#⠀✶⠀﹒⠀𝐭𝐡𝐞 𝐩𝐫𝐢𝐧𝐜𝐞⠀⠀:⠀⠀development.
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𝑻𝑨𝑺𝑲 𝑰𝑰. ⸻ 𝑜 𝑝𝑟𝑖𝑚𝑒𝑖𝑟𝑜 𝑟𝑖𝑡𝑢𝑎𝑙 : escolhido pelo abismo
ㅤㅤㅤVincent sabia que não existiam deuses fracos — deuses era deuses, e jamais poderiam ser comparados a qualquer humano que fosse. Independente do que o escolhesse, teria o poder que precisava. No entanto, a parte vaidosa e ambiciosa o fazia desejar que fosse escolhido por um com um nome de respeito, com um papel importante que todos conhecessem. Ao menos os princípios precisavam ser alinhados para que não houvesse estranhezas. Mas ao inalar a fumaça do sacro cardo no primeiro ritual, a única coisa que passava por sua cabeça era o medo de não ser escolhido por nenhum deles. O medo de sentirem que ele queria mais do que merecia ter. Nada lhe parecia mais humilhante do que isso, e a ideia era aterrorizante.
ㅤㅤㅤQuando abriu os olhos, tudo que viu foi uma escuridão tão absoluta e silenciosa que nem mesmo ele parecia existir naquela realidade, como se tivesse sido jogado no abismo que era o vácuo do espaço. Mas então, tornou-se consciente dos próprios pulmões, cuja respiração saiu rasgando como se emergisse da água congelante depois de muito tempo afundado, um frio de doer as entranhas o atingindo como lanças. A respiração saiu alta e ofegante, mas Vincent logo se esforçou para colocá-la sob controle de novo, pois não estava sozinho — sabia disso porque sentia a presença o analisando.
ㅤㅤㅤ“Eu vejo que você tem algo obscuro dentro de você.” Ele ouviu uma voz dizer. De cenho franzido, o loiro virou a cabeça rapidamente para os lados, tentando identificar de onde vinha a voz, mas ela parecia vir de todas as direções ao mesmo tempo, como um ser onipresente. Talvez a intenção fosse justamente não ser visto. Talvez porque fosse um deus imponente, algo com o perfil que ele desejava.
ㅤㅤㅤ“Todo mundo tem um pouco.” O respondeu com convicção, sendo meio petulante. Não gostava de como se sentia analisado, embora fosse justo, já que também estava o analisando em retribuição. O silêncio se estendeu por um longo instante, como se ele estivesse ponderando se a resposta era boa o suficiente, o que o deixava inquieto. Sustentou a pose mesmo assim, porque queria se mostrar paciente e controlado. Foi então que uma luz dourada brilhou forte vindo do chão, obrigando-o a fechar os olhos com força por um momento, porque aquilo era uma agressão as suas vistas depois de ter se acostumado com a escuridão. “O que é isso?!” Mas quando os olhos se acostumaram com a luz, percebeu que era um papiro. Cintilante, mas ainda assim um.
ㅤㅤㅤ“Algo que você vai precisar ter consigo.” Vincent abaixou-se para pegá-lo, mas seus dedos atravessaram o papel como se ele não fosse algo físico. Não podia ver os lábios do deus que falava com ele, mas jurava ter ouvido o soltar de um ar que parecia uma risadinha. “...metaforicamente, eu quis dizer.”
ㅤㅤㅤ“Ha. Há. Muito engraçado.” O sarcasmo pesava na voz. Vincent não sabia que deuses tinham senso de humor, mas pelo visto quando o assunto era rir dele qualquer coisa parecia virar uma possibilidade.
ㅤㅤㅤ“As coisas destinadas a você virão através dos sonhos, mas instruções como essas serão psicografadas para que tenha acesso no seu mundo.”
ㅤㅤㅤJá que não podia pegar, resolveu passar os olhos rapidamente pelo texto para entender o porquê precisaria das tais instruções. Conseguiu identificar exatamente o que era: o livro dos mortos. Viu a figura de Anúbis pesando o coração de alguém na balança de Maat. Conhecia a importância do livro nas história egípcias, embora nunca tivesse lido o texto em si de algum deles. Por que precisaria? Sequer sabia se era algo que podia ser encontrado! Certamente não sabia ler egípcio, mas por algum motivo não sentia dificuldade alguma, como se tivesse adquirido a habilidade. Viu a coleção solta de textos com feitiços mágicos destinados a auxiliar a jornada dos mortos através do submundo. Amuletos e rituais de proteção. As coisas sobre a travessia do Duat, os perigos, os enigmas, as divindades hostis e os testes que encontraria quando tivesse que passar pelos guardiões. Morrer e ter que passar por tudo aquilo parecia horrivelmente trabalhoso... Mesmo assim, ainda não fazia sentido, já que não estava morto. A menos, é claro, que ele estivesse. “Isso quer dizer que…?”
ㅤㅤㅤ“Você não está morto. Mas precisará ser digno para me representar e sobreviver cada vez que for convocado ao submundo, é claro. Terá que a lidar com o poder em suas mãos. E eu particularmente tenho grandes expectativas em relação a você.” Certo, o discurso fez Vincent considerar abortar o contrato, recusar o deus ou o que fosse necessário para sair do buraco que tinha se metido. Não foi até ali para morrer, e aquele discurso mais lhe parecia uma promessa que ele se foderia muito enquanto hospedasse o deus que o escolheu. E no entanto, mesmo sendo estupidez, a ideia não deixava de lhe parecer interessante. Algo em Vincent sempre se atraia para o caos, a autodestruição e a ambição. Sendo honesto, saber que um deus tinha grandes expectativas sobre ele também o tentava. Talvez de fato fosse alguém capaz, já que aquele ser grandioso parecia enxergar sua alma. Entre todas as pessoas, tinha expectativas nele. No segundo príncipe. Vincent engoliu em seco, mas continuou querendo ouvi-lo. Então, a voz continuou: “Seu coração é a coisa mais imunda e pesada que eu já vi. Se estivesse morto, jamais passaria na balança, a menos que arrumasse um método ardiloso para burlar isso. No entanto, tem uma cabeça forte. É adequado para me servir e representar.” Dessa vez, a voz não parecia vir de todas as direções, mas de sua frente, se aproximando como uma serpente. Vincent quase deu um passo para trás, mas firmou as pernas no chão. Não poderia voltar sem um deus para hospedar. Preferia a morte do que essa possibilidade humilhante. “Você carregará minha glória, mas também todo o fardo que acompanha meu nome: Anúbis.”
ㅤㅤㅤFoi então que a escuridão o engoliu novamente, a névoa negra entrando por sua garganta e o afogando de volta para a realidade. Com a mão ao redor da própria garganta, ainda sentia a coisa pavorosa dentro de si, viva como nunca, tornando difícil voltar a respirar. Sentia o parasita poderoso a quem tinha entregado seu corpo marcando sua presença. Ao seu redor, ninguém parecia assustado, e Vincent decidiu fingir que também não estava, mas temia pelo que o aguardava; pelas coisas que iria encontrar em seus sonhos.
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✧ 𝐓𝐀𝐒𝐊 𝟏ㅤ⸻ㅤ𝐎 𝐈𝐍𝐓𝐄𝐑𝐑𝐎𝐆𝐀𝐓𝐎𝐑𝐈𝐎ㅤ⊹ ₊
Vincent correu os olhos pelas paredes rochosas da sala com uma expressão de nojo, desconfortável com a imundice do lugar não por algo que podia ver, mas por saber que estavam recebendo changelings no mesmo local. Que desrespeito com a realeza! Com o queixo erguido do jeito naturalmente arrogante, o príncipe cruzou as pernas ao se sentar na cadeira, não muito interessado em colaborar com a investigação sobre um incêndio. Oras, como ele poderia ajudar em algo se sequer estava presente?
“Posso fumar aqui?”, perguntou ao interrogador, que reagiu a pergunta inesperada com um levantar de uma das sobrancelhas. “Eu prefiro que não.” E Vincent, que não estava esperando pela negação, soltou um ar muito insatisfeito pela boca, a expressão se inundando com amargura para retrucar: “Certo, isso é uma prisão então. Sorte sua que estamos no subsolo e não no último andar, porque já que é assim eu deveria me jogar pela janela para agilizar seu trabalho de destruir minha vida!”
O interrogador revirou os olhos, desacreditado com tamanho drama. Estava acostumado a lidar com os mimados da nobreza, mas o príncipe conseguia se superar em todos os níveis. Iria considerar pedir um aumento a seus superiores mais tarde.
“Onde você estava no momento em que o incêndio começou?”
Vincent ergueu uma sobrancelha, como se achasse a pergunta um desperdício de tempo — o que ele realmente achava, se quisessem mesmo saber a opinião dele a respeito daquele teatrinho. Deveria haver uma investigação, é claro, mas chamar o príncipe para ser interrogado era um insulto.
“Não me lembro.”, respondeu o loiro, simplesmente. “Mas onde mais eu poderia estar? Dormindo. Com alguma dama ou qualquer coisa assim. Vagando pela biblioteca, talvez… Não é como se eu pudesse ir pra muito longe daqui, não é?” O interrogador não se abalou com o tom meio atravessado na resposta do príncipe. Ele anotou algo na caderneta em suas mãos e lançou a próxima pergunta com a mesma calma: “Você notou algo incomum ou fora do lugar antes do incêndio, seja no comportamento de outras pessoas ou no castelo de Wülfhere?” O loiro deu de ombros, indiferente, e respondeu: “Nada que possa ter a ver com os acontecidos.”
“Você notou algum dos dragões agindo estranho no dia do incêndio?” A pergunta foi tão inútil e desnecessária que Vincent preferiu se ocupar em cutucar uma lasca de madeira se soltando da mesa do interrogador, pois julgou que valia mais de sua atenção. “Sei lá. Não são sempre estranhos por natureza?” Dragões não eram basicamente demônios voadores? Vincent não tinha muito contato com dragões, mas não ousaria confiar em algum deles.
“Você teve algum sonho ou pressentimento estranho antes de saber do incêndio?” A pergunta o desperta da distração, deixando-o pensativo por um momento, como se tentasse resgatar algo no fundo da mente. “De estranho? Bem… Eu sonhei que Kieran estava usando um vestido meio provocante da Narcissa. Foi traumatizante.” O príncipe fez uma careta, encolhendo os ombros com a lembrança. “Como era o vestido?”, o interrogador perguntou, de cenho franzido. Vincent fechou a cara, mudando da água pro vinho com o interesse inesperado do coroa. “Irrelevante. Mais alguma pergunta inapropriada sobre minha família ou pretende continuar o interrogatório?”
O homem limpou a garganta, voltando a olhar para os papeis com suas anotações. “Você acha que o incêndio foi realmente um acidente, ou acredita que pode ter sido provocado por alguém? Quem se beneficiaria disso?”
“Não acho que foi um acidente, mas não dá pra apontar um culpado em específico. Há um traidor no exército, claramente.” Vincent começou a tamborilar os dedos na mesa, não com impaciência, mas sim pelo incômodo com a falta de respostas sobre o assunto.
“Na sua opinião, quem estaria mais interessado no desaparecimento do Cálice dos Sonhos e na interrupção do acesso ao Sonhār?” Para Vincent, só havia uma resposta para isso: “Uthdon, é claro. Talvez tenham se unido com alguns changelings. Algum tipo de revolução secreta liderada por uma minoria insatisfeita com o sistema, talvez?” O interrogador ergueu as sobrancelhas, surpreso que alguém mimado e imprestável como Vincent aparentemente havia realmente pensado no assunto, já que tinha a teoria na ponta da língua. “Qual o problema do sistema?” Secretamente, o interrogador só queria ouvir Vincent admitir os próprios privilégios e, pela primeira vez, reconhecer a desigualdade como parte do problema. Mas em vez de atender as expectativas, o loiro abriu um sorriso largo, os olhos com aquele brilho caótico, e disse: “Quase se bate demais num cachorro, é esperado que ele se revolte.”
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