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#𝕙𝕠𝕟𝕠𝕣 𝕥𝕙𝕖 𝕔𝕣𝕠𝕨𝕟
maxinevaloisbourbon · 5 years
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𝕙𝕠𝕟𝕠𝕣 𝕥𝕙𝕖 𝕔𝕣𝕠𝕨𝕟 | 𝓅𝑜𝓋
Maxine não conseguiu esperar até o fim de semana, no dia seguinte a sua brutal discussão com Geneviève ele embarcou em uma das carruagens de sua família e viajou para Madri. Sabia muito bem que a mudança começaria oficialmente naquele dia e usou isso como desculpa para abster-se da escola, se sentia exausto e curiosamente não conseguia se lembrar quando o sentimento começou, o cansaço estava em seus ossos e ele já havia aceitado o estado de apatia mecânica. Apenas conseguia disfarçar isso quando estava junto aos amigos ou nos treinamentos de quadribol, contudo, desde a conversa com sua ex namorada tudo que ele queria era um pouco de paz e reclusão.
Só notou que a viagem havia acabado quando um dos empregados do castelo abriu a porta da carruagem para facilitar sua descida, o homem obviamente sabia quem Maxine era e o cumprimentou com um ‘Vossa alteza real’ em um espanhol forte mas que o loiro não teve dificuldade em entender, de longe aquele lugar parecia grande mas não tanto quanto seu amado Château Fountainebleau.
Ficou sabendo por meio do homem, que agora tinha descoberto ser um dos conselheiros de seu pai que todas as propriedades da França seriam mantidas em atividade. Foi levado a seu novo quarto, o local era grande e tinha paredes brancas cobertas de detalhes renascentistas. Aquele local cheirava a algo velho e mal passado, tudo que tinha o agrado até agora tinha sido a grande janela que o deixava com a vista do pátio onde podia ver a bandeira espanhola no mastro.
Finalmente sozinho, o loiro arrastou uma poltrona para perto da luz solar. A brisa sútil fez com que o garoto sentisse uma arrepio em sua pele alva, voltando seus pensamentos para a França e Geneviève. Fuck her! Gritou para si mesmo em pensamento, como se fosse fácil assim, como se pudesse estalar os dedos e fazer com que seus sentimentos desaparecessem. Tinha sentido o peso do mundo cair em seus ombros, precisava tomar uma decisão, uma correta. Algo que ele não se arrependeria depois, algo que fizesse seu pai sentir orgulho de si. Droga, depois de tantos anos aquilo ainda era tudo que Maxine queria. Ao mesmo tempo, tinha medo. Medo de estar fazendo as coisas erradas e privando-se de uma vida diferente, feliz e normal.
Como aquilo deveria ser? Ser simplesmente Maxine, nada além de um jovem bruxo que estuda e joga quadribol uma vez ou outra. O pensamento o assustava, o desconhecido olhe deixava em pânico. Afinal, quem ele era sem suas obrigações e títulos? Sem o dinheiro? No fundo, era grato a seu pai por deixar as coisas mais fácies? Não sabia dizer, seu último pingo de sanidade tinha desaparecido. Geneviève não tinha feito tudo mais fácil com suas perguntas, dúvidas e relutâncias. Na verdade, tinha feito tudo pior e jogado uma grande pá de cal por cima de tudo que eles tinham vivido até agora. Não podia deixar de pensar em como ela estava agora, mesmo se recusando a trocar meia dúzia de palavras com a mesma.
Maxine estava magoado e ainda por cima, irritado. Sentia-se sozinho, abandonado e vazio como aquele maldito castelo espanhol.
Sua atenção foi trazida de volta à realidade quando sentiu uma mão pesada em seu ombro, não era preciso olhar para saber que pertencia a seu pai. O homem de olhos azuis frios e cabelos negros e longos puxou outra poltrona, logo se sentando ao seu lado.
— Porque essa cara de dragão abatido? — Esse era seu pai, ia diretamente ao ponto sem fazer rodeios. O então Rei, parecia tão distante quanto ele mesmo a minutos atrás. Maxine pensou que encontraria um o Bourbon cheio de comemoração mas, seu pai parecia apático. Já tinha passado alguns minutos, o silêncio pesado era difícil de ser quebrado.
Tomando toda a coragem do mundo, o mais jovem soltou um suspiro longo.
— Tive uma discussão com Geneviève. — Seu tom era estável, tinha a postura automaticamente blindada quando estava próximo de seu pai, algo que ele tinha aprendido ao passar dos anos e que o faziam parecer não se importar com nada. Contudo, apenas de dizer o nome da garota em voz alta fazia-o sentir como se tivesse levado um soco no estômago.
Seu pai, soltou um risada fraca. — A garota não se tornou sua esposa e já está te dando dor de cabeça, em? — Sua fala era carregada de deboche, algo que Max estava acostumado a lidar.
— Esse é o problema, senhor. — Max se virou para o encarar, o homem tinha uma expressão confusa no rosto e com um leve aceno de cabeça deu o sinal autorizando o garoto a continuar. — Ela se sente como um objeto, algo que esta sendo trocado entre famílias apenas para ser algum tipo de troféu e....
O homem revirou os olhos, balançando a cabeça negativamente algumas vezes.
— Maxie, o que está tentando me dizer? Que a garota tem sonhos? Valores? — Ele pausou por alguns segundos, fazendo um gesto de impaciência com as mãos. — Me lembro da primeira vez que você pôs os olhos naquela garota, parecia encantado, logo vocês se tornaram inseparáveis e ali antes mesmo de você saber todos a sua volta já tinham percebido sua paixonite por ela. — Seu pai não mentia, já que Maxine não conseguia se lembrar do dia no qual ele não estava apaixonado por Viv. — Sempre pensei que se conseguisse um casamento entre vocês isso te faria feliz, tornaria mais fácil aguentar a pressão mas admito que estava errado. As opiniões daquela garota te tornaram suscetível, não é de me admirar. Nas veias dela correm sangue de traidores, sabe disso.
Maxine se permaneceu calado, os ombros caídos eram resultado do tom de decepção do Rei.
O homem provavelmente percebeu o desânimo no rosto do filho, levantando-se ele se agachou na frente de seu primogênito.
— Você sabe porque estamos aqui Maxine? Porque somos Bourbons, nada nem ninguém vai nos parar. Guilhotinas, democracias e nobrezas falidas; passamos por tudo isso e ainda estamos no topo do mundo. — Os olhos frios focados em Maxine, tinha o poder na ponta da língua — Você não pode desistir de toda uma dinastia, séculos de história só por uma garota. O mundo está cheio delas, tão problemáticas quanto, mas meu filho, nada é mais importante do que a honra da sua família e a sua coroa.
Maxine sabia muito bem o que aconteceria com ele se escolhesse a abdicação, seu pai nunca mais olharia em sua direção e o deserdaria no mesmo minuto. A pergunta mais importante era: O que era realmente queria fazer? Pensando com muito cuidado, indo e voltando com linhas de pensamento o resultado era sempre o mesmo.
Maxine amava Geneviève, ela tinha sido sua primeiro tudo. Sua admiração por ela ia muito além de sua beleza, gostava de ouvir a garota falar sobre as coisas que ela era apaixonada. Seus olhos sempre brilhavam nesses momentos, assim como sua alma, podiam estar a quilômetros de distância e mesmo assim, se ele se concentra-se o suficiente podia sentir a essência dela. Pensando bem, se alguém lhe perguntasse dias atrás se ele largaria tudo que tinha para viver ao seu lado a resposta seria positiva.
Mas tudo tinha mudado em tão pouco tempo, a discussão serviu para mostrar que nenhum dos dois estavam dispostos a desistir de suas convicções. Por anos, Máxine tinha apoiado a batalha pessoal de Viv contra sua família e a ideia do casamento. Afinal, porque ela deveria se sacrificar em nome de prestígio bruxo? Por outro lado a realidade batia em suas portas, o medo logo se tornou concretização e o que para Viv podia significar uma amarra matrimonial para Maxine significava cumprimento do dever. Um dever que nem mesmo ele sabia se queria ou não cumprir, ‘Eu também te conheço, Maxine, eu sei que você quer a liberdade...’ a voz de Viv ecoou em sua cabeça.
Liberdade. Uma palavra poderosa e que ele pouco tinha conhecido, havia passado toda a sua vida tentando alcançar a perfeição e falhado, suas crises de rebeldia que duravam tanto quanto um flash e logo se via caminhando de volta para a linha traçada. Maxine não odiava a ideia de ser Rei, nem amava. A ideia de ser Auror e Ministro eram muito mais impactantes para si, quase como se não tivesse escolha a não ser liderar e estar na frente das câmeras.
Geneviève era uma garota da democracia, não acreditava em reinos e só por isso já invalidava metade de quem Maxine era. Ele não era um desertor, não renunciaria ao trono e muito menos a continuação de sua linhagem. E era aí que a linha entre a razão e o coração ficavam tênues, sentia seu coração quebrar, doía tanto que ele podia gritar de dor ali mesmo. Estava perdendo sua sanidade, tudo por causa de amor. Por alguém que aparentemente não desistiria de uma opinião fula para o apoiar, será que ninguém além de si mesmo entendia a dor que estava sentindo? Ou a confusão de seus pensamentos? Tudo que precisava era de ajuda, apoio e empatia. E não final da contas, era seu pai e não Viv que estava ali ao seu lado agora.
— O Grão-Duque Henri tem uma filha, é uma garotinha ruiva adorável. Se lembra dela? — Ele assentiu, claro que se lembrava da garota, ela tinha dezesseis anos e um sotaque forte.
 — Posso mandar uma carta agora para ele sugerindo o casamento, a família tem o sangue puro e é dezenas de vezes mais rica que os D’Harcourt. — Aquilo era raro, no mínimo uma ocasião para recordar. Seu pai estava o deixando tomar uma escolha, claro, ainda continuava em seus planos mas ainda sim, uma escolha.
Maxine observou com cuidado as expressões do pai, pensando bem no que deveria fazer.
— Não é necessário, senhor. — Respondeu, desejando imediatamente se auto estapear. Porque não conseguia deixar tudo ir pelo ralo? Aquele relacionamento nunca daria certo, os dois eram incompatíveis em tantos níveis.
De qualquer jeito, o Rei sorriu-lhe. Levantando e caminhando em direção à porta, lançou a mesma pergunta de sempre.
— Et quelle est notre devise? — A voz harmônica, esperava a resposta como um general.
— Nada é mais importante do que a honra da família e o peso da coroa, senhor. — Max não se virou para responder, era automático. O mais velho fez um barulho de satisfação com a boca, se retirando em seguida.
[.....]
A noite já tinha caído em Madri, estava se preparando para dormir quando sua atenção foi roubada pelo barulho de um salto alto inconfundível. Ele imediatamente se levantou, caminhando apressadamente até a porta do quarto e a abrindo.
A mulher loira de olhos azuis estava deslumbrante como sempre, a famosa jogadora de quadribol usava um de seus escandalosos vestidos que poderiam ser usados para bailes mas que a mesma fazia questão de vestir o tempo todo. Anne era uma mulher belíssima que usualmente estampava capas de revistas famosas e que até mesmo já posou nua em outras ocasiões. Para sua defesa ela dizia que tudo era um conjunto de pura arte e que os franceses amavam suas curvas, para o pesadelo de Max e seu pai. Ela tinha um sorriso doce no rosto, seus braços logo envolveram o filho em um longo abraço que obviamente foi retribuído de bom grado.
— Maxie! Como é bom ver você! — Seu tom era de pura animação, logo puxou o garoto para a cama, se sentando junto à ele. Maxine amava sua mãe, não tinha nada nem ninguém em todo o mundo que o fazia sentir mais confortável e amado, e isso, era tudo que precisava. — Francois contou sobre sua chegada, não pude resistir e tive que vir até aqui. Quantos tempo faz? Dois meses? — Questionou-se.
— Onze. — Respondeu, fazendo com que a expressão da mulher se derretesse em culpa e logo Maxine mudou de assunto. — Esse lugar é uma droga, não sei porque a gente precisa morar aqui...
— Maxie, não é ruim apenas por ser diferente. E você não pode reclamar sem testemunhar a obra completa, metade desse lugar está vazio.— A Sra. Bourbon tinha um tom de repreensão que rapidamente foi se tornando em uma expressão de curiosidade. — Mas eu duvido que meu filho tenha deixado a escola no meio da semana para reclamar da decoração...
Aquela era uma deixa, uma da qual ele se questionou se deveria aceitar mas que por fim, decidiu que sim. Contando tudo que tinha acontecido, ele não poupou detalhes afinal, era sua mãe ali e ela nunca o julgaria por ações. Não poupou comentários sobre a discussão com Geneviève, nem deixando de fora conversa que tinha tido com seu pai horas mais cedo.
A mulher tinha uma expressão indecifrável no rosto, quase como se estivesse escolhendo bem suas palavras.
— Mon amour, como você está se sentindo depois disso tudo? — Sua mãe lhe puxou para perto, envolvendo-o em um abraço aconchegante.
— Eu não sei, mamãe. — Respondeu com honestidade. — Tudo está tão bagunçado, é como se eu não conseguisse tomar uma decisão sem me sentir um idiota por isso. — Sua mãe continuava o abraçando, fazendo um cafuné nas mexas loiras de Max. — Só consigo me sentir traído, ouvir todas aquelas coisas da Geneviève me fez questionar todos os anos que a gente passou junto....
Anne se afastou do filho, puxando seu queixo levemente para cima e o fitando com o seu famoso olhar de descontentamento.
— Maxie, se tem alguém nesse mundo que sempre esteve do seu lado é a minha pequena Viv. Até mesmo depois de todas as suas burradas, quando você precisou era ela que estava ao seu lado. — Era claramente uma bronca, ainda sim, a Rainha deixou um pequeno sorriso aparecer no rosto. — Elle t'aime, foi um ato da parte dela te dizer a verdade mesmo sabendo o quanto isso poderia te afetar. Mon dieu! É como se vocês homens não entendessem o quão complicado é a vida de uma mulher, principalmente quando é preciso escolher entre o amor e a si mesma.
Maxine ficou calado, não conseguia pensar em nada para responder a matriarca. Logo, Anne Bourbon continuou seu monólogo.
— Elle veut juste vous sauver de vous-même et des choix que vous faites... — Um olhar piedoso estava em seu semblante, sua mãe sempre foi uma mulher livre e descrita como selvagem por muitos nobres. Apesar de sua frequente ausência ela não queria que Maxine acabasse infeliz ou fugindo de casa como ela fazia, viajando pelo mundo e tentando evitar as consequências das próprias escolhas. — É difícil se abrir pra alguém, expor suas inseguranças e falhas. Isso é um ato de coragem, porque não é fácil ficar vulnerável. Sabe, mon prince. Olhando para trás, há coisas que eu poderia ter feito, outras que precisavam ser feitas. Mas eu não fiz. E não há nada que eu possa fazer para mudar isso agora, mas você Maxie pode! A última coisa que você vai querer é morar nesse palácio com uma penca de filhos que te odeiam e uma mulher frustada e insatisfeita, isso não é você, nunca foi.
Sentia os olhos suplicantes da mãe refletir no fundo de sua alma.
— Mãe, não me peça isso. Por favor, não posso fazer isso, ele me mataria. Sabe muito bem disso... — Sua voz foi aos poucos falhando, o desespero claro em seu tom.
A mulher acariciou sua face, seus dedos macios o acalmaram. — Toda escolha tem sua consequência, é uma rua sem saída. E se você não tomar a sua decisão para si, vai passar o resto de vida se perguntando o porquê de tudo ter dado errado. — Ela se levantou, tirando a varinha escondida da fenda de seu vestido, escreveu no ar em letras glicerinadas a seguinte frase.
“Between the hurting and healing of a soul, there is a stage of numbness. It’s the darkest and the scariest of all.”
Sorrindo, Anne deixou o quarto.
Maxine estava sozinho de novo, perdido em seu quarto longe da França. Decidiu que precisava de mais tempo para pensar, só voltaria para a escola na próxima semana e quando voltasse, não teria um coração partido e sim á plenitude de quem sabe tomar as suas próprias decisões.
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