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Você toma remédios?
É difícil contar essa história, mas foi a partir dela que eu renasci.
Pra começo de conversa, vale mencionar que venho de uma família muito dependente de remédios, que encontra, sugere e receita todo tipo de medicamentos como única solução pra qualquer incômodo. Uma família maravilhosa e muito amorosa, diga-se de passagem, mas com esse péssimo hábito, adquirido há gerações, de medicar-se sem pudores. Pra quem acredita em vidas passadas, já vi esse episódio ocorrer com minha avó em outras dimensões. Entao o papo aqui é sério..
Minha relação nessa trama, começou sob responsabilidade minha em 2008 quando comecei a ter crises de enxaqueca. Eu falo responsabilidade minha porque até então eu era um reflexo da educação recebida pela minha família, mas a partir daí, quem escolheu o percurso fui eu.
Era um remédinho pra dor de cabeça num dia, outro pra ansiedade no outro, mais um pra uma gripe que parecia chegar...
Amigos sempre me alertaram sobre esses excessos com piadas e eu nunca levei a sério. Ouvi médicos dizendo que exaqueca não tem cura e que eu poderia tomar antes mesmo de sentir dor, ou tomar um a cada meia hora enquanto a dor não passasse (mesmo que isso significasse 10 comprimidos).
Sim, eu fui o resultado de uma sociedade inteira que normatiza o uso de medicamentos, uma sociedade que cultua o prazer acima de qualquer sacrifício em prol da saúde, uma sociedade que tem uma medicina voltada a curar doenças e não a previni-las. Mas a responsabilidade foi sempre minha.
Uma década depois, eu já tomava dois a três analgésicos por dia, todos os dias. Viciada? Imagina, eu tinha dores, oras. Nunca ninguém enxergou a gravidade disso. Afinal, se vende na farmácia, não faz mal, né?
Da noite pro dia, meu corpo explodiu e desenvolveu alergia a toda uma série de medicamentos. Da noite pro dia ou ao longo de dez anos?
Tive que escolher entre cortar todos os remédios de uma vez ou correr o risco de ter a glote fechada. Claro, que não era uma escolha, mas como sobreviver a uma enxaqueca não medicada?
E eu sobrevivi. Com dificuldade no começo, com abstinência, com muita vontade de tomar um analgésico no finzinho da tarde que servia como um relaxante pra todos os meus problemas emocionais. Mas eu sobrevivi.
As crises de alergia duraram meses. Eu acordava com o rosto deformado, a minha pele queimava de tanta coceira, eu tive feridas pelo corpo. No meio desse sofrimento e devido a tantas idas ao pronto socorro, acabei pegando uma catapora, aos plenos 27 anos de idade, me obrigando a ficar isolada em casa por uma semana, sem contato com ninguém e com bastante dor.
Tanta dor provocou uma catarse no meu espírito. Eu finalmente entendi que precisava mudar meu estilo de vida e comecei, ali mesmo naquele quarto escuro, uma jornada de redirecionamento de perspectiva. Me olhei no espelho e não gostei do que vi, mas eu queria muito gostar.
Então, eu criei um plano, fiz uma lista com vários itens que iriam sair ou entrar na minha vida.
Descobri um remédio que não me dava alergia, mas que poderia dar com excesso de uso, então comprei uma cartela com 10 cumprimidos e faria ele durar por um ano, usando só para emergências. Cortei todos os outros remédios, ansiolíticos. Tudo ia ser curado com chás, alimentos e suplementos.
Voltei a frequentar semanalmente um centro espírita que sempre foi importante pra mim, mas que havia deixado de lado, como tantas outras coisas importantes. Voltei a praticar atividades físicas. Comecei a meditar, nem sabia como fazia isso, mas comecei mesmo assim.
Na minha alimentação, os primeiros cortes foram de embutidos. Diminui o consumo de álcool, que também era uma fuga e que também é um problema familiar e social.
É difícil ser uma pessoa tímida, introspectiva e ansiosa num mundo onde a base da socialização é regada a álcool. Era minha única saída, manter-me bêbada pra conseguir conversar com estranhos e parecer muito divertida. No dia seguinte, eu sempre me odiava, mas demorou anos pra eu assumir que essa dinâmica não me fazia bem.
Bom, isso é assunto pra outro texto...
Seguindo nas mudanças alimentares, comecei a consumir própolis, probióticos e leite de melhor qualidade todos os dias.
Deixei essa listinha ao lado da cabeceira da cama para reler pela manhã, todos os dias. Ao lado, escrevi a frase "que o seu remédio seja o seu alimento e que o seu alimento seja o seu remédio".
E parti nessa aventura que nunca teve fim e que só melhorou...
O yoga tem grande influência na minha cura, foi através das práticas que eu reencontrei o meu propósito de vida e me reconectei com o meu corpo e a minha mente. Por causa do yoga, eu virei vegetariana, eu cortei o consumo de laticínios, eu cortei totalmente o uso de remédios, eu curei minha fobia social e melhorei muito a minha ansiedade.
Essas dificuldades que eu passei foram um portal que o universo colocou no meu caminho pra que eu pudesse me reconectar à minha origem e à minha missão. Tudo que aconteceu comigo foi essencial pra me empurrar pra onde estou hoje.
E com esses ensinamentos, eu entendi que parte da minha missão é ajudar outras pessoas com dificuldades parecidas a encontrarem a cura através do reencontro com si mesmas.
Sou muito grata a minha família por me permitir ser quem eu sou, mesmo sendo tão diferentes deles, por me apoiarem e me deixarem ensiná-los um pouquinho do que eu aprendi com essa trajetória.
Sou muito grata ao meu amor por ter me apoiado todos os dias, por me dar meu primeiro livro de meditação, por sempre propor que eu fosse inteiramente livre, sem nunca deixar de me amar.
Sou muito grata ao universo por me guiar sempre aos melhores caminhos, me proteger sob qualquer circunstância e me abençoar diariamente com tantas descobertas sobre a vida.
Hoje faz 8 meses que não coloco nenhum medicamento na boca e quero dizer que estou aqui, pra te dar a mão, caso você queira dar o primeiro passo em direção ao seu reencontro. Não é tão difícil assim e você nunca estará sozinho.
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Minha Experiência com Ayahuasca - Instituto Xamânico Morada do Céu Azul
Estávamos em 6. Eu, o Tulio e 4 moradores do instituto, em volta da fogueira, no meio da floresta, sob a lua cheia e um clima muito frio e úmido. Era noite de sexta-feira, 25 de Junho de 2021, meu aniversário de 30 anos. Uma data em que o universo conspirou pra que eu estivesse ali...
O padrinho da missão, como é chamado o dirigente do instituto, abriu a cerimônia com uma oração, evocando os espíritos da natureza, guias de luz e pedindo proteção e abertura aos participantes. Uma música indígena tocava bem alto e eu comecei a me tranquilizar – até àquela hora, meu coração batia a mil e eu estava com vontade de desistir.
Primeiro, iniciamos com uma técnica chamada Rapé, na qual é introduzida uma espécie de canudo nas narinas e soprada uma fumaça nelas, feita a partir de tabaco e folhas de árvores. Essa fumaça tem o poder de abrir a glândula pineal, o chackra coronário responsável pela comunicação com o mundo espiritual. Instantaneamente senti uma sensação de leveza tomar meu corpo, e com uma ligeira tontura aguardei que o dirigente me desse um copinho de chá de ayahuasca, devia ter menos de 30ml.
Dei o primeiro gole e gostei – já tinha ouvido dizer que era amargo e intragável, mas achei bem melhor do que o esperado. Comentei que havia gostado e uma das pessoas me disse que eu era a única.
Então me deitei em uma espreguiçadeira e fechei os olhos. Alguns minutos depois, imagens começaram a aparecer... não era um sonho, eu estava acordada; não era imaginação, eu não tinha controle sobre o que aparecia; também não era alucinação, eu estava bem lúcida. Ao olhar pra dentro, eu via meu corpo como o universo. Uma escuridão estrelada e infinita. Comecei a perder a noção de espaço, me senti muito leve, como se eu estivesse de ponta cabeça, voando. Parecia que eu deixava meu corpo físico, mas ao mesmo tempo eu estava consciente sobre o que acontecia ao meu redor, fora daquele pensamento.
Ao abrir ligeiramente os olhos, eu via tudo acontecendo normalmente e me desconectava daquela viagem. Resolvi não abrir mais os olhos e me entregar de forma mais profunda.
Aquela espreguiçadeira se transformou em um tapete voador e eu fui sendo levada a uma viagem maravilhosa. Eu vi a Índia dos meus sonhos de infância, vi muitos animais ao meu lado, senti a presença divina a me guiar. Tudo pareceu acontecer em 10 minutos, mas j�� se passava 1 hora. Abri os olhos com um barulho e o padrinho me perguntou se estava tudo bem e se eu queria outra dose.
Eu respondi que sim, que estava maravilhoso e que eu queria continuar nessa viagem. Então ele me deu um copo com três vezes mais chá do que da primeira vez, olhou pra mim e disse: Você vai mergulhar agora, tá? Deus te abençoe. E como se ouvisse uma voz sussurrar em meu ouvido, coloquei todo o chá na boca, engoli uma pequena parte e quando ele se virou, eu cuspi o resto. Essa voz me disse que eu ainda não estava pronta para tanto...
Fazia muito frio, então fui buscar um casaco e alguns cobertores, enquanto aguardava o efeito da segunda dose chegar. Deitei e fechei os olhos novamente e como que num passe de mágica, lá estava eu, naquele tapete voador sob a luz do universo que havia dentro do meu corpo. Dessa vez, um gato negro me guiava e ele me levou pra uma floresta encantada, brilhante, havia índios, seres iluminados, vagalumes, plantas fluorescentes. Me senti naquele filme do avatar. A beleza que eu via não se pode descrever em palavras. As cores tinham emoções, meu corpo vibrava junto com a natureza. Eu, os animais e as árvores éramos um só e pulsávamos num ritmo cardíaco único que combinava com a música xamânica que tocava ao fundo.
Ao abrir os olhos, eu já não via o mundo físico. Meus olhos estavam totalmente mergulhados na minha mente. Olho aberto e olho fechado já não eram diferentes.
A minha visão foi se tornando caleidoscópica, destorcida. Várias imagens numa só tela, muita informação que eu já não conseguia processar. Lembro que o cenário tinha se tornado urbano. Aquela floresta mágica se tornou uma cidade pós-apocalíptica. Eu vi alguns chineses dançando de maneira robótica, vi punks com seus moicanos coloridos, piercings na cara e línguas cortadas, vi porcos gritando, muros caídos, prédios em chamas, uma cidade inteira destruída. Não senti medo, mas senti desconforto. Por que eu fora levada de um lugar tão sutil e brilhante para outro tão denso e horrível? Foi o contraste entre a criação divina e a destruição humana.
Nada fazia sentido ainda, eu recebia centenas de imagens, mensagens indecifráveis, eu queria sair de lá. Meu corpo físico começou a gritar. Sem enxergar nada da “realidade”, eu levantei e falei em voz alta que estava passando mal. O padrinho chegou bem perto de mim e eu só via o rosto dele, envolto por outras mil imagens. Ele me disse: Vou chamar minha esposa para te ajudar, aguenta firme.
Meu estômago se contraía, eu pingava de suor, precisava vomitar. Então, a Renata, esposa do dirigente e também conhecida como madrinha da missão, chegou até mim. Ao olhar pra ela, eu vi uma deusa indiana inteira azul e de cabelos negros. Ela me levantou e me deu um abraço, falou pra eu respirar. Minhas pernas bambeavam, estava muito difícil ficar em pé, meu medo aumentava. Ela me levou para o banheiro, não sei como cheguei lá, estava muito difícil ficar em pé, repito. Sentei no vaso, tudo junto e ao mesmo tempo, vomitei, fiz cocô, xixi, suava litros e sentia uma força me puxar, minha mente queria ir embora, meu corpo queria ficar. Nessa briga, ambos lutavam por controle. Já não éramos mais um só, era meu corpo, minha mente e meu ego disputando a pouca força que eu ainda tinha. Meu corpo tentava expurgar de todas as formas e buracos que havia, lágrimas, contrações e muita dor tomavam conta de mim. Minha mente totalmente confusa era atraída por uma força, um portal, de volta pra viagem, era forte demais. Minha razão – ou ego – parecia comandar, tomada pelo medo da morte, berrava dizendo “volta Renata, você vai desmaiar, vai entrar em convulsão, aqui não tem hospital, respira e volta”. Meu corpo tremia, não de frio, de energia. Não sei quanto tempo durou, a madrinha conversava comigo e quase não me lembro do que ela dizia. Mas aos poucos, a dor passou, a força cessou, minha mente voltou ao meu corpo.
E de repente, me vi sentada na privada, com a porta aberta, toda destrambelhada, com 30 anos e uma vista da lua incrível, ela brilhava gingante. Me senti grata, e gargalhei. Imagina a cena?!
A madrinha, Renata, me sugeriu para sair de lá, lembrou que era um local de descarrego e ficar muito tempo ali não seria bom. Levantei e seguimos... comentei com ela sobre a deusa que vi nela. Ela me parou, disse que estava arrepiada e me perguntou como era a deusa e, após a minha descrição, disse que era a Deusa Kali, a deusa da morte e do renascimento e que ela era sua devota. Seus olhos se encheram de lágrimas, ela me abraçou e agradeceu pela visão. Meu coração se aqueceu, me senti novamente no lugar certo, todo o medo foi embora.
Sai de lá, sentei perto do Tulio, que estava preocupado comigo e disse a ele que eu já estava melhor. Contei tudo o que havia acontecido e comecei a chorar. Decidi me afastar um pouco e sentei onde podia ver a lua. E ali comecei a processar tudo o que eu vi e senti. Como se finalmente todas as perguntas estivessem sendo respondidas. Entrei em uma crise de choro que durou longos minutos, fiquei presa ali, eu só chorava e agradecia, pedia desculpas ao universo por não ter conseguindo me entregar tanto quanto ele me pedia. Foi então, que vi um preto velho, com um vestido branco, ao fundo dele havia uma porta de madeira bem grande e ele apontava pra ela com um sorriso gentil. Entendi que eu estaria amparada quando quisesse atravessar aquele portal, mas que não precisava ser ali, naquele momento, se eu não me sentisse pronta.
Levantei e sentei perto da fogueira, entrei em estado de meditação profunda, o fogo estalava e nada mais importava. Fui alcançando cada vez mais profundidade, me conectei com meu corpo e com a minha mente. Aos poucos fui entendendo todas aquelas mensagens. Entendi que meu corpo é um templo, Deus habita dentro de mim e existe um universo cheio de luz e estrelas dentro dele, nesse universo existe tudo o que há de mais divino e maravilhoso, assim como existe dor, medo e escuridão. Cabe somente a mim escolher em qual frequência vibrar, em qual local habitar. Cabe a mim não me conectar com o que há de ruim no mundo e nas outras pessoas, pois quando eu me conecto, minha mente sofre, meu corpo adoece, meu ego domina e minha alma se perde do único caminho possível: o belo, o alegre, o divino. Nada está sob controle, planos são falhos, não existe futuro, não existe passado, tudo é ilusão. Foi como se um véu fosse retirado, como se meus olhos finalmente enxergassem após a cegueira, foi como voltar pra minha origem. Novamente senti a força puxar a minha mente, meu ego assustou, meu corpo reclamou e um arrepio tomou conta de mim. Ia começar tudo de novo. Levantei. Gritei: gente, tá acontecendo de novo, estou sendo levada, não quero sentir aquela dor. A madrinha me puxou para sentar com ela, me deu as mãos e orou comigo, pediu que a força diminuísse. Mas meu corpo tremia, vibrava, a força me puxava. Quanto mais rezávamos, mais intensa ficava. Soltamos as mãos e eu orei sozinha que não me levasse, que eu não estava pronta pra ir tão fundo.
Dessa vez foi menos doloroso, mais rápido, deu menos medo. Passamos horas conversando sobre o universo, o poder feminino, sobre as mulheres lobas.
Passaram-se 5 horas desde que iniciamos o ritual, a força cessou e o padrinho chamou a todos para o encerramento, fez uma oração e passou a palavra para todos os presentes, que dividissem suas experiências com o grupo. Todos agradecemos, todos tivemos experiências muito diferentes, a força bateu mais em mim do que nos outros. Por quê? Não sei, só sei que fui de corpo, alma, mente e ego acreditando em tudo o que aquela medicina poderia me dar. O que teria acontecido se eu tomasse a segunda dose inteira? Nunca saberei. Alucinei? Nunca me senti tão viva, tão conectada, tão lúcida, tão consciente. Espírito e matéria andaram de mãos dadas. Foi o melhor aniversário da minha vida. Me sinto inspirada, focada, presente. Vejo mais ao meu redor.
A medicina ayahuasca ainda atua em mim.
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Faz o que tu queres, pois é tudo da lei.
Raul Seixas
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Contra o mundo reversível e as ideias objetivadas. Cadaverizadas. O stop do pensamento que é dinâmico. O indivíduo vítima do sistema. Fonte das injustiças clássicas. Das injustiças românticas. E o esquecimento das conquistas interiores…
Manifesto Antropófago - Oswald de Andrade
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Two years he walks the earth. No phone, no pool, no pets, no cigarettes. Ultimate freedom. An extremist. An aesthetic voyager whose home is the road. Escaped from Atlanta. Thou shalt not return, 'cause "the West is the best." And now after two rambling years comes the final and greatest adventure. The climactic battle to kill the false being within and victoriously conclude the spiritual pilgrimage. Ten days and nights of freight trains and hitchhiking bring him to the Great White North. No longer to be poisoned by civilization he flees, and walks alone upon the land to become lost in the wild.
Christopher McCandless
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Poetas nasceram para ficar sozinhos. Assim, podem dar jus ao título.
D C Monroe (via oxigenio-dapalavra)
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