordenou rispidamente.
–– Não! –– ela insistiu e dois guardas seguraram seus braços. –– Entenda, por favor...!
Yuki foi literalmente chutada para fora do palácio, e ainda ameaçaram uma pequena criança se alguém a visse perambulando por ali. O rei nunca saberia o que era ser tratado como um lixo, mas a menina acabara de sentir na pele a enfurecendo ainda mais. Ela nunca iria desistir.
Já dentro do palácio, o rei discutia com seu conselheiro.
–– Quem era aquela garotinha insolente? –– ele perguntava, sentia-se insultado e estava furioso.
–– Ela é filha da dona da joalheria e do mineiro que veio falar com Vossa Majestade ontem à noite –– o conselheiro respondeu. –– Eles são a família de nobres mais rica do reino, gostam de interagir com a escória e doam sempre uma quantia gorda para ajudá-los. Eles podem causar problemas, Vossa Majestade quer que eu tome alguma providência?
–– Não faça nada com a família –– ele pediu pensativo. –– Apenas não deixe isto cair nos ouvidos das vilas. Dependendo do que acontecer tomarei outra decisão. Está dispensado.
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Capítulo 24: O Meu Sonho
O dia amanheceu bonito, o céu estava claro, quase sem nuvens e algumas gaivotas plainavam ao redor do navio em busca de comida fresca. A maré estava calma e o vento forte, um dia perfeito para navegar. Ao olhar para o horizonte, Baes conseguia perceber que já estavam bem longe de Victória, apesar dos marinheiros os seguirem pelo mar também. Porém, fora fácil despistá-los com novo navio. Talvez, se ainda estivessem com o antigo, estariam no fundo do oceano ou presos em uma cela qualquer.
O navio era grande, um galeão com dois mastros contendo cada um duas velas vermelhas. Havia também um terceiro mastro – o menor e localizado na proa –, porém a vela era branca, pequena e triangular, servindo mais como auxílio. A escultura da proa era uma harpia negra, suas asas pareciam segurar o navio e sua cabeça estava um pouco mais acima que o nível do navio. Miki o nomeara de Little Brume II, em homenagem ao “falecido” navio. No entanto, ela e Drako brigaram, pois aquele navio, na verdade, fora construído pelo garoto e perdido numa aposta.
–– A culpa não é minha se você ficou bêbado e apostou seu navio –– Miki provocou enquanto cruzava seus braços. –– Isso só demonstra que era um péssimo dono!
–– Não! Não! Não! –– Drako bateu forte com um dos pés no deck. –– Ele foi roubado de mim! Sem chances dele ser seu!
Miki aproximou seu rosto o quanto pôde do rosto do garoto com um olhar medonho e uma expressão pior ainda, que fez Drako recuar alguns centímetros.
–– Aceite, seu maldito –– a garota começou num tom macabro. –– Esse navio agora é meu e eu sou a capitã.
Depois disso, Drako procurou um canto qualquer e sentou-se lá por algumas horas, estava desolado, com medo de sua nova capitã e frustrado pela perda definitiva de seu navio.
Ainda pela manhã, Miki acordou e se espreguiçou feliz por não sentir mais as dores dos machucados, e aproveitou para tirar suas bandagens.
O quarto feminino era bem amplo e arejado. As irmãs ainda não tinham arrumado todos os seus pertences então remédios, estetoscópios, armas dentre outros objetos e roupas estavam espalhados pelo cômodo. Porém, da maneira que Miki conhecia sua irmã, toda aquela bagunça já não deveria estar mais por ali assim que acordasse, a cama da médica também estava bagunçada. A capitã achou estranho, Yuki detestava qualquer tipo de bagunça, porém não se preocupou tanto, ela deveria estar fazendo algo mais importante.
Miki vestiu um top branco, um short com o mesmo pano amarelo amarrado de sempre, botas pretas e uma meia listrada de uma única perna. Desceu para o convés e entrou na cozinha esperando ver todos tomando um café da manhã preparado por Yuki, porém o que encontrou foi Torak e Drako jogados no chão com os estômagos roncando e Baes num profundo sono.
–– Onde está a Yuki? –– Miki perguntou curiosa e preocupada. –– Ela não está no quarto, pensei que estivesse aqui.
–– E nós achamos que ela ainda estivesse dormindo –– respondeu Torak com a voz trêmula de fome. –– Eu fui o primeiro a acordar e não a vi até agora, até tentei procurá-la porque estava com fome, mas não a achei em lugar algum.
–– Espero que ela tenha ido buscar mais comida –– sugeriu Drako mordendo um pedaço de madeira. –– Talvez ela esteja no fundo do mar com as sereias –��� delirou.
–– Ei! Não seja estúpido –– reclamou Torak.
–– Eu a ouvi saindo do quarto de madrugada –– comentou Baes acordando, depois se espreguiçou. –– Ela foi para o convés, mas não vi mais nada porque acabei dormindo.
–– Era seu turno de vigilância, idiota! –– gritou Miki furiosa colocando um de seus pés sobre a mesa. –– O que aconteceria se fôssemos atacados na calada da noite?!
–– Será que ela fugiu?! –– exclamou Torak apreensivo.
–– Agora quem está sendo estúpido é você! –– bradou Baes impaciente.
–– Mas então... –– começou Miki recompondo-se, se sentou em uma das cadeiras e apoiou o rosto com uma das mãos. –– Ela foi sequestrada.
–– Sequestrada?! –– bradaram os três em uníssono.
–– Sim –– a capitã respondeu com um suspiro olhando para um ponto invisível no ar. –– A marinha a sequestrou.
–– Mas por que a marinha sequestraria a Yuki-chan sem tentar nos levar? –– perguntou Torak levantando-se. –– Tem o bobão ali atrás e Miki-san aqui, que valem muito mais.
Baes ignorou o comentário do anão e continuou com sua expressão indiferente, Drako se levantou e arrastou-se até uma das cadeiras curioso para saber o restante daquela história, e queria esquecer de sua fome, e Torak fez o mesmo, porém permaneceu na mesa.
–– Dentre nós ela é a que mais vale mesmo eu tendo trinta milhões e o Baes sendo bem conhecido –– Miki respondeu olhando para seu cartaz de procurada presa na parede de madeira. –– Uma coisa aconteceu com há bastante tempo, por isso não é só a marinha que está atrás dela.
O cômodo entrou em um profundo silêncio, até Baes estava um pouco mais interessado na história, porém não moveu um músculo. Miki compreendeu a resposta silenciosa e continuou.
–– Ela nasceu em um reino chamado Neo aqui no East Blue, morava com seus pais, que eram da nobreza.
–– Nobreza?! –– exclamou Drako com os olhos brilhando de excitação, esquecera-se da fome. –– A Yuki-hime é uma princesa?!
–– Da nobreza e não da realeza, idiota –– reclamou Baes ao fundo.
Drako virou-se para o espadachim e rosnou de raiva, porém não retrucou. O cômodo voltou ao silêncio e todos continuaram a escutar a história de Yuki sem mover um músculo, pareciam crianças ouvindo um conto mágico.
Yuki tinha seis anos, voltava sozinha da casa de sua professora particular feliz com os elogios que recebera. Seu maior sonho era se tornar uma grande médica, adorava ajudar as pessoas. Antes de chegar em casa, a menina decidiu comprar algumas flores e uma porção de takoyaki para presentear um amigo, que estava com uma grave doença e não podia sair de sua cama.
Ao chegar lá, esperava que os remédios que tinha descoberto com um dos médicos locais tivesse ajudado, porém nada pareceu ter surtido efeito.
–– Você vai ficar bem, Haru. –– ela tentou confortá-lo com um sorriso caloroso. –– Você vai ver, logo estará de pé! Eu vou te curar!
–– Acha mesmo? –– ele perguntou sem esperanças, sua voz estava fraca.
–– Mas é claro! –– ela respondeu com animação. –– Você é muito forte e eu sei que conseguirá suportar! –– Yuki continuou sorrindo e colocou as flores que comprou num vaso com água. –– Aqui, isto é pra você lembrar sempre de mim. E trouxe seu favorito: takoyaki!
Haru sorriu.
–– Obrigado Yuki-chan! –– ele agradeceu. –– Você é a melhor amiga que eu posso ter!
Yuki sorriu em resposta e o abraçou. Ambos comeram juntos os bolinhos de polvo e conversaram até Yuki perceber que já estava muito tarde, seus pais provavelmente estavam preocupados. Saiu do quarto de seu amigo ainda sorrindo, tentava a todo tempo lhe dar esperanças. Caminhou até a sala e encontrou os pais do garoto, seu sorriso deu lugar para uma expressão triste.
–– Ele... não vai melhorar, não é? –– ela perguntou quase sem respirar tentando não chorar.
A mãe e o pai do menino se entreolharam, tristes, por alguns segundos antes de responderem.
–– Não... –– a mãe respondeu num sussurro triste e sem vida.
–– Não podemos pagar o tratamento, é muito caro –– completou o pai num tom melancólico... Ele também está em fase terminal, os médicos disseram que é impossível voltar quando ele chegou a este estado.
Yuki desesperou-se e não conseguiu mais refrear suas lágrimas chorando descontroladamente, e em um ato impulsivo pulou em cima do homem de cabelos castanhos e o sacudiu pela gola de sua blusa.
–– Não! Não! Não! –– ela gritou recusando-se a acreditar. –– Ele vai melhorar, eu sei! Eu posso pagar qualquer tratamento, qualquer remédio! Nenhuma doença é incurável!
–– Desculpe, querida... –– a mãe disse com lágrimas em seus olhos. –– Mas não há nada que possamos fazer sobre isso...
Yuki largou as vestes do homem e caiu no chão de joelhos com as mãos cobrindo seu rosto, por mais que tentasse lágrimas não paravam de cair. Ele era seu único amigo, era como um irmão, não podia deixar que ele morresse sem que fizesse alguma coisa, então foi naquele momento em que decidiu encontrar um remédio para curá-lo, e não iria descansar até que conseguisse.
A garota virou-se para os pais de Haru, limpou as lágrimas do rosto e tentou esboçar um sorriso fazendo uma expressão estranha. O garoto apareceu no mesmo instante perguntando o porquê de toda aquela gritaria. Assim que o viu, a médica mirim correu até seu amigo o abraçou com tanta força que o fez soltar um baixo gemido.
–– Eu vou encontrar o remédio perfeito, Haru! –– ela disse o soltando, seu sorriso ficara um pouco mais verdadeiro. –– É só você aguentar mais um pouco!
–– O-Obrigado, Yuki-chan –– o menino agradeceu. –– Mas só preciso do seu sorriso, está bem?
Ambos se abraçaram novamente, porém mais forte. Yuki engoliu um choro criando um nó em sua garganta, porém Haru não se segurou e as lágrimas rolaram por seu rosto apenas por saber que nunca mais veria aquele sorriso novamente. Seus pais assistiam maravilhados, apesar de toda a dor que ambos sentiam, aquelas crianças eram capazes de tudo para fazer um ao outro feliz.
A pequena menina saiu da casa de seu amigo com o rosto inchado, os olhos vermelhos e um largo sorriso reconfortante, contudo, quando a porta se fechou as suas costas ela correu desesperadamente até sua casa, chorando como se o mundo fosse explodir e ainda sorrindo. Ela não iria desistir, iria salvar Haru.
Dezesseis anos à frente, Yuki lembrava-se com perfeição de todos aqueles acontecimentos. Estava algemada com e presa em uma cela de Karioseki em um navio da marinha. Ela fora sequestrada, exatamente como Miki dissera. Levavam-na para a base marinha mais próxima e contatariam o QG para mandá-la de volta ao lugar onde passara os três piores anos de sua vida.
Estava sorrindo, mas lágrimas quentes escorreram de seus olhos ao lembrar-se de tudo o que passara e provavelmente teria que passar novamente. Estava com saudades de tudo e de todos, principalmente do sorriso caloroso de Haru, da aura protetora e o abraço reconfortante de sua irmã.
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Capítulo 23: A Bruxa de Olhos Rubros
A escuridão rapidamente caiu sob a Ilha Victoria e todos já estavam seguros em suas casas. A lua, e as estrelas, surgiram mais brilhantes naquela noite e iluminaram a destruição do lugar dando um toque sombrio aos escombros. A nuvem tempestuosa de Mansfield desaparecera minutos depois que ele fora derrotado, ela tinha um curto tempo de duração, porém era o suficiente para que os planos fluíssem conforme fluíram.
Apesar da calmaria, a marinha ainda tinha muito trabalho a fazer. Assim que o controle sobre a população terminou, Uzuki voltou ao comando de seus subordinados e caçou cada aliado de Mansfield os prendendo sem hesitar, até a base secreta nas montanhas fora descoberta e destruída. Já no QG tudo estava um caos, marinheiros corriam por todos os lados tentando acalmar os presos, pois as celas já começavam a lotar já que aquela base não fora feita para abrigar tantos criminosos.
O tenente Uzuki estava à beira de um ataque de nervos. Não sabia como, mas a história sobre o que acontecera na ilha se espalhara para outras. Além disso, vários superiores lhe ligavam do QG na Grand Line o repreendendo pelo problema com Mansfield, o caso de Morgan e por uma pirata procurada estar à solta fazendo o que bem entendesse. Também recebia e tinha que repassar o relatório sobre piratas bagunçando em Loguetown e Smoker saindo de seu posto para entrar na Grand Line.
–– Senhor! –– exclamou Uzuki tentando acalmar a si mesmo. –– Como eu posso fazer isso?! Foi ela quem-!
–– Não me interessa! –– gritou o comandante do outro lado da linha. –– As ordens são bem claras! Capture a capitã e todo seu bando! Quem estiver com eles também deve ser preso e interrogado!
–– Senhor eu-!
–– Sem mais questionamentos! –– o comandante exclamou e Uzuki engoliu seco. –– Isto está acima de nós. Você receberá uma promoção a Capitão e irá para a divisão de ciências como queria. O mundo não pode saber que uma das bases mais importantes foi invadida e a cidade destruída e controlada tão facilmente! Apenas aceite calado! A reputação da marinha está em jogo!
O comandante desligou e Uzuki bateu com um de seus punhos contra a mesa de madeira. O que estamos fazendo? Ele abaixou sua cabeça. Que reputação é essa baseada em mentiras? Não conseguimos nem identificar um espião tão óbvio...! Se eu tivesse mais poder...
Enquanto o tenente perdia-se em seus pensamentos, um de seus subordinados abriu a grande porta de madeira com força e adentrou sua sala. O homem rapidamente viu a expressão de raiva em seu superior e bateu continência sem pensar em sinal de respeito, porém o gesto não fez com que o humor de Uzuki mudasse.
–– O que aconteceu dessa vez? –– ele perguntou colocando seus óculos de grau retangulares. –– Os criminosos perderam o controle de vez?
–– Não, senhor –– ele respondeu engolindo seco ainda com a mão em sua testa. –– Ainda temos que averiguar quem estava sendo controlado e quem não estava, mas não é por isso que vim aqui... Mansfield quer vê-lo em sua cela, senhor...
Uzuki ficou confuso, irritado e ergueu uma de suas sobrancelhas.
–– O que aquele bastardo quer comigo? –– ele perguntou levantando-se com as mãos apoiadas na mesa.
–– E-Ele disse que é algo importante, senhor –– o homem respondeu baixando sua mão. –– É sobre a garota...
Uzuki dispensou seus subordinados e caminhou silenciosamente até a cela de Mansfield. O homem estava isolado por conta do nível de procurado que carregava, ninguém o queria perto de seus subordinados novamente, mesmo sem seus poderes ele ainda tinha certa influência sobre alguns e era inteligente demais.
O tenente parou a uma distância segura das grades que prendiam Mansfield e o observou sentado no chão sujo com ambos os pulsos presos, assim como seus tornozelos. Estava um pouco longe da luz então era difícil de ver suas feições, porém seus ferimentos estavam enfaixados e seus óculos escuros foram recuperados, porém ainda estava sem seu paletó. O homem também não demonstrava uma expressão aparente, apenas encarava um ponto imaginário no ar.
–– O que você quer dessa vez? –– Uzuki perguntou impaciente.
–– Eu sei que você quer a Bruxa –– ele começou em um tom melancólico. –– Mas não pode capturá-la, ninguém pode.
Uzuki cerrou os punhos e se segurou para não entrar naquela cela.
–– Então me chamou aqui pra falar que não conseguirei capturar uma pirata em um bando qualquer? –– o tenente cuspiu.
–– Não os subestimem –– Mansfield respondeu. –– Principalmente a Bruxa. E foi apenas um aviso, não só para você como para todos os porcos da marinha. Você é jovem, mas não tanto assim, deveria saber mais sobre isso.
Uzuki engoliu seco e deixou que uma gota de suor escorresse por sua testa. Ficou irritado por aquele homem tê-lo chamado apenas para lhe provocar.
–– Você...!
–– Eu não estou aqui pra te provocar –– o criminoso lhe respondeu como se ainda conseguisse ler pensamentos. –– Eu já perdi e como um homem devo aceitar. Foi apenas um aviso, mas não é por isso que lhe chamei. Quando encontrá-la lhe mande um recado.
Uzuki ficou surpreso com as palavras de Mansfield, nunca imaginou que aquilo poderia acontecer... Aquele era um dia muito estranho.
A noite nas montanhas estava fria, ventava e a floresta tornava tudo ainda pior. Já a favela ali perto ganhava vida novamente. Alguns civis, e marinheiros, doaram tendas, mantimentos e medicina, e no dia seguinte os que ali moravam começariam a juntar materiais para construírem suas próprias casas, decidiram que reconstruiriam sua vila.
Miki dormia tranquilamente na tenda onde os feridos se recuperavam assim como Torak, que escondia-se no meio aos lençóis. Já Yuki, Baes, Drako e Peter estavam acordados e conversavam enquanto jantavam ao lado de fora sendo esquentados por uma modesta fogueira.
–– Eu ainda não agradeci, mas estou muito grato por terem nos ajudado –– comentou Peter com as bochechas vermelhas, olhava fixamente para seu prato quase vazio. –– Sinto muito por terem se envolvido nisso...
Yuki sorriu e Baes continuou a comer seu ensopado, Drako estava com macarrão em sua boca então não pôde responder.
–– Não precisa agradecer pequeno, muito menos se desculpar –– respondeu Yuki com um sorriso calmo. –– Nossa capitã não deixaria que algo acontecesse, ajudar foi um prazer.
Peter engoliu seco e colocou seu prato no chão, encostou sua testa nele e agradeceu mais uma vez, não queria saber o que aconteceria com todos que amava se Mansfield não fosse derrotado por aquela garota. Ele sentia que nunca conseguiria agradecer adequadamente aquele feito.
–– Não precisa chorar –– pediu Yuki ainda sorrindo. –– Estão todos bem, tudo voltará ao normal.
–– Graças a mim! –– bradou Drako de repente, e levantou seu garfo no ar. –– Foi tudo um plano meu! Desde o princípio sabia que Mansfield era suspeito, entrei no bando, pois só precisava de...
–– Você era o que mais estava com medo, maldito! –– exclamou Peter em resposta jogando um pedaço de pão no rosto do cientista.
De repente, um homem surgiu correndo, apoiou suas mãos nos joelhos e respirou fundo tomando fôlego. A tenda com os feridos estava um pouco longe da civilização por causa do barulho e pela proximidade com a floresta, os feridos precisavam de tranquilidade para dormir e os médicos conseguiram ervas mais facilmente.
–– Mari... Marinheiros aqui! –– exclamou o homem arfando. –– Eles querem vocês!
Baes quase se engasgou com um pedaço de carne e Drako sentiu sua espinha congelar, Yuki ficou séria e Peter levantou-se preocupado com Miki e Torak sozinhos na tenda.
–– Vocês precisam ir agora! –– o homem continuou. –– Estamos tentando atrasá-los, mas logo descobrirão este lugar!
–– Merda... –– soltou Baes levantando-se junto de Yuki. –– Temos que acordar aqueles dois e sair rápido daqui!
–– Isso, saiam! –– exclamou Drako depois de se levantar, suas pernas tremiam. –– Nos deixem em paz, piratas malditos!
–– Você também está conosco, idiota! –– gritou Baes irritado.
–– Nosso maior problema é Peter... –– comentou Yuki tristemente. –– Talvez ele tenha problemas por nossa causa.
–– Mas é só precisamos fugir –– respondeu Miki calmamente.
–– Sim –– concordou Baes. –– Mas-
Todos, numa fração de segundo, viram-se para a tenda e viram Miki sentada comendo toda a comida que restou com Torak em seus ombros mastigando um pedaço de carne maior que seu corpo.
–– O que foi? –– Miki perguntou com a boca repleta de comida.
–– Por que não avisou que estava ai?! –– gritaram Yuki, Baes e Drako.
–– Rápido –– bradou o homem segurando Peter pelos braços, que protestou debatendo-se. –– Vocês tem que ir o mais rápido possível para o porto!
–– Tudo bem! –– Miki respondeu levantando-se, e depois enfiou os restos da comida em sua garganta. –– Vamos lá, cambada!
Tanto Baes quanto Drako ficaram encabulados.
–– É uma monstra... –– o espadachim comentou.
–– Essa mulher não tem o mínimo de classe... –– o cientista também falou.
Yuki pigarreou e puxou a blusa de ambos Drako e Baes. Dezenas de marinheiros os cercavam, todos muito bem armados com pistolas, espingardas e espadas. Miki dobrou seu corpo para tentar enxergar e, numa fração de segundo, jogou Yuki em seus ombros e segurou Drako com o braço livre, começou a correr e Baes foi atrás depois de entender o que estava acontecendo.
–– CORRAM! –– Miki berrou e os marinheiros abriram fogo.
O tenente Uzuki também estava presente e pensou que teria pelo menos um segundo para dar o recado de Mansfield. Já Peter conseguiu se soltar e tentou ir atrás dos piratas, porém aqueles dois eram rápidos de mais e o tenente o parou, pois era perigoso, porém ele continuou a segui-los pela floresta.
Miki seguiu em frente e pulou no rosto de um marinheiro para conseguir escapar do cerco ignorando os pedidos de Uzuki. Ao chegar a uma parte da trilha jogou Yuki, Torak e Drako no ar, tomando o máximo cuidado com sua irmã, e chutou Baes para longe.
–– Vão na frente! –– gritou Miki parando de correr.
–– Não nos jogue assim, sua idiota! –– os quatro gritaram furiosos.
Os marinheiros a cercaram novamente e Peter surgiu no meio de toda aquela multidão, Uzuki ficou na linha de frente e todos abaixaram suas armas por alguns segundos.
–– Mansfield pediu para agradecê-la –– ele finalmente falou. –– Eu também agradeço, mas preciso prendê-la agora então é melhor que-
–– Eu vou voltar para vê-lo! –– Miki bradou com um sorriso. –– Não se esqueça disso, seu maldito anão!
Uzuki ficou confuso, mas Peter entendeu o recado e subiu em uma árvore para não ser pisoteado pelos marinheiros furiosos. O garoto se acomodou e observou toda a confusão se desenrolar em silêncio. A garota transformou-se novamente em sua forma híbrida de gato e desapareceu no ar reaparecendo metros a distância.
E foi assim que ele soube que ainda havia esperança. Longe dali, num dos jardins do QG da marinha situado na Grand Line, Koiniro conversava com Garp sobre o que acontecera com o East Blue depois de ser repreendida por Sengoku por se recusar a resolver o que acontecera tanto em Loguetown quanto em Victória. Ambos também observavam Coby e Hemelppo em seu treinamento noturno usual.
–– Até quando pretende continuar assim? –– perguntou Garp depois de engolir um de seus biscoitos.
–– Não foi escolha minha Garp-san –– ela respondeu calmamente. –– Além do mais, não posso me teletransportar para o East Blue, Loreyu cuidará melhor do caso. Assim que eles entrarem aqui, tenha certeza que me movimentarei, tentar pegá-los agora é inútil.
–– Entendi... –– respondeu Garp mordiscando seus biscoitos. –– Mas uma hora isso não funcionará mais com o resto da marinha. –– Por enquanto manteremos assim –– Koiniro respondeu sentando-se em uma tora de madeira.
De repente, Coby e Hemelppo apareceram gritando que sua guarda estava aberta prontos para atacar, porém tudo o que conseguiram foram galos na cabeça.
–– Isso não é justo! –– gritou Hemelppo. –– Você tem esse poder estranho!
Koiniro riu e olhou para o céu estrelado.
–– Está decido, Garp-san –– ela voltou a falar. –– Na próxima recompensa tudo será mudado.
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Capítulo 22: Aquela Promessa
–– Eu tenho uma promessa... –– Miki comentou calmamente. –– Não posso deixar minha irmã sofrer, mesmo que isso custe a minha vida eu tenho que protegê-la. Esse foi o último desejo de nossa mãe e eu não vou deixar que seja em vão... maldito!
Uma brisa soprou fazendo a água da chuva ficar mais intensa e profundo silêncio pairou no ar, que foi rapidamente quebrado pela risada alta de Mansfield.
–– É ainda mais tola por viver com um fardo tão idiota –– ele comentou cruzando os braços enquanto chegava mais perto de Miki. –– Família e amigos servem apenas para lhe levar a ruína! Tudo o que você pode ter são apenas aliados descartáveis! Esqueça essa “promessa”, garota, você só vai se matar.
Miki chegou ao nível de fúria que ela não sentia há muito tempo. Era deplorável estar naquela situação e tão indefesa, ela tinha que pensar rápido em algo para neutralizar os poderes de Mansfield, nem que fossem por meros segundos. Aqueles poderes tinham que ter algum ponto fraco.
O criminoso sorriu sabendo do quase desespero da menina, jogou em um lugar qualquer a faca de Yuki e quebrou as vinhas, que seguravam seus pulsos. Miki ficou alerta, sentia que aquele homem ainda conseguiria deixá-la no auge de sua raiva... e assim foi feito. Mansfield socou o rosto de Yuki jogando-a em direção ao chão ao lado de sua irmã. Miki paralisou incapaz de esboçar qualquer reação. Baes e Torak também ficaram furiosos tanto com a cena quanto com não poderem fazer nada, já Drako e Peter tentavam enxergar melhor o que estava ocorrendo.
–– Essa promessa, esse laço, tudo isso é frágil de mais –– comentou Mansfield cuspindo cada palavra com desdém. –– Veja só, você pode fazer algo sobre isso?!
O criminoso pisou na bochecha de Yuki com força fazendo-a cuspir sangue e novamente soltou uma gargalhada alta e triunfante. Baes e Torak ficaram tensos por conta do sofrimento e impotência de sua capitã e obviamente com o de Yuki também. Já Miki entrou em frenesi, chegava a tremer com o ódio que sentia por aquele homem, não ligava se ele a humilhasse, mas não admitia que fizesse qualquer coisa com sua irmã. Se recusava veemente a acreditar que não conseguiria cumprir sua promessa, aquilo estava fora de cogitação.
Drako e Peter, ainda sem ver completamente o que ocorria, tentavam tanto burlar os poderes de Mansfield, que conseguiram irritá-lo ao ponto do homem fazer ambos deitarem com os rostos no chão.
–– Olhe pra mim garota! –– o criminoso exclamou para Miki. –– Você não pode proteger nada!
Tanto Baes quanto Torak e Yuki, até mesmo Drako e Peter, sentiram uma estranha e aura, extremamente hostil, surgir de repente. Vinha de Miki ainda no auge do frenesi, sua irmã deixou que algumas lágrimas escapassem e arranhou o chão com suas unhas.
–– Desculpe... –– ela murmurou mordendo seu lábio inferior. –– Por dar tanto trabalho...
–– Eu não mandei você falar ainda, cale a boca –– Mansfield mandou, apertando ainda mais seu pé contra o rosto de Yuki.
Miki conseguiu encarar o criminoso como ele pedira anteriormente, olhou o mais fundo possível em seus olhos e conseguiu intimidá-lo como pretendia. Mansfield paralisou por alguns segundos, liberou o rosto de Yuki de seu pé e deu alguns passos para trás atordoado com o olhar sombrio da capitã pirata.
Mas o que é esse olhar? Mansfield perguntou-se ainda desconcertado. Como alguém consegue expelir essa aura?!
Miki sentiu que sua vontade própria voltava e se esvaia freneticamente.
Os poderes de Mansfield também precisavam de sua força mental, sua sanidade. A garota finalmente entendeu. Conturbado, ele não conseguiria ter total controle sobre uma pessoa quanto mais sobre seis rebeldes tentando fazer qualquer coisa para pará-lo. Contudo, todos ainda estavam presos de certa forma, podiam se movimentar, mas era inútil. Porém, Miki ainda ficara livre por poucos segundos, completamente suficiente.
A garota deu um passo à frente e Mansfield um para trás sentindo aquela aura tentar engoli-lo. Miki não esboçou expressão e deu outro passo, dessa vez para o lado, depois outro para trás e mais um para frente, cerrou seus punhos e desapareceu no ar de repente. A mente de Mansfield deu um nó e uma pontada de desespero invadiu seu corpo por ter deixado a garota escapar tão facilmente.
Eu... não consigo acompanhá-la... Ele pensou olhando ao seu redor tentando encontrar Miki, mas ela não estava ali, pelo menos ele achava que não. Eu não consigo ler seus pensamentos, não consigo vê-la... ela não responde...! Ela... desapareceu...
Uma brisa envolveu o corpo de Mansfield de repente, um calafrio percorreu sua espinha e então conseguiu entender o que estava acontecendo.
–– Kamaitachi –– o sussurro surgiu junto do vento.
O criminoso sentiu a aura novamente, havia algo ameaçador perto de suas costas. Miki. A garota bufou em seu ombro, fazendo toda a espinha do criminoso gelar, e rasgou suas costas utilizando suas garras, logo depois chutou o corpo do homem contra uma parede, ele bateu com seu rosto no concreto e cambaleou para trás. A menina Desapareceu outra vez e segurou o homem pela camisa erguendo seu corpo no ar então o jogou contra o chão, que rachou fazendo uma pequena cratera.
Ensanguentado, com a visão turva e com zumbidos em suas orelhas, Mansfield tentou entender a situação, mas não conseguia, tudo o que conseguia ouvir em sua mente era o zumbido e a voz de Miki “não devia ter feito isso” repetidas vezes. Depois de alguns segundos tentando se recompor, esgueirou-se até uma parede levantou-se escorando-a. Sua visão estava ainda estava embaçada, tudo o que conseguiu ver foi um borrão vermelho e negro a sua frente. Miki perto de sua máquina de chuva.
–– NÃO! –– ele gritou tão alto que sentiu sua garganta ser arranhada e um gosto metálico invadiu sua boca.
O chão congelou-se de uma das patas de Miki até Mansfield de onde nasceram vinhas espinhosas que o prenderam com força, uma outra cresceu atrás de seu corpo e atravessou seu peito não pegando em qualquer órgão vital. Segundos depois, as vinhas desapareceram e ele ajoelhou-se com sangue escorrendo por todo seu rosto, agora tudo o que escutava eram vozes pedindo que ele parasse e as batidas lentas de seu coração.
–– As pessoas querem que essa pirralha vença?! –– ele gritou novamente fazendo-o cuspir mais sangue.
As vozes continuaram, Mansfield cobriu suas orelhas com as mãos e do silêncio ouviu um barulho de metal quebrando. Fitou Miki em desespero e viu sua preciosa máquina em pedaços, a garota a destruíra com um golpe ou dois, ele não conseguiu distinguir.
–– Material ruim –– ela comentou e virou-se para o criminoso, depois caminhou em sua direção. –– Por ter destruído tudo o que Peter tinha, por ter feito o que fez com a ilha, por ter desrespeitado uma promessa importante e... –– ela parou a alguns centímetros de Mansfield.
Então é isso o que você disse... Tromp-san? As vozes se calaram, tudo estava silencioso novamente, exatamente como naquele dia. Será ela de quem você tanto me falou? Me desculpe, eu não consegui seguir... seu caminho.
–– Por ter feito a Yuki pedir desculpas pra mim! –– Miki terminou e socou o rosto de Mansfield pegando diretamente em seu nariz.
O homem voou para trás e caiu desengonçadamente no chão da rua a metros de distância da garota. Todos conseguiram se movimentar livremente, a nuvem quase engolindo a cidade desapareceu.
Mansfield fora derrotado.
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Capítulo 21: Últimas palavras de uma Rainha
Miki, ainda no chão, cerrou seus punhos tentando controlar sua raiva e a dor latejante em suas costas, por sorte o bumerangue não pegara em nenhum ponto vital seu. Já Mansfield, também em sua mesma posição, riu debochadamente da situação da garota e, segundos depois, recebeu, em troca, um poderoso soco em seu rosto, perdeu o equilíbrio e caiu com as costas no chão.
A garota respirou profundamente e prendeu seu fôlego antes de retirar o bumerangue de suas costas, levantou-se com um gemido e lançou o objeto longe, contra uma parede qualquer. Mesmo com a dor lacerante, deu um salto para trás a fim de pôr o máximo de distância entre ela e Mansfield, e quase no mesmo segundo, um raio pôde ser visto dos céus seguido de mais algumas gotas de chuva.
Tanto Miki quanto Yuki, Baes e Torak sentiram que aquela nuvem não era algo normal, a capitã chegou a pensar que poderia ser mais alguns dos truques de Mansfield, porém sabia que a criação de uma pequena nuvem era algo difícil, e uma que pudesse cobrir a ilha inteira, obviamente, era muito pior. Por fim, ela decidiu ignorar as surpresas da mãe natureza e focou no criminoso, que levantava-se vagarosamente sem o sorriso, que estava estampado em seu rosto segundos atrás.
–– Por que tenta proteger essa maldita ilha? –– ele perguntou mexendo em seu maxilar. –– Até quando pretende fazer esse papel ridículo?
Miki respirou fundo novamente e mordeu seu maxilar com raiva, já esperava que alguém como ele não entendesse.
–– Porque você não tem o direito sobre vidas inocentes –– ela respondeu entre dentes enquanto andava em direção a Mansfield. –– Você não pode tirar tudo de uma criança por um motivo tão banal. –– ela segurou o pescoço do homem e levantou seu corpo no ar. –– Não é porque alguém é indefeso que pode servir como um peão no seu plano maldito!
Miki não hesitou e jogou o corpo de Mansfield em direção ao chão com toda a força que lhe restava. O impacto não chegou a fazer com que o chão rachasse, porém grandes rachaduras foram formadas, e o criminoso chocou seus ombros e uma parte da cabeça contra o chão e, apesar de tudo, ele não pareceu ficar furioso como a garota previu, ele apenas escondeu seus olhos com um dos braços e soltou uma gargalhada alta e esbravejante. A garota achou estranho, mas ficou silenciosa preferindo não perguntar o porquê do motivo daquela risada.
–– Que ridículo! –– ele exclamou entre uma risada e outra. –– O que sabemos sobre esse mundo?! Mas vejam! É uma pirata tentando proteger uma ilha porque nutriu sentimentos por um garoto moribundo qualquer!
Miki engoliu seco bufando de raiva, mas permaneceu calada. Mansfield parou de rir, contudo manteve seu frio sorriso usual, estampado de orelha a orelha. Abriu seus braços e fitou o céu com certo brilho em seu olhar, no mesmo momento mais gotas de chuva caíram e dessa vez incessantemente. O homem levantou-se em silêncio e continuou com seus braços abertos, dessa vez olhava diretamente para Miki com um ar vitorioso.
–– Mais um dos segredos do meu poder está na substância que posso expelir de qualquer parte do meu corpo –– ele explicou abaixando um dos braços enquanto o outro expelia uma gosma arroxeada. –– Um toque e ela penetra no seu organismo, ou no “corpo” de objetos o envolvendo, e me permite controlar tudo o que eu quiser! Mais um pouco e eu teria poder sobre seu corpo também! Porém, agora está acabado, toda a ilha está sob meu comando!
–– Quer calar a droga da boca?! –– Miki gritou em resposta. –– Pare de ser idiota! Idiota! –– ela começou a correr em direção a Mansfield. –– Ninguém mais será controlado por você, por que eu-!
O corpo da garota parou subitamente e, daquela vez, não havia fio algum para impedir seus movimentos. Ela encarou Mansfield com um olhar raivoso e confuso, que foi retribuído pelo mesmo sorriso maléfico de sempre e um olhar vencedor. Miki não conseguia entender o que estava acontecendo com seu corpo e uma pontada de desespero quase a engoliu, o homem havia lhe dito que não conseguiu utilizar sua substância... mas ele podia estar apenas brincando...
–– Sim, a chuva –– Mansfield lhe explicou novamente. –– Criar uma nuvem é difícil, demorei anos e anos aperfeiçoando aquela máquina. A substância do meu corpo está impregnada naquela nuvem! Agora toda a ilha é minha! Todos aqueles idiotas que acreditaram em mim, cada pessoa, cada objeto está sob o meu poder e será inútil uma rebelião! Uma nação totalmente obediente! Como cães!
–– Ela mandou você calar a boca! –– gritou Yuki surgindo de repente seguida de Baes e Torak, que tentaram lhe impedir. –– Você não tem o direito de prender a minha irmã!
–– Ora, ora –– Mansfield respondeu ficando irritado. –– Se não são os três piratas idiotas que seguem essa tola. Vocês não entenderam quando eu disse que eu controlo tudo?!
Um tenebroso silêncio tomou conta do ambiente a mando de Mansfield, que sorriu novamente em vitória. Ninguém mais conseguia se mover, o criminoso virou-se ficando de costas para Miki.
–– Parece que temos mais companhia –– ele comentou ajeitando alguns fios colados em sua testa. –– Eu não deveria ter me distraído tanto.
Alguns segundos depois, Drako e Peter foram vistos carregando, em um carrinho de mão, uma grande máquina de ferro com um tubo crescendo para o alto e um largo bocal em seu topo. Um painel e vários botões brilhantes adornavam o estranho aparato, que foi parado bruscamente assim que Drako e Peter viram Mansfield os observando com uma expressão neutra.
–– ABORTAR MISSÃO! –– gritou Drako em desespero. –– Plano de fuga um: CORRE!
Ambos tentaram virar para fugir, mas, obviamente Mansfield não permitiu fazendo com que ambos se sentassem no chão em silêncio.
–– Pelo menos me pouparam de ter que ir buscá-la –– o criminoso comentou olhando para sua obra prima. –– Ainda tenho que aperfeiçoá-la... Mas até lá acho que podemos nos divertir um pouco. –– ele sorriu macabramente.
Em uma fração de segundo Miki foi liberada, estava livre para agir novamente, porém com problemas. Yuki, Baes e Torak começaram a lhe atacar freneticamente enquanto Drako e Peter assistiam em silêncio sem poder interferir. Mansfield deu alguns passos para trás e recostou-se, rindo, em um poste para apreciar a visão de um trabalho bem feito. Como não sabia os golpes dos três tornava-se um pouco mais fácil de Miki desviar ou parar cada ataque, os únicos movimentos que poderia fazer além de tentar atacar o criminoso.
Os três atacavam em uma equipe perfeita, porém Miki sabia que Mansfield mais estava brincando com sua mente, ele não queria que eles a machucassem – talvez um pouco – e sim o contrário, algo que não aconteceria. Então, os três piratas seguiram atacando sua capitã até que ela encontrou uma pequena brecha na defesa de Mansfield quando os três piratas atacavam em conjunto, e na primeira oportunidade o atacou com um soco em seu rosto. O criminoso foi jogado para o lado e os três piratas pararam de atacar bruscamente.
Miki foi forçada a parar de se movimentar novamente e uma veia saltou da testa de Mansfield, rapidamente ficou farto daquela brincadeira, que ele próprio causara, e com a mesma rapidez conseguiu se recompor. Fez com que Yuki empunhasse apenas uma de suas facas e mandou Torak e Baes assistirem sem tentar nenhum movimento além de respirar e piscar, Miki ajoelhou-se com as mãos no chão contra sua vontade e sua irmã posicionou-se ao seu lado, como um carrasco e um criminoso, Drako e Peter continuaram imóveis e apreensivos.
–– Como será que é viver com o sangue da própria irmã em mãos? –– Mansfield perguntou com um sorriso frio. –– E eu até serei bonzinho: pode dizer suas últimas palavras, rainha. Diga para que sua irmã se lembre do quanto sofreu quando te matou.
Miki tentou se mover, mas tudo o que conseguiu foi uma risada de Mansfield. Drako e Peter também, mas tiveram o mesmo fim da garota, mal podiam emitir sons; As mãos de Yuki tremiam e algumas lágrimas escorreram de seus olhos, Baes não conseguiu cerrar os punhos e Torak queria gritar, mas assim como os meninos sentados observando a cena, também não podia falar.
–– Vá! –– mandou Mansfield. –– Mate-a!
Yuki fungou mordendo seu lábio inferior e levou a espada acima de sua cabeça, gritou pedindo desculpas e ganhou um sorriso tranquilizante de sua irmã, mesmo não podendo enxergar muito bem. E, num movimento súbito e quase relutante, a médica baixou a faca em direção ao pescoço de Miki, porém algo ocorreu. A faca parou faltando alguns centímetros para degolar a capitã. Todos, principalmente Mansfield ficaram surpresos, Yuki um pouco mais pelo susto de quase matar sua própria irmã.
O criminoso analisou as mãos de Yuki e viu grossas vinhas de gelo, que cresciam de um chão congelado, enroladas em seus pulsos impedindo que ela continuasse o movimento. Uma fração de segundos depois, o chão continuou a congelar e mais vinhas cresceram prendendo as pernas e braços de Baes, assim como Drako e Peter, que conseguiram soltar uma exclamação confusa e cheia de medo. Até mesmo o corpo de Torak foi preso.
Os olhos rubros de Miki brilharam ao olhar diretamente para os de Mansfield.
–– Você realmente quer saber porque me chamam de Bruxa? –– ela perguntou com um largo sorriso.
P.s: Se leu até aqui comente “eu sou um desu” <3
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Capítulo 20: Contra o Tempo
Mansfield lentamente abaixou sua pistola e encarou Miki com desdém, o tiro pegara diretamente em seu ombro esquerdo e parecia não ter surtido muito efeito, pois a garota mantinha a mesma expressão séria e cheia de raiva em seu rosto. Ela tocou o local ferido e limpou o pouco do sangue que escorria por seu braço, e que prendeu-se em seus pelos. Ela sorriu como o criminoso e correu em sua direção.
–– Até que enfim parou de falar tanta merda! –– ela exclamou. –– Diana!
O golpe consistia em cravar suas garras, de ambas as mãos, no peito do oponente. Era um golpe poderoso, porém não foi tão efetivo quanto achou, pois a bala alojada em seu ombro a incomodou. Mansfield notou a expressão em seu rosto e levantou uma de suas mãos para tocá-la, Miki percebeu e deu um largo pulo para trás sem hesitar.
–– Uma pequena bala de chumbo é um problema para uma Bruxa? –– ele perguntou rindo e Miki rosnou. –– E não se preocupe, não é necessário eu utilizar meus poderes para vencer uma pirata qualquer. –– ele puxou um par de luvas de couro adornada com espinhos de ferro de um dos bolsos e as vestiu. –– Serão necessários apenas cinco minutos até que você caia, mas não vamos ter pressa, eu quero ver do que a temida “Bruxa dos Olhos Rubros” é capaz.
–– Pode vir então, idiota –– ela respondeu entrando em posição de ataque enquanto mostrava sua língua.
Mansfield soltou uma baixa risada, ajeitou um fio de cabelo em sua testa e apontou um de seus punhos cerrados em direção a garota, que rapidamente preparou-se para desviar de qualquer projétil que o criminoso lançasse.
–– Butterfly! –– ele exclamou e quatro grandes espinhos em suas articulações foram disparados em direção a garota, que apenas pulou para o alto e aterrissou no mesmo local sem se ferir.
Ela achou estranho Mansfield utilizar um truque tão barato e horrível depois de tanto se vangloriar. Olhou para baixo analisando os projéteis cravados no chão ao seu redor ainda confusa, uma fração de segundo depois todos os espinhos explodiram em conjunto atingindo Miki, que foi bruscamente lançada para trás. Uma cortina de fumaça e poeira foi formada e o criminoso riu enquanto a garota se levantava com raiva.
–– Hanabi... –– ele terminou com um sorriso maléfico. –– Meu trabalho é furtivo...
–– Desde quando bombas são furtivas?! –– ela perguntou indignada. –– Idiota!
–– ... então eu tenho muitos brinquedos para utilizar! –– ele exclamou abrindo os botões de sua camisa revelando um colete repleto de pequenas bombas, espinhos, agulhas, facas entre outros objetos pontiagudos, cortantes e\ou mortais.
Miki percebeu que teria que redobrar sua atenção então focou-se apenas nos movimentos que as mãos de Mansfield fariam, sabendo qual seria sua arma já era meio caminho andado para contra atacar e defender. Assim, a garota esperou que ele a atacasse, porém não aconteceu, ele queria que ela o atacasse primeiro e Miki sabia que coisa boa não estava por vir se ela o fizesse, e no entanto era sua única opção, já que tudo ainda estava de cabeça para baixo e não podia perder tempo.
Sem opções, a menina correu receosa em direção ao criminoso, que também correu, porém em fuga. Miki parou bruscamente e observou, confusa, Mansfield também parar quando estava a mais de três metros da garota, com certeza era mais um de seus truques, mas não sabia se era melhor continuar correndo em sua direção ou permanecer ali. No mesmo segundo algo explodiu aos pés de Miki como antes criando dessa vez uma reação em cadeia, a garota foi novamente jogada para trás e silenciosamente amaldiçoou o homem.
Mansfield deixara cair algumas de suas esferas explosivas no mesmo momento em que correu, Miki não havia percebido, pois focara apenas em atacar Mansfield e pela confusão graças a sua fuga repentina, e também pelo receio dele utilizar mais um de seus truques como fizera.
O criminoso soltou uma gargalhada alta e Miki levantou-se com raiva novamente.
–– Acha mesmo que pode me vencer?! –– ele perguntou abrindo os braços. –– Eu sou Mansfield, o mestre dos truques! Tenho minha inteligência, força e minha Akuma no Mi! Ninguém pode me derrotar!
–– Ah, mas cala essa boca! –– Miki resmungou enquanto corria em direção a Mansfield, porém no meio do cainho foi parada por algo.
Mansfield cruzou os braços ainda com um sorriso e fitou a garota paralisada, mais um de seus truques.
–– Ninguém nunca escapou de minha Neko no Nedoko! –– ele exclamou orgulhosamente. –– Enquanto estava no chão também não me percebeu colocando os fios, são tão finos quanto teias e tão resistentes quanto aço! É impossível de sair, e se debater só piora!
Mansfield voltou a gargalhar e não percebeu que Baes e Torak haviam chegado e salvo Yuki do poste em que estivera presa. Como o criminoso estava incrivelmente concentrado em derrotar Miki, e a médica não estava em condições para que ele a usasse, sua mente “esqueceu” o controle de Yuki e “desligou”, ela ainda poderia ser controlada, porém apenas se Mansfield se desligasse da luta.
De qualquer forma, os três piratas foram cautelosos e esperaram o momento certo para entrar na prefeitura, estavam no gabinete do prefeito com o Den Den Mushi de visualização de Mansfield apontado para a luta.
–– Eu ainda não entendi, Yuki-chan –– comentou Torak curiosamente. –– Por que temos que fazer isso?
–– Não é mais seguro nos escondermos bem longe daqui e deixar que a capitã cuide de tudo? –– perguntou Baes impaciente. –– Ela não vai perder pra aquele lá.
–– Não adianta ela apenas derrotá-lo, a população ainda “confia” nele e em Morgan –– a médica explicou com calma. –– Precisamos fazer com que Mansfield conte o que ele está planejando, do contrário, assim que Miki o derrotar, a marinha cuidará de seis ferimentos, assim como os de Morgan, e todo nosso esforço, principalmente o da Miki, será em vão.
Baes e Torak se entreolharam e logo entenderam, mas aquela distância também não ajudaria, vê-los estava difícil e escutar mais ainda. Os três concordaram em se aproximar mais então saíram da prefeitura e se esconderam atrás de uma casa, Torak a escalou até certo ponto e prendeu o Den Den Mushi em um poste com fita, que roubaram em uma das gavetas. Tudo o que podiam fazer naquele momento era esperar.
Metros à frente, Miki continuava presa nos fios de Mansfield e todos finalmente podiam assistir melhor a luta. A população estava confusa e querendo saber o porquê daquela garota estar lutando contra o homem que estava ajudando-os, alguns deduziam que ela poderia ser uma dos piratas e estes cochichavam entre si, se perguntando se aquilo fazia parte dos planos. Já os marinheiros pensavam em interferir, porém tinham mais trabalho a fazer com os arruaceiros espalhados pelos lugares.
A luta continuou com os combatentes sem saber de nada, Mansfield pegara seus dois bumerangues e, enquanto jogava um deles para o alto, pensava no próximo ataque que utilizaria contra Miki, que desistira de se debater. O criminoso sorriu e jogou o objeto com que brincava no chão em frente a Miki tomando cuidado com os fios. Uma luz avermelhada começou a piscar em uma de suas pontas e o bumerangue explodiu num raio de dois metros e meio destruindo as paredes das casas ao redor.
–– Tsuno no Suzume –– ele murmurou.
A fumaça demorou alguns segundos para se dissipar, e quando o fez Mansfield ficou surpreso ao ver que Miki desaparecera. Os fios estavam partidos e destruídos, as paredes no mesmo estado assim como o chão de concreto, e nenhum sinal da garota.
–– Qual é o seu fetiche por explosões, merda! –– a garota gritou agarrada a um poste em sua forma de gato negro. –– Isso não é ser furtivo!
–– Desça aqui, maldita! –– gritou Mansfield em resposta.
Miki o ignorou e voltou a sua forma híbrida, escalou o resto do poste com facilidade e equilibrou-se no topo observando Mansfield, que não sabia o que fazer. A garota respirou fundo e concentrou-se em suas pernas.
–– Bubastis! –– ela exclamou e pulou do poste.
A garota acertou as costelas de Mansfield com os pés o derrubando no chão com uma força incrível, que chegou a formar uma pequena cratera no concreto. O criminoso cuspiu sangue e sentiu seus ossos sendo quebrados, Miki pulou para trás e o observou gemer de dor enquanto tentava se levantar tateando as paredes que não foram destruídas por seu bumerangue explosivo. Apesar de tudo, a garota também sentiu o impacto do golpe, seu ombro começou a latejar assim como a pele chamuscada pelas explosões.
O homem, obviamente, ficou furioso e contra atacou atirando seu outro bumerangue, a garota facilmente desviou e Mansfield aproveitou uma brecha em sua defesa para socar seu abdome com a luva que ainda continha os espinhos entre as articulações, assim que houve o impacto todas as quatro explodiram. Miki tossiu dando alguns passos para trás e Mansfield recuperou seu bumerangue no ar.
Os subordinados que assistiam a luta comemoravam gritando que seu chefe era o homem mais forte do mundo, de certo nunca o viram perder e não seria naquele momento que aconteceria, principalmente por uma garotinha desconhecida. Os marinheiros também estavam aliviados, mas mal sabiam o que lhes esperava, e os civis apenas observavam quietos ansiosos para saberem o resultado da luta.
A garota limpou o sangue de sua boca e ouviu o barulho de uma trovoada, ambos, Miki e Mansfield, olharam para o céu, uma enorme e estranha nuvem negra cobrira toda a ilha. Yuki, Baes e Torak também notaram e estranharam a repentina mudança de clima. Já o criminoso sorriu ao ver que a última parte de seu plano estava quase concluída, mesmo que os idiotas não dessem um jeito na favela a máquina ainda estava a salvo, já que apenas duas pessoas sabiam como mexer.
Miki notou a dispersão de Mansfield e aproveitou para lhe dar um golpe, o criminoso não conseguiu desviar e ganhou uma joelhada em seu estômago. A garota sentiu o impacto novamente, a ferida em sua barriga doía e não parava de sangrar, tinha que acabar com Mansfield o mais rápido possível, aquelas malditas explosões eram mais letais do que ela imaginara.
De repente, algumas gotas de chuva caíram e Mansfield abriu outro sorriso.
–– Pode fazer o que quiser, Bruxa –– ele comentou num tom sombrio. –– Você nunca conseguirá parar meu plano. Mesmo que me derrote aqui, quem acreditará num bando pirata que atacou os heróis desta ilha? Nenhum homem pode me derrotar, muito menos uma mulher!
–– Eu já não mandei você calar a boca?! –– exclamou Miki furiosa. –– Eu serei a Rainha dos Piratas então não posso perder pra alguém como você!
A garota avançou furiosa preparando um soco, Mansfield desviou e jogou seu bumerangue novamente, Miki também conseguiu desviar, mas esqueceu-se que o objeto voltava em direção a suas costas. O bumerangue deu meia volta, acertou a menina e cravou-se em suas costas, que caiu de joelhos no chão.
–– Contemple meu império, Bruxa –– Mansfield agachou-se para dizer. –– Ele acaba de começar.
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Capítulo 19: No Mundo dos Homens
Miki avançou contra Mansfield novamente e Yuki, mais uma vez, conseguiu pará-la apenas parando a sua frente. Ambas se encararam, a médica tinha um olhar vazio e sem brilho, e um certo suor de apreensão escorria por sua testa. Já a capitã ainda estava um pouco confusa com tudo aquilo, queria saber o que Mansfield fizera com sua irmã, não deveria tê-la deixado sozinha com os dois idiotas.
Miki pulou para trás mantendo a maior distância possível de sua irmã, o criminoso sorriu e Yuki deu alguns passos para trás parando ao lado de Mansfield, sempre com o mesmo olhar distante. A capitã cerrou seus punhos tomando cuidado com as garras e encarou o criminoso com ódio.
–– Não faça essa cara –– ele pediu num falso tom melodramático. –– Com um toque a faço voltar ao normal, pois tenho a fruta da manipulação, foi o que esse imbecil tentou dizer. Um toque para controlar e outro para desfazer.
A garota analisou a irmã e entendeu seus olhos vazios e o suor, assim como toda a história sobre o chefe da base impedir os marinheiros de intervirem no ataque dos piratas. Um truque cruel, que deixara Miki ainda mais irritada.
Um Den Den Mushi, que jazia quieto na escrivaninha, abriu os olhos e soltou um “puru, puru” incessante. Mansfield bufou impaciente, mas atendeu, era um de seus aliados avisando que Morgan havia sido derrotado por um pirata espadachim, o Thunderbird. Uma veia saltou de sua testa e quando Mansfield abriu a boca para falar o aliado o interrompeu continuando seu relatório. O grupo enviado para destruir a favela também fora derrotado por um estranho garoto se intitulando “The Darkness Killer”, que fora visto segundos antes com “a garota que chutaria sua bunda”, como Mansfield já suspeitava.
O criminoso respirou fundo tentando não perder o controle, se acabasse se exaltando demais poderia perder o controle de todos aqueles que estavam sob o efeito de sua fruta.
–– Você tem que entender, garotinha –– ele continuou tentando controlar o seu tom de voz. –– Você pode tentar o que quiser, mas nada nem ninguém atrapalhará meus planos construídos por dez anos. Há muito mais coisas nesse mundo do que uma pirralha pode saber, Victória é apenas o início, e eu chegarei aos céus! E uma garota qualquer não deve interferir no mundo dos homens!
Miki percebeu a perda de calma repentina de Mansfield ao ver que seu “império” poderia desmoronar a qualquer momento. O que ela poderia tentar fazer era tirá-lo dos eixos para que ele desviasse sua atenção de seu controle em Yuki.
Talvez funcione...
–– Mas então vai continuar a se esconder atrás de uma garota? –– Miki perguntou entre dentes. –– Um homem se esconde atrás das irmãs de seus inimigos?
Com a provocação ela conseguiu retirar a última gota de paciência que Mansfield reservara, porém ele não perdeu sua cabeça por completo. O criminoso segurou uma taça de cristal próxima e a jogou contra Miki, que facilmente desviou. Assim que o objeto entrou em contato com o chão partiu-se em dezenas de pedaços. A menina lançou um confuso olhar para Mansfield que sorriu, o que ele pensava em jogar um objeto daqueles contra ela?
De repente, os cacos de cristal voaram do chão em direção a Miki e cravaram-se em suas costa, que cambaleou para frente pelo repentino movimento, e a dor.
–– Que mer-
–– Interessante, não é? –– ele perguntou segurando as mãos atrás de suas costas como de costume, e caminhou até Miki, que deu nervosos passos para trás. –– Foi uma descoberta e tanto depois que soube. Manipular objetos não é nada fácil, mas me é muito útil em alguns casos. Não me subestime, Bruxa.
Mansfield saiu da frente de Miki e Yuki a atacou sem hesitar, embora ainda tentasse lutar contra. A médica segurou os braços de sua capitã e a jogou em direção a janela, a menina tentou se segurar em uma das cortinas vermelhas, mas ela facilmente rasgou. Miki não teve outra escolha senão se transformar em um pequeno gato reduzindo o impacto da queda, e retirando alguns estilhaços de cristal de suas costas, assim que pode também se sacudiu lançando o resto para longe.
Yuki surgiu de dentro da prefeitura e Miki transformou-se na sua forma híbrida, tinha que pará-la de uma forma que não a machucasse. Ela olhou para a cortina e depois para sua irmã. Aquilo tinha que servir, amarrá-la era muito melhor do que nocauteá-la. Então, assim que pôde, correu, pegou a cortina do chão e sacudiu os estilhaços de vidro para longe. Yuki a rondava prestes a atacá-la novamente e Mansfield as observava de cima, curioso para saber o rumo daquela cena.
Na primeira possibilidade, Miki avançou em direção a sua irmã imobilizando-a, segurou seus pulsos colocando ambos atrás de suas costas e a arrastou, tentando não machucá-la, para a pilastra mais próxima onde conseguiu prendê-la com um pouco de dificuldade. Pegou suas armas, as deixou fora de seu alcance e pediu desculpas silenciosas prometendo que acabaria com Mansfield de qualquer maneira.
E o dito cujo surgiu. Ele analisou o trabalho de Miki e bateu palmas debochadamente.
–– Realmente muito engenhoso, apesar de eu estar esperando um pouco mais de sangue –– provocou. –– Deveria ter me convencido de que nada aconteceria.
–– Não é mais fácil calar a boca e me atacar de uma vez? –– ela retrucou com raiva enquanto rodeava o criminoso. –– Se confia tanto na sua força e inteligência porque precisa de uma menina pra me atacar?! Ou está com medo de perder para uma mulher?
Mansfield engoliu seco, cerrou o punho e avançou numa velocidade considerável contra a menina, que conseguiu desviar com certa facilidade. Não poderia deixar sua guarda baixa, apenas um toque e tudo estaria perdido.
–– Como esperado de uma gatinha assustada –– ele a provocou novamente. –– Yuki-chan me contou muito sobre você, ela nem hesitou. Foi excelente saber sobre a real história da Bruxa de Olhos Rubros. Sabe que os mari-
–– Cale a boca, merda! –– ela gritou em resposta, suas garras aumentaram em dois centímetros. –– Pare de me chamar assim!
–– Não se deve esquecer do seu passado desta maneira –– ele continuou. –– Já que-
–– Death Griffes! –– ela exclamou.
Foi a vez de Miki ter sua paciência esgotada. Assim que gritou o nome de seu golpe, a garota avançou e, com suas garras, rasgou o peito de Mansfield em forma de “X”, rapidamente saltou para trás, querendo colocar bastante distância entre ambos, e o observou se contorcer com a dor e o susto do repentino movimento, porém não demorou para que ele se recompusesse, o homem tirou e jogou seu paletó para o lado e segurou o cabo de sua arma.
–– Eu vou te ensinar, garota, como fazemos no mundo dos homens –– ele rosnou enquanto sacava sua pistola.
Em uma fração de segundo ele a apontou para o peito de Miki e atirou sem hesitar.
Um pouco longe de toda aquela confusão, na favela onde Drako ajudava a cuidar dos feridos, os capangas de Mansfield estavam amarrados em conjunto, e quem ficou encarregado de vigiá-los fora Peter.
–– Ei garoto! –– chamou Uzuki, porém Peter o ignorou. –– Eu sei de um segredo! Prometo te contar se me soltar.
Novamente o garoto o ignorou.
–– Eu tô falando sério, melequento! –– ele insistiu. –– Quero dizer... garotinho lindo! É um segredo que pode salvar a cidade inteira!
Peter hesitou, mas não resistiu e virou-se para o criminoso com sua pá ameaçadora, o garoto o soltaria, porém queria ouvir uma parte do tal segredo antes.
–– É uma máquina que-
–– Por que tem uma máquina fazendo nuvens aqui?! –– gritou Drako mexendo em alguns arbustos. –– Isso é de vocês, Peter?!
O garoto olhou para trás depois para Kazuo, que não conseguia esconder um sorriso nervoso. Peter apontou sua pá enferrujada para o rosto do líder e chamou Drako para ajudá-lo a arrancar a verdade daquele homem.
–– Eu não queria fazer nada! –– ele gritou. –– Eu juro! É tudo culpa do Mansfield! Foi tudo ideia dele, ele que criou aquela máquina de chuva!
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Capitulo 18: Você não sabe de nada
Miki continuou a correr a procura da prefeitura e deixou que Baes e Torak lidassem com Morgan, ambos eram mais do que suficientes. E o marinheiro, cansado daqueles três, o marinheiro ordenou que seus subordinados atacassem os dois piratas. Baes empunhou sua espada e Torak rapidamente pulou dos ombros de seu amigo e socou o chão fazendo-o se quebrar, os marinheiros se desequilibraram e alguns caíram dando a chance perfeita para o anão atacar.
–– Tail Whip! –– exclamou rodopiando e fazendo com que sua cauda derrubasse a maioria dos marinheiros ao seu redor.
Alguns miraram suas armas para o chão com apreensão, porém Torak era muito mais rápido e os atacou novamente com um Tontatta Bullet, que consistia em uma cabeçada no tórax do oponente utilizando sua velocidade como impulso. Os marinheiros seguiram caindo muito facilmente e Morgan ficou cada vez mais irritado então mirou seu machado no anão e o atacou, contudo Baes parou o golpe a tempo. Ambos se encararam, o marinheiro com um olhar mortal e o pirata com um de deboche. A população ao redor, assustada, começou a se dissipar ou a procurar um local seguro a fim de continuar assistindo a luta.
–– Pode desistir agora, Thunderbird –– o marinheiro rosnou. –– Não conseguirão nos vencer de qualquer forma, nós somos a lei.
Baes soltou uma bufada de irritação e, ignorando seu comentário, atacou Morgan, que o parou facilmente com o machado em seu antebraço. O sargento não era tão fraco quanto o espadachim imaginara, o atrito do ferro de suas armas chegava a quase soltar faíscas e o esforço que ambos tinham de fazer para repelir o ataque um do outro era bem considerável. No entanto, Baes foi o primeiro a desistir dando um pulo para trás fazendo Morgan rir.
–– Não vou perder para alguns piratinhas novamente! –– ele exclamou dobrando seu cotovelo. –– Ninguém pode me deter porque sou superior a todos!
O sargento investiu contra Baes, que pulou para o lado no exato momento em que o machado ficou a dois centímetros de sua cabeça, mais alguns segundos e seu corpo se dividiria em dois, assim como o chão se dividiu. Apesar de tudo, Morgan ainda conseguiu desferir um golpe com seu pé em Baes ainda no ar. O chute fora bem em seu tórax, o fazendo tossir e buscar desesperadamente por ar. E o marinheiro não parou, mirou nas pernas do espadachim, que pulou a tempo, e socou seu abdome com a mão livre, que vestia uma luva negra com espinhos de ferro.
Quando esse maldito vestiu isso?! Pensou Baes enquanto pulava para trás tentando se livrar dos ataques contínuos do marinheiro. Ele é muito rápido pra quem carrega um machado desses...
Morgan voltou para sua posição normal, os espinhos de sua luva estavam impregnadas com o sangue de Baes, que tentava se recompor o mais rápido que podia. O marinheiro lutava numa velocidade fora do normal a julgar pelo seu tamanho e suas armas. Apesar de precisar de piratas hipnotizados para ganhar poder, sabia muito bem como lutar. Seus golpes eram poderosos demais, o que faziam com que tempo para que o oponente se recuperasse fosse grande dando uma ampla chance de Morgan o atacar novamente e novamente, ou seja, uma vez atacado era difícil sair de uma de suas sequências, uma estratégia de falsa velocidade e de um golpe surpresa, que sempre utilizava caso um desse errado.
–– Já cansou? –– o marinheiro perguntou depois de cuspir no chão, e deu alguns passos à frente a fim de ficar mais perto do espadachim. –– Te dei uma chance para voltar a brincar de pirata em paz, e ainda avisei que era superior.
Baes riu.
–– Eu cortaria minhas mãos fora se perdesse para um lixo como você –– ele retrucou sorridente.
Morgan enfureceu-se e rosnou, se preparou para desferir outro golpe no espadachim dobrando novamente seu cotovelo com o machado colocando-o mais alto que sua cabeça.
–– Pirata de merda! –– gritou enquanto novamente tentou fazer um corte vertical em Baes.
O pirata parou o golpe com sua espada, porém não o impediu de socar sua bochecha com aquela maldita luva novamente. Seu corpo inteiro foi laçado para o lado e por pouco não foi de encontro ao chão. Morgan não tentou impedir uma gargalhada alta e limpou o sangue da luva com sua blusa branca da marinha.
–– Onde você quer chegar com isso, criança?! –– ele perguntou ainda rindo. –– Até agora só apanhou! Mais um golpe e já era!
Baes soltou uma risada nasalada.
–– Você não sabe de nada, Morgan da Mão de Machado –– o espadachim retrucou novamente entrando em posição de ataque.
Morgan deixou de rir dando lugar a uma expressão de raiva e correu em direção a Baes, preparado para lhe desferir o último golpe. O pirata fechou os olhos e respirou fundo, o barulho dos raios de eletricidade tomando conta de sua lâmina o fizeram sorrir.
–– Raitoryu: Voo do Pássaro Trovão! –– bradou enquanto fazia um corte vertical de cima para baixo no ar, que lançou um grande raio de eletricidade em direção ao marinheiro. –– É uma pena ter tanto ferro no corpo...
Morgan recebeu o golpe em cheio e a eletricidade se espalhou pelo seu corpo mais rápido que o normal por conta de suas armas assim como Baes dissera. A população soltou outro suspiro apreensivo e a grande maioria, com medo, correu para longe tentando se abrigar. O marinheiro caiu no chão imóvel inteiramente chamuscado e Torak surgiu de repente depois que derrotara todos os outros inimigos que tentaram interromper a luta, vulgo os subordinador de Morgan.
–– Um único golpe? –– Baes perguntou-se em um tom desapontado. –– Mas que pena, achei que fosse me divertir
Não muito longe dali, Miki finalmente conseguira achar a prefeitura depois de tanto circular a cidade, arrombou a porta com um chute sem se preocupar com os funcionários e civis abrigados ali e subiu até o gabinete do prefeito quebrando todas as portas possíveis. Assim que acertou a sala, logo viu Mansfield em pé observando o caos pela janela de vidro, que tomava toda a parede da sala atrás da escrivaninha onde estava. O prefeito estava sentado, e imóvel, em uma cadeira de veludo vermelho com um olhar amedrontado e Yuki ainda desacordada em outra cadeira de mesma aparência.
Mansfield riu ao ouvir a garota chegar e virou-se para recebê-la.
–– Não pensei que fosse conseguir chegar até aqui –– ele a provocou. –– Estava com aqueles moribundos na floresta, não é? Não consigo ligar para a divisão de lá, aqueles miseráveis, assim que tudo acabar terminarei eu mesmo esse serviço. Inúteis.
–– Devolva a minha irmã –– Miki falou friamente. –– E a ilha também.
Mansfield riu novamente.
–– Não acho que esteja na posição de exigir algo –– ele respondeu com seu sorriso macabro usual. –– Eu tenho todas as cartas: sua irmã, a ilha, os marinheiros, um pouco da confiança do povo e muito poder bélico. Nada pode me parar agora.
–– Como acha que o povo irá acreditar em um criminoso como você? –– ela perguntou cerrando seus punhos tentando controlar sua raiva.
–– E é muito diferente você, Bruxa dos Olhos Rubros? –– ele rebateu e Miki prendeu a respiração ao ouvir aquela alcunha. –– Ações desesperadas são tomadas em tempos desesperados, principalmente quando eu salvar esta ilha. A confiança não virá toda de uma vez, mas para isso temos o tempo. Serei o prefeito, Morgan o chefe da base e me casarei com a gentil Yuki.
Foi a gota d’água para Miki, seu sangue ferveu e a não conseguiu deixar de avançar contra Mansfield utilizando suas garras como arma, porém foi parada por quem menos esperava, Yuki, que acordou no instante em que sua irmã preparou-se para o golpe.
–– Yuki? O que está fazendo? –– ela perguntou confusa, mas não obteve resposta.
A médica pulou para trás ainda em silêncio e tentou atacar sua irmã, que desviou facilmente ficando ainda mais surpresa e confusa. Não fazia a mínima ideia do que estava acontecendo com sua irmã, mas sabia que era algo vindo de Mansfield.
–– O toque! –– o prefeito gritou de supetão. –– Não deixe que ele te toque!
Uma veia de raiva saltou da testa de Mansfield, que rapidamente sacou sua arma e atirou sem hesitar contra o peito do prefeito. Miki prendeu sua respiração novamente e seus olhos vermelhos brilharam de ódio, realmente era algo com aquele maldito homem e agora sabia que não poderia ser tocada. Não lhe interessava mais o que estava acontecendo, ela iria resgatar sua irmã, e a ilha, e chutar aquele criminoso até que ele perdesse a fala.
–– Pode vir, usuária Neko –– Mansfield chamou sorrindo.
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Capítulo 17: De Mal a Pior
Drako já estava há dez minutos utilizando uma de suas invenções para apagar o fogo, que ousava se alastrar pela floresta. O aparelho era uma mangueira extensível ligada a um recipiente fechado feito ferro cheio de água e uma espuma, que funcionava como isolante térmico. Faltava apenas uma pequena parte da casa para que tudo acabasse, o fogo pegara numa parte da plantação, mas nada muito grava. O inventor havia demorado mais que o previsto por conta da tenebrosa fumaça negra, que lhe trazia as piores lembranças possíveis.
Já Peter tentava ajudar os feridos como podia, porém quase tudo e todos estavam queimados, uns com queimaduras de primeiro outros de segundo grau. Deram sorte de terem conseguido chegar a tempo e mesmo assim alguns, infelizmente, os que estavam no ponto de origem do incêndio e da explosão, morreram. Os adultos menos feridos cobriam os corpos dos falecidos com mantas não inflamáveis que resistiram e tiravam as crianças de perto da casa em ruínas.
Assim que Drako terminou seu serviço, jogou a mangueira para longe e quase se ajoelhou agradecendo aos céus por toda aquela fumaça negra ter se dissipado conforme o fogo era apagado. Poucos segundos depois, os mesmos capangas de Mansfield, que abriram fogo contra a favela, surgiram. Eram cerca de dez homens armados utilizando o mesmo uniforme, verde e preto, mais o líder do grupo, que vestia um uniforme totalmente negro com uma cobra verde em seu peito. Uma bandana cobria seus cabelos e fumava um cigarro.
–– Sempre ficamos com o pior trabalho –– resmungou Kazuo, o líder. –– Ter que acabar com essa gente de novo... Pelo menos finalmente nos livraremos deste lugar.
–– E talvez o chefe nos dê uma promoção decente –– comentou alguém.
Drako estava à procura de seus pertences no meio dos escombros e torcia para que nada importante estivesse num estado irreparável então não escutou a chegada do grupo. Já Peter escutou tudo o que disseram. Furioso, ele correu em direção aos criminosos, depois de pegar uma pá enferrujada qualquer, e tentou confrontá-los, porém, obviamente, não deu certo. Ele era apenas uma criança fraca.
–– Vão embora! –– ele gritou entre dentes. –– Vocês não farão mais nenhum mal neste lugar!
Os criminosos se entreolharam surpresos com audácia da criança e depois soltaram gargalhadas altas, chamando a atenção de todos os moradores, inclusive de Drako, que acabara de achar uma de suas armas e seus óculos perdidos há alguns dias.
–– O que um pirralho como você fará contra nós? –– perguntou Kazuo com desprezo dando um passo à frente. –– Vá embora, escória!
O líder chutou o abdome da criança lançando-a para trás, Peter caiu de costas e rosnou para si mesmo, odiando-se por não conseguir fazer algo de útil. Já os moradores estavam estáticos, ninguém tinha condições de enfrentar aquele grupo, mesmo juntos ainda estavam muito feridos e desarmados. Drako chegou a analisar o bando dos criminosos e ficou nervoso, não tinha fé se conseguiria enfrentá-los sozinho, em outras palavras: estava com medo.
Uma bala foi disparada.
Uma mulher de cabelos castanhos caiu de joelhos ao lado do corpo estatelado de Peter com uma das mãos pressionando a área de seu próprio estômago. Logo uma mancha vermelha surgiu em sua blusa branca, chamuscada pelo fogo, e sujou sua mão. O atirador fora Kazuo, que não abaixou sua arma e manteve uma expressão dura e distante em seu rosto.
–– Eu mandei alguém se mexer? –– ele perguntou friamente. A mulher soltou um gemido de dor e debruçou-se sobre Peter, que não conseguia emitir som algum dado ao choque. –– Vocês! Acabem logo com isso!
O grupo rapidamente empunhou suas espingardas e não hesitou em atirar em quem estivesse a frente. Aos poucos, corpos caíram um por um, e ninguém notara Drako escondido em meio aos escombros. Ele podia facilmente sair daquele lugar sem que alguém o visse, e até tentou, saiu das ruínas e deu alguns passos em direção a floresta, mas os gritos... os gritos eram terríveis, não podia deixar que o mesmo acontecesse ali. Ele poderia impedir daquela vez, e nunca se perdoaria se não o fizesse, seria mais uma cicatriz.
Uma menina agarrou seu pé e implorou por ajuda silenciosamente, seus olhos estavam vermelhos, mas sem lágrimas. O garoto engoliu seco ao vê-la ficando imóvel.
Drako engoliu seco, pôs seus óculos e empunhou sua arma em direção a Kazuo.
–– O que está pensando em fazer moleque?! –– o criminoso perguntou chamando a atenção de seus subordinados. –– Vocês! Peguem aquele garoto de jaleco!
O inventor carregou a arma, pôs seu olho no visor e mirou com precisão. Uma esfera de alumínio, do tamanho de seu punho, foi disparada, que bateu no peito de Kazuo e caiu no chão sem quaisquer efeitos.
Vamos, vamos! Pensou impaciente.
–– O que-
A esfera explodiu em um raio de um metro e meio lançando estilhaços para todos os lados atingindo quem estivesse em seu alcance. Por mais que quisesse, Drako não conseguiu se proteger a tempo, seu corpo foi quase completamente coberto pelos pequenos pedaços de alumínio afiados. Precisava rever aquilo urgentemente.
Kazuo caiu no chão em silêncio tremendo e gemendo de dor. Drako sorriu ao ver que aquilo funcionava e atirou mais três esferas, cada uma com um efeito diferente, uma expeliu fogo, a outra um tipo de fumaça asfixiante e a última estilhaços de gelo. O cientista riu ao ver que o teste de sua arma fora um sucesso e bateu com sua ponta no chão vitoriosamente.
–– Superem o poder bélico do Canhão Surpresa do Dragão! –– bradou heroicamente, porém perdeu a pose com o susto de um Den Den Mushi tocando, que vinha do corpo quase inconsciente de Kazuo.
Longe dali, Miki, Baes e Torak chegavam numa pequena cidade perto de Argos depois de seguir o rastro de destruição deixado pelos piratas. No centro comercial havia um grande Den Den Mushi de visualização e uma confusão de pessoas, que corriam de um lado para o outro assustadas e desesperadas por ajuda. Morgan também estava lá, comandava alguns marinheiros para ajudar os feridos e capturar os piratas que ficaram para trás.
Miki perguntou se ele era um dos caras que os três procuravam e tanto Baes quanto Torak fizeram que sim com a cabeça. A garota instintivamente levantou seu punho, porém o espadachim a segurou antes que fizesse algo imprudente e idiota. Não podiam simplesmente chegar e atacar o marinheiro daquela maneira, por mais que ele também quisesse, pelo menos não naquele momento.
–– Ei! –– ela chamou. –– Onde Mansfield está?!
–– Hum? –– ele virou-se confuso para a garota. –– Mas como...? Você não é aquela garota pirata do incidente em Limore, Miki?
A população conseguiu ficar mais inquieta do que já estava, Torak bateu em sua própria testa e Baes suspirou de frustração, mas já previa que algo daquele tipo aconteceria.
–– O plano é não chamar a atenção deles! –– bradou Torak irritado. –– Agora a população nos odeia também!
–– É só chutá-lo pra fora daqui –– Miki respondeu estalando os dedos das mãos. –– Não fará diferença se a população nos ver ou não já que não seremos os mocinhos salvando a cidade ou não. Somos piratas –– ela sorriu.
Morgan cerrou o punho que lhe restava e mexeu em seu machado no braço direito. Mandaria que os marinheiros prendessem os três, porém o Den Den Mushi de visualização projetou uma imagem nos céus antes que ele abrisse a boca. Um homem de cabelos castanhos penteados para trás com uma tatuagem de cobra em seu rosto surgiu, estava em uma sala luxuosa com duas pessoas ao fundo. Ninguém mais que Mansfield. Baes e Torak confirmaram que ele era o criminoso que sequestrara Yuki a Miki e seu sangue ferveu fazendo-a cerrar os punhos para não socar o chão.
–– Povo da Ilha Victória! –– ele começou. –– Muitos de vocês já devem saber do triste ocorrido em Argos, centenas de piratas infelizmente atacaram a cidade. E também devem se perguntar o porquê de ninguém ter ajudado, e é simples! O Tenente Wa Uzuki se recusou a enviar suas tropas, pois alegou que os habitantes podiam se virar sozinhos! E o prefeito compactuou com a ideia. Porém, o primeiro sargento, Morgan da mão de machado, se opôs as ordens e não teve outra escolha a não ser prender o tenente e comandar os marinheiros por hora.
A população estava silenciosa e perturbada com a revelação inesperada. Muitos se recusaram a acreditar que o tenente teria feito algo daquela calibre, até porque era um criminoso falando num telão. Mas é claro, Morgan estava lá para confirmar toda a história.
–– Vocês podem não acreditar em mim –– Mansfield continuou. –– Mas realmente desejo me redimir de meus crimes e vim junto do herói para ajudá-los. Agora estou no gabinete do prefeito, que renunciou, e estou tentando controlar os piratas para que não ataquem mais cidades.
–– É verdade! –– gritou Morgan com convicção. –– Perguntem a qualquer marinheiro! O tenente Uzuki está louco!
Os marinheiros murmuraram apreensivos entre si. Alguns, assim como a população, queriam acreditar que Uzuki não havia feito aquilo, mas Mansfield bolara a cena perfeita dentro da base. Miki engoliu seco e o povo soltou um suspiro coletivo de surpresa quando Mansfield mostrou um vídeo do que acontecera com o tente na base, exatamente como o criminoso dissera.
–– Viram? –– ele perguntou em um falso tom melancólico. –– Peço que depositem suas esperanças em nós! Não falharemos, em breve todos estarão seguros e nunca mais deixaremos que algo assim aconteça!
Mansfield deu alguns passos para trás deixando que o prefeito surgisse anunciando que era incapaz de continuar a conduzir a ilha e deixou seu cargo. O criminoso agradeceu a paciente de todos e desligou seu Den Den Mushi, porém, antes que a projeção terminasse, Miki pôde ver Yuki ao fundo, ela estava sentada e desacordada em uma cadeira qualquer. A garota não hesitou e transformou-se em sua forma híbrida novamente, Morgan tentou pará-la, porém Baes o interrompeu.
–– Ser o vilão não me parece tão ruim assim –– disse sacando sua espada.
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Capítulo 16: Akuma no Mi
O marinheiro e o criminoso seguiram para a base com alguns piratas hipnotizados, e seus próprios comparsas, com o pretexto de “entregar mais piratas capturados pelo incrível Morgan”. Mansfield e seus aliados também se algemaram, já eles seriam como um “bônus”, já que Morgan teria capturado um criminoso famoso e alguns de seus subordinados. Nada mais que um plano bem elaborado.
Yuki também estava presente é claro, e também algemada. Finalmente entendera o termo “hipnotizados” que Mansfield tanto utilizava. Ele era um usuário da Fruta da Manipulação, ou seja, a médica não tinha mais escapatória desde o momento em que o criminoso pusera uma de suas mãos em suas costas. Apenas um toque bastava para que ele controlasse a mente e o corpo de qualquer pessoa.
Mansfield retirou seus óculos antes de atravessar o grande portão de ferro, que separava a marinha do resto da ilha, os jogou no chão e olhou para Yuki com um sorriso sarcástico e vitorioso. A garota nada podia fazer, estava hipnotizada e algemada, querendo ou não seguiria suas ordens cegamente.
Merda...! Pensou.
Mansfield controlou uma risada, ele também conseguia ler sua mente, todo cuidado era pouco para não acabar revelando o que não deveria. Não podia pensar nem em Miki, nem em Baes e Torak então contentou-se em focar naquela situação.
Não demorou muito e alguém abriu os grandes portões, logo Yuki notou as diferenças monstruosas com a base anterior. Aquela era ridiculamente maior e continha muito mais marinheiros fazendo as mais diversas tarefas pelos jardins. Alguns treinavam esgrima e tiro ao alvo, outros limpavam as varandas, mas ninguém ficava sem algum afazer.
Todos passaram tranquilamente, era apenas o grande Morgan levando mais criminosos e piratas para o chefe da base afinal, não tinham com o que se preocupar. Porém, muitos marinheiros cochichavam e apontavam para Mansfield. Apesar das fofocas e alguns marinheiros apertarem os cabos de suas armas, todos entraram tranquilamente no prédio principal da base e foram diretamente ao encontro do Tenente encarregado de todo o local e das informações que ali passavam, Wa Uzuki.
–– Olá Morgan –– o tenente o cumprimentou de sua cadeira. –– Vejo que trouxe mais criminosos, por que não os deixou com o carcereiro?
–– Pensei que gostaria de ver alguém... –– ele respondeu sorrindo enquanto saia da frente de Mansfield.
Os olhos azuis do criminoso tinham tanto um brilho sádico quanto seu sorriso sarcástico. Uzuki rapidamente levantou-se, apoiou as mãos em sua mesa e uma gota de suor escorreu por seu rosto, estava claramente tenso.
–– Como o encontrou no East Blue? –– perguntou tentando se controlar. –– Digo, o que um cara de sessenta milhões faz no meio do oceano mais pacífico de todos?
–– Eu os encontrei em uma ilha com alguns capangas –– respondeu Morgan dando alguns passos à frente como o general de um exército. –– Pareciam estar fazendo uma base, mas não sei o porquê de terem escolhido o East Blue, talvez exatamente por sua calmaria.
Yuki queria falar ou fazer qualquer coisa que alertasse Uzuki da armadilha que ele já havia caído, mas as ordens de Mansfield eram claras: Não fale ou faça nada que estrague nossos planos. Quando encontrarmos Wa Uzuki você ficará sem falar ou fazer nada, apenas seguirá os outros capangas.
–– Hum... –– o tenente saiu de trás de sua mesa e foi até Mansfield, que não demonstrava nenhum tipo de nervosismo. –– Imagino que tenha sido difícil, até por causa de seu poder peculiar.
–– Sim, admito –– Morgan respondeu com uma convicção incrível. –– Mansfield é muito inteligente e sabe utilizar muito bem sua fruta, mas tudo ocorreu como planejei. E ele está incapacitado com as algemas de Karioseki agora.
A grande sala ficou em silêncio por alguns segundos, que foi quebrado repentinamente pela risada de Mansfield. Uzuki o analisou confuso e pôs uma das mãos no cabo de sua espada desconfiadamente.
–– É por isso que eu sempre venço, tenente –– o criminoso alegou.
Os aliados presos de Mansfield, assim como os hipnotizados e ele próprio, quebraram suas algemas com um único movimento. O criminoso empurrou Uzuki com ambas as mãos, que cambaleou para trás e quase caiu por cima de sua mesa. Era tarde demais e Yuki desesperou-se, sua última esperança era o resto do bando.
–– Já está na hora de alguém melhor comandar esta ilha –– disse Mansfield colocando suas mãos atrás das costas. –– Morgan ficará com a base e eu ainda preciso fazer uma visita ao prefeito, mas tudo acabará como eu planejei.
–– Sempre soube que algo estava errado contigo, Morgan –– Uzuki respondeu. –– Depois de fazer o que fez, ser preso e fugir daquela maneira... eu deveria ter sido mais rígido com seu “pedido de desculpas” fajuto.
Mansfield riu ainda mais alto junto de Morgan e Uzuki avançou contra o criminoso, porém foi facilmente parado. Foi preciso apenas levantar uma de suas mãos em direção ao tenente, era simples e fácil demais.
–– Você não quer fazer isso, tenente, ou devo dizer... ex tenente –– Mansfield abaixou a mão e as pôs atrás das costas novamente. –– Você não irá mobilizar nenhum de seus subordinados, quaisquer que sejam, quando o ataque a Argos começar. Todos os marinheiros permanecerão aqui. Dê um jeito de parar qualquer um se este tentar burlar essa ordem.
Uzuki concordou balançando a cabeça positivamente como um zumbi, porém Yuki pôde ver o suor de nervosismo escorrendo pelo rosto do tenente. A garota se remoía por dentro com vontade de fazer algo, porém mal podia se mexer.
–– Assim que todo o ataque terminar, e nós dois, eu e Morgan, salvarmos a cidade, você renunciará e passará seu cargo para Morgan –– continuou Mansfield. –– Depois voltará para seu ninho de ratos no QG da marinha e não nos incomodará mais.
O tenente repetiu o movimento com a cabeça e Mansfield sorriu vitorioso. Todos olharam para um grande relógio na parede atrás da mesa de Uzuki. Meio dia e cinquenta. O criminoso continuou a sorrir junto de Morgan e tanto Yuki quanto Uzuki ainda tentavam resistir ao controle da fruta ou tentar encontrar qualquer brecha nas ordens daquele maldito homem, mas parecia impossível.
–– Já começou –– Mansfield disse.
Longe dali, Miki chegava ao centro da cidade onde havia uma bandeira pirata cravada no topo de um dos prédios. Tudo estava destruído. Os piratas que atacaram não tiveram piedade com o local, pessoa ou animal. Casas e comércio estavam em ruínas, vários corpos jogados no chão e nenhuma alma viva presente. Era como um cenário de pós guerra e a garota logo lembrou-se de quando Peter contou como sua vila fora destruída... exatamente como Argos.
Ela começou a caminhar pelas ruas procurando seus amigos até encontrar Baes e Torak perdidos em uma encruzilhada. Ambos estavam feridos e com as roupas rasgadas e sujas de sangue, pareciam tão desnorteados quanto qualquer outro desenformado que pisasse ali.
–– Capitã! –– gritou Torak ao vê-la, Baes se aproximou levando o anão em seu ombro.
–– Onde estava?! –– o espadachim perguntou furioso. –– O apocalipse aconteceu aqui! Uns quatro navios atracaram no porto, todos entupidos com piratas atacando Argos tão fácil como cortar banana! A marinha não apareceu e nós dois não pudemos fazer muita coisa com tantos inimigos! Por que não estava aqui?!
–– Mais um não faria uma diferença significativa, não é? –– Miki perguntou e Baes cerrou os punhos sabendo que era verdade. –– Onde a Yuki está?
Baes e Torak se entreolharam receosos e contaram tudo o que souberam pelas mensagens deixadas no baby Den Den Mushi. Miki suspirou e conseguiu ficar mais irritada do que já estava. Torak a analisou impressionado com o quão séria sua capitã podia ficar, porém o que mais lhe assustou foram seus olhos, que de dourados passaram a um tom intenso de vermelho. Na verdade, seu corpo inteiro estava mudando. Pelos negros cresceram em seus braços e pernas, assim como uma cauda, orelhas e garras em suas mãos e pés, que se transformaram em patas animalescas. Um focinho e bigodes também surgiram e seus dentes ficaram afiados.
–– Capitã você é...? –– Baes perguntou, porém Miki não lhe deu ouvidos e deu meia volta. –– Ei! Tá me escutando, maldita?!
A garota o ignorou, começou a correr e gritou para que ambos, o espadachim e o anão, a seguissem. Queria ter uma conversa com o tal Mansfield.
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Capítulo 15: Dez Minutos
Miki ainda estava na casa de Peter. Ria das caretas e impressionava-se com os brinquedos feitos de lixo que Drako construía, o garoto era um cientista. E apesar da menina querer ficar mais um tempo brincando com as bugigangas estranhas, já ficava tarde, Yuki poderia estar preocupada e queria ajudar aquelas pessoas o mais rápido possível.
–– Ei! –– a garota chamou o menino de jaleco branco. –– Seja da minha tripulação!
Drako ficou confuso por alguns segundos e analisou tanto a situação quanto a garota.
–– Hum... –– ele pôs a mão no queixo pensativo. –– Tudo bem! –– levantou o polegar positivamente.
–– Não aceite pedidos de estranhos! –– Peter gritou jogando uma baguete no rosto Drako. –– E você não faça pedidos tão importantes para estranhos!
Miki riu e Drako se levantou um pouco desnorteado, aquele pão estava tão duro quanto aço. A garota explicou o que faria para “seu novo tripulante”, que concordou sem hesitar. Seus olhos verdes brilharam de excitação e seus cabelos espetados pareceram se eriçar, como um gato, a ideia de fazer parte de uma tripulação lhe parecia muito interessante. Peter rolou os olhos e então os três então partiram em direção a Argos.
Ainda na cidade, Baes corria aleatoriamente procurando um meio de se comunicar, ou encontrar, Miki. Recebera uma nova ligação tão estranha quanto preocupante de Yuki, parecia estar com um tal de Mansfield e muito encrencada.
–– Você é um completo desalmado! –– gritou Yuki furiosa.
–– Disse uma pirata com a cabeça a prêmio –– debochou Mansfield. –– É o sujo falando do mal lavado, minha querida... Eu só não entendo o porquê de estar aqui.
–– Acha mesmo que vou ficar parada sabendo que tem alguém tramando alguma coisa? –– ela respondeu dando um passo para trás, seu mais novo objetivo era enviar o máximo daquela conversa para Baes.
Yuki estava cada vez mais nervosa, conseguira ligar seu baby Den Den Mushi sem que Mansfield percebesse. No entanto, Baes e Torak não paravam de perguntar aos berros pelo lugar onde a médica estava e se ela estava bem. Se o homem chegasse mais perto seria impossível contatar Baes novamente.
–– Vocês são um grupinho interessante... –– ele comentou dando um passo à frente. –– Primeiro o incidente em Limore com os marinheiros e agora quer me prender? –– ele riu e Yuki ficou furiosa.
–– Cale a boca! –– a médica gritou e esperou que Baes e Torak entendessem a mensagem ambígua. –– Nós fazemos o que quisermos!
Mais uma veia saltou da testa de Mansfield, o homem segurou um dos braços da menina e o puxou com força. O baby Den Den Mushi escondido entre seus seios caiu, Yuki entrou em desespero, porém foi tempo o suficiente para que Mansfield revelasse a parte final de seus planos e Baes recebesse a mensagem. O homem ficou ainda mais irritado, porém não deu tanta importância.
–– Nenhum de vocês pode nos parar –– alegou friamente.
Baes continuou a correr o mais rápido que podia procurando e perguntando pelo estaleiro e por uma menina sorridente, baixa e de cabelos negros. Torak conseguiu avistar diversos navios atracados sem uma bandeira e guiou seu amigo até o local onde encontraram o mesmo homem de quem Miki comprara o novo navio. Baes ficou um pouco mais aliviado, porém não conseguiu resultados muito relevantes.
–– Ela comprou um navio conosco e depois desapareceu, senhor –– o homem respondeu com um largo sorriso. –– O navio está atracado agora em nosso porto, senhor. O senhor deseja comprar algo conosco, senhor? Aposto que-
Baes deu meia volta e continuou com sua procura pela capitã cabeça de vento e descuidada deixando o homem do bigode estranho falando com as gaivotas ao redor. O espadachim procurou por mais dez minutos por toda a cidade, porém a garota havia desaparecido de Argos.
Torak sugeriu que tentassem alertar aos moradores sobre o que aconteceria, Baes sabia que ninguém acreditaria em dois piratas, e que aquilo poderia trazer problemas, porém era a única opção restante. Assim que ambos encontraram o primeiro morador não hesitaram e lhe avisaram, mas, como esperavam, o homem ficou nervoso e desapareceu pelo horizonte.
–– Essa é uma ideia muito idiota –– comentou Baes.
–– Ninguém liga, idiota! –– gritou Torak. –– Yuki-chan está com problemas!
Baes rosnou de raiva e olhou para um monumento alto com um grande relógio no topo. Faltava dez minutos para meio dia e trinta. Mais outros dez minutos de agonia. Ambos os piratas continuaram a tentar avisar qualquer um que avistassem ou passasse por eles, porém estavam apenas assustando os moradores, que poderiam chamar os marinheiros a qualquer momento. Contudo, o espadachim continuou seguindo com o plano e avistou algo no horizonte, perguntou as horas para um pescador qualquer e teve de desembainhar sua espada.
Yuki estava com mais problemas do que antes. Fora algemada e Mansfield a obrigara a segui-lo para todos os cantos, o homem lhe mostraria o que Yuki queria ver desde o princípio. Alguns capangas selecionados os seguiram, o caminho não era muito longo, porém era desconfortável estar tão indefesa no meio de uns seis criminosos armados até os dentes indo encontrar-se com mais outros.
Seguiram por uma trilha na floresta até chegar a uma praia exatamente como a médica ouvira de Worn. E lá estava Morgan, junto de mais alguns outros criminosos, esperando pacientemente por Mansfield. O marinheiro lançou um olhar desconfiado e mortal para a menina, Mansfield o respondeu com um sorriso perverso. Morgan aproximou-se de seu aliado e pôs o indicador na testa de Yuki, que sentiu vontade de mordê-lo.
–– Ela não é a pirata que estava em Argos? –– perguntou retirando seu dedo da cabeça da menina. –– Seus tripulantes estavam me seguindo.
–– Sim –– Mansfield respondeu. –– Seu nome é Yuki. Apesar de tudo ela nos pode ser bem útil daqui pra frente.
Yuki bufou enraivecida.
–– Eu nunca vou seguir ordem alguma de você! –– a garota protestou e alguns criminosos apontaram suas armas para seu peito.
Mansfield apenas riu, a médica ficou um pouco confusa e engoliu seco. Morgan rosnou e cruzou os braços impaciente, não queria saber dos problemas de seu aliado com espiões amadores, queria apenas sua mercadoria usual.
–– Onde estão? –– perguntou irritado.
–– Se acalme, amigo –– Mansfield respondeu com um largo sorriso e Morgan cruzou seus braços ansiosamente. –– A fase final já está pronta para começar. Não precisarei mais entregar piratinhas hipnotizados pra você. Hoje tomaremos a cidade e a base principal do East Blue!
Yuki engoliu seco novamente, fechou os olhos e uma gota de suor desceu pelo seu rosto. Miki... chamou silenciosamente.
Longe dali, Miki estava tranquila, não sabia de nada, apenas preocupava-se em encontrar sua irmã para ajudar “a favela de uma casa só” e voltar rapidamente para as bugigangas de Drako. Os três já estavam na metade do caminho, era uma colina de onde já conseguiam ver o fim da cidade de Argos.
–– Você é um mendigo, Drago-chin? –– perguntou Miki de repente.
Drako ficou vermelho de irritação, porém se controlou.
–– Eu só bebi demais! –– ele respondeu elevando o tom normal de sua voz. –– Qualquer um faz isso de vez em quando!
Miki não tentou segurar sua risada, Peter já imaginava o pior e Drako cerrou os olhos.
–– Você é idiota! –– ela comentou ainda rindo.
O garoto bufou de raiva. Não demorou mais que alguns segundos e ambos começaram a lutar e discutir. Peter rolou os olhos impaciente e perguntou a si mesmo se fora sensato deixar que a irmã daquela garota cuidasse de sua família e amigos.
–– Vocês são duas crianças –– Peter comentou irritado com toda aquela situação.
Tanto Miki quanto Drako pararam o que faziam e fitaram o pequeno garoto.
–– Olha quem fala! Seu pivete maldito! –– ambos gritaram em coro.
Peter também se enfureceu e os três começaram a se engalfinhar como gatos raivosos pela grama até escutarem uma explosão vinda de Argos. Os três olharam para o horizonte, porém não conseguiram enxergar nada de estranho ou diferente.
–– O que aconteceu? –– perguntou Miki.
–– Pareceu o tiro de um canhão –– respondeu Drako.
–– Não se preocupem –– Peter tentou acalmá-los. –– A população sempre dá uma festa de arromba para os turistas. Devem ser fogos ao mar ou estão atirando balas de canhões pro alto.
–– Cidade estranha... –– comentaram Miki e Drako em uníssono.
Os três voltaram a andar, porém, antes de conseguirem dar um passo, ouviram uma explosão muito maior e bem mais perto. A casa de Peter. Os três se entreolharam e correram para fazer o caminho por onde vieram e rapidamente chegaram a favela.
Tudo estava destruído e em chamas.
Peter caiu de joelhos não acreditando no que via, mas um lapso de memória o fez se levantar e se atirar nos escombros flamejantes, sua irmã Wendy. Drako tentou impedi-lo, porém viu Miki fazendo o mesmo e paralisou.
–– Esses dois são loucos! –– Drako comentou.
O garoto também queria ajudar, mas a fumaça negra que subia sem parar lhe trazia péssimas e traumáticas lembranças. Engoliu seco e ajoelhou-se pedindo desculpas aos dois. Contudo, não demorou mais do que três minutos e as chamas se apagaram como mágica, a fumaça negra permaneceu no céu e uma silhueta feminina surgiu dos escombros. Miki. Ela carregava Peter, Wendy e uma senhora. Assim que lhe alcançou deixou os três no chão e avançou pela trilha que a levaria até Argos com uma rapidez impressionante.
–– Ajude eles –– disse antes de partir.
O garoto ficou ali parado até lembrar-se dos três caídos no chão.
–– Ei! Ei! –– chamou Drako batendo no rosto de Peter. –– O que aconteceu?!
–– Henry... –– ele respondeu com dificuldade e tossiu. –– Morgan...
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Capítulo 14: No Covil das Cobras
Miki seguiu Peter até sua casa silenciosamente. Era bem longe da cidade, no meio da floresta, completamente escondida da população, havia até mesmo uma grande horta ali perto. A casa em si era grande e completamente de madeira. Porém, o número de pessoas que ali residiam era muito maior do que a casa poderia suportar. Peter explicou que todos eram os sobreviventes do ataque a sua vila, fazia mais de uma semana e muitos ainda estavam doentes e feridos, a maior preocupação era com as crianças e os idosos.
–– Minha irmã é médica! –– Miki exclamou animada por poder fazer algo. –– Se eu buscá-la tenho certeza que ela os ajudará!
Os olhos de Peter brilharam de felicidade e ele quase não acreditou. Era realmente uma pirata os ajudando. Ao redor de Miki, depois de escutar a declaração, alguns curiosos pararam o que faziam para escutá-la.
–– Ela também sabe cozinhar! –– a garota continuou. –– E tenho uma anão no meu bando, ele é do tamanho da minha mão!
Após isto, as crianças ouvintes começaram um tumulto. Ficaram animadas até demais para conhecer a pequena criatura. Peter riu e viu sua pequena irmã, Wendy, no meio das crianças fazendo milhares de perguntas. Miki também ria enquanto alguém tentava acalmar todos aqueles seres cheios de energia. Nesse meio tempo uma senhora enrugada com os passos lentos surgiu para os dois.
–– Vocês, os “D”, são todos iguais –– ela comentou calmamente enquanto se sentava no chão para tomar algo.
Miki ficou confusa e perguntou como ela sabia um de seus sobrenomes. A senhora riu gentilmente e levou um pires fundo a sua boca.
–– Todos são iguais –– ela respondeu depois de um gole. –– É muito fácil saber quem são vocês.
Miki continuou confusa e desconfiada, porém rapidamente a ignorou, pois um garoto acabara de entrar na casa como um animal selvagem. Era parecido com todos, sujo, com roupas rasgadas e cabelos rebeldes, o que lhe diferenciava era o sangue fresco em seu peito provindo de um corte não muito profundo.
–– Até aqui –– comentou Miki cansada de toda aquela agitação estranha da cidade.
–– Ele não é daqui, o achamos dormindo num lixão –– explicou Peter. –– Quando acordou começou a gritar procurando se barco então decidimos ajudá-lo porque as outras crianças gostaram dele e de suas bugigangas.
Miki viu o garoto mostrando um pequeno cachorro mecânico à algumas crianças, que gritavam animadas, o homem que tentou acalmá-las estava desmaiado no chão, algumas delas lhe bateram com panelas. O garoto lhe pareceu ser uma boa pessoa, porém Peter lhe avisara sobre achar que ele era um pouco maluco e no mesmo instante o viu conversar com uma parede.
–– Estranho... –– Miki comentou cerrando os olhos.
Num outro lado da cidade, Baes e Torak perseguiam Morgan incansavelmente, que realmente parecia ser algum tipo de herói para a cidade. Tudo o que ele fazia ou falava era aplaudido pela população, ninguém levantava um dedo para questioná-lo ou dizer algo ruim sobre sua conduta. Baes quase desistiu, ninguém tinha nada contra aquele homem, mas Torak insistiu que continuassem, Yuki não poderia estar errada.
–– Tente correr sem parar por horas então! –– bradou Baes. –– E já estou cansado de ouvir a mesma merda de sempre! Ninguém tem nada contra esse cara, aceite isso.
–– Vamos procurar mais! –– gritou Torak de volta. –– Yuki-chan pode estar arriscando a vida dela por isso!
Baes rosnou, porém continuou a seguir Morgan até que conseguiu o perder de vista. Torak gritou furioso dizendo que o espadachim era muito lerdo e antes que Baes pudesse retrucar um homem maltrapilho surgiu. Era claramente um pirata. Tinha uma Jolly Roger desconhecida tatuada em seu braço esquerdo, carregava um pequeno revólver e seus olhos demonstravam um estranho medo.
–– Vocês estão certos! –– ele disse de imediato, tanto Baes quanto Torak ficaram confusos. –– Eu vi vocês perguntando sobre o Morgan pela cidade, mas o povo daqui é cego! Morgan conseguiu enganar até a marinha desse lugar, ele tem toda a cidade nas mãos agora! Ele e o Ma-
O barulho de um disparo ricocheteou nas orelhas dos três. O peito do pirata moribundo lentamente ganhou um tom rubro. Ele parou de falar no mesmo instante, quase se engasgou com o próprio sangue e caiu no chão imóvel. Ninguém vira o atirador. Agora sabiam que Baes e Torak estavam atrás de Morgan e os dois piratas sabiam que havia muito mais envolvido em tudo aquilo. Yuki podia estar em sério perigo.
Muito longe dali, Yuki andara mais alguns quilômetros conseguiu entrar em um dos centros de operações de Mansfield facilmente. Era em um lixão, o local estranho, cinzento, sombrio e coberto por uma estranha névoa. Ali não havia casas, mas dezenas de barracas e tendas com os mais diversos criminosos carrancudos. A garota seguiu por um caminho e na metade foi parada por um homem careca com uma enorme cicatriz em seu olho direito segurando uma espingarda.
–– Onde está Worn? –– ele perguntou fazendo o sangue da garota gelar. –– Você deve ser o novo recruta de quem ele falou, mas onde ele está?
Yuki engoliu seco e respirou fundo. Não imaginou que pudesse ser desmascarada tão facilmente.
–– Ele foi atacado –– ela respondeu se acalmando. –– Quando cheguei ele estava no chão inconsciente e quem o atacou tentou fazer o mesmo comigo, mas consegui escapar por pouco. Segui o mapa e acabei aqui.
–– Entendi... –– o homem respondeu analisando a garota. –– Isso é grave, alguém pode estar tentando nos espionar. Reporte isso ao senhor Mansfield, siga este caminho e o encontrará na maior tenda com uma cobra, é o nosso símbolo.
–– Entendido –– disse Yuki fazendo que sim com a cabeça.
Continuou seguindo em frente sendo vigiada pelos olhares desconfiados dos criminosos. Estava com medo de tirar o capuz e alguém reconhecê-la, apesar de sua recompensa ter sido congelada há bastante tempo. Nunca se sabe o que pode acontecer, pensou. Mas estava um pouco mais tranquila, se Mansfield acreditasse em sua história se preocuparia em encontrar quem atacara seu mensageiro e provavelmente nunca pensariam no seu “novo recruta”.
Após andar um pouco mais encontrou uma grande tenda, com certeza onde o chefe da organização se encontraria. Yuki respirou fundo e andou o mais calmamente possível até entrar, onde o encontrou conversando com dois de seus capangas, todos os três pararam o que faziam e fitaram a garota, que sentiu que deveria tirar o capuz, então o fez.
Mansfield era duas cabeças mais alto que Yuki, era pardo e seus cabelos eram castanhos. Seus olhos, por baixo dos óculos escuros, eram azuis e tinham um estranho brilho sádico, já muito conhecido da garota. Vestia um terno branco com uma gravata azul marinho, uma tatuagem de cobra ornamentava o lado direito de seu rosto. Parecia desconfiado e surpreso com a presença repentina de uma garota qualquer em sua tenda.
–– Quem é você? –– ele perguntou rispidamente.
–– Sou a recruta de Worn –– ela respondeu quase que mecanicamente. –– Infelizmente ele foi atacado e apenas eu consegui chegar aqui.
–– Atacado? –– ele perguntou mais desconfiado que antes.
Yuki recontou toda a história e Mansfield pareceu ter acreditado mesmo que com um pouco de relutância. Seus capangas permaneceram calados durante toda a conversa, a garota até achou estranho um silêncio tão profundo.
–– Averiguaremos a situação –– o homem completou. –– Worn não é tão fraco e é um homem valioso e nunca pensei que recrutaria uma mulher.
A garota engoliu seco, era óbvio que aquele lugar não era para mulheres. Logo percebeu que Mansfield tinha uma ideologia muito comum onde aquele lugar seria “o mundo dos homens”, onde mulheres eram vistas como fracas e impedidas de entrar, o que não seria nada bom para seu disfarce perigoso.
–– Contudo parece ser um pouco forte –– disse analisando Yuki da cabeça aos pés. –– Pode nos servir em alguma coisa. Nunca suspeitariam de uma menina com rosto de boneca. Vamos, lhe mostrarei sua tenda e algumas regras básicas.
Miki fez que sim com a cabeça e deu uma última olhada nos dois capangas silenciosos, ambos tinham um olhar distante, assim como Roshio, que era muito estranho. Yuki deixou de observá-los e Mansfield pôs uma das mãos nas costas da garota e a guiou pelo acampamento, ou base como ele próprio gostava de chamar.
–– Não gostamos de traidores e mentirosos –– ele disse rispidamente. –– A punição é grave, cortamos suas línguas para que não falem mais. Aqueles dois lá atrás são exemplo disso.
Yuki engoliu seco, mas tentou se controlar, era tarde demais para voltar e enfrentar todos aqueles homens sozinha e de uma única vez seria impossível.
–– Ladrões perdem as mãos e assassinos são mortos –– ele continuou. –– Não toleramos esse tipo de coisa dentro de nossa organização então seja esperta e não se deixe levar pelos mais antigos, alguns podem ser “brincalhões” com novatos.
Depois de andarem um pouco chegaram a barraca e foram parados por uma confusão de criminosos alterados. Do meio da multidão surgiram dois homens, sendo que um estava sendo carregado nas costas de outro e vestia apenas um calção, que apontou para Yuki com dificuldade. Era Worn. A garota ficou sem saber o que fazer e seu sangue gelou novamente. Seu plano falhara.
–– Foi ela quem me atacou senhor Mansfield –– Worn relatou com a voz trêmula. –– Este sim é o meu recruta. Essa garota é uma espiã!
Todos os criminosos fitaram Yuki com um olhar perverso e ela logo lembrou de uma das regras que Mansfield lhe passara: Não gostamos de mentirosos. Tudo o que podia tentar fazer era fugir. O primeiro movimento foi seu, jogou sua capa em cima do chefe da organização e utilizou suas curtas espadas para lançar uma rajada de eletricidade contra muitos dos criminosos. A deixa para fugir, correu por cima das tendas e barracas o mais rápido que conseguiu desviando de balas, projéteis não identificados e alguns criminosos corajosos que tentavam lhe alcançar. Por fim chegou por onde havia entrado, porém seus esforços foram em vão alguém lhe esperava ansiosamente.
Era óbvio que alguém lhe esperaria pela única saída que ela conhecia, foi um pouco tola ao pensar que poderia sair dali daquela maneira.
–– Yuki... –– comentou Mansfield. –– Procurada pela marinha, cinco milhões congelados. Acho que não entendeu a parte de que não gostamos de mentirosos. E odiamos ainda mais espiões e aqueles que machucam um dos nossos.
Os olhos do homem ganharam ainda mais daquele brilho sádico e uma veia saltou de sua testa, estava furioso e Yuki nada podia fazer. A garota tinha plena consciência de que perderia se tentasse lutar. Agora teria que esperar Baes e Torak observando os passos de Morgan e Miki, que não sabia onde estava naquele momento. A médica rezava para que sua irmã se encontrasse logo com o resto da tripulação.
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Capítulo 13: Entre Lágrimas
Depois de um tempo desviando de pessoas estranhas tentando lhe vender de tudo, Miki chegou ao estaleiro. Era um lugar amplo e diversos navios de todos os tamanhos e gostos encontravam-se parados e prontos para a compra.
Miki analisou todos com cautela e entrou em um que gostou em especial. Não demorou muito e um homem magro, de cabelos crespos e com um longo bigode negro surgiu esboçando um enorme sorriso. Vestia um terno de cor berinjela com uma gravata verde musgo e utilizava luvas brancas. Parecia imensamente feliz em ver a garota por ali.
–– Bom dia, jovem senhorita! –– ele a cumprimentou animadamente. –– O que uma jovem tão bela procura por aqui?
–– Um navio... –– Miki respondeu cerrando os olhos. Uma pergunta redundante.
–– Mas é claro! –– ele respondeu com uma risada pomposa. –– Este aqui é um de nossos melhores modelos! A madeira é da melhor qualidade, tem um bom olho. Que tipo de navio a senhorita deseja?
–– Um grande e que aguente uma viagem inteira pela Grand Line! –– ela respondeu animada. –– Tem navios muito bonitos aqui, senhor bigode.
–– Sim! Sim! –– o homem respondeu. –– Nossos navios são os melhores da região! Hum... Mas porque a senhorita quer ir para a Grand Line? Lá não é extremamente perigoso?
–– Sim! –– ela respondeu mais animada que antes. –– E isso é o que o torna mais divertido! Eu serei a mulher mais famosa do mundo!
No mesmo instante, um menino aparentando o auge de seus nove anos surgiu do meio de alguns barris. Seus cabelos eram castanhos e rebeldes, seus olhos eram verdes brilhantes e continham uma voracidade que uma criança nunca teria. Suas roupas estavam rasgadas e um pouco sujas, não usava sapatos e carregava uma arma de brinquedo em suas mãos.
–– Eu te vi atracando longe do porto da cidade! –– o garoto gritou apontando a arma para o rosto de Miki. –– Ela é uma pirata, tio do bigode! Se afaste!
O homem tremeu de medo e olhou nervosamente para a garota. Miki continuou parada encarando o garoto tentando entender o que estava acontecendo. Ele gritou novamente e algum líquido transparente saiu da arma do menino e atingiu o rosto da garota. Não tinha gosto, nem cheiro... água, simplesmente água. O homem ficou confuso e deixou sua cabeça cair para o lado assim como Miki. Já o pequeno garoto se enfureceu e jogou a arma contra o chão.
–– Por que sempre me dão estas porcarias?! –– ele gritou enfurecido.
–– Eu posso pagar pelo navio –– disse Miki mostrando uma sacola cheia de dinheiro. –– Só quero um navio novo e irei embora sem causar problemas.
O homem descongelou e suspirou lentamente fitando o garoto, o pegou pela camisa maltrapilha, que protestou incansavelmente, e o levou para fora do convés.
–– Ei, seu velho de merda! –– o garoto gritava enquanto se debatia. –– Ela é uma pirata e você está me pondo para fora?! O que diabos você tem na cabeça?! Me solte!
O homem jogou o menino para fora do navio e virou-se esboçando um sorriso nervoso diante de Miki, que ainda tentava entender o que diabos tinha acontecido.
–– O garoto é órfão –– o homem começou. –– Sua família foi morta por alguns piratas arruaceiros desde então o menino criou uma terrível aversão a estrangeiros, mas tudo ficará bem, ele não voltará a incomodar a senhorita.
Miki olhou por onde acabara de ver o garoto lançado para fora do navio como um saco de batatas e ouviu alguns xingamentos contra ela e o homem. Não pôde deixar de ficar intrigada com o menino, mas logo esqueceu-se do acontecido quando voltou a ver os navios. A garota realmente tinha um bom olhar, aquele seria perfeito para todos os quatro e quem mais entrasse, sem falar no seu “plano”. E o comprara por uma pechincha graças ao vendedor que não sabia de seu real valor.
Do outro lado da cidade, Yuki ainda espionava Morgan conversar com o estranho homem encapuzado, que se chamava Worn. A garota não conseguia ouvi-los muito bem por conta do barulho intenso da cidade, mas não demorou muito para começarem a se mover e Yuki fez questão de segui-los.
Os homens foram para longe, uma floresta, onde era mais tranquilo e perfeito para Yuki conseguir ouvir a conversa de ambos. Morgan conversava sobre querer mais de uma tal “mercadoria” e Worn respondia dizendo que Mansfield o esperaria na praia do norte.
–– Eu estarei aqui ao meio dia e te guiarei até o local marcado –– disse Worn calmamente. –– Não se atrase.
Mansfield...? Pensou Yuki desconfiada, ela sabia que aquele nome não era boa coisa.
Faltava meia hora para o meio dia e Yuki deixara avisado com Baes e Torak que voltaria, porém a garota sentiu que aquilo se estenderia por muito mais.
Worn continuou a seguir pela trilha e Morgan voltou pelo mesmo caminho que fora. A médica queria saber mais sobre esse tal encontro e “mercadorias” então seguiu o informante de Mansfield até uma cabana solitária na floresta onde o atacou e o nocauteou com facilidade. A cada disfarce tudo ficava mais perigoso.
–– Isto irá servir –– ela sussurrou para si mesma trocando de roupas com Worn.
Logo após a troca, pegou utilizou um Den Den Mushi em cima de uma mesa para enviar uma mensagem ao baby Den Den Mushi que Baes carregava. Era tudo o que podia fazer para alertá-los naquele momento.
No mesmo instante, Miki caminhava alegremente pela cidade procurando pelos seus companheiros a fim de lhes dar a notícia sobre o novo navio. Porém, no meio do caminho uma pequena confusão lhe chamou a atenção, viu um menino ser, literalmente, chutado de dentro um restaurante por tentar comprar fiado e roubar comida. Observando-o melhor era o mesmo garoto do navio.
Miki olhou para o garoto chorar com a cabeça apoiada em seus joelhos e não hesitou, entrou no restaurante e voltou com um grande prato de comida e colocando-o no chão perto do menino, que levantou sua cabeça e assustou-se instantaneamente ao ver Miki parada ao seu lado.
–– Eu não quero a comida de uma pirata! –– o menino bradou com raiva.
Miki riu do comentário e sentou-se ao lado do garoto.
–– Não se aproxime! –– ordenou o garoto espirrando mais água no rosto da garota. –– Mas que merda de arma! –– e a jogou longe.
Ela o observou em silêncio por alguns segundos. Era muito magro, sujo, seu nariz escorria e toda a comida que vira lá dentro, que o menino tentara roubar, era demais para apenas uma criança faminta.
–– De quem está cuidando? –– ela perguntou calmamente e gotas se suor apareceram pelo rosto do garoto.
–– N-Ninguém! –– ele respondeu nervosamente.
–– Era muita comida só pra você, a não ser que seja um urso –– Miki explicou observando o céu. –– Você tem amigos e alguma família ainda, não é?
O garoto engoliu seco, seu suor aumentou e não encontrava uma mentira melhor para falar, a maldita era esperta.
–– Uma irmã mais nova... –– ele respondeu baixinho. –– E alguns amigos...
–– Ah! –– ela exclamou sorrindo. –– Ser o irmão mais velho é muito estressante mesmo!
–– Você tem um irmão mais novo também? –– ele perguntou curiosamente.
–– Não, eu sou a mais nova! –– ela respondeu sorrindo.
O garoto frustrou-se e gritou que ela não sabia como era desgastante ser o irmão mais velho e ter que sempre cuidar de alguém indefeso. Miki riu novamente e se levantou.
–– Eu te ajudarei, moleque –– ela respondeu com um largo sorriso.
–– Eu não preciso da ajuda de uma maldita pirata! –– ele gritou chutando o prato de comida com raiva. –– E meu nome é Peter!
Miki nada disse e pacientemente limpou toda a comida do chão, colocou o restante num prato e deu para alguns gatos de rua magricelos e também famintos. Um deles miou em agradecimento e Miki sorriu dizendo que a comida era realmente muito gostosa. O garoto conseguiu ficar mais enfurecido e derrubou Miki no chão socando seu rosto o quanto podia as pernas. Perguntava entre lágrimas e berros o porquê dela não o matar e ser tão gentil.
–– Mas por que eu tenho que te matar? –– ela perguntou calmamente.
–– Você é uma pirata! –– ele respondeu chorando. –– Você tem que ser má!
–– Mas eu não quero ser má –– ela comentou. –– Ser pirata não significa matar todos que você encontra, ser mau ou saquear todas as cidades que puder... ser pirata significa que eu sou livre para fazer o que eu quiser sendo bom ou ruim.
O garoto parou com os socos e voltou a chorar desesperadamente. Miki não hesitou e socou sua bochecha fazendo-o cair de lado. Miki levantou-se e o encarou com um olhar distante. Peter virou-se e se sentou olhando para Miki enquanto esfregava sua bochecha. Após um tempo ele perguntou porque dela ter feito aquilo.
–– Você é fraco –– ela respondeu seca e calmamente. –– Chorar e negar ajuda de quem quer que seja nunca melhorará sua vida ou a de sua irmã. Não passa de uma criança chorona e orgulhosa.
Os olhos do garoto se encheram de lágrimas novamente.
Não muito longe dali, Baes e Torak esperavam por Yuki enquanto bebiam sakê. O bar era tão barulhento quanto a cidade e ficou ainda mais quando um homem atendendo pelo nome de Morgan entrou. Muitos gritavam “herói” ou um “venha, beba comigo!”.
–– Quantos piratas pegou hoje, hein Morgan?! –– um deles gritou.
–– Muitos! –– o homem respondeu rindo. –– Estão todos no meu navio prontos para serem levados para a prisão!
Todos gritaram felizes e brindaram ao grande herói da ilha. No entanto, nenhum dos dois piratas entendeu por que tanta algazarra por causa de um homem que capturou alguns piratas, então Baes perguntou ao homem do bar o que estava ocorrendo.
–– Este é Henry Morgan, um tenente da marinha –– ele respondeu enquanto limpava um de seus copos. –– Ele que livrou esta ilha dos piratas e todo dia faz algum bem para o povo. É o nosso herói desde que chegou aqui então o povo fica alterado quando ele passa.
–– Eu acho que já vi esse cara em algum lugar... –– comentou Baes, estava um pouco corado pela bebida. –– Queria desafiá-lo.
–– Ficou maluco?! –– bradou Torak chutando o copo de sakê das mãos de Baes. –– Lembre-se do que a Yuki-chan nos alertou!
–– Tá! Tá! –– ele concordou. –– Vamos tomar um ar, essa gente não sabe ficar quieta.
Ambos os piratas levantaram, pagaram o que deviam ao homem do bar e saíram do meio daquela gritaria. Assim que atravessaram a porta, o baby Den Den Mushi que Baes carregava em um dos bolsos tocou, era exclusivamente para comunicar-se com Yuki já que Miki nunca lembrava de levar o seu.
–– O herói é perigoso. –– a voz de Yuki ecoou do caracol umas duas vezes. –– Fique atento.
Baes olhou para trás, para o foco de toda a bagunça no bar, e viu Morgan sorrindo e bebendo de graça com todos os civis. Teve um mau pressentimento sobre o que poderia estar acontecendo com Yuki, mas sentia que deveria ficar de olho naquele Tenente.
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Capítulo 12: Ascensão
Depois de dois dias navegando, os Akayurei aportaram perto na ilha Victória, perto da cidade de Argos. Baes sugeriu que mantivessem o “navio” em um local mais escondido por conta da bandeira pirata. Miki discordou de início, porém Yuki, com sua paciência única com a irmã, conseguiu convencê-la de que seria mais seguro então assim foi feito.
Yuki retirou o dinheiro que fora convertido do ouro que roubara do cofre do navio e dividiu igualmente para todos. No caminho para a cidade, Yuki e Baes conversavam sobre ter um novo navio. Obviamente, aquele barco não aguentaria uma viagem tão turbulenta pela Grand Line.
–– Não! Não! Não! –– gritou Miki em reprovação. –– O Little Brume é parte do bando, não vou deixá-lo aqui para ser roubado por piratas!
–– Mas nós somos piratas... –– murmurou Torak confuso.
–– Tivemos que nos revezar pra dormir! –– Baes argumentou. –– Ele é muito pequeno e não aguentará uma viagem por toda a Grand Line!
–– E o Baes ronca, não é legal dormir muito tempo com ele –– reclamou Torak que levou um olhar mortífero em resposta.
–– Mi-chan –– chamou Yuki. –– Sei que o Little Brume é importante pra você, e também pra mim, mas não podemos arriscar. Ele já é antigo, pequeno e pode não aguentar... Não vai querer ele afundando no meio do oceano, não é?
Miki parou para pensar e realmente não queria que o navio afundasse, mas também não queria se separar de um velho amigo, aquele navio era sua casa... O que lhe restava era uma última ideia.
–– Tudo bem... –– ela cedeu fazendo bico. –– Então pegarei mais dinheiro e comprarei um navio novinho! –– ela terminou com um sorriso. Baes ainda conseguia ficar surpreso com sua mudança rápida de humor.
Miki voltou correndo para o navio e o resto do bando continuou seu caminho.
–– Pera! Ela?! –– Baes exclamou nervoso. –– Tem certeza de que isto é seguro?
–– Pode ficar tranquilo –– Yuki respondeu sorrindo. –– Ela entende disso melhor que nós três juntos, posso garantir... Mas precisamos também de um bom navegador.
–– Oh... –– soltou Torak. –– Eu sei um pouco sobre, mas não é como se eu fosse um...
–– É melhor que nada –– respondeu Yuki com um sorriso e Torak pulou dos ombros de Baes para os de Yuki abraçando-a.
–– Podemos nos virar com esse anão, mas é melhor um navegador que saiba o que está fazendo realmente –– Baes respondeu e ganhou um soco de Torak. Yuki riu.
–– Podemos nos virar bem assim por um tempo –– ela respondeu. –– A Mi-chan já navegou por lá, tem um pouco de conhecimento.
Tanto Baes quanto Torak ficaram confusos e acharam estranho a garota estar rondando o East Blue sendo que já fora para a Grand Line, sendo que queria voltar para lá.
–– Torak também veio de lá –– disse Baes. –– Green Bit, em Dressrosa no Novo Mundo.
–– Mikiland é uma garota misteriosa... –– murmurou Torak com um tom sombrio.
Os três continuaram a seguir a larga trilha para a cidade. Assim que chegaram viram apenas lojas e vendedores ambulantes por todos os lados. Deveriam estra no centro de comércio. E era grande e bem movimentado, pessoas conversavam, compram, riam e trabalhavam sem parar. Uma cidade muito alegre e cheia de energia. Yuki lembrou-se vagamente de ter lido algo do tipo em algum lugar e ficou encantada, já Baes só queria um lugar menos barulhento para relaxar e Torak estava entusiasmado com tantas joias e outros metais preciosos à venda.
Assim que a população percebeu que os três eram turistas, ganharam um estranho interesse repentino e os receberam com uma simpatia fora do comum. Apertavam suas mãos, lhe faziam elogios, lhe mostravam onde comer, dormir, relaxar e mais dezenas de lojas com todos os tipos de mercadorias. Quando toda a confusão se acalmou, Yuki pôde respirar com calma e sentou-se em um banco perto de onde Baes tentava fugir de alguns homens lhe tentando vender ternos. Já Torak estava escondido nas roupas de Yuki.
–– Nossa! –– ela soltou respirando fundo. –– Eles parecem bem felizes... não acredito que atracamos logo em Argos...
–– O que essa cidade de merda tem?! –– gritou Baes enquanto se aproximava e jogava uma cartola negra no chão com força. –– Só faltaram me por um vestido!
–– A-Acho que já podemos ir... –– murmurou Torak com medo de todos aqueles humanos estranhos com sorrisos gigantes. –– Que lugar medonho!
–– Estamos em Argos, na Ilha Victória –– respondeu Yuki. –– É uma ilha muito rica que vive basicamente de comércio e turismo. Argos é a capital portuária e onde fica o Centro de Operações da Marinha, o órgão superior deste blue, onde todas as informações das outras bases deste blue vão parar e são passadas para o QG na Grand Line.
–– Problemas? –– perguntou Baes preocupado.
–– Problemas... –– Yuki confirmou. –– Faz dois dias que saímos de Limore, a informação da bagunça que fizemos já chegou aqui, sem falar daquele cartaz da Mi-chan...
–– Temos que tomar cuidado então –– disse Baes olhando ao seu redor. –– Mas parece que ninguém nos reconheceu...
–– Eles não devem temer os piratas, já que têm uma marinha extremamente forte aqui... –– Yuki explicou. –– Qualquer coisa que aconteça eles devem alertar algum marinheiro, contanto que não façamos nada não teremos problemas, ainda seremos clientes dispostos a pagar.
–– Entendi... –– disse Baes coçando o queixo. –– Então nem uma luta de nada?
–– Exatamente cabeça de ovo! –– gritou Torak furioso socando a cabeça do amigo. –– Quer ser preso de novo ou nos matar?!
–– Maldito! –– Baes bradou enquanto o pescoço de Torak.
Assim que Yuki conseguiu separar os dedos de Baes da garganta do anão, os três voltaram para o centro da cidade onde Yuki viu o ex capitão da marinha Henry Morgan passar e ser elogiado por todas as pessoas que encontrava.
–– Morgan...? –– ela murmurou desconfiada e confusa.
Recentemente soubera que ele conquistara o perdão da marinha, porém Yuki nunca engolira bem aquela história. Soube do que houvera, e acontecia, em sua base, de sua prisão e fuga. Depois de tudo, passou um tempo escondido e voltou pedindo perdão com diversos piratas e outros criminosos. Yuki decidiu que investigaria mais afundo depois, com aqueles dois, vulgo Baes e Torak, tentando se matar não seria uma boa ideia.
Esquecendo um pouco daquela história, Yuki procurou por alguns livros de medicina e outros que fossem úteis para todos, Torak por toda bugiganga brilhante que via e Baes comprara alguns objetos antigos e sem valor (por um preço absurdo) enquanto observava um garoto brigar com seu pai na frente de um bar. O homem já tinha certa idade e poucos fios em sua cabeça, já o garoto era pequeno, mas marrento.
–– Eu serei um grande marinheiro sim! –– o garoto gritou com raiva. –– E estarei naquela base desta ilha um dia!
–– Nada disso moleque! –– respondeu o pai pegando a criança pela camisa. –– Você vai ficar aqui e trabalhar no bar, assim como eu, seu avô, o avô do seu avô e o pai dele!
Baes conseguiu se ver no garoto e, mesmo querendo muito, não pôde deixar de lembrar de seu passado.
Baes nasceu em Baterilla no South Blue. Seu pai era um famoso comerciante, e sua mãe morrera três anos depois de seu nascimento deixando um velho desajeitado com duas crianças para criar, Baes e sua irmã ainda bebê Luce.
Começou a treinar boxe e esgrima quando criança, além de ter tido aulas de história e geografia. Seu grande sonho sempre foi sair daquela ilha para conhecer o mundo e vivia explorando lugares desconhecidos de sua ilha. Depois de um pouco crescida, Baes saia pelas florestas com sua irmã dizendo que ambos ainda seriam grandes exploradores, o que não deixava seu pai nada feliz.
–– Se eu souber que estavam andando por aquelas florestas novamente...! –– era sempre o que o homem dizia após encontrar seus filhos sujos de lama, repletos de carrapichos e folhas pelos cabelos emaranhados perto das florestas.
O velho queria que Baes continuasse com os negócios da família, o legado de seu comércio, mas o único interesse do garoto, além de lutas, era explorar o mundo, que, consequentemente incitava Luce também. Mais um motivo para deixar o homem furioso, alegando que uma menina descente não deveria voltar para casa tão tarde da noite e, ainda por cima, toda enlameada como um “bicho selvagem”.
Anos se passaram, Luce perdeu o gosto pelas explorações e se interessou pelo comércio da família, que fez Baes ficar irritado por ter sido esquecido pelo pai, que nunca lhe dera tanta atenção assim por conta do trabalho duro.
Seu pai sempre o criticava e insistia que fosse o sucessor de seu legado e não um explorador selvagem, e a pobre Luce nunca se intrometia e torcia para que os dois se entendessem. Quando fez 17 anos, sua paciência acabou por completo e Baes brigou com seu pai, dessa vez gravemente. O garoto correu para seu pequeno quarto, arrumou suas malas preparando-se para partir de vez e teve uma última conversa com sua irmã.
–– Eu prometo voltar um dia... –– ele disse antes de se virar e lhe entregar um anel que acharam enquanto exploravam as florestas quando jovens. –– Fique com isto... Lembre-se de que voltarei... com muito mais que isso e muito mais histórias.
–– Eu não quero isso –– ela rebateu friamente. –– Nem histórias... Eu só quero que fique... papai está chorando.
Baes engoliu seco, olhou para baixo pensativo e beijou a testa de sua irmã antes de sair de casa e sumir no horizonte.
Em uma de suas primeiras viagens, em uma ilha distante e pacata, ele encontrou um pirata aposentado, Vane, que lhe ensinou o Raitouryu, o Estilo Relâmpago. Seu mestre tinha o sonho de se tornar forte e famoso com esse estilo, mas nunca conseguiu. Sempre foi um pirata qualquer ofuscado pelo brilho de pessoas como Roger e Newgate.
–– Mas este estilo é brilhante! –– Baes exclamou perplexo. –– E único! Como alguém como o senhor não pode ter chegado aos céus?!
–– Não é só um estilo que faz a fama de alguém, garoto –– ele respondeu com sua voz ríspida e grave de sempre. –– É preciso de muito mais: força, habilidade, coragem. E sempre haverá pessoas que competirão pelo seu espaço ao sol com você... E uu não consegui.
Baes ficou quieto por alguns segundos sentindo a brisa marinha lhe envolver.
–– Então eu me tornarei muito mais forte! –– ele bradou levantando-se do toco onde se sentava. Foi em direção a diversas pedras do tamanho de árvores e as observou com ambição. –– O Raitoryu terá o espaço que merece... –– ele segurou a maior pedra no alto de sua cabeça –– E meu nome atravessará os céus!
Vane sorriu e levantou-se com um gemido baixo, Baes nada disse e apenas seguiu com seu treinamento de resistência. Minutos depois, o pirata aposentado surgiu com uma espada, uma Ryo Wazamono. Sua, mais precisamente, Kintaka. Vane a deixou no meio de uma densa floresta e o mandou o garoto buscar, se ele a achasse seria dele. E assim foi feito. Baes passou dias sobrevivendo sozinho com todo tipo de perigo, mas encontrou a espada.
Dois anos depois, em outra de suas viagens, Kintaka foi roubada por Swifty Torak, um anão que sobrevivia da venda de mercadorias roubadas, ou uma fada para muitos supersticiosos. Baes não acreditou na “história pra boi dormir” e foi atrás de sua preciosa espada. Assim que encontrou o anão ambos lutaram por duas horas inteiras, Torak era difícil de se acertar e muito rápido, porém, mesmo assim, o anão perdeu. E, de alguma forma, ambos acabaram se tornando amigos e companheiros de viagem.
Após desafiar diversos guerreiros pelas ilhas onde passava, Baes acabou ganhando fama. Por seu estilo de luta rápido e seu golpe mais famoso ficou conhecido como Thunderbird. Este era apenas o começo de sua jornada.
E agora estava num bando pirata cuja a capitã parecia ter mais que um parafuso a menos. Pelo menos sabe se defender, pensou... Sua “nostalgia” foi cortada por Yuki jogando Torak em seu rosto e mandando ambos devolverem a maioria das coisas inúteis que compraram.
–– Maldita! –– ele gritou sentindo uma dor latejante na parte de trás de sua cabeça.
Depois de um pouco de discussão, ambos cederam e devolveram os objetos sem utilidade (quase tudo). Yuki notou Morgan novamente, dessa vez o homem conversava escondido com outro homem vestindo uma de capa preta. O que está acontecendo...? ela pensou. Era hora de agir. Avisou a Baes e Torak que lhe esperassem no bar do outro lado da rua e foi atrás de Morgan e seu amigo estranho sorrateiramente. Algo não estava lhe cheirando bem.
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