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⠀ ⠀⠀ ⠀⠀ ⠀⠀ ⠀( 𝒄𝒍𝒐𝒔𝒆𝒅 𝒔𝒕𝒂𝒓𝒕𝒆𝒓 ››
( 2015 ) ⸻ @yoonwonk said : ❛ you don't have to leave just yet ... you could stay the night if you wanted to. ❜
estava confortável demais em uma cama que não era sua. de onde já deveria ter saído pelo menos horas atrás. deveria estar em seu próprio quarto, estudando. mas não. valentin era culpado. estava aproveitando até demais aquelas horas pecaminosas de uma liberdade proibida. tinha sido criado para acreditar que tempo ocioso era tempo perdido e a culpa vinha de maneira inevitável em algum momento. mas ali ele decidiu contorná-la com mais um gole na cerveja que já estava chegando ao fim. ❛ sabe que se eu ficar aqui, nenhum de nós vai dormir. e temos aula logo cedo. ❜ lembrou-o com uma risada anasalada acompanhando as palavras. ❛ além do mais, preciso repassar umas anotações antes de dormir. ❜ não precisava, na verdade. faria isso para tentar compensar as horas de diversão.
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valentin tinha um sorriso nos lábios enquanto o ouvia contar de sua experiência. mas este mesmo sorriso foi sumindo ao se prender naquele fragmento de informação sobre a situação financeira do outro. não ia perguntar nada, obviamente. mas eram momentos como aquele, por menor que fossem, que o lembravam que ele vivia em uma bolha cuidadosamente moldada ao seu redor. ❛ deve ser complicado mesmo. não consigo imaginar se daria conta de fazer os dois... ❜ comentou levemente sem graça, com medo de acabar parecendo descuidado de alguma maneira. certamente soaria meio desconexo da realidade, mas era aquilo mesmo. não tinha como fugir.
❛ ah, a sétima arte. queria entender um pouco mais sobre ela. conhecer mais a fundo, sabe? mas nunca tive muito tempo. ❜ lê-se, seu pai achava muitos de seus interesses como perda de tempo e ele acabava deixando de lado em algum momento. ❛ espero que dê tudo certo e consiga seguir a carreira que quer. a paixão é claro que você já tem. ❜ torcia por ele de maneira honesta. quando a pergunta voltou, ele hesitou. ❛ tenho sonhos simples, só quero deixar meu pai orgulhoso de mim. ❜ disse, dando de ombros. ❛ esse é o plano, então é só seguir as regras, estudar, fazer tudo certo... ❜ completou, rindo por entre as palavras. mas era um riso desprovido de humor, quase nervoso. ❛ tudo bem, talvez eu dê uma passada l��... mas você tem que prometer que não vai tirar nenhuma foto minha. não quero provas do meu crime contra meu plano de estudos. ❜ disse em tom de brincadeira. mas seria bom não ter nenhuma prova física que pudesse chegar ao seu pai, só por via das dúvidas.
Balançou a cabeça no eixo do pescoço, movimentando entre o sim e o não - Foi uma experiência legal, eu tinha ótimos colegas de trabalho, descobri que gosto muito de café e tal... mas não é como se eu quisesse estar lá naquele momento, foi bem difícil estudar e trabalhar ao mesmo tempo, mas não é como se eu tivesse muita opção... - deu um risada baixa tentando amenizar o peso de sua afirmação, sabia da realidade financeira de Valentin e dos demais colegas da universidade, não queria alugar o colega com os dramas da própria vida. Édouard era pobre, mas teve muito suporte de seu irmão e muitas portas se abriram na cidade uma vez que Édouard e seu irmão eram conhecidos pelo trabalho árduo e ativa participação na comunidade. - Eu sonho em trabalhar com arte! Estou estudando cinema justamente para adentrar esse mundo da imagem, mas e você qual é o seu sonho? Já tem algum planejamento? - Perguntou sem saber da trilha rígida que o outro era fadado a seguir estritamente - Sério?! Você pode estudar todos os outros dias, cara! Na verdade pode estudar o resto do dia também, são só algumas horas e você nem precisa ficar a noite inteira. - tentava encorajar Valentin. - Estou animado pra testar um filtro de lente novo que acabei de conseguir, quero fotografar a festa toda, acho que vai render um bom mural depois. - sorriu levemente.
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⠀ ⠀⠀ ⠀⠀ ⠀⠀ ⠀( 𝒄𝒍𝒐𝒔𝒆𝒅 𝒔𝒕𝒂𝒓𝒕𝒆𝒓 ››
( 2015 ) ⸻ @onlyfooll
era novo, recente. valentin não esperava que a amizade com celeste fosse mudar para algo romântico, mas antes que pudesse se dar conta seus sentimentos estavam indo naquela direção. e o que o surpreendia em tudo era o quanto aquilo não o incomodava. gostar das pessoas, romanticamente falando, sempre foi um problema para o rapaz porque até para isso ele precisava da aprovação do pai e normalmente não a tinha. isso fazia com que acabasse desistindo de se envolver com as pessoas de modo geral. com celeste era diferente, no entanto. tinha sido natural, uma transição tranquila da amizade para o romance. e mesmo que não fosse nenhum adolescente, já beirando os 24 anos, ela o fazia sentir-se como um. sem jeito, bochechas coradas, sem nem saber para onde olhar, o combo todo. mas especialmente muito animado, ainda mais sobre a hora de poderem passar algum tempo juntos. o que tirava valentin de seu comportamento habitual, o deixando mais leve, mais solto. ❛ aí está você! ❜ exclamou ao surpreendê-la com um abraço por trás. ❛ onde estava? por que demorou tanto para voltar? ❜
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⠀ ⠀⠀ ⠀⠀ ⠀⠀ ⠀( 𝒄𝒍𝒐𝒔𝒆𝒅 𝒔𝒕𝒂𝒓𝒕𝒆𝒓 ››
( 2015 ) ⸻ @rosemarieer said : ❛ will you please slow down a little? ❜
❛ non! ❜ exclamou enquanto continuava galgando os degraus da casa em direção ao seu novo quarto. recebeu a notícia que um pacote de seus pais tinha chegado para ele. sabia que aquilo queria dizer que tinha sido unicamente da mãe, mas era por isso que estava animado. ❛ me dê um momento, sim? prometo que já continuamos os estudos. eu só preciso ver o que minha mãe mandou! você pode vir aqui ver se quiser. ❜ valentin era filho único, nunca teve ninguém para dividir os espaços da casa e isso fazia com que a vida em fraternidade fosse difícil em alguns momentos. mas em outros, ele gostava de ter pessoas por perto para compartilhar tais alegrias bobas do dia a dia.
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⠀ ⠀ ❝ the time has come to take part in a war that is also . . . yours . ❞
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( 2015 ) ⸻ ❛ não. ❜ respondeu ao notar a câmera. valentin nunca teve problema em dizer não, mas não teria problemas com a foto desde que soubesse qual era a finalidade dela. era filho de advogado, tinha crescido nos olhos públicos por conta do trabalho da mãe. tinha aprendido uma coisa ou duas sobre pessoas com câmeras. ❛ o que está fazendo agora? por que quer uma foto minha? ❜
𝐎𝐏𝐄𝐍 𝐒𝐓𝐀𝐑𝐓𝐄𝐑𝐒 ⟢
◜𝟸𝟶𝟷𝟻◝ ﹒documentar o dia a dia na kappa phi soou como uma excelentíssima ideia depois da terceira xícara de café, e só se tornaria um arrependimento para lá da décima.
Hugo não era um dos universitários mais populares do campus, nem o mais inteligente, tão pouco o mais bem quisto ou sabe-se lá mais pelo que as pessoas eram reconhecidas e prestigiadas socialmente àquela altura, mas supôs que aquele compêndio de registros o ajudaria a quebrar o gelo e descobrir mais sobre seus colegas através de um contato genuíno, contrastante à privação imposta sobre sua figura esquecível, o que culminou nele sabendo do que não devia, fisgando fofocas de boca em boca por aí por passar despercebido. Além do que, seria uma outra ótima oportunidade para colocar seus dons jornalísticos a prova e confirmar se seus colegas faziam jus aos burburinhos. "Um sorrisinho pra câmera?" chamou, a esperança minguando no tom de voz que deveria soar descolado, mas ainda atinha-se aos traços de nervosismo, enquanto erguia a câmera para o rosto de (muse).
◜𝟸𝟶𝟸𝟺◝ ﹒pós-intimação
Sorte, infame sorte. Desde que suas mãos rasgaram o envelope da intimação, Hugo não conseguia conter um sorrisinho desdenhoso, que agora parece pregado a seu rosto. Ele tinha a oportunidade, os abutres sedentos por carne pútrida, e todos os holofotes sobre si, restava aguardar pelo momento certo e mexer seus pauzinhos nos bastidores, girando a cruzeta das marionetes. "Bom dia," sorriu, meneando a cabeça, quase apoiada ao batente da porta de (muse). "Já leu a correspondência ou eu terei a honra de ser o portador das más notícias?"
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a maneira como o outro falava com propriedade era o tipo de coisa que costumava atrair a atenção de valentin. gostava de pessoas assertivas, porque tinha aprendido a ser daquela maneira depois de conviver a vida toda com alguém como seu pai. ❛ você fala como um expert. pretende trabalhar com algo nessa linha? importação e exportação, de repente? ❜ perguntou, inclinando a cabeça ligeiramente para o lado, em curiosidade. ❛ espero que seja mesmo. seria péssimo ter que denunciar e dar início a uma investigação e causar todo um reboliço por aqui. mas, é... você tocou em um ponto que vai fazer parte da minha vida para sempre. foi meio inevitável. ❜
- Acho que você não tem aula com ela... e claro que faz diferença! É tipo vinho, queijo, fermentados, essas coisas. O terroir faz muita diferença na qualidade. - acenou para a pessoa que os atendia e pediu dois espressos. Escondeu a risada com a manga do casaco - Você realmente levou isso a sério, né? Não se preocupe era apenas uma... zoeira. - aguardou a chegada das duas bebidas.
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valentin tinha os olhos baixos para o caderno onde fazia anotações quando ouviu o comentário do outro. a confusão se fez presente em sua expressão ao tentar lembrar de quem ele falava. não era ruim com nomes e rostos, mas ainda estava se familiarizando com todo mundo na instituição. ❛ nunca reparei. ❜ respondeu brevemente, dividindo a atenção entre falar e terminar a frase que escrevia. mas acabou olhando para o outro quando ele falou do café. ❛ realmente faz diferença de onde o grão veio? ❜ perguntou, curioso. só tomava café em situações específicas, preferia chá. então não era nenhum especialista naquela bebida em particular. ❛ e cuidado com as coisas que diz em voz alta. você pode acabar com um processo de calúnia nas costas, se não tiver como provar essa certeza toda. ❜ acrescentou, como bom estudante de direito que era.
chat starter aberto cafeteria de Des Moines . 2015
- Você não acha que é muito estranha a maneira como a professora Fran olha pela janela quando passa uma ambulância ou uma viatura? - dizia com mistério na voz antes de levar a cerâmica castanha de encontro à boca - Tipo... ela fica nitidamente fora de órbita. - deu um grande gole em seu café - Nossa! o café daqui é o melhor mesmo... esses grãos brasileiros são muito bons. - olhou para muse e retomou seu tom de mistério - Eu acho que ela está envolvida naquele caso do roubo de notebooks do laboratório -
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o peito se encheu de um calor gostoso com o som da risada dela. era um dos sinais claros como água que valentin tinha que estava rendido por aquela mulher. eram as pequenas coisas que o faziam perceber como gostava dela e de estar com ela. ❛ isso, não me faça morrer de saudades de você. ❜ disse enquanto projetava um biquinho dramático nos lábios. a cena durou alguns segundos, porque acabou rindo de si mesmo. os dedos dela em seus cabelos fizeram um arrepio subir pelas costas, como se fosse sensível aos toques dela. as mãos enlaçaram a cintura de wora, usando o gesto para trazer o corpo feminino contra o seu. ❛ isso seria uma coisa ruim? ❜ questionou erguendo as sobrancelhas em curiosidade. costume, naquele contexto significaria ter mais daquilo e ele gostava da ideia. riu com a resposta dela e balançou a cabeça negativamente. ❛ também acho que ele não vai ligar… ❜ sussurrou em concordância enquanto retribuía o olhar que recebia. os olhos descendo pelo rosto tão lindo e se demorando nos lábios por não poder evitar. como se estivesse adivinhando o que se passava em sua mente, ela se aproximou e foi por pouco que ele não perdeu as palavras de wora, por estar concentrado em outra coisa. não teve tempo de responder, mas não podia se importar menos. correspondeu ao beijo imediatamente, sentindo o coração acelerar. ❛ como se eu conseguisse pensar em qualquer outra coisa quando estou com você… ❜ confessou contra os lábios dela, sem querer se afastar. ❛ mas prometo. ❜ respondeu em sussurro antes de aprofundar o beijo um pouquinho, querendo mais daquela sensação.
riu novamente quando valentin a corrigiu, um som leve e sincero que parecia preencher o espaço ao redor deles. “vou ter que me policiar para não te fazer esperar tanto.” a simplicidade do momento, um abraço seguido de uma brincadeira afetuosa, a lembrava de que, por menores que fossem os momentos, cada um deles era precioso e único. quando ele a virou para si, ela aproveitou o movimento para entrelaçar as mãos ao redor do pescoço dele, os dedos se enroscando suavemente em seus cabelos. “se você continuar assim, posso acabar me acostumando.” a proximidade trazia uma sensação de segurança e leveza. “o que eu quero fazer hoje?” repetiu a pergunta, fingindo considerar as opções com uma expressão pensativa. “você sabe…” ela começou, sua voz carregada de doçura. “a ideia de sair é tentadora, mas acho que seu colega de quarto não vai se importar que eu fique lá um tempinho, não é?” ela o observou atentamente, admirando cada detalhe do rosto, era aquela versão mais leve e descontraída de valentin que ela preferia, a que a fazia se sentir ainda mais conectada a ele. “aceito o convite, mas com uma condição.” disse, inclinando-se um pouco mais perto, o rosto a poucos centímetros do dele. “você tem que me prometer que não vai ficar se preocupando com as coisas daqui. sem pensar em prazos, pesquisas ou qualquer outra coisa nesse sentido.” ela não deu muito tempo para que ele pudesse responder, o puxando levemente para si, subindo na ponta dos pés para encurtar a distância entre seus rostos. deu um beijo suave e terno nos lábios de valentin, sentindo um arrepio de felicidade percorrer seu corpo, a eletricidade do toque e a familiaridade que começava a crescer entre eles. “pode ser?” perguntou, com um sorriso nos lábios, enquanto seus olhos brilhavam de expectativa e carinho.
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valentin sentiu o calor subindo para as bochechas por conta do beijo em sua testa. e isso não impediu que acabasse rindo, uma risada carregada de carinho. demonstrações de afeto foi algo que aprendeu com os amigos ao longo da vida, porque não era comum em sua família. de vez em quando ainda era difícil para lioncourt expor-se daquela maneira, mas recebia carinho com facilidade, verdade fosse dita. além de gostar de ver quando as pessoas conseguiam agir daquela maneira. era importante demonstrar os sentimentos, a apreciação e gratidão que tínhamos pelas pessoas a nossa volta. outra coisa que ele só aprendeu com as relações além das familiares. ❛ não fale assim, eu posso acabar acreditando. ❜ devolveu, deixando um afago nos cabelos alheios antes dele se levantar.
os olhos acompanharam a movimentação alheia, enquanto ele ajeitava tudo para dormir. nunca impedia aquele ritual ou dizia para deixar para depois porque agia de maneira semelhante em seu próprio quarto. quando aron ajeitou-se ao seu lado sob a coberta, enquanto ele fitava o teto, valentin fitava o amigo como se tentasse memorizar o rosto dele, mesmo sob a luz baixa trazida pelo abajur. um novo sorriso repuxou os cantos dos lábios ao ouvir que ele e a namorada estiveram no sonho dele. guardou silêncio e deixou que ele prosseguisse, mas conforme isso acontecia, o sorriso foi sumindo. também queria que pudessem viver uma realidade como aquela, sem todo o peso que foi colocado em seus ombros. valentin sentia que estava tão afundado em tudo aquilo que sequer seria capaz de sonhar como algo tão tranquilo como aron.
a mão moveu-se em direção ao outro. primeiro um aperto gentil em sua mão, um gesto de afirmação. então subiu para o braço, afagando-o por cima das roupas enquanto o escutava. era uma maneira de incentivá-lo a continuar. talvez não pudessem mudar sua realidade, mas não fazia mal nenhum devanear com algo diferente. ❛ podemos fazer isso, escapar de tudo. ❜ sugeriu por fim, rindo baixinho por entre as palavras. ❛ não acho que de maneira permanente, infelizmente… ❜ até podia imaginar seu pai colocando a polícia para caçá-lo em qualquer canto do mundo que tentasse se esconder. ❛ mas podíamos viajar, o que acha? no fim do semestre. podíamos ir para bem longe por algumas semanas, wora, você e eu. podíamos ir para um lugar bem bonito e só aproveitar... posso organizar tudo. ❜ vendo de fora, seriam apenas três crianças ricas aproveitando as férias de seus cursos caros. ninguém precisava saber as motivações por trás de tudo.
⠀⠀⠀⠀ㅤㅤ⊱ㅤㅤaron ergueu o rosto, ainda fazendo um biquinho, que ao olhar para valentin se transformou num grande sorriso ❝ mesmo? ❞ ele se sentou na cama, segurou o rosto do outro nas mãos e depositou um beijo na testa dele ❝ você é o melhor ❞ aron era um bêbado engraçadinho, fácil de agradar e ficava muito mais carinhoso. não que ele fosse uma pessoa seca de verdade, ele apenas fingia ser assim, mas as pessoas mais próximas sabiam que ele era uma manteiga derretida. fora sua família, principalmente a mãe e as irmãs, valentin e wora eram os únicos que conheciam esse lado dele sem restrição. ele se importava, cuidava e amava com todo o coração. por isso tinha tanto receio em se colocar na mão das pessoas. porém, ele sabia que ali, com valentin, estava seguro. aron sabia que poderia se permitir ser vulnerável, que seus gestos de carinho seriam, pelo menos, aceitos. aron rapidamente se levantou, pegou a latinha das mãos do amigo, balançou, tomou o último gole e jogou tudo o que tinham consumido no lixo. ele odiava coisas espalhadas e bagunça. ele organizou rapidamente o espaço, alinhando as almofadas e dobrando uma manta solta ❝ pronto, agora sim, tudo em ordem ❞ murmurou para si mesmo. aron apagou as luzes, deixando apenas um abajur suave aceso. olhou para a porta por alguns segundos, tentado a trancá-la. ele geralmente não conseguia dormir sem trancar a porta, um hábito que adquiriu depois de tantas vezes ser acordado de supetão, com batidas na porta, janelas abertas e gritos. o hábito era uma forma de garantir que ele começaria e terminaria seus dias em seus próprios termos. porém, pensando no que valentin dissera, conteve-se.
ele se acomodou na cama, cobrindo os dois com a coberta. ficou encarando o teto por um tempo antes de começar a falar baixinho ❝ eu tive um sonho esses dias… ❞ começou, hesitante ❝ sonhei com a wora... e com você… ❞ normalmente, aron tinha vergonha de sonhar ou de admitir que sonhava. mas essa era a vantagem do álcool, você podia falar as coisas e colocar a culpa nele ❝ nós estávamos num lugar bonito, valentin, todos os dias eram tranquilos e felizes… não tínhamos compromisso com nossas famílias ❞ ele suspirou, um sorriso triste aparecendo em seus lábios ❝ eu queria poder tornar isso realidade… ❞ concluiu mentalmente, pelo menos para vocês. aron de fato se sacrificaria pelos dois, da mesma forma que havia assumido todas as obrigações com a família para que as irmãs pudessem ser mais livres do que ele. ele pensava nisso enquanto o silêncio da noite os envolvia. ❝ sabe ❞ continuou, sua voz cada vez mais fraca, quase um sussurro ❝ às vezes eu só quero escapar de tudo isso. só nós, sem preocupações, sem responsabilidades… ❞ ele virou a cabeça para olhar valentin ❝ eu só quero que você saiba que faria qualquer coisa… ❞ se interrompeu, tremendo ligeiramente. ele voltou a encarar o teto, sentindo a proximidade do amigo ao seu lado, o que lhe trazia conforto em meio à tempestade de pensamentos e responsabilidades que sempre o acompanhavam e, nos últimos dias, com a doença da mãe e as cobranças do pai, estava exponencialmente pior.
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❛ tudo bem, não tem problema. ❜ se apressou a dizer. tinha ficado preocupado mesmo, mas não deixava de ser importante no momento que ela estava ali. a tensão deixando o corpo aos poucos depois do toque dela em suas mãos, os ombros relaxando e a expressão suavizando. a pergunta arrancou uma risada do rapaz. ❛ os milésimos! ❜ corrigiu-a em tom divertido. obviamente, era exagero. mas que tinha olhado para o relógio mais vezes do que o normal, ele tinha mesmo. ❛ não, não não! ❜ protestou logo. ❛ a recepção é melhor quando não estou preocupado, você tem que ver. ❜ disse em tom leve, rindo por entre a tentativa de persuasão. então soltou-a, mas só para virá-la para si. ❛ o que quer fazer hoje? quer sair para comer alguma coisa? apesar que... meu colega de quarto vai dormir fora hoje e tem pizza na geladeira. se quiser, podemos ir para o meu quarto assistir filme. ❜
celeste sentiu seu coração dar um salto quando foi surpreendida pelo abraço de valentin. uma risada suave escapou de seus lábios, expressando a surpresa e alegria do momento. também era algo novo para ela, estar apaixonada. nunca se envolvia seriamente com ninguém; sempre eram flertes casuais onde o interesse costumava desaparecer rapidamente. mas com valentin, desde o momento em que se conheceram, sabia que seria diferente. uma sensação que não conseguia e nem queria resistir. ria até para o vento quando pensava nele e a simples proximidade do rapaz a fazia sentir-se viva de um jeito novo. ansiava pelos momentos em que pausavam os estudos para ficarem juntos, cada segundo ao lado dele era precioso e celeste sempre se pegava desejando que o tempo parasse só para eles. "me distraí um pouco conversando com vivi.” disse com um sorriso nos lábios. “desculpa se te deixei preocupado.” suas mãos subiram até as dele, pousando sobre elas com um carinho suave. os dedos traçavam desenhos irregulares na pele enquanto ela virava levemente o rosto, capturando seu olhar. “você realmente ficou contando os segundos enquanto eu estava fora?" perguntou, ainda sorrindo, a voz carregada de ternura e uma pontinha de provocação. “se a recepção for sempre assim, acho que vou começar a me atrasar mais.”
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❛ pensei, mas meu pai disse que era perda de tempo e só ia atrapalhar meus estudos. ❜ respondeu e deu ombros, evidenciando que já tinha se conformado com a história. seu pai tinha razão, ele acabaria se divertindo demais e perdendo o foco. sem demora, foi rasgando o embrulho, curioso com o que podia ser. só para acabar suspirando claramente exasperado ao encontrar só um bando de roupas de banho e cama. ❛ minha mãe mandou toalhas o bastante para eu usar uma por dia durante toda a minha graduação. ❜ resmungou, mostrando o conteúdo do pacote para rose. era exagero, obviamente. mas ainda eram mais toalhas do que ele certamente precisava. ❛ quer pegar umas para você? ❜
ʚ ﹕ rose não era sedentária, mas também não era atlética o suficiente para acompanhar os passos de valentin ❛ eu estou indo ❜ falou um pouco mais alto que de costume, para que ele conseguisse ouvir mesmo estando a pelo menos dez degraus a frente. seguiu valentin até o dormitório dele ❛ você já pensou em fazer parte do time de atletismo? ❜ brincou, a respiração ofegante de ter subido os três andares o mais rápido que conseguia sem exatamente correr. encostada na soleira da porta, rosie observava com curiosidade enquanto ele abria o embrulho. ela deu um sorriso animado ❛ e então? o que é? ❜
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valentin riu como se a sugestão do amigo fosse absurda. ❛ abraçadinhos? de conchinha? ❜ devolveu em tom de brincadeira, claramente provocando o outro por conta do quão confortável se sentia ao lado dele. nem todo mundo acabava conhecendo qualquer lado de lioncourt que não fosse aquele que sustentava uma postura séria e decidida, de filho do juiz. mas o outro rapaz conhecia. conhecia até os lados que valentin não gostava de ver nem no espelho. e mesmo assim ainda era confortável estar com ele. porque yoon entendia, ele sabia como era. a gracinha logo foi varrida da expressão do mais novo entre os dois quando os olhos castanhos se voltaram para o rosto conhecido, dedicando a ele a sua atenção.
❛ não tem nada para se desculpar. ❜ entendia o que ele queria dizer. entendia mesmo o que ele não quisera verbalizar. era familiar, não o cenário descrito. mas a sensação. aquela era uma velha companheira. ❛ para mim sempre foi mais como uma prisão. como em desenhos antigos, sabe? uma cela com uma janelinha pequena por onde eu posso ver tudo o que eu queria conhecer e tudo o que eu queria fazer, mas só me resta imaginar como seria mesmo. porque eu tenho um limite de até onde posso ir e o que posso fazer sem que isso faça com que eu acabe com uma sentença de morte. ❜ às vezes, era como pagar pelos erros de outra pessoa. outras, era como um castigo pelas coisas que fizera às escondidas na tentativa de experimentar um pouco mais das coisas que povoavam sua mente. ❛ acho que sei do que está falando. ❜ finalizou, em tom solidário. ❛ e eu fico aqui com você. não vou dar espaço para que sua mente consiga fazer qualquer barulho, o que acha? ❜
⠀⠀⠀⠀ㅤㅤ⊱ㅤㅤpor mais que damien estivesse ao seu lado todos os dias, aguentando suas chatices e sendo um ótimo amigo, valentin era o único que realmente conhecia yoon. era impossível eles não serem próximos uma vez que suas famílias eram tão unidas. até seus destinos eram parecidos; aron seria um grande médico e diretor do hospital e valentin seria um dos maiores advogados da toda frança. talvez por isso o rapaz se sentia menos culpado de passar o tempo com ele do que com outras pessoas. só valentin sabia o que estavam deixando de lado por algum fragmento de diversão e isso o fazia se sentir menos sozinho com todo aquele peso que carregava ❝ e se a gente realmente dormir? ❞ tanto sua voz quanto a pergunta denunciavam que aron havia bebido mais que o suficiente ❝ damien não volta hoje… ❞ tomou um gole da cerveja, evitando o olhar do amigo ❝ é engraçado como eu sempre reclamo do barulho que ele faz enquanto estou estudando, mas o silêncio é bem pior… é quando minha cabeça faz barulho ❞ a confissão veio seguida de um encolher de ombros. quando finalmente virou para valentin, seus olhos brilhavam um pedido silencioso ❝ você já sentiu isso? como se estivesse num quarto completamente branco e estéril, sem portas nem janelas — e o pior não é a falta das coisas que deveriam existir, não — ❞ ele hesitou, engolindo em seco. pensou em tomar um gole da cerveja, mas só estava uma lata vazia em suas mãos, então continuou ❝ o pior são as paredes se fechando lentamente, tão lentamente que você quase não percebe quando ela se move, mas você sabe que o espaço tá cada vez menor e uma hora, você não sabe quando, você será esmagado; um dia você vai acordar e não vai sobrar nada além de uma lembrança do que você foi, das coisas que você queria experimentar, das pessoas que você… ❞ ele se interrompeu, piscou duas ou três vezes, então riu. era uma risada meio constrangida, meio embriagada, de quem sabia que tinha falado demais ❝ désolé, ça n’a aucun sens ❞ ele escondeu o rosto no travesseiro, sentindo o rosto queimar.
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