poerica - Tumblr blog

[poerica]

Carro do camarão

O carro de camarão é um gatilho para que recordes tuas angústias, ou o voo livre do pássaro, ou uma onda mais suntuosa. O que é a paranóia né minha gente, onde dorme? Quando, como? Se falar em drogas for tão escandaloso para nós, vamos falar de camarão. O som da voz que vende é firme e até passa confiança. "Camarão que tem bom gosto, bom tamanho, camarão de correnteza, direto do pescador para o consumidor, olha o camarão, R$ 20 reais".  

[poerica]

Terapia

Hoje acordei sonhando que alguém tentava me matar e de fato sinto que algo morreu. Mas nem se compara ao que renasceu em mim. O mergulho altruísta dos acasos nos gemidos e panos, naquilo tudo que espera no silêncio do caos aberto na moleira, sortilégios, estou do lado certo dos injustiçados, atentos. Sonhei com uma fala contundente, meu corpo expurgando a fala: Não toque no meu corpo, como quem se levanta e reage impondo limites presos antes em medo, mas agora fluem graças a mim mesma. Por ver e sentir que não posso mais calar. 

*Nota sobre sonhar com cada vez mais recorrência a figura do abusador. Onde estão os rejuntes?

[poerica]

[poerica]

Bar da estrada

Divina é triste sair sem você, é pesado ver que você prefere mil vezes ficar bem com o pessoal do restaurante, do que admitir que sua falta de interesse em me ajudar a resolver algo que já estava certo. E me expor a situações incabíveis, como papos sobre cadeira de rodas. Todos negam as intenções materiais. Diz o homem que o tio negociou os eletrodomésticos e móveis. Outro velho enfatiza “Se tão tiver ninguém é saco preto. Se você morrer uma parte importante de mim morrerá com você. Se acha que é importante não morra agora” 

[poerica]

ainda não acredito que mataram o amarildo

as pessoas obvias irão dizer que o crime é uma constante ameaça

Na minha pouca experiência com a lida eu diria que é o início de tudo

[poerica]

Pakita Pikita

maçonaria - rústico

pássaros - alvos

[poerica]

Nota 1

Acabei sendo convencida a provar cachaça de genipapo e gostei.

nervoso que eu tinha do cheiro da fervura

[poerica]

Praia Grande

a mulher com o cabelo depois da cintura nos olha mexendo na cabeleira que atrapa no balcão entre os biquinis fluorecentes, camisas que prometem proteger dos raios ultravioletas

um casal discute a responsabilidade de quem ficará com aquela criança "a vida é assim daniella, se acostume", e ela diz com a cara de lado que não é apaixonada por ele as coisas são assim, se acostume, e a baby consuelo sendo relida ao sol, o beijo que ela dá no homem depois da fala, em busca de outro beijo, o som dos dedos nas cordas do violão os ouvidos que se inclinam às sandálias, crianças lânguidas vestidas com roupas coloridas de última hora, maiores, a última coisa que pensei ou pensaria é bossa nova a bruxa do sonho me disse: não sou sua amiga, e me jogou uma magia, depois disso eu vomitei uma coisa espessa tipo farinha láctea, a força dos confrontos que só acontecem no plano cerebral

com minha cachorra no colo vejo uma menina de maiô verde sapo pedindo sorvete da tia ao som de vocês refazendo mal acostumado, Átila mijando no case de couro sintético do violão

disputa do pincher com o labrador do melhor mijo, são muitas camadas, Átila caga nas cascas da palmeira para não lidar com isso, a merda fica suspensa

o violeiro recorda a bravura de sua mãe fazendo frango com quiabo em grandes panelas, reunião em círculo para comer, sarro dos que têm vergonha de levar comida para a praia, vulgo farofeiros

chega a irmã e a festa acaba, o brilho finda, como se família matassse o lúdico do boêmio, pouco riso quando interrompido pela pessoa de mesmo sangue e passado, naquela praia

[poerica]

Tenha coragem

Sua frustração te desnuda, o relógio não te perdoa, nada te poupa de um baque. Sua malta se esvai. Teu filho te apunhala. E anuncia o que não tem conserto. E isto nem mesmo uma prisão poderia conter. Nem o teu voltar das tuas deslisadas perigosas. Nada disso é seguro. Tua avó te liga perguntando o que é isso na tua geladeira: refrigerante ou energético. “Achei a lata bonita, pensei até que era alguma coisa nova”.

[poerica]

era de aquário

- É Artênia ou Artêmia?

- Não vou discutir.

- É igual a um camarãozinho pequenininho.

- Vai peneirando e jogando.

- Agora não sei se é Artênia ou Artêmia.

- Vou ver no google.

- Ele tinha duas caixas imensas.

- Lá ele botava aqueles corais imensos, bonitos.

- Comércio forte de mariscos.

- Tudo lavado, galvado, japonês comprava tudo.

[poerica]

Carnaval em Monte Alto

Uma treta forte no bar, alguém esculhambado foi

A mulher lavou os pés na pia sem saber que não havia ralo

A água inundou o bar azul com letras pretas

"tudo posso naquele que me fortalece"

Escrevo ao lado de um pano sujo escorada no balcão

[poerica]

Amor eu acho você invasivo com seus gestos. Invasiva sua boca aleatória controlando a língua nos dentes. Os olhos em sintonia com os pássaros voando, seguros de amanhã voltar ali, pois não é hora ainda de outra região. Meu calcanhar esbarra nas vistas de umas saúvas perdidas da estrada delas. Você me adverte sempre, um perigo no caminho, deslisamentos, traço as minhas rotas mas é sempre numa trilha sua que eu vou. Desarmada, mas pensando sempre nisso.

[poerica]

O grande problema de tentar ser eu

Havia tanta repressão, uma força empurrava-me para baixo, onde as camadas de mim se confundiam com duendes trepidando com dor de dentes por cáries que não queriam ser vistas nem tratadas. Eu lembro de tentar ser eu no pátio do Sesi, onde minha tia Tetê me levava para tirar o podre dos dentes. Eu lembro da cor das paredes dos corredores, verde intemperância. É que me falta vocabulário para recriar a cena. Eu lembro da fome e do interesse pelos pacotes de salgadinhos e o glamur de possuir uma barraquinha na frente do hospital.

Eu tentei ser eu na boa, tentava fluir com a angústia. Sempre quis e me interessava fluir com esse sentimento energético, poético, antiético, sim, pois invasivo ainda, se eu explicitar personagens daquele retudo onde íamos muito cedo pela manhã. Pegar uma senha para tentar ajeitar os dentes. Até hoje tenho essa enorme dificuldade de procurar um dentista. Eu lembro de ir no dentista em Roraima, muito cedo também. Aí nesse dia eu pensei que merda, sempre essa bosta e essa maquininha queimando meus dentes e língua. Como vou me vingar?

[poerica]

Faço da tua história um oratório de brincar, sobrepondo e compondo uma trama que ao fundo tem a leve melancolia do pagode, e vozerio de crianças.

[poerica]

Não te escrevo há 40 dias

Como você desapareceu daqui

Arranquei uma flor com brotos

Estão brotando fora do arbusto

Viver é lindo e tenebrosamente

~ Desabrocho ~

[poerica]

seu rosto

que quando não vejo é vácuo

voltas ao redor da ilha branca

dez braços remando o barco

o barco

da minha

saudade

[poerica]

Dispositivos invadidos ou Sinucão

O rádio o raio de sol

Atravessando as casas

7 homens em seus veículos

Zombam de uma sapatão

Um novo preto velho aparece

Sempre cachimbando usado

Dizendo que fulano não volta

Eu somente paro e ouço

Victtória a poodle com seu

cavanhaque branco

como meu pastel perfeito

queijo com camarão