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Cangurus à Parte
Cangurus à parte, a Olimpíada do Rio já começou. Quem mora aqui na Barra da Tijuca já pode sentir o clima através da presença marcante de turistas, transitando pelos shopping centers, supermercados e lojas de conveniência. Quase todos se esforçando para pronunciar palavras essenciais para a sobrevivência em terras estranhas como pão, água e obrigado. No meio deste clima altamente cosmopolita o que me espanta é a turma do contra. Tá certo que o Rio sempre causou inveja, mas não precisam exagerar. Problemas sempre tivemos e vamos continuar a ter até o fim dos séculos. Afinal uma sociedade concebida nos moldes como fomos não será nunca um modelo de perfeição. Se quisessem realizar os jogos olímpicos num país mais vestuto, em que tudo, aparentemente, funcionasse de maneira impecável, que escolhessem outro lugar. O nosso desafio neste momento é superar o tal complexo de vira-lata, expressão que Nelson Rodrigues, dentro daquela peculiar genialidade, cunhou para explicar este comportamento estranho que assola a nossa alma brasileira, geralmente quando estamos a um passo de uma grande realização. Como antídoto para essa terrível mazela, gostaria de lembrar que poucos países do terceiro mundo teriam condições de organizar dois eventos de tamanha magnitude como uma Copa do Mundo e uma Olimpíada, num curtíssimo espaço de tempo. A Grécia quebrou de vez com uma simples Olimpíada. Não precisa lembrar, eu sei que também temos uma fatura a pagar. A diferença é que sempre estivemos quebrados, levando a vida pendurados em trens da central e comendo marmita fria. Enquanto eles viviam as delícias de um estado regido pelo supremo conforto do bem estar social amplo e irrestrito, nós estávamos aqui vivendo dos caraminguás de um velho e roto INPS. Ah, mas estamos impregnados de violência e corrupção, exclamam os pessimistas de plantão. Isso, não tenho duvida, a gente pode resolver. Basta uma dose cavalar de vontade política. Difícil de resolver é o problema da violência fincada em premissas teológicas e no ódio por tudo que é diferente. Isso é que eu quero ver ter solução! A verdade é que na cidade das balas perdidas ainda não estamos degolando padres nem tão pouco implodindo estações de metrô. Alguns podem contra argumentar, que uma coisa não tem nada a ver com outra. Eu digo que tem a ver sim. A minha tese é a seguinte. Os nossos problemas, por pior que possam parecer, são solucionáveis. O desafio deles é bem mais complicado. Os nossos problemas são fruto da carência. Carência de quase tudo. O deles, no oásis do primeiro mundo, decorre da abundância, são consequência da diferença entre o discurso e a prática. São a terra da fraternidade sem fraternidade, da igualdade sem igualdade, da liberdade sem liberdade. Por aqui a mentirinha estampada na bandeira é bem menos pretensiosa, soando como algo jocoso, uma grande piada. O nosso ideal ufanista é bem mais simples de se atingir, queremos só um pouquinho de ordem e de progresso. O resto nós já temos. Que sejam bem-vindos a terra de Macunaíma!
Hilbernon M. S. Neto
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