Tumgik
sunsetju · 1 month
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ela não conheceu o mar, mas o mar era dela
vó,
sabe o balanço das ondas? acho que agora sim
vó, sonhei acordada com você
sonhei com praia e com mãos enrugadas 
sabe o balanço do mar? a senhora tem nas mãos
suas linhas da vida, seu poema traçado na pele
eu não consigo escrever
mas é o mesmo do balanço das ondas
falei tanto de jesus,
mas quase esqueci iemanjá
vó, sabe o balanço da cadeira? a senhora amava
queria sussurrar pra você
“é o mesmo do mar”
Fernando me disse “sua vó não conheceu o mar”
minha primeira reação foi desacreditar
como, alguém que balança tão bem na vida
na cadeira, e carrega o mar nas linhas da pele
e carrega o mar no peito, e sempre ninou o mundo
como alguém como você, vó
nunca sentiu o gelo dos pés na ressaca da praia
nunca sentiu a mistura do sal, do suor e do frio
na pele enrugada
você olhava suas mãos com frequencia?
já não vejo mais o mar da mesma forma
imagino as ondas como suas mãos estendidas,
viradas pra baixo
abençoando o chão que piso.
todas as vezes que eu entrar n’água,
vem comigo?
o frio do mar,
não é o frio da rodoviária de madrugada
a brisa que sopra, a agua gelada
não são as mesmas de tomar chuva
no fim da noite, vendendo avon
a senhora já tocou areia?
não da roça, areia-pedra de praia
areia grossa, assada
o desejo de todos que falam de você
é sempre poder voltar no tempo
e te oferecer mais do que foi dado
ninguém tinha nada pra dar
e a morte levou todo o resto
a gente sentiu tanto, e eu nem pensei no mar
eu queria ter sido o hoje, quando a senhora era o agora
faria qualquer diferença olhar pra você
e conseguir te carregar pelo menos uma vez
pra senhora descansar no mar de elo que você
manteve.
J.S.
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sunsetju · 2 months
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Tem os que chegam de ônibus
Na tristeza, na raiva
Carregam mais um dia nas costas
O peso de uma cidade,
Mil vidas em uma.
Tem os que correm,
Mas em direção a alegria.
Uma vida que vale milhões.
Correndo pelo bem estar,
de estar rico.
Correm por prazer,
E os do ônibus fogem por necessidade.
Correm pela vida,
Acompanham o ritmo do sistema.
O ritmo do ódio, do cansaço e do trabalho.
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sunsetju · 3 months
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oração
descobri que
quando oro, oro a deus
mas que deus sou eu
e todas as forças que me rodeiam
e toda energia que gira em mim
quando peço socorro,
não é pela religião, pela crença ou fé
e pelo amor que sinto por mim.
È minha forma de dizer "preciso de ajuda"
ao meu inconsciente.
não é que não tenho fé,
mas que peço a tudo que me pertence.
Olho pra dentro, chego aos quatro cantos do meu ser.
Peço as forças da minha mente, do meu corpo e do meu coração.
Hoje chorei e pedi "por favor, deus",
e quando percebi, estava suplicando forças a quem mais sabe de mim: eu.
deus, de uma forma ou de outra, existe e vive em mim.
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sunsetju · 3 months
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eu sinto raiva. raiva da injustiça sentimental que é estar ao seu redor. você é como um ralo, drenando tudo de mim. eu já quis que você morresse, e isso não é sobre morrer. ontem eu quis que você morresse, porque você não quer mudar. quis muito tanta coisa com você e de você, aprendi que você é você e eu sou eu. não interessa o que quero de você, e muito menos o que você quer de mim. mas já quis muito tanta solução, que a morte, ontem, me pareceu a única opção, e pela primeira vez não quis a minha (morte). entendi que estou em perfeito consenso comigo, mas nunca com você, porque pra você nunca serei suficiente, em nada. não chego a lugar nenhum segundo suas pupilas. mas olha onde estou. estou aqui, ainda. e não quero mais ir para lugar algum que não seja pra casa. e minha casa sou eu, mesmo eu tendo nascido daí. eu tenho medo de querer morte e receber, então estou em busca da terceira opção: nem eu, nem você, morreremos. Então, morte à expectativa.
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sunsetju · 4 months
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hoje
virei a esquina
vi o manacá florido,
sorrindo pra rua.
ir a cidade e ir ao parque.
atravessar a rua,
enquanto falam as flores.
a cidade parece convidativa
quando verde.
um céu azul de gal
a vida ressoando sementes.
morar longe do mar,
e carregá-lo nos braços.
matinas noturnas,
baladas e baladas
na cabeça, nos tímpanos
na alma.
o mundo falando enquanto ando.
sigo muda,
mas com ouvidos bem abertos,
pra verdade ao redor.
ladrilhos falam lendo, andam rápido,
peço venha, me atraso.
telhas guiam o caminho.
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sunsetju · 4 months
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a palavra que sai de mim, e lanço ao universo
vem de lugares que desconheço, ou que conheço pouco
são minhas e permito aos outros um olhar enviesado
aos que me leem, não existe sentido comum entre nós.
Mas existe palavra.
A palavra que me toca, e brota.
Brota no outro diferente. Não existe unicidade, existe um amplo alcance.
As minhas pontuações erradas, meus cortes sem nexo,
me indicam ao mundo, como ser semi-racional
eu não digo nada concreto, só cimento molhado.
não gosto de dizer direto, me toco em trancos.
não existe equilíbrio de olhares quando falamos de dizeres.
a minha mensagem é, na verdade, de você pra você.
eu mal existo em ti.
sou ponte do invisível, escrevo pra mim, e foda-se quem lê,
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sunsetju · 5 months
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Ela me disse pra escrever, e não consigo. Hoje, ao invés de escrever, chorei. Chorei o nome da minha mãe, e as memórias das dores que acompanham sua existência. Ou seriam a minha existência dentro da dela.
O tremor ocorre, é inevitável. Os olhos umedecem, é inevitável. Contar sobre nós, sobre essa rede de dobradiças que você me fez virar.
Escrevo com trauma e medo, e mal considero como escrita, seria mais um desabafo registrado, pra não esquecer de levar pra ela na semana que vem.
Ninguém escuta o que eu falo, ninguém entende o que eu quero e eu sempre querendo querer o que os outros querem, mas dentro de mim existe um monstro faminto pela terra, ele quer cavar.
Ou melhor, ela. Ela quer cavar terra adentro, pra dentro, devorar, comer mesmo. Eu estou cansada demais pra pensar sobre como dizer de forma que bodes entendam. E não aguento mais o carro latindo na esquina de cima. A querida me vigiando, o sol escondido atrás das nuvens, a planta preocupada se tomou muita água.
Quero silêncio aqui em cima. Quero ouvir as canas se batendo, a roça do cachorro na grama, o cheiro duvidoso que vem debaixo. Mas meu cérebro não para, ele não sabe se fala, se chora, se grita ou geme (de dor. Ou melhor, ela. Ela não sabe, mas quem sabe?)
Hoje ela disse que talvez fosse camuflagem ou trauma, acho que seriam os dois. A camuflagem do trauma, ou o trauma em camuflar. Pensar o tempo inteiro desliga a sensibilidade e faz com que qualquer pedra pontiaguda seja suficiente pra recalcular rota. Depois do estrupicio, tudo é caminho novo.
Impressionante como os tênis gastos juntam areia e cimento no encalço.
J.S
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sunsetju · 5 months
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pajaros mudos
tu silencio es algo
como un sonido alto
pero silencioso
como un pajaro que canta al fondo
pocas personas te escuchan
pero mi oído es absoluto
y tengo una pasion por los pajaros
como tú, pajaros tristes
que todavia cantan.
una o dos canciones tristes
canciones hermosas.
que me duelen el pecho,
y me hacen llorar.
pero tu serias mi banda sonora favorita.
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sunsetju · 5 months
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Incongruências
O sol se atrasa
e as vezes a vida dá dessas
Tem dia que a lua não vem
Existir demanda incongruências
Ser não é linear
é uma constância ondulatória
de sol, lua e nóias
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sunsetju · 6 months
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inveja santa
teus dedos desenham
histórias dignas dos livros divinos
historias desejadas ao redor do universo
tanta gente sonha
pouca gente sabe
que você tem
todo poder dos céus
faz um mundo paralelo
com as próprias mãos
deus teria inveja
se você desse ao mundo
seu faz de conta
e colocasse a cara
pra competição
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sunsetju · 6 months
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existe maldade no domínio de palavras
porque todas as vezes que digo, as digo com fervor
o fervor da fé do devoto da sexta santa
com o mesmo fogo que queima das romarias
fogo de chama de fé, ou de inferno
o inferno particular, ou a chama de sentimentos que brotam
porque sei que faço parte dos romeiros
que sobem as paredes, de aparecida do norte
mas não as mesmas paredes
eu escalo montanhas, de dentro da ardência
do fogo poemagórico que reverbera na sua face
nas imagens pitorescas das paredes do poço
montanhas, entranhas, vontades
existe um jogo de palavras
bonito demais quando de dentro
perigoso demais quando em alto e bom tom
assustadores demais em vozes inseguras
mas que carregam verdades filosopoéticas
e romanquíticas.
As palavras reutilizadas e reinventadas,
de dentro, de fora e do meio
o eu pouco certeiro.
E a vontade intrínseca.
existe, sim, vontade mal intensionada.
vontades esganiçadas e universais,
repescadas nessas minhas palavras.
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sunsetju · 1 year
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ela e voz
Lhe amo como amo palavras em contextos específicos de formas diferenciadas
sentimentos adaptados a situações não ensaiadas ainda assim demasiado, amor de enseada.
Frases secas em vários ouvidos e profundas às almas dedicadas
Vos amo como amo palavras, em sons acentuadas.
Amo-a como amo caladas da noite caladas a imensidão do horizonte, águas e águas.
pequenas, lentas, desalmadas
ainda assim,
palavras cantadas quando de sua boca meu nome escapa
amo, como amo, palavras. bem ditas e atreladas às cordas vocais de suas entranhas
porque amar também é vossa palavra.
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sunsetju · 2 years
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Tumblr media
A vista de agora, queria que fosse você. Mas olho pra frente e não enxergo nada, tentando entender o que quero falar. Sabe, muita coisa passa na cabeça, muita dor que ainda não tive tempo pra curar e muitos medos que me paralisam. Queria poder colocar meu coração pra fora e deixar você examiná-lo com uma lupa, quem sabe a sim tudo o que eu sinto se torne mais visível e eu seja mais legível pra você, meu bem. As coisas que eu sei sobre medo, sobre sofrimento, sobre saudade e sobre fim é o que mais tenho pavor me permitir sentir de novo, mesmo entendendo que tudo são ciclos, eu morro um pouco a cada possiblidade que minha ansiedade me apresenta. Me saboto, te jogando contra mim, me saboto tentando fazer com que você fuja de mim, porque assim não preciso lidar com metade dos meus medos. A minha realidade é que não sei se estou pronta pra enfrentar meu próprio eu, fujo de todos, mas principalmente de mim.
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sunsetju · 3 years
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Tenho medo de sentir, medo dos meus pensamentos, medo de não conseguir vencer a sabotagem e me jogar num rio seco, cheio de terra e sem vida. Meu medo de perder o sentido, de não saber de onde vim ou pra onde estou indo. Não sei se tenho forças pra viver de novo, parece que meu corpo, meu âmago, meu fôlego pedem pra parar de tentar. Queria só boiar sobre a água e sentir as ondas leves nas costas, preciso sentir o sol me cegando e me fazendo ver a luz forte. Os barcos imaginários que se fazem brotar. Queria boiar pra não sentir o tempo todo a necessidade de afogar, afundar e perder o rumo. Preciso sentir o sal, preciso sentir a água e as ondas me assustarem, pra poder voltar em tempo.
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sunsetju · 3 years
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Vocês me matam aos poucos
Com suas crenças tortas e palavras burras
Vocês me enterram aos poucos
Com suas crenças burras e suas palavras tortas
Vocês me apagam aos poucos
Me matam e matam e matam e matam
E eu morro morro morro morro e morro.
Mas ainda estou vive. Ainda que em porcentagens baixas, ainda que me arrastando,
Viva.
Ainda que em limbo, em tempo, vivo.
Sigo estrategias de sobrevivio. Em dor, enterro e demolições.
Peso mais que eu mesme em balanças quebradas, me arrasto pro beco.
Corro, morro, corro, morro, subo e desço.
Minha estrada sem fim, que nunca me fará chegar ao topo, porque vivo entre um e outro, mas não no meio.
Sou a única pessoa sã nos meus vastos pensamentos, mas não sou suficiente pra silenciar tudo.
As vezes eu quero morrer e morro de mentira, pra ver se eu chego logo ao fundo do poço, pra poder encarar qualquer que seja a próxima subida.
Pegar o famoso impulso pra superfície e assim conquistar um fôlego em suspiro.
Queria que meus pulmões fossem guelras. Para não precisar emergir em água quando o desespero me atingisse.
Qualquer cenário me pareceria vantajoso que esses segundos antes de precisar de impulso pra subir, só pra respirar o tempo exato de um suspiro e precisar voltar ao fundo e beirar o afogamento.
Peixe, tubarão ou água viva. Qualquer cenário me pareceria promissor, até certo ponto.
Mas meu corpo permanece meu e não sou outre que não eu. Preciso respirar pra poder beirar a morte e transbordar de volta à sanidade.
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sunsetju · 3 years
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Pensar em te ver me trouxe a Campilho repetidamente. Esperar pra te ver é reviver Matilde sem pausa. A voz dela, que não sei o timbre, ecoa aos ouvidos de dentro "ou é úlcera, ou é amor". Tendo a concordar com ela, mas nunca tive úlcera, só amei.
Quero adaptar os sentidos de Matilde pro nosso romance, onde eu poderia dizer que é "gastrite nervosa, piriri ou amor". Mas a realidade é que nenhum dos três, dos cinco ou sei lá quantos encaixa no que eu sinto antes, durante é depois de encontrar você. Enquanto espero eu penso no quanto esse sentimento queima minhas entranhas, faz a bile borbulhar e quase sair pela boca. Quando estou com você a sensação é outra, todo o desespero se foi, o que fica é aquela sensação de deitar na cama depois de um dia fodido e, por isso, eu verbalizo tanto que quero dormir com você. E depois que você vai embora, ou eu vou embora, ou nós duas vamos embora, a sensação é a mesma dos três segundos que antecedem um desmaio. Pressão baixa, zero noção de tempo, espaço e uma quase-morte, em que tudo fica escuro e formigando. Amar você não é só sobre úlcera, é sobre nascer, passar mal, desmaiar, dormir gostoso, ficar feliz e comer doce. Porque amar você é tipo uma conquista, mas tá mais pra vitória.
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sunsetju · 3 years
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Delonix Regia
her arms just like flamboyant
flames of the forest
hot, strong, alive
all over me.
Just like the flames of a huge fire
alive, royal and powerful.
As any women, as all of them.
strong and flawless.
Her legs like fire on my hands.
Her thighs burning and burning on my cheeks.
She is like flames into the woods.
Tearing my heart apart, burning all alive.
She is my flamboyant, bursting around.
J.S.
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