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desculpe ficar repetindo
só agora penso na dor que deixoescondida numa caixa de um velho aparelho(recibos invisíveis, bilhetes de cinema,uma flor podre que esculpe um quadrotão antigo) um sintoma, o que sintonão é isto, não consigodizer o que sinto, essa dornão é isso um objeto vazio destruídoo que sinto (um mar tranquilo,o ruído no assoalho de azulejos já pisados,que nem se nota, o ar que passapelo epiglote e forma um…
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abstrações
onde deixei minha convicçãoa respeito de tudo um pouco sumiuvoltando pra casa tão longefez sol logo depoisvi no relógio da estaçãomais de 30 sem pensar no que sentimosignorando as mensagens e a telepatiaum martírio engraçadinhonão fosse tudo um pesadelofácil demais se fechasse os olhosestive muito acordadoiluminando o quarto num dia de marçoenvelheci dois anos e um tanto não sei precisaraponto…
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cais
perco a calma com muita facilidadenão sei viver entre as almasprocuro, no fogo, o minuto certoque bate o vento na carasímbolo da potência, o ventilador do tetosobrevive a duras penas,minha celebração de outros trópicosentre o que chamo de amizade e degeloa idade é uma juventudeandamos pela orla com as mãos profundas no bolsoimaginando os portos que construímos somente para acenare o destino das…
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aberturas
não teria nenhuma ascensão que quisesseo diabo ouve numa estufanuvens num punhado de pedrasrealidade fragmentada em tua portacondicionada a outroa mais desejada cartaás ou valete asiáticocoberto de tecidos santosdentro da velhice não executadase aflige em respeito à plenitudee ao transesai a chavecaem os prédios feito floresno outono de pingentes concretosse vagalumes da minha identidade…
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as músicas que ouvimos
não discutimos maistemos o chão sujo de bebidaa noite passada foi longaeu esqueci de dizertudo o que importavaum enlatado de emoçõesque você abriu com sedequando eu não prestei atençãoeu não guardo rancorentão por que guardar a alegriase você já saiu mais uma vezpela mesma portaagora que o cheiro de cigarro saiuda sua camisa de bandaque eu usei tantas vezespor que guardar a tristezase não guardo…
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a décima primeira hora
ignorei o orgulho, a mágoa. ignorei o gosto do gorfo,o piso táctil do banheiro me levando pelas mãos,perguntando se isso é ser jovem.aguentei o sangue, e a desilusão, e a indiferença.aguentei teus apelos por tempo indeterminadoenquanto ia embora.ainda sei andar, e correr,e poderia, como ninguém, pegar um ônibus,sumir, me hospedar em um hotelme travestir. passo hoje pela tua ruajá tomei o gosto…
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folhas mortas
desolação.árvores escrevempalavras no céu.
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noite passada
equilibro os pés suados e frios como um cadáver. sonho o mesmo sonho toda noite: a escada, a folha em branco e a morte. a mesma coisa. minha camisa é branca e se confunde com minha pele molhada de medos e desejos, alucinações, esperanças. tenho uma febre por aquilo que não vejo. depois me afasto o necessário para não ver absolutamente. concluo que todas as coisas são iguais. disso para aquilo dou…
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#análise#crônica#diário#escritor brasileiro contemporâneo#literatura brasileira contemporânea#literatura nacional#sonho
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descobrimento
quatro vindas múltiplasquatro violões submersosestações sonoras do vácuovendosimples, cavalos vão voando livresvontade de liberdademúsica quando queria palavra-fonteestante vazia.
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un million des choses à dire
le douce de la nuit est prêtdes plusieurs papillon dans ton jeansavec une exclamation d’amour dans le pocheet nouvelles recettes de remédiés entre les dentstu peux rester ça la vie entièreun corp entre tous les autresdans mon litsans surprisedeux ou trois regardsque je ne connais paset un beau papier coloré qui tueun million de voixc’est super je te dissur la existance de la solitudequi peut se…
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#escritor brasileiro contemporâneo#literatura em língua estrangeira#poesia brasileira#poesia contemporânea#poesia em francês#poeta#poeta brasileiro contemporâneo
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roteiro para um enredo sem protagonista
1 – passar a vida toda na fila esperando para fazer a pergunta errada enquanto lemos O guia do mochileiro das galáxias quem somos? pensamos, sonhamos, passamos toda a vida fazendo planos, imaginando utopias para no final tudo se acabar por um capricho, um desvio na rodovia interplanetária, idas e vindas de naves turísticas, o consumo de nós mesmos para saciarmos o gosto das carnes mais…
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#análise#crítica literária#ensaísta#ensaio#ensaio literário#fernando pessoa#james joyce#teoria literária#thomas mann#under the silver lake#virginia woolf
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movimentos
noite castanha, mar de cemitérios,ar de palidez e ressentimentos.dormem às 21h as crianças, minhas crianças.ouve, é comum te fazerem apelos antes de deitare passar na máquina da verdade todos os pormenores,a chuva, o verso, a angústia e a promessa.o destino de todos é cruel como a ovelha da insônia.abro a manhã com as mãos molhadas de baba,a água acima da cabeça até a maré voltar a baixar.vazias,…
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despedida
sua memória se bifurca.cadernos de receitas, toda a famíliadentro de uma casa antiga de açúcarcomendo chocolates.(uma dor entra pela janela e ouve toda a conversa)repito: “estou bem”, como se fosse evidentea mentira em minha fala enrolada.ela responde que já não sente mais fome.“pra mim isso é o suficiente.”(a dor se despede, mas a janela foi fechada)você olha pro lado sem entendera língua que eu…
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uma vez vi um show de mágica e não gostei
não a imagem da caveira, senão o próprio pó. são as cinzas do cigarro que você bateo que me recorda disto.é o câncer que meu pai teve,é a sombra do esquecimento que circunda minha vó.é enfim essa maldição escritasob a falta completa das luzeso que me há de tocar. no vidro em que me vejo atrás de vocêo farelo de quando se quebra uma imagem.aurora: outro dia cinza. o diabo puxa uma cadeira e se…
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além disso . guardei as meias em seu lugar, depois desci as escadas. abri a geladeira, esperando por algo a mais que as cebolas na porta. ouvi (mas não vi) o desejo de violência de uma moto, e um grito na rua ("êhh") cheio de sorriso. olhei para o Cão, que acordara. ele olhava o nada. então me viu, tremeu seus olhos tímidos e voltou a dormir. sentei no sofá como se caísse, ainda com a roupa nova, recém provada. acho que dormi porque algum tempo depois meus pais disseram que falava coisas estranhas, sem sentido. não me lembro disso. . https://wp.me/paEGNy-c9 https://www.instagram.com/p/CaQF4K1PlUS/?utm_medium=tumblr
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parte 2
a sombra deste quarto apagadosou eu, sob a luz vizinhado mal estar total.relógios transitam em cima da mesae de volta para casa, nublados.eu não sei quem é, quem somosneste instante claro,no limite de nós dois, ou mais.embaixo da imagem fixadados pobres anjos esquecidosdesta parede, deste espaço vaziohá uma nova criação do mundocontinuamente em ruínas.esta estátua, então, de quem olha,e olha…
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busca
quando eu ainda tinha idadevi as coisas fugindo, sumindo.paralisei inteiro de angústia.porque tudo se transformava, mudava…não sei se era dia ou noitenos tempos mais bonitos mais pictóricosnada permanecia:havia alguma coisa no ar, na sala de estar.não importava de jeito nenhum o significado fixo. o poema é meu primeiro delito.
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