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Nem Caule, Nem Flor
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nemflornemcaule-blog · 7 years ago
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A magia reversa do fim do ano
O ar muda, as pessoas parecem mais animadas sempre caminhando pra algum lugar especial, a cidade fica mais colorida e o céu se abre, fica lindo, fica azul e tudo fica quente, como tem que ser. Eu caminho na direção contrária, só vejo o céu da janela do quarto e passo nele a maior parte do tempo.
O tempo não “tapeia” o tempo, as horas e os dias se estendem incontáveis, parece que eu nunca tenho agenda, nem planos suficientes.
Eu não sei descrever exatamente o que é que me prende no meu quarto ou o que é que me prende na teia da angústia e da ansiedade, mas escrever, de alguma forma, me faz sentir melhor.
Hoje (sem saber se esse hoje é tão presente ou caminha de mãos dadas com o passado recente), essas sensações estão fortes (sem saber a gradação frente às dores anteriores). Angústia e ansiedade estão se tornando dores imaginativas com expressões físicas. O peito dói, o estômago dói, ora é azia, ora é gastrite. E existe uma curiosidade nisso tudo: quando a dor deixa de ser apenas aquela da sua cabeça, você passa a perceber certa verdade factual na tristeza. É como se antes você falasse, mas as palavras não servissem pra dizer o que, de fato, se sente; na dor física você fala exatamente o que sente e quem ouve entende e se ver sob o mesmo desconforto.
Entende como as coisas se dão?
A dor física parece legitimar a dor da alma, porque encontra correspondência no Outro. A dor silenciada é a dor do Eu solitário que não existe e nem é verdade, senão nesse Eu.
No Eu, a gente é solidão que rasga e dilacera se transformando em dor própria, personificada, tendo começo e fim na própria existência. Essa dor tem retroalimentação em si, como uma partícula que morre e se regenera apenas porque faz parte da experiência material dela.
Quando se externaliza a dor do Eu, da melhor ou da mais rasa forma possível, o que se escuta do Outro parece tão vazio que o silêncio encheria mais o meu quarto do que a opinião proferida.
Parece clichê e salvaguardada todas as boas intenções daquele que replica a mensagem original, o diálogo parece se estabelecer através do “estou meio mal”, seguido de um análogo “fica assim não”, geralmente acompanhado de um “se eu puder fazer alguma coisa, me avisa”.
É peculiar que nessas horas o interesse se reduza a uma permissão do Eu e que o interesse surja a partir da constatação de que algo não caminha bem (e não da percepção ou conhecimento que o Outro tem do Eu, esse Outro [agora de forma dirigida] parece um estranho, como qualquer outro).
Fico me perguntando se a minha preocupação e interesse pelos outros sempre foi assim, pontual, e se eu sou desse tipo que diz o que eu escuto agora. Provavelmente a resposta é SIM, mas com adendos. Ela é “sim” pra algumas pessoas queridas, mas não tão próximas, as minhas pessoas caras.
Sendo honesta com as linhas desse caderno, talvez a minha melhor amiga me desminta e seja testemunho do quão egoísta e egocentrada eu sou, mas de alguma forma eu não me vejo assim, nem poderia concordar com isso sem antes tentar me explicar e desde já me desculpar. Atualmente ela também está mal e isso parece influenciar negativamente na minha balança de libra, pois eu me sinto solidão.
Mas voltando a algum caminho que possa ter parecido construído anteriormente, a falta de correspondência, simpatia/empatia e esforço do Outro é um grande atrapalho nessa vivência de tristeza, porque torna solitária a própria solidão, é como se ela ganhasse uma potência a mais.
As pessoas estão tão preocupadas em demonstrar solidariedade através de palavras que esquecem à máxima que anuncia o gesto com sobrevalor perante a palavra. Abre-se um abismo, porque na teoria o zelo e o amor deveriam ser demonstrados no cotidiano, mas são tão pontuais que parecem memória de uma relação já finita.
O que quero dizer é que muitas vezes um abraço e um beijo podem salvar uma hora ruim, um dia ruim e, assim, amenizar um estado de espírito em crise. (Contudo, a ausência parece contribuir como os degraus que alcançam o submundo da alma, antes da alma do que de Hades [afasta de mim esse cálice, pai]).    
(21/11/2017)
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nemflornemcaule-blog · 7 years ago
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Katharina
Quando eu perdi a minha mãe há três anos atrás, o eu mundo desabou (na verdade, ainda não foi reconstruído hoje) e a minha grande incentivadora, a pessoa que eu pude perceber o amor incondicional e a crença em mim veio a partir da minha irmã. 
A minha relação com Katha sempre foi conflituosa, durante anos a gente dividiu o mesmo quarto e, a certo contra-gosto, as mesmas roupas, até calcinha a “descarada” pegava do meu guarda-roupa, o que me deixava furiosa. Eu era assim, alguém que ligava pra tudo e brigava por tudo. Ela não, ela sempre foi mais generosa, mais nobre. 
Quando o meu mundo desabou, o dela também desabou, e de alguma forma eu vi o quanto ela era especial, o quanto ela se importava não só com ela, mas com ela, com as minhas sobrinhas, com o marido, comigo, com o nosso irmão, com a nossa mãe... Katha sempre foi assim, maior do que ela. Eu lembro que à época da escola elas as vezes trazia pirulito ou picolé pra mim e pra Moa; pirulito e picolé que ela comprava com a mesada dela. E dava tudo sem pedir nada. Katha, enquanto irmã mais velha, assumia um caráter materno desde cedo.
Nesses três anos que se sucederam à morte de mainha, Katha se tornou mais do que uma irmã, coisa que provavelmente ela já era, mas eu, infantilmente, não enxergava.
Nesses três anos, ela e a família construída por ela e personificada nas meninas, me ajudaram a viver. Tantas e tantas vezes as dores foram maiores do que eu e pensar nelas me fez reerguer a cabeça e voltar a ter esperanças.
Das coisas importantes às básicas, a minha irmã sempre esteve presente, mesmo morando no outro hemisfério do globo. Eu pedi socorro a ela tantas vezes de forma silenciosa e ela sempre atendia o telefone da melhor forma possível, e a gente conversava amenidades gostosas que quando eu colocava o telefone no gancho, tudo o que eu sentia se tornava mais leve e o meu coração mais sereno.
Quando eu precisei, de forma mais prática, recorrer a ela por problemas financeiros, ela me socorreu e não me julgou. Em uma das vezes que ele liguei pra falar da seleção de doutorado, das etapas que faltavam, ela me disse que todo dia ela rezava pra eu passar. E eu acreditei, porque isso é quem ela é, uma das pessoas mais nobres que existem. Ela é uma daquelas pessoas que você sabe que lhe amam, mesmo você sendo quem é. 
Eu aprendi a agradecer pela sorte que tive em ter uma pessoa como ela na minha vida. Katharina é admirável porque a bondade dela é genuína. 
Amo você (e obrigada).    
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nemflornemcaule-blog · 7 years ago
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Não foi lá na Paraíba...
O que é um sinal e o que a gente acha que é? Falo de sinal do céu, das entidades não corpóreas, de tudo aquilo que está além de nós mesmos.
Quebrei a cara mais uma vez na minha busca de deixar de ser uma aspirante, mas vi sinais (ou pelo menos interpretei-os assim) que me diziam que eu não andava só e que tudo estava, de certa forma, encaminhado.
Espero que o caminho não seja o do abismo...
De alguma maneira eu, o meu psico ou o destino me confortaram com esses sinais. Isso sou eu?
Se os sinais são sinais eles não poderiam ter mais zelo e apreço perante à hermenêutica? Essa semana sai mais um resultado. Essa semana definirá os meus próximos quatro anos enquanto nômade de mim, presa em mim, ou nômade do mundo.
Que seja o mundo (!)  
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nemflornemcaule-blog · 7 years ago
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As angústias de ser uma aspirante à vitória
A partir de mim tudo se inicia e se encerra. Eu sou o meu princípio e o meu fim.
Não sei se faz sentido enumerar, enunciar, condensar as minhas memórias em linhas em via de justificar o meu estado atual, o meu lugar no mundo hoje.
O fato é que, pra além da famosa supressão espaço-temporal e seu bombardeio de informações, eu sou quem sou e estou onde estou.
A sensação pós-moderna, a minha sensação, é de estagnação e celeridade ímpar. Não sei identificar quando estou andando, tampouco quando estou estagnada. Me parece agora que estagnação em nada tem a ver com o caminho, o caminhar ou a trilha da vida. Estagnação é um estado de espírito que confunde o material e o imaterial. É ser e não ser. Estar e não estar. Estagnação não é um fator geográfico, tanto faz o aqui, quanto o acolá.
Da mesma forma também não se caracteriza apenas no sentir. Estagnação é um conceito social, imbricado na mente, é nosso, mas também é externo.
Não estou dizendo com isso que as  pessoas que nos rodeiam sejam nossas inimigas, muito menos as nossas pessoas mais caras, nossos familiares ou amigos, mas que o cotidiano é massacrante pra quem caminha no trilhar do “não bem-sucedido” aspirante.
O aspirante é um nômade imóvel, aquele que está atrelado a um ponto fixo no mapa, não importado se a sua cabeça viaje por todos os mares, não importando se sua boca beba dos leitos dos livros acadêmicos e ficcionais, não importando se a máquina desejante da mente encontre trabalhos árduos como os braçais dos outros.
A estagnação sentida não encontra arqui-inimigo a altura em nenhuma materialidade vivida, sentida e percebida. Ela confunde a cabeça daquele que vive, sente e percebe a pressão e a urgência em deixar de lado tal aspiração instalada consciente e inconscientemente. A balança da justiça (ou de libra) tende a sentir o peso do fracasso, a alimentar uma personalidade insegura.
Há desequilíbrio na mesma medida em que persiste a aspiração.
Caminho mais dois passos e nada muda; fecho e abro os olhos e apenas o tempo passou, eu não passei, não fui, não consegui. Mas amanhã é outro dia, um dia quem sabe?
                                   Vestígios de alguém que não sabe ser.
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