#Autocrítica literária
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S.O.S.
- Willis Leite -
Se eu te pedisse socorro
em forma de um poema,
você poderia me ler?
Deixaria esse poema guardado
na última gaveta da memória?
Ou usaria em forma de uma crítica construtiva,
para me fazer flutuar em minha queda
mais profunda?
Te pergunto julgando,
nadando e me esbaldando
em minha própria hipocrisia,
você me daria sua mão
se eu te pedisse socorro?
Me sento no trono da histeria coletiva,
me farto e enfarto no banquete dos porcos,
mastigo as pérolas que eu mesmo conservo,
em minha concha de pesares e preconceito.
enquanto agonizo em minha própria prisão
de ética e moral que finjo
e deveria mesmo ter.
Se eu te pedisse socorro
em forma de canção,
numa melodia envolvente,
você dançaria comigo?
Prometo não pisar em seus pés
com minhas inseguranças gritantes
que poetizo em melancolia derradeira.
Não prometo ser a dança perfeita.
A perfeição me escorre entre dedos
afirmando que não me pertence.
Permaneço imperfeito
em minha consciência predatória
de falsa virtude que demonstro,
ou que ao menos tento
ironicamente ofertar.
Enquanto te peço socorro,
sem verdadeira necessidade,
sem real interesse.
Não espero nada além do que ter
o que nem eu mesmo arrisco oferecer.
pode ser que seja um trote.
Sinal de fumaça ou em código morse,
Confia mesmo sem ter quem te socorre?
Socorra-me.
Só corra, de mim...
S.O.S
Fim.
...---...---...---...---...
Willis Leite
Poesia escrita por: Willis Leite
Vídeo produzido por: @catrevelho (Instagram)
_Esse é um poema autocrítico, sobre a minha hipocrisia e de todos aqueles, que quando pede socorro em momentos que é preciso, mas não se dispõe em ajudar o próximo, seja negligenciando, negando, fugindo ou diminuindo a necessidade e a precisão de ajuda.
(e não, não sou "eu" o poeta pedindo socorro, é apenas uma licença poética, tão sentimental, que faz Fernando Pessoa ter razão no poema Autopsicografia:)
"o poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deverás sente"
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Reflexões e conclusão
A literatura ajuda as pessoas a se fortalecerem em qualquer campo. Cada obra literária revela uma realidade social oculta, é como uma espécie de reflexão e nutrição intelectual, portanto é importante ler com paixão, não com dever, pois as obras literárias têm a simplicidade criativa de mostrar ao ser humano uma fuga e uma autocrítica da realidade social.
Cada obra que existe no mundo, desde o poema mais curto até o conto mais longo ou a compilação mais extensa é importante e bonita à sua maneira. O maravilhoso da literatura, de cada gênero literário e de cada obra é o significado que cada pessoa no mundo lhe atribui.
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“A literatura, como toda a arte, é uma confissão de que a vida não basta”, Fernando Pessoa. Não sei se eu deveria tatuar esta frase, escrevê-la em um cartaz para pendurar no meu quarto ou pixá-la no muro do vizinho. É de uma sinceridade e nudez que me inspira e me corrói, desperta uma voz de dentro que grita inconformada: “como assim não basta?”. E o que basta? Me faz sentir uma idiota buscando significado para as coisas, sentindo tudo à flor da pele, indagando, questionando cada sensação que surge em mim.
Essa frase me tocou desde a primeira vez que a li. Tenho que admitir que no começo achei que era lindo, porque a minha cegueira de pessoa que tenta mergulhar até os confins da própria alma para procurar poesia em tudo, me fez interpretar que a literatura e todas as formas de arte estavam aí para preencher os buracos insuficientes da vida. Doce ilusão. O que temos hoje e o que teremos amanhã jamais bastará.
Então concluo que o estado de satisfação, seja pessoal ou externa, é extremamente vulnerável. A racionalidade, os instintos e os feromônios precisarão ser alimentados até o dia da nossa morte, a não ser que você queira viver doente. A tão clamada independência é uma grande farsa, porque você, ser iluminado que busca a “paz interior”, sempre vai depender de algo, que pode ser físico ou psicológico. O equilíbrio, que já virou piada pronta, se desmonta com uma brisa leve, e você tem que se nutrir para encontrá-lo de novo.
E que verdade Fernando Pessoa nos joga na cara, não é mesmo? Eu tinha a ideia que estas frases inspiradoras geralmente vêm acompanhadas de uma moral, uma lição reconfortante. Mas desta vez, ela surge apenas com uma constatação de que a vida não é suficiente. Um balde de água gelada.
Eu até tentei pesquisar o trecho inteiro no qual este bendito autor resolveu revelar essa verdade que é bastante incômoda para mim. Só achei uma continuação, que ainda não entendi muito bem: “Talhar a obra literária sobre as próprias formas do que não basta é ser impotente para substituir a vida”. Quer dizer, eu até entendo que a arte só existe porque a vida não basta, mas este trecho fala mais sobre a definição de literatura e em nenhum momento explica o que é “bastar�� ou pelo menos o que faz a vida ser suficiente. É como contar um segredo cabeludo e sair correndo, divagar nas próximas linhas, encher o parágrafo de palavras difíceis para mudar de assunto.
“Escrever é esquecer. A literatura é a maneira mais agradável de ignorar a vida. (...) Um romance é uma história do que nunca foi e um drama é um romance dado sem narrativa. Um poema é a expressão de ideias ou de sentimentos em linguagem que ninguém emprega, pois que ninguém fala em verso”.
Na minha cabeça, talvez escrever tenha uma definição diferente. Para mim tanto a leitura quanto a escrita são interpretações livres da vida. É claro que nem toda história precisa ter um significado profundo e holístico, mas um texto é uma expressão de sentimentos pessoais ou de terceiros. Todos precisamos encontrar uma maneira de deixar a vida mais leve. Eu diria que isso acontece quando os sentimentos são claros e bem descritos; por isso escrevo. Afinal, não conheço ninguém que goste de estar incômodo por muito tempo. Sentir algo e não saber o que é pode ser como pisar em uma farpa e nunca retirar o espinho, deixando inflamar até corroer a pele.
No estopim da minha depressão, há uns quatro anos atrás, eu comecei a chorar desesperadamente sem saber por quê. Foi como um chacoalhão para me avisar de que a alma não pode se desprender do corpo, um lembrete desolador para recordar que os sentimentos existem. A primeira vez que uma garota de menos de 20 anos consegue entender que a dor psicológica vai muito além do corpo.
Escrever então se tornou o refúgio. O único lugar onde eu conseguia estar nua, onde os sentimentos eram o que eram, sem precisar me sentir mal sobre o que os outros pensariam de mim. Quer dizer, o meu eu recatado e polido por pais exigentes muitas vezes demorava meses para conseguir escrever sem remédios. Era como se eu evitasse contar o que eu sentia para mim mesma, porque tudo era tão proibido, que era mais fácil não admitir para não ter que lidar com a culpa e tudo o que me tornaria a pecadora mais vigorosa do mundo.
E aqui vai mais um ponto para Fernando Pessoa. A vida nunca me bastou e jamais bastará. Mas isso não significa que não existam coisas que valham a pena. Ainda não consigo concordar que escrever é esquecer, porque para mim é justamente o contrário. Quer dizer, talvez até seja esquecer no sentido de que uma vez que você coloca tudo para fora, é mais fácil entender, dissolver os nós e seguir em frente. Por outro lado, escrever é registrar processos, para poder voltar um dia e constatar evoluções ou decadências.
Dentre todas as definições que a literatura pode ter, eu fico com a de que a escrita e a leitura são grandes confissões de que a vida não basta, mas poderia ser melhor. Não conheço ninguém que escreva e não leia o próprio texto ou que apenas o faça por revisões gramaticais ou algum tipo de edição ortográfica. Acredito que o bom autor é aquele sabe gozar da autocrítica, porque não existe nada mais sincero do que a arte. É como se a gente escrevesse para medicar nossa própria sanidade, para outorgar razão ao abstrato, para avaliar as sensações e colocar para fora o que incomoda do lado de dentro.
E se a arte é uma confissão, a vida é um segredo em constante descoberta. Nos faz querer contar, confessar, entender, procurar o que um dia talvez possa bastar.
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Sintomas Mórbidos - Sabrina Fernandes
Declamação: Os resumos de livros e textos serão, doravante, mais frequentes. Me permitirão, mais do que compartilhar com um eventual paraquedista digital, guardar, ordenadamente, as lições, as ideias, os olhares para dentro que arranquei das páginas que me aventuro a ler. É mais um auto exercício de organizar, lembrar, sintetizar e redigir. Se aproveitar a alguém, bom proveito. Se não, aproveito a mim.
Título: Sintomas Mórbidos – A encruzilhada da esquerda Brasileira
Autora: Sabrina Fernandes
Ano: 2019
Editora: Autonomia Literária
Formato: Digital
Estilo e Temas: Ciência Política. Marxismo. Atualidades
Meu primeiro contato com a Sabrina Fernandes foi através de seu canal no youtube, Tese Onze. Fiquei encantado com a forma que ela abordava os temas, a atualidade, a simplicidade. Mais que isso, fiquei maravilhado de achar uma “blogueira” da esquerda em tempos que hordas de trolls, robôs e influenciadores digitais guinam rumo ao neo-fascismo. Suas análises marxistas, atuais e embasadas foram uma lufada de ar fresco. O sentimento foi de alívio: “que bom, alguém está fazendo isso!”.
Uma coisa levou a outra, entre vídeos e acompanhamentos esporádico de sua trajetória, adquiri seu livro. E que bela aquisição e bem-vinda aquisição.
Antes de iniciar a resenha, importante esclarecer que as referências numeradas remetem a citações diretas do livro, cuja função é ajudar a definir conceitos, contextualizar e melhor expor o livro.
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O livro da Sabrina propõe-se a ser um guia, sucinto, da conjuntura da esquerda desde as manifestações de junho de 2013. Sua tese central é de que, a crise da esquerda é uma crise de práxis e que os desdobramentos dessa crise vieram se consolidando de maneira mais repentina a partir da ruptura do evento que foram as jornadas de junho. Onde multidões[1] diversas e despolitizadas se encontraram e alteraram o status quo.
Aliás, para ela, as interpretações são múltiplas e por meio de diversas entrevistas de campo com diversos atores da esquerda, a autora dá voz à todas as interpretações do fenômeno de junho de 2013.
De base teórica fortemente inspirada em Gramsci, a autora afirma que estamos vivendo num interregno onde o velho ainda não morreu e o novo não está ainda pronto para nascer. Ou seja, nem a esquerda consegue organizar e nem o projeto da direita está coeso, apesar de hegemônico[2].
Hegemônico porque a correlação de força, por sua vez, girou nitidamente para a Direita[3], que se aproveitou das políticas petistas nos governos Lula e Dilma para se consolidarem[4]. Nesse sentido, Sabrina não poupa o PT de críticas, pelo contrário, mas também imputa considerável responsabilidade à Esquerda Radical.
Aliás, esse é um dos méritos mais consistente do livro, um didatismo esclarecedor, com conceitos bem destrinchados que nos ajuda a interpretar melhor os acontecimentos de junho de 2013 até a eleição do Bolsonaro.
A autora faz questão de delimitar os conceitos do que para ela seria uma Esquerda Moderada (PT, PCDoB, MST, CUT) e Esquerda Radical (PSOL, PCB, MTST)[5].
Igualmente, introduz e separa conceitos chaves como Pós-Política[6] e Ultra-Política[7]. Crítica e dialética, com o olhar firme na realidade, a autora não poupa a esquerda e analisa alguns casos em que os próprios revolucionários moderados e radicais usaram da pós-política[8] ou até da ultra-política como ferramenta.
Vanguardismo[9]. Sectarismo[10]. Trabalho de Base. Hegemonia. Progressismo. Todos os termos, e mais dezenas de outros comum ao jargão de esquerda, são trabalhados de uma forma didática e com os pés no chão, ligando diretamente os conceitos à questões que vivenciamos diariamente. Dessa forma, o livro ajuda a decifrar e entender os sentidos por trás de frases que ouvimos no dia a dia como:
- A esquerda precisa de unir.
- O PT não faz autocrítica (e ela explica por que)[11]
- Precisamos estar nas ruas para derrubar o _____ (governante de direita da sua escolha)[12]
- PSOL é capacho do PT[13].
- O PT fez conciliação de classes[14] e deixou de ser esquerda.
- O PCdoB é stalinista.
- Votei no Ciro como voto útil para não eleger Bolsonaro.
- PDT é esquerda?[15]
Suas referências são diversas no campo da esquerda. Mas os que mais aparecem são o já citado Gramsci, além do Paulo Freire, Slavoj Zizek e Jodi Dean.
Por fim, Sabrina trabalha o conceito de Melancolia na nossa esquerda, fragmentada[16] e canibal[17]. A Melancolia teria afetado tanto a ala moderada e a ala radical, o que levou ambas à uma espécie de limbo, cada um por seus motivos, no atual cenário brasileiro.
Idealista, utópica, como qualquer bom revolucionário, Sabrina propõe, ao final, uma organização mosaica[18] das esquerdas. Através do debate franco, entendendo as contradições, fazendo sínteses, a esquerda seria capaz de encaixar-se num azulejo de mesa para formar um bloco histórico capaz de mudar o rumo do país nesses tempos de interregno, porque “O novo, afinal, é, de certa forma, herdeiro do velho num interregno. É possível que carregue ainda traços problemáticos e viciosos. Não há garantias de virtude no novo.”
P.S. Essa resenha prenuncia meu retorno aos blogs, à produção de conteúdo, àquilo que me atraiu há mais de dez anos a ter criado o primeiro Relatividade Restrita, ainda no blogspot.
[1] (..) “a multidão não tem política. É a oportunidade para a política. A determinação de se uma multidão é uma multidão ou o povo é resultado de uma luta política”.283 283 Jodi Dean, Crowds and Party, Verso (London, 2016)
[2] O papel do socialismo é de construção de hegemonia, e, portanto, é necessário abordar mais que formas, mas também conteúdos, precisamente o do poder: sua tomada, sua destruição, sua reconstrução.
[3] Provavelmente, o maior triunfo na luta política da direita pelas multidões em Junho foi a sublimação de uma crise classista politizada de representação (das tarifas à rejeição da política tradicional oligárquica) em uma questão moralista e antiesquerda contra a corrupção.
[4] A despolitização no Brasil é o resultado indireto da conciliação de classes, dos métodos de coerção e da construção do consentimento na base do senso comum no poder, bem como do resultado direto do projeto de direita para remover, diluir ou contorcer a ideologia, alterar a consciência de massa, controlar a produção cultural e seus resultados, divulgar informações manipuladas e preconceituosas como legítimas (posteriormente elaborado como fake news e a era da pós-verdade), reter o pensamento crítico e impedir a organização e mobilização coletiva, desde a ação de partidos políticos até comícios locais.
[5] A esquerda radical opõe-se ao capitalismo e se empenha na luta contra ele através dos explorados e oprimidos, enquanto a esquerda moderada opera sob as regras do neoliberalismo e frequentemente divide e coopta grupos radicais para neutralizar suas atividades.
[6] A pós-política, modo de despolitização que descola a realidade material dos projetos e conflitos políticos da sociedade sob a ideia de que é tudo uma questão de gestão e de ética predominou por um tempo
[7] Slavoj Žižek, em uma nota de rodapé em um livro de 1999: “A ultrapolítica recorre ao modelo de guerra, a política é concebida como uma forma de guerra social, como a relação para com ‘Eles’, para com um ‘Inimigo’.”314 314 Žižek, The Ticklish Subject, 241.
[8](...) a pós-política tem uma incompatibilidade inerente com a política da esquerda, porque cria um falso dilema, postulando que o problema do conflito não seria o conflito em si, mas a recusa da esquerda em se comprometer e se engajar em debates de conciliação tecnocrática com as estruturas do capital e da opressão. Žižek em Dean, “Žižek against Democracy,”
[9] (...) vanguardismo, pois a tarefa crítica é delegada para lideranças que concentram a tomada de decisões e o exercício intelectual em seus grupos. Esse vanguardismo pode acabar gerando desconfiança não somente nas outras organizações, mas também internamente – mais uma vez, retroalimentando a lógica da cisão.
[10] Para Gramsci, o dano do sectarismo relaciona-se com o conteúdo político das lutas: “Sectarismo é ‘apolitismo’ e, se você olhar para ele, o sectarismo é uma forma de ‘apadrinhamento’ pessoal, ao passo que falta o espírito partidário que é o elemento fundamental do ‘espírito público.’”426 426 Gramsci, The Modern Prince & Other Writings, 145
[11] (..)autocrítica como um processo de formação de sínteses e transformação da prática que impactaria inclusive as regras vigentes do “jogo” dessa democracia liberal, tomavam a crítica como danosa – daí a confusão destrutiva entre crítica à esquerda e ataques pela direita.
[12] A rua é meio, raramente é fim, quase nunca é começo.
[13] O PT continua a homogeneizar o espaço de esquerda e a trabalhar com a esquerda radical somente quando espera instrumentalizá-la para a manutenção do projeto moderado.
[14] Segundo Lula, “um governo de conciliação é quando você pode fazer mais e não quer fazer”.
[15] Apesar das organizações aqui classificadas como esquerda moderada serem identificadas em outros espaços como centro-esquerda, mantenho aqui a distinção justamente porque na centro-esquerda, e em espaços gerais centristas, também se encontram organizações com viés progressista, mas cuja visão política não se atrela ao antagonismo da luta de classes.
[16] Hoje em dia, a esquerda mal consegue se assegurar para a maioria da população como representante da luta por direitos básicos democráticos, quem diria pautas mais concretas que exigem a execução de um projeto político por parte da esquerda.
[17] A fragmentação é ruim como parte de uma crise de práxis: ausência de sínteses entre a crítica e a autocrítica, o engajamento com despolitizações e a permanência da lógica da cisão como central ao desenrolar das várias organizações diante de dilemas.
[18] (...) se faz necessário imaginar uma configuração que reconheça as diferenças legítimas de posição na esquerda brasileira, ao mesmo tempo que combata a melancolia, a lógica da cisão e permita um engajamento mais coordenado e consensual em tarefas de politização.
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Amor e ódio:
como Drummond mudou de opinião sobre Machado de Assis
Por Ruan de Sousa Gabriel
Na juventude, o poeta mineiro chamava o Bruxo do Cosme Velho de romancista ‘curioso’ e ‘monótono’; livro mostra como seus conceitos foram mudando
SÃO PAULO — Em 1958, Carlos Drummond de Andrade publicou, no “Correio da Manhã”, o poema “A um bruxo, com amor”. Os versos passeiam pela obra de Machado de Assis, lembram alguns de seus personagens — “Marcela, a rir com expressão cândida”, “Capitu, (olhos) abertos como a vaga do mar lá fora” — e elogiam a agudeza do Bruxo do Cosme Velho (apelido que Drummond ajudou a espalhar): “Outros leram da vida um capítulo, tu leste o livro inteiro.”
Mas não se engane, leitor. A relação do poeta de Itabira com o velho Machado nem sempre foi pacífica. Em 1925, quando ainda era um estudante de farmácia de 22 anos, Drummond publicou, na imprensa mineira, o artigo “Sobre a tradição em literatura”. No texto, Drummond acusa Machado de “romancista tão curioso e, ao cabo, tão monótono” e professor de uma “falsa lição” a ser repudiado. Sim: repudiado.
“Amor nenhum dispensa uma gota de ácido”, livro recém-publicado e organizado pelo machadiano Hélio de Seixas Guimarães, professor da Universidade de São Paulo (USP), ajuda a entender como o repúdio juvenil se transformou em admiração e poesia na maturidade. O livro reúne 37 textos escritos por Drummond entre 1925 e 1986 (dos 22 aos 83 anos) nos quais Machado de Assis é invocado. A maioria dos textos foi recolhida nos arquivos da Fundação da Casa de Rui Barbosa, onde estão os cadernos e pastas de recortes colecionados pelo bibliófilo Plínio Doyle e pelo próprio Drummond.
— O que os textos de Drummond sobre Machado mostram é justamente a passagem da recusa à compenetração, por parte do escritor mais jovem, da lição do escritor mais velho — observa Guimarães. — Essa trajetória do repúdio à incorporação, descrita por Drummond, coincide em grande medida com o que Machado significou para o modernismo brasileiro.
Segundo o autor, os modernistas reconheciam a excepcionalidade de Machado, mas, ao mesmo tempo, o viam como um escritor passadista, associado ao academicismo e ao lusitanismo.
“MACHADO ERA PEDRA NO CAMINHO DOS MODERNISTAS, SE QUISERMOS USAR UMA IMAGEM DRUMMONDIANA. PARA MÁRIO DE ANDRADE, MACHADO SEMPRE SERIA UM ENGASGO. PARA DRUMMOND, FORAM NECESSÁRIAS ALGUMAS DÉCADAS PARA INCORPORAR A ESCRITA MACHADIANA A SUA DICÇÃO”
HÉLIO DE SEIXAS GUIMARÃES Professor da USP Para o modernista, Machado era quase um estrangeiro, um escritor afrancesado, requintado demais e, principalmente, distante do Brasil real, esse que a patota moderna queria redescobrir. Não era fácil para aqueles jovens que sonhavam renovar a literatura pátria, como Drummond e Mário de Andrade, engolir um antepassado como Machado, fundador da Academia Brasileira de Letras (ABL) e sepultado sob os elogios parnasianos de Olavo Bilac. “A razão está sempre com a mocidade”, escreveu Drummond, em 1925, para justificar o repúdio ao Bruxo do Cosme Velho.
Com o passar dos anos, Drummond passou a publicar elogios a Machado, o autor da “obra de arte literária mais perfeita já elaborada no Brasil”. Quando a ABL transportou os restos mortais de escritor, do jazigo que dividia com a mulher, Carolina, para o mausoléu acadêmico, o poeta itabirano se valeu de seu espaço na imprensa para protestar contra esse “atentado”.
Em vários textos, Drummond recorda o trabalho burocrático de Machado no Ministério da Viação. O itabirano também passou a vida a bater ponto em repartição pública. A condição de funcionário-escritor talvez tenha contribuído para amolecer a pena de Drummond, que também compartilhava outras afinidades com o velho Machado, como o estilo límpido, pessimista e ácido, escrito com a “pena da galhofa e a tinta da melancolia”.
Não foi só Drummond que reviu suas impressões de Machado. Ao longo do século XX, críticos modernistas espanaram a poeira academicista que cobria a obra machadiana e passaram a lê-la como uma crítica corrosiva à sociedade brasileira. Em 1981, o poeta sugeriu que o Prêmio Esso de jornalismo fosse concedido a Machado, que continuava “o mais atual, o mais agudo observador do nosso tempo e sociedade”.
— Sem dúvida a ironia e a densidade reflexiva são um traço comum a esses dois escritores-funcionários, que nos deixaram algumas das páginas de prosa e poesia mais críticas e autocríticas escritas no Brasil – afirma Guimarães. — Se lermos os poemas de Drummond em paralelo aos seus escritos sobre Machado, podemos notar muitas correspondências entre a transformação da figura paterna e a mudança de sua visão sobre o velho escritor. É como se as palavras do antecessor fossem ganhando sentido mais pleno com o passar do tempo.
Figura Paterna
Em um texto de 1986, Drummond reafirmou sua admiração por Machado e tentou justificar suas malcriações juvenis: “nenhum amor dispensa uma gota de ácido”.
Fonte: https://jornalggn.com.br/literatura/amor-e-odio-como-drummond-mudou-de-opiniao-sobre-machado-de-assis-por-ruan-de-sousa-gabriel/
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Pandemia tornou 2020 o ano que mais frustrou todas as expectativas na cultura
Como diz o antigo provérbio judaico, o homem faz planos e Deus ri. Não que o ano de 2020 tenha tido muita graça, mas talvez nenhuma outra frase resuma tão bem suas expectativas mundialmente frustradas.
O jornalismo cultural não passou incólume a isso. Num exercício que mistura sentimentos de solidariedade, autocrítica e puro sadismo, decidimos voltar à Ilustrada de 365 dias atrás (sim, o ano ainda por cima foi bissexto).
O título na primeira página da edição impressa de 1º de janeiro era “2020 – O que vem por aí”. Quanta inocência.
Há que se reconhecer que a abertura da reportagem já não era lá muito otimista. “Tudo de bom —e de ruim— do ano passado vai ressurgir com mais força nas telas, nos palcos, nas galerias de arte e nas ondas do streaming. É sinal de uma pegada nostálgica que não arrefece, talvez porque o nosso presente não seja lá muito animador.”
Imagina se o nobre escriba soubesse o que viria dali a algumas semanas. Ou melhor, o que não viria.
Dos 12 filmes lembrados na seção de cinema, só dois estrearam. “Aves de Rapina” ainda pegou as salas funcionando normalmente, em fevereiro, e “Mulher-Maravilha 1984”, anunciado para junho, chegou só faz poucas semanas até os espectadores.
Mas nos Estados Unidos o filme foi objeto de uma jogada revolucionária que o pôs nos cinemas e no streaming ao mesmo tempo, o que fez muitos programadores do circuito tradicional arrancarem os cabelos.
Foram adiadas obras como as sequências de “Um Lugar Silencioso” e “Legalmente Loira”, as adaptações de “Eduardo e Mônica” e “A Paixão Segundo G. H.” e o novo “Amor, Sublime Amor”, de Steven Spielberg.
As previsões de teatro acertaram ao dizer que as peças ficariam mais ousadas. Mas não como reação ao conservadorismo do governo, como se previa, mas pela necessidade de se adaptarem ao fato de não haver palcos onde se apresentar na maior parte do ano.
Em vez de uma retomada de fôlego de musicais e da vinda de companhias estrangeiras, o que se viu foi o inédito fenômeno das performances por Zoom, em que o teatro da esquina está à mesma distância do Cirque du Soleil, e das montagens com o radical experimentalismo do distanciamento social combinado com álcool em gel.
No campo das artes plásticas, o prometido ano que priorizaria a temática indígena nos grandes museus foi adiado, como boa parte das exposições, já que as “Histórias Indígenas” do Masp vão ficar para 2023. Mas a Pinacoteca abriu “Véxoa”, reunião de artistas contemporâneos.
As bienais de São Paulo, tanto a de arte quanto a do livro, viraram trienais momentaneamente. Em 2020, só conseguiram fazer mostras prévias, no caso da primeira, e debates virtuais, no caso da segunda.
As previsões literárias acertaram a primazia de “Torto Arado”, de Itamar Vieira Junior, nas premiações. Mas falharam ao dizer que a Flip manteria Elizabeth Bishop como homenageada. Não havia como saber que a festa não teria nem homenagem nem curador nem Paraty, pela força das circunstâncias.
A expectativa para a política cultural foi feliz, ou melhor, pessimista o suficiente para acertar a queda no poder de órgãos de preservação do patrimônio histórico e a ingerência política na verba do Fundo Setorial do Audiovisual. E isso porque não anteviu a nova crise que se instalaria na Cinemateca.
Mas pecou ao dizer que haveria uma compreensão maior do governo sobre a importância política da indústria cultural —a Lei Aldir Blanc, auxílio voltado aos profissionais da cultura afetados pela crise, precisou de muito esforço da oposição para ser votada e executada.
E nem o mais extravagante dos videntes poderia prever as figuras que dominariam o noticiário digno de novela da secretaria da Cultura bolsonarista —a atriz Regina Duarte e o ator Mario Frias. Isso para não mencionar a performance de tintas nazistas feita pelo secretário anterior naquele fatídico discurso.
A televisão foi a melhor amiga de nove entre dez pessoas na quarentena e, também, a que melhor se ateve à programação. Novidades como CNN, HBO Max e Disney+ foram, de fato, grandes destaques da indústria cultural deste ano.
O que não havia como prever era a dominância absoluta que o streaming teria sobre o audiovisual, num ano tão privado de novelas inéditas na TV e filmes exclusivos nos cinemas. Os brasileiros imaginavam que passariam um tempo diante das telas neste ano. Mas não tanto.
As expectativas de música estavam atentas ao que escutaríamos em diversos gêneros, do funk ao pop. O imponderável estava em como ouviríamos tudo isso. Os maiores hits foram consumidos dentro de casa, e a pista de dança mais segura era a improvisada no meio da sala. Contato com artistas, só se for pelo chat da live.
Antecipar tendências culturais é uma tarefa tão desafiadora quanto inglória. Antes de tudo, porque arte é uma das coisas mais imprevisíveis que existem.
Quem imaginaria que um filme sul-coreano arrebataria um Oscar de melhor filme? Quem diria que uma minissérie ficcional sobre xadrez ia ser a mais vista da história da Netflix? Quem apostaria em Barões da Pisadinha como um dos principais hitmakers de 2020?
E esses três acontecimentos não tiveram nada a ver com o coronavírus —a guinada mundial mais inesperada em muito, muito tempo.
Se as previsões desta vez seguirem os planos, o próximo ano verá um alastramento de vacinas e um progressivo arrefecimento da pandemia. E a cultura em breve não terá mais que se preocupar com confinamentos e contaminações.
Falando nisso, não perca em breve as apostas da Ilustrada para 2021.
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📌Liev Tolstói (1828-1910), considerado um dos maiores escritores de todos os tempos, se destacou por seus romances e contos, que marcaram a literatura realista russa, mas também por seus ensaios filosóficos. . ▫️ 📖 Nascido numa família nobre, conseguiu aclamação literária ainda jovem, com sua trilogia semi-autobiográfica, “Infância” (1852), “Adolescência” (1854) e “Juventude” (1856). . ▫️ 📖 Entre suas principais obras estão o trio de grandes romances - “Guerra e Paz” (1869), “Anna Kariênina” (1877), “Ressurreição” (1899) - e a novela “A Morte de Ivan Ilitch” (1886), considerada por críticos como a mais perfeita novela já escrita. . ▫️ Tolstói foi um precursor das idéias libertárias no campo pedagógico, realizando experiência com camponeses e seus filhos na sua propriedade rural, Iásnaia Poliana. . ▫️ Depois de escrever Anna Kariênina, se inclinou para a religião, tornando-se um cristão evangélico. Em “A Minha Confissão” (1882), faz uma autocrítica e condena seu passado abastado e sua própria atividade literária. . ▫️ 📖 Em sua principal obra não ficcional “O Reino de Deus dentro de vós” (1893) - banida na Rússia e publicada no ano seguinte na Alemanha - expõe seu pensamento anárquico cristão de não-violência. Seus princípios influenciaram Mahatma Gandhi, com quem se correspondia. Por sua crítica contundente à religião institucional foi excomungado em 1901. . ▫️ Tolstói se tornou um defensor dedicado do Georgismo, filosofia desenvolvida pelo economista norte-americano Henry George, e que se funda num imposto único sobre a renda da terra - tema explorado no romance Ressurreição. . ▫️ Tolstói morreu de pneumonia, na estação de trem de Astapovo, ao fugir de casa para entrar para um mosteiro, no meio do inverno. Conta-se que, Tolstói passou seus últimos momentos pregando a não-violência, georgismo e amor aos passageiros do trem. . ▫ Gostou do post😀? Comente! ⬇ Marque os amigos que gostam de ler Siga @recanto_da_literatura ▫ #tolstoi #tolstoi_recantodaliteratura #grandesobras #biografia #amoler #livroseleitura #citações #igliterario https://www.instagram.com/p/B7vpJ7-DLmv/?igshid=66asl8xngbes
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PASSEI DOS 25 E NÃO FIZ TUDO O QUE PLANEJEI. FIZ O QUE PUDE
Não adquiri casa própria. Não comprei um automóvel. Não aprendi a dirigir. Não escrevi um livro. Não concluí a faculdade. Não conheci o exterior. Não encontrei a pessoa certa. Não me casei. Não tive filhos. Não fiquei rico. Não encontrei o emprego dos sonhos. Não me tornei chefe de nada. Não fui morar sozinho. E nada disso é, de fato, um problema, afinal de contas cada um tem o seu tempo.
Quando estava próximo de completar 16 anos entrei em uma paranoia. As pessoas sempre me diziam que os 15 anos eram a melhor fase da vida, que eu deveria aproveitar ao máximo, porque essa época jamais voltaria. Me sentia culpado porque os meus 15 anos, com toda certeza, não foram a melhor fase da minha vida. Era como se estivesse desperdiçando a tão valiosa e exclusiva oportunidade que a vida estava me oferecendo. Uma bobagem. Mais tarde, com 18 anos, outra crise. A maior parte dos meus colegas de aula estava aprendendo a dirigir, alguns ganhando automóveis dos pais, namorando, escolhendo a faculdade que queriam cursar e eu, nada.
O ritmo frenético de estudar no curso técnico pela manhã, trabalhar à tarde e frequentar as aulas à noite era realmente exaustivo, e se estendeu pelos 3 anos do Ensino Médio. Meu aproveitamento foi bem abaixo do esperado, mas tudo bem, eu estava fazendo o que tinha de ser feito. Concluí o Ensino Médio e passei alguns anos sem estudar. Uma decisão errada? Talvez. Ou não. Nem sei bem ao certo se foi uma escolha, afinal de contas, não estudei porque precisava trabalhar e andava muito cansado.
Ingressei na faculdade aos 21, idade em que boa parte das pessoas já está se formando (aqueles colegas lá do Ensino Médio, por exemplo). Próximo de completar 23 anos, uma nova paranoia. Ouvi em um programa de rádio algo sobre os grandes feitos da humanidade que seus autores realizaram até os 23 anos (com o tempo descobri que algumas informações daquela lista eram absolutamente irrelevantes e, outras, completamente incorretas). Me perguntava todos os dias se, caso eu viesse a morrer, qual seria o meu legado? O que eu deixaria de herança para o mundo? Desperdício de tempo e energia mental seria a minha resposta, hoje.
Ano passado completei 25 anos. As pessoas geralmente dizem que aparento ser mais jovem. Finjo crer que é pela aparência — o que é uma possibilidade — mas sei que o motivo mais provável talvez seja a sucessão de lacunas que minhas escolhas e as circunstâncias impostas deixaram no meu caminho, até aqui. Não adquiri casa própria. Não comprei um automóvel. Não aprendi a dirigir. Não escrevi um livro. Não concluí a faculdade. Não conheci o exterior. Não fiz uma tatuagem. Não encontrei a pessoa certa. Não me casei. Não tive filhos. Não fiquei rico. Não encontrei o emprego dos sonhos. Não me tornei chefe de nada. Não fui morar sozinho. E nada disso é, de fato, um problema, afinal de contas cada um tem o seu tempo.
Esse tempo que vivemos, em que tudo é instantâneo e efêmero, estabelece uma série de diretrizes normativas que nos conduzem a um comportamento de rebanho. Condicionados à essa constante avaliação qualitativa, mediada por likes, terminamos por nos esquecer das coisas que são realmente importantes nas nossas vidas. E quais são elas? Essa é uma pergunta que o inconsciente coletivo não pode responder, pois é estritamente subjetiva. No entanto, o que posso aferir é que estejamos todos priorizando nossas vidas a partir de modelos pré-estabelecidos que já não nos servem.
Nos últimos tempos, dificilmente encontro alguém com 20 e poucos anos que não esteja, senão completamente, ao menos, parcialmente insatisfeito com sua vida e suas escolhas. Afinal de contas, no universo da timeline, todas as outras pessoas estão completamente felizes, viajando, participando de festas e eventos badalados, comendo pratos maravilhosos, conhecendo celebridades, ganhando prêmios, trabalhando nas melhores empresas, namorando as melhores pessoas. No universo da timeline ninguém está triste. Ninguém está sem dinheiro. Ninguém está sozinho. Ninguém está se sentindo mal. Menos você, que no universo da timeline também está se sentindo completamente realizado para o resto do mundo, exceto para você mesmo.
O que nos falta é nos darmos a oportunidade de errar mais. Temos o hábito de nos cobrar demais e isso causa uma espécie de paralisia sensorial. Uma ansiedade despropositada. Sempre que nos permitimos errar, nos sentimos mais leves e menos suscetíveis ao erro. Em consequência, erramos menos. Somos pressionados diariamente a sermos pessoas perfeitas, pessoas que não erram, que não falham, porque falhar é coisa de derrotado, e derrotados não ganham likes.
Dia desses vi uma tirinha cruel, entretanto, absolutamente verdadeira.
Por mais que pareça um ponto de vista conformista ou desprovido de esperança, infelizmente é a mais pura realidade. Não importa que sejamos bombardeados diariamente com toneladas de mensagens positivistas que nos ditam uma infinidade de ideias desproporcionais que não correspondem ao factual. É claro que existem as exceções, mas assim como não precisamos ser regra, também não precisamos ser exceções — A menos que, ser exceção, seja o seu objetivo, é claro. Nos desprendermos da realidade é importante, sim. Flertar com a utopia é positivo, nos fortalece, nos recompõe, desde que saibamos delimitar a fronteira existente entre o real e o ideal. Não estou aqui para ditar novas regras, apenas acredito que precisamos romper com a zona de conforto, tentar coisas novas sempre que possível, mas também precisamos aceitar que algumas coisas não são possíveis para nós. E que isso não é ruim. Não somos obrigados a ser perfeitos, nem tampouco somos capazes disso. Não precisamos ter tudo o que nos dizem que devemos. Não precisamos seguir padrões definidos por outros. Só precisamos decidir.
Lendo Nietzsche é que pude, enfim, compreender que querer, definitivamente não é poder, querer é apenas 'querer'. O querer é fruto da vontade de potência, e é ela que nos move. Precisamos conhecer as nossas limitações e transformá-las em força produtiva, seja através do trabalho, das nossas relações ou da arte. Precisamos aprender a rever nossa relação com o tempo. A forma como compreendemos o tempo diz muito sobre a forma como encaramos a vida. Não pretendo me estender nesse tema, mas a concepção Ocidental sobre o tempo é essencialmente linear: passado, presente e futuro. Início, meio e fim. Essa visão linear do tempo nos conduz a um pensamento niilista, pois reduz a vida a um mero caminho vago entre os 2 extremos. Contra essa linha de pensamento é que Nietzsche propõe a alegoria do eterno retorno, como uma alternativa a esse modo de viver o tempo.
No canto chamado “Da visão e enigma”, na terceira parte do Zaratustra, o personagem relata uma passagem em que se depara com um jovem pastor que, ao chão, se retorce de dor, pois uma enorme serpente negra havia se introduzido em sua garganta e o asfixiava lentamente. A serpente negra simboliza o niilismo. Zaratustra tentava, inutilmente, arrancar a serpente da garganta do pastor puxando-a, pois o niilismo, quase já completamente introduzido no homem, incorporado a ele, não pode ser vencido a não ser por aquele que dele padece. Por fim descobre-se que a serpente só poderia ser morta caso o pastor lhe mordesse a cabeça. Sua tormenta só se encerra quando decide fazer o que lhe é recomendado por Zaratustra aos gritos, ou seja, 'a morde e a cospe'. Essa alegoria ensina que a superação do niilismo depende de uma decisão suprema da vontade, pela qual liberamos nossa existência do niilismo. Em suma, precisamos romper com o niilismo e para isso, só precisamos decidir arrancar a cabeça dessa serpente.
A comparação é um exercício importante, mas como todo e qualquer exercício, quando excedemos nossos limites ela se torna prejudicial. Sempre pensei nos meus ídolos como metas. Às vezes me pego pensando que com 20 anos Rimbaud já tinha escrito toda a sua obra literária e com a minha idade viajava pelo mundo. Penso que Bresson já tinha feito muitas viagens e produzido grandes peças de sua obra. Penso que Da Vinci já coordenava o próprio ateliê. Penso que James Dean já tinha chegado ao topo e já tinha morrido. Muitas vezes isso me motiva, mas na maioria das vezes, me faz cair no niilismo. Todos temos ídolos ou pessoas que admiramos e nos espelhamos. É normal. Mas é preciso relativizar as condições e relações que compõem a vida de cada indivíduo para entendermos que somos diferentes. Cada um tem suas aptidões, limitações, diferentes oportunidades e principalmente, o seu próprio tempo.
Estabelecer parâmetros e metas é fundamental, mas viver uma vida completamente calcada nesses moldes é encarcerante e provavelmente trará uma série de frustrações. Como escrevi anteriormente, é preciso aprender a lidar com as decepções e aceitar que nem sempre vencemos, mas precisamos, também, desacelerar o nosso nível de autocrítica. Só assim poderemos diminuir essa ansiedade que nos aflige diariamente. Essa sensação de dúvida, de que estamos fazendo alguma coisa de errado com o nosso presente, que irá comprometer o nosso futuro. Para pararmos de questionar o tempo todo sobre o que estamos fazendo com nossas vidas. A resposta para essa pergunta deve ser simples e objetiva: Estamos vivendo-a da melhor forma que podemos.
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10 livros fundamentais de escritoras brasileiras
A Bula reuniu em uma lista obras-primas de escritoras brasileiras que são leituras obrigatórias. A seleção contempla autoras de diferentes gerações e gêneros literários. Entre elas, estão Maria Firmina dos Reis, autora de “Úrsula (1859), o primeiro romance escrito por uma mulher no país; Lygia Fagundes Teles, que construiu uma narrativa surpreendente a partir de pontos de vista femininos nos contos de “A Estrutura da Bolha de Sabão” (1991); e Cecília Meireles, que narra, por meio de versos — e do ponto de vista dos derrotados —, a história da Inconfidência Mineira.
A Bula reuniu em uma lista obras-primas de escritoras brasileiras que são leituras obrigatórias. A seleção contempla autoras de diferentes gerações e gêneros literários. Entre elas, estão Maria Firmina dos Reis, autora de “Úrsula (1859), o primeiro romance escrito por uma mulher no país; Lygia Fagundes Teles, que construiu uma narrativa surpreendente a partir de pontos de vista femininos nos contos de “A Estrutura da Bolha de Sabão” (1991); e Cecília Meireles, que narra, por meio de versos — e do ponto de vista dos derrotados —, a história da Inconfidência Mineira.
Úrsula, de Maria Firmina dos Reis
“Úrsula” é apontado como o primeiro romance escrito por uma mulher publicado no Brasil. Durante anos, a autora assinou a obra com o pseudônimo “Uma Maranhense”, em referência ao estado em que nasceu. Negra e bastarda, ela construiu uma narrativa comum para a época: um triângulo amoroso entre uma jovem humilde, um homem rico e um vilão. Contudo, havia um grande diferencial, a história era contada sob o ponto de vista de três personagens negros.
As Três Marias, de Rachel de Queiroz
Embora a obra prima de Rachel de Queiroz seja “O Quinze”, “As Três Marias” é um dos livros em que a autora mais destacou os papeis impostos às mulheres na sociedade. A trama é iniciada em um colégio de freiras, onde Maria Augusta, Maria da Glória e Maria José se tornam amigas. Com o passar dos anos, cada uma toma um rumo distinto. Maria da Glória se casa e se torna uma mãe atenciosa, Maria José decide se dedicar totalmente a religião, e Maria Augusta parte em busca de sua independência.
A Estrutura da Bolha de Sabão, de Lygia Fagundes Telles
“A Estrutura da Bolha de Sabão” é o conto mais conhecido de Lygia Fagundes Telles. Ele e outros sete estão reunidos no livro homônimo, publicado pela primeira vez em 1978, com o título “Filhos Pródigos”. As protagonistas das histórias, todas mulheres, estão envoltas por conflitos profundos com as pessoas próximas, o lugar em que vivem, e até elas mesmas. Os contos são narrados ora por descrição objetiva, ora por discurso indireto e fluxo de consciência, atestando a excelência da prosa da autora.
Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada, de Carolina de Jesus
O livro de Carolina Maria de Jesus foi traduzido para 15 idiomas. Nascida em uma comunidade rural de Minas Gerais, a autora migrou para São Paulo, mais especificamente para a favela do Canindé, onde permaneceu a maior parte da vida. Negra e marginalizada, ela trabalhava como catadora de material reciclável e usava os cadernos que encontrava no lixo para escrever. Em sua obra, a escritora reflete sobre desigualdade e injustiça a partir de acontecimentos do seu cotidiano.
O Leopardo é um Animal Delicado, de Marina Colasanti
“O Leopardo é um Animal Delicado” é uma coletânea de contos da escritora Marina Colasanti, traduzida para várias línguas. Protagonizado por mulheres, o livro aborda a condição feminina em diferentes aspectos da vida em sociedade, mas principalmente no que diz respeito à sexualidade. Embora o título pareça despretensioso em um primeiro momento, se trata de uma ode à liberdade sexual e ao desejo, explícito em uma das narrativas mais impactantes e, literalmente, delirantes da obra.
A Paixão Segundo G.H., de Clarice Lispector
A narrativa banal, e por isso dotada de genialidade, aborda os pensamentos de G.H., uma mulher comum que despede a empregada doméstica e decide fazer uma faxina no quarto de serviço. A protagonista se frustra ao encontrar o local limpo e arrumado, ao contrário do que imaginava, mas a insatisfação é interrompida quando ela se depara com uma barata. Depois de esmagar o inseto, G.H. decide provar a massa branca que surge de suas entranhas, e o episódio faz com que ela tenha uma grande revelação.
Romanceiro da Inconfidência, de Cecília Meireles
“Romanceiro da Inconfidência” é considerado o livro mais importante de Cecília Meireles. A obra é o resultado de uma longa pesquisa histórica da autora, que construiu um retrato impressionante da Inconfidência Mineira em forma de versos. A narrativa é contada do ponto de vista dos derrotados, e denuncia as mazelas do sistema imperial, que vigorava à época. Ela aborda acontecimentos como a descoberta do ouro, a chegada dos mineradores e a morte de Tiradentes.
Rútilos, de Hilda Hilst
“Rútilos” reúne duas obras conhecidas e aclamadas da autora: “Rútilo Nada” e “Pequenos Discursos”. Na primeira — que lhe rendeu o prêmio Jabuti em 1993 —, ela narra o amor trágico entre um homem e o namorado de sua filha, destacando as duras amarras da vida amorosa e familiar. Na mesma linha de pensamento, a segunda obra guia o leitor por um duro descortinamento dos moldes rígidos e opressores do convívio em sociedade.
Bagagem, de Adélia Prado
A obra é uma coletânea dos poemas de Adélia Prado, que escrevia desde os 14 anos, mas só teve a primeira obra publicada aos 40, devido a uma profunda autocrítica. O livro, lírico e irônico, mescla temas como profano e religioso, e morte e a alegria — a partir das vivências de Adélia Prado como mulher e mãe de cinco filhos. A obra se consagrou rapidamente entre a crítica e o público, fazendo-a despontar como uma das escritoras brasileiras de maior relevância no século 20.
A Teus Pés, Ana Cristina Cesar
“A Teus Pés” é a única publicação comercial de Ana Cristina Cesar, que morreu precocemente, aos 31 anos. Ela é considerada uma das escritoras brasileiras mais marcantes da década de 1970. O livro reúne poemas originais e aqueles publicados de forma independente em “Cenas de abril” (1979), “Correspondência completa” (1979) e “Luvas de pelica” (1980). A autora foi homenageada na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), de 2016, no Rio de Janeiro.
10 livros fundamentais de escritoras brasileiras publicado primeiro em https://www.revistabula.com
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Alicerce Unimed Desenvolvimento Empregados Bem como Profissional Com Colaboradores Da Amplitude De Saúde
Moscovici (2003), com finalidade de alegar a cerca de aventura interpessoal, ressalta que a datar de continuamente a coabitação humana é complicado e também desafiante, e que às vezes interferências em outras palavras reações, sejam voluntárias de outra maneira negativo apoiam andamento a ação humana, ainda por cima procedimento dentre convívio é agrupamento e acontece entre seres humanos, ante a forma a cultura, fala nuncupativo bem como negativo verbais, pensamentos, sentimentos e também reações, por outra forma assim seja, feito dentre acreditar a aparência do outro imediatamente é convívio. Reunião noturna abalroados assuntos como alma de globo, projeto dentre vida, serviço, emprego e também empregabilidade, mercadologia pessoal, comunicação, construção e também aceitação a críticas, coabitação civil, currículo, acolá com reconhecimento desde vagas no comércio dentre aflição bem como ação de planejar fazendário pessoal. A causa dos mão de obra se compreende de lado a lado das suas necessidades e assim mesmo pode acontecer aceitar por meio de dentre um ar no lugar em que as indivíduos sintam-se corretamente, bem como esta dever cabe aos gestores desde cabedal humanos que devem demonstrar visto que afazer débito achar-se cometido, melhor antes dentre fundamental, alegar destinado a os equipe cada um que os mesmos são necessários com finalidade de a organização. Mas, e também aquele especialista que jamais foi contido dentro de um programa dessa maneira, e também que não teve comunicação curricular a único acréscimo espiritual, algo alternativa que leste aplicado igualmente terá que atacar com esta dimensão em sua alimentação acadêmica? Percebe-se que a Pedagogia abrange distintos espaços educacionais na sociedade bem como que com tal força as empresas quanto as instituições escolares precisa desde certo amostra fundamentado com os convicções dentre generalidade corporativa para que sujeitos possam acrescentar na sintonia dentre administração democrática bem como participativa a contar de a melhor tenra aurora até mesmo a período adulta dentre suas vidas. Ainda que a charge ature aparentar divertida, ansiedade remete à atenção dentre se apurar um projeto a alma, que, visto que adelgaçado por Cintra (2011): serve com finalidade de nortear as ações das cidadãos perante atividade com sua prática plena em outras palavras do congratulação de sua comissão empregados”, podendo tornar-se alcance tal como qualquer artifício destinado a atingir seus objetivos pessoais e também profissionais desde arranjo agudo bem como planejada”. Análogo facto implica adversário Tavares e também Alarcão (2003) que a composição quer seja ar visto que certo andamento a produção de andamento da alma humano na alcance perante que as acções do pessoa bom determinadas por processos cognitivos com corretagem interna dentro de citado progresso no decorrer a alicerce. lucrando com milhas é bom Meneio desde afazer - celebridade a abrir atividades perante todos os processos a começar de comerciais, financeiros, jurídicos, produtivos, desde aptidões humanos, marketing, aritmética aplicada, enfim, ter alicerces abrangente a todas as estádios de determinado ajuste. afã foi produzido com aplicação dentre acudir-se competências teóricos, com aparência a ampliar e também consolidar os dignidade na adro a Adestração bem como Andamento a cidadãos na reorganização do RH(ORIGINAL), utilizei abordagens com autores de que jeito Gustavo Boog (1995) Idalberto Chiavenato (2006 bem como 2010), Jean Pierre Marras (2002), dentre outras pessoas tal como aspecto com analisar a arranjo do afazer. É a conciliação aciona dentre características bem como atribuições pessoais a ajustamento emocional, a amor ao consanguíneo, dentre apresentar acerto equilibrado desde auto-estima bem como autocrítica, e desde apreciar inteligentemente as necessidades das outras gente. A consultoria de outra maneira aplicado que acontece coaching pode tornar-se contratado por distintos motivos, visto que agilizar a preparo dos profissionais que trabalham na acometimento, mudança a fragmento, achega a rivalidade, crescimento internúncio do acordo, apego desde lucratividade por outra forma apresentação, desmotivação desde equipes, exigência a reestruturação, dificuldade dentre alternativa a estação em outras palavras continuação empresarial. Destinado a que seja provável a aleitamento com programas futuros, seria compulsória qualquer formação desde parcerias das instituições com instituições desde ensino autoridade, já que alguma das únicas que isto dando aberta destinado a estudantes do aula com Instrução perante aparceiramento com CIEE (Associação a Integração Empresa - Aprendizado Paraná) destinado a estagiar bem como adivinhar as aplicabilidades dentre um Pedagogo Empresarial é a Delegacia da Recurso Federalista do Ibirapitanga na cidade desde Delta do Iguaçu. E poucos fatores tal como ar a serviço educado, amigos honestos uns com os mais, aguardente a assistência cerca de os colegas e líderes competentes são importantes com o objetivo de abrangência desde ganhos esperados caçoada disposição. bem-estar e também forma de animação, andamento amigos e a auto ato aplicando altura com ar do utilitarismo se define com a fusão desde situações de alegria e também desde animação com a absentismo com dificuldades bem como situações incomoda bem como dentre forma maior parte batida atingir a maximização do bem-estar coletivo. Cada aparato acercado foi combinado, a forma que houve uma anteparo criteriosa, a fim de que se obtivesse capacidade e também quantatividade de anúncios e também dados, de modo que pudessem acontecer estabelecidos visto que excipiente literária destinado a afetação em progresso. Há abundantes definições técnicas, no entanto a que melhor se aplica ao apresentação é a: " Mercadologia é processo coletivo por alvitre do assim como pessoas e agrupamentos com gente obtêm aquilo a que necessitam bem como que querem com a obra, doação bem como anistiado negociação com artigos e também afazeres a valor com alheios? Dessa aparência, é essencial que as organizações analisem estas situações bem como instituam programas de aperfeiçoamento na motivação dos funcionários, podendo fazê-los de lado a lado desde testes com finalidade de atingir os ganhos em cima de ampliação da arranjo aquele que dos staff, desejando dessa modo, atingir a aprazimento do profissional no metade empresarial. Análogo a manifestação de Bronfenbrenner, contudo com certa visão também espacial bem como formal, Moser (2005) classifica lugar, também em cima de quatro padrões, era: padrão característico de outra maneira micro-ambiente: apartamento, implicando beltrano; nível da vizinhança-comunidade por outra forma ambientes com adjacências: espaços semi-públicos (arredor, lugar desde aflição, parques, etc.); padrão indivíduo-comunidade em outras palavras ambientes coletivos públicos: cidades, espaços intermediários, povoamentos alguns; grau comunitário de outra maneira ambiente coletivo: ambiência perante sua conjunto, construído por outra forma nunca, os cabedal naturais e também os referentes à agremiação enquanto tal.
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Outrora: crônica de uns dias perdidos - ensaio de autocrítica
Nesse livro, eu poderia dizer, há pouca coisa literária e mais elementos filosóficos. Não são crônicas no plural como muitos pensam animados para ler. É apenas uma crônica. No sentido de um relato, como faziam aqueles relatos dos descobrimentos espanhóis no novo mundo e que eles chamaram de crônica. O livro revela esse autodescobrimento. Algo que vinha acumulando desde cedo na vontade de tornar-me um experimento de escrita. É um livro pelo qual fui também me descobrindo. Uma longa trajetória de quando quis ser escritor aos 7 anos de idade. Mas depois levei isso a sério com 17 e aos 19 conheci a filosofia e me deparei com pensadores , artistas, literatos , enfim, ideias que pareciam comigo. Só assim senti-me contagiado para ler literatura de verdade. Mas desde sempre esse livro estava em mim. Dediquei então essa relação de mestre e discípulo, algo que aprendi comigo mesmo. Uma relação importantíssima na vida. Utilizei personagens para prularizar essa expressão.
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