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[historiasdanoite]

O doppelganger e a morte

Quando nasci a casa da minha avó já tinha mais de 30 anos e muitas história. O próprio local em que ela foi construída era um lugar cheio de energias e coisas misteriosas, que todas as pessoas que viviam por ali comentavam.

Aos 10 eu já morava lá há 1 ano, e um dia recebi uma amiga. Estava na cozinha preparando um lanche, ao lado de uma velha geladeira vermelha. Senti algo me observando atrás de mim, e me virei: vi uma menina igual a mim, com o cabelo preso e uniforme da escola. No mesmo instante gritei e corri pra sala, onde estava a menina e minha prima, e expliquei o que havia acontecido.

"É o seu reflexo na geladeira", disseram.

Mas a menina estava ao lado da geladeira, eu estava de costas pra ela, ela de frente pra mim, braços cruzados, olhando para o lado. Na época eu não precisava de óculos, e ela parecia não muito nítida, como as imagens de uma tv mal sintonizada.

Muitos anos depois que soube o conceito de doppelganger, e que vê-lo era sinal de mau agouro. Como podem intuir, eu não morri, mas dias depois dessa visão aconteceu algo pouco comum.

Minha mãe estava lavando louça e eu estava mexendo meus pés com os patins, segurando a bancada da pia e a bancada de um armário ao lado. Em certo momento me desequilibrei e caí de cabeça no chão.

Minha mãe disse que só me ouviu gritando. Eu realmente estava tentando gritar, mas ouvia minha voz muito longe. Eu vi um corredor branco em que eu passava com muita pressa, eu era sugada por ele tão rápido que minha voz não conseguia me acompanhar.

Só bem mais tarde na minha vida soube que essa visão desse túnel é semelhante para muitas pessoas em processo de quase-morte. Muito provavelmente ninguém morre de uma simples queda de patins, eu mesmo já passei por pancadas mais fortes na cabeça, mas o fato de ver o túnel foi marcante na minha vida.

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Não era mentira

A casa da minha avó materna era cheio de santos, todos da minha tia candomblecista que morava em outra cidade.

Essa tia dizia, antes de abrir essa porta (um quartinho pequeno que ficava ao lado da oficina do meu avô, nos fundos da casa), bata na porta. Eu sou facilmente programada, mas caía mais fácil ainda na lábia da minha prima que era uma rebelde nata.

Então eu abri a porta sem bater.

Havia uma mulher sentada com um vestido com grandes saias brancas, com um turbante branco na cabeça. Eu só vim saber o que aquela veste significava anos depois.

Eu via vultos por toda a casa, pelos cômodos, depois do portão. Até hoje tenho pesadelos naquela casa, mesmo que ela não exista mais.

Minha prima disse que nada dessas coisas existia, que era tudo mentira minha.

Acreditei até certo momento, eu queria mesmo acreditar. Mas no fundo eu sempre soube que não era mentira.

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A noite ia ser longa e eu ansiava pelo sol. Minha Mãe tinha ido a trabalho para Macaé, eu estava na casa da minha Avó Materna, na Baixada Fluminense.

Minha prima foi chamada para ir dormir comigo, eu tinha medo de dormir sozinha, tinha medo do escuro (ainda tenho).

-- Você já viu as luzes que descem do teto quando apagamos a luz?, minha prima me perguntou, e completou dizendo que as luzes pretas e vermelhas tínhamos que afugentar, as brancas não.

Aceitei apagar a luz pra dormir.

Meu Avô assistia tv na sala, eu me distraía vendo as nuvens caindo dentro do quarto, conversando com minha prima. Mas eu queria ver o sol, volta e meia ia ver se o Vô já tinha ido dormir, para eu poder sair pra ver o dia vencer a escuridão.

Então, com finalmente as luzes externas apagadas, eu saí a derradeira vez, para ter a certeza que o Vô não estava mais na sala. Mas antes da sala tinha a cozinha, e uma mulher azul estava escorada nela, nunca a esqueci. Ela tinha cerca de 1,70m (lembro que era da altura da minha Mãe), os cabelos longos atrás de si. Eu tinha certeza que ela era eu.

Corri de volta pro quarto, minha prima perguntou o que houve e eu disse apenas "fantasma".

Naquela noite sonhei que me via de cima, olhando-me na cama na posição que eu pulei e dormi (imediatamente). Sim, uma projeção astral. Acordei na mesma posição.