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Esse lindo bloguinho é de 2016 e não quero apagar os posts. Então vai ficar assim.
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⚜ SoEun in: ❝ She takes it easy but she makes it hard ❞
Mother a l w a y s told me: “Be careful of what you do because the l i e becomes the truth.”
But who can s t a n d when she's in demand? Her schemes and her p l a n s...
O trabalho como modelo não era o que tinha escolhido para si mas não podia reclamar já que era um do qual gostava. Todas as dificuldades que as meninas de sua idade entrando na carreira encontravam sempre foram parte da rotina de Gook, quem tinha sido ensinada pela mãe a valorizar-se desde muito cedo, mais cedo ainda do que sua estreia precoce. Não era só a beleza com a qual fora presenteada mas também o carisma fotogênico muito distante da personalidade recatada que cativava empresários por todo o país, levando-os a solicitá-la para suas campanhas com frequência. No entanto, desde que se mudara para Gwangju, sua agenda fora propositadamente cortada à drástica metade sob a desculpa de que a moça estaria se preparando para a faculdade; algo que não era exatamente mentira mas que também não representava a verdade por trás da redução na carga horária. O fato é que So Jin havia sido diagnosticada com uma doença rara, crônica e degenerativa que poria um fim à sua altíssima popularidade caso fosse descoberta pois, infelizmente, era assim que as coisas funcionavam na Coreia cuja população era, em sua maioria, demasiado supersticiosa e fútil: quando o menor dos problemas já era visto como mau agouro, quem iria querer uma menina sentenciada divulgando seus produtos?
Dada sua nova localização, a jovem tinha de viajar até Seul para as sessões; mas não hoje. Na noite anterior Gook teve um novo surto, foi levada às pressas ao Hospital e lá passou horas na pulsoterapia a receber altas doses de corticóides sintéticos IV e não conseguiu pregar o olho após chegar em casa já por volta das cinco da manhã graças ao agravamento dos sintomas provocado pelo tratamento – dores de cabeça, musculares, febre, fadiga, perda de sensibilidade nos membros inferiores, espasmos, tontura, visão dupla, incontinência urinária e disfagia eram apenas alguns deles – e lá se foram mais três horas até que os efeitos colaterais se diluíssem para dar espaço aos analgésicos e deixá-la descansar... por não mais que noventa minutos. Exausta, a modelo foi despertada pela governanta às 9:24h, informada que seu pai havia enviado uma comitiva para fotografá-la ali mesmo, no condomínio, a fim de poupá-la da viagem e a garota teve vontade de chorar. Silenciou-se, contudo, sob os olhos marejados. Não queria sair da cama, não queria fazer nada, não se encontrava em condições de bancar a forte quando mal tivera tempo de se recuperar do susto de uma crise violenta da doença mas em nenhum momento pensou que seu pai pudesse estar passando dos limites, afinal, ele a havia enviado até ali para o seu bem, certo? Havia ordenado que tudo fosse adaptado às suas novas necessidades. Sim... se ao menos ela pudesse vê-lo, poderia convencê-lo a cancelar o compromisso.
Impreterível. Foi a palavra usada pelo Sr. Gook ao telefone e este devia estar muito ocupado pois a estudante não sentia na voz do pai o mesmo carinho de sempre. Pudera, presidir uma empresa de capital aberto onde muitos dos sócios espreitam a cadeira de CEO já não era tarefa fácil, mas gerir uma de entretenimento devia ser ao menos algumas vezes mais complexa. Desde as audições até o antecipado debut dos novos ídolos de toda categoria, era muito trabalho, investimento, criação e responsabilidade. Além disso, seu pai também era dono de um dos maiores centros comerciais de toda Seul herdado de um tio que, intrincadamente, preferiu deixar os bens para o sobrinho à beneficiar os próprios filhos – acontecimento este que foi divisor de águas na família, razão pela qual So Jin não tinha contato com ninguém mais além dos pais uma vez que os avós maternos moravam no Japão e só os via uma vez ao ano desde pequena. Mais uma vez a garota obrigou-se a engolir o choro e obedeceu ao pai como sempre fazia, pois havia aprendido que uma boa menina jamais devia questionar seus responsáveis.
Às onze da manhã, justamente quando o sol estava alto, a atmosfera quente e o condomínio movimentado, tudo já estava pronto na praça da área mais baixa do lugar, em frente aos blocos de apartamentos, e atraía alguns curiosos. A presença de estranhos não lhe incomodava uma vez que a equipe por si só já era composta por quase vinte pessoas entre maquiadores, stylists, iluminadores, coordenadores, auxiliares, diretor de fotografia e o fotógrafo enfim. O circo estava armado, as olheiras foram cobertas e o cansaço substituído por um belo sorriso enquanto tentava não ser cegada pela luz solar refletida para dentro de suas pupilas pelos espelhos que almejavam fazê-la brilhar diante das lentes. As pernas de Gook formigavam, qualquer objeto que segurava parecia pesar meia tonelada e o calor, como de praxe, acentuava seu quadro e lhe drenava qualquer resquício da energia que já não tinha, porém, ela parecia tão impecável e saudável como sempre enquanto posava de uma ou outra maneira com as roupas da nova coleção de Outono as quais logo comporiam as vitrines da loja que substituíra à de sua mãe.
Podia parecer fácil, mas não era. Divertido, mas nem tanto. Após um par de horas trocando de roupa, de posição, fazendo uma ou outra expressão para vender a marca, ela sentia que sucumbiria sob o pouco peso e pediu tempo à produção dizendo que tinha sede. A temperatura não passava dos 26ºC, não obstante ela suava profusamente e as constantes interrupções para ajustar a maquiagem estavam aflorando os nervos de todos, o que ela podia sentir no tom de voz contrafeito da diretora ao gritar para alguém trazer-lhe água. Sem a ajuda da mãe que costumava agenciá-la, So Jin sentia-se à beira de um colapso físico e emocional quando afastou-se com a pequena garrafa a qual não conseguira abrir, marchando por inércia até um pequeno balanço rústico que haviam feito em uma grande árvore aparentemente antiga nos arredores e teve de segurar-se às cordas para sentar em segurança pois já não sentia os joelhos.
@yeeunxs
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✉ Chatroom 42: SoLi
alyssfrothxabyss: Sim, eu entendo.
alyssfrothxabyss: Claro, não dá para evitar.
alyssfrothxabyss: Sim, separaram.
alyssfrothxabyss: Ainda estou vendo se isso é bom.
brokenwires: E como ele se parece nos seus sonhos?
brokenwires: Parece estar bem? Feliz?
brokenwires: Aigoo... Espero que seja... Eles não se entendiam, né?
brokenwires: Não imagino como seria se meus pais se separassem... Nem quero! Espero que isso nunca aconteça. (;._.)
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⚜ HaJin in: ❝ Have we met before? ❞
I k e e p trying to find a way to meet myself and I’m s c a r e d I’ve runaway so far I’ll never find the eyes I used to see s t a r i n g back at me.
…Fall. if that’s the only way you’ll ever f i n d yourself. It’s never gonna be e a s y …
Domingos eram dias especiais para So Jin e começavam muito cedo. Pulava da cama antes mesmo do despontar do sol com o propósito de se unir aos empregados e preparar ela mesma o café da manhã. Sua boa vontade e fartas doses de ingenuidade a impediam de perceber o desassossego da equipe pois ela própria não sabia como era lidar com alguém que tinha um seguro de integridade física em seu nome. O Sr. Gook havia sido transparente ao elucidar que qualquer arranhão em sua filha custaria muito mais que a carreira do responsável mas ao mesmo tempo deixou uma ordem explícita para que todas as vontades da moça fossem atendidas, assim colocando a todos entre a cruz e a espada então era mesmo uma sorte que ela não fizesse o tipo desastrada, escapando ilesa de facas afiadas, óleo quente e água fervente sob o olhar cauteloso de meia dúzia de profissionais de todos os setores que se reuniam ali para cooperar mutuamente. O objetivo de tal empresa era levar o desjejum para sua mãe na cama - da qual esta quase não saía desde a mudança -, algo que não tinha tempo de fazer durante a semana graças aos estudos e/ou trabalhos. Nestas visitas narrava eventos, conversas, atualizava a mulher com as notícias de todo o mundo e também trazia consigo todos os seus sucessos da semana como fotos e vídeos de novas campanhas e trabalhos e provas escolares nas quais conseguia nota máxima. Com isso não desejava ser elogiada, mas sim instigar na mulher alguma reação; todavia, esta agia como se estivesse semi-morta. Lidar com a profunda depressão da mãe não era nada fácil mas persistência era uma das características mais fortes da estudante. Tirava-a dos lençóis, ajudava-a a se lavar, arrumava e a levava para o jardim a fim de tomar ar fresco e sol enquanto ela própria escondia-se deste sob um sombreiro, recitando-lhe poemas. Vez ou outra, ao levantar os olhos das páginas do livro, desapontava-se pela expressão vazia de sempre que por muitas vezes a afugentava para algum canto onde pudesse chorar suas frustrações. Sem problema algum de saúde, como podia sua mãe entregar-se daquela maneira, portando-se como um paraplégico às avessas? Como se o espírito lhe tivesse abandonado?; quando o corpo funcionava perfeitamente mas a mente estava estática. So Jin orava pela mãe todas as noites; orava e chorava. Sentia tanta falta de seu apoio e logo agora, em seu momento de maior necessidade, ela recuara para o âmago de si, em seu sofrimento silencioso e incompreendido pela filha que antes da hora do almoço já desejava sacudir a mulher pelos ombros, implorando-a que demonstrasse algum sentimento.
Um dos primeiros atos da modelo ao chegar em Gwangju foi procurar uma igreja nas proximidades pois a prática religiosa sempre esteve muito presente na vida de sua família desde bem antes de ela nascer e, ainda que em seu coração seguisse a doutrina espírita a contar da data em que começara a estudar sobre seu dom, não deixava de frequentar as missas para encorajar a mãe. Não que as visitas lhe desagradassem, pelo contrário. Era católica de batismo, realizou a primeira comunhão aos 11 anos quando ganhou o rosário que nunca saía de seu pulso esquerdo e confessava-se toda semana até aprender a omitir suas visões - algo que compreendeu ser a melhor saída após inúmeras sessões de orações ajoelhada em milho cru. Além da severa repreensão que recebia por ver “demônios”, a sobrecarga energética dentro de prédios religiosos de quaisquer caráter era tamanha que a garota sentia-se espiritualmente esgotada ao sair dali mas sabia que aquilo não era de todo ruim pois significava que sua energia limpa estava sendo doada aos espíritos necessitados que, ironicamente, se acumulavam nos templos em busca de auxílio sem saber que nestes raramente havia alguém devidamente capacitado para orientá-los. Naquela ocasião, encontrou uma há apenas algumas quadras de distância do condomínio e insistia em fazer o caminho a pé para que sua mãe pudesse ter algum contato com o mundo exterior enquanto fazia uma atividade. Qualquer exercício, independentemente da categoria, não era nada fácil para So Jin e muitas de suas "colheres" de energia iam embora naquela aventura porém não ligava de poupar-se em repouso pelo resto do dia se aquilo significava poder doar-se à mãe quem tanto necessitava dela. Um dos pontos positivos daquela capela era o de ser bem menor e bem menos populada de desencarnados e a moça fez uma nota mental para começar suas missões por ali. A capela era humilde, o padre gentil, a localização permitia a entrada dos raios do sol poente pelos vitrais dando a tudo um tom alaranjado reconfortante e a jovem aproveita-se do descanso, fechando os olhos e deixando as palavras penetraram-se em seu ser, buscando não pensar, não perceber ou sentir mais nada - apenas ouvia sem nunca deixar a mão ossuda da mãe.
No caminho de volta, já ao entardecer, não havia muitas pessoas à vista tanto nas ruas quanto nas imediações do condomínio. Enquanto andavam, a mãe encarava o chão e a adolescente não tinha nada de interessante para apontar e lhe distrair. Sendo assim, sua própria atenção focou-se ao primeiro sinal de movimento nos arredores, sendo atraída pelo ruído do motor do carro esportivo demasiado suntuoso para um morador da parte baixa mas eis que, à frente do capô aberto, estava um rapaz de cabelos tingidos de quem ela não conseguiu mais tirar os olhos. Desta vez a culpa não era de sua aura turva ou de algum espírito que o rondava - olhava para ele, diretamente para o rosto dele pois este lhe era familiar. A cabeça inclinou-se alguns graus enquanto as sobrancelhas uniam-se no centro com o esforço imposto à memória já debilitada pelas doenças físicas e psicológicas. Cutucou a mãe e mostrou a intenção de perguntar-lhe mas o olhar opaco que recebeu a desencorajou como sempre então ela dispensou-lhe o desinteresse e voltou a espiar o rapaz. Apenas alguns passos à frente, foi surpreendida pelo motorista que encontrou-as no meio do caminho dizendo-se preocupado com a demora incaracterística e So Jin, após explicar-se e desculpar-se, pediu-lhe que levasse sua mãe pois ela terminaria o trajeto a passeio. Embromou sua estadia naquele ponto, lançando olhares furtivos na direção do rapaz enquanto o motorista manobrava o carro, e só aproximou-se do esportivo quando o veículo negro sumiu na curva em direção às mansões. Os passos eram silenciosos, auxiliados pelo solado emborrachado das sandálias baixas e quanto mais se aproximava, mais a lembrança solidificava-se em sua mente. Se ele a havia visto ali, não dera qualquer sinal e quando estava há apenas três metros dele já estava certa de quem tinha diante de si embora isso não tenha impedido a hesitação em sua fala uma vez que, apesar da certeza, estava também parcialmente descrente. ❝ Com licença... Ha Neul-ssi? Baek Ha Neul, não é? ❞ Não se viam há muitos anos e eram apenas crianças então. Ela não havia amadurecido tanto, já ele... certamente não estavam mais no mesmo nível que costumavam ocupar naquela época. ❝ Sou eu, Gook So Jin. ❞ Pronunciou seu nome com cuidado para garantir a assertividade da comunicação. ❝ Gook Entertainment? ❞ Talvez o nome dos negócios dos quais era herdeira fossem uma boa dica. ❝ Não se lembra de mim? ❞ Não se incomodou com a ausência de resposta imediata, tampouco desistiria facilmente. Aproveitou-se do fato de não ter mudado muito em termos de aparência e imitou uma careta que costumava fazer para ele todos aqueles anos atrás - quando suas bochechas eram bem maiores - na intenção de fazer o menino sério sorrir. ❝ Que tal agora? ❞
@hanbaek
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✉ Chatroom 42: SoLi
alyssfrothxabyss: Ah, eu tive isso quando me mudei para a casa do meu harabeoji.
alyssfrothxabyss: Pelo menos ele me deixou ficar de luto por causa do meu irmão.
alyssfrothxabyss: Ah, meus pais se separaram.
brokenwires: É tudo tão diferente aqui...
brokenwires: Ainda sonha com ele?
brokenwires: Separaram? ㅇㅅㅇ'
brokenwires: E isso é... bom?
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suzy for didier dubot x 1st look march 16 (x)
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Be strong. Don’t be a follower. Always do the right thing. If you have a choice between the right or wrong, do the right.
Jennifer Lawrence (via quotemadness)
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✉ Chatroom 42: SoLi
alyssfrothxabyss: Confusa? O que aconteceu?
alyssfrothxabyss: Estudando e tentando não morrer com os meus ataques de asma
brokenwires: Me mudei de cidade e estou me sentindo perdida...
brokenwires: Por isso andei sumida.
brokenwires: Aigoo... Pensei que as crises aliviariam nesta época do ano... ㅠㅅㅠ
brokenwires: Quanto à mim, estou aliviada que o verão tenha acabado enfim!
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⚜ SoYong in: ❝ Chilly now, end of summer ❞
I heard it in the w i n d last night... It s o u n d e d like applause. Did you get a round resounding for you way up here?
Though tonight I can f e e l you here, I get these notes on butterflies and lilac sprays from girls who just have to tell me they s a w you somewhere...
O começo do outono já trazia, a despeito do sol, as brisas gélidas como um prenúncio da estação que estava por vir e Gook, que fora liberada bem mais cedo naquela sexta-feira por conta da ausência imprevista de um professor, encolhia-se sob as estreitas faixas sombreadas na calçada para que não precisasse abrir o guarda-chuva. Algo que era tão comum em Seul era visto com demasiada estranheza ali e as pessoas já lançavam olhares curiosos em sua direção simplesmente por carregar tal objeto – enorme e nada versátil – em um dia tão claro como aquele. Seus passos eram lentos, não tanto para poupar energia mas para poder estudar os arredores e as vitrines das lojas ainda que não que pensasse em comprar nada visto que tinha tudo que precisava em casa e, portanto, não se interessou a entrar em nenhuma delas até que alcançou a fachada de uma pequena floricultura, encantada pela variedade de cores e formatos de tal forma que logo pegou-se pensando no quão boa era a ideia de levar um belo buquê para sua mãe adoentada.
Dentro do ambiente, o ar parecia outro – perfumado, úmido e fresco, contrastava tanto com o clima exterior que So Jin espiou por sobre o ombro com o objetivo de verificar se o mundo continuava lá fora pois, com a ajuda da temperatura agradável que lhe engolfara tão logo pisara ali, sentia algo similar a ter atravessado um portal para outra dimensão. Como não havia ninguém à vista, examinou os arranjos dispostos na loja, dos simples aos mais suntuosos, esticando-se aqui e ali para verificar o nome de uma ou outra variação que lhe agradava o gosto. Terminada a apreciação, parou em frente ao expositor de cartões e retirou alguns para uma avaliação mais minuciosa mas seu olhar se perdeu em algum ponto além: atrás da estrutura metálica havia uma estufa – modesta porém não menos gloriosa – com canteiros repletos e tão bem cuidados que o local parecia abrigar a própria essência da primavera.
Movida por sua curiosidade, devolveu os cartões ao seu devido lugar e esgueirou-se pela entrada ignorando o aviso na porta que restringia a entrada à funcionários. Pôs-se a caminhar cautelosamente entre os corredores, parando vez ou outra para admirar uma ou outra planta assim como sentir a fragrância das flores das quais nada entendia. Certamente precisaria de ajuda para escolher o tipo certo, ela ponderava quando uma figura lhe surpreendeu – na extremidade oposta, mais à esquerda, estava o espectro iluminado de uma mulher. Não era muito jovem tampouco madura o suficiente e estava muito bela em uma longa veste branca a qual cobria-lhe por completo – à exceção das mãos e cabeça – e dava a impressão de que flutuava por cima das pedras. Debruçada sobre as flores, ela sorria e não parecia ter notado a jovem cujos passos vagarosos venciam a distância até lá pelo corredor paralelo. Com ambas as mãos agarradas às alças da mochila, um ato automático que lhe conferia confiança e coragem, sequer piscava enquanto avançava, o olhar fixo no rosto brilhante. Seria aquele local algum ponto de convergência entre os dois planos? Tinha ouvido sobre tais “postos de serviço congruente” que podiam ser percebidos até mesmo por pessoas sem quaisquer afinidade mediúnica graças à radiação reconfortante que emanava, resultante do intenso trabalho espiritual realizado ali e era natural que desconfiasse de tal, afinal, não restava dúvidas de que era um espírito evoluído dada a luminosidade de sua aura. Todavia, conforme chegava mais perto, atentou-se para os traços carnais bastante vívidos indicando que ainda não havia seguido em frente, o que fez sua teoria cair por terra e ser substituída pela suposição de tratar-se de mais uma missão.
❝ Com licença... ahjumma? ❞ O espírito ergueu os olhos do canteiro de tulipas e olhou ao redor como se para descobrir a quem So Jin se dirigia. « ❛Consegue me ver?❜ » A jovem assentiu e sorriu de volta pois a mulher pareceu muito satisfeita, até demais, de encontrar alguém que lhe tirasse daquela solidão unilateral. Aos sussurros, Gook respondeu perguntas e fez outras, querendo saber o que ela fazia, por que e há quanto tempo estava ali e a mulher respondeu que tinha responsabilidades a serem cumpridas naquele local e que estava zelando por elas, disse ainda que estivera ali “por toda a sua vida”. Através de seus estudos, a médium sabia que aquele tipo de resposta era, no mínimo, preocupante uma vez que indicava o início da ambiguidade de vivência do desencarnado que se desvinculava das memórias banais do plano físico e também do momento preciso que pusera fim a este ciclo, adotando, então, as lembranças do tempo transcendente como reais e confundindo ambas as situações. Contudo, a mulher apresentara claros sinais de contradição como se ela própria quisesse acreditar que estava viva sem realmente ignorar o conhecimento de que seu corpo já não existia.
❝ Ahjumma... Me desculpe, mas... você sabe que não deveria estar aqui, não é? Você precisa partir antes que seja tarde... ❞ A garota deixou a frase no ar enquanto pensava no que mais poderia dizer já que nenhuma reação foi mostrada – a mulher simplesmente tornou a tratar as flores com passes, o sorriso leve estampado no rosto tal qual nunca tivesse sido interrompida. Foi então que lhe ocorreu uma ideia repentina que, indubitavelmente, não poderia chamar de sua. ❝ As flores irão viver ou morrer com ou sem a sua presença. É o ciclo natural delas. Brotam, se desenvolvem, crescem, florescem, adoecem e morrem. ❞ Não conseguia ver seu mentor em canto algum mas tinha certeza de que ele estava ao seu lado. ❝ A semente, por sua vez, vem para perpetuar o ciclo da existência. Esta brotará e culminará em nova flor. As leis que regem a natureza são claras e justas. Há quantos milênios resistem as flores sem o auxílio de mãos humanas? Tiveram de se adaptar e sobreviver por conta própria assim como o fez todo ser vivo. ❞ Para qualquer ouvinte mais atento, as frases metafóricas incisivas, repletas de sabedoria e certeza destoariam da usual hesitação da estudante que não possuía tamanho conhecimento apesar de sua bondade e dedicação aos estudos da doutrina e não tinha no Livro dos Médiuns um roteiro do qual pudesse lançar mão dizendo-lhe o que dizer em cada situação.
Quando recuperou as rédeas da própria consciência, notou que toda a doçura antes presente no rosto do espírito havia se extinguido e agora sua expressão tornara-se sisuda. Podia ver a tensão tremular em sua aura e se perguntava se era mesmo possível alguém ter tamanho apego à flores. « ❛Você não entende... Eles precisam de mim.❜ » Se antes sentia-se ansiosa pensando estar diante um iminente surto de raiva, agora só via tristeza naquele rosto bondoso e o seu próprio espelhou tal sentimento. Mas, espera... Eles? Eles e não... elas? Com o cenho franzido evidenciando a confusão, Gook inclinou-se sobre as orquídeas a fim de escutar melhor, sem perceber que estas inclinavam-se perigosamente sob seu torso. Foi mesmo um golpe de sorte não haver ninguém nos arredores para testemunhar a cena da colegial a questionar o ar do outro lado. Ninguém salvo o rapaz que entrara sem denunciar sua presença e encontrava-se parado há apenas alguns metros de onde ela estava mas cuja localização escapava de seu campo de visão. ❝ Desculpa... o que disse? Eles? Eles quem? ❞
@flowersontae
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⚜ SangJin in: ❝ Leaving now would be a good idea ❞
Maybe I'll lose the t r a i t s that worry me. I n e e d to show how much I can come and go. Other plans fell through and put a h e a v y load on you...
We move a l o n g with some new passion knowing everything is fine and I would wait and watch the hours fall in a h u n d r e d separate lines but I regain repose and w o n d e r how I ended up inside.
O positivismo de Gook lhe permitia enxergar os prós de cada situação possível. Tal característica sempre esteve impressa em seu âmago ainda que tivesse tudo para se tornar mais uma garotinha mimada da alta sociedade sul-coreana à sua disposição. A vida abastada, no entanto, também tinha lá suas limitações. Isolada de todas as coisas comuns às classes menos favorecidas, atividades cotidianas da maioria lhe eram estranhas, tal como alimentos e hábitos os quais só via nas novelas pareciam tão estrangeiros quanto aqueles descritos na literatura de entretenimento importada que enchia suas estantes. Esse mesmo otimismo havia sido posto à prova quando foi diagnosticada com uma doença incurável a qual tratava-se basicamente de uma sentença de morte de longo prazo mas a jovem permaneceu firme, jamais admitindo aos pais a oscilação constante de suas esperanças, ocultando a falta de humor sob um grande sorriso para não afligi-los e, ao contrário da mãe quem entregou-se ao desespero, buscava meios de fugir deste e alimentar-se de tudo aquilo que lhe pudesse ser benéfico.
A liberdade era um destes itens e eis o lado bom naquela reviravolta – em Gwangju, uma cidade bastante pacata se comparada à capital onde foi criada, era deixada à vontade. Sua mãe estava muito debilitada emocionalmente, comportando-se como se a filha já estivesse morta, para protestar contra sua desobediência indireta e So Jin sabia aproveitar-se desta situação. Os empregados tinham ordens expressas de seu pai para atender a todas as suas necessidades de modo a não faltar nada ao seu dispor e um deles estava incumbido de levá-la a todo lugar onde precisasse e/ou desejasse ir. Contudo, como nem mesmo os funcionários sabiam de sua doença e a fiscalização do cumprimento de suas respectivas funções sequer podia ser classificada como satisfatória, era muito fácil para a estudante escapar dos olhares predispostos com alguma desculpa qualquer sob a jura de que sua mãe havia lhe dado permissão. ‘Mentir não é uma atitude nobre’, ela ouvia de seu mentor espiritual, mas logo respondia afirmando que as brancas não feriam ninguém.
Deixara o condomínio decidida a dar um passeio de metrô. Parecia bastante divertida a ideia de cortar toda a cidade em alta velocidade pelo subsolo; havia visto a cena em um filme e desde então desejava tentar. Pediu ao motorista que a deixasse no centro onde, supostamente, compraria alguns livros antes de ir para a escola há apenas duas quadras dali. Não havia perigo algum na curta caminhada, ela assegurou ao homem, dizendo também que encontraria as amigas no caminho, mesmo que ainda não tivesse nenhuma. Assim que o carro desapareceu em uma esquina e antes que chamasse mais atenção, a garota rapidamente fechou o guarda-chuva que, ironicamente, lhe protegia dos raios solares, apressando-se em direção à escadaria que levava à estação cuja precisa localidade já havia memorizado graças à mesmice do trajeto matinal diário. Toda quinta-feira, abrindo a grade curricular, tinha dois tempos de educação física – atividade a qual estava proibida de fazer – portanto não precisaria se preocupar pelo próximo par de horas, tempo o suficiente para aventurar-se por aí.
Descer dois lances de escadas quando o coração já vinha acelerado pela adrenalina foi uma tarefa dispendiosa e a moça teve de buscar apoio numa das paredes laterais a fim de recuperar o fôlego. Tinha as bochechas muito rosadas e ambas as pernas pareciam pesar trinta quilos cada de modo que, aos poucos, deixou o corpo deslizar pela superfície azulejada até que estivesse sentada em um dos degraus. Unindo as mãos em prece, pediu coragem e força para não deixar-se dominar pela ansiedade que tinha desenvolvido acerca da doença, um distúrbio que trazia consigo uma série de sintomas desagradáveis por si só e que, por sua vez, eram muito similares àqueles inerentes à Esclerose Múltipla, agravando, assim, seu medo sobre o quadro sintomático e as possibilidades de tratar-se de um novo surto. Durante a oração, reforçava o quanto sabia que não havia razão para temer, que tinha tudo sob controle e, após alguns minutos, sentiu-se estável novamente.
A modelo assistiu pessoas indo e vindo, entrando e saindo dos metrôs que chegavam e deixavam a estação um após o outro até se acalmar, ergueu-se, enfim, e encaminhou-se até o conjunto de roletas metálicas, observando as pessoas tocarem ali suas carteiras para abrir passagem. ❝ Uau... interessante. ❞ Exclamou baixinho com certo assombro e procedeu do mesmo modo mas a sua não parecia “funcionar”. Seria culpa da cor ou da estampa? Da marca, talvez? Avaliava a comparar esta com a dos demais após ceder espaço para um grupo que havia se formado atrás dela e só então percebeu que algumas pessoas tocavam um simples cartão no painel. ❝ Ah... ❞ Sacando seu cartão de débito, tentou novamente porém nada foi diferente e ela continuava presa do lado de fora. Insistindo, passou um lado, o outro, experimentou com o de crédito, até esfregou e cutucou o pequeno quadrado e nada mudava além de sua inquietação que só crescia conforme a fila aumentava proporcionalmente à impaciência dos passageiros.
Não tardou até que a comoção capturasse a atenção de um dos guardas à postos e este a abordou exigindo saber o que estava acontecendo. So Jin, já muito nervosa e abalada pela indelicadeza dos comentários feitos por suas costas, tentou explicar a situação aos gaguejos mas só obteve uma risada abafada em resposta. O homem puxou-a pelo punho, removendo-a do caminho dos demais sem a menor gentileza e a acusou de estar, nas palavras dele, “bancando a engraçadinha”. Referiu-se a ela como delinquente, apontou seu uniforme e proferiu a dedução de que a estudante só podia estar tentando cabular aula já que o colégio era nas redondezas e ainda estavam nas primeiras horas da manhã. ❝ Aniyo! Não é isso, ahjussi... ❞ Mas teve a tentativa de explicar-se interrompida por um longo e sonoro sermão recheado de ofensas vazias que sabia não merecer ouvir, mas que serviram o propósito de deixá-la sem palavras e à beira das lágrimas.
@changingrxles
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✉ Chatroom 42: SoLi
alyssfrothxabyss: Sim, estou aqui
alyssfrothxabyss: What's up? Como vai a vida?
brokenwires: Um pouco confusa, na verdade.
brokenwires: E a sua?
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✉ Chatroom 42: SoLi
brokenwires: Olá...? Você está aí?
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* ・ ☾ ✰˙ › aesthetics » paz !
❛ here i am, a RABBIT HEARTED girl, frozen in the headlights; i must become a LION HEARTED girl ready for a fight. ❜
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You’ve got to use it, the pain. Use it as fuel to move past the torment, to the light at the end of the tunnel.
Thomas E. Sniegoski (via quotemadness)
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thxwrxtchxd:
A primeira semana de abstinência era a pior, ainda mais para alguém que vivia em constante contato com as substâncias viciosas. E aquilo tudo, ainda juntando o fato de que teria que voltar para a escola, era algo que estava incomodando Pierre cada vez mais. Talvez fosse o fato de que teria que voltar a conviver e suportar certas pessoas, ou talvez fosse apenas o fato de que ele não havia conseguido completar a única coisa que deveria ter feito bem. Desde a saída do hospital, ele não havia conseguido encontrar ByungHun nenhuma vez, talvez o mais baixo estivesse fugindo dele, Pierre não sabia. Mas ele sabia que, assim que o encontrasse, Pierre acertaria as contas com ele. Enquanto isso, ele tinha que fingir estar bem novamente, pelo menos para seu pai, que tinha finalmente voltado para casa, querendo saber por que o lugar mais parecia uma fazenda bagunçada. Bom, ele não sabia nada a respeito daquilo, já que ele não tinha ficado lá por uma semana. Ainda sentia o mal estar no corpo, resultado da lavagem estomacal que tinha feito, notícia essa que recebeu quando teve de voltar ao hospital para pegar seus documentos que havia esquecido. Além do esporro do médico por ter fugido, Pierre ainda foi obrigado a passar dez minutos numa sala com um psicólogo, mas passou o tempo todo de boca fechada. Não tinha nada a dizer e mesmo que tivesse, não diria.
Depois dali ele tinha que ir para a escola porque o pai estaria sempre observando, sempre de olho para que ele cometesse o mínimo deslize. E se assim o fizesse, ele voltaria para Paris num piscar de olhos. E mesmo que amasse sua cidade com todo fervor, voltar para lá seria…. iria doer. E de dor Pierre já tinha sua cota e um pouco mais. A escola pelo menos servia para alguma coisa, distrair sua mente de qualquer coisa que ele pudesse pensar. Mas depois de alguns dias, ele voltou a enjoar e passou a pular as aulas, escondendo-se no terraço, para que pudesse enfim se livrar daquilo tudo. Pierre não conseguia se concentrar quando estava rodeado de pessoas, ainda mais que, não ouvia e via somente à elas, mas sim outras. Outras que não deveriam existir, que apenas ficavam rindo e sussurrando coisas que ele não entendia na maioria do tempo, mas que, quando o fazia, apenas queria ser surdo para nunca mais ter de ouvi-las. As vozes ficaram ainda mais altas desde que ele havia voltado, piores ao ponto de ele ser forçado a falar em voz alta para que elas fossem embora, já que ele não conseguia mais aguentar aquilo. Parte dele achava que estava enlouquecendo, afinal, pessoas doidas que costumavam ouvir vozes.
Aquele dia em questão, ele estava insuportavelmente irritado, pois nem havia conseguido dormir na noite anterior, as risadas e gritos muito altos que até suas músicas explodindo de seu fone de ouvido não conseguiram abafar. Ele nem sequer tinha se dado ao trabalho de entrar na sala de aula, passando direto para o terraço, fazendo questão de enviar olhares fulminantes a qualquer um que pensasse em segui-lo. Sua fama não era de bad boy ou algo do tipo, mas ele sempre deixou claro que não gostava de ser incomodado. E tudo para ele era um incômodo. Assim que chegou lá em cima, procurou seu local logo ao lado da porta, para que todo mundo que entrasse não o visse, apenas se fossem até a borda do telhado. E sentado, abriu a mochila para retirar de lá algo que começara a fazer parte de seu cotidiano desde que havia acordado no hospital. Seu caderno de poemas estava sempre junto de si, e o lápis encontrava-se atrás da orelha, enquanto ele lia e relia o que tinha acabado de escrever. Não sabia o que as palavras queriam dizer além dos pensamentos cotidianos recorrentes que ele sempre tinha.
“Não quero estar aqui” era o que mais se podia ver nas letras cursivas expressas naquela folha amarelada. “Eu não deveria estar vivo” era o que ele queria escrever, mas por senso comum de que, caso viesse a perder o caderno, se alguém o encontrasse, provavelmente o internariam por ser louco. Se alguém dissesse a ele que depois de uma tentativa de suicídio, Pierre se sentiria mais inspirado a escrever sobre o que sua cabeça passava, ele provavelmente daria um soco na pessoa. Mas aqui estava ele, derramando cada pensamento e palavra que constantemente cruzava sua mente naqueles dias. Não queria reconhecimento, não queria ser famoso ou aclamado por escrever coisas que as pessoas gostavam de ler. Diabos, ele nem mesmo queria que as pessoas lessem o que ele escrevia. Aquilo era dele, como em seus sentimentos que não deveriam ser expostos ao mundo.
Um suspiro escapou de seus lábios quando ele releu a estrofe que mais o incomodava. Não sabia o porquê, mas as palavras não pareciam certas, não faziam sentido. O arrepio que ele sentiu ao ouvir a voz em sua cabeça fez até mesmo os pelos de seu braço levantarem. Focou os olhos no caderno, nas letras até que sentiu um toque, mas assim que olhou para cima não viu ninguém do seu lado. Mas ele tinha jurado… Ainda podia sentir o toque quente em seu ombro. Louco, era isso que estava. Pierre bufou, sentindo-se muito cansado de repente e fechou seu caderno, prestes a levantar para se ajeitar e ir dormir, mas foi quando sentiu novamente, dessa vez seu cabelo sendo bagunçado. Olhou para cima assustado, soltando um guincho quando um rosto horrendo apareceu bem em sua frente. Ele rapidamente fechou os olhos, colocando as mãos nos ouvidos, tapando-os, como se aquilo fosse parar as vozes. Ele sabia que tinha tudo de sua cabeça, mas ainda assim ele queria que tudo parasse. O peso da morte de sua irmã havia sido tanto, a culpa tão esmagadora que ele havia, por fim, ficado louco. Como em totalmente maluco da cabeça.
Estava com os olhos tão fechados, tão apertados, que sua cabeça estava começando a doer enquanto ele se balançava para frente e para trás, na esperança de se livrar de tudo aquilo. Não podia ao menos ter morrido em paz e se livrar daquelas coisas? Ele não queria ouvia o que as vozes diziam, não queria olhar para os rostos de pessoas que riam dele, que cuspiam palavras que doíam ainda mais. Pierre não estava bem, e esses episódios só se intensificavam cada vez mais. Sua sorte foi que a porta abriu e rapidamente tudo que o afligia deu um stop. Até que ele ouviu a voz de uma menina e a viu entrar, indo até a borda. Foi aí que as vozes ficaram cada vez piores, não apenas falando, mas gritando, alto, tão alto que ele pressionou ainda mais as mãos contra os ouvidos. Aquilo tinha que parar, tinha. Precisava parar, senão ele se jogaria daquele terraço e acabaria com toda aquela merda. Os rostos pararam de flutuar ao seu redor e ele suspirou aliviado quando o volume das vozes voltava ao normal, ao que ele já estava habituado, mesmo que não devesse. Foi com essa pausa que notou a garota olhando para ele.
Erguendo o rosto para a olhar para o rosto dela, o loiro se deu conta de que não a conhecia. Secretamente tinha medo de encontrar a garota que havia machucado há muito tempo atrás. Medo porque não sabia o que tinha acontecido a ela, mas também porque aquilo que tinha feito estava pesando em sua consciência. Mas aquela garota ali, não. Ele não a conhecia. Por isso a tal surpresa se instalou nele quando a ouviu falar seu nome. Mas a expressão logo tomou outro rumo quando ele ouviu palavras sendo sussurradas bem perto de seu ouvido. “Ela sente pena de você, pobre e quebrado garoto. Você é apenas miserável.” Ele não tirava a verdade daquelas palavras, mas ele não era alguém que queria pena das pessoas. Ele nem mesmo a conhecia. Voltou a gargar o caderno na mochila e se levantou, ignorando o arrepio que continuava acompanhando-o a cada passo que dava para perto da garota. Sua intenção não era assusta-la, até porque podia confessar para si mesmo que estava no mínimo curioso de saber como ela lhe conhecia. Quando chegou perto, ele inclinou-se na direção dela, semicerrando os olhos. _Qui êtes-vous?_
O espaço de tempo entre a pergunta e a reação alheia pareceu se arrastar apesar de não ter durado mais que poucos segundos. Ainda assim, a garota teve tempo de registrar cada ação, cada detalhe desde o caderno que fora empurrado às pressas dentro da bolsa, o lápis esquecido atrás da orelha, à perturbação visível na aura mas pouco expressa no rosto de traços únicos. Avaliava tudo com minúcia a fim de ignorar os vultos que o tangenciavam, ansiosos para roubar-lhe a atenção e assustá-la para bem longe de seu, por assim dizer, hospedeiro. Não sabia a origem ou objetivo daquele grupo ou mesmo se todos compartilhavam de um, sabia apenas que eram especificamente cruéis com médiuns, ainda mais os inexperientes e pouco treinados como ela. Havia sofrido muito durante a infância, fazendo os pais passarem por situações muito embaraçosas em eventos, na agência e até mesmo na escola por conta de seus gritos repentinos e disparadas para algum lugar qualquer no qual pudesse se esconder e chorar, apontando monstros invisíveis como se não bastasse o costume de falar sozinha com seus diversos “amigos imaginários”, desculpa esta que começou a perder o mérito conforme Gook deixava a infância, afinal, uma adolescente brincando com amigos imaginários não é algo que instiga a compreensão e, após passar por uma avaliação psiquiátrica completa que não deu em absolutamente nada, as repreensões começaram e a garota tornou-se mais consciente do que não fazer em público embora ainda tivesse o hábito de sussurrar suas respostas aos amigos incorpóreos.
A ver que não teria na família o suporte de que precisava, a internet tornou-se o seu refúgio tal qual o é de tantos jovens, e nela buscou e encontrou as respostas para sua anormalidade. Primeiramente pensou tratar-se de esquizofrenia e até tentou se convencer de que o médico estava equivocado e de que não conseguira diagnosticá-la apropriadamente, pois preferia acreditar em algo palpável, físico e curável à aceitar o fato de que era... diferente. Não obstante, quanto mais lia a respeito, mais identificava em seu histórico os “sintomas” comuns ao quadro, porém, só aceitou de vez aquela realidade quando seu mentor espiritual – o que descobriu ser a função daquele espectro de luz que a acompanhava desde menina – confirmou e elucidou todas as suas dúvidas, orientando-a que se preservasse, estudasse e preparasse pois aquele dom não vinha de graça. Explicou a ela também, em outro momento, que a habilidade de ver e ouvir aqueles que aparentemente ninguém mais conseguia não fazia dela especial e, portanto, deveria ter cautela excessiva para não divergir de sua jornada, envaidecer-se e utilizar sua mediunidade para fins mundanos como tantos que caíam no demérito popular acusados de charlatanismo após abusar das ferramentas concedidas em benefício próprio.
Levou algum tempo até digerir tudo aquilo e acostumar-se com a ideia, mas, tão logo isso ocorreu, sentiu-se empolgada ante a conjetura de ter uma missão tão singular designada por Deus e, contrariamente ao que fora aconselhada, envaideceu-se. Como não poderia? Era apenas uma garotinha humana imatura. No entanto, a boa índole, os ensinamentos de Cristo muito bem difundidos pelo padre por todos os domingos de sua vida e a mão amiga em seu ombro a lhe guiar não deixaram que se afastasse de seu objetivo que era o de ajudar os espíritos perdidos e aflitos. Encontrá-los não era algo muito fácil com sua agenda cheia e mobilidade limitada; assim, quando tinha a sorte de esbarrar em um, concentrava todos os seus esforços em ajudá-lo a compreender sua situação, resolver suas pendências e encontrar o caminho que o levaria adiante. Esses contatos costumavam ser bem fáceis, difícil mesmo era fazer a mediação propriamente dita posto que não sabia psicografar e aprendeu do modo difícil que os vivos nem sempre receberão uma mensagem dos mortos pelos lábios de um estranho com a melhor das atitudes. Por conseguinte, passou a escrever cartas após as experiências negativas, mas, muitas vezes, observava de longe esta ser dilacerada pelas mãos do destinatário quem pensava tratar-se de alguma piada de mal gosto.
So Jin logo compreendeu que não, aquela não seria uma aventura excitante e cheia de recompensas como as dos livros que lia. Deveras, era muito mais cansativo lidar com a incompreensão humana do que com os espíritos – exceto, é claro, os obsessores. Estes vagavam por tempo demais, não aceitavam a morte, tinham apego excessivo com as coisas materiais, geralmente estavam vinculados a algum vício e faziam uso da energia vital dos vivos a fim de continuar suprindo a necessidade carnal. Era esta perversão premeditada que tornava sua aura enegrecida e suas faces distorcidas pelo prazer obtido da interação bilateral que levava muitos vivos à loucura e/ou óbito pelos excessos, com grandes chances de somarem ao grupo uma vez do outro lado. Ela costumava usar o termo “parasitas” para descrevê-los e abusava de escárnio em tais ocasiões mas foi severamente repreendida por seu mentor certa vez, afinal, era dela que devia partir o entendimento e a piedade para com as mais graves vítimas do plano espiritual. Aquilo, é claro, foi uma lição bastante dura de aprender e que levaria algum tempo para ser absorvida mas tinha ouvido que isto também era natural. A princípio só suplicava para que se afastassem dela e agora, em demonstração de evolução bastante significativa, pedia apenas coragem para suportar sua presença.
Entendia que aqueles espíritos só faziam proveito daqueles cuja “vibração” era semelhante e cuja alma havia sido bastante castigada pelas dificuldades do plano terrestre até o ponto de fraqueza ideal, então podia seguramente assumir que o rapaz não devia estar envolvido com coisas boas e não tinha a menor chance de saber exatamenteo quê. Ainda assim, não titubeou quando ele avançou em sua direção. Curiosamente, sentia até um certo conforto à medida que ele preenchia seu campo de visão mais e mais até estar perto demais – não fosse a leve inclinação recuada de So Jin, seus narizes teriam se tocado. A aura dele era fria e pesada e, em contrapartida, a dela – quente e acolhedora – era mais forte, mais ardente e crescia sobre ele, além dele. Aquele progresso foi construído ao longo dos anos, é claro, e ainda não era forte o bastante mas almejava um dia emanar a mesma energia, o mesmo fulgor de seu mentor. Sempre que ele estava por perto, sentia-se englobada por um calor aconchegante e uma paz sem precedentes que a deixava contente e sonolenta, como a sensação dos abraços protetores de seus pais reproduzidos em escala inimaginável! E era assim que a médium queria fazer com que os outros se sentissem em sua presença – a salvo.
Os lábios da moça franziram em reflexo ao que havia sido dito como se tentasse reproduzir o som no intuito de encontrar o sentido nas palavras. O que seria aquilo? Alguma gíria local? Um xingamento de que não tinha conhecimento? Era natural esperar algo similar ao avaliar o pouco que sabia sobre Pierre. Pierre! ❝ Perdão. ❞ Meneou a cabeça levemente com um encolher de ombros na melhor imitação de uma reverência que poderia intentar devido à aproximação exagerada que ele havia imposto. ❝ Muito prazer. Meu nome é Gook So Jin, sou nova na escola e estamos na mesma turma. ❞ Ela não conseguira sorrir e ainda tinha o coração ligeiramente acelerado por conta do susto anterior mas os olhos não desviaram dos dele por ambos hábito e receio de voltar a enxergar os rostos inumanos pairando nas laterais. ❝ O professor de Literatura me mandou procurá-lo. Parece que estamos presos um ao outro até o fim do ano letivo... ❞ Falava devagar, não tanto para garantir a compreensão do suposto estrangeiro mas por sua dificuldade de concentração agravada pela energia animosa que perfurava e rapidamente minguava sua já pequena bolha de otimismo, fazendo-a sentir-se cada vez mais como a chama de uma vela, impotente ante a escuridão avassaladora e levando-a a apertar ainda mais o crucifixo até que este lhe marcasse o polegar.
Senhor. Me ajude a não sucumbir sob o medo. Eis aqui irmãos que necessitam de luz. Iluminai-vos com Sua presença. Amém. A prece foi curta, apressada e fraca em proporção ao nível de foco posto nela mas foi o bastante para que os obsessores sibilassem, oscilassem e apartassem para um ponto mais distante de sua aura com força renovada, aliviando assim a carga sobre o loiro ainda que momentaneamente. Ela suspirou aliviada, dando um pequeno passo atrás para que pudesse aprumar a postura e vestiu um sorriso natural, todavia hesitante. ❝ Na verdade, temos um trabalho para apresentar agora. ❞ Empurrou uma mecha para trás da orelha e voltou a unir as mãos em frente ao corpo. ❝ Já está tudo pronto, eu fiz tudo e também apresentaria sozinha, mas… ❞ Não era particularmente tímida à exceção das situações novas mas abaixou os olhos e o tom de voz quando decidiu ser sincera em relação aos motivos. ❝ Confesso que estou com medo… ❞ Tornou a erguer o olhar e percebeu que ele provavelmente não seria persuadido por seus sentimentos. ❝ E… bem. O professor disse que ficaria feliz em te expulsar e, salvo engano, se continuar faltando assim, pode dar a ele o que falta – uma justificativa legal. ❞ Parecia confusa com a própria fala. Era como se nem pertencessem a ela mas continuou cooperando na esperança de que aquilo funcionasse. ❝ Não parece uma atitude nobre, um professor querer expulsar um aluno, não é? Ele parece bastante rancoroso a seu respeito, me pergunto se te estimava demais e foi decepcionado. ❞ O sulco entre as sobrancelhas cresceu e ela levou a mão à boca, calando-a. De onde saíam aquelas palavras? O toque quente em seu ombro deu-lhe a resposta. Elevando as palmas novamente, entrelaçou os dedos, ganhando confiança de seu mentor o bastante para descontrair-se um pouco e sorrir mais abertamente. Gook não imprimia em ambos tom e gestos a manha muito utilizada pela maioria das garotas em sua faixa etária – era apenas educada, muito educada, e modesta. ❝ Ahm… e além disso... seria muito egoísmo de minha parte fazer tudo sozinha sem te consultar. E só fiz a parte escrita porque venho te procurando por toda a escola há duas semanas mas ninguém me ajudou a encontrá-lo e, honestamente, eu já estava perdendo as esperanças mas aqui está você e... já que está aqui, então… poderia vir comigo? Por favor? Não precisa dizer nada, é só ficar ao meu lado e eu… eu falo tudo e você ainda receberá a mesma nota. …Por favorzinho? ❞
⚜ PieJin in: ❝ It's a permanent state from a moment's mistake ❞
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