Com o tempo ler se torna um vício. Desejar contaminar os outros é mais do que aceitável.
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Uma palavrinha sobre os fazedores de poemas rápidos e modernos
é muito fácil parecer moderno enquanto se é o maior idiota jamais nascido; eu sei; eu joguei fora um material horrível mas não tão horrível como o que leio nas revistas; eu tenho uma honestidade interior nascida de putas e hospitais que não me deixará fingir que sou uma coisa que não sou — o que seria um duplo fracasso: o fracasso de uma pessoa na poesia e o fracasso de uma pessoa na vida. e quando você falha na poesia você erra a vida, e quando você falha na vida você nunca nasceu não importa o nome que sua mãe lhe deu. as arquibancadas estão cheias de mortos aclamando um vencedor esperando um número que os carregue de volta para a vida, mas não é tão fácil assim — tal como no poema se você está morto você podia também ser enterrado e jogar fora a máquina de escrever e parar de se enganar com poemas cavalos mulheres a vida: você está entulhando a saída — portanto saia logo e desista das poucas preciosas páginas.
Charles Bukowski
(Tradução: Jorge Wanderley)
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Ainda tem alguém aqui???
Depois de 4 ano decidi entrar aqui, pense no sacrifício... Não lembrava nem qual era o e-mail que usava. Pensando em retomar esse projeto que me fez feliz por tanto tempo
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O que não tenho e desejo É que melhor me enriquece. Tive uns dinheiros — perdi-os... Tive amores — esqueci-os. Mas no maior desespero Rezei: ganhei essa prece.
Vi terras da minha terra. Por outras terras andei. Mas o que ficou marcado No meu olhar fatigado, Foram terras que inventei.
Gosto muito de crianças: Não tive um filho de meu. Um filho!... Não foi de jeito... Mas trago dentro do peito Meu filho que não nasceu.
Criou-me, desde eu menino Para arquiteto meu pai. Foi-se-me um dia a saúde... Fiz-me arquiteto? Não pude! Sou poeta menor, perdoai!
Não faço versos de guerra. Não faço porque não sei. Mas num torpedo-suicida Darei de bom grado a vida Na luta em que não lutei!
(29 de janeiro de 1943)
Testamento - Manuel Bandeira
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A poesia me pega com sua roda dentada, me força a escutar imóvel o seu discurso esdrúxulo. Me abraça detrás do muro, levanta a saia pra eu ver, amorosa e doida. Acontece a má coisa, eu lhe digo, também sou filho de Deus, me deixa desesperar. Ela responde passando a língua quente em meu pescoço, fala pau pra me acalmar, fala pedra, geometria, se descuida e fica meiga, aproveito pra me safar. Eu corro ela corre mais, eu grito ela grita mais, sete demônios mais forte. Me pega a ponta do pé e vem até na cabeça, fazendo sulcos profundos. É de ferro a roda dentada dela
Sedução - Adélia Prado
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"Alguém dentro de mim sente cãimbras cada vez que penso, mas é inevitável, há exercícios de concentração para pensar no nada, sei, para ficar vazio é preciso disciplina, acho que a humanidade inteira é disciplinada e só eu é que estou aqui pensando, sem dúvida que é um roteiro esganiçado, sem dúvida que é um estertor, vômitos e tudo (...)"
Kadosh - Hilda Hilst
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Assim eu quereria meu último poema Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.
Último Poema - Manuel Bandeira
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Não sejas o de hoje. Não suspires por ontens... não queiras ser o de amanhã. Faze-te sem limites no tempo. Vê a tua vida em todas as origens. Em todas as existências. Em todas as mortes. E sabes que serás assim para sempre. Não queiras marcar a tua passagem. Ela prossegue: É a passagem que se continua. É a tua eternidade. És tu
Cecília Meireles - Cântico II
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Todos na vida atravessamos certas crises. Dever-se-ia mesmo escrever sobre a gênese, desenvolvimento, apogeu e fim das crises. Se uma pessoa está sem emprego, o natural é que se empregue. Se está doente, o natural é que morra ou se cure. Mas o fenômeno da crise é importante precisamente por ser o contrário do natural. De modo que se a pessoa está desempregada, não há maneira de arranjar emprego, e se está doente não há maneira de se curar, etc...
Cecília Meireles - História de uma letra
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Eu queria ser o Mar de altivo porte Que ri e canta, a vastidão imensa! Eu queria ser a Pedra que não pensa, A pedra do caminho, rude e forte! Eu queria ser o sol, a luz intensa O bem do que é humilde e não tem sorte! Eu queria ser a árvore tosca e densa Que ri do mundo vão e até da morte! Mas o mar também chora de tristeza... As árvores também, como quem reza, Abrem, aos céus, os braços, como um crente! E o sol altivo e forte, ao fim de um dia, Tem lágrimas de sangue na agonia! E as pedras... essas... pisa-as toda a gente!...
Desejos Vão - Florbela Espanca
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Eu levaria o Dicionário para a ilha deserta. O tempo passaria docemente, enquanto eu passeasse por entre nomes conhecidos e desconhecidos, nomes, sementes e pensamentos e sementes das flores de retórica. Poderia louvar melhor os amigos, e melhor perdoar os inimigos, porque o mecanismo da minha linguagem estaria mais ajustado nas suas molas complicadíssimas. E sobretudo, sabendo que germes pode conter uma palavra, cultivaria o silêncio, privilégio dos deuses, e ventura suprema dos homens.
´Cecília Meireles - O livro da solidão
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Não basta um grande amor para fazer poemas. E o amor dos artistas, não se enganem, não é mais belo que o amor da gente. O grande amante é aquele que silente se aplica a escrever com o corpo o que seu corpo deseja e sente. Uma coisa é a letra, e outra o ato, quem toma uma por outra confunde e mente.
Arte-final - Affonso Romano de Sant’anna
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É vão o amor, o ódio, ou o desdém; Inútil o desejo e o sentimento... Lançar um grande amor aos pés de alguém O mesmo é que lançar flores ao vento! Todos somos no mundo "Pedro Sem", Uma alegria é feita dum tormento, Um riso é sempre o eco dum lamento, Sabe-se lá um beijo de onde vem! A mais nobre ilusão morre... desfaz-se... Uma saudade morta em nós renasce Que no mesmo momento é já perdida... Amar-te a vida inteira eu não podia, A gente esquece sempre o bom de um dia. Que queres, meu Amor, se é isto a vida!
À Vida - Florbela Espanca
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#OcupeEstelita
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Oh geração dos afetados consumados e consumadamente deslocados, Tenho visto pescadores em piqueniques ao sol, Tenho-os visto, com suas famílias mal-amanhadas, Tenho visto seus sorrisos transbordantes de dentes e escutado seus risos desengraçados. E eu sou mais feliz que vós, E eles eram mais felizes do que eu; E os peixes nadam no lago e não possuem nem o que vestir.
Saudação - Ezra Pound
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Hoje, revendo minhas atitudes quando vim embora, reconheço que mudei bastante. Verifico também que estava aflito e que havia um fundo de mágoa ou desespero em minha impaciência. Eu queria deixar minha casa, minha avó e seus cuidados. Estava farto de chegar a horas certas, de ouvir reclamações; de ser vigiado, contemplado, querido. Sim, também a afeição de minha avó incomodava-me. Era quase palpável, quase como um objeto, uma túnica, um paletó justo que eu não pudesse despir.
A Partida - Osman Lins
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Amo andar pelas tardes sem som, brandas, maravilhosas Com riscos de andorinhas pelo céu. Amo ir solitário pelos caminhos Olhando a tarde parada no tempo Parada no céu como um pássaro em vôo E que vem de asas largas se abatendo. Amo desvendar a vaga penumbra que desce Amo sentir o ar sem movimento, a luz sem vida Tudo interiorizado, tudo paralisado na oração calma... Amo andar nessas tardes... Sinto-me penetrando o sereno vazio de tudo Como um raio de luz. Cresço, projeto-me ao infinito, agitando Para consolar as árvores angustiadas E acalmar os pinheiros moribundos. Desço aos vales como uma sombra de montanha Buscando poesia nos rios parados. Sou como o bom-pastor da natureza Que recolhe a alma do seu rebanho No agasalho da sua alma... E amo voltar Quando tudo não é mais que uma saudade Do momento suspenso que foi... Amo voltar quando a noite palpita Nas primeiras estrelas claras... Amo vir com a aragem que começa a descer das montanhas Trazendo cheiros agrestes de selva... E pelos caminhos já percorridos, voltando com a noite Amo sonhar...
O bom pastor - Vinicius de Moraes
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Jamais as tardes seriam doces e jamais as madrugadas seriam de esperança. Jamais os livros diriam coisas belas, nunca mais seria escrito um verso de amor. Sobre toda a beleza do mundo, sobre a farinha e o pão, sobre a pura água da fonte e sobre o mar, sobre teus olhos também, se debruçaria a desonra que é o nazifascismo, se eles tivessem conseguido dominar o mundo. Não restaria nenhuma parcela de beleza, a mais mínima. Amanhã saberei de novo palavras doces e frases cariciosas. Hoje só sei palavras de ódio, palavras de morte. Não encontrarás um cravo ou uma rosa, uma flor na minha literatura. Mas encontrarás um punhal ou um fuzil, encontrarás uma arma contra os inimigos da beleza, contra aqueles que amam as trevas e a desgraça, a lama e os esgotos, contra esses restos de podridão que sonharam esmagar a poesia, o amor e a liberdade!
Jorge Amado - Nem a rosa, nem cravo...
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