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Fotografia
Gosto de olhar para aquela foto e imaginar que ali está você. Mas não em um dia comum. Imagino você debruçada no parapeito da janela de nosso quarto em um domingo de manhã, reproduzindo a exata cena dessa foto que tanto olho.
Me imagino deitado na cama tendo a mais bela visão. Aquelas dignas de filme. Você olhando para o horizonte, enxergando nosso futuro. Na imagem formada, as árvores, a serra e as flores completam o paraíso que se forma ao seu redor.
O brilho do sol nos seus cabelos, ajeitados rapidamente com aquele coque feito ao acordar. Sua silhueta magnífica que tanto me encanta. A blusa branca, o copo vazio em suas mãos delicadas e a serenidade que toda a cena me passa.
Ah, como tudo se encaixa.
Imagino você, em algumas manhãs, a admirar a paisagem. Em outras, a acompanhar as crianças brincando. E, ainda, a bolar seus planos, lembrar de seu passado e tudo que passou para chegar naquele momento.
Penso em você ali, na minha frente, e eu hipnotizado pelo que vejo. Imagino minha vontade de querer dizer o quão linda é, sem querer estragar seu momento, ou mesmo a visão perfeita que se apresenta ao meu olhar.
Talvez seja um mero sonho, talvez puro devaneio. Mas ao olhar essa foto lhe vejo perfeita, serena, enxergando o mundo. E eu me imagino ali, deitado, sonolento, enxergando meu futuro: você.
E.F.
Para ouvir enquanto lê:
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Completude
Há algumas noites Fernando acordava durante o mesmo sonho: num lugar absolutamente escuro, ele corria em direção ao nada, buscando algo que desconhecia.
Ainda que tentasse com todas as forças, o sonho não lhe permitia parar de correr. Às vezes, conseguia olhar para os lados e procurar por ali, mesmo que à distância, o que tanto queria encontrar, mas nada além de lampejos indecifráveis apareciam.
Sem que entendesse a razão, a corrida e o esforço que ele fazia para seguir em frente eram tão intensos que, mesmo sendo apenas um sonho, ele acordava, dia após dia, suado, sem energia e confuso.
Mas também esperançoso.
Algo - ele não sabia o que - lhe dizia para continuar sonhando, correndo e se esforçando, pois logo encontraria o que tanto procurava e todas as respostas seriam dadas.
Os dias passavam e a corrida incessante e incompreensível de Fernando continuava.
E a vida normal já não parecia fazer sentido.
Era como se aquele sonho fizesse parte dele.
Não.
Aquele sonho era ele! Mesmo incompleto, mesmo sem sentido: era ele! E ele precisava correr para encontrar logo aquilo que o completaria.
Os meses passaram e Fernando começou a se afastar de tudo que atrapalhava sua busca: os amigos constrangidos, a família confusa, os estudos, o trabalho, a alegria, a tristeza - a vida.
Tudo que importava era correr em direção ao breu. Correr rápido. O mais rápido que pudesse.
Correr.
Em direção ao vazio.
Fernando correu tanto que já não mais distinguia o dia da noite, os minutos das horas, o sonho da vida.
E foi num desses sonhos, meses ou anos após o primeiro, depois de tanto correr sem direção, que ele finalmente enxergou o que procurava.
Lá, distante, no horizonte estava a resposta para tudo.
Foi então que o sonho o proibiu de correr e fez com que ele sentisse toda a exaustão da busca incessante. Atordoado, Fernando tentou andar rápido, mas o fôlego lhe fugia.
Caminhando em direção ao horizonte, agora lentamente, seu objetivo ficava cada vez mais claro - e seus passos cada vez mais pesados.
Conforme os contornos da sonhada resposta se desenhavam, o ar começava a lhe faltar.
Mas faltava tão pouco.
Um passo, mais um traço.
Outro suspiro.
Mais um passo, o último traço.
Nenhum suspiro.
Caído ao chão, sem forças, sem ar - sem vida -, ele conseguiu olhar apenas uma vez para o que tanto procurava: a completude.
...
Fernando inspirou com força. O coração agora batia forte no peito. Na escuridão ele já não sabia se estivera correndo ou dormindo, caminhando ou rastejando, vivendo ou sonhando, morrendo ou se encontrando.
O que sabia, e talvez essa fosse a única certeza, era que finalmente tinha encontrado a resposta...
Eduardo Feuerharmel
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Luz
Na noite nublada o homem percorria a pequena cidade sem saber ao certo para onde ia.
Encolhido pelo frio e dando seus passos tortos, notava como os outros se afastavam dele. A mulher - a última que lembrava ter visto - havia saído de seu lado levando a criança e xingando:
- Filho da puta, sai de perto de mim!
Isso teria acontecido há quatro quadras. Ou eram nove? Talvez doze.
O homem não lembrava.
Assim como não sabia o nome da mulher ou da criança.
Deveria?
Continuou a caminhada.
Enquanto passava pelos bares da cidade, ouvia os risos embriagados daqueles que ainda sabiam se divertir.
Mas o homem já não lembrava o que era isso. O último sorriso sincero que ele tinha dado havia sido há três meses. Ou seriam dois anos? Não, provavelmente um pouco mais.
O sorriso já não parecia lhe importar. As lembranças de quem era e do que sentia não faziam mais parte dele. Apenas o vazio o completava.
O que ele sabia é que caminhava pela cidade procurando alguma luz, mas até a Lua lhe parecia ter fugido.
Sem nenhuma clareza, lhe restava o caminhar caótico e sem direção. Quem sabe assim, mesmo com as pernas fracas, conseguisse esbarrar, nalguma rua, com as lembranças de quem fora.
Ilusão.
A pequena cidade havia ficado para trás há duas horas. Ou há dez minutos?
Não sabia.
Ao homem que não lembrava quem era, o tempo era dispensável.
Ele marchava agora pelo duro asfalto da estrada.
Mesmo cansado, talvez ali, distante de tudo, encontrasse o que lhe havia fugido.
Desesperado, lançou um último olhar ao horizonte e a viu: a luz que tanto procurava estava ali, distante de tudo e de todos, mas ali, única e esperando por ele!
Ignorando a exaustão, o homem correu, como desde jovem não fazia.
Conforme se aproximava da luz, as lembranças lhe voltavam à mente. O nome da cidade, da esposa e do filho surgiam em seu pensamento.
Sentia o coração batendo. Sentia as lágrimas nos olhos. Sentia o sorriso no rosto.
E, então, ao mesmo tempo em que aquela luz terminou a longa curva da estrada e se dividiu em frente a ele, o homem lembrou seu nome.
Se ao menos Rafael ainda tivesse tempo para lembrar da sua crença...
E.F.
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Rotina
Marcelo abriu os olhos.
Tentou se virar rapidamente para desligar o despertador, mas as fortes dores que sentia no corpo o impediam de se mover com agilidade.
- Porra! Todo dia essa merda de dor nas costas. Até parece que caí...
Com muito esforço levantou-se e caminhou até o banheiro do pequeno apartamento.
Mesmo morando no sétimo andar, Marcelo ouvia o barulho lá fora e percebia que a cidade já estava acordada. Sem pássaros cantando. Somente buzinas, freadas, brigas e o som da vida passando.
Já no banheiro despiu-se, ligou o radinho e entrou no banho enquanto ouvia as notícias:
- (...) mais uma explosão de caixa eletrônico na noite (...)
Começou a lavar os poucos cabelos que ainda restavam e lembrou da juventude, quando os longos fios caiam sobre os ombros.
Resolveu focar nas notícias enquanto terminava o banho, talvez ouvisse algo de bom.
- (...) a nova doença assusta a Europa enquanto o presidente a chama de gripezinha (...)
Nada de bom. Terminou o banho, desligou o rádio e voltou para o quarto para se arrumar. Enquanto vestia a roupa de trabalho pensava no seu antigo vizinho, falecido recentemente, aos 68 anos, sem que ninguém soubesse a razão.
Triste, Marcelo resolveu rezar:
- (...) Senhor, por favor, não me deixe morrer hoje! Me ajude a viver amanhã (...)
Atrasado, segurava um pão amanhecido com a boca, enquanto trancava as quatro fechaduras da porta de entrada do apartamento.
Pegou o ônibus - lotado - e foi trabalhar.
Pela manhã, um dia como todos os outros.
Se desdobrava pela empresa e mesmo assim ouvia bronca do patrão.
- Porra, Marcelo, faz a coisa direito! Preciso te ensinar todo dia! Parece burro! (...)
Já no almoço, enquanto comia o prato feito na lanchonete da esquina, ouvia o jornal:
- (...) já são mais de 500 mil casos no mundo (...)
Outra vez, nada de bom.
Resolveu pedir uma dose de cachaça, quem sabe assim ele ignorasse que passaria mais uma tarde trabalhando com o que tanto odiava.
Não ignorou.
No fim da tarde já não aguentava mais o cansaço.
Pegou o ônibus - lotado - e voltou para a casa. Menos um dia de vida. Mais um dia humilhante.
Já em casa, abriu a garrafa de cachaça. Talvez assim conseguisse esquecer a vida que tinha.
Bebeu.
Bebeu.
E bebeu.
Mal parando em pé foi para o quarto. Lá olhou para suas duas opções.
De um lado a cama e a chance de viver num outro dia.
Doutro lado a janela aberta e a chance de esquecer o sofrimento.
Fez a escolha de todos os dias e deu seus passos tortos.
De frente ao seu destino olhou para a cidade lá fora. Iluminada, barulhenta, cheia de vida.
Diferente dele. Cansado, humilhado, sem esperança.
Decidido, mirou mais uma vez as luzes da cidade e caiu.
Nesse dia não havia mais luz para Marcelo, somente escuridão.
Marcelo abriu os olhos.
Tentou se virar rapidamente para desligar o despertador, mas as fortes dores que sentia no corpo o impediam de se mover com agilidade.
- Porra! Todo dia essa merda de dor nas costas. Até parece que caí...
Eduardo Feuerharmel
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Fantasmas
Louco!
Era assim que Alex estava acostumado a ser chamado: louco.
Primeiro ouviu do dedetizador, quando o chamou pela terceira vez no mesmo mês, acreditando que fossem ratos. Depois, do senhorio, que na quinta vez em que foi chamado de madrugada continuou sem entender o que acontecia. Ouviu, também, do pedreiro que contratou para tentar arrumar o que quer que estivesse errado - trocou canos, fiação, piso, trocou tudo! Mesmo assim os barulhos pioravam. Trocou tudo outra vez!
Louco!
Mas ele sabia que não havia loucura, o que ele sentia era real. Há muito ele tentava descobrir de onde vinham os sons que nunca cessavam ou quem o atormentava.
É, não seria fácil dormir.
Alex levantou e começou a dar passos silenciosos em direção à cozinha. Talvez um copo d'água o ajudasse a ter sono. Era esse o pensamento de todos os dias, já que há meses ele não descansava.
Parou em frente à porta e olhou ao redor antes de abri-la.
O quarto estava vazio, como sempre. Os armários fechados, as janelas trancadas. Nada que chamasse a atenção, além de um porta-retratos virado de frente para a porta e que ele nem lembrava existir.
- Amanhã eu tiro isso daí. Guardo ou jogo fora...
Refletindo, tentou abrir a porta em silêncio, evitando que o ranger habitual pudesse despertar aquilo que tanto lhe tirava o sono.
Conseguiu, a porta estava aberta. A parte mais difícil parecia ter passado. Quem sabe naquela noite ele conseguisse dormir.
Retomou os passos silenciosos. No caminho para a cozinha ele reparou em toda a casa.
No corredor, apenas lembranças de viagens e o papel de parede que ela escolheu. Na biblioteca nada além de livros e antigas cartas de amor espalhadas sobre a mesa. O quarto de hóspedes ocupado pela cama, ainda coberta pela colcha que ela havia feito. Na sala nada de diferente, os móveis posicionados como sempre, a decoração feita por ela e os presentes de uma vida passada.
Silêncio.
Esperançoso, entrou na cozinha e colocou um copo para encher com água enquanto olhava atento ao redor. Já passara da meia-noite e, apesar da falta de sono, aquilo que o perseguia ainda não havia aparecido.
O copo enchia e a quietude era tão grande que nada parecia poder dar errado.
Nada.
A expectativa de que nada o atormentaria naquela noite e o cansaço fizeram com que Alex se perdesse em pensamentos sobre o passado, uma época feliz. Enquanto lembrava de tudo com um sorriso inocente no rosto, o copo cheio, estilhaçou-se contra o chão e ele voltou à realidade.
- Puta que pariu! Que merda que eu fiz!
Foi com o seu erro que tudo começou.
Da sala veio o barulho da porta de entrada, de pés humanos apressados pisando forte contra o chão e de patas de cachorros inexistentes acompanhando aquele ser.
Decidido a enfrentar quem fosse, Alex saiu da cozinha ao som de risos. Não havia nada ali. Nada além da decoração, dos presentes, dos passos pesados e da gargalhada que se distanciava em direção ao corredor.
Correu. Ele precisava alcançar aquilo.
No corredor o papel de parede parecia ecoar a risada sem fim, o mesmo caminhar tenso e o barulho de um mar distante.
- Não! Não, hoje não!
Continuava correndo, desesperado.
De cima da cama acolchoada do quarto de hóspedes vinham as risadas de crianças que nunca existiram.
O que quer que fosse, aquele ser continuava a forte marcha, mas se perdia ao longe no corredor.
- Não, por favor, não!
Alex corria, agora com lágrimas escorrendo em seu rosto.
Da biblioteca vinha aquela mesma voz que ria. Agora ela sussurrava palavras perdidas e desconectadas que falavam de futuro, de passado, de sonhos, de rancores, de amores e de ódios.
Desesperado, perdido, inconsolável, Alex não entendia. Tudo parecia estar certo naquela noite. Como um erro poderia ter causado tanto tormento?
Chegou, finalmente, ao quarto.
Por trás da porta semiaberta ele ouviu os passos parando, ainda que a risada frouxa, que tanto o angustiava, não cessasse. Era hora de confrontar aquilo. Ele precisava de paz.
Ao abrir a porta a gargalhada parou repentinamente e o silêncio tomou conta do ambiente.
Alex viu o que pairava a sua frente e congelou.
Com um vasto sorriso no rosto, ali estava ela, perdida ao seu lado num dos últimos momentos registrados naquele porta-retratos.
Ainda paralisado ele finalmente entendeu qual era o seu fantasma.
E a risada dela voltou a ecoar distante. Agora em sua mente.
Eduardo Feuerharmel
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